Modelos de Colonização
História da colonização dos estados do sul do Brasil, a partir de 1824, por imigrantes europeus: alemães, italianos, poloneses e outros, oferece ao pesquisador uma série de facetas importantes e interessantes a serem analisadas. Há toda uma questão relativa ao próprio potencial geográfico das regiões a eles destinadas, às questões relativas à ocupação, à posse e legitimação das terras, à identidade e idoneidade dos colonizadores, etc. Além desses e de outros há um ângulo nesta história que normalmente não merece muito destaque e que é possível identificar nas linhas e entrelinhas tanto da documentação oficial como privada, relativa à colonização. Refiro-me à colonização como instrumento de política étnica, cultural e religiosa.
Partindo desse viés como base é possível distinguir vários modelos. Coincidem em linhas gerais com os objetivos dos diversos agentes colonizadores presentes em todas as frentes pioneiras: o poder público imperial ou republicano federal, provincial ou do estado e municipal, mais as colonizações empreendidas por grandes organizações associativas e as colonizações tocadas pela iniciativa privada, empresas ou pessoas físicas. No anexo de nº 5 da obra comemorativa do primeiro centenário da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul, encontra-se uma lista dos colonizadores até o começo de 1920. Constam aí 17 colonizações promovidas pelo governo imperial, cinco pelo governo provincial, sete pelo governo federal, 16 pelo governo estadual, três por governos municipais, 27 por empresas de colonização, 186 por pessoas físicas e duas pela Associação Riograndense de Agricultores.
Começando pelas 17 colônias promovidas pela governo imperial, entre as quais salientam-se São Leopoldo, Três Forquilhas, São Pedro de Alcântara e Feliz para os imigrantes alemães e as quatro colônias para imigrantes italianos: Caxias, Garibaldi, Bento Gonçalves e Silveira Martins, observa-se um perfil mais ou menos comum. Os assentamentos foram feitos em glebas do governo imperial e concretizaram-se de acordo com os objetivos originais do projeto colonizador, isto é, povoar as terras públicas com imigrantes europeus não lusos em pequenas propriedades de menos de 100 hectares. O que realmente interessava era implantar um novo modelo fundiário combinado com uma produção agrícola diversificada tendo a família como base. Não houve, pelo menos ao que parece, uma preocupação explícita em promover assentamentos étnicos e confessionais identificados. As circunstâncias da época e a própria natureza do processo, somada à procedência dos imigrantes da Europa, determinaram que fossem etnicamente caracterizados. No caso dos imigrantes alemães o fator confessional não foi determinante, a não ser em alguns casos isolados. Católicos e protestantes costumavam ter livre acesso aos lotes nas frentes de colonização. Uma exceção aconteceu com a colonização de Tupandi, antigo 8º distrito de Montenegro. Juca Inácio Teixeira dono das terras, confiou a corretagem de uma parte de sua estância ao longo do arroio Salvador a João Heck e João Kuhn de São José do Hortênsio. Como católicos fervorosos levaram para a nova fronteira de colonização somente alemães católicos. A situação consolidou-se com a implantação da paróquia e a nomeação do Pe. Mathias Pfluger, um jesuíta bávaro que a administrou durante 30 anos. Casos desses, porém, foram exceções. A dinâmica normal determinou a organização de comunidades católicas e protestantes nas mesmas linhas ou picadas, geralmente sem maiores problemas de convivência. O mesmo se deu a partir de 1875 com as quatro colônias italianas acima citadas. A diferença entre elas e as alemãs foi o fato de não terem imigrado italianos protestantes, por isso a coincidência do fator étnico e confessional não tem nada a ver com um pré-requisito exigido pelos agentes de colonização.
O que se acaba de afirmar das colônias promovidas pelo governo imperial, em linhas gerais, vale também para as colônias de iniciativa provincial: Santa Cruz, Agudo, Nova Petrópolis, Monte Alverne e São Feliciano.
O fator étnico e confessional tão pouco aparece como determinante na maioria dos assentamentos promovidos pelo governo federal e estadual a partir da implantação da República. Houve, porém, casos em que o fator étnico fez parte da política de colonização. O exemplo mais emblemático foi a colonização de Santa Rosa e arredores, começada em 1915 pelo governo estadual.
Noventa anos já se haviam passado desde o início da imigração alemã no Rio Grande do Sul. Toda a faixa de terras de em torno de 300 quilômetros de comprimento e de e de 50 a 100 de largura, começando por Taquara do Mundo Novo para terminar em Santa Maria da Boca do Monte, fora ocupada por descendentes de alemães. Paralelamente as colônias italianas de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves, haviam-se estendido pelo planalto até Passo Fundo, Erechim e Lagoa Vermelha. Em meio às duas colonizações maiores, da alemã e italiana, ou na periferia delas, instalaram-se comunidades de poloneses. Uma avaliação superficial dava a impressão que regiões da Alemanha, Áustria ou Suíça, tinham sido transplantadas para o Sinos, Caí, Pardo e Jacuí. Da mesma forma Caxias, Garibaldi, Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Prata, Guaporé, Muçum, Marau, no planalto e Silveira Martins perto de Santa Maria, se pareciam como réplicas de regiões do norte da Itália e Guarani das Missões um enclave polonês.
De modo especial os descendentes dos imigrantes alemães concentravam-se em regiões exclusivas. Destacavam-se na paisagem humana do Rio Grande do Sul pela organização comunitária, pela laboriosidade, pelo apego às tradições, pela língua que falavam, pela alta escolaridade, pelo progresso econômico, pela intensa vida associativa. Davam assim, para não poucos, a falsa impressão de enclaves étnicos renitentes à assimilação. Entre todos esses elementos um sobressaía de modo especial. Sua taxa de alfabetização passava dos 90% quando a média nacional andava pelos 40%. A resposta encontra-se nas escolas criadas, administradas e controladas pelas comunidades, tanto sob o aspecto administrativo quanto curricular e a própria filosofia pedagógica e métodos praticados pelos professores. O resultado final desse estado de coisas foi uma população na sua quase totalidade alfabetizada, dada à leitura de jornais, almanaques, periódicos e livros, gozando de um elevado nível de formação e informação, uma população em condições de emitir julgamentos de valor sobre questões políticas, econômicas, culturais e religiosas.
Se de um lado esse estado de coisas costumava ser visto como algo de positivo até o começo da primeira guerra mundial, para outros podia parecer um tanto estranho. Mas, de qualquer forma, até aquele momento, não causara maior problema na convivência com os demais grupos étnicos. Cá e lá podiam ser ouvidas vozes de alerta chamando a atenção para o fato como uma anomalia e os mais exaltados falavam em “perigo alemão”. Entende-se que ficava difícil para um luso-brasileiro acreditar que pessoas cultivando uma língua e costumes estranhos, não se comunicando ou comunicando-se mal em português, merecessem ser aceitos como cidadãos brasileiros no sentido pleno do termo.
Esse panorama somado ao fato de que, a partir da década de 1920, começaram a circular as vozes em favor de um nacionalismo crescente que deveria ter como base um Estado fortemente centralizado, impondo a “brasilidade” como objetivo, tornavam-se cada vez mais evidentes os sinais apontando para políticas e ações públicas no sentido de diminuir e, finalmente, apagar as diferenças étnicas. Mas foi a partir da “Semana de Arte Moderna” em São Paulo em 1922 que o “abrasileiramento” transformou-se em bandeira do nacionalismo e os “alienígenas” como um estorvo a ser neutralizado.
Entende-se assim que a partir de então as estratégias nas colonizações controladas pelo governo, além dos critérios geoeconômicos, entrassem também critérios de natureza étnica. Significa em outras palavras que os novos assentamentos deveriam ser planejados e implantados, misturando os elementos das diversas etnias. Partia-se da ilusão de que a simples justaposição física levaria a assimilação mútua e em uma, ou no máximo, duas gerações as diferenças desaparecessem normalmente. A experiência demonstrou que não era bem essa a lógica que orientava os migrantes a escolherem as fronteiras de colonização.
Nessas colonizações predominou, via de regra, o povoamento étnico levando alemães, italianos, poloneses e outros a organizarem suas comunidades em linhas e picadas etnicamente definidas. As características dos povoadores frustrou assim, de alguma maneira, as intenções do governo estadual. No atacado ficava a impressão de uma região étnica e religiosamente mista, fato que não se verificava no varejo da formação das comunidades.
Um modelo oposto de colonização foi patrocinado pela Associação Riograndense de Agricultores. Fundada em 1899 em Santa Catarina da Feliz. Essa organização foi, na verdade, um ambicioso projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana, pensado de forma interconfessional e inter-étnica. Embora surgida numa assembléia geral dos católicos e seu mentor principal ter sido o padre jesuíta Theodor Amstad, pelos estatutos estava aberta à filiação de protestantes e aos integrantes de outras etnias representadas no Estado. Entre os muitos e grandes desafios que a Associação teve que enfrentar, figurava a necessidade crônica de providenciar por novos assentamentos. A situação dos excedentes da antiga região colonial chegara a um ponto tal que foi preciso partir para um empreendimento de grandes proporções, fora da região original destinada aos imigrantes. A opção foi pela região das Missões e Alto Uruguai, com o seu ponto de partida em Serro Azul, atual Cerro Largo, então sob a jurisdição do município de São Luiz Gonzaga.
Na assembleia anual da Associação dos Agricultores em 1902, estabeleceram-se alguns princípios a serem observados pelos povoadores de novas fronteiras de colonização. Para cada distrito foram nomeadas uma ou mais pessoas encarregadas para orientar os candidatos à emigração. Esse tipo de providência tinha suas razões. Tratava-se de um empreendimento de grande envergadura. Os candidatos às novas fronteiras de colonização eram, na sua totalidade, filhos de agricultores, simples e confiantes, movidos por uma enorme vontade de construir o futuro em terras virgens e não poucos animados por um tal ou qual espírito de aventura. Compreende-se assim que se formara um clima propício para que todo o tipo de espertalhões tentasse aproveitar-se da situação. Como é comum em tais circunstâncias, apresentaram-se aqueles que ofereciam terras quase de graça, outros vendiam terras inexistentes, outros ainda vendiam a dois ou mais compradores o mesmo lote. Prometiam vantagens e facilidades impossíveis e os desavisados deixavam-se enganar.
Mais duas recomendações foram acrescentadas. Em primeiro lugar, insistiu-se que os colonizadores formassem grupos maiores de pessoas conhecidas entre si, evitando a dispersão entre colonos estranhos. Essa providência facilitaria em muito o começo da nova vida em situações muitas vezes difíceis e precárias e, ao mesmo tempo, diminuía o tempo necessário para formação de comunidades bem integradas.
A resolução de nº 9 da assembleia geral de 1902, previa também assentamentos em comunidades separadas por confissão religiosa e identidade étnica. “A assembleia geral previu em colonizações, bem conduzidas, a garantia do bem-estar material e espiritual das futuras gerações dos excedentes gerados nas áreas antigas da colonização. Ao tratar-se de assentamentos novos apontou-se para o desejo generalizado que se sugerisse o critério da separação de acordo com confissão religiosa” e identidade étnica - (Einheitskolonien).
A justificativa para tomar o critério confessional como determinante na fundação de colônias, explica-se pelos inconvenientes que resultavam na época para a prática pastoral, tanto católica quanto protestante. Estava-se a 50 ano do Concílio Vaticano II, numa época, portanto, em que uma série de barreiras canônicas separavam as duas confissões. O casamento de um católico com um protestante ou vice-versa, acarretava numa série de inconvenientes e obrigava o cônjuge da outra confissão a sujeitar-se a cláusulas canônicas inegociáveis. O católico era proibido servir de padrinho num batizado de protestante assim como convidar um protestante para ser o padrinho num batizado católico. Num casamento misto o cônjuge protestante era obrigado a prometer que os filhos seriam batizados e educados na Igreja Católica e não impedir que a parte católica praticasse a sua religião, o que significava na pratica a renúncia da parte protestante à sua confissão para os descendentes. Em muitas dessas situações as promessas não passavam de meras formalidades e se a parte católica contraía matrimônio com um protestante sem se sujeitar à regra canônica, passava ser excluída da Igreja. Tenho na minha família uma caso exemplar dessa situação. Um tio bisavô casou com uma protestante e não se sujeitou às exigências canônicas. Foi por isso considerado herético e a sua descendência, são hoje os protestantes com o meu sobrenome ou um pouco alterado de Rambor our Rambow. Não faltam depoimentos de curas de alma católicos referindo-se aos casamentos mistos com uma praga e um dos grandes problemas na sua atividade pastoral. Evidentemente essas preocupações estão superadas e podem causar estranheza a quem não se situa nas circunstâncias de então. De qualquer forma, sobre esse pano de fundo, as orientações adotadas nas colonizações da primeira metade do século XX, fazem sentido.
A experiência feita em Serro Azul serviu de estímulo para ser reeditada na colonização de Santo Cristo. A respeito dessa experiência cito o comentário do Pe. Balduino Rambo:
Não demorou e ficou claro que não era preciso colonizar somente de acordo com as confissões religiosas como também das nacionalidades. As colônias formadas por alemães, italianos e poloneses não conseguiram formar comunidades organizadas. Em muitos casos o segmento mais fraco partia para outras regiões com graves consequências para o desenvolvimento econômico. Profetas tranquilamente acomodados em seus gabinetes, acusaram os velhos jesuítas de terem impedido a “nacionalização” dos descendentes de alemães em suas colônias fechadas. Mas esses homens encanecidos na pastoral colonial sabiam da própria experiência para onde conduz a teoria da mistura nacionalista. (Rambo, Balduino, Johannes Rick, SJ, Sonderdruck aus der Zeitschrift “Montfort”, Heft ½, 1958)
As experiências de Serro Azul e Santo Cristo serviram mais tarde de inspiração para a colonização de Porto Novo (Itapiranga) e Porto Feliz (Mondai) e San Alberto e Puerto Rico no norte da Argentina. Nos dois casos foi adotado o modelo étnico combinado com o confessional. Porto Novo desenvolveu-se como uma colonização exclusivamente de alemães católicos e Porto Feliz de alemães protestantes. A mais emblemática foi a de Porto Novo, devido em primeiro lugar ao Pe. Johannes Rick, que moldou a Colônia à imagem do velho catolicismo da Restauração Católica. Preservou até perto dos nossos dias uma fisionomia exclusivamente alemã e católica.
Para o observador de hoje, valer-se da confissão religiosa e identidade étnica como critério para orientar assentamentos de agricultores, parecerá no mínimo estranho, sem cabimento e inaceitável. Nas primeiras décadas do século XX, entretanto, podia ser considerado normal ou pelo menos explicável. A prática pastoral ensinara que comunidades identificadas pela confissão facilitavam o atendimento religioso. Ao mesmo tempo reduzia em muito o risco de desencontros no dia a dia do convívio entre confissões diferentes, de modo especial em pontos críticos como casamentos mistos e padrinhos de batizados. De outra parte a identificação étnica, que na época implicava no uso quotidiano de línguas diferentes e usos e costumes também diversos, facilitava a formação de comunidades e a própria convivência comunal.
Merece destaque o fato de que a região das Missões e Alto Uruguai ter sido fruto em larga escala da migração interna. Para lá confluíram contingentes significativos de todas as vertentes étnicas importantes que participaram da moldagem do perfil humano hoje presente no Rio Grande do Sul. Na segunda metade do século XIX vivia na região uma população esparsa e dispersa de remanescentes do tempo das Missões e posteriores. Eram descendentes dos bandeirantes apresadores de indígenas, aventureiros e comerciantes espanhóis e lusos, mestiços “missioneiros” e fragmentos das tribos de índios dispersos pelos campos e matas adjacentes.
Instalou-se então, a partir da segunda metade do século XIX a ocupação e colonização definitiva de toda a região. Para lá confluíram alemães, italianos, poloneses, teuto-russos, judeus, etc. Nas antigas áreas de colonização nas bacias do Sinos, Caí, Taquari, Antas, Pardo, Jacuí, Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Veranópolis e demais localidades daquela região do planalto, predominara o povoamento etnicamente identificado. Nas Missões e no Alto Uruguai todas essas vertentes vão encontrar-se aos poucos, pondo em marcha os mais diversos mecanismos de contato, de intercâmbio e de progressiva integração. A partir de então a região transformou-se num autêntico laboratório de integração étnica, cultural, social, econômica e religiosa. A vizinhança geográfica, a mútua aceitação, o intercâmbio, a assimilação e aculturação mútua, entretanto, não fez esquecer as raízes históricas da população. Mesmo que hoje não se observem mais sinais importantes de rejeição e mesmo que a língua, a economia, a visão social, as concepções religiosas sinalizem para uma unidade étnico-cultural, verifica-se contudo um sadio e entusiástico retorno às raízes e uma preocupação generalizada de, na unidade, preservar e cultivar as diferenças. São exemplos a “casas alemãs”, “polonesas” e “italianas” em Santo Ângelo.
Assim como a região das Missões e do Alto Uruguai foi e continua sendo um magnífico laboratório que permite observar de como acontecem os encontros inter-étnicos de uma maneira mais genérica, oferece também material abundante para os estudiosos interessados no mundo das ideias que aí se encontraram. Uma avaliação objetiva dessa problemática seria impossível se o historiador não estivesse de posse de uma compreensão mínima do universo da cosmovisão e do imaginário indígena. A ele sobrepôs-se, e de alguma forma, mesclou-se a proposta missionária das reduções jesuíticas de promoção humana do indígena, inserindo-o numa civilização nos moldes do cristianismo ibérico e de uma organização social inspirada no solidarismo. Oposta, sem dúvida, foram as motivações que levaram os paulistas e espanhóis à região, depois do banimento dos missionários e a dispersão dos indígenas.
A partir da colonização definitiva que começou na segunda metade do século XIX, responsável pela fisionomia étnica e cultural de hoje da Região, é possível detectar, sem maior esforço os outros modelos. O projeto colonizador de Cerro Largo e Santo Cristo foi orientado pelo princípio do solidarismo comunitário, tendo como lema o princípio pregado pela Sagrada Escritura “Viribus Unitis – Somando forças”, orientado pela separação das comunidades pelo critério étnico e confessional. Nas colônias patrocinadas pelo Estado prevaleceu a intenção de induzir e acelerar o caldeamento étnico e cultural e estimular a formação de novos polos de produção agrícola. As empresas colonizadoras privadas e colonizadores individuais, orientavam-se por uma filosofia bem mais prosaica: fazer negócios com as terras.
Mas há um outro aspecto a ser considerado. A região das Missões e do Alto Uruguai de 1880 a 1950, serviu de desafogo para a constante superpopulação das regiões coloniais mais antigas. O modelo de pequenos e médios estabelecimentos rurais não demorou por mostrar seus efeitos também nessa região. Os excedentes começaram, a partir de 1920, a procurar terras fora dela e desencadearam um fluxo migratória sempre mais acelerado para o Centro e o Oeste de Santa Catarina, para o Oeste do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e mais para o norte, Acre, Rondônia e até para Roraima, Amapá, Centro Oeste, Maranhão e Bahia. Paralelamente ocorreram movimentos de organização interna de natureza econômica como a implantação de cooperativas de produção, comercialização, consumo e crédito, iniciativas para levar a efeito feiras e festas como Festa Nacional da Soja em Santa Rosa, a Festa Nacional do Milho em Santo Ângelo, movimentos de reorganização social e religiosa, o retorno às raízes e por aí vai.