Começos da colonização de Porto Novo
Pe. Rick escreveu uma carta ao
arcebispo de Florianópolis, solicitando sacerdotes para assumirem a assistência
pastoral no novo núcleo colonial. O pedido foi prontamente atendido com a
elevação da nova colônia, compreendida entre o rio Peperi, o rio Uruguai e o
rio Iraí, até o Estado do Paraná, ao norte, num curato canônico. O primeiro
cura de Porto Novo veio a ser o Pe. Ofenhitzer. O Pe. Rick acrescentou a essa
afirmação: “Dessa forma, introduziu-se ali o antigo sistema de abadias alemãs; primeiro
a igreja e somente depois o povo”. Rabuske, Arthur – Rambo Arthur. 2004,
p.125) Essa
observação sinaliza para os desencontros
entre o modelo de atividade
pastoral introduzido de acordo com essa orientação e o da tradição da qual
vieram os colonos. Os padres enviados
pelo arcebispo de Florianópolis terminaram substituídos por jesuítas, com
tradição nos pastoreio dos colonos em frentes pioneiras de colonização. Em todo
o caso a assistência religiosa estava assim provida desde o início.
O Senhor José Aloysio Franzen de
Serro Azul, fora escolhido para
coordenar “in loco” o início da colonização. Na quarta reunião da
diretoria da Sociedade União popular,
ocorrida nos dias 6 e 7 de junho de 1926, ele comunicou que se
desembaraçara dos seus negócios estava pronto para fixar-se na sede da nova
colônia, e assumir em tempo integral a tarefa
de subdiretor. Como tal, foi-lhe passado uma procuração para, em nome da
diretoria, representar a Sociedade União Popular em todos os negócios de venda
junto à Empresa Chapecó-Peperi Ltda. Entre
suas principais atribuições constava por em prática as cláusulas acordadas
no contrato assinado com a Empresa Chapecó-Peperi Limitada: assinar
contratos provisórios com os compradores de lotes; receber importâncias; assinar
recibos.
Na ata da mesma reunião da
Diretoria, de 6 a 7 de junho de 1926, consta que o Senhor Franzen recebeu a
incumbência de construir diversas casas
de madeira para acomodar os colonos, até terem
condições de transferir-se em definitivo para os seus lotes. Na mesma
ocasião o Senhor Franzen comunicou a sua decisão de construir uma moradia de
madeira para si e sua família. Nela, pretendia reservar as peças necessárias
para abrigar o escritório central da colônia. Ainda na mesma reunião, a diretoria
decidiu pagar ao subdiretor um salário mensal de 600$000 (seiscentos mil reis)
e, na eventualidade de as vendas correrem bem, acertar uma comissão, além do ordenado fixo.
A diretoria central
comprometeu-se a remeter no prazo mais
curto possível o material de escritório necessário para o correto controle da
administração da colônia.
O Senhor Fr. Angast comunicou
que adquirira do sr. Sylvestre Benvengú, de Nonoai trezentaas e cinquenta
dúzias e tábuas de pinho de primeira além, de madeiras de outra bitola, tendo
pago um sinal de dois contos de reis. A autorização prévia para a compra havia
sido dada pelo Senhor Franzen e, considerando isso, a Diretoria Central
autorizou a Central das Caixas Rurais, em Porto Alegre, a remeter a quantia
acima para a caixa de Colônia Selbach.
A Diretoria Central aprovou na
mesma ocasião a comissão de 25$000 (vinte e cinco mil réis) por lote vendido em
favor de C. F. Rohde. Rohde integrou o grupo de pioneiros que seguiu para Porto
Novo, e fixou-se aí definitivamente. Assumiu o papel de inspetor e acompanhava as comissões de compradores.
Em seguida, tratou-se da compra
da quarta série de lotes em número de mais cem, já que as cláusulas acertadas no
Congresso dos Católicos haviam sido cumpridas. A negociação foi facilitada pela
presença do sr. Herrmann Faulhaber em Santa Cruz.
A Diretoria resolveu alterar a
fórmula de pagamento parcelado da entrada para cada lote. Até então, o
comprador dava uma entrada de 100$000 (cem mil réis) e comprometia-se a completar 1:000$000 (um conto
de réis) no prazo de três meses. A partir daquela reunião, a Diretoria Central
estipulou a seguinte regra: O comprador do lote paga 200$000 (duzentos mil
réis) como sinal em Porto Novo, com o compromisso de mandar o que falta para
1:000$000 (um conto de réis) em no máximo vinte dias. Com essa medida a
Sociedade União Popular assegurava os recursos para arcar com as obrigações
correntes da colonização e a aquisição de novas séries de lotes, sem se ver obrigada a recorrer a empréstimos. Dos debates havidos
em torno dessa questão, resultaram as
seguintes resoluções: Primeira. De momento, não fechar mais nenhum contrato de
uma nova série de lotes. Segunda. Aguardar a entrada das somas devidas pelos
compradores, fato que deve concretizar-se até fim de julho e começos de agosto;
Terceira. Rever a venda dos lotes com entrada
de 100$000 (cem mil réis) equivalente ao valor da viagem de Neu
Württemberg a Porto Feliz, mais o desconto de 20$000 (vinte mil reis), preço da
viagem de lancha pelo rio até Porto Novo. Quarta. Nos casos em que compradores
quiserem passar adiante o lote, antes de terem em mãos o título, exige-se que
seja urgida a cláusula do contrato com a
Empresa Chapecó-Peperi Ltda, de que sejam assentados somente católicos de
origem alemã.
Por fim, o Senhor Herrmann
Faulhaber foi convidado a assinar a escritura pública de quitação dos
275:000$000 (duzentos e setenta e cinco contos de réis), referentes à compra da
segunda e terceira série de lotes.
Depois de assinar o documento, colocou à disposição da diretoria cópias de suas obrigações para com a S. Paulo
Ralway e Brazilian Colonization and Development C. Por esses documentos, estava
assegurada a compra de dois mil lotes, mesmo que a sua empresa entrasse em dificuldades.
Dessa forma, estavam assegurados
os pressupostos para que a colonização pudesse começar. O mais importante deles
tinha a ver com a situação daquelas
terras. Em caso de dúvida a esse respeito, os colonos de origem alemã
dificilmente se aventurariam em grande número a adquirir lotes. De outra parte
estava sendo providenciada a infraestrutura mais indispensável, como a abertura
de estradas e condições razoáveis de acesso à colônia. Como consta nas Memórias
Especiais do Pe. Rick, a assistência religiosa estava assegurada desde o começo
e, ao mesmo tempo, o arcebispo de Florianópolis concedera para a colônia e
arredores uma situação canônica regular. O colono que pretendesse transferir-se
para lá encontraria tudo organizado em bases legais que não deixavam dúvidas,
além de, desde o começo, ver atendidas suas expectativas, principalmente no que
se referia a um atendimento religioso permanente e confiável por parte de
sacerdotes de comprovada idoneidade. Além disso, a Sociedade União Popular
providenciou os recursos indispensáveis por intermédio do diretor da colônia. A
comissão de colonização mantinha representantes, seus residentes, encarregados da tarefa de
acompanhar os migrantes em todas as suas etapas, desde a aquisição dos lotes,
até a sua instalação definitiva neles. Mesmo antes da chegada dos primeiros
povoadores, haviam sido dados os passos iniciais para assegurar a assistência
médica permanente e a construção de um hospital.
Posto tudo isso, a colonização
já tinha condições de ser iniciada. E,
de fato, as primeiras levas de pioneiros não se fizeram esperar. O velho apelo
“vamos para as colônias novas”, tão conhecido e tantas vezes repetido durante o
século que já durara a história da imigração, fez-se ouvir de novo e com muito
vigor e entusiasmo. Assim acontecera a cada avanço sobre novas fronteiras de
colonização, no vale do Caí, do Taquari, do Pardo e do Jacuí e nas colonizações
da Serra, das Missões e do Alto Uruguai. No mês de abril de 1926, aconteceu a
primeira “arribação” de pioneiros saídos de todos os recantos das regiões coloniais
mais antigas do Rio Grande do Sul. A revista Skt. Paulusblaltt, n. 6, de 1926,
registrou os nomes, os locais de origem
e os municípios de procedência dos 113 pioneiros compradores de lotes na nova
colônia. Originários dos municípios de Cruz Alta, Encantado, Erechim, Estrela,
Lajeado, Montenegro, Palmeira, Passo Fundo, Santo Ângelo, Santo Antônio da
Patrulha, Santa Cruz, São Leopoldo, São Luiz, São Sebastião do Caí, Soledade,
Taquari, Taquara e Venâncio Aires, eles podem ser considerados os “pais fundadores”
do Porto Novo de então ou da Itapiranga de hoje. Seus nomes merecem registro:
Nome Local Município
Binsfeld, Albin General Osório Cruz Alta
Binsfeld, Josef Geral Osório Cruz Alta
Binsfeld, MaThias General Osório Cruz Alta
Delavy, Benjamin Nova Brescia Encantado
Flach, Johann Nova Brescia Encantado
Schoffen, Alban Nova Brescia Encantado
Welchen, Bernhard Nova Brescia Encantado
Both, Nikolaus Três Arroios Erechim
Hentz, Nikolaus Barro Erechim
Klein, Josef Três
Arroios Erechim
Neff, Albert Estrela Estrela
Neff, Dr. Ulrich Corvo Estrela
Rohde, Karl Corvo Estrela
Timm, Rober Estrela Llajeado
Albrecht, Arthur Sampaio Lajeado
Senhor Behl, Sampaio Lajeado
Beuren, Nikolaus Conventos Lajeado
Follmann, Reinhold Arroio do Meio Lajeado
Friedrich, Josef Forqueta Lajeado
Friedrich, Philipp Forqueta Lajeado
Kappes, Jophann Canudos Lajeado
Lima, Antônio Arroio do Meio Lajeado
Paiter, Adolf Sampaio Lajeado
Richter, Wilhelm Sampaio Lajeado
Rockenbach, Heinrich Conventos Lajeado
Rockenbach, Johann Conventos Lajeado
Röglin, Friedrich Forqueta Lajeado
Schönhals, Bernhard Conventos Lajeado
Watzlawoski, Karl Sampaio Lajeado
Weizenmann, Jakob Lajeado Lajeado
Wolf, Alfred Forqueta Lajeado
Hofer, Johannes B. Bom Princípio Montenegro
Steigleder, Josef Porto Clemente Montenegro
Veit, Franz Bom Princípio Montenegro
Veit, Peter Bom Princípio Montenegro
Fischer, Georg Xingu Palmeira
Johann, Anton Xingu Palmeira
Renner, Galdin Neu Württemberg Palmeira
Schäfer, Johann Neu
Württemberg Palmeira
Vogt Johann Água Azul Palmeira
Dresch, Nikolaus Colônia Weidlich Passo Fundo
Gehlen, Emil Cochinho Passo Fundo
Hammes, Josef Colônia Selbach Passo Fundo
Hilgert, Peter Colônia Selbach Passo Fundo
Junges, Franz Colônia Selbach Passo Fundo
Klauck, Manoel Colônia Selbach Passo Fundo
Löff, Nikolaus Cochinho Passo Fundo
Neuls, Ferdinand Gerisa Passo
Fundo
Schädler, Edmund Não-me-toque Passo Fundo
Bergütz, Berthold Cochinho Passo Fundo
Wolfart, Leopoldo Colônia Selbach Passo Fundo
Wüst, August Não-me-toque Passo Fundo
Agnes, Peter Campinas Santo Ângelo
Angst, Karl Boa Vista Santo Ângelo
Fritsch, Heinrich Buricá Santo
Ângelo
Hammes, Heinrich Boa Vista Santo Ângelo
Kliemann, Karl Boa Vista Santo Ângelo
Löblein, Albin Passo da Pedra Santo Ângelo
Sausen, Jakob Boa Vista Santo Ângelo
Becker, Jacob Rolante Sto. A. da
Patrulha
Deufest, Mathias Santa Cruz Santa Cruz
Eich, Robert Santa Cruz Santa Cruz
Finkler, Peter Santa Cruz Santa Cruz
Franz, Jakob Sinimbu Santa Cruz
Hackenhaar, Josef Serro Alegre Santa Cruz
Kunzler, Edmundo Santa Cruz Santa Cruz
Ludwig, Karl Chaves Santa Cruz
Ludwig, Erich Chaves Santa Cruz
Ohland, Fridolin Santa Cruz Santa Cruz
Rech, Serafin Trombudo Santa Cruz
Braun, Franz Dois Irmãos São Leopoldo
Koch. Ludwig Novo Hamburgo São Leopoldo
Koch, Wilhelm Novo Hamburgo São Leopoldo
Finger, Johann Serro Azul São Luiz
Franzen, Josef Serro Azul São Luiz
Gemwey, Karl Serro Azul São Luiz
Kieling, Anton Serro Azul São Luiz
Knapp, Friedrich Serro Azul São Luiz
Knob, Nikolaus Serro Azul São Luiz
Ten Caten, Josef Serro Azul São Luiz
Temoller, Peter (?) Serro Azul São Luiz
Theobald, Jakob Serro Azul São Luiz
Anschau, Theodor Nova Peterópolis S. Seb. do Caí
Heck, Peter Feliz S. Seb.
do Caí
Petry, Ferdinand Nova Petrópolis S. Seb. do Caí
Phillipsesn, Peter Nova Petrópolis S. Seb. do Caí
Ruschel, Albin Nova Petrópolis S. Seb. do Caí
Stahl, Alfred Nova Petrópolis S. Seb. do Caí
Stahl, Edwin Nova Petrópolis S. Seb. do Caí
Stahl, Franz Nova Petrópolis S. Seb. do Caí
Hochscheid, Wilhelm Sobradinho Soledade
Konzen, Arnhold Sobradinho Soledade
Caye, Alfred Bom Retiro Taquari
Scheeren, Wunibald Bom Retiro Taquari
Schöler, Josef Quilombo Taquara
Schöler, Otto Quilombo Taquara
Schöler, Willibald Quilombo Taquara
Ansen, Arthur Brasil Venâncio
Aires
Hackenhaar, Leopold Santa Emília Venâncio Aires
Hackenhaaar, Nikolaus Grão Pará Venâncio Aires
Hackenhaar, Wilhelm Santa Emília Venâncio Aires
Hackenhaar, Josef I Santa Emília Venâncio Aires
Hackenhaar, Josef II Travessa Venâncio
Aires
Hickmann, Willibald Santa Emília Venâncio Aires
Kiest, Herrmann Linha Serra Venâncio Aires
Reis, Josef Santa Emília Venâncio Aires
Royer, Emil Mariante Venâncio
Aires
Schwendler, Jakob Harmonia da Costa Venâncio Aires
Schwendler, Josef Harmonia da Costa Venâncio Aires
Seidel, Anton Brasil Venâncio
Aires
Seidel, Robert Isabela Venâncio
Aires
Stülp, Christian Grão Pará Venâncio
Aires [1]
Os municípios que, na época,
mandaram mais pioneiros foram, em ordem decrescente: Lajeado com 17; Venâncio
Aires com 15; Passo Fundo com 12; Santa Cruz com 10; São Luiz com 9; Santo
Ângelo com 8; São Sebastião do Caí com 8; Palmeira com 5. Os demais, Estrela,
Encantado, Montenegro, São Leopoldo, Taquara, Cruz Alta, Erechim, Taquari,
Soledade e Santo Antônio da Patrulha, todos com menos de cinco migrantes.
Desses números é legítimo concluir que a porcentagem maior de excedentes
concentrava-se na assim chamada “região colonial média”, localizada nos vales
dos rios Taquari, Pardo e nas “colônias novas” do então município de Passo
Fundo e dos municípios de São Luiz e Santo Ângelo. Da “região colonial antiga”
o número de fundadores de Porto Novo chega a ser modesto, para não dizer
insignificante. Considerando-se que de
São Sebastião do Caí, que compreendia toda a margem esquerda do rio Caí, saíram
apenas oito migrantes, de Montenegro que
tinha sob sua jurisdição praticamente toda a margem direita do mesmo rio,
contribuiu apenas com quatro, faz supor que o problema da superpopulação
situava-se em um nível menos preocupante do que nas regiões de colonização.