Na
postagem anterior apresentamos um resumo sobre o começo da atividade dos
jesuítas alemães na colônia alemã e o esboço do projeto pastoral que seria
implantado no decorrer das décadas seguintes. Nesta oferecemos um quadro
evolutivo do Projeto Pastoral, por meio de uma sólida organização paroquial. Os
imigrantes alemães, como também, a partir de 1870, italianos, poloneses e
outros costumavam organizar-se em comunidades fundamentadas na família, na
religião, no trabalho, na solidariedade, no lazer, etc. Como se pode concluir
estamos diante de um cenário próximo do ideal, para fazer prosperarem paróquias
dinâmicas, capazes de um grande potencial de mobilização popular, de
recrutamento de vocações sacerdotais e religiosas e iniciativas em favor da promoção humana material e
espiritual. Além disto pode-se afirmar que neste território gestou-se e
consolidou-se a matriz, o paradigma de organização comunitária, que serviu de
modelo para todas as fronteiras de colonização posteriores no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná.
Um
outro elemento que precisa ser destacado é o fato de que na região encontrarmos
uma composição étnica que inclui uma porcentagem significativa de
elementos de todas as procedências,
menos a indígena. Na parte sul das bacias fluviais do Guaiba encontramos os
lusos e açorianos predominando, na parte média os imigrantes alemães e na parte
superior, italianos, poloneses demais. Desta forma definiram-se duas fronteiras
históricas de contato inter-étnico e inter-religioso. No sul predominava o
catolicismo típico da tradição lusa. Na fronteira norte multiplicavam-se as comunidades
católicas dos italianos e poloneses. Entre os luso-brasileiros católicos no sul
e os ítalo-brasileiros, também católicos no norte, fixaram-se os
teuto-brasileiros meio a meio católicos e protestantes. Geograficamente estes
últimos ocuparam os cursos médios dos rios e não demorou desenvolveram
comunidades de nível econômico e bem estar apreciável. Foi nestas comunidades
em que os jesuítas alemães foram progressivamente implantando e consolidando
paróquias. Dois Irmãos e São José do Hortêncio, em 1849, foram as duas
primeiras. A elas seguiram-se, São Leopoldo em 1859, Santa Cruz do Sul, em
1865, Estrela em 1873. Eram verdadeiras mega-paróquias com jurisdição sobre
territórios que hoje abrigam dezenas de paróquias e várias dioceses. De Dois Irmãos, a de menor
território, foi desmembrada em 1867 a paróquia de Bom Jardim (Ivoti). Já a
jurisdição de São José do Hortêncio cobria todo o vale do Caí, as cabeceiras do
rio das Antas, até os Campos de Vacaria. Dela foram desmembradas as paróquias
Montenegro em 1872, Bom Princípio em 1873, São Salvador (Tupandi) em 1875, São
Sebastião do Cai em 1881, Feliz em 1884, Harmonia em 1900, Nova Petrópolis em
1906, Gramado em 1907. A jurisdição de
São Leopoldo estendia-se sobre o vale
dos Sinos até Santo Antônio da Patrulha. Dela originaram-se as paróquias
de Hamburgo Velho em 1895, Taquara em
1898, Rolante em 1915. O Território original sob a jurisdição da paróquia de
Estrela, criada em 1873, cobria toda a bacia do rio Taquari e Antas, incluindo
as colônias italianas e polonesas de Antônio Prado, Veranópolis, Ipê, Cotiporã,
Casca, Guaporé, Encantado, Roca Sales e Lajeado. De Estrela originaram-se, numa
primeira fase, às paróquias de Lajeado em 1902, Poço das Antas em 1905 e Roca
Sales em 1909. No vale do rio Pardo a paróquia matriz foi a de Santa Cruz,
criada em 1865, sucessivamente desmembrada, dando origem à paróquia de Venâncio Aires em 1891,
Candelária em 1899, Sobradinho em 1917 e
Monte Alverne em 1918.
A
organização das paróquias sempre seguiu o mesmo padrão. Depois que 15 a 20
moradores se haviam fixada em uma nova piada ou linha, eles se reuniam para
formar uma comunidade. As “capelas e igrejas”, se é que podem ser chamadas
assim, no começo da formação de uma comunidade na mata virgem, não eram
vistosas. A construção dava-se em regime de mutirão. Todos colaboravam com o
que tinham a oferecer. Alguém cedia uma parcela do seu lote para a construção
da capela e instalação do cemitério. Note-se,
que a capela servia de escola durante a semana donde vem o conceito de
escola-capela. Outros doavam madeira e demais materiais de construção, outros
ainda entravam com suas juntas de bois e carroças para o transporte. Ninguém se
negava a contribuir com dias de trabalho na fase da construção. Nada de
projetos desenhados por arquitetos,
aprovados pelas prefeituras e pelo bispo. A obra concretizava-se sob a
liderança de alguém da comunidade. Toda a comunidade envolvia-se de alguma
forma na construção da sua escola-capela, onde iriam rezar e cantar em
comunidade, lugar de encontros dominicais que serviam também como momentos de
papos amenos, atualização de notícias, troca de experiências e, porque não, da
dar início a um namoro ou fechar um negócio. A escola-capela não passava de uma
construção um pouco maior e mais bem elaborada do que as casas dos colonos. Não
costumavam passar muitos anos, uma década ou até menos, depois de consolidadas
as comunidades, para que as capelinhas de emergência fossem substituídas por
templos mais amplos, arquitetonicamente mais estéticas e mais duráveis. A
aspiração de qualquer comunidade era ter a sua capela de pedra ou tijolo ou sua
igreja paroquial vistosa, com torre imponente, abrigando um, dois ou três
sinos. E, quando entrava em questão a construção da igreja matriz da paróquia,
as comunidades que a formavam entravam em clima de emulação que dificilmente
deixava de envolver alguém. Isso não impedia que houvesse opiniões conflitantes
e desentendimentos nos detalhes de suas execução. Obviamente a comunidade
arcava com os custos da construção, e foi neste particular que se manifestava a
generosidade. Não raro um colono doava uma área para a construção, um
outro fornecia as pedras ou
providenciava gratuitamente um grande volume de frete. Um terceiro colaborava
como pedreiro sem pedir remuneração. Aos padres cabia apenas conquistar os
homens certos para as diferentes tarefas. Não raro, entretanto, participavam
pessoalmente.
Informações
pormenorizadas e mais abrangentes sobre o tipo de atividade pastoral exercida
pelos jesuítas alemães na implantação e consolidação do projeto pastoral do
qual nos ocupamos, podem ser encontradas no livro: “Jesuítas no sul do Brasil –
projeto pastoral”. Arthur Bl. Rambo. Ed. Unisinos, 2013. Nele estão
reproduzidos os relatos dos mais destacados missionários na segunda metade do
século XIX e na primeira década do século XX, época em que a primeira e segunda
geração dessas paróquias contavam em seus territórios os imigrantes italianos,
poloneses, lituanos, teuto-russos e outros vindos da Europa Central e do Norte,
além de luso-brasileiros e afrodescendentes.
Pe.
Wilhelm Dörlemann –pároco de Dois Irmãos Pe. Eugen Steinhart – pároco de Estrela
A
história completa do “Projeto Pastoral” implantado pelos jesuítas alemães no
sul do Brasil, pode ser encontrada no livro: “Jesuítas no sul do Brasil –
projeto pastoral. Arthur Bl. Rambo. Edit. Unisinos, 2013, 333 p.