A Escola comunitária Teuto-Brasileira


Com a intenção de colaborar com o grave problema da educação no País, o autor pesquisando a documentação referente à imigração alemã no sul do Brasil, encontrou farto material sobre a Escola Comunitária. Como se trata de uma escola criada pela comunidade local, por ela amparada, financiada e garantida, parece válido apresentá-la como um modelo pertinente para sua época. Mais ainda, a ideia de escola comunitária, em moldes semelhantes, porém inserida na conjuntura de hoje, talvez possa contribuir para a solução do problema educacional e, quem sabe, de problemas de outra natureza.

Não se pretende, portanto, restringir o trabalho ao mero apanhado histórico. Pretende-se mostrar aos interessados como a escola nas comunidades Teuto-brasileiras representou o foco polarizador de todas as atividades comunitárias e não apenas a educação formal. A escola não foi mais uma repartição municipal ou estadual, oferecida pela generosidade das autoridades locais ou regionais. Foi uma instituição criada e ciosamente defendida pelas comunidades coloniais. Quem mexesse nela intrometia-se no próprio santuário no qual se guardavam e perpetuavam os valores culturais cultivados por séculos. São quatro os conteúdos referência do texto que segue em dois volumes: A História dessa escola, sua Natureza didático pedagógica, a Associação dos professores e a Formação dos professores. 

Por razões práticas escolhi como foco a Escola Comunitária Católica, fazendo referências à Escola Comunitária Protestante em momentos que se fizer oportuno. As restrições são meramente práticas e nada tem a ver com as divergência doutrinárias e ou disciplinares. Muito pelo contrário, as Escolas de ambas as confissões tiveram as mesmas características e em comum cumpriram a mesma função essencial. As fontes e documentos consultados e analisados encontram-se basicamente no Instituto Anchietano de Pesquisas e no Memorial Jesuíta na biblioteca central da Unisinos. Destaco os mais importantes: “Lehrerzeitung”, “Deutsches Volksblatt”, “Familienfreund Kalender”, “Sankt Paulusblatt” e não poucas informações avulsas. O texto foi enriquecido também com entrevistas de  antigos professores aina vivos na época.

A justiça manda registrar o meu agradecimento ao diretor do Instituto Anchietano de Pesquisas, Pe. Pedro I. Schmitz, que franqueou o acesso às fontes e documentos aí guardados. Agradeço também e modo especial ao Pe. Arthur Rabuske (in memoriam), pelas suas valiosas sugestões e informações sobre documentos e fontes. Espero contribuir com o presente trabalho no sentido de mostrar como a Escola Comunitária salvou da decadência cultural e religiosa as comunidades coloniais durante mais de um século (1835-1938) e, ao mesmo tempo, quem sabe,  contribuir enfrentar os desafios pelos quais a educação no País tenta superar neste começo do terceiro milênio.




Bicentenário da Imigração - 45

Os Jesuítas e a Imigração alemã

Introdução
Desde o seu descobrimento a América Latina tornara-se o cenário em que os jesuítas, mais do que os membros de qualquer outra ordem religiosa, implantaram projetos de cristianização e de promoção humana. Universalmente famosa  e conhecida por todos foi a obra por eles edificada durante os séculos XVI, XVII e XVIII, tanto nas colônias espanholas quanto nas portuguesas. Podem ser encontrados no Chile liderando iniciativas no ensino, na instalação de oficinas, tipografias, artesanatos diversos, além de se dedicarem à catequese dos nativos e dos filhos dos espanhóis. Estão presentes no Chaco argentino na Província de Entre Rios e, principalmente, nas missões localizadas nos atuais territórios do Norte da Argentina, sul do Paraguai e sul do Brasil. Desde 1549 os jesuítas  tornaram-se presença obrigatória no Brasil, empenhados de modo especial na catequese dos índios e na abertura de colégios para os filhos e descendentes de portugueses.

Depois da expulsão das colônias latino americanas e mais ainda depois da supressão da Ordem, suas obras foram entregues ao arbítrio e cobiça, aos interesses escusos, à hostilidade contra a Igreja e às investidas do iluminismo e demais correntes inovadoras do pensamento, que tomaram conta dos regimes europeus e por tabela  também das colônias na América Latina. Relatos chegados até nós, correspondências, obras de inestimável valor histórico, etnográfico e antropológico, alem das imponentes ruínas  de templos, as reduções e aldeamentos, testemunham ainda hoje, 350 anos depois, o que foi a obra começada pelos jesuítas de então. Por meio delas é possível avaliar, de alguma forma, o tamanho dessa obra e  intuir o espírito, a dinâmica e a lógica que a orientou. 

Restaurada a Ordem em 1914, em poucos anos os discípulos de Santo Inácio, como que emergindo revigorados de um “retiro” compulsório de 40 anos, retornaram aos antigos cenários apostólicos, para dar continuidade à obra interrompida. Voltaram aos colégios, reassumiram as missões populares, recomeçaram a conquista para a Igreja dos povos  autóctones em todos os continentes e acompanharam pelo mundo afora, os emigrantes europeus em busca de novas pátrias. Foi em meio a essa dinâmica  que em 1842 chegaram ao sul do Brasil os primeiros jesuítas da Ordem restaurada. Sua missão voltava-se agora, não para a catequese dos índios, mas oferecer assistência pastoral aos núcleos de povoamento em formação, cuidar da educação religiosa e profana e dar andamento a ambiciosos projetos de promoção humana. 

O cenário físico e humano no sul do Brasil

No começo do século XIX. 
A denominação Sul do Brasil não coincide aqui com a atual divisão do Pais em regiões. Refere-se apenas ao estado do Rio grande do Sul. Trata-se de uma área de 283000 quilômetros quadrados que, durante o Império, correspondia  à Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e, com a proclamação da República e 1889, como estado do Rio Grande do Sul. Em 1842, ano em que os primeiros jesuítas  após a restauração da Ordem, pisaram o solo da Província de São Pedro, as condições físico-geográficas, sociais, políticas, econômicas e religiosas, podem ser resumidas, em linhas gerais, da seguinte forma. 

Durante a década de 1820, após inúmeras escaramuças e uma verdadeira guerra, conhecida como a guerra  Cisplatina, terminou por ser fixado o traçado definitivo  das fronteiras entre as repúblicas da Argentina e principalmente do Uruguai e o Império do Brasil. No centro sul da Província predominavam as enormes extensões de campos naturais, a Campanha, ocupada por fazendeiros, donos de enormes estâncias, nas quais criavam rebanhos de gado, que lhes rendiam riquezas apreciáveis com a comercialização do charque e dos couros. Também o norte e o nordeste da Província, exibia as mesmas características com campos naturais a perder de vista,  por sobre o planalto numa altitude media entre 800 a 900 metros, ocupado também por estâncias de criação de gado, rendendo prosperidade aos donos. 

Entre as duas áreas de campos naturais localizavam-se  as bacias medias e superiores dos rios que descem das encostas da assim chamada Serra, cobertas de florestas virgens praticamente intocadas. Formavam uma continuidade ininterrupta desde leste da Província até a parte central e de lá tomavam a direção norte e noroeste, cobrindo as regiões da Serra, Missões e Alto Uruguai. 

As estâncias de criação de gado encontravam-se nas mãos de luso-brasileiros, e imigrantes açorianos e seus descendentes. Entre os peões de suas estâncias predominava o elemento mestiço, batizado genericamente como gaúcho. À margem das estâncias encontramos um tipo humano etnicamente heterogêneo, remanescente das contínuas campanhas militares, caçadores de escravos indígenas, aventureiros, foragidos da justiça, descendentes dos índios das reduções jesuíticas e seus mestiços com outras procedências ainda hoje conhecidos como “missioneiros”. Reunidos em pequenas tribos os sobreviventes dos povos indígenas, conhecidos como caingangues e guaranis, sobreviviam primitivamente, no recesso da mata virgem. 

Como já lembramos mais acima foi na Província de São Pedro, especificamente na porção coberta por florestas pluviais e portadora de solos de alta fertilidade que, na transição  do Reino Unido a Portugal e a Independência do Brasil, começou a ser testado um novo modelo de desenvolvimento econômico e social. Até então os únicos modelos de desenvolvimento no Brasil contemplado iniciativas de grande envergadura. Prosperaram então os ciclos do algodão, da cana do café e do gado, este último na Província de São Pedro. As grandes áreas florestais, sem indícios maiores de riquezas  naturais como ouro, prata, cobre, pedras preciosas, ... permaneciam à margem do desenvolvimento econômico regional e nacional. Apesar de, na maioria dos casos, terem sido possessões legítimas de pessoas físicas ou do governo, na realidade não passavam de terras de ninguém e corriam o risco de serem simplesmente ocupadas, despojadas das suas reservas de madeira e seus solos depredados. Tornara-se inadiável ocupá-las planejada e racionalmente e torná-las produtivas. A opção foi por um modelo até então inédito no Pais: o assentamento de agricultores em pequenas propriedades entre 25 e 70 hectares, em regime de empreendimentos familiares, dedicados à policultura de  subsistência em primeiro lugar e à geração de excedentes destinados ao abastecimento local e regional. Com essa estratégia pretendiam-se alcançar ao mesmo tempo vários objetivos: povoar de vez essas terras, estimular o surgimento de uma classe média rural de bom nível, produzir alimentos como feijão, arroz, farinha de mandioca, batata, trigo, etc. para, além de alimentar a família, abastecer as cidades, as tropas e, quem sabe, exportá-los para os outros estados. Ao mesmo tempo favorecia-se a atividade de artesãos, complementar à agricultura e, quem sabe, para servirem de gérmen para o futuro surgimento de indústrias.

A primeira experiência neste sentido já fora feita durante a segunda metade do século XVIII, com colonos vindos dos Açores. Como essas ilhas não dispunham de excedentes em número suficiente para povoar todas as terras disponíveis no sul do Brasil, a saída foi recorrer a outras fontes de imigração. A preferência recaiu sobre alemães e italianos, pelo menos na primeira etapa. Os motivos para essa preferência estão ligadas a motivos diversos, entre os quais podem ser citados: a tradição várias vezes milenar desses povos na dedicação à agricultura familiar em pequenas glebas, o fato de alemães e italianos nunca se terem envolvido em tentativas de ocupação de partes do Brasil como aconteceu como os franceses, ingleses e holandeses, o fato de o príncipe herdeiro D. Pedro ser casado com a princesa austríaca D. Leopoldina de Habsburgo e outras razões mais.

A primeira leva de imigrantes alemães desembarcou em São Leopoldo no dia 25  de julho de 1824 e estabeleceu-se na Real Feitoria do Linho cânhamo, local escolhido como ponto de irradiação do novo projeto colonizador. Seguiram-se levas e mais levas de novos imigrantes até que o fluxo foi interrompido por 10 anos, o tempo que durou a Guerra dos Farrapos (1835-1845). A imigração foi retomada com vigor redobrado  a partir de 1848. Os imigrantes alemães que chegavam  distribuíam-se numa proporção de 46% de católicos para 54% de protestantes. Os núcleos coloniais que se  multiplicavam rapidamente, na maioria dos casos, não adotaram qualquer tipo de providência para separar  os povoadores por confissão religiosa. Essa situação iria contribuir mais tarde para uma série dificuldades no exercício da cura de almas, de modo especial entre os católicos, devido à proibição canônica dos casamentos mistos e a não admissão de padrinhos protestantes para os batizados católicos. Aliás os católicos ficaram sem qualquer tipo de assistência religiosa por parte de sacerdotes, até o ano de 1843 e, somente a partir de 1849, puderam contar com a presença regular de sacerdotes de língua alemã. 

Nos 25 primeiros anos preservaram, da melhor forma possível, ao menos o essencial da sua fé e religiosidade. Para tanto recorreram às orações e ensinamentos em família e às devoções coletivas aos domingos em encontros dedicados à  oração. O Pe. Ambros Schupp, registrou a situação ao escrever em seu livro: Os Jesuítas alemães no Rio Grande do Sul (Brasil).

Certamente não foi um sacrifício pequeno para o espírito profundamente religioso dos colonos alemães, ao se verem, assim de uma hora para a outra, erradicados de seu ambiente natal acalentado pelo espírito da fé. Aqui na mata virgem não soava nenhum sino chamando-os para a igreja, nenhum órgão dispondo-os para a devoção, nada  em seu derredor que lembrasse as belas festas da terra natal. Aproximava-se o natal e o sol queimava e a natureza exibia seu esplendor festivo. Nenhum vestígio da neve e das flores da neve na janela, tão características do natal na Alemanha. Aproximava-se a Páscoa com o campo e a floresta ostentando a sua exuberância e esplendor. Entretanto na colônia era outono e o inverno se aproximava. Passavam, umas depois das outras, as belas festas de Nossa Senhora e, se não fosse a voz interior, nem sequer seriam lembradas. (Schupp, 2004)

A situação começaria a mudar para melhor a partir de 1842

Bicentenário da Imigração - 44

Entretanto encontrou-se uma outra forma capaz de arregimentar os católicos em torno do seu Projeto de Restauração: os congressos dos católicos – os “Katholikentage ou Kathollikenversammlungen”, como ficariam conhecidos. O primeiro deles teve lugar em 1898 em Harmonia, no interior de Montenegro. Esses eventos  tiveram seqüência regular a cada ano ou a cada dois anos até 1940. Serviram de fórum em que os católicos analisavam sua situação econômica, social, política, educacional e principalmente religiosa. Procuravam identificar os problemas, discutiam soluções  e propunham meios e estratégias. Já no congresso  de 1898 nasceu a Associação dos Professores e Educadores Católicos do Rio Grande do Sul. A ela foi foi confiado o encargo de coordenar o projeto educacional das escolas comunitárias. No congresso de 1899 foi fundada a Associação Riograndense de Agricultores, iniciativa do Pe. Theodor Amstad e de um grupo de lideres leigos. Tratava-se, na verdade de um ambicioso projeto de promoção humana, alinhado com a proposta da Restauração Católica em pleno andamento. A Associação tinha como objetivos vigiar e administrar o sistema escolar  e  proposta educacional posta em prática nas comunidades coloniais; coordenar  a política de abertura de novas fronteiras de colonização; organizar as atividades econômicas nas bases da cooperação e solidariedade comunitária, incentivando as cooperativas de crédito, de produção de comercialização e de consumo; desenvolver mecanismos iniciativas de assistência  e seguridade social; zelar pela pureza da doutrina religiosa. O notável nessa organização foi o fato de ter sido confiada inteiramente às lideranças leigas, entre as quais eram eleitas as diretorias central, municipal e local. Os párocos e demais religiosos comprometidos com o Projeto não participavam nem na condição de assistentes eclesiásticos. Sua influência sem dúvida decisiva, emanava  do fato de que a investidura  que haviam recebido, fazia com que a influência se efetivasse, não a nível administrativo, mas no plano do propósito maior da catolicidade romana.

Em 1912, a Sociedade União Popular tomou o lugar da Associação Riograndense de Agricultores. Estritamente confessional engajou-se ainda mais no Projeto da Restauração Católica. Como tal o foco dos seus interesses e  o objeto  das suas preocupações foram os mesmos dos da Associação Riograndense de Agricultores que a precedeu e foi a inspiradora da sua criação. Nos congressos convocados de dois em dois anos pela Sociedade União Popular, aprofundaram-se e ampliaram-se em muito as questões de interesse básico como a escola, a educação, a economia, a organização comunitária, o solidarismo, projetos de novas fronteiras de colonização, assistência social, cuidado para com a saúde, a velhice, a organização paroquial, a prática da religião,  a vida sacramental, o respeito e a obediência  irrestrita às orientações da Igreja, a observância da disciplina católica. 

Os resultados do esforço das duas grandes organizações: a Associação Riograndense de  Agricultores e a Sociedade União Popular, tornaram-se cada vez mais visíveis no decorrer das décadas de 1920 e 1930. Ao começar a Segunda Guerra Mundial, o Projeto da Restauração Católica atingira o seu ponto mais alto, isto é, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e, em grande parte do restante do Pais, predominava um catolicismo calcado nos princípios teológicos, nos dogmas, na moral e na disciplina,  afinados com Roma. A tal ponto isso é verdade que se podia falar  não em Igreja “ultramontana”, mas em Igreja “ultra mare”, “ultra oceânica”. 

O Projeto da Restauração Católica contou com outro fator de grande importância: A imprensa católica. Aqui não é a ocasião nem o lugar para uma exposição sobre toda a imprensa católica no Estado, muito menos entrar em detalhes. Limitar-nos-emos às três publicações mais importantes. 

Em 1871 os jesuítas fundaram em São Leopoldo o jornal “Deutsches Volksblatt”. Foi composto e publicado naquela cidade até 1890. Transferido para Porto Alegre e, depois de passar pelas mãos de vários jornalistas, foi parar em poder do jornalista  Hugo Metzler. Com o seu falecimento  foi assumido pelo filho Franz Metzler que o editou até o seu fechamento na Campanha de Nacionalização em 1939. O jornal passou a ser o veículo de formação e informação mais importante e permanente do universo católico nos quase sessenta anos em que foi editado. Decididamente engajado  no Projeto da Restauração registrou em suas páginas tudo que pudesse interessar aos católicos teutos que o liam regularmente. Oferecia matérias de fundo principalmente no suplemento dominical “Sonntagsstimmen”, visando a formação humana e religiosa dos leitores. O “Deutsches Volksblatt” representa uma fonte indispensável para quem quiser entender a Restauração Católica  no sul do Brasil.

Entre 1900 e 1940 circulou a “Lehrerzeitung”, uma publicação mensal destinada aos professores das comunidades católicas. Sua linha editorial manteve-se  igualmente fiel ao Projeto da Restauração, tendo como alvo a formação, a informação e a orientação dos professores da rede comunitária. É difícil avaliar a importância  desse jornalzinho de apenas dezesseis páginas pois, destinava-se ao professor paroquial a quem como responsável pela educação, cabia introduzir as novas gerações no espírito da Restauração. Pelo fato de em suas mãos se concentrar a responsabilidade de alfabetizar, de catequizar e, principalmente, de formar e educar as crianças afinadas com a visão religiosa das comunidades, pelo fato de, além disso, ser o braço direito e muitas vezes o substituto dos párocos, pelo fato ainda de o professor exercer  a função de líder, conselheiro e modelo de virtudes  nas comunidades, fizeram do professor  o referencial de como deveria ser e deveria agir o cristão da Igreja Restaurada. 

Um jornalzinho menos conhecido e de duração mais curta foi o “Bauernfreund”, que circulou de 1900 a 1914. Como os anteriores  foi um veículo de formação e informação a serviço da Associação Riograndense de Agricultores. Em suas páginas ficaram registrados os objetivos, os projetos, as preocupações e as realizações dessa importante organização. 

Em 1912 foi criada a Sociedade União Popular. No mesmo ano começou a circular o “Skt. Paulusblatt”. Nas suas edições mensais essa revista assumiu o papel de porta-voz mais importante da nova Sociedade e do seu papel na Restauração. As matérias nela publicadas  podem ser novamente classificadas como de formação e informação. Sua linha editorial deixa claro desde o primeiro número a que veio: a defesa ostensiva do catolicismo teuto. O “Skt. Paulusblatt”. Com a circulação interrompida em 1939 ressurgiu em 1948 e, até 1960 continuou  serviço da Restauração Católica. É publicado ainda hoje como um dos raros periódicos em língua alemã no Brasil, mas, como é compreensível, seguindo uma linha editorial ajustada às circunstâncias do mundo e da Igreja de hoje.

No mesmo ano de 1912 entrou em circulação o almanaque anual “Der Familienfreund”. Como o “Skt Paulusblatt”, informava sobre os acontecimentos mais diversos, sempre numa perspectiva católica abordando  matérias  destinadas à formação do homem, da mulher, da juventude e da infância, em sintonia com os propósitos da Igreja. Além das publicações regulares circularam muitas outras avulsas, na sua maioria perseguindo o mesmo objetivo.

O último e o mais importante dos elementos que contribuíram para o êxito do Projeto da Restauração Católica foi a formação do clero tanto secular quanto regular. Nessa tarefa coube aos padres jesuítas uma responsabilidade toda especial. Ao assumir a arquidiocese de Porto Alegre em 1912, D. João Becker confiou a eles a formação do seu clero. No ano seguinte o seminário diocesano foi ocupar os prédios do antigo Colégio Nossa Senhora da Conceição em São Leopoldo, chamando-se daí para frente  Seminário Central de São Leopoldo. Até o final da década de 1930 funcionou aí também o Seminário Menor. Transferido para novos prédios e instalações em Gravataí, continuou contudo sendo dirigido pelos padres jesuítas. O seminário maior, filosofia e teologia, permaneceu em São Leopoldo. A ele afluíram além dos  seminaristas da arquidiocese, também os das demais dioceses do Rio Grande do Sul, de dioceses de Santa Catarina, do Paraná e de outros estados. Algumas congregações  religiosas mandavam seus futuros sacerdotes também para  o Seminário Central. O Seminário permaneceu em São Leopoldo até 1956, quando foi transferido para Viamão e confiado ao clero diocesano. 

Nos quarenta e três anos em que ditaram a orientação para a formação do clero, os jesuítas destinaram sempre os melhores quadros em filosofia, teologia, ascética, moral, direito canônico, para a formação dos seminaristas. E o resultado não podia ter sido outro: um clero inteiramente alinhado com o Projeto da Restauração Católica. De suas fileiras saíram dezenas de párocos e seus auxiliares, que em poucos anos ocuparam todas as paróquias do Rio Grande do Sul e parte das de Santa Catarina. Praticamente uma geração inteira de bispos tinham sido alunos do Seminário Central. Por suas dependências passou uma dezena de bispos de dioceses de outros estados, inclusive o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro D. Jaime de Barros Câmara. 

Nesse cenário não se podem esquecer outros seminários menores como o de Cerro Largo e Santa Maria, também sob a responsabilidade dos jesuítas. 

A dinâmica da formação do clero diocesano foi acompanhada no mesmo ritmo e com a mesma seriedade  e empenho, na formação do clero regular em uma dezena de instituições mantidas pelas respectivas  ordens e congregações clericais como franciscanos, capuchinhos, jesuítas, redentoristas, palotinos, salesianos, etc. 

É preciso lembrar ainda que as congregações não clericais, como maristas e lassalistas e as muitas congregações religiosas femininas eram eficientes laboratórios em que se formavam, testavam e habilitavam os futuros agentes responsáveis pela edificação da Igreja Restaurada. 

Conclusões 
Uma conclusão geral que se pode tirar, considerando o grande conjunto de meios postos em prática pelas lideranças católicas e pelo povo em geral, para atingir o seu objetivo e devolver à Igreja a autonomia em relação ao Estado, a pureza da doutrina, a observância da disciplina religiosa e a vida sacramental foi, na verdade, um gigantesco Programa de Restauração Católica. 

Como segunda conclusão pode-se afirmar que os esforços empenhados pelas autoridades eclesiásticas, pelo clero, pelos religiosos e pelo povo católico em geral, foram amplamente recompensados. Ao eclodir a Segunda Guerra Mundial, a Restauração havia triunfado em quase tudo o que se propusera. Roma e o Romano Pontífice significavam a última instância em temos de doutrina e disciplina eclesiástica. O clero secularizado e a serviço de interesses profanos e levando uma vida pouco recomendável, cedera lugar a um clero teologicamente bem formado e disciplinarmente comprometido, uma prática religiosa voltada para a participação nos    sacramentos, uma religiosidade calcada nas verdades da fé tomara o lugar dos rituais sem consistência doutrinária, folclóricos e até francamente profanos.

Enfim uma nova Igreja tomara o lugar da velha Igreja do Padroado, uma Igreja que ocupava o seu lugar de destaque na sociedade brasileira, respeitando o Estado mas não lhe devendo favores muito menos fazendo concessões; uma Igreja livre, autônoma, fiel aos princípios doutrinários emanados de Roma; uma Igreja disciplinada, fazendo jus ao adjetivo de militante; uma Igreja que considerava este mundo como uma passagem, um período de provação; uma Igreja que preparava os fiéis para torná-los dignos de fazer um dia parte da Igreja Triunfante.

Associativismo - Cooperativismo


A partir de 25 de julho de 1824, começaram a fixar-se no sul do Brasil os imigrantes de origem germânica. Vieram estimulados  pela política imperial da ocupação rápida das grandes áreas vazias dos estados do sul, cobertas de densas  florestas pluviais, situadas na bacia do Guaíba, da região da Serra, Missões, Alto Uruguai, oeste de Santa Catarina e Paraná. Nessas áreas proliferaram as pequenas propriedades de menos de 100 hectares dedicadas, em primeiro lugar, para a subsistência familiar, características de uma colonização de povoamento.. A dinâmica dessa colonização consistia essencialmente na formação de comunidades rurais de pequenos proprietários. Nos primeiros anos de sua presença no sul do Brasil os imigrantes enfrentaram uma série de dificuldades inerentes, de um lado, à sua identidade étnica e cultural e, do outro, às características geográficas e condições sócio culturais.

Procedentes da Europa Central e do Norte, vinham a ser descendentes dos diversos povos germânicos. Culturalmente  eram herdeiros e portadores da cultura  que emergira, pelo menos em linhas gerais, do contexto sócio cultural e geográfico da “Ordem Alemã”. O termo significa, antes de mais nada, a unidade histórico cultural dos povos que atualmente se localizam na Alemanha, nas repúblicas do Báltico, na Áustria, Suíça e, em parte na Polônia, República Tcheca, Alsácia, Lorena, Luxemburgo e arredores.

Considerados sob esse ângulo, os imigrantes alemães inseriram-se no contexto brasileiro como um componente inteiramente estranho, enfrentando as dificuldades inevitáveis originadas pelo convívio com os demais segmentos étnicos e culturais aqui encontrados. Todos esses fatores somados resultaram nas primeiras décadas num relativo isolamento. Enfrentaram as muitas e grandes dificuldades pondo em marcha uma série de iniciativas e estratégias para garantir a sobrevivência física e, principalmente, a cultural. Organizaram-se em comunidades, construíram igrejas, criaram escolas comunitárias, desenvolveram o comércio, os artesanatos e por aí vai. Simultaneamente os imigrantes criaram  iniciativas ricas e diversificadas direcionadas a atividades associativas. O proverbial instinto de os alemães e seus descendentes se associarem para as mais diversas modalidades de lazer, exporte, cultura e outras deu  origem, a partir da década de 1850, a centenas de clubes, associações, sociedades. Nelas as pessoas se encontravam para cultivar amizades, boas conversas, promover atividades esportivas, dedicar-se à arte, ao teatro, a iniciativas de assistência, de mútuo amparo, de promoção da saúde e, por fim, para por em andamento organizações amplas de desenvolvimento econômico e promoção humana.

Entre essas últimas a mais abrangente e por isso mesmo a mais ambiciosa foi a Associação Rio-grandense de Agricultores fundada em 1899 em Santa Catarina de Feliz. Com ela foi posto em andamento um autêntico projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana, com base no compromisso solidário, aberto também aos imigrantes italianos, poloneses como também aos luso-brasileiros. Deixando de lado querelas de natureza doutrinária e ou disciplinares, propôs a colaboração com os protestantes e católicos com a finalidade de por em andamento um amplo projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana. No seio dessa organização foram concebidas e postas em funcionamento as primeiras cooperativas de crédito e 1902 em Nova Petrópolis. A elas se somariam com o andar dos anos cooperativas de produção, comercialização e muitas outras modalidades. Na Associação Rio-grandense e Agricultores foi praticada com entusiasmo o espírito e cooperação inter étnica, intercultural e pela primeira vez praticou-se um autêntico ecumenismo.

Resgatar pelo menos em linhas gerais, essa inestimável contribuição  com  que os imigrantes alemães e de outras procedências que colaboraram e colaboram, ainda, na consolidação da identidade dos estados do sul do Brasil, constitui-se num questão de justiça. A fim de colaborar para que, com aproximação do bicentenário. A imigração, ofereço meu livro: “O Associativismo Teuto-Brasileiro e os Primórdios do Cooperativismo no sul do Brasil”, edição da Editora Unisinos.



Bicentenário da Imigração - 45

A base do Projeto da Restauração Católica teve como um dos seus pilares mestres uma cuidadosa organização paroquial e comunitária. Várias comunidades menores situadas em áreas contíguas e polarizadas por uma comunidade maior, formavam uma paróquia. Próximo à matriz e próximo às diversas capelas encontrava-se sempre uma escola. No começo, em muitos casos, capela e escola funcionavam no mesmo prédio, originando o que se convencionou chamar de uma “escola-capela”. Uma associação com sua diretoria cuidava da igreja. Cabia-lhe como tarefa a construção e a manutenção do templo, a casa paroquial além do sustento do pároco e de seus auxiliares, o bom andamento das missas e demais atos litúrgicos, organização das festas, a administração dos cemitérios, etc. Embora o pároco não integrasse a diretoria sua autoridade sobre ela era evidente pela posição que ocupava como representante da autoridade eclesiástica. Nessas circunstâncias ninguém ousava disputar qualquer tipo de liderança ou de autoridade com o pároco mesmo em questões de administração temporal. Seus  desejos e principalmente suas determinações assumiam o caráter de ordens que encontravam sempre eco favorável na diretoria da paróquia e das capelas e estas, por sua vez, encarregavam-se de faze-las respeitadas pela comunidade toda.

Frente a uma organização tão coesa e tão comprometida com o pároco e com a igreja e tudo que representavam, e o fato de que todas as comunidades ostentarem o mesmo perfil organizacional, fica fácil entender que o Projeto da Restauração Católica, emanado de Roma e implantado nas paróquias e capelas pelo bispo, os párocos e as diretorias das comunidades, produzisse, sem tardar seus resultados. A vida sacramental tornou-se a base da ação pastoral. O padre no caso era de fato um verdadeiro sacerdote cujo único objetivo consistia em que os fiéis vivessem de acordo com os mandamentos e os ditames emanados de Roma e das sés  episcopais. 

Além da base paroquial alicerçada  numa organização sólida e eficiente, várias outras formas  de associações setoriais e mutuamente complementares tornaram-se  comuns e praticamente obrigatórias. Entre as mais populares aparecem:

Primeiro. As associações de crianças reunidas em torno da devoção ao Menino Jesus (Kindheit Jesu Verein). Nelas as crianças, desde muito cedo, eram introduzidas numa profunda devoção a Jesus, a qual perduraria a vida toda nas mais diversas formas de devoção que praticariam como adultos. 

Segundo. A devoção o Coração de Jesus, muito popular especialmente entre as senhoras casadas e viúvas. Era difícil encontrar uma casa em que não se venerasse uma imagem do Coração de Jesus ao lado de outra do Coração de Maria. Essa devoção atingia o seu ponto alto no mês de junho, mês dedicado ao Coração de Jesus, culminando com a festa do Coração de Jesus na última sexta-feira daquele mês. Todas as primeiras sextas-feiras do mês durante o ano todo eram também consagradas ao Sagrado Coração e era convicção generalizada que alguém que tivesse assistido uma vez missa e comungado durante nove sextas-feiras seguidas, teria a salvação da alma garantida. 

Terceiro. O Apostolado da Oração foi mais um forma de devoção muito difundida entre as senhoras. As associações que se formavam com o objetivo de  fazer da oração um meio eficaz de apostolado costumavam ter uma vida religiosa muito ativa. Distinguiam-se em qualquer  paróquia pelas fitas vermelhas que portavam e pela intensa vida sacramental com evidentes objetivos missionários. 

Quarto. As Congregações Marianas fomentaram a vida religiosa e sacramental dos jovens e dos homens de todas as classes sociais e de todos os níveis de instrução. Também essas organizações  exibiam uma clara preocupação pela formação, pelo cultivo da vida cristã por meio da vida sacramental de seus associados, além de um marcante espírito  apologético e missionário. As Congregações Marianas caracterizavam em primeiro lugar as paróquias e os colégios  dos jesuítas. Nas ocasiões de manifestações públicas de fé, como procissões de Corpus Christi, congressos eucarísticos e outras, os congregados marianos davam bem a ideia de um catolicismo militante, símbolo da Igreja militante e tão a gosto dos jesuítas. Ostentando suas fitas azuis e portando suas bandeiras, as congregações de colegiais, de universitários, de formados, de operários ..., desfilavam como se fossem batalhões ou regimentos adestrados para o combate, manifestando publicamente   e sem respeito humano as suas convicções, enquanto cantavam o hino oficial das Congregações Marianas, o que aliás nos dá bem uma ideia do espírito que animava essas associações: “Do Prata ao Amazonas, do mar às cordilheiras, cerremos as fileiras, soldados do Senhor ...” no decorrer da década de 1930 surgiu entre as Congregações Marianas de colegiais, universitários e formados, com sede no Colégio Anchieta  sob a orientação do Pe. Werner von und zur Mühlen, um importante núcleo de reflexão filosófica e teológica. O resultado foi o formação de um grupo de intelectuais católicos que marcaram presença visível na vida de Porto Alegre em geral e de modo especial conquistaram um número considerável  de cátedras  na então  Universidade do Rio Grande do Sul e um grande respeito pelo catolicismo em geral.

Quinto. A contrapartida feminina para as Congregações Marianas foram as associações das Filhas de Maria. Não havia paróquia em que esse tipo de associação não reunisse adolescentes e moças em torno da devoção a Nossa Senhora. O ponto alto nessas agremiações  era também a intensa motivação sacramental e o cultivo das virtudes cristãs.

Um objetivo comum tanto das Congregações Marianas quanto das Filhas de Maria consistia em preparar para as futuras gerações, pais e mães virtuosos e inteiramente  afinados com a Igreja. Ao mesmo tempo deveriam servir de fermento na sociedade civil, colocando a fidelidade à Igreja, a obediência ao papa, aos bispos e aos párocos como ideal supremo. Em suas reuniões, em seus congressos ou nas participações em atos público de fé costumavam cantar: “Papam protege, hostes reprime, stet Petri Cátedra, salutis regula – Protegei o Papa, rechaçai os inimigos, a Cátedra de Pedro permanece como regra de fé”. 

Sexto. Enquanto as Congregações Marianas e as Associações das Filhas de Maria se constituíram nas organizações  prediletas dos jesuítas, os bispos e os padres diocesanos valeram-se de preferência da Ação Católica como instrumento de formação e de ação. Como as Congregações Marianas, também a Ação Católica adaptou-se às condições sócio-culturais dos católicos, visando em primeiro lugar a juventude. No cenário católico dos anos 30, 40 e 50 destacaram-se a JOC – juventude operária católica; a  JAC – juventude agrária católica; a JEC – juventude estudantil católica; a JUC – juventude universitária católica – JIC – juventude independente católica. 

As duas organizações, a Congregação Mariana para universitários e formados e a Juventude Universitária Católica, por ex., mudaram o clima laico e em grande parte anti-clerical da Universidade do Rio Grande do Sul. 

O Projeto da Restauração Católica contou ainda com um fator poderoso: a educação nas escolas comunitárias e nos colégios de ensino médio. 

O currículo das escolas de comunidade propunha um tipo de educação em que a criança aprendia a ser um membro útil da comunidade. E na concepção da época e no contexto da Restauração, ser um membro útil significava saber ler, escrever, fazer cálculos, interiorizar costumes e  valores da tradição dos antepassados, preservar a língua e, antes de mais nada, aprender o catecismo, conhecer a História Sagrada, amar a Igreja, respeitar as autoridades eclesiásticas e viver conforme os mandamentos de Deus e da Igreja, orientar a vida em sintonia com os preceitos disciplinares prescritos por Roma e, finalmente, levar uma vida sacramental intensa e permanente.

Para que a escola e a educação atingissem essa meta, elas estavam entregues a um tipo de professor que, ele próprio, encarnava o paradigma do católico da Restauração. As comunidades entregavam a regência de suas escolas somente nas mãos de homens dos quais tinham a certeza que cumpririam a missão de serem fieis transmissores da doutrina e dos ensinamentos da Igreja. Dessa forma coube à escola e à educação  uma parte fundamental na concretização do Projeto da Restauração. Tanto assim que os rituais como a comunhão solene, que franqueava aos meninos e meninas o acesso pleno à participação religiosa e comunitária, dava-se ao término e como coroação do período escolar de quatro anos. A conclusão de uma etapa na vida escolar que hoje é apenas um acontecimento profano, revestia-se de uma motivação e de um clima de sacralidade, com o recebimento solene do sacramento da eucaristia.

A tarefa dos colégios de nível médio era o mesmo. Havia, entretanto, um aspecto peculiar nesses estabelecimentos. Situados sempre em cidades de médio e grande porte, atendiam a um clientela de alunos das classes média e alta pertencentes às diversas etnias representadas pela população. Os egressos não procediam, como nas escolas comunitárias da  região colonial, de uma única origem étnica. Eram lusos, alemães, italianos, poloneses, etc., que mais tarde integrariam a classe média como profissionais liberais, comerciantes, militares, funcionários públicos, políticos, juízes, diplomatas, burocratas .... Para o Projeto da Restauração Católica  era vital que as camadas dirigentes do futuro pautassem a vida particular e as funções na sociedade, de acordo com os princípios da Igreja hierárquica, levando a sério a vida sacramental e orientando suas ações conforme a moral e a disciplina do catolicismo renovado.

Não há dúvida que neste particular os colégios  prestaram, de fato, um relevante serviço à causa católica. Em grande parte saíram deles  as lideranças católicas que atuaram como agentes de transformação e assim foram responsáveis pela influência que o catolicismo exerceu na vida civil urbana e na vida pública do Estado e em âmbito nacional. Nessa tarefa contribuíram novamente as Congregações Marianas existentes entre os alunos desses colégios e de uma maneira toda especial os retiros espirituais, a insistência em freqüentar os sacramentos, além de uma série de atividades regulares de cunho religioso, que faziam parte da rotina diária, como o hábito de rezar antes e depois das aulas, as aulas de religião e outras mais.

O conjunto de estratégias implantadas nas comunidades e conduzidas com rigor pelo clero, foram determinantes para o êxito do Projeto da Restauração. A constante motivação religiosa somada a uma vida sacramental intensa, fez com que se multiplicassem as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa em geral. Dessa maneira, as paróquias novas que se fundavam no mesmo ritmo  do avanço da colonização, foram sendo entregues a padres vindos da Europa e à nova geração do clero nativo, de todo em todo afinado com o espírito da Restauração. Em poucas décadas desapareceu o clero comprometido com as situações políticas e econômicas locais, o clero a serviço de uma concepção de Igreja e de catolicismo em que Roma e os bispos pouca ou nenhuma influência exerciam, um clero dedicado ao culto sem consistência doutrinaria, levando uma vida divorciada dos costume disciplinares e do decoro clerical. No seu lugar entrou um clero regular e diocesano munido de uma formação teológica sólida, educado de acordo com as diretrizes disciplinares ditadas pelo papa, pelas congregações  da cúria romana e pelos bispos locais.  

Ao lado da nova geração do clero multiplicaram-se, com notável rapidez, as vocações religiosas masculinas e femininas, clericais ou não, como jesuítas, palotinos, salesianos, franciscanos, redentoristas, lassalistas, maristas, irmãs franciscanas, irmãs de São José, do Imaculado Coração de Maria, de Santa Catarina e muitas outras. Seu destino foram as paróquias e capelanias e de modo especial as escolas, os colégios e hospitais. A atuação preferencial das congregações femininas foram as escolas primárias e médias e o cuidado para com os enfermos em dezenas de hospitais. Durante a primeira metade do século XX, raros foram os hospitais que não estivessem sob a responsabilidade de alguma das congregações femininas. Além das escolas, colégios e hospitais,  as religiosas mantinham um número considerável de sanatórios, asilos, orfanatos, creches, escolas de artes domésticas, etc. É fácil de imaginar o que esse verdadeiro exército de sacerdotes diocesanos e regulares, de religiosos e religiosas significaram para o Projeto da Restauração Católica. 

O Projeto não se descuidou do operariado urbano emergente. Tomando como referência a Doutrina Social da Igreja, consolidada  na encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII e “Quadragesimo anno” de Pio XI, somada às experiências e o modelo social proposto pelo arcebispo von Ketteler e posta em prática, por ex, pelas “Associações Kolping”, o padre jesuíta João Batista Reus fundou, na primeira década do século XX, em Rio Grande a “Liga Operária Católica” que em começos da década de 1930, inspirou o Pe. Leopoldo Brentano a fundar em Pelotas os Círculos Operários. A agremiação teve uma ampla aceitação e em  pouco tempo espalhou-se pelo Estado inteiro e mais tarde, por todo o País.

As lideranças do Projeto da Restauração perceberam desde muito cedo que era preciso encontrar uma fórmula que permitisse que ele não  fosse comprometido por iniciativas isoladas e sem coesão entre si. Foram várias as tentativas. As circunstâncias  totalmente  novas criadas pelo advento  da República, levaram à fundação de um partido político católico, inspirado no “Partido Católico do Centro” da Alemanha, de orientação nitidamente ultramontana e que exerceu uma aguerrida oposição a Bismarck e seu projeto político-cultural do Kulturkampf. Também no Brasil recebeu o nome de “Partido Católico do Centro”. Tinha sido fundado no começo da década de 1870 por um grupo de católicos em Porto Alegre e retomado com maior vigor em 1890. Participou com candidatos próprios nas   eleições para representantes da Constituinte federal e estadual. Os resultados  deixaram claro  que não era por aí que os católicos  garantiriam o seu espaço nem a nível estadual e muito menos a nível federal pois, não conseguiram eleger nenhum representante a nível federal e a nível estadual os eleitos foram o fruto de uma coligação com o partido de Júlio d Castilhos, de orientação positivista, fato que descaracterizou a natureza do partido.

Bicentenário da Imigração - 44

A Ilustração colocou a Igreja Católica diante de gigantescos desafios específicos. O desmonte sistemático dos regimes de direito divino é complementado pelo ocaso dos regimes de padroado, pelos regimes de cristandade. Segue como consequência inevitável a separação do Estado e da Igreja, a laicização da vida civil, a secularização da vida cotidiana. As soluções para as questões do homem e do mundo são procuradas na razão e na ciência. A consagração pelo Estado do princípio que todos e tudo, também as religiões, são iguais perante a lei, a liberdade de consciência, a liberdade de  expressão, confinou a Igreja no seu campo de competência específica: questões de fé, de culto e disciplina religiosa. O estado laico evocou a si a educação dos cidadãos, a legitimação dos matrimônios, a administração dos cemitérios. Na suas decisões ignora e hostiliza a Igreja. Em não poucos casos, o Estado se organiza e age abertamente contra a Igreja, quando não a persegue. O anticlericalismo, o agnosticismo, o ateísmo marcam as elites dirigentes. 

Em meio a uma atmosfera tão adversa, a Igreja, foi obrigada a repensar o seu lugar no cenário histórico mundial e, de alguma forma, assegurar o espaço que lhe é privativo. A saída que encontrou caracteriza-se por um retorno à concepção da mística eclesiástica da Idade Média  e da ortodoxia  doutrinaria, litúrgica e disciplinar do Concílio de Trento. A Igreja começa a pôr em marcha o projeto da “Restauração Católica” como resposta à laicização  e à secularização da sociedade civil e, também, como forma de garantir o seu espaço no cenário dos povos.

O desafio doutrinário  posto pelas novas correntes do pensamento começou a ser enfrentado seriamente com o começo do pontificado de Pio IX. Os debates sobre a questão sucederam-se, multiplicaram-se e estenderam-se a toda a Igreja durante as  décadas de 1850 e 1860, culminando com a convocação do Concílio Vaticano I. 

Durante as sessões do Concílio, os padres conciliares, sob a orientação de Pio IX, empenharam-se  em afirmar e reafirmar as linhas doutrinárias  e as diretrizes disciplinares, tomando como referência o Concílio de Trento. A Restauração Católica nada mais é do que a reforma da Igreja nas bases doutrinarias e disciplinares daquele Concílio, adaptadas às circunstâncias dos tempos e finalmente formuladas nos documentos do Vaticano I. 

A Restauração Católica fundamenta-se, portanto, em primeiro lugar, no retorno ao catolicismo tridentino, sob autoridade direta do romano Pontífice. Opõe-se, em princípio, de qualquer tipo de composição com o poder laico e, antes de mais nada, a qualquer tutela do Estado. Foi nesse contexto  que foi entendido o conceito do “Ultramontanismo” ou Ultramontanos” (ultra montes ou além das montanhas), referindo-se aos teólogos, ao clero, aos religiosos e ao povo em geral, que combatia o galicismo dos católicos franceses que defendiam uma composição com o poder civil. Os ultramontanos reconheciam  como autoridade máxima e única aquele que tinha sua sede “ultra montes, além das montanhas, dos Alpes”, o papa em Roma.

O termo Ultramontano ou Ultramontanismo assumiu, no decorrer  do tempo e das circunstâncias, vários significados. O sentido original parece ter sido meramente geográfico. Ultra montes – alem das montanhas, referia-se a pessoas, povos e acontecimentos, localizados ou acontecidos no outro lado das montanhas, no caso, além dos  Alpes.

Com a generalização das ideias do Iluminismo, dos enciclopedistas, dos racionalistas..., durante o século XVIII, ocorreu uma mudança substancial no sentido do conceito de ultramontanismo. A partir daí irá caracterizar-se pela animosidade contra Roma. Três vertentes eclesiásticas foram as principais responsáveis: o Febronianismo das igrejas nacionais e episcopais, a eclesiologia estatal ilustrada do Jansenismo e o avanço do Protestantismo. Desde então ultramontanos são os que defendem a infalibilidade do papa e o primado jurisdicional de Roma, de acordo com os princípios  de Gregório VII e Inocêncio III. O termo torna-se sinônimo de curial, hierocrático, jesuítico, inimigo da ilustração. 

Com a implantação do Projeto da Restauração Católica no século XIX, o conceito ultramontanismo adquiriu novas conotações, como o retorno à ortodoxia  do Concílio de Trento e do princípio de que toda a autoridade emana de Roma. Um dos visados principais foi o Galicanismo na França que pregava um Igreja tutelada pelo Estado e com ele comprometida e os nacionalismos que viam na Igreja uma força de ingerência na autonomia do Estado, como aconteceu na Alemanha durante o Kulturkampf quando, os jesuítas acusados de agentes diretos a serviço de Roma, foram expulsos do pais.

Os princípios defendidos pela Restauração Católica rejeitavam  qualquer tipo de ingerência do estado laico nos assuntos da Igreja e por sua vez a Igreja devia manter-se afastada do Estado laico, agnóstico ou ateu. A dinâmica da história, entretanto, não tardou em demonstrar que o poder civil e o poder religioso não podiam ignorar-se mutuamente ou simplesmente um prescindir do outro. Foi preciso encontrar uma fórmula  aceitável de convivência. Essa fórmula certamente não consistia num passo para trás, retomando, ou restaurando o regime de cristandade. Os saudosistas do regime do passado somavam minoria e não havia as mínimas chances de êxito. A saída para o impasse situava-se em outro lugar. O Estado, a sociedade civil e suas autoridades, a Igreja, a sociedade religiosa e suas autoridades, tem obrigações para com seus súditos. Ao Estado cabe a obrigação de garantir o bem estar material do cidadão e à Igreja cabe zelar pelo bem estar espiritual dos fieis. Ora, uma avaliação antropológica elementar mostra que a história dos povos foi constuída, em última análise, sobre o pressuposto de que bem-estar material e bem-estar espiritual são complementares. Não se conhece exemplo na história em que algum povo tenha prescindido inteiramente dessa dupla realização humana. Os dois elementos são as duas faces de uma mesma medalha, são mutuamente complementares. 

Esse foi o quadro esboçado  na Europa desde a primeira metade do século XIX. Esse foi também o cenário que se definiu no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, para assumir a forma definitiva com a proclamação da República e a implantação do Estado laico.

A seguir pretendemos mostrar  como se deu a implantação da Restauração Católica no Brasil, de modo especial nos estados do sul e qual foi a fórmula encontrada para conviver em relativa harmonia com os governos positivistas  da primeira República, em especial no Rio Grande do Sul, onde a presidência do Estado ficou em suas mãos até 1930. 

A Restauração Católica  no sul do Brasil
Apesar de todos os movimentos contrários ao regime de cristandade surgidos durante o século XVIII e XIX, no Brasil, ele se manteve na sua essência, até o final do Império.  A Proclamação da República encerrou em definitivo o regime de cristandade, instalando no Pais um Estado laico, que consagrou a separação do Estado da Igreja. A sociedade civil abdicou do seu componente de sacralidade, o poder civil rejeitou o papel de braço secular da Igreja, ao mesmo tempo em que declarou todos e quaisquer credos e confissões religiosas gozando de direitos e deveres iguais e se empenhou em mantê-las o mais longe possível dos negócios do Estado. O Trono  o Altar, o Estado e a Igreja divorciaram-se  e cada qual fechou-se sobre seus negócios, não raro numa atitude de franca oposição e, em não poucos casos, de guerra declarada. 

Os primeiros sinais  de que um projeto de renovação da Igreja estava em andamento no Rio Grande do Sul, tornaram-se evidentes com a nomeação, em 1860, de D. Sebastião Dias Laranjeira, segundo bispo do Rio Grande do Sul. O novo bispo formara-se em Roma e em Roma fora escolhido e sagrado por Pio IX. Durante a formação imbuíra-se no mais genuíno espírito ultramontano. Desde logo orientou a sua preocupação pastoral  e disciplinar em favor da implantação do Projeto de Restauração Católica na Província do Rio Grande do Sul. Nessa tarefa foi obrigado a enfrentar uma série de dificuldades, oriundas de um lado da parte das autoridades públicas e do outro  dentro do próprio modelo de Igreja e do tipo de clero sob sua jurisdição. Teve que encontrar uma fórmula para superar a complicada convivência com os governantes provinciais de orientação positivista. Da assembléia provincial partiram renovados protestos contra a linha de governo eclesiástico implantado pelo novo bispo.  Repetiram-se os pedidos de informação dos deputados, com a evidente intenção de interferir nos negócios da Igreja, pretensão diametralmente  oposta às convicções  e aos propósitos ultramontanos de D. Sebastião. D. Sebastião tomou uma posição firme a favor dos bispos de Olinda e do Maranhão, presos durante o episódio da “questão Religiosa”. 

A Igreja que D. Sebastião encontrou  na Província do Rio Grande do Sul colocou-o diante de  problemas talvez ainda mais complicados e mais difíceis de resolver do que aqueles oriundos  da convivência com as autoridades provinciais. O atendimento pastoral estava a cargo de um clero impregnado de  um espírito laico incompatível com a proposta da Restauração Católica. Muitos  padres estavam  filiados a Maçonaria. Orientavam sua ação pastoral, se é que se podia chama-la  assim, em sintonia com as ordens, ou pior a sabor  das veleidades dos chefes políticos locais, dos detentores do poder econômico. O que importava eram festas ruidosas nas quais explodia uma manifestação religiosa eivada de comportamentos profanos ao ponto de mascarar qualquer sinal de religiosidade autêntica. A conduta particular dos membros do clero não sugeria em nada o perfil do sacerdote concebido pelas normas da Igreja. Era comum a não observância do celibato, fato tranquilamente aceito como algo normal por grande parte das freguesias. A vida  sacramental fora relegada a um lugar secundário. Mas, essa questão já foi lembrada em detalhes mais acima.

Foi em meio a esse quadro que D. Sebastião Dias Laranjeira começou a obra da implantação do projeto da Restauração Católica na Província do Rio Grande do Sul. 

Em 1890 tomou posse da diocese de Porto Alegre o sucessor de D. Sebastião, o lazarista vindo de Minas Gerais, também formado em Roma, D. Cláudio Ponce de Leão. Ele continuou,  intensificou e ampliou a obra da Restauração Católica começada pelo predecessor. No seu governo o projeto iria apresentar resultados muito importantes e amadurecer frutos que em muito compensaram os esforços empenhados. Na tarefa de restaurar a doutrina católica e implantar a disciplina no meio do clero e nas próprias comunidades dos fieis, contribuíram decisivamente vários fatores. Lúcio Kreutz assim enumera um série de deles na sua obra: “O Professor Paroquial – Magistério e Imigração Alemã”. 

Vários fatores concorreram para que a reação desencadeada pela Igreja Católica na Província, a partir de 1860, tomasse as reais proporções que adquiriu. Tiveram peso especial fatores como:

a) a presença de imigrantes alemães, italianos e poloneses, o que motivou as ordens religiosas dos respectivos países a assistirem os emigrados;

b) concomitantemente, os problemas entre a Igreja e o Estado na Alemanha, Itália e França (Kulturkampf, perda dos Estados Pontifícios, etc.), o que levou muitas congregações a procurarem outros paises com maior garantia e melhores condições de trabalho. Em conseqüência, e a pedido do bispo local, inúmeras congregações  europeias começaram a trabalhar na Província; 

c) a expulsão dos jesuítas da Alemanha pela questão do Kulturkampf com Bismarck e a transferência  de um número elevado dos mesmos para o sul do Brasil, tiveram um peso especial; vieram religiosos dos mais bem preparados e o bispo confiou-lhes o Projeto Católico junto à colonização teuta católica no estado, onde demonstraram destacada  atuação, como veremos a  seguir.

Sem o concurso desses fatores permitindo e mesmo  provocando a liberação de consideráveis contingentes de clero e religiosos (as) europeus para o Rio Grande do Sul, não teria sido possível a realização do Projeto Católico tão intenso nas zonas de colonização alemã. A vinda de novos contingentes de além-mar, principalmente depois de 1872, em conseqüência do Kulturkampf, permitiu a iniciativa de novas organizações,  sendo que então os católicos puderam encontrar ao menos um padre na matriz ou na canônica, enquanto um coadjutor atendia às comunidades distantes. 

De 1870 a 1904 chegaram ao Rio Grande do Sul respectivamente as seguintes ordens e congregações européias: 

Jesuítas: em 1849 vieram dois, em 1858 mais dois. O afluxo maior veio a partir de 1872. Até 1885 já havia 78 jesuítas com 13 residências e, em 1900 já somavam 100 padres. Posteriormente o afluxo dos mesmos continuou intenso.
Franciscanas da caridade: em 1872;
Palotinos alemães: em 1882;
Capuchinhos franceses: em 1900
Irmãs de Santa Catarina: em 1900;
Lassalistass franceses: em 1904; Irmãs do Imaculado Coração de Maria: em ?
Salesianos italianos: em 1901;
Padres diocesanos, mais de uma centena, de 1890-1904. (Kreutz, 1991, p. 63-64)

Com afluxo contínuo de imigrantes alemães, italianos e outros e com os reforços constantes que as ordens e congregações recebiam, estava posta a base logística para o Projeto da  Restauração Católica. Todo esse contingente humano: imigrantes saídos de uma Igreja restaurada na Europa, religiosos e clero comprometidos com o Projeto de Igreja definido no Concílio de Trento, reafirmado pelo Concílio Vaticano I e divulgado pelos documentos pontifícios de Pio IX, Leão XIII, Pio X, Bento XV e Pio XI e no pontificado de Pio XII, sempre sob a autoridade inconteste do Sumo Pontífice, formou a base sólida para que o Projeto alcançasse o êxito esperado.

A questão que se coloca a essa altura refere-se aos meios e estratégias para fazer vingar o Projeto. Lúcio Kreutz destaca na obra já citada três instrumentos básicos: o associativismo, a imprensa e a escola e o professor paroquial. Vale a pena aprofundar um pouco essa questão e acrescentar alguns fatores a mais.