Archive for julho 2014

Religião e participação política


Jean Roche, na sua obra “A colonização alemã no Rio Grande do Sul”, tornada clássica e obrigatória para todo aquele que pretende compreender o significado da presença alemã no Estado, resumiu suas considerações  sobre a participação política dos imigrantes e seus descendentes, na constatação: “Durante todo  o século XIX e quase toda a primeira parte do século XX, o papel político  dos teuto-riograndense foi quase nulo”.
Vários foram os fatores que contribuíram para essa situação. Ente eles merecem atenção os seguintes. Primeiro, os grandes latifundiários, os estancieiros criadores de gado, controlavam, de fato, toda a política local, regional e por vezes também nacional. As estâncias  haviam-se transformado em autênticos  feudos dos quais emanava todo o poder político  e a partir delas, eram ditadas as regras e diretrizes da ação política. Ao colono alemão e aos demais imigrantes não restava outra saída a não ser entrar no jogo das oligarquias estancieiras ou permanecer à margem do jogo político. Segundo, na região colonial que na época estava confinada, grosso modo, nos vales do Sinos, Caí, Taquari, Pardo e Jacuí, assim como nas comunidades urbanas das cidades menores, os alemães preservavam a sua feição germânica. O contato e intercâmbio com o mundo luso-brasileiro não passava de episódico e superficial. Para os detentores do poder político, essa população praticava uma economia de baixo potencial de competição, comparada com a criação de gado nas estâncias. Falava alemão e não oferecia ameaça política embora pudesse contribuir com um precioso reforço eleitoral, quando seus interesses estivessem em jogo. O Pe. Schupp descreveu assim a situação:
“Nos primeiros tempos certamente nenhum alemão da colônia teria alimentado a veleidade de participar ativamente na vida oficial do Estado, pela simples razão de dificilmente encontrar-se alguém que compreendia português. Só era possível encontrar candidatos para determinadas funções que, pela sua natureza, podiam ser exercidas na própria colônia. De outra parte não faltavam os padres que por razões  muito ponderáveis defendiam esse isolamento. Tal situação foi superada com o correr do tempo. Generalizou-se a convicção de que o colono, caso quisesse fazer valer seus direitos, teria que apropriar-se da língua em nível suficiente”.

Um terceiro fator merece destaque. É conhecido que um dos propósitos para promover a colonização por imigrantes europeus  não lusos, consistiu em povoar  as regiões devolutas e estimular uma agricultura alternativa aos latifúndios monocultores. A intenção do governo foi convidar alemães para serem colonos e não servirem de fermento, com vistas a uma transformação do modelo político. Mas o nível de desenvolvimento e o volume da produção agrícola, o comércio, os artesanato e as indústrias incipientes, somados à organização comunal, educacional e eclesiástica, fizeram com que os alemães católicos não se contentassem mais em fazer o papel de meros espectadores do processo político. Aspiravam por uma participação política mais ativa e, desta forma, influir nas decisões do governo e da administração pública. A este terceiro fato somou-se um quarto, de importância decisiva para os católicos. A Monarquia, regime em que vigorava a união da Igreja e do Estado foi substituída pela República e a consequente implantação do Estado laico, sob muitos aspectos desfavorável e não raro hostil à Igreja Católica. A nova situação exigia dos católicos uma posição política mais definida e mais combativa. Foi preciso partir em busca de um caminho adequado para conviver com a nova realidade nacional.
No terreno da participação política, os católicos alemães do Rio Grande do Sul, buscaram inspiração no Partido Católico do Centro da Alemanha. Assim, em 1890 foi fundaram o Partido Católico do Centro, como agremiação política, da qual participariam também os católicos das outras etnias presentes no Estado,  para fazer frente a uma série de medidas republicanas que incomodavam os católicos: a obrigatoriedade do casamento civil antes do religioso, a legislação dos cemitérios, a inelegibilidade do clero, a proibição do ensino religioso nas escolas públicas e outras tantas. O Partido Católico do Centro participou da eleição dos integrantes da Constituinte Federal e Estadual. Na primeira não elegeu nenhum representante e na segunda três, mas em coligação com o Partido Republicano, aliança que lhe valeu a descaraterização e decretou seu fim prematuro. Constava das intenções do Partido do Centro um projeto de jornal no qual seriam publicados jornais nas três línguas mais importantes do Rio Grande do Sul: “A Época”, “Il Corrieri Cattolico” e “Deutsches Volksblaltt”. Este último estava sendo publicado pelos padres jesuítas em São Leopoldo desde 1871. Para dar maior solidez ao empreendimento editorial foi criada uma sociedade anônima que deu continuidade ao “Deutsches Volksblatt” e, a partir de maio de 1890 as edições semanais de “A Época” e a partir de meados de 1891 do “Il Corrieri Cattolico”. Os jornais defendiam como pontos programáticos (cf. Gertz): 1. Liberdade religiosa para o catolicismo, sem a intromissão do estado; 2. Isenção do serviço militar para clérigos e seminaristas;  3. Intangibilidade e garantia para as propriedades eclesiásticas, inclusive as das comunidades locais; 4. Fim das escolas ateias mantidas pelo Estado; 5. Fim da obrigatoriedade do casamento civil.
Diante da evidência de que um Partido Católico não era um bom caminho para  os católicos fazerem valer seus direitos e suas reivindicações, suas lideranças partiram para outras iniciativas de arregimentação. Testaram o modelo dos “Katholikentage” – “Congressos Católicos”, muito populares na Alemanha, Suíça e Áustria. A primeira experiência realizada em Bom Jardim (Ivoti) mostrou-se promissora e o programado 1898 para Harmonia, foi um sucesso. De ano em ano e mais tarde de dois em dois anos, esses Congressos repetiram-se até 1940, quando foram vítima da Campanha de Nacionalização e da Segunda Guerra Mundial. Foi em meio aos debates e  às análises das questões importantes que afetavam  as comunidades rurais e urbanas, que resultaram políticas comuns para solucionar os desafios que diziam respeito  a todos, como  Educação, Saúde, Abertura de novas fronteiras agrícolas, modernização da produção agrícola, Incentivo à cultura e não em último lugar o aprofundamento da religiosidade, com ênfase à vida sacramental e à instrução religiosa. No Congresso dos Católicos em 1900 em Santa Catarina da Feliz foi criada a Associação Rio-grandense de Agricultores, “O Riograndenser Bauernverein” e depois que esta foi transformada em Sindicato em 1909, foi substituída em 1912, no Congresso dos Católicos em Venâncio Aires, pela Sociedade União Popular, “O Volksverein”. Essas duas organizações cumpriram a dupla tarefa de concretizar os grandes projetos de desenvolvimento social e econômico propostos pelos Congressos e, ao mesmo tempo, atuar como uma poderosa força política informal que não podia ser ignorada pelos partidos convencionais, na primeira metade do século XX.










A Religiosidade no quotidiano dos imigrantes


A história da humanidade é uma história de migrações e seus efeitos. É assim que  Karl Fouquet começa o seu livro: “A contribuição alemã para a construção da nação brasileira”, por ocasião do sesquicentenário da imigração alemã no Brasil. Várias coisas merecem destaque  nesta colocação. Em primeiro lugar, o homem como sujeito e ator da história é, e sempre será, um eterno migrante, um forasteiro, um peregrino sempre a caminho. Em segundo lugar, a pergunta: porque afinal o homem migra? A resposta deve ser procurada  na própria natureza humana, em constante busca de realização, em busca do aperfeiçoamento. É por essa razão que o homem não se cansa em melhorar a segurança e o bem estar material; vai à procura da inserção num relacionamento social que lhe assegura um convívio frutífero com seus semelhantes; busca  aperfeiçoar-se culturalmente apropriando-se de sempre novos conhecimentos; procura o equilíbrio interno de suas demandas psicológicas; e, de modo especial, administrar  os mistérios e as incógnitas da vida, da natureza e do universo por meio de  crenças, rituais, atitudes e práticas religiosas. Os teóricos que se ocuparam com o fenômeno da migração, tentaram, cada qual a partir do ângulo em que analisou o fato, identificar os motivos, ou o motivo, porque o homem migra. Para o economista, o homem migra para prover as necessidades materiais do dia a dia; para o sociólogo, o homem migra para livrar-se de uma situação social que o impede de beneficiar-se com o convívio dos seus semelhantes. Mesmo que esses motivos e outros tantos, representem o momento da tomada de decisão para migrar, no fundo, no fundo, uma motivação permeia todas as outras. Resume-se na tendência, no instinto do homem em concretizar a sua realização existencial. Os romanos, na sua proverbial capacidade de formular máximas sábias, legaram uma que expressa na plenitude conceitual, a razão porque o homem migra: “Ubi bene, ibi patria”  - onde o homem se sente bem aí está a sua pátria.
Qualquer que seja a situação que leva o homem a migrar, implica em decisões acompanhadas de consequências mais ou menos traumáticas. Como ponto de partida cobra do migrante o abandono e a renúncia à terra natal e todo seu entorno humano e sua história. Trata-se sempre de um desenraizamento e de um transplante movido pela esperança de encontrar a realização, a segurança e a felicidade em outra parte. A nossa atenção centra-se nas migrações transoceânicas durante  o século XIX, período em que a Europa Central e do norte, expeliu  seus excedentes populacionais, para todos os quadrantes do planeta, de modo especial para as três Américas. Não é difícil imaginar o que significou na época e nas circunstâncias de então, uma viagem da Europa para o sul do Brasil. As viagens duravam meses dos portos alemães e holandeses até o Rio de Janeiro e, finalmente, para Rio Grande,  Porto Alegre e São Leopoldo. Era tarefa para homens e mulheres em grandes dificuldades, mas decididos em busca de uma saída, movidos por uma fé inabalável em si mesmos mas sobretudo uma profunda fé em Deus. Cristãos que eram, protestantes e católicos, encaravam o migrar como uma autêntica peregrinação em busca da terra prometida. Um canto entoado pelos emigrantes do Hunsrück, dizia:
Fomos chamados por Deus, caso contrário, a nossa peregrinação não teria sentido.
Acreditando Nele nos pomos a caminho.
Deus falou a Abraão: deixa a tua terra e parte para aquela que, com minha mão forte, te mostrarei. Também nós acreditamos na Sua poderosa voz. Por isso partimos daqui em busca do Brasil distante.
Os imigrantes serviram-se de duas armas para enfrentar o desconhecido e as transformaram em lema: “ora et labora” – “reza e trabalha”. Práticos como eram esses camponeses, sabiam muito bem que a oração sem o trabalho não passa de alienação e o trabalho sem a oração num fardo insuportável. E no seu quotidiano como é que os imigrantes concebiam a punham em prática o binômio “Reza e Trabalha”. Para responder a essa pergunta, é preciso entender a cosmovisão própria do camponês, do agricultor ou do colono. O contato diuturno com a natureza, com a “mãe terra”, ensina-lhe que entre ele e o mundo que o rodeia, há uma relação existencial. A vida e o bem estar dependem  dos animais, das plantas, do sol, da lua do calor, do frio, da alternância das estações, etc. E assim o sol e a lua com seus ciclos regulares, a cadência da natureza, deixam de ser apenas fenômenos naturais, para se transformar no palco  em que a existência do homem se torna possível. E nesta relação simbiótica o homem constrói sua cultura, sua história, seu imaginário, sua simbologia, sua mitologia, suas crenças, sua religião, sua religiosidade, seus rituais, seus princípios éticos. Tudo que o rodeia se anima e se personaliza, de acordo com o significado material, mágico ou religioso de que vem revestido. As realidades naturais e os fenômenos que as acompanham, assumem vida e importância pelo que representam no quotidiano e pelo que sugerem à imaginação. Essas observações aparentemente talvez não tenham nenhuma ou pouca relação com a religiosidade dos nossos antepassados. Na verdade, entretanto, suas vidas foram vividas e suas histórias  construídas, ressalvadas as peculiaridades históricas e geográficas.
A religiosidade dos indivíduos e das comunidades dos imigrantes identifica-se em dois níveis. O primeiro, o mais visível, a qual normalmente serve de termômetro para avaliar o grau e a profundidade  da religiosidade, são as práticas religiosas formais como a frequência às missas e cultos, novenas procissões, orações da manhã, nas refeições, antes de dormir, etc. Caracterizam à sua maneira, cada uma das tradições mais importantes de que nos ocupamos aqui: a luso-brasileira, a alemã evangélica e a alemã católica. O segundo, que poderíamos chamar  de respostas informais de natureza religiosa que costumam manifestar-se espontaneamente diante das situações mais inusitadas que costumam acompanhar o quotidiano das pessoas. Uma surpresa agradável, uma notícia triste, uma catástrofe natural, um espetáculo da natureza, a contemplação de uma flor, o caminhar por uma plantação amadurecendo, a satisfação com uma boa colheita. Esses cenários e dezenas de outros costumam ocasionar  momentos de irrupção da religiosidade na sua forma mais espontânea e, por isso mesmo, mais autêntica. É neste plano que se manifesta a verdadeira religiosidade. No momento em que a pessoa percebe que as fórmulas feitas, já não dão conta do que sente e intui, recorre à espontaneidade que tem na oração do silêncio a sua manifestação mais eloquente. Fórmulas e versos atrapalham e, tanto o homem simples quanto o colono com a enxada ou o machado na mão e quanto o sábio e o cientista, munido da pena e do computador, refugiam-se na reflexão silenciosa que os põe em sintonia com a natureza, e nas suas manifestações mais prosaicas e  mais grandiosas, escutam a voz de Deus. O Dr. Francis Collins, diretor do Projeto Genoma, responsável pelo mapa  genético do homem, em seu livro “A Linguagem de Deus”, caracterizou o tipo de religiosidade de que estamos falando:
“Depois que passei a acreditar em Deus, empreguei um tempo considerável tentando apreciar as características Dele. Conclui que Ele deve ser um Deus que se preocupa com as pessoas. Também conclui que Deus deve ser santo e justo, já que a Lei Moral me chama nessa direção. Contudo isso me parecia uma abstração terrível. O fato de ser bom e amar as suas criaturas não significa, por exemplo, que tenhamos a habilidade de nos comunicar com Ele, ou que tenhamos um tipo de relacionamento com Ele. Descobri, porém, uma sensação crescente de anseio por essas coisas, e comecei a perceber que é para isso que sevem as orações. A oração não é, como alguns parecem sugerir, uma oportunidade para manipular Deus para que Ele faça o que você quer. Em vez disso, trata-se de uma forma de buscar uma afinidade com Deus, aprender com Ele e tentar perceber o ponto de vista Dele, sobre vários assuntos ao nosso derredor, que nos deixam confusos, em dúvida e em sofrimento”. (A linguagem de
Deus. Francis Collins, Edit. Gente, São Paulo, 2007)


Palestra proferida, da Associação das Comunidades Teuto-Brasileiras  do Litoral Norte, no Encontro em São Pedro de Alcântara.





A Igreja dos imigrantes

Os imigrantes alemães, italianos, poloneses e outros, destacavam-se pela religiosidade profunda e sólida. As convicções doutrinarias e os princípios éticos e morais, desempenharam um papel fundamental na moldagem  da fisionomia sócio cultural da população imigrantes no Brasil. A pergunta ser feita pode ser esta: como foi a Igreja que os imigrantes encontraram e como foi a Igreja que trouxeram e terminaram por implantar, não só nas regiões em que somavam maioria, como também em outras em todo o território nacional; quais foram as características da Igreja de tradição luso-brasileira que os imigrantes encontraram?; como foi a Igreja  dos imigrantes alemães, italianos e poloneses católicos?; como foi a Igreja dos imigrantes alemães protestantes?
O modelo predominante que de Igreja que os imigrantes encontraram no Brasil, ostentava as marcas peculiares das circunstâncias históricas em que se desenvolveu. No Brasil vigorava o Padroado e com isso o Imperador estava investido também da prerrogativa de chefe da Igreja e da religião oficial que era a católica. A criação de dioceses, paróquias e capelanias requeria a chancela da autoridade civil. A nomeação de bispos, párocos, capelães e demais postos da hierarquia, dependia da aprovação oficial.  A união entre Igreja e Estado, transformara o catolicismo em religião oficial, fazendo com que as demais não fossem reconhecidas e seus atos considerados nulos ou ilegais. Aos protestantes, por ex., estava vedado  o sepultamento nos cemitérios oficiais, os casamentos considerados concubinato, o batismo sem valor legal e seus lugares de culto não podiam exibir a aparência de templo. Essa realidade condenou à marginalidade especialmente os imigrantes alemães protestantes. Algumas brechas e alguns arranjos introduzidos na legislação, fizeram com nas décadas finais do Império a situação dos protestantes fosse menos desconfortável. Em poucas palavras, os imigrantes católicos encontraram uma Igreja sujeita, submissa e dependente dos caprichos dos governantes e administradores civis, na qual a doutrina e os bons costumes pouco ou nada decidiam. O Imperador era, na verdade, a autoridade maior, enquanto que Roma se limitava a ratificar os atos dos verdadeiros detentores do poder, tanto civil quanto religioso. O tipo de clero que respondia pela cura de almas deve ter causado, no mínimo, surpresa para os católicos vindos da Europa do norte e central. A disciplina clerical não era seu forte. Um bom número de sacerdotes era filiado à maçonaria. Outros tantos dedicavam-se a política, eram fazendeiros ou centravam seus interesses em qualquer outra ocupação, menos a cura de almas. A situação do padre com companheira, e via de regra com filhos, já não causava surpresa.  Os fiéis não só toleravam o fato, como o aceitavam e aprovavam. Os imigrantes defrontaram-se, portanto com uma Igreja sufocada por uma mentalidade que se esgotava em rituais e manifestações em que o profano mascarava o religioso, uma Igreja sem vida sacramental. A essa Igreja os imigrantes católicos contrapuseram a Igreja da Restauração e os protestantes a Igreja da Reforma.
A situação peculiar da Alemanha de maioria protestante, onde o iluminismo e o racionalismo dominavam as elites intelectuais e seus projetos políticos e culturais, obrigou os católicos e suas lideranças a se firmarem em bases  doutrinárias e disciplinares sólidas. Aderiram ao movimento conhecido como Restauração Católica. Em poucas palavras esse movimento tinha como pontos centrais: a retomada da fé, doutrina, moral e a disciplina do Concílio de Trento; a obediência incondicional ao romano pontífice e aos bispos; a distância das autoridades civis;  a rejeição da ingerência do Estado na vida e nos assuntos da Igreja. A Igreja Restaurada caracterizou-se pela grande importância que emprestou às práticas religiosas. De modo especial insistia na frequência regular da missa dominical e nos dias santificados e na prática da religião centrada numa intensa vida sacramental. O batismo deixou de ser um mero ritual de legitimação social, para assumir o seu verdadeiro significado de sacramento. Os sacramentos da penitência e eucaristia, ausentes  na Igreja da tradição luso-brasileira, transformaram-se no verdadeiro termômetro da prática religiosa. O fervor dos fiéis era medido pela assiduidade à confissão e da eucaristia. Não era visto como um bom cristão católico aquele que não cumprisse a desobriga pascal, isto é, que não se confessasse e comungasse pelo menos uma vez ao ano no período pascal. O fervor religioso, a vida sacramental e a fidelidade à ortodoxia eram estimulados por uma série de instrumentos específicos. Sobressaiam entre eles: as Congregações Marianas; o Apostolado da Oração; Associações dedicadas à devoção ao Sagrado Coração de Jesus; Associações de crianças tendo como objeto a veneração do Menino Jesus;  as Organizações de Mães; a Organização de Operários Católicos; a Ação Católica praticada de preferência por jovens das diversas categorias: a Juventude Universitária Católica (JUC), a Juventude Estudantil Católica (JEC), a Juventude Agrária Católica (JAC),  a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Católica Independente (JIC).

Com a abertura dos portos para todos os países pelo Edito Real de 28 janeiro de 1808, franqueou-se o comércio do Brasil a países predominantemente protestantes. O Decreto promulgado em 25 de novembro liberava o comércio e a indústria a todos os imigrantes, independente de raça e religião. A exigência de que a imigração em grandes grupos deveria ser exclusiva de católicos romanos, não foi respeitada. Os acatólicos que foram entrando no Brasil, via comércio, formavam pequenas comunidades urbanas que se reuniam em locais de culto que não podiam mostrar  aparências externas de templo. Somente a partir de 1824 começaram a ser postas as bases para uma Igreja Protestante no verdadeiro sentido, dotada de uma relativa  unidade doutrinária e de disciplina religiosa. A bases para essa Igreja foram os imigrantes protestantes alemães, vindos em levas sucessivas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, somando 54% contra  46% de católicos na média geral. Em 1900 estabeleceu-se no Estado também uma filial do Sínodo de Missouri. A Igreja Protestante implantou, desde  o começo, comunidades bem estruturadas, em torno de suas igrejas, cemitérios e escolas. Sob este aspecto as comunidades protestantes e católicas quase não se diferenciavam, ainda mais que em muitas linhas e picadas ocupavam o mesmo espaço comunal. Diferente dos católicos, os protestantes contaram desde o começo com uma assistência religiosa mais ou menos regular. Tanto assim que na primeira leva de imigrantes encontrava-se um pastor, enquanto os católicos contaram com esse privilégio somente a partir de 1849, com a vinda de jesuítas alemães.

Até a chegada do pastor Borchard a São Leopoldo em 1864, os protestantes estavam organizados em comunidades livres e independentes, entregues aos assim chamados “pastores-colonos”, ou “pseudo-pastores”, carentes  de uma preparação adequada e sem investidura oficial para exercer a função. Até aquele momento nenhuma das igrejas territoriais da Alemanha se tinha preocupado com seus membros emigrados. As comunidades independentes com seus pastores sem a devida preparação, terminaram por consolidar seus próprios referenciais de fé, doutrina e disciplina religiosa. Sem uma Igreja que lhes desse respaldo, tudo dependia da atuação do pastor e do empenho da comunidade. O resultado foi que as comunidades se comportavam como mini igrejas independentes. O choque entre os pastores ordenados e as comunidades independentes e seus pastores foi inevitável. Mas de qualquer forma a partir da década de 1860 a Igreja Luterana de Confissão Evangélica vai sendo moldada numa grande unidade eclesiástica que culmina com a fundação do “Sínodo Riograndense”  em 1886 pelo pastor Wilhelm Rotermund. Resguardando a autonomia comunitária local da velha tradição dos imigrantes, controlada agora pelo pastor formado na Europa o qual devia ser concomitantemente  o elo de ligação com a hierarquia geral, inspirou organizações similares em outras partes do Brasil.

O caixeiro viajante

Ao mesmo tempo em que a região colonial se consolidava e começava a dar sinais evidentes de prosperidade, estabeleceram-se nos centros urbanos como Rio Grande, Pelotas e, especialmente, Porto Alegre, casas de importação e exportação dedicadas aos mais diversos ramos do comércio, ao lado de estabelecimentos comerciais de todos os tamanhos e feitios. No começo Rio Grande era o único porto marítimo do Rio Grande do Sul e liderava o grande comércio ligado à importação e exportação.  Em Pelotas localizavam-se  os grandes abatedouros, em  torno das quais nasceram indústrias alemãs que manufaturavam: sebo, vísceras, patas, ossos, chifres, e demais sobras, transformando-as em sabão, velas, cola, farinha  de osso, adubo, etc.
Dois fatores fizeram com que, a partir de 1850, Porto Alegre assumisse o papel de polo comercial e industrial maior do Estado, relegando Pelotas e Rio Grande para um segundo plano. Em primeiro lugar, foi o avanço da colonização para fora do vale do rio dos Sinos. No decurso da década de 1850, a porção média dos rios Caí, Taquari, Pardo e Jacuí até Santa Maria, foi sendo desbravada. Em poucas décadas os excelentes solos daquelas bacias fluviais transformaram-se em ricos celeiros de produção agrícola: feijão, milho, batata, mandioca, tabaco. O milho e a mandioca convertidos em banha de porco, um dos pilares da prosperidade da época. Feijão, banha e farinha de mandioca eram exportados em grandes volumes para o centro do País. Em segundo lugar, em meio ao avanço sobre novas fronteiras de colonização, definiu-se uma eficiente rede de comunicação e circulação de mercadorias, via fluvial com Porto Alegre. As cinco bacias fluviais principais, colonizadas por alemães no começo e poloneses, italianos, e outros a partir de 1870, formaram uma vasta região geoeconômica, que convergia para Porto Alegre, capital da Província, sede do governo e da burocracia oficial, centro financeiro, comercial e indústria e principal porto de navegação interna, porta de saída e entrada, via Rio Grande, para a exportação e importação.
Neste contexto, consolidou-se um complexa rede de comércio cobrindo toda a região colonial, tendo como ponto de convergência Porto Alegre, com as seguintes características. Nas picadas do interior estabeleceram-se casas de comércio locais, as “vendas” Elas compravam dos colonos os excedentes que eram entregues a estabelecimentos intermediários de maior porte, localizados junto a terminais de navegação: São Leopoldo, São Sebastião do Caí, Montenegro, Estrela, Lajeado, Mariante, Cachoeira do Sul. O mesmo papel desempenhavam as estações da ferrovia com seus ramais que começaram a cruzar a região a partir da década de 1870. Em barcos ou de trem as mercadorias seguiam até Porto Alegre onde eram entregues nas grandes casas de comércio aí sediadas. Toda essa movimentação dava-se também em sentido contrário abastecendo as demandas do interior colonial.
À primeira vista o esquema parece simples e funcional. Havia, porém, um questão fundamental a ser resolvida: o intermediários dos negócios, o personagem capaz de manter vivas e ininterruptas as relações comerciais entre todos os elos da cadeia. Entra em cena para exercer essa função o “Caixeiro Viajante” que percorria a região colonial e oferecia as novidades que estavam sendo colocadas no mercado pelas casas importadoras de Porto Alegre, para retornar à base com as encomendas. Foram circunstâncias todo peculiares sob as quais foi posto em movimento e se manteve o vínculo entre o nosso centro de comércio e o “Hinterland” mais afastado do Rio Grande do Sul. Para superar as dificuldades  dos comerciantes do interior e para assegurar o intercâmbio com o grande centro de comércio, utilizando os precários meios de transporte impôs-se, há muito tempo, a necessidade de fazer viajar representantes credenciados. Sua missão resumia-se na procura do “vendeiro” no seu próprio estabelecimento, oferecer-lhe a oportunidade de remeter seu dinheiro sem que fosse obrigado a abandonar o seu negócio por um tempo maior e encomendar as mercadorias, tomando como base as amostras apresentadas pelos caixeiros viajantes. Uma viagem  no lombo de uma mula até Cachoeira do Sul, Veranópolis ou Alegrete e Uruguaiana, por si só significava um desafio gigantesco. Exigia do Caixeiro um preparo físico e uma disposição psicológica fora do comum.
Falar em Caixeiro Viajante significa falar da natureza, da alma da prática comercial na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX e das relações da capital com o interior, do mundo urbano e do mundo rural. O caixeiro viajante Carl Naschold caracterizou a sua profissão e seus personagens no almanaque “Riograndenser Musterreiter”, em 1913:
A vida do Caixeiro Viajante rio-grandense é um maravilhoso poema. Quem sabe apareça alguém que reúna essa joia numa única canção, reúna numa única canção esse apetite indomado, essa atividade cheia de aventuras e persistência em meio a uma natureza toda peculiar, em meio a florescentes colônias alemãs e à Campanha rica em cidades. Benigno leitor queria emprestar asas à imaginação e deixar que cruzam as picadas alemãs, isto é, viajar comigo por uma daquelas estradas que cruzam as picadas alemãs. Vamos a cavalo e avançamos num trote lento e suave como é costume aqui, para não cansar demais o animal. À direita e à esquerda áreas de mato alternam-se com potreiros, roças cultivadas e moradias.. Estas costumam ficar a uma boa  distância umas das outras e um pouco recuadas da estrada. Um muro ou uma cerca protegem as moradias e os potreiros, evitando  que cavalos, reses, porcos e outros animais se evadam.

Aproximamo-nos de uma casa que fica perto da estrada. Diante da porta encontramos , em alguns casos sim em outros não, algumas árvores de sombra. O que nunca falta são postes e sobre eles traves transversais, ou pelo menos argolas para prender os nossos cavalos. Estamos diante de uma casa de comércio, de uma assim chamada “venda”. Apeamos pois a nossa intenção é conhecer caixeiros viajantes que têm como cenário de trabalho as vendas. A atenta dona da venda apressa-se em oferecer uma cadeira para a nossas bela leitora, para facilitar o desmontar com o vestido comprido. Na maioria dos casos, as mulheres das colônias costumam andar a cavalo com vestido curto, sendo que cavalgam bem à maneira dos homens. Saímos da luz ofuscante do dia e entramos na agradável penumbra da venda protegida da claridade com cortinas. Saudamos os presentes com um apeto de mão como é costume no País, quando se trata de alguma forma de conhecidos. Depois, sentamo-nos num banco em frente à mesa da loja, chamada balcão. As senhoras que nos acompanharam sentam-se em cadeiras que lhes são oferecidas. Pedimos uma garrafa de cerveja nacional pois, a cavalgada ao sol nos rendera uma grande sede. Para as senhoras há licor, água com extrato de framboesa e doces ...... Encaminhamo-nos até a porta e eis que se aproximam dois cavaleiros, chapéus de abas largas e caídas sobre a cabeça, um poncho esvoaçando ao vento, lenço no pescoço, botas de cano alto munidas com  grandes esporas, o relho, com a direita segurando o chicote de cabo curto, a pistola na guaiaca, o cinturão com a bolsa do dinheiro, confeccionada com pele de animal. Ainda não é certo que se trata de caixeiros viajantes pois, este é o traje nacional do Rio Grande do Sul e o mais adequado para as viagens  no interior. Um dos homens, ainda moço, carrega atrás de si, pendendo de ambos os lados da cela, duas grandes bruacas de couro marrom. É o distintivo do caixeiro viajante. Passam por nós, erguem levemente o chapéu, saltam das mulas, passam o cabresto pela argola do poste e prendem-no na trave. Entram na venda e saúdam a vendeira com um aperto de mão. Perguntam pelo dono da casa, pela família e de modo especial pelas filhas da casa. Os colonos presentes também os saúdam como velhos conhecidos. O motivo está nas muitas festas na colônia de que os viajantes participam. Em cada uma das ocasiões em que se acham presentes, cabe-lhes o papel mais importante. São dançarinos desenvoltos e valentes bebedores. Os filhos da colônia a que aos quais surrupiam as garotas reconciliam-se com eles pelas maneiras elegantes e espontâneas. Mandam servir dúzias de “inglesa”, isto é, cerveja estrangeira. Conhecem as piadas mais engraçadas, sabem contar acontecimentos políticos e são o jornal vivo para a colônia. Cabe a eles formar a opinião  dos colonos e dos comerciantes do interior. Durante a recente revolução rio-grandense eram vistos pelo governo como perigosos propagandistas dos maragatos, em outras palavras, perturbadores da ordem, o que obviamente não passou de uma injustiça. Com raras exceções, defendiam o único ponto de vista razoável: manter as colônias neutras frente à guerra fratricida de brasileiros com brasileiros. Os caixeiros  representam, em todo o caso, um poder. São os pioneiros do comércio alemão e os defensores do germanismo. Conquistam muitos amigos e o apoio na colônia, são convidados para padrinhos e a maioria busca a esposa nas melhores famílias da colônia.

Imprensa teuto-brasileira

A presença dos imigrantes alemães marcou e marca ainda hoje regiões inteiras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. No Rio Grande do Sul contribuem com aproximadamente um terço da população total do Estado. O mesmo pode-se afirmar de Santa Catarina. No Paraná percebe-se uma forte presença de descendentes de alemães na região metropolitana de Curitiba e, principalmente, nas regiões mais novas no oeste do Estado.
Na quase totalidade  das regiões onde predomina o elemento teuto-brasileiro, observa-se uma prosperidade econômica e um nível de bem-estar social bem acima da média nacional. Isto não significa que não houvesse problemas. Esses, porém, não foram de molde a criar situações insolúveis. Se formos procurar as causas dessa realidade, iremos encontrar vários elementos que apontam para a mesma direção. Os alemães e seus descendentes sempre sobressaíram aos demais vertentes étnicas pelo nível de instrução acima da média nacional. Este fato tem a sua explicação em duas instituições que foram caras aos imigrantes, mesmo nas comunidades mais isoladas: a Educação e a Imprensa. DE qualquer descendente e alemães esperava-se que soubesse ler, escrever, fazer contas, ter as noções básicas de religião, conhecimento da História Sagrada, de elementos de geografia, história e estar informado sobre os acontecimentos locais, regionais, nacionais e internacionais.

No decorrer das décadas de 1850 e 1860, definiram-se entre os teuto-brasileiros três grande vertentes do pensamento: a Católica Romana, com a chegada dos padres jesuítas alemães a partir de 1849; a Protestante com a vinda da Alemanha de pastores ordenados; a Liberal cm a fixação de muitos Brummer depois de desmobilizados, tendo Karl von Koseritz como expoente mais importante. Com isto, estava posto o cenário em que surgiriam e se desenvolveriam as mais diversas formas de imprensa engajada e comprometida com as três vertentes que acabamos de definir. Este conceito de imprensa comporto todos os gêneros de publicações correntes na época: jornais, revistas, periódicos, almanaques, livros, folhetos, volantes, etc. etc. Na presente matéria apresentamos um quadro geral da imprensa em língua alemã produzida  entre 1850 e 1940. O período corresponde aos 90anos  em que  corrente imigratória deitou raízes definitivas e deu mostras de um crescimento vigoroso e de um considerável prosperidade. No final da década de 1930 e no começo de 1940, a imprensa em língua alemã foi proscrita pela Campanha de Nacionalização. Após 1945 apenas um ou outro jornal, almanaque ou período voltou a circular, a maioria de duração efêmera. O número deles que continua em circulação pode-se contar nos dedos.

Nacionalidade e cidadania

No momento em que se procura entender os episódios que marcaram a Campanha de Nacionalização, nas décadas de 1930 e 1940, é preciso não esquecer que eles se originaram, antes de mais nada, de um fundamento filosófico-ideológico. Não passa de um primarismo simplista quere reduzir essa problemática a uma mera preocupação das autoridades do Estado Novo, em nacionalizar as “comunidades estrangeiras”, supostamente refratárias à sua inserção na comunidade nacional. Nem tão pouco esgotam-se nas estratégias postas em prática com essa finalidade e a execução confiada a coerção e a ação policial. Não se resumem também em neutralizar e erradicar focos e células da propaganda nazista. A questão é muito mais profunda e complexa. É preciso buscar as causas em outro nível, principalmente quando a Campanha de Nacionalização teve como alvo as comunidades de descendentes de alemães nos três estados do sul do Brasil. É forçoso perguntar porque elas resistiram em abandonar a língua alemã e porque persistiram em manter a sua maneira de ser alemã? Será que essa atitude significou, na verdade, uma recusa em aceitar a plenitude da cidadania brasileira e, ao mesmo tempo, fez dos imigrantes e seus descendentes, cidadãos pouco confiáveis, que sabe a um passo da defecção, quando aliciados pela propaganda nacional-socialista. Posta a questão numa outra perspectiva, vale perguntar: É possível  que uma pessoa que só fala alemão, que se comporta como alemão  e não faz segredo da sua admiração e adesão à germanidade, é capaz, ao mesmo tempo, de assumir plenamente a condição de cidadão brasileiro? Sem entender  as causas dessa aparente “esquizofrenia existencial” dos alemães aqui radicados, serão inúteis as tentativas para compreender os posicionamentos e os conflitos então ocorridos. A raiz do problema, o fulcro do conflito entre teuto-brasileiros e luso-brasileiros encontra-se na compreensão desencontrada dos conceitos de “nacionalidade e cidadania”.

Na tradição histórica alemã e de outras tradições europeias a nacionalidade representa uma condição humana desvinculada da condição de cidadania. Este fato deve-se, antes de mais nada, à conceituação de nacionalidade, partindo de uma série de fatores que independem da vinculação com algum Estado, e como consequência, do fato de alguém estar comprometido com ele como cidadão. Entre as determinantes da nacionalidade, enumeram-se a raça, a etnia, a cultura com seus valores, a história, a tradição, enfim, a maneira própria e peculiar de ser decorrente deles e, sobretudo, a língua. A nacionalidade, neste caso, fundamenta-se no “ius sanguinis”, o direito pelo sangue, pela herança, com seus elementos básicos: raça, cultura e língua e não no “ius soli”, isto é a cidadania determinada pelo território de um Estado em que alguém nasceu. Para a tradição alemã nacionalidade tem como referência o “ius sanguinis” e nacionalidade para a tradição luso-brasileira tem como detrminante o “ius soli”. Em resumo: ser alemão significa viver de acordo com as tradições alemãs e falar a língua alemã, o que não impede que se seja cidadão de qualquer outro estado; ser brasileiro significa ter nascido em território brasileiro ou ser naturalizado, e assim sendo, ser cidadão brasileiro. No período do Estado Novo cm a sua proposta de “abrasileiramento” também em relação à maneira de ser, principalmente, à língua, o conflito foi inevitável.