A partir de 25 de julho de 1824, começaram a fixar-se no sul do Brasil os imigrantes de origem germânica. Vieram estimulados pela política imperial da ocupação rápida das grandes áreas vazias dos estados do sul, cobertas de densas florestas pluviais, situadas na bacia do Guaíba, da região da Serra, Missões, Alto Uruguai, oeste de Santa Catarina e Paraná. Nessas áreas proliferaram as pequenas propriedades de menos de 100 hectares dedicadas, em primeiro lugar, para a subsistência familiar, características de uma colonização de povoamento.. A dinâmica dessa colonização consistia essencialmente na formação de comunidades rurais de pequenos proprietários. Nos primeiros anos de sua presença no sul do Brasil os imigrantes enfrentaram uma série de dificuldades inerentes, de um lado, à sua identidade étnica e cultural e, do outro, às características geográficas e condições sócio culturais.
Procedentes da Europa Central e do Norte, vinham a ser descendentes dos diversos povos germânicos. Culturalmente eram herdeiros e portadores da cultura que emergira, pelo menos em linhas gerais, do contexto sócio cultural e geográfico da “Ordem Alemã”. O termo significa, antes de mais nada, a unidade histórico cultural dos povos que atualmente se localizam na Alemanha, nas repúblicas do Báltico, na Áustria, Suíça e, em parte na Polônia, República Tcheca, Alsácia, Lorena, Luxemburgo e arredores.
Considerados sob esse ângulo, os imigrantes alemães inseriram-se no contexto brasileiro como um componente inteiramente estranho, enfrentando as dificuldades inevitáveis originadas pelo convívio com os demais segmentos étnicos e culturais aqui encontrados. Todos esses fatores somados resultaram nas primeiras décadas num relativo isolamento. Enfrentaram as muitas e grandes dificuldades pondo em marcha uma série de iniciativas e estratégias para garantir a sobrevivência física e, principalmente, a cultural. Organizaram-se em comunidades, construíram igrejas, criaram escolas comunitárias, desenvolveram o comércio, os artesanatos e por aí vai. Simultaneamente os imigrantes criaram iniciativas ricas e diversificadas direcionadas a atividades associativas. O proverbial instinto de os alemães e seus descendentes se associarem para as mais diversas modalidades de lazer, exporte, cultura e outras deu origem, a partir da década de 1850, a centenas de clubes, associações, sociedades. Nelas as pessoas se encontravam para cultivar amizades, boas conversas, promover atividades esportivas, dedicar-se à arte, ao teatro, a iniciativas de assistência, de mútuo amparo, de promoção da saúde e, por fim, para por em andamento organizações amplas de desenvolvimento econômico e promoção humana.
Entre essas últimas a mais abrangente e por isso mesmo a mais ambiciosa foi a Associação Rio-grandense de Agricultores fundada em 1899 em Santa Catarina de Feliz. Com ela foi posto em andamento um autêntico projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana, com base no compromisso solidário, aberto também aos imigrantes italianos, poloneses como também aos luso-brasileiros. Deixando de lado querelas de natureza doutrinária e ou disciplinares, propôs a colaboração com os protestantes e católicos com a finalidade de por em andamento um amplo projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana. No seio dessa organização foram concebidas e postas em funcionamento as primeiras cooperativas de crédito e 1902 em Nova Petrópolis. A elas se somariam com o andar dos anos cooperativas de produção, comercialização e muitas outras modalidades. Na Associação Rio-grandense e Agricultores foi praticada com entusiasmo o espírito e cooperação inter étnica, intercultural e pela primeira vez praticou-se um autêntico ecumenismo.
Resgatar pelo menos em linhas gerais, essa inestimável contribuição com que os imigrantes alemães e de outras procedências que colaboraram e colaboram, ainda, na consolidação da identidade dos estados do sul do Brasil, constitui-se num questão de justiça. A fim de colaborar para que, com aproximação do bicentenário. A imigração, ofereço meu livro: “O Associativismo Teuto-Brasileiro e os Primórdios do Cooperativismo no sul do Brasil”, edição da Editora Unisinos.