Diante desse quadro parece que duas questões desafiam a nossa capacidade de resposta. Em que consiste o conhecimento sem adjetivos se é que se pode colocar o assunto nesses termos. Quem sabe os conhecimentos são múltiplos, pela própria natureza adjetivados e como tais traem o fato de que a multiplicidade dos modos, métodos e instrumentos, sugere a busca da compreensão do todo, da totalidade ou a verdade, que vem a dar sentido ao universo, à natureza e ao homem. Cientistas, teólogos, filósofos, literatos, artistas, e não em último lugar, a sabedoria popular, encontraram respostas, cada qual à sua maneira. Todas elas levam a duas conclusões. Primeiro. Vêm expressos na linguagem e terminologia peculiar a cada um. Segundo. Apontam na direção de uma convergência, de um encontro num ponto final comum. Teilhard de Chardin faz convergir todo o seu pensamento científico e a concepção do universo que a alimenta, frutos do conhecimento dos seus conhecimentos científicos, para o ponto “ômega”. Abstém-se em definir a natureza dessa realidade, que segundo as suas conclusões, flui da lógica dos processos químicos, físicos, biológicos, ecológicos, geográficos, antropológicos e históricos, que lhe forneceram os dados para construir o arcabouço conceitual, no qual encontrou a sua resposta que marcou época, para as questões de fundo que vem sendo formuladas desde que o homem se fez homem.
Outro cientista de reconhecimento mundial, Francis Collins, diretor do Projeto Genoma, responsável pelo mapeamento genético do homem, médico geneticista, foi bem mais ousado que seu colega jesuíta Teilhard de Chardin, no seu avanço sobre as fronteiras do conhecimento. Para ele o conhecimento científico, no caso particular seu, a biogenética, revelou-se uma via promissora para aproximar-se dos demais campos do conhecimento, em busca do objetivo último comum a todos. Em lugar do “Ômega” propõe o termo “Bio-Logos” como conceito harmonizador e integrador final. Discutível ou não, inusitado ou não, ousado ou não, o conceito composto por “bios” e “logos” reúne em si o potencial para aproximar dois caminhos em busca de um conhecimento cada vez mais global. O prefixo “bios” contempla o território explorado pelas Ciências Naturais por meio de suas ferramentas conceituais e instrumentos e tecnologias de investigação. O sufixo “logos” delimita o território explorado pelos conceitos e ferramentas das Ciências do Espírito. Para Collins a síntese entre a contribuição das duas partes, resulta não só num conhecimento mais rico e mais multiforme, mas num conhecimento de nível superior à soma de ambos, isto é, numa síntese que é de outra natureza do que a simples soma das partes. Portanto, o Conhecimento sem adjetivos não resulta da soma de conhecimentos adjetivados. Colocado nesses termos o Conhecimento consiste na apropriação da natureza da realidade, da qual as muitas modalidades de conhecer nada mais são do que aproximações por um dos muitos ângulos que ela se revela ao observador.
Um dos problemas de fundo criados pela pós-modernidade foi aprisionar o conhecimento em compartimentos estanques, em feudos isolados, em piquetes separados por cercas elétricas, para impedir o acesso de qualquer um que não se vale do caminho e dos métodos de análise que não sejam os utilizados pelos especialistas de plantão.
Esqueceu-se o pressuposto elementar válido para qualquer objeto passível de produção de conhecimento. Ele faz parte de um Todo que se manifesta ao observador por meio de particularidades que mais chamam a atenção de acordo com as intenções e da capacidade de observação daquele que com ele se ocupa. “Ex partibus omnibus elucet totum”, já escrevia Nicolau de Cusa no século XIII, ou “a Verdade está no Todo e o Todo é a Verdade”. Para aproximar-se da compreensão do Todo, ou se quisermos da Verdade, é preciso que se somem e inter-relacionem e inter complementem os resultados das quatro vias de aproximação, cada qual valendo-se do seu instrumental teórico e metodológico próprio: a Ciência Experimental (empírica); a Razão; a Percepção intuitiva; a Fé. A cada uma delas compete uma parcela proporcional à natureza do objeto, para levar à compreensão do Todo, e aproximar-se da Verdade.
Entre os cientistas de todas especialidades predomina em larga escala a convicção de que está em suas mãos a resposta para as interrogações que envolvem a natureza do universo como um todo e cada uma das partes que o integram, inclusive o homem. Entusiasmados com os resultados obtidos nos dois últimos séculos, não são poucos, provavelmente a maioria, que não tem dúvidas. As respostas todas que possam ser formuladas virão como resultado da pesquisa científica desenvolvida nos laboratórios espalhados pelo mundo. Esse entusiasmo e essa euforia até que tem a sua razão de ser. O avanço da física nuclear com seus métodos e equipamentos de eficiência e precisão comprovada, identificou os elementos que formam a base da composição dos átomos, é capaz de calcular o potencial energético neles contido. As leis básicas da hereditariedade biológica descobertas pelo monge austríaco Gregor Mendel no final do século XIX, abriu o caminho que levou a identificar os fundamentos do funcionamento da vida. De descoberta em descoberta, de avanço em avanço, citologistas, geneticistas, bioquímicos e especialistas em áreas afins, munidos com recursos técnicos cada vez mais eficientes, foram cercando os arcanos da vida biológica. E os resultados estão aí. Um a um os genomas de plantas e animais estão sendo identificados e devidamente mapeados. Há duas décadas um ambicioso projeto patrocinado pelo governo americano e coordenado pelo Dr. Francis Collins, ofereceu ao grande público e ao mundo científico, o mapa genético da espécie humana. Nele foram localizados com precisão científica os fundamentos biológicos da vida humana. Tornou-se possível identificar os genes ou pares de genes que comandam as diferentes funções vitais.