Imigração alemã para o Brasil-
Propaganda e Realidade
Voltamos a Carlos Fouquet com a sua afirmação de que “história da humanidade é uma história de migrações e suas consequências”. A afirmação é válida para os tempos primitivos, sobre os quais nos informam os registros arqueológicos. Vale também para os poucos milênios sobre os quais dispomos de informações escritas. Vale de maneira especial, para os assim chamados tempos modernos, os últimos cinco séculos, desde 1500, com suas migrações maciças para as Américas, Austrália, Nova Zelândia, sul da África e outras partes do mundo.
Para o momento interessa, mais de perto, a emigração procedente da Europa Central e do Norte. Novamente, segundo Fouquet, todos os países da Europa contribuíram para essa migração recente, de longe a mais abrangente. Ela processou-se em ondas sucessivas com intensidades periódicas maiores ou menores. Ora se tratava de desbravadores, ora de pioneiros como os portugueses, ingleses e russos, ora imigrantes tardios e posteriores, como os alemães, italianos, poloneses e outros. Havia-os também que atuaram como matrizes de novas etnias ou fundadores de novos estados como Portugal, Espanha, Inglaterra e Rússia. Havia também os países que, por sua vez, apenas forneciam contingentes humanos. Foi o caso principalmente da Alemanha, Itália, Polônia, Áustria, Suíça e outros da Europa Central e do Norte.
Quando se fala e emigração-imigração, emigrantes-imigrantes, coloca-se uma interrogação, fácil de formular mas para responder nem tanto. A movimentação, o deslocamento, a migração de pessoas e principalmente de grupos, tem tudo a ver com a pergunta: Porque se migra? Porque indivíduos, grupos humanos e povos inteiros abandonam os locais e as terras onde nasceram, para enfrentarem caminhos desconhecidos em busca de uma terra não menos desconhecida? Uma constatação parece óbvia. As pessoas, em situação normal, só abandonam sua terra natal em busca de uma nova se aquela já não oferece condições mínimas para realizar-se dignamente. Relembramos a máxima dos antigos romanos: “ubi bene ibi pátria”. A pátria do ser humano encontra-se lá onde ele se sente bem. No momento em que vida se torna difícll ou insustentável, as pessoas começam a sonhar com terras desconhecidas, paraísos impossíveis, quimeras ilusórias. Utopias fantasiosas e fantásticas começam a tomar conta das mentes ao ponto de tornar impossível qualquer avaliação serena e objetiva. Seja por razões econômicas, seja por motivos religiosos, seja por motivos sociais, étnicos ou quaisquer outros, mundos desconhecidos, realidades imaginárias apresentam-se como solução para os problemas, a superação das frustrações e o caminho para o encontro com a dignidade e a felicidade.
A miséria, a pobreza extrema, a marginalização, as perseguições políticas e ou religiosas, a absoluta ausência de soluções ou perspectivas, compuseram o caldo em que a propaganda dos agentes de emigração encontraram ouvidos sempre atentos. É nesse clima que conseguiram com maior facilidade vender ilusões, apresentar utopias como se fossem realizáveis, ou até emprestar credibilidade às inverdades mais descaradas. Apelam para as necessidades mais elementares da vida, jogam com os sentimentos humanos mais sagrados e mais íntimos ou acenam com a emigração como o cumprimento de uma missão divina.
Restrinjo-me aqui à “propaganda e realidade”, envolvendo a imigração europeia para o sul do Brasil. Apresento, em primeiro lugar algumas amostras dessa propaganda, para em seguida pintar a realidade que os imigrantes encontraram. Para ilustrar de alguma forma os apelos aliciadores de imigrantes, especificamente para o Brasil, lançamos mão de algumas amostras pinçadas da obra de Freden e Smolka: “O Brasil na canção alemã”. Uma antiga canção de propaganda cantada na região do Hunsrück, em tradução livre, dizia: “João, depois de amanhã partiremos todos para o Brasil. Não deixa de avisar a Gertrud Bummes, senão ela é capaz de se atrasar. Não esqueça a tia Cristina lá do Beco Torto. Também o Matias da aldeia de Lay, que gosta de participar de tudo com vocês. Venha comigo, ainda é tempo. Na Holanda o navio nos espera”.
“João, João, vem comigo emigremos para o Brasil, essa terra gigantesca. As batatas são do tamanho de uma cabeça. Todos os dias mata-se um porco e toma-se o melhor dos vinhos. E a maioria das panelas são pequenas para caberem as patas, os fígados e as cabeças. João, não te faz esperar porque o navio na Holanda nos espera”.
“No Brasil não se trabalha por uma remuneração miserável. A terra brilha de tanto ouro. Parece um pedaço do paraíso que Deus reservou para os pobres que, mergulhados em profunda miséria, o imploram todos os dias por uma migalha de pão. Há tempo de descanso para todos”.
Uma outra canção muito apreciada e muito popular, repetia o estribilho: “O Brasil não dista muito daqui”. Sobre essa canção informa Bösche que a escutou no navio como se fossem “urrros assustadores”, ao embarcar em 1824 em Hamburgo. Num livro sobre o Rio de Janeiro em 1829, relata-se que os viajantes podiam escutar a “bela canção”, vindo do navio. O Dr. Blumenau observou que na década de 1820, quando essa canção se encontrava no auge, do como ela pintava aos imigrantes o Brasil, como um Eldorado, como um paraíso. Bastava chegar lá par se tornar um homem rico e feliz. Ainda em 1851 os soldados da “Legião Alemã” a cantavam.
Tem a sua origem no Hunsrück uma canção de conteúdo religioso, tentando convencer que o emigrar significava atender a um chamado de Deus. Reproduzo algumas estrofes como amostra.
“Fomos chamados por Deus, pois de outra forma não teríamos chegado à essa decisão. Por isso cremos e a Seu mando emigramos. Deus falou a Abraão. Sai da tua terra e vai para a terra que te mostrarei, guiado por minha forte mão. Também nós confiamos firmemente em Deus e na sua sagrada palavra. Movidos por ela partimos para o Brasil. Também nós confiamos firmemente em Deus. Enfrentemos, portanto, a viagem e vamos para o Brasil.
De uma coletânea publicada em 1830 extraímos algumas amostras que retratam muito bem o clima de expectativa, o nível de um exagero beirando o irracional, ao ponto de fazer transparecer um tom de deboche, emprestado a um número de versos e poesias inteiras. Esses apelos circulavam em bom número praticamente em todas as regiões donde partiam contingentes importantes de emigrantes, como Odenwald, Baixa Saxônia, Hunsrück, Romênia, Rússia e outras.
“Chegou o momento e a hora. Vamos para a América. Os cavalos estão prontos. Partiremos para uma terra estranha. Amigos que nos conhecestes, apertemo-nos as mãos pela última vez, não choremos, não choremos demais, vemo-nos hoje e nunca mais”.
“O café amadurece em todos os arbustos e seu consumo está ao alcance de qualquer um. O trigo turco é sadio. Muitas vezes uma única espiga pesa até três onças”:
“Lá os peixes são grandes, como fomos informados e podem ser apanhados com a mão. Não raro as carpas pesam até meio quintal”.
“Batatas há que como se fossem massa-pão. Em cada pé há três alqueires delas. Partimos para a terra sempre verde, onde as rosas florescem até no inverno”.
Os emigrantes de Odenwald partiam para a viagem, cantando:
“Quando o navio vem navegando pela margem, entoa-se uma canção!.
Os alemães do Volga cantavam.
“A carroça está pronta à porta. Partiremos com mulher e filhos, partiremos para a terra prometida; lá o ouro é abundante como a areia. Trallala, Trallala, sem demora estaremos em Brasilia”.
Consta ainda uma outra canção cantada entre os alemães russos, apontando sem reticências os motivos da emigração. Fala dos privilégios que Catarina, a Grande, concedera para atraí-los para as colônias do Volga e a posterior retirada dos mesmos pelo Czar.
“O manifesto da Imperatriz dirigia-se aos alemães. Convidava-os para semear pão e plantar videiras; convidava-os para serem colonos”.
“Deixamos a nossa terra e partimos para a terra dos russos; os russos muito nos invejaram, porque por tanto tempo estávamos livres (do serviço militar). Com astúcia conseguiram que não deveríamos continuar como colonos. Ah, sim, já não somos colonos e obrigaram-nos a carregar uma arma. O que aconteceu com a história da inveja, foi destruir o manifesto”.
“Se nos pretendem acorrentar, quebramos as correntes. Não queremos ser russos, queremos permanecer alemães”.
“Aqui na Rússia não se pode viver, porque à força nos fazem soldados. O que conseguimos economizar, a viagem para o Brasil consome, a viagem para a terra onde não há inverno”.
“Chegando na cidade de Hamburgo, nosso dinheiro nos será tirado. Na travessia do oceano, nossa bolsa se esvazia”,
Da Alsácia vem os versos.
“Quando chegamos no mar nossas bolsas estavam vazias”.
Do Hunsrück vem a observação.
“Os preguiçosos não se conseguem estabelecer e por isso viajam para o Brasil”.
E de um desconhecido vem a crítica à terra natal.
“Seja feliz terra natal mal-agradecida. Vamos para uma outra terra. Vamos a Brasilia. Para trás deixamos as dívidas”. (cf. Fouquet, 1974, p. 80-82).
E para encerrar a parte da propaganda, vale a pena reproduzir um fragmento dos apelos feitos aos judeus da Rússia emigrados para o sul do Brasil. As terras do outro lado do oceano eram pintadas como intermináveis, não custando quase nada, a natureza exuberante, a abundância sem fim, o clima paradisíaco. Tudo isso incentivava a imaginação desses camponeses à beira do desespero e os levou a cultivar esperanças impossíveis e francamente absurdas. Embarcavam com as mulheres e os filhos pois, na outra banda do Atlântico os aguardava, senão o paraíso perdido, pelo menos uma existência menos atribulada do que aquela que levavam sob o tacão do Czar.
Embutidos na propaganda da época explorava-se até o inverossímil, uma série de apelos muito caros aos judeus. No interior do Nordeste estaria localizada a terra de Ofir. Da mesma forma ter-se-iam refugiado em alguma parte na América as tribos perdidas de Israel. De alguma maneira o rei Salomão estaria relacionado com o rio Solimões e Cristovão Colombo teria sido um judeu que, antes de mais nada, recebera a missão de encontrar terras para que os judeus pudessem viver em paz, longe dos tentáculos da inquisição, num lugar, enfim, onde houvesse condições de recuperar a identidade e auto estima.
É da autoria de Marcos Folowitsch a matéria de propaganda: “Numa clara manhã de abril (...) quando a estepe começava a reverdecer na alegre entrada da primavera, apareceram em Zegradowka, pequena e risonha aldeia russa da província de Kersau, lindíssimos prospectos com ilustrações coloridas descrevendo a excelência do clima, da fertilidade da terra, da riqueza e variedade da fauna, da beleza e exuberância da flora de um vasto e longínquo país, chamado Brasil”.
No cartaz destacava-se : “Sob o céu azul e distante, de um azul muito doce, um lavrador, chapéu de abas largas, camisa arreganhada, empunhando encurvado, as rabiças de uma arado puxado por uma junta de bois, revolvendo a terra virgem. Um pouco mais longe, no fundo, o ouro vegetal de extensos trigais maduros. Mais além ainda, azulados pela distância, coqueiros, palmeiras e florestas misteriosas. E, no primeiro plano, destacando-se em cores vivas, um enorme pomar em que predominavam as laranjeiras e na sua sombra porcos comiam lindas laranjas caídas no chão”. (Fouquet, 1974, p. 89-91).
É fácil imaginar o efeito que um cartaz de propaganda desses exerceu sobre o ânimo dos miseráveis camponeses judeus da Rússia. Havia em primeiro lugar, a esperança bem fundamentada de se tornarem donos de um pedaço de terra de dimensões nem sequer sonháveis na terra natal. Havia em segundo lugar, o fascínio de viver numa terra na qual encontrariam um clima acolhedor e uma natureza excepcionalmente pródiga; chamava-os em terceiro lugar, a terra virgem e fértil, garantia maior de uma alimentação farta; chamava-os em quarto lugar, um autêntico paraíso, onde as laranjas, fruta símbolo da nobreza e prodigalidade da natureza, serviam de alimento aos porcos, animais desqualificados e impuros para os judeus. Se sobravam laranjas até para os porcos, o que um judeu não se poderia permitir esperar?.
Motivações semelhantes incendiavam a imaginação e as expectativas dos camponeses da Polônia, subjugados pela Prússia, Rússia e Áustria. A mesma quimera que motivou dezenas de milhares de aldeões de Cremona, Veneza, Trento, Trevisio, Bérgamo e demais regiões do norte da Itália, cantar o refrão: “Merica, Merica, Merica” ... e peregrinar em massa até os portos do Mediterrâneo e enfrentar a longa travessia do oceeano nas piores condições imagináveis.
E assim, alemães, suíços, russos, judeus, poloneses, austríacos, italianos e muitos outros emigraram para o Brasil, perseguindo cada qual à sua maneira, um sonho e uma utopia.
Depois de mostrar que a propaganda nas suas mais diversas formas e modalidades contribuiu como instrumento para estimular a emigração europeia, cabe a pergunta:
E como foi a realidade encontrada ao desembarcarem no sul do Brasil?
Em grandes linhas a realidade encontrada foi a mesma para todos. Merece atenção, em primeiro lugar, a realidade geográfica. As terras destinadas aos imigrantes pelo governo imperial, concentravam-se no sul do país, em áreas cobertas por florestas subtropicais de difícil penetração. Encobriam solos de alta fertilidade e o clima ameno permitia uma grande variedade de culturas. Essas florestas haviam ficado, até então, à margem dos interesses do Brasil Colônia. Eram impróprias para a criação de gado. Os invernos de até zero graus desaconselhavam culturas como café, cana de açúcar e algodão, as grandes vedetes da economia nacional de então. De outra parte essa região de florestas ficara à margem dos interesses porque em seu sub solo não havia jazidas de minerais importantes, nem pedras preciosas, nem ouro. As madeiras e demais essências vegetais também não ofereciam perspectivas de aproveitamento econômico em escala maior.
Pois, foram essas florestas ou matas virgens, que cobriam aproximadamente metade das terras destinadas aos imigrantes. Com isso estava posto o cenário geográfico com o qual seriam obrigados a conviver e nele construir o seu futuro. E foi neste momento que a dura realidade começou a tomar o lugar do cenário construído a partir das propagandas que lhe haviam incendiado a imaginação. Na verdade, a floresta que encontraram era imensa, impressionante, majestosa e fascinante de um lado. Do outro, porém, a mesma floresta inspirava temor, ocultava incógnitas, despertava suspeitas de que em suas entranhas escondiam-se as surpresas mais inesperadas.
Um dos primeiros desafios consistiu em aprender a lidar com a floresta, encontrar a forma menos trabalhosa para limpar um eito de mato, pôr abaixo as árvores maiores, deixar livre o solo fértil e semear a primeira colheita. Além de lidar com a floresta havia ainda os predadores naturais que dizimavam as colheitas, os animais domésticos e não raro punham em risco a vida das pessoas. E para tornar a situação ainda mais dramática, os imigrantes não encontraram nem métodos nem pessoas em quem se pudessem inspirar ou a quem recorrer. Como única maneira de lidar com a mata virgem conhecia-se a coivara, isto é, a derrubada de uma porção de mato e a posterior queima quando seco. Este método usado pelos dos índios, foi universalmente adotado pelos imigrantes como forma de lidar com a floresta.
Havia ainda um outro obstáculo a ser enfrentado e vencido. Nas matas do sul do Brasil haviam-se refugiado dezenas de tribos de indígenas. Tratava-se das sobras e sobreviventes do período missioneiro, dos caçadores de escravos e do avanço da ocupação europeia, principalmente dos açorianos nas estâncias de criação de gado da fronteira sul e dos campos de cima da serra. Seminômades deslocavam-se pelas matas alimentando-se de frutas silvestres, dos pinhões das florestas de araucárias e da caça. Quando os colonos começaram a se instalar na região, suas plantações de milho, mandioca e feijão, tornaram-se alvo frequente das incursões dos assim chamados “bugres”. Confrontos diretos com os colonos ocorreram, mas de forma esporádica. Há registro de alguns assassinatos de colonos e o sequestro de mulheres e crianças. No Rio Grande do Sul não há registro de expedições organizadas para manter os “bugres” afastados ou dizimá-los. Já em Santa Catarina a caça ao índio tornou-se prática em algumas regiões. Mas o que nesta questão merece destaque é que os “bugres”, pelo princípio do “ius primi possidentis”, eram os donos legítimos daquelas florestas. Mas como no Brasil da época a posse se dava pela ocupação e não pela compra, a lógica mandava conceder aos nativos pelo menos determinadas áreas a título de posse com valor legal. De outra parte os imigrantes foram instalados na região, no contexto de uma colonização oficial. No início as terras lhes foram dadas pelo Império dono delas e mais tarde adquiridas por compra. Ninguém, portanto, poria em dúvida a legitimidade da posse por parte dos colonos. De qualquer forma, o conflito se instalou e por várias gerações a referência aos “bugres”, punha os colonos em alerta, mesmo quando há décadas eles já não vagavam mais pelas florestas que esperavam pelo machado dos imigrantes.
Sob esse pano de fundo fica mais do que claro que a propaganda incentivando a emigração, não passava de um engodo, de uma mistificação. As terras, sem dúvida, eram abundantes, oferecidas de graça no primeiro momento. Os solos eram altamente férteis e o clima permitia a produção de alimentos praticamente o ano todo. Todo o restante que a propaganda sugeria esboroava-se, desfazia-se na medida em que os imigrantes tomavam contato com a nova realidade. Não encontraram nem ouro, nem prata, nem pedras preciosas. A fartura em alimentos era possível, mas com muito suor e sangue. Não havia escola nem igreja, não havia comunidade organizada. Era preciso erguer o primeiro abrigo para a família utilizando varas do mato, cipós e folhas de palmeira e abrir as primeiras trilhas na mata virgem. Não havia nem médicos nem hospitais.
Esse quadro assumia contornos ainda mais dramáticos quando se considera o entorno social em que os imigrantes foram assentados. O sul do Brasil na época era uma área de fronteira em disputa, povoada por luso-brasileiros, mestiços, castelhanos e tribos dispersas de índios, cujas línguas e costumes não tinham nada a ver com os dos imigrantes. A região estava mergulhada em permanentes escaramuças e guerras de fronteira, entre lusos e castelhanos. Entre 1835 e 1845 aconteceu a Guerra dos Farrapos e por algum tempo foi declarada a independência do sul do Brasil do Império brasileiro. Além das dificuldades apontadas mais acima, foram forçados a aprender a conviver e a participar desse cenário tumultuado na nova pátria.
Como é fácil concluir a propaganda que moveu as populações centro-europeias a emigrar para o sul do Brasil, pintou uma realidade totalmente ilusória, acenou com a solução fácil de todos os problemas, com a superação de todas frustrações, com a troca de uma situação de desespero, para a de um paraíso distante e possível. Se tudo isso não passou de uma ilusão, de uma mistificação, houve contudo algo de real e objetivo. No sul do Brasil encontravam-se em potencial as condições, os pressupostos para começar uma nova vida, para construir um futuro promissor. E os imigrantes, passado o primeiro susto, puseram mãos à obra e, com denodo, com perseverança, com a obstinação peculiar ao camponês, enfrentaram os obstáculos e as hostilidades e terminaram por transformar o sul do Brasil na região mais próspera e mais desenvolvida do país.