O Gramscismo.
Depois de tentar mostrar como a partir do começo da década de 1960 o marxismo começou a infiltrar-se e minar as organizações religiosas principalmente de jovens em geral e estudantes em particular; depois de comentar como essas organizações assimilaram a ideologia da AP transformando-se em defensores e propagadores de uma orientação minada pelas orientação de viés comunista nas suas diversas modalidades, com destaque para o leninismo-stalinismo; depois ainda de analisar o efeitos sobre conceito de universidade e, consequentemente, a sua estrutura acadêmica com reflexos sobre as disciplinas, de modo especial das da área das Humanidades, passo a tecer algumas considerações sobre outro ingrediente que elevou a temperatura do caldo cultural em andamento. Refiro-me a entrada em cena do Gramscismo com sempre maior número de adeptos e entusiastas da ideia da “Hegemonia do pensamento”. Não é aqui o lugar para uma análise mais aprofundada do pensamento de Gramsci mas chamar a atenção pelo poder de fogo que acrescentou aos defensores do marxismo e da Escola de Frankfurt. Em vez de propor como uma das etapas para a conquista do poder pela revolução para neutralizar ou aniquilar os opositores à marcha do comunismo, defende a “Hegemonia” do pensamento, ou a dominação pela ideologia. Em resumo. No momento em que uma ideologia, ou uma cosmovisão consegue se impor como dominante, as demais vão sendo rotuladas negativamente, combatidas com todos instrumentos disponíveis, principalmente os meios de comunicação social, a educação em todos os níveis, os embates filosóficos, o discurso político, e por aí vai. Para fazer valer a hegemonia, melhor talvez, a tirania do pensamento único, qualquer meio é válido. Em outras palavras. O fim justifica os meios. Os que pensam diferente ou discordam do “politicamente correto” tem que sercalados utilizando todos os instrumentos disponíveis: a detração, a calúnia e em casos extremos até o sumiço de pessoas, ou mesmo assassinatos são justificados. Não vou entrar em detalhes pois, respiramos dia por dia o hálito empestado que impregna a atmosfera da nossa civilização em todas as suas dimensões. Assistimos diariamente à deseducação, para não dizer perversão, que tomou conta de todos os níveis da formação dos cidadãos a quem cabe garantir um mundo decente para as futuras gerações. Só não enxerga quem é cego que os valores que garantem o que há de perene na história da humanidade, estão sendo arquivados nos museus do tempo. Acervos documentais ou bibliotecas históricas, se é que não são jogados sumariamente na lata do lixo, são entregues às traças. A família, o convívio e comprometimento solidário das pessoas com seus semelhantes, a religiosidade e a religião e todos os demais valores que fazem com que as pessoas sejam de fato humanas, já não decidem sobre o comportamento imposto pela tirania do pensamento hegemônico, do politicamente correto. E, num mundo em que impera o princípio de que o fim justifica os meios, já não há mais lugar para a Ética a quem caberia apontar o norte a ser seguido pelas civilizações humanas. Segundo o pensamento de Gramsci, não basta podar a árvore da civilização atual fundamentada na tradição Judaico-Cristã, é preciso arrancá-la pelas raízes.
As futuras gerações que irão herdar e sofrer as consequências dos descaminhos e autênticas aberrações que moldou o mundo nesse começo do terceiro milênio, levarão um espaço de tempo difícil de mensurar para colocar novamente tudo em seu devido lugar. Essa missão foi magistralmente resumida por Alexandro S. Caldera em seu livro “Meditações Máximas e Mínimas: “Por isso há que entender a identidade desde a visão de um mundo plural, aberto e intercomunicado, de um mundo onde a diferença não seja barreira, mas ponte, e na qual as distintas visões e imaginários da vida e da história sejam vasos comunicantes e façam possível a capilaridade cultural, a Unidade na Pluralidade”. (p. 94).
Escola de Frankfurt
A Escola de Frankfurt, fundada em 1922 marca o nascedouro da “Teoria Crítica” somada à estratégia da “Indústria Cultural”, vem a ser mais um ingrediente do caldo que caracteriza a civilização atual. Associada à universidade de Frankfurt essa escola reuniu um grupo de pensadores desde a década de 1920 que, de enfoques de vista diferentes, tiveram como ponto de partida o Marxismo. O trio Max Horkheimer, Theodor Adorno e Fiedrich Pulloch foram seus fundadores. Merecem destaque ainda Herbert Marcuse, Jurgen Habermas, Ernst Bloch, Erich Fromm e muitos outros. Todos esses pensadores e muitos outros que se identificam por terem como base o marxismo, por vias de interpretação diversas, coincidem no final das contas no esforço da atualização da matriz marxista adaptando-a às circunstâncias do século XX. Em outras palavras o marxismo não estagna como referência da análise e compreensão das sociedades modernas, porém, atualizado, para atender as características da dinâmica do andar da história. Nessa perspectiva ser “crítico” significa analisar a relação entre a teoria, no caso formulada pela matriz marxista, e a realidade concreta e peculiar em que os acontecimentos histórico culturais estão acontecendo. Dessa forma os estudos e análises da sociedade não podem limitar-se a identificar as características, os produtos, os valores, as soluções e estratégias para salvaguardar o “status quo” mas, a partir delas passar a moldar um novo modelo de sociedade. Como a Escola de Frankfurt defende na sua essência aquela imaginada por Marx, todo esforço deve concentrar- se em superar a cosmovisão capitalista com os meios, todos e quaisquer meios, que contribuam para arredar os pilares que sustentam o conservadorismo e ou o liberalismo. O conceito central que orienta os pensadores da Escola de Frankfurt vem a ser a “Teoria Crítica” instrumentalizada pela “Indústria Cultural” que, em última análise, se resume num mecanismo de controle das mentes e pessoas, imposto de cima para baixo reduzindo-as a um rebanho de indivíduos sem identidade própria, escravos dos bens de consumo que lhes são impostos e propostos pela ideologia de plantão. Com o lucro como valor maior, as pessoas são manipuladas pela padronização dos gostos e interesses, pela massificação dos produtos, insumos de fácil acesso e alto potencial de consumo.
Cabe à cultura a condição de fundamento para modelar a mentalidade e a visão política das pessoas. Para alterar a cultura é necessário infiltrar-se nos canais institucionais, particularmente a educação. Em resumo. A “Teoria Crítica” é a politização da lógica. Segundo Horkheimer um argumento é lógico quando tem por objetivo destruir as bases culturais tradicionais da Civilização Ocidental e é ilógico se ele tem como objetivo defende-las. Em outras palavras é o “politicamente correto” e condena o debate aberto, livre e sem censura como subversivo. A Indústria Cultural leva à padronização do comportamento e a Teoria Crítica leva à inversão da lógica. Não existe uma Verdade universal porque as verdades mudam de acordo com a realidade social.
Não é aqui também o lugar para uma análise mais aprofundada do pensamento dos adeptos da Escola de Frankfurt. O que interessa é a matriz sobre a qual se fundamenta a “Teoria Crítica” que tem na “Indústria Cultural” o instrumento para manipular as massas humanas em favor dos seus objetivos. Cai em vista a proximidade para não falar em coincidência da estratégia para manipular as massas proposta pela Indústria Cultural e o conceito de “Hegemonia”, ou Domínio Ideológico de Gramsci. Não há necessidade de nenhuma perspicácia maior para identificar o dedo dos pensadores-sociólogos da Escola de Frankfurt na proposta de Gramsci para moldar a cosmovisão e as práticas da civilização de um século depois.