Da Enxada à Cátedra [ 82 ]

Viagem para a Alemanha e norte da Itália.

Para o segundo semestre de 2001 programei com a Inez uma viagem de duas etapas para a Europa. A primeira teve como destino o Hunsrück na Alemanha, região donde emigraram meus antepassados tanto do lado paterno quanto do materno. A segunda foi para o norte da Itália com o objetivo de conhecer os locais de origem dos antepassados da Inez, do lado paterno vindos de Trevísio e do materno de Cremona. Para a visita dupla para Alemanha e Itália centradas nas regiões que acabo de identificar foi motivada por razões em parte acadêmicas pois, minhas pesquisas e publicações centravam-se na imigração para o sul do Brasil de imigrantes da Europa Central e, complementarmente do Norte da Itália. O outro motivo não menos determinante foi gozar de um intervalo de lazer. Eu me encontrava em fim de carreira pois no final de 2002 encerravam-se os oito anos como Coordenador do PPGH de História com 72 anos de idade. Por ter viajado muito pouco para fora do País, como para o pós-doutorado em Paris em 1988, a viagem a Halle em 1999 e a viagem para o Chile que acabei de relembrar, despertou a vontade de conhecer um pouco mais a fundo a Europa, de modo especial a Alemanha, a Inglaterra, a República Tsheca, o norte da Itália, Roma, Urbino, Rimini e Pésaro. Um motivo não menos importante foi propiciar à Inez o prazer de viajar, pelo qual ela alimentava uma verdadeira peixão, muito mais do que eu próprio. Os dois filhos, o Paulo e a Ingrid já caminhavam com os próprios pés, a situação financeira sob controle. À viagem que em seguida irei descrever irão somar-se até 2011 mais seis com o mesmo destino. Meu voo de Porto Alegre a Frankfurt foi bancado pela Unisinos, o da Inez saiu da nossa poupança. Tudo acertado com agência de viagem do Banco do Brasil partimos na última semana de agosto. O Pe. Mallmann que tinha parentes próximos e amigos morando em Emmelshausen e Halsenbach providenciou, por meio de um amigo de sobrenome Michel a estadia no Hunsrück na pousada de um comerciante de vinhos de nome Stoffel. Além disso deu-se ao trabalho de localizar nos registros telefônicos nada menos de 120 pessoas com o sobrenome Rambo. O sr. Michel combinou com seu filho que morava em Mannheim, a nos localizar no aeroporto de Frankfurt e nos levar até Emmelshausen. Na compra da passagem na agência do Banco do Brasil na Unisinos fora incluído também o aluguel de um carro da Avis para nos movimentarmos livremente na parte da visita à terra dos meus antepassados.

O voo de Porto Alegre a São Paulo e de lá até Frankfurt foi tranquilo. No desembarque esperava o filho do Michel que nos levou de carro até a casa dos pais em Emmelshausen. Depois de um bom papo informal acrescido do plano de visitas nos próximos dias, passamos por um supermercado para comprar artigos para o consumo pelos quais tivemos que providenciar pois, a diária da hospedaria em que passaríamos os dias de visita não incluía as refeições. Já ao entardecer nos acomodamos no apartamento reservado para aluguel anexo à moradia do sr. Stoffel. Confiei ao Michel a chave do carro alugado pois, ele nos levaria nos dias seguintes, aos lugares que nos interessavam visitar. Às 8h em ponto, como convém a um bom alemão, o Michel estacionou na rua em frente ao nosso alojamento, pronto para circular pelos endereços programados para aquele dia.

A primeira parada foi em na cidade Kastelaun. Deixamos o caro no estacionamento no centro e, a pé, visitamos o histórico mercado de animais. Em resumo. Todos os anos, em data marcada, os agricultores da redondeza levavam os animais destinados à venda, até a praça principal da cidade, onde eram realizados os leilões. Depois da visita aquele local procuramos numa rua no centro da cidade um dos endereços de um morador de sobrenome Rambo que constava na lista que o Pe. Mallmann preparara. Encontrada a rua e localizado o endereço o Michel tocou a campainha. Uma senhora de meia idade apareceu na porta acompanhada de um enorme cachorro. Nosso cicerone nos apresentou como sendo do sul do Brasil e interessados em conhecer região donde emigrara meu trisavô Mathias Rambo em 1829 e ao mesmo tempo conhecer alguém desse sobrenome. A reação da mulher foi de poucas palavras e nas entrelinhas fez perceber que não éramos bem vindos. Ela apenas deu a entender que o marido não se encontrava em casa e por isso não nos poderia receber. Entendido o recado subimos para dar uma olhada nas ruinas do antigo castelo.

Aqui cabe uma explicação para a frieza daquela recepção. Acontece que terminada a segunda guerra mundial lideranças católicas e protestantes, entre elas meu irmão Balduino, o Pe. Pauquet, o sr. Siegman, Fritz Rottermund, Antônio Campani, Gastão Englert, Albano Volkmer e muitos outros, criaram em Porto Alegre a SEF – Socorro à Europa Faminta. Consistiu basicamente em arrecadar alimentos não perecíveis, roupas, calçados, somas em dinheiro para socorrer a Alemanha em ruinas, fome generalizada, sem abrigos e sem alimentos. Como os acordos firmados no final da guerra proibiam a entrega direta desse tipo de ajuda à Alemanha, foi mandado via Cruz Vermelha da Suécia sob o título genérico de Socorro à Europa Faminta. Se não me engano a campanha arrecadou nos estados do sul, principalmente Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná quinze cargas de navio. Dezenas de milhares de alemães foram salvos com esses donativos. Acontece que já no final da década de 1940 mas, principalmente na de 1950 a Alemanha se recuperara espantosamente solidificando uma economia robusta proporcionando um nível de vida invejável para seus cidadãos. Neste contexto entende-se a desconfiança dos alemães, de modo especial na Renânia-Palatinado em relação aos visitantes de descendentes da região vindos do sul do Brasil. A culpa cabe de modo especial a religiosos, padres diocesanos inclusive bispos e não poucos aproveitadores de todos os naipes que nas décadas de 1960 a 1980 percorreram aquela região e outras mais da Alemanha, cobrando por assim dizer, o ressarcimento dos auxílios doados pela SEF e outras entidades. Não poucos religiosos e padres diocesanos ofereciam-se para cuidar de paróquias substituindo os párocos em férias. Aproveitavam a permanência como párocos substitutos temporários ou auxiliares nas paróquias para organizar coletas em favor de seminários, paróquias, entidades de assistência e caridade, além de outros destinos menos confessáveis. Contam as más línguas que chegou ao ponto de um bispo do interior do Rio Grande do Sul trazer na bagagem uma Mercedes que ficou retida na alfândega do Rio de Janeiro por irregularidades burocráticas relativas à importação. Uma receptividade parecida esperava-nos também no norte da Itália. Essa experiência fez com que evitássemos daí para frente encontros com moradores das aldeias que visitamos depois.

Perto do meio dia, terminada a vista às ruinas do castelo, subimos até a estrada principal que que atravessa o Hunsrück para terminar em Trier – a “Hunsrücker Höhe Strasse”. Almoçamos num restaurante frequentado por motoristas, turistas e transeuntes de todos os feitios. A tarde foi reservada para uma visita à Simmern, donde emigrou meu bisavô Vier do lado materno. Sob o aspecto urbanístico e arquitetônico a cidade oferece o perfil quase que padrão das aldeias e cidades pequenas e médias da região do Hunsrück. O que, entretanto, empresta um destaque e historicamente marcante é a torre prisão, hoje transformada em museu, para onde foi recolhido o lendário e folclórico salteador e assaltante “Schinderhannes”(“Johannes Bückler”). Depois de evadir-se da prisão foi capturado e guilhotinado em Mainz em 1803. Seus feitos como líder de um bando de salteadores de estrada que cometiam toda a sorte de delitos, transformou-se num símbolo de crueldade. Chamar alguém de “Schinderhannes” significava o mesmo que ser um “judiador”. Os emigrantes vindos do Hunsrück trouxeram na sua bagagem, como foi o caso dos meus antepassados, tanto do lado paterno quanto do materno, o simbolismo negativo inspirado naquele personagem. Lembro-me como se tivesse sido ontem, minha mãe me repreendendo com um sonoro “du Schinnerhannes”, quando maltratava algum animal, cachorro, cavalo ou outro e isso mais de 100 anos depois do desembarque do meu avô no Brasil.

Com a visita a Simmern o programa daquele dia estava cumprido e nos recolhemos ao nosso alojamento em Emmelshausen. Aproveitamos o final da tarde para dar uma caminhada pela cidade. Comprei uma caneta Mont Blanc e entramos na igreja matriz da cidade. Não se tratava de nenhuma dessas catedrais famosas construídas na Idade Média. O que mais me chamou a tenção foi uma relação de nomes afixada num local estratégico com os nomes dos soldados caídos na segunda guerra mundial. Lá constavam não poucos sobrenomes familiares entre os descendentes de imigrantes no sul do Brasil como o de Josepf Knecht e dezenas de outros.

No dia seguinte o Michel nos levaria pela “Hunsrücker Höhe Strase” até Trier descendo depois acompanhando o Mosela até Koblenz onde desemboca no Reno no “Deutscher Eck”. Naquele dia a esposa do Michel resolveu fazer-nos companhia. Depois de uma viagem tranquila entramos na cidade histórica que durante anos foi a sede do Império Romano. Fundada em 16 A.C peloimperador Augusto com o nome “Treverorum” pode ser considerada a cidade mais antiga da Alemanha. No final do século III da era cristã Trier ou Treveris passou a ser a capital do Império Romano. Seis imperadores romanos reinaram a partir dessa cidade que também era reconhecida então como a “Segunda Roma”. Quem tem um mínimo de conhecimento da história da Europa Ocidental sabe que, conquistadas as Gálias, em grandes linhas a França de hoje e territórios adjacentes por Cesar, ainda antes de Cristo, os romanos foram empurrando as fronteiras do Império para o norte e para o leste. Ocuparam a Grã Bretanha e no continente avançaram e consolidaram as fronteiras em toda margem esquerda do Reno. Os vestígios do domínio romano nos primeiros séculos da nossa era podem ser observados ainda hoje principalmente no centro e sul da Inglaterra como também em toda margem ocidental do Reno tendo Trier como capital e sede do império. São ruinas de cidades, fortalezas, obras de engenharia como a ponte sobre o Reno que deixa estupefatos os engenheiros da especialidade de hoje. As tentativas de conquistar a Europa central não tiveram êxito devido às táticas de combate consolidadas pelos povos germânicos no interior das florestas por toda a Europa Central e do Norte até as estepes da Rússia. O herói imortalizado pela Netflix, vem a ser Armínio um germânico criado pelos romanos e engajado no seu exército e feito comandante de uma Coorte sob as ordens de Polibius Q. Varus. Observando como seu superior oprimia seus conterrâneos germânicos, aproveitou a oportunidade para conquistar popularidade e poder de liderança entre eles. Terminou assim como comandante dos guerreiros germânicos que derrotaram as legiões de Varo na Floresta de Teuteburgo, desestimulando de vez novas tentativas de apoderar-se daquele mar de florestas assustadoras escondendo povos e mais povos acostumados às táticas de combate exigidas naquele ambiente. Vale chamar a atenção que a batalha de Teuteburgo marcou o fim do avanço do Império Romano para dentro da Europa Central e do Norte e evitou a romanização dos povos germânicos por isso pode ser considerado um dos lances mais importantes e decisivos do jogo de xadrez que moldou a Cultura Ocidental no seu nascedouro.

Não é aqui o lugar para aprofundar e detalhar aquele período histórico. Como minha intenção consiste em chamar atenção que uma viagem não se resume em admirar monumentos, participar de eventos ou fazer compras, permiti-me alertar que o chão que se pisa em qualquer parte do nosso planeta esconde, para quem estiver dispôs e em condições de detectá-la, uma história física e geográfica contada em milhões e até bilhões de anos e uma saga humana de séculos e milênios.

Logo na entrada paramos para conhecer o que sobrou do fórum romano, basicamente os muros externos até meia altura e o interior franqueado aos visitantes como se fosse uma praça. Uma caminhada pelo centro da cidade não podíamos deixar de dar uma parada na frente da casa em que nasceu Karl Marx, entrar na imponente catedral católica em estilo romano dedicada a SãoPedro e que guarda a “túnica sagrada” uma das relíquias mais emblemáticas da história do cristianismo. Mais adiante nos chamou a atenção o monumento símbolo da cidade: a “Porta Nigra” (Porta Negra), datada do século III, um imponente portal-monumento construído no estilo romano antigo. O nome vem do fato de que com o correr de séculos, o seu exterior escureceu. Consta na lista dos monumentos históricos considerados patrimônio da humanidade.


Da Enxada à Cátedra [ 81 ]

Viagem ao Chile.

Para fins de janeiro e começos de fevereiro de 1999 com a Inez, minha esposa e nosso vizinho prof. Antônio Sidekum programamos uma viagem ao Chile. No roteiro constava com destaque Santiago, Valparaíso e, mais para o sul, até Puerto Montt, Puerto Arenas, Puerto Varas, Valdivia, Frutillar, Los Angeles, áreas povoadas, a partir de meados do século XIX, predominantemente por imigrantes alemães. Os detalhes da viagem foram sugeridos pelo prof. Sidekum que mantinha relações acadêmicas e de amizade com intelectuais chilenos e providenciou a reserva de um hotel no centro da capital. Num voo noturno da VARIG viajamos a Santiago no dia 30 ou 31 de janeiro. Passamos no dia seguinte conhecendo o centro da cidade e aproveitamos para alugar um carro para viajar os mais de mil quilômetros até Puerto Montt, além de trocar o dinheiro brasileiro pelo chileno. No banco fomos informados que o Real estava sem cotação e não podia ser trocado. Acontece que naqueles dias a paridade da moeda brasileira equiparada ao dólar anos antes, com o Plano Real, fora substituída pela flutuação do câmbio. Teríamos ficado sem dinheiro para enfrentar o aluguel de um carro e seguirmos para o sul. Mas, uma coincidência nos tirou da enrascada. Da minha viagem a Halle na Alemanha no ano anterior haviam sobrado 800 marcos e por uma dessas coincidências os tinha levado para trocar em vez de levar dinheiro brasileiro. Com isso o empasse estava superado.

Alugamos um carro e no dia 3 de fevereiro enfrentamos a viagem de mais 1000 quilômetros para o sul pela rodovia pan-americana em fase de conclusão naquele trajeto pela planície costeira. Sempre tive paixão por montanhas e florestas. Lavei a alma viajando dois dias acompanhando os Andes que subiam até as nuvens a uma distância relativamente pequena. Vale apena refletir um pouco sobre a história da formação dessa cordilheira que acompanha de norte a sul a costa ocidental da América do Sul numa extensão de 8 mil quilômetros e altura máxima no Aconcágua de 6.961 metros. Ao apreciar essa majestosa cordilheira acompanhando pelo leste o trajeto entre Santiago e Puerto Montt, a imaginação recua para 80 milhões de anos passado quando ocorreu a primeira fase da sua formação e 40 Milhões de anos quando se completou o processo de elevação. Resultou da colisão de duas placas tectônicas, a oceânica de Nasca e a Sul Americana. Quem está acostumado a contar o quotidiano em horas, em semanas, em meses e no máximo em anos e a história do homem em séculos e milênios, ao contemplar esse espetáculo grandioso e belo, alinhando-se ao longo da estrada com 349 quilômetros de largura em Antofagasta no norte e em torno de 15 em Puerto Montt, sente dificuldade para imaginar os períodos cronológicos necessários para a moldagem da fisionomia geomorfológica da terra em que surgiu a espécie humana e nela construiu a sua história. Na medida em que avançávamos para o sul desfilavam os cumes e picos mais altos cobertos de neve eterna mesmo no alto do verão. A uma certa altura surgiu no horizonte lá no sul o cume do vulcão Vila Rica expelindo a sua fumacinha emblemática. No fim do primeiro dia entramos na pequena cidade de Los Angeles. Pernoitamos num hotel simples, porém aconchegante. Ao nos apresentarmos na recepção o Antônio lembrou a recepcionista que eu estava de aniversário pois era 3 de fevereiro. O resultado não podia ser melhor. A janta foi por conta da data. Na manhã seguinte pegamos novamente a estrada Pan Americana em direção ao sul cruzando a região colonizada pelos imigrantes alemães como já lembrei mais acima. Aquela paisagem humanizada de acordo com o típico estilo desses imigrantes que lá se estabeleceram a partir de meados do século XIX, mais se parecia como um pedaço da Europa Central ou mesmo no sul do Brasil. Até a vinda dos imigrantes as florestas nas margens do lago de Langhue permaneceram desabitadas pois, os nativos herdaram a lenda que o lago era povoado por espíritos hostis ao homem.

Pela meia tarde entramos em Puerto Mont. Depois de uma volta pela cidade e o porto fomos em busca de um hotel. Não encontramos nenhum com vaga. A saída foi procurar um em Puerto Varas. Tivemos sorte. No hotel “Los Colonos” na margem do lago encontramos hospedagem para quatro dias. A lembrança que mais me impactou foi a cabeça coberta de neve do vulcão inativo Osorno, destacando-se na cordilheira lá para o lado sul. Na manhã seguinte fomos de carro até extremidade sul do lago onde este, passando por cima de blocos de rochas termina formando um rio de bom tamanho. Na margem leste do lago e do rio os contrafortes dos Ande sobem em degraus quase a prumo cobertos de vegetação e até árvores de maior porte agarradas nas fendas das rochas. Almoçamos no restaurante estrategicamente acomodado perto das corredeiras do escoadouro do lago. Depois de caminhar pelas trilhas da redondeza retornamos a Puerto Varas pelo caminho que percorremos na ida. Parecia que estávamos percorrendo alguma região agrícola da Europa, mas uma lhama com seu bebê acomodada num pasto perto de uma igrejinha em estilo europeu nos chamou à realidade. Na volta para a cidade foi a vez de dar um giro passando por um supermercado para depois subirmos até o ponto mais alto onde se ergue uma bela igreja, novamente em estilo europeu. Nela caiu-me em vista uma placa com o nome dos párocos que administraram a freguesia, do primeiro ao último. Nessa relação os nomes, especialmente os mais antigos foram jesuítas alemães, enviados pela província da Ordem da Alemanha para a missão mantida por ela no sul do Chile, como também mantinha missões nas Montanhas Rochosas, no sul do Brasil e na Índia. Ao lado daquela igreja fomos recebidos por uma família de descendentes de alemães. A dona da casa, uma senhora de meia idade e o filho não falavam mais o alemão, mas a avó, uma senhora de seus 80 anos, sim.

O dia seguinte foi reservado para conhecer melhor a cidade portuária de Puerto Montt. A primeira coisa a cair em vista foi um desses imensos navios de cruzeiro ancorado na baía afastado do porto. Mas o que mais interessou e impressionou foi o monumento aos imigrantes erguido na beira do porto. O conjunto expressa como poucos desses monumentos o espírito da saga dos imigrantes vindos da Europa, alemães, italianos, poloneses e outros mais, ao se defrontarem com uma realidade completamente inusitada para um europeu. Afinal lagos e montanhas semelhantes aquelas do sul do Chile existiam também no sul da Alemanha. Entretanto, aquelas florestas quase impenetráveis, envoltas em mistério e com a fama de povoados por espíritos hostis aos povoadores, que deveriam ser enfrentadas, e substituídas por plantações de alimentos e nelas consolidar uma nova “querência”, uma nova “Heimat”. O monumento alusivo mostra um homem com machado na mão apontando para o cenário em que lhe competia construir o futuro para a família e uma nova pátria para filhos e netos. Segue a figura robusta de outro homem com machado na mão, depois a mulher com um bebê nos braços e uma criança de seus três anos segurando o seu vestido. O que mais impressiona são os traços e a postura dessa mulher. Encarando com determinação indomável a realidade à sua frente, parece dizer: “homens abram a primeira clareira, construam o primeiro abrigo eu, da minha parte, darei conta do que me cabe.” Na minha opinião o monumento ao imigrante alemão em São Leopoldo perde em muito no seu simbolismo para aquele de Puerto Montt. Bem mais perto chega o monumento do imigrante italiano em Caxias do Sul.

Depois de conhecer a região portuária da cidade fomos almoçar num restaurante de boa aparência onde nos aguardavam algumas surpresas. Logo na entrada um pano de parede caprichosamente feito à mão com os dizeres. “Unser tägliches Brot gib uns heute” – “O pão nosso de cada dia nos dai hoje!”. Entrando no recinto do restaurante tive a sensação de me encotrar no Orfeu de São Leopoldo. Não me lembro do cardápio mas a disposição das mesas, o fregueses conversando esperando ser atendidos, os serviçais, o cerimonia ao servir os pratos, as decorações, tudo emprestava ao ambiente um clima de familiaridade, como o Orfeu. Passamos a tarde visitando o centro histórico de Puerto Montt com destaque para o antigo colégio dos Jesuítas.

No fim da tarde retornamos a Puerto Varas e deixamos tudo pronto para, no dia seguinte cedo, começar o caminho de volta a Santiago. Dessa vez a primeira parada para pernoite foi em Vila Rica. Do outro lado do lago erguia-se majestoso o vulcão do mesmo nome expelindo a sua fumacinha que se desfazia entre as nuvens e no crepúsculo do entardecer. Sendo verão a neve cobria apenas os flancos mais altos da montanha. Passamos a noite numa hospedaria bem simples e frugal para na manhã do dia seguinte subirmos de carro até a altura permitida pela regulamentação para visita de turistas. Desembarcamos do carro e caminhamos pelas redondezas. Uma sensação estranha toma conta da gente ao observar o conjunto e os detalhes daquele cenário telúrico. A montanha gigante subindo até as nuvens, os restos de neve brilhando no sol da manhã de verão, os flancos mais baixos retalhados pelas torrentes de água do degelo da primavera, a vegetação rasteira na meia encosta e a floresta nos vales da base se parecem como tropas de assalto tentando conquistar as encostas do gigante. Refletindo tranquilamente e sem preconceitos, pondo de lado a racionalidade científica, a racionalidade filosófica e teológica, ou qualquer outra racionalidade que se possa imaginar, o faro da intuição leva à convicção que a história desse cenário tem um autor responsável pela sua gênese e sua moldagem. Parece que o divino perpassa esse cenário de parar o fôlego, que alguém mora na penumbra da floresta do sopé e vegetação das encostas recortadas pelas torrentes de água do degelo e alguém vigia no topo daquele gigante. Pouco me importa se algum geólogo que por ventura ler essa reflexão torcer o nariz e me classificar como um romântico alienado metido a poeta. Ainda hoje, passados mais de 20 anos, ao se falar do Chile, as duas imagens que se destacam de outras na minha memória, são o vulcão Osorno inativo vestido de neve no topo e o Villa Rica expelindo aquela fumacinha emblemática que, quem sabe, seja o prenúncio de uma erupção apocalíptica, ocasionada pelas misteriosas tensões telúricas acumuladas no interior do nosso planeta. Naquele dia à tarde fui me acomodar na beira do lago e por uma hora ou mais, com o Villa Rica no outro e a cordilheira dos Andes como moldura a perder de vista estendendo-se para o sul e o norte, foi a vez de repassar a história mais recente daquele cenário maravilhoso: os povos nativos e as lendas por eles cultivadas, o encontro com os primeiros europeus e, finalmente o povoamento sistemático por imigrantes alemães a partir de meados do século XIX. Não é aqui o lugar de alongar-me nos detalhes dessa história, remeto-os para a matéria publicada no meu livro “Duzentos Anos da Imigração Alemã no Brasil, no qual dediquei dois capítulos à “Presença Alemã na América Latina” com destaque para o Chile, Argentina e Brasil.

Na amanhã seguinte retomamos a viagem de volta a Santiago. Não muitos quilômetros para o norte seguindo pela Pan Americana, entramos à esquerda na estrada que termina na cidade Valdívia, também apelidada de a São Leopoldo do Chile, tanto pelo que representou pela presença dos colonizadores alemães, quanto pela configuração geográfica cortada por um rio à semelhança do rio dos Sinos. Antes de entrar na cidade ergue-se uma torre de considerável altura que serviu como posto de controle para vigiar o acesso à cidade. Percorremos o centro da cidade e foi possível identificar no estilo arquitetônico a preocupação maior dos habitantes com os frequentes terremotos de maior ou menor intensidade. O mais catastrófico veio a ser aquele de 22 de maio de 1960 de 9,5 na escala de Richter, reduzindo a cidade em grande parte a escombros e um saldo de 1655 mortos. Na reconstrução da catedral os engenheiros planejaram a armação do telhado todo de vigas e caibros de madeira, de tal forma que permitem um jogo de locomoção que pelo menos diminui o risco de desabamento em sismos de menor intensidade do que foi o de 1960. Sem forro esse engenhoso arcabouço do telhado pode ser apreciado pelos que frequentam ou visitam a catedral. Ao longo do rio alinham-se dezenas de bancas com frutas produzidas na região: maçãs, peras, abacates, amoras, cerejas, uvas e por aí vai.

Pela meia tarde seguimos viagem até Temuco onde pernoitamos. Essa cidade situa-se historicamente no limite entre o Chile do centro norte e o sul, conhecido como “La Frontera”. Conforme informam os historiadores Timuco oferecia atendimento odontológico para toda região da “Frontera” e os Argentinos do sul do país atravessavam os Andes para tratar os dentes. De resto a cidade não oferece maiores surpresas além do belo parque no centro e alguns prédios que caem em vista pela sua esmerada arquitetura.

Depois de duas noites e um dia em Temuco reunimos nossos pertences e enfrentamos o último trecho até Santiago, sempre pela Pan Americana. Pela meia tarde, recolhemo-nos no nosso hotel no centro da capital depois de acertar a devolução do carro na locadora. Sobrando ainda um bom tempo até anoitecer decidimos dar uma volta no centro passando pela praça com destaque para o palácio do governo e um pouco mais adiante a catedral.

Para o dia seguinte o Antônio planejou uma vista à histórica cidade de Valparaiso. Alugamos um taxi e assim foi bem mais fácil apreciar aquela paisagem única pela qual passa a estrada que termina na cidade que marcou época por várias razões. Na planície, principalmente à esquerda, tomada pelos vinhedos disciplinadamente alinhadas ao perder de vista. Uma visão emblemática que a mão ou intervenção do homem ao cultivar a terra com amor e racionalidade consegue somar o belo que encanta, à utilidade pragmática. No lado direito as montanhas de entulho nas saídas das galerias de mineração falam a linguagem eloquente que os recursos minerais, como o cobre no caso, chamam a atenção para os milhões de milênios necessários para preparar as matérias primas de que se alimenta, melhor tornou e continua tornando possível e viável o motor que impulsiona a sustentabilidade da civilização do século XXI. Pela meia manhã entramos na cidade de Valparaíso acomodada na encosta de uma baía encantadora. Não por nada o poeta dos poetas chilenos Pablo Neruda a escolheu para, contemplar o oceano, lá longe confundindo-se com o horizonte e dar vasão ao mundo poético que lhe valeu o Prêmio Nobel de literatura. Lembro com emoção o filme: “O Poeta e o Carteiro, inspirado na sua obra. Volto a Pablo Neruda mais abaixo. Em Valparaíso morava um filósofo amigo do Antônio, Sérgio Rojas se não me falha a memória. Fomos recebidos pela esposa pois, o Sérgio se encontrava de viagem em Paris. Almoçamos no restaurante simples e frugal acomodado num recinto da própria casa no qual a dona da casa oferecia almoço para pessoas vizinhas e com isso reforçava um pouco a renda da família. Depois do almoço percorremos a parte alta da cidade e visitamos a casa em que morou Pablo Neruda transformada em museu que preserva a memória do poeta. Construída num estilo peculiar no alto do morro Flórida por Sebstián Callado, permite uma vista de toda a cidade com o porto e seus prédios anexos e para além da baía sobre o oceano. Certamente uma localização ideal para um poeta dar asas a imaginação e alimentar a inspiração. Não foi permitido tirar fotografias. Chamou- me atenção especial o quarto de dormir do poeta com a cama e os móveis arrumados e no chão na cabeceira um par de pantufas e anexo o escritório de janelas amplas voltadas para o oceano. Para encerrar visitamos o porto com suas instalações. Valparaiso e San Antonio são os dois portos mais movimentados do Chile. Deixemos de lado San Antonio e fiquemos com o primeiro. Durante mais de 300 anos somado a San Antonio e outros portos menores ao longo da costa do Chile, partiam navios e recebiam outros tantos trocando mercadorias alimentando o comércio e o desenvolvimento do país. Como era praxe navios sem mercadorias para fornecer ao Chile, aportavam em seus portos transportando como lastro matérias primas como madeiras e outras mais. O porto de Valparaíso costumava receber muitos navios mercantes vindos da Califórniacarregados de madeira, com predominância absoluta do “red wod”, “a madeira vermelha”, uma espécie de sequoia abundante nos vales e encostas do norte da Califórnia. Móveis, pisos, estruturas de telhados, portais, etc., mais antigos foram confeccionados com essa madeira. Pela meia tarde o taxi alugado nos levou de volta até Santiago por uma estrada mais ao sul da percorrida de manhã na ida.

Reservamos o último dia para conhecer o morro de San Cristobal o terceiro mais alto da cidade com 800 metros do nível do mar e 300 acima da cidade. Na subida passa-se por uma série de curiosidades arquitetônicas e do seu topo desfruta-se uma vista panorâmica magnífica sobre a capital. À tarde foi a vez de fazer uma visita ao acervo da prêmio Nobel em Literatura Gabriela Mistral na Biblioteca Central. Sobrou ainda tempo para visitar a agência de modelos “Elite”, para a qual nossa filha Ingrid, na época residente em São Paulo, executou programações no Chile. À noite acertamos as contas com o hotel e na manhã seguinte partimos do aeroporto de Santiago para Porto Alegre. Com um céu sem nuvens foi possível apreciar do alto o belo grandioso dos Andes deslizando sob as asas do 767 da VARIG. Em Porto Alegre esperava-nos o nosso vizinho Aloísio Stein e pelo meio dia estávamos de volta em casa no nosso refúgio no bairro Campestre em São Leopoldo, esperando por mais viagens internacionais, todas para a Europa.

Da Enxada à Cátedra [ 80 ]

Viagem a Halle.

Em 1998 realizou-se na cidade de Halle, perto de Berlim, um simpósio internacional de Estudos Latino Americanos. Participei do evento junto com o prof. Marcos Tramontini contribuindo com uma comunicação sobre a Imprensa em língua alemã no sul do Brasil. Pode parecer estranho, mas foi a minha primeira viagem internacional após mais de uma década de comprometimento com a docência em duas universidades. A viagem e estadia no hotel foram bancadas pela verba que o orçamento da universidade destinava ao PPGH para essa finalidade. O discurso de abertura do simpósio coube ao prefeito de Halle não em alemão mas em italiano. A cidade exibia ainda visivelmente os vestígios da antiga DDR. Pelo que parece o centro histórico da cidade não sofrera danos mais graves com sua majestosa catedral e demais construções históricas. Mais na periferia modernos prédios de apartamentos no típico modelo arquitetônico socialista lembravam o período comunista que vigorou na Alemanha Oriental desde o final da segunda guerra mundial até 1989 com a queda do muro de Berlim e posterior unificação das duas Alemanhas. Não me interessei por participar de uma visita organizada para o campo de concentração de Buchenwald. Na ida a viagem de trem de Frankfurt a Halle foi durante a noite, mas na volta aconteceu de dia. Demorei- me um bom tempo fora da cabine no corredor apreciando aquela paisagem humanizada moldada durante séculos e milênios, pontilhada por aldeias e cidades pequenas e de porte médio como Fulda e seus mosteiros que remontam ao começo da Idade Média. Saindo de Frankfurt às dez da noite pousamos em Guarulhos de manhã. Na espera para embarcar no voo para Porto Alegre aguardava-me uma surpresa. Encontrei minha filha Ingrid que trabalhava como modelo da Elite em São Paulo, esperando o embarque para o Chile para um trabalho profissional. Dei para ela a barra de chocolate comprada em Halle.

PPGH em Santo Ângelo

Se não me falha a memória, durante o ano de 1997 entrou na direção da universidade um pedido da URI – Universidade Regional Integrada, com sede em Erechim, com a solicitação de formar uma turma de mestres em história no campus de Santo Ângelo. O diretor do Centro de Ciências Humanas, prof. Benno Lermen encarregou o Pe. José Ivo Follmann, vice diretor e a mim para viajar até Santo Ângelo e acertar com a vice-reitora da URI as condições para firmar um convênio com a Unisinos e formar uma turma de mestres no campus da URI em Santo Ângelo num período de dois anos. Tudo acertado com a pró reitora daquela universidade, voltamos e entregamos a proposta ao diretor do centro de Ciências Humanas a fim de dar andamento às instâncias superiores da Unisinos e firmar o convênio. Não é aqui o lugar para entrar em maiores detalhes do conteúdo desse documento. Tudo acertado aconteceu em seguida a solene instalação acadêmica com a presença do reitor da URI e da profa. Beatriz Fransen e da minha. O prof. Werner Altamnn também escalado para representar a o PPGH da Unisinos, foi impedido de participar pois, foi avisado que seu pai se encontrava em estado grave em Lageado. Por isso nos acompanhou até aquela cidade onde moravam seus pais e ficou dando assistência a eles. A profa. Beatriz e eu seguimos viagem até Santo Ângelo. A solenidade de abertura do programa contou com a presença do reitor da Universidade Integrada, os alunos além de professores da instituição. Coube ao Reitor declarar instalado o curso de mestrado e a mim falar sobre a importância, não só da iniciativa acadêmica em si, mas do significado histórico-sociológico-econômico daquela região na qual confluíram descendentes de lusos, alemães, italianos, poloneses e outros. A programação prevista para dois anos incluía um intensivo nas férias de verão. Foi acertado que os seminários seriam ministrados nas quintas feiras de manhã e à tarde e nas sextas de manhã de maneira que os docentes tivessem condições de retornar a São Leopoldo e Porto Alegre na sexta feira à tarde. Com a responsabilidade da coordenação deslocava-me com uma viatura da Unisinos uma vez ao mês até Sant Ângelo na quarta feira para voltar na sexta em companhia dos professores da vez. Por ocasião da conclusão dos seminários os alunos prepararam uma comemoração de encerramento num restaurante nas margens do rio Ijui. Para a orientação das dissertações de mestrados os alunos costumavam deslocar-se até São Leopoldo. Em resumo foi essa a contribuição oferecida pelo PPGH da Unisinos para qualificar um bom grupo de discentes da URI com formação no nível de pós-graduação. Não me lembro de quantos exatamente foram. Alguns conquistaram em seguida o doutorado em diversas universidades que ofereciam esse nível de formação. Tive a satisfação de orientar a tese de um desses mestres que religiosamente se apresentava cada mês na sede do PPGH em São Leopoldo. Com esses registros sucintos concluo essa experiência de colaboração entre a URI e a Unisinos, um exemplo de colaboração e de complementariedade entre duas universidades em vez da competição e concorrência tão comum. Como seria produtivo se uma ou mais universidades desenvolvessem projetos comuns contribuindo cada qual com o seu potencial acadêmico, laboratórios, bibliotecas, acervos documentais, etc. Lembro o projeto de desenvolvimento sócio econômico de Dois Irmãos mencionado mais acima realizado em parceria do IEPE da faculdade de Economia da UFRGS e o curso de Sociologia da Faculdade Ciências e Letras de São Leopoldo no começo da década de 1960. Pelo visto essa prática hoje já não faz parte da rotina das universidades, centros universitários e faculdades isoladas neste começo da terceira década do terceiro milênio. Aliás, no quotidiano das instituições de ensino superior a fragmentação e competição dita em muitos casos a rotina acadêmica, principalmente no nível de pós-graduação. Mas essa realidade também já foi objeto de reflexões mais acima.

Não posso deixar de lembrar que no ano de 2000 aconteceu a transferência da sede do PPGH dos prédios antigos da Unisinos no centro de São Leopoldo para o novo Campus. Para o gabinete da coordenação, os gabinetes dos professores, a secretaria e os espaços para os núcleos como de Estudos Teuto-brasileiros e Luso-brasileiros fora reservado todo o quarto andar do novo prédiodo então “Centro I”, próximo à rodoviária da universidade. Nos dois anos que seguiram o Programa de Pós graduação foi consolidado administrativa e academicamente assim como dotado de uma corpo docente devidamente ampliado e qualificado, como já lembrei mais acima. A seguir destaco duas viagens internacionais em companhia da minha esposa Inez (in memoriam), a primeira para o Chile em 1999 e a segunda em 2001 para a Alemanha e o norte da Itália.

Da Enxada à Cátedra [ 79 ]

Coordenador do PPGH

Em meados de 1994 aconteceu uma inesperada reviravolta na minha trajetória acadêmica. Fui chamado pelo reitor da universidade, Pe. Aloísio Bohnen. Ao entrar no seu gabinete recebeu-me com o sorriso meio maroto que lhe era peculiar em encontros informais. Pediu que me sentasse, empurrou um envelope timbrado da universidade em minha direção e pediu que o abrisse e lesse o conteúdo em forma de uma portaria. Para meu susto e quase espanto flagrei-me nomeado para assumir a coordenação do Programa de Pós-Graduação em História, substituindo a Profa. Beatriz Franzen. Acontece que a professora que fora junto com o Pe. Ignácio Schmitz a idealizadora daquele PPGH não contava com título de pós-graduação stricto sensu. Como o PPGH estava apenas autorizado a funcionar pela CAPES, foi preciso providenciar o credenciamento. Pelo fato de a coordenadora carecer tanto de mestrado quanto de doutorado as condições para o credenciamento poderiam complicar-se quando fosse entregue à CAPES o relatório dos emissários daquela instância anunciados para o começo do segundo semestre daquele ano. O Reitor, no melhor estilo jesuítico, encarregou-me da missão de consolidar o Pós-Graduação, sem perguntar se estava de acordo ou não. Pediu ainda que comunicasse à coordenadora a sua substituição e o pedido que fosse encontrar-se com o ele. Ela não falou uma palavra, mas percebi que levou um choque. Naquele encontro dela com o Reitor, resultou a decisão de que a universidade bancaria as despesas para que ela se doutorasse em História pela universidade de Lisboa. E, de fato, ela conquistou com o brilhantismo que lhe era próprio, esse título para depois retornar ao PPGH e implantar e coordenar um Núcleo de Estudos Luso-Brasileiros ao modelo da Núcleo de Estudos Teuto-Brasileiros, além de continuar ministrando seminários e orientando mestrandos e doutorandos

A primeira tarefa consistiu em preparar a visita da profa. Campos da UNESPE de Franca, destacada pela CAPES, para examinar as condições para um possível credenciamento. O maior problema foi a definição da “Área de Concentração”. A proposta falava em “Estudos IberoAmericanos” posta em questão pela visitadora. Depois de argumentos a favor da nossa parte e contra da parte da visitadora, propus como saída conciliatória a denominação de “Estudos LatinoAmericanos”. A sugestão foi aceita e os demais ajustes solicitados foram feitos sem maiores tropeços e o prof. Werner Altmann, especialista nessa área da história, redigiu o arrazoado que serviu de suporte teórico ao documento envidado à CAPES. Não demorou muito e veio o credenciamento tão esperado. O primeiro programa de pós-graduação “stricto sensu” tornara-se realidade na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Pode alguém perguntar porque o primeiro não foi criado em outra área da universidade. A reposta é simples e técnica. Na década de 1980 quando foi solicitada a autorização para o funcionamento do PPGH os mestres e doutores não passavam de uma minoria nos diversos departamentos e, em não poucos inexistentes. Na Unisinos o curso de História foi o único que contava com um número mínimo para arriscar o salto para a pós-graduação stricto sensu. E não se esqueça o detalhe que na verdade o Pe. Schmitz e o prof. Rui Ruben Ruschel eram os únicos portadores do título de doutor e livre-docente específicos em História. Eu próprio contava com o título de doutor em Filosofia e livre docente em Antropologia, além de um estágio de pós doutoramento em Antropologia na Université V, René Descartes em Paris.

Depois da visita da representante da CAPES seguiu a elaboração do projeto do Programa enviado para a apreciação daquele órgão em Brasília. Não demorou veio a confirmação do credenciamento no nível de mestrado. Com isso os mestrandos que haviam concluído os créditos exigidos e aprovadas as dissertações foram submetidos a bancas de avaliação e seus diplomas de mestres em história devidamente validados. Vale destacar que Maria Cristina Bohn Martins e Eliane Deckmann Fleck podem-se orgulhar de terem sido as primeiras mestras do PPGH da Unisinos.

Com o credenciamento e os primeiros mestres devidamente com os diplomas na mão tratei de convencer o Reitor Pe. Aloísio Bohnen e a pró reitora de Ensino e Pesquisa Emi Maria Santini Saft a dar início a elaboração do projeto do doutorado. O reitor apoiou de saída a ideia. Na pró reitoria percebi uma tal ou qual dúvida da oportunidade para apresentar naquele momento, logo depois do credenciamento do mestrado, partir para o nível de doutorado. De outras autoridades acadêmicas de segundo escalão tive que ouvir, sem meias palavras, que não passava de uma temeridade partir logo para o doutorado. Com a certeza do apoio do reitor passei grande parte das férias de 1995, alinhavando um esboço para o doutorado. Com ele na mão fui procurar ainda nas férias, o reitor na residência dos jesuítas. Depois de detalhar para ele as grandes linhas a serem propostas reafirmou sua satisfação que o primeiro doutorado da universidade estava em condições de se tornar realidade. Com a volta às atividades acadêmicas depois das férias o projeto foi analisado minuciosamente pelo colegiado do PPGH, formulado numa proposta para ser avaliada pelo Conselho Universitário. Este momento ocorreu numa das reuniões da instância deliberativa maior da universidade numa das sessões do primeiro semestre daquele ano. Fui obrigado a recorrer a uma série de malabarismos para deixar claro o que se pretendia em termos de formação acadêmica e de pesquisa com o projeto do doutorado em História. Questionamentos de diretores de centros pondo em dúvida a oportunidade e insinuando precipitação no implantar, argumentando com o corpo docente qualificado reduzido, critérios de seleção de docentes; acolhimento de candidatos de áreas profissionais portadores de bacharelado e ou licenciatura que não procedessem especificamente do curso de história; linhas de pesquisas, área de concentração e outros mais não impediram que o projeto fosse aprovado na mais alta instância acadêmica da universidade com a recomendação de submetê-lo às instâncias pertinentes em Brasília. Sem perda de tempo o projeto seguiu para a análise da CAPES. Depois de em torno de dois meses veio a resposta pedindo mais uma série de ajustes antes da aprovação por aquela instância maior do Ministério da Educação. A notícia me foi comunicada pela pró reitora com visível ar de quem dizia nas entrelinhas: “não avisei que era prematuro?”. Não me lembro se fiz alguma comentário. Só sei que, com a colaboração dos colegas e posterior crivo do colegiado do PPGH, a versão atendendo às exigências da CAPES foi reencaminhada para aquela agência. Depois de alguma demora fui informado de que deveria viajar a Brasília a fim de me encontrar com o prof. Vasquez, responsável pelo parecer de aprovação ou não, para tirar as últimas dúvidas com ele. Mais uma breve demora e aprovação do doutorado nos foi comunicada. Não perdemos tempo. Junto com as instâncias internas do PPGH foi feita a chamada para a seleção dos primeiros candidatos ao doutorado em História e o programa pioneiro nesse nível da Unisinos. E, para encurtar a história, se não me falha a memória a profa. Doris Fernandes defendeu a primeira tese de doutorado da Unisinos em 1999.

Somada à rotina do bom andamento do programa em si e no seu diário, cabia-me participar da reunião bi anual de todos os coordenadores dos programas de História em andamento no País, coordenada pela ANPUH, com a finalidade de garantir a unidade mínima entre todos os programas. Devo a essas reuniões a ocasião para conhecer a realidade dos pós de História de Fortaleza, Recife, Bahia, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Brasília, Goiânia, Cuiabá e, por fim Maringá. Não vou entrar em detalhes do que foi tratado em cada um desses encontros. Só sei que me proporcionou uma ideia abrangente da direção em que sopravam os ventos do estudo da História em nível de pós graduação “stricto sensu” nas universidades públicas e privadas em todo o País e, ao mesmo tempo, colher inspirações nelas para aperfeiçoar o programa da Unisinos, além de torna-lo conhecido e reconhecido pelo Brasil afora.

Aqui parece o momento para chamar a atenção para uma característica que conferia ao PPGH da Unisinos um caráter peculiar, isto é, aceitar mestrandos e doutorandos, com bacharelado e ou licenciatura procedentes dos mais diversos cursos de graduação tanto da área das humanidades, letras e artes, quanto de áreas técnicas como de engenharia, arquitetura, direito e outras mais. Essa característica que hoje causa arrepios aos responsáveis pelo arcabouço acadêmica das universidades brasileiras, fundamentava-se no princípio da concepção interdisciplinar como método para construir conhecimento. Em outras palavras. As mais diferentes áreas do conhecimento não passam de caminhos que levam a conhecimentos, mutuamente complementares e convergentes. Assim conquistaram o título de mestrado no PPGH em causa, formados em arquitetura, sociologia, letras, direito, assistência social e outros mais. Essa experiência estimulou a concepção de um Pós Graduação de Filosofia e Ciências Humanas abrangendo a História, a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia, a Política e a Pedagogia. A profa. Beatriz Franzen e eu passamos um bocado de horas montando o projeto. O esboço foi submetido à análise do colegiado e depois de aperfeiçoado com as sugestões colhidas submetido à apreciação do Conselho do Centro de Ciências Humanas. Naquela instância foi declarado inviável e por isso morreu na casca. Parece oportuno lembrar que na UFRGS o primeiro programa de pós graduação na área de Ciências Humanas na década de 1970 tinha esse feitio. Reunia a Antropologia, a Política e a Sociologia num único programa. Tive a oportunidade de, com antropólogo participar do Colegiado que o regia, em parceria com representantes da Sociologia e Política. Com o andar dos anos esse programa interdisciplinar também foi fragmentado, resultando em três programas de pós-graduação independentes. Mas, voltando à Unisinos. Para falar a verdade os responsáveis de cada uma das áreas em pauta sonhavam cada qual com um projeto de pós graduação próprio. Com isso, salvo melhor juízo, perdeu-se a ocasião de por em andamento uma pós graduação interdisciplinar administrativa e academicamente mais polivalente, levando a uma formação acadêmica voltada para uma perspectiva ampla e complementar da Filosofia e Ciências humanas, além de um suporte administrativo mais enxuto. Com andar dos anos as coordenações que me sucederam a partir de 2002 e o corpo docente aumentado e renovado, o próprio PPGH encolheu-se sobre si mesmo admitindo exclusivamente candidatos formados em algum curso de história. O resultado está aí. As pós graduações multiplicaram-se na universidade. Multiplicaram-se também os custos administrativos e acadêmicos que hoje 25 anos depois beiram à insustentabilidade além da fragmentação dos resultados nos muitos programas de pós graduação isolados em seus casulos herméticos e irredutíveis. No máximo que conseguem formar são mestres e doutores de uma limitação de visão deploráveis, presas fáceis do Marxismo combinado com o Gramscismo, a Escola de Frankfurt e por aí vai. Profissionalmente não passam de peritos ou “Kenner”, e jamais sábios ou “Weise”, como diriam os alemães. Os docentes e formandos em História ocupam-se com os acontecimentos transitórios e não se dão conta que o que de fato é determinante é o perene que perpassa a história do homem desde o começo que se perde no crepúsculo do tempo. Não se doutoram mais juristas mas manipuladores mais ou menos competentes das leis ou, pior, rábulas de porta de cadeia ou porta de delegacia. Um fenômeno parecido acontece em todas as demais áreas do conhecimento. Para maiores informações remeto às reflexões mais exaustivas mais acima no contexto da análise do “temporal desencadeado com entrada do marxismo, do gramscismo, da escola de Frankfurt, da Teologia da Libertação, da Pedagogia do Oprimido, Piaget, Chomsky, além de outros fatores complementares.

Voltando agora à rotina da coordenação destaco a preocupação e o esforço de ampliar e qualificar o corpo docente do Programa. Até 2002, quando passei a coordenação para o prof. Werner Altmann, foram incorporadas as doutoras em História Ieda Gutfreind e Heloísa Reichel, aposentadas da UFRGS, Paula Caleffi, Loiva Otero, Martin Dreher e as recém doutoradas pela PURGS Eliane Dekmann Fleck, Maria Cristina Bohn Martins, Marcos Jussto Tramontini; pela URFRGS Eloisa Capovilla Luz Ramos, Marlusa Harres. Como se pode ver ao entregar a coordenação do corpo docente o Programa correspondia plenamente às exigências postas pela CAPES e demais instâncias do Ministério da Educação.

Enquanto redigia as presentes memórias, 20 anos após passar o bastão da coordenação do PPGH para outras mãos, fui surpreendido com a notícia de que nova administração da Unisinos resolvera encerrar, melhor, fechar o PPGH e outros pós graduações sricto senso alegando insustentabilidade financeira. Recebi a notícia com a sensação de um soco no estômago. Não me sinto com vontade de opinar sobre o significado dessa decisão que sugere que no fundo, no fundo, muitas, não digo todas as universidades abdicaram do papel de formar “sábios Weise”, diriam os alemães, para assumir a formação em série, como que em esteiras de montagem, de “peritos – Kenner”, recorrendo novamente à classificação alemã, para atender o mercado de trabalho imediato. Sonhe-se nesse modelo de formação com produção de conhecimento de alto nível e oferecimento ao mercado tecnologias de ponta.

Da Enxada à Cátedra [ 78 ]

A Teologia da Libertação

Acabamos de mostrar como o Marxismo foi minando sorrateiramente, via AP, as organizações católicas, de modo especial aquelas que congregavam as diversas classes de jovens estudantes e outras. No decorrer da década de 1960 e 1970 os integrantes das mais diversas modalidade de AP dos estudantes graduaram-se em cursos superiores, em pós graduações no nível de mestrado e doutorado dentro e fora do Brasil. Fascinados pelo métodos de domínio da opinião pública pela Hegemonia Ideológica de Gramsci, somada à estratégia da Indústria Cultural da Escola de Frankfurt, tendo como pano de fundo o Marxismo, chegou o momento de perguntar: E, como essa turbulência toda repercutiu sobre a Igreja Católica?.

Para entender como a Igreja Católica foi afetada pela turbulência que se abateu sobre a história da humanidade a partir de 1960, pressupõe-se ter uma noção das orientações doutrinárias, disciplinares e pastorais constantes nas conclusões do Concílio Vaticano II – 1962- 1965 - convocado por João XXIII e concluído por Paulo VI. Dois pressupostos têm que ser tomados em conta para entender o caminho que a Igreja pós conciliar começou a por em prática no sentido de se adaptar aos novos tempos. Em primeiro lugar é preciso deixar claro que os padres conciliares não puseram em questão os fundamentos dogmáticos vigentes até então. Em princípio não foi um concílio convocado para rever questões doutrinárias, porém, para encontrar um caminho para uma estratégia pastoral ajustada às novas circunstâncias. As decisões conciliares prometiam uma “nova primavera” para o Catolicismo superando o risco de estagnação ao insistir nas práticas pastorais e litúrgicas próprias do período da Restauração, entre 1850 e 1960. Na missa, administração dos sacramento e demais atos litúrgicos o latim foi substituído pelas línguas dos respectivos povos; a celebração da missa com o celebrante de costas para o povo deu lugar a altares que invertiam essa posição; a redução dos sacerdotes ao estado laico foi flexibilizada; a participação ativa de leigos nos atos litúrgicos, como na celebração da eucaristia, e outros sacramentos foi ampliada; os trajes clericais e os hábitos das ordens e congregações religiosas deram lugar a modelos mais próximos do mundo civil; foi retomado o diaconato exercido por leigos inclusive casados, além de outras aberturas menos visíveis. Com essas medidas de acomodação pastoral aos novos tempos, previa-se, com boas razões uma nova “primavera” para a Igreja. Ordens e congregações religiosas adaptaram-se às determinações do Concílio.

Foi então que repercutiu, de maneira mais perceptível sobre o mundo ocidental, a tormenta dos movimentos de rebeldia de 1968, contra o status quo da cultura, seus valores e sua forma de ver e interpretar a história e as civilizações que se sucederam durante a história da humanidade. Com rara precisão o filósofo Alexandro S. Caldera resumiu os contornos desse fenômeno:

Se as propostas explícitas da pós-modernidade na arte, na literatura, no cinema, na linguagem, permanecem na fragmentação dos modelos e na desconstrução dos paradigmas, fenômenos que estamos por demais presenciando desde o surrealismo, o dadaísmo, Picasso, etc., a realidade nos está conduzindo a formas históricas que não previvem fragmentadas, senão que se reagrupam em novos modelos globalizantes que se confeccionam nos centros de poder mundial e que tendem a uma uniformidade planetária”. (Caldera, 2004, p. 92)

Assim está posto o panorama em que a Igreja Católica procurou e ainda está à procura de uma forma, para enfrentar os desafios pastorais. Sucederam-se ensaios e mais ensaios alternando com outros tantos erros na prática pastoral deixando o povo católico confuso e atordoado. A Inculturação” como método de fazer a catolicidade dialogar com as mais diversas tradições histórico-culturais terminou em inúmeros casos desfigurando ao irreconhecível a imagem da Igreja. Como já lembramos mais acima a matriz marxista, mais exatamente a AP minou pela base as organizações católicas principalmente da juventude a partir do final da década de 1950. Simultaneamente soma-se a essa dinâmica o Gramscismo, a Escola de Frankfurt, sem falar de toda uma geração de pensadores, sociólogos, historiadores, antropólogos, economistas, artistas e por aí vai. A Igreja Católica que sonhava coma uma “nova primavera” como resultado das conclusões do Concílio Vaticano II implementadas pela estratégia de imersão, ou inculturação nas realidades culturais nas suas incontáveis formas, terminou sacudida por um temporal de proporções apocalípticas.

Valendo-se do método da “Inculturação” fez com os responsáveis pela base da doutrinação católica como os párocos e seus auxiliares, catequistas, formadores da nova geração de sacerdotes e religiosos, entrassem em contato diuturno com as realidades sociais, políticas, econômicas e religiosas da grande massa popular. Até aqui tudo bem. As orientações do concílio vaticano II para a atividade pastoral em todos os níveis sociais, pressupõe logicamente tomar contato direto com as realidades humanas em que é posta em prática. A nova Igreja desenhada pelo Concílio pressupõe o abandono das práticas tradicionais da imposição de cima para baixo da doutrina, das práticas litúrgicas, dos preceitos canônicos. Em vez disso manda que os agentes pastorais: catequistas, diáconos, sacerdotes e bispos procurem, não apenas familiarizar-se, mas imergir, por assim dizer, na mentalidade do povo que lhes é confiado. Em outras palavras essa imersão ou contato e convivência da realidade concreta deverá ditar os parâmetros da ação pastoral. Não passa do óbvio que essa guinada histórica em busca de “nova era para o catolicismo” o latim como língua litúrgica universal desse lugar às milhares de idiomas falados pelas inúmeras culturas espalhadas pelo mundo. Mais acima já lembrei algumas outras adaptações mais superficiais como a substituição dos hábitos dos sacerdotes e religiosos e religiosas em geral, o celebrante rezando a missa num altar virado para o público, a participação dos leigos inclusive mulheres nas celebrações litúrgicas e outros mais. Tudo Bem. O discurso “ex Cátedra” ou o discurso que reduzia o universo dos fiéis católicos a um rebanho sem voz própria, sem autonomia e sem escolha a não ser enquadrar-se nos exageros, em muitos casos levados ao extremo pelos agentes pastorais, exigia retoques, senão recursos cirúrgicos mais ou menos drásticos. Mas, pelo que parece os remédios propostos pela interpretação analítica e antropológica dos agentes pastorais “imersos” nas realidades concretas das classes menos favorecidas, maioria numérica na pirâmide social, exagerou na dose, de modo especifico na América Latina. Obedecendo ao bom tom do discurso politicamente correto afinado com a Teologia da Libertação, enveredaram para um descaminho no mínimo preocupante, senão em colisão frontal com o próprio cerne doutrinário da Igreja Católica.

O caminho, melhor a referência, a que recorreu a Teologia da Libertação para lidar com o problema e de alguma maneira dar voz às massas populares consideradas “oprimidas”, baseou-se na matriz marxista. O papa Bento XVI resumiu em poucos parágrafos os desvios doutrinários em que a Teologia da Libertação incorreu. Começa subvertendo a palavra “Salvação” por “Libertação” o que transformou o esforço para solução dos problemas sociais numa questão meramente política em vez de salvacionista no sentido doutrinário da Igreja. Para tanto se faz necessário uma mudança radical das estruturas em vigor, de modo especial na América Latina consideradas como “pecado” responsável de todos os males que acometem os oprimidos. Sem muito esforço percebe-se nesse modo avaliar os problemas sociais o dedo dos filósofos da Escola de Frankfurt, de matriz marxista, fazendo valer a “Teoria Crítica” implementada pela “Indústria Cultura” a serviço da demolição dos valores da Cultura Ocidental. Não se trata, portanto de uma luta religiosa, mas de uma luta política que precisa ser enfrentada e resolvida em primeiro lugar no nível político. A Salvação não passa de um projeto político para o qual se vale dos instrumentos oferecidos pelo marxismo. Como tal o homem vem a ser seu próprio salvador e dispensa a redenção conquistada por Cristo com sua paixão e morte na cruz. Com isso a espiritualidade católica perde seu sentido assim como os sacramentos, os mandamentos, enfim todo arcabouço doutrinário da Igreja levando a uma radical subversão do cristianismo. Como se pode perceber estamos frente a uma nova forma de compreensão do cristianismo como um todo. Os teólogos da Teologia da Libertação continuam valendo-se da linguagem teológica, ascética e litúrgica da Igreja mascarando, entretanto, a distorção pela raiz dos conceitos consagrados por séculos. Essa estratégia ilude não poucos católicos achando que a Teologia da Libertação de fato leva a realização do viés imaginado pela nova pastoral pelo Concílio Vaticano II, quando na verdade não passa de uma heresia passível de excomunhão automática conforme o Decreto de Pio XII de primeiro de junho de 1949. Em outras palavras os defensores da Teologia da Libertação não passam de “lobos em pele de ovelha”. Quem interpreta os acontecimentos históricos e cria e põe em prática os remédios adequados para a solução das massas oprimidas vem a ser a “comunidade”. É dessa forma que o povo se transforma numa antítese à hierarquia que passa a ser degradada à condição de opressora. O magistério da Igreja que defende a existência de valores permanentes contradiz a história. No entendimento da Teologia da Libertação o conceito de Deus e da Revelação são absorvidos pela história. Na prática a verdade realiza-se na história e na práxis. A ação é a verdade e, portanto, a única e verdadeira ortodoxia. De acordo com essa doutrina são ressignificados o mistério pascal assumindo o significado de uma revolução, a eucaristia uma festa de libertação e o êxodo como símbolo da Libertação, assume o papel central da história da salvação.

Creio que essa sucinta análise dos principais ingredientes que deram origem a tentativa de desconstrução dos valores consagrados pela Cultura Ocidental, permite entender de alguma maneira o panorama histórico tumultuado e errático do começo desse terceiro milênio e identificar nas linhas e entrelinhas o Marxismo ateu como inspirador maior desses movimentos considerados individualmente e no seu conjunto.

Dedicação exclusiva na Unisinos – 1990-213

Depois de uma interrupção de dois anos retornei à Unisinos a convite do Pe. Herbert E. Wetzel, pro reitor de Pesquisa e Pós graduação. Propôs-me assumir a coordenação da Pesquisa da universidade. Pedi para me substituir no cargo por outro professor com o argumento de que pretendia me dedicar mais tempo à pesquisa sobre a imigração alemã no sul do Brasil, um tema que sempre me foi muito caro e não tinha como me dedicar devido ao excesso de aulas em duas universidades. O Pe. Wetzel apoiou-me e me integrou na Pós-Graduação de História em fase de implantação. Apresentei-me à profa. Beatriz Franzen coordenadora do programa. De pronto me acolheu e confiou-me a tarefa de montar um “Núcleo de Estudos Teuto-Brasileiros”, com a observação: “No primeiro andar, ao lado da escada, há uma sala com uma mesa, uma cadeira, e um pequeno armário reservado para a instalação do Núcleo”. Pois, foi naquela sala de poucos metros quadrados que se tornou realmente possível e de fato dedicar-me aos sonhos e dramas que acompanharam a imigração dos alemães e outras vertentes étnicas para o sul do Brasil. Não pretendo me demorar em detalhar como foram na sua realidade humana e geográfica as sagas dos imigrantes, mas mergulhar um pouco mais a fundo na história das migrações, imigrações, emigrações. A pergunta que subjaz a todas as outras é essa: “Porque as pessoas migram?” Não me refiro aos viajantes, aventureiros, cientistas, pessoas em busca de tesouros. Refiro-me aos migrantes procurando um local para garantir um futuro promissor para as futuras gerações, resumido nas 4 palavras herdadas da sabedoria dos antigos romanos, já lembradas mais acima: “Ubi bene ibi pátria”.

Em primeiro de abril de1990 fui ocupar o gabinete que a profa. Beatriz me tinha destinado. Realmente não encontrei nada mais do que uma mesa, uma cadeira e um armário de duas portas. Para começar me pus a elaborar um projeto para recuperar e reunir a memória escrita sobre a imigração alemã no sul do Brasil, encontrável nos diversos acervos e bibliotecas de São Leopoldo, Porto Alegre e arredores. Para dar conta desse projeto o Padre Wetzel cedeu duas bolsas de iniciação científica da FAPERGS. Dos bolsistas exigia-se o domínio perfeito do alemão além de saber ler todo tipo de fonte também na impressão e manuscrita gótica. Como candidatos para essa tarefa não podiam ser encontrados na graduação de História, fui procura-los no IFPLA (Instituto de formação de professores de língua alemã) na área das Letras. Foi assim que Isabel Cristina Arendt e Katia Rex formaram a primeira dupla de bolsistas. Nos anos seguintes vieram reforçar a equipe outras bolsistas, todas oriundas do Instituto de formação de professores de língua alemã, entre elas Andrea Marinês Kunz, Justine Koppe, Beatriz Koppe. Elisabeht Breunig, Karen Maurer, Gerson Neumann e outros. O trabalho de Recuperação da Memória levou em torno de 4 anos até ser concluído e posto à disposição dos pesquisadores. Os acervos e bibliotecas mais importantes minuciosamente examinadas foram: a biblioteca do Instituto Anchietano de Pesquisas, a biblioteca do Museu Histórico de São Leopoldo, a biblioteca histórica dos Jesuítas atualmente no sexto andar da biblioteca central da Unisinos, a biblioteca da EST (Escola Superior de Teologia), o Acervo Mentz, na época na UFRGS, a biblioteca particular do prof. Walzer em Hamburgo Velho e outros mais. Em 1991 o prof. Lúcio Kreutz, emérito da Universidade Federal de Viçosa, estudioso da história da educação entre os alemães do sul do Brasil, veio reforçar a equipe do Núcleo. Visitamos o acervo da prefeitura de Nova Petrópolis, o acervo do prof. Renato Seibt, o Acervo da Sociedade União Popular em Pinhal Alto, onde nos foi oferecida uma coleção praticamente completa da periódico da Associação União Popular: o Skt. Paulusblatt. Terminamos a visita a Nova Petrópolis com uma visita ao prof. Reinaldo Krauspenhar, que fora professor de português na Escola Normal (Lehrer Seminar) em Hamburgo Velho e personagem chave no episódio que terminou com o fechamento da instituição pelas autoridades do Estado Novo, exigida por Coelho de Souza, Secretário da Educação do Governo do RS. Naquele mesmo ano o prof. Lúcio e eu fomos participar de um simpósio centrado no tema da contribuição cultural dos imigrantes alemães em Santa Rosa. Aproveitamos a ocasião para visitar o prof. Martin Wobeto em Cândido Godoy. Tínhamos informações de que ele guardava em casa uma rica coleção de livros didáticos usados nas escolas comunitárias católicas e protestantes. Para proteger essas obras da fúria iconoclasta dos agentes da nacionalização, melhor talvez, do “abrasileiramento”,cavou um esconderijo debaixo do assoalho da sala de estar de sua casa, onde não foram encontrados nas invasões a domicílios rotineiras entre 1940 e 1945. Passados os anos de chumbo da nacionalização, acomodou a preciosa coleção num dos cômodos da casa. Resumindo. Quando soube da nossa intenção de inventariar a memória escrita da imigração, especialmente da escola e da educação, nos autorizou a levar tudo que nos interessasse. Foi assim que o Prof. Lúcio enriqueceu significativamente a coleção de livros didáticos que serviram de base para um livro seu focado no material didático das escolas comunitárias, publicado pela Edit. da Unisinos.

Essas buscas pela memória tiveram um outro efeito que considero de grande importância. Na medida em que a nossa atividade de localização de documentos, revistas, jornais, livros, impressos de tudo que era tipo e conteúdo, foi-se tornando conhecido, foram-nos oferecidas pequenas coleções pessoais, relíquias guardadas dos antepassados, além de acervos de respeitável tamanho e valor histórico. Ao acervo de livros didáticos do prof. Wobeto e de outros menores veio somar-se o do prof. Walzer que nos foi oferecido pelas herdeiras Diva e Beatriz com a simples intenção de que o trabalho de décadas do pai como professor não se perdesse. Uma coleção completa do Correio do Povo de 1937- 1960, cobrindo, portanto, o importante período de antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial, foi adquirido por uma modesta soma em dinheiro. Com o correr do tempo veio somar-se ao acervo já existente toda a documentação relativa à Sociedade União Popular, o acervo pessoal do Pe. Balduino Rambo, a documentação do CEDOP (Centro de Documentação e Pesquisa) fundado pelo Pe. Pedro C. Beltrão e levado a um nível até internacionalmente conhecido pelo estudo e prática do Cooperativismo sob o comando do Pe. Roque Lauschner e Pe. Odelso Schneider e seus auxiliares. O CEDOPE deu lugar no final da década de 1990 ao “Instituto Humanitas” com objetivos totalmente diferentes. Outro acervo de importância para entender a evolução e consolidação da colonização no sul do Brasil vem a ser o acervo reunido pelo Pe. Arthur Rabuske centrado da atividade dos jesuítas, principalmente os da velha guarda que atuaram na região entre 1849 e 1950. Por fim o juiz responsável pela massa falida do Frigorífico Vacriense, o FRIVA entregou à Unisinos como depositária legal, a parte documental da empresa. Toda essa riqueza encontra-se hoje guardada no sexto andar da biblioteca central da Unisinos.

Formou-se assim em poucos anos um Centro de Documentação e Pesquisa que serviu de inspiração para livros, artigos científicos, dissertações de Mestrado, teses de Doutorado inclusive com tradução e publicação na Alemanha. Com isso o Núcleo de Estudos Teuto-Brasileiros que começou com uma mesa, uma cadeira e um armário de duas portas, evoluiu como uma referência regional, nacional e até internacional na sua especialidade. Na formulação do currículo, por ocasião do credenciamento do PPGH esse Núcleo passou à categoria de Linha de Pesquisa com o nome “Imigração e Colonização na América Latina”.

Da Enxada à Cátedra [ 77 ]

O Gramscismo.

Depois de tentar mostrar como a partir do começo da década de 1960 o marxismo começou a infiltrar-se e minar as organizações religiosas principalmente de jovens em geral e estudantes em particular; depois de comentar como essas organizações assimilaram a ideologia da AP transformando-se em defensores e propagadores de uma orientação minada pelas orientação de viés comunista nas suas diversas modalidades, com destaque para o leninismo-stalinismo; depois ainda de analisar o efeitos sobre conceito de universidade e, consequentemente, a sua estrutura acadêmica com reflexos sobre as disciplinas, de modo especial das da área das Humanidades, passo a tecer algumas considerações sobre outro ingrediente que elevou a temperatura do caldo cultural em andamento. Refiro-me a entrada em cena do Gramscismo com sempre maior número de adeptos e entusiastas da ideia da “Hegemonia do pensamento”. Não é aqui o lugar para uma análise mais aprofundada do pensamento de Gramsci mas chamar a atenção pelo poder de fogo que acrescentou aos defensores do marxismo e da Escola de Frankfurt. Em vez de propor como uma das etapas para a conquista do poder pela revolução para neutralizar ou aniquilar os opositores à marcha do comunismo, defende a “Hegemonia” do pensamento, ou a dominação pela ideologia. Em resumo. No momento em que uma ideologia, ou uma cosmovisão consegue se impor como dominante, as demais vão sendo rotuladas negativamente, combatidas com todos instrumentos disponíveis, principalmente os meios de comunicação social, a educação em todos os níveis, os embates filosóficos, o discurso político, e por aí vai. Para fazer valer a hegemonia, melhor talvez, a tirania do pensamento único, qualquer meio é válido. Em outras palavras. O fim justifica os meios. Os que pensam diferente ou discordam do “politicamente correto” tem que sercalados utilizando todos os instrumentos disponíveis: a detração, a calúnia e em casos extremos até o sumiço de pessoas, ou mesmo assassinatos são justificados. Não vou entrar em detalhes pois, respiramos dia por dia o hálito empestado que impregna a atmosfera da nossa civilização em todas as suas dimensões. Assistimos diariamente à deseducação, para não dizer perversão, que tomou conta de todos os níveis da formação dos cidadãos a quem cabe garantir um mundo decente para as futuras gerações. Só não enxerga quem é cego que os valores que garantem o que há de perene na história da humanidade, estão sendo arquivados nos museus do tempo. Acervos documentais ou bibliotecas históricas, se é que não são jogados sumariamente na lata do lixo, são entregues às traças. A família, o convívio e comprometimento solidário das pessoas com seus semelhantes, a religiosidade e a religião e todos os demais valores que fazem com que as pessoas sejam de fato humanas, já não decidem sobre o comportamento imposto pela tirania do pensamento hegemônico, do politicamente correto. E, num mundo em que impera o princípio de que o fim justifica os meios, já não há mais lugar para a Ética a quem caberia apontar o norte a ser seguido pelas civilizações humanas. Segundo o pensamento de Gramsci, não basta podar a árvore da civilização atual fundamentada na tradição Judaico-Cristã, é preciso arrancá-la pelas raízes.

As futuras gerações que irão herdar e sofrer as consequências dos descaminhos e autênticas aberrações que moldou o mundo nesse começo do terceiro milênio, levarão um espaço de tempo difícil de mensurar para colocar novamente tudo em seu devido lugar. Essa missão foi magistralmente resumida por Alexandro S. Caldera em seu livro “Meditações Máximas e Mínimas: “Por isso há que entender a identidade desde a visão de um mundo plural, aberto e intercomunicado, de um mundo onde a diferença não seja barreira, mas ponte, e na qual as distintas visões e imaginários da vida e da história sejam vasos comunicantes e façam possível a capilaridade cultural, a Unidade na Pluralidade”. (p. 94).

Escola de Frankfurt

A Escola de Frankfurt, fundada em 1922 marca o nascedouro da “Teoria Crítica” somada à estratégia da “Indústria Cultural, vem a ser mais um ingrediente do caldo que caracteriza a civilização atual. Associada à universidade de Frankfurt essa escola reuniu um grupo de pensadores desde a década de 1920 que, de enfoques de vista diferentes, tiveram como ponto de partida o Marxismo. O trio Max Horkheimer, Theodor Adorno e Fiedrich Pulloch foram seus fundadores. Merecem destaque ainda Herbert Marcuse, Jurgen Habermas, Ernst Bloch, Erich Fromm e muitos outros. Todos esses pensadores e muitos outros que se identificam por terem como base o marxismo, por vias de interpretação diversas, coincidem no final das contas no esforço da atualização da matriz marxista adaptando-a às circunstâncias do século XX. Em outras palavras o marxismo não estagna como referência da análise e compreensão das sociedades modernas, porém, atualizado, para atender as características da dinâmica do andar da história. Nessa perspectiva ser crítico” significa analisar a relação entre a teoria, no caso formulada pela matriz marxista, e a realidade concreta e peculiar em que os acontecimentos histórico culturais estão acontecendo. Dessa forma os estudos e análises da sociedade não podem limitar-se a identificar as características, os produtos, os valores, as soluções e estratégias para salvaguardar o status quo” mas, a partir delas passar a moldar um novo modelo de sociedade. Como a Escola de Frankfurt defende na sua essência aquela imaginada por Marx, todo esforço deve concentrar- se em superar a cosmovisão capitalista com os meios, todos e quaisquer meios, que contribuam para arredar os pilares que sustentam o conservadorismo e ou o liberalismo. O conceito central que orienta os pensadores da Escola de Frankfurt vem a ser a “Teoria Crítica” instrumentalizada pela “Indústria Cultural” que, em última análise, se resume num mecanismo de controle das mentes e pessoas, imposto de cima para baixo reduzindo-as a um rebanho de indivíduos sem identidade própria, escravos dos bens de consumo que lhes são impostos e propostos pela ideologia de plantão. Com o lucro como valor maior, as pessoas são manipuladas pela padronização dos gostos e interesses, pela massificação dos produtos, insumos de fácil acesso e alto potencial de consumo.

Cabe à cultura a condição de fundamento para modelar a mentalidade e a visão política das pessoas. Para alterar a cultura é necessário infiltrar-se nos canais institucionais, particularmente a educação. Em resumo. A “Teoria Crítica” é a politização da lógica. Segundo Horkheimer um argumento é lógico quando tem por objetivo destruir as bases culturais tradicionais da Civilização Ocidental e é ilógico se ele tem como objetivo defende-las. Em outras palavras é o “politicamente correto” e condena o debate aberto, livre e sem censura como subversivo. A Indústria Cultural leva à padronização do comportamento e a Teoria Crítica leva à inversão da lógica. Não existe uma Verdade universal porque as verdades mudam de acordo com a realidade social.

Não é aqui também o lugar para uma análise mais aprofundada do pensamento dos adeptos da Escola de Frankfurt. O que interessa é a matriz sobre a qual se fundamenta a “Teoria Crítica” que tem na “Indústria Cultural” o instrumento para manipular as massas humanas em favor dos seus objetivos. Cai em vista a proximidade para não falar em coincidência da estratégia para manipular as massas proposta pela Indústria Cultural e o conceito de Hegemonia, ou Domínio Ideológico de GramsciNão há necessidade de nenhuma perspicácia maior para identificar o dedo dos pensadores-sociólogos da Escola de Frankfurt na proposta de Gramsci para moldar a cosmovisão e as práticas da civilização de um século depois.