Imigração alemã e meio ambiente
A partir do final do século XX a preocupação pela preservação e saúde das florestas e a preocupação ambiental, passou a transforma-se num tema obrigatório nos forums em que se discutem questões atuais. Não poucas vezes tem-se a impressão que as gerações passadas nada mais fizeram do que depredar a natureza, espoliar a terra dos seus recursos naturais e comprometer o equilíbrio ambiental.
Mesmo que as circunstâncias de cem ou cinquenta anos atrás não favorecessem a preocupação com questões ecológicas, os documentos que falam da colonização alemã no Rio Grande do Sul registram essa consciência. A partir da década de 1880 nota-se uma crescente preocupação no sentido de evitar o desmatamento exagerado e, ao mesmo tempo, incentivar o florestamento e reflorestamento.
No começo foram iniciativas modestas e assumidas por pessoas isoladas. Já na primeira década do século XX, a preocupação pela saúde ambiental, iria ocupar um lugar de destaque e cada vez mais frequente nas assembleias das organizações coloniais. Foram formuladas propostas concretas de como enfrentar problemas originados de um desmatamento levado além do limite razoável, como conduzir os reflorestamentos e como recuperar as terras exaustas com técnicas que não degradassem o meio ambiente.
Os movimentos ecológicos de todos os matizes estão na ordem do dia. Não resta dúvida que este tipo de fenômeno tem a sua razão de ser nas próprias circunstâncias concretas que caracterizam nossa época. Representam uma tentativa de resposta aos desafios que se colocam e, ao mesmo tempo, vêm acompanhado de propostas concretas para solucionar os problemas e apresentar estratégias de ação.
Os lideres de tais movimentos apresentam-se, não raro, como os donos de uma capacidade fora do comum, para apontar as mazelas do tempo e credenciar-se como os portadores de soluções definitivas. Quem não se alinha com sua visão do mundo e das coisas, merece ser estigmatizado como comprometido ou, no mínimo, conivente com uma situação que deve ser posta no banco dos réus. Admitir que uma situação momentânea não é fruto do acaso, mas a resultante final de um processo que se vem desenrolando desde um passado mais ou menos distante, parece não fazer parte das variáveis admitidas como parâmetros para analisar a situação. Por ignorância ou por presunção ignora-se que alguém já possa ter-se preocupado com a questão. Age-se como se não houvesse história. Somente agora existem pessoas capazes de compreende-la em todas as suas dimensões e tirar da manga o corretivo infalível. Não raro esses profetas do apocalipse, parecem, como versões de novos Quixotes do terceiro milênio.
Os imigrantes que se estabeleceram na região da floresta pluvial do sul do Brasil, são acusados de terem sido os grandes vilões que arrasaram a mata e exterminaram a fauna. Se este quadro tem muito de verdadeiro, não menos verdadeiro é também o fato de que existiu, desde as décadas finais do século XIX, uma preocupação expressa de lideres coloniais, pelo futuro ecológico-preservacionista desta região, expressa numa série de registros e depoimentos da época.
Uma das referências mais antigas à questão ecológica é do Pe. Ambros Schupp. Foi publicada na Alemanha. na revista Alte und neue Welt. Descrevendo uma das suas cavalgadas de férias, partindo de Bom Princípio em direção a São Salvador, hoje Tupandi, entre outras observações deixou consignada a seguinte:
Despedimo-nos, montamos a cavalo e partimos para São Salvador. São mais ou menos duas horas da tarde e o calor é quase insuportável.
Agora, graças a Deus subimos a encosta do morro. Uma porção de mata fechada cobre o dorso do morro, um último e solitário resto de mata virgem, poderíamos dizer, uma ilha tranquila que restou par testemunhar um mundo desaparecido.
Na verdade, há menos de trinta anos, balançavam, até perder de vista, como as ondas do mar, as copas das árvores, sem interrupção, uma encostando na outra. Os olhos topam por toda a parte com terra plantada. Só aqui e acolá conservam-se algumas áreas de mato. O colono, como parece evidente, quer extrair do seu chão, todo o proveito o mais depressa possível. Só calcula com o presente e suas vantagens. Não pensa no futuro e no bem da coletividade. (Schupp, 1889, p. 313)
Neste texto aparecem duas questões relevantes. Em primeiro lugar o Pe. Schupp chama a atenção à situação florestal que predominava no vale do rio Caí nos anos oitenta do século XIX. O desmatamento havia avançado até um limite que inspirava cuidados. Caso nada se fizesse, as pessoas lúcidas como era o caso do Pe. Schupp, previam para um futuro não muito longínquo, o desaparecimento, além do tolerável, da cobertura florestal da região. Em segundo lugar o Pe. Schupp chamou a atenção para o maior obstáculo, para sustar o processo: a mentalidade imediatista, individualista e egoísta de muitos colonos. Essa maneira de pensar dos colonos encontrava a sua explicação nas próprias circunstâncias da época. Havia urgência em conquistar à floresta o chão arável e extrair dele o mais rápido possível, os alimentos e os produtos destinados ao comércio. Pensar no futuro e preocupar-se com a coletividade eram questões para serem discutidas mais adiante, quando a premência das necessidades mais urgentes tivesse sido superada. É evidente que com isso não se vai querer desculpar simplesmente a ação predatória de uma agricultura de queimadas e, muito menos, justificá-la.
O depoimento do Pe. Schupp reveste-se de grande significado, na medida em que demonstra que, já na remota década de 1880, as lideranças, entre as quais ele foi uma das mais representativas, estavam atentas ao problema do desmatamento e, consequentemente, à questão ambiental como um todo.
A começar pelos anos noventa do século XIX, outras pessoas de visão mais ampla, começaram a chamar a atenção com frequência e insistência cada vez maior para a problemática ambiental, que tinha no desmatamento o seu foco mais visível,. Cresceu o esforço para que os danos causados pelo desmatamento além do recomendável, fosse disciplinado por meio de uma maior racionalização.
Como reforço a essa tendência colaboraram, a nível de legislação, as providências tomadas pelo do Governo do Estado. Logo nos primeiros anos após a implantação da República, foi elaborado o esboço de legislação de proteção às florestas. Continha uma série de dispositivos capazes de bloquear a destruição indiscriminada das matas. Infelizmente a lei nunca passou muito do nível de um projeto. A titulo de curiosidade seguem algumas das propostas.
O artigo 194, sessão primeira, determinava: “o proprietário que se orientar de acordo com as determinações do governo no que se refere ao zoneamento e ao uso da terra, recebe uma área de terra devidamente medida, com uma superfície nunca superior a 25 hectares”, Na sessão segunda prometia-se: “O proprietário que planta terras de campo, de prados e pastagens com vários tipos de árvores, recebe em compensação para cada hectare reflorestado, cinco hectares de mato e 10 hectares de terras de campo”. Na sessão terceira, prometia-se: “O proprietário que replantar no lugar de árvores abatidas ou em clareias no mato, recebe terras devolutas de até 50 hectares”.
Parece que essas determinações, à primeira vista tão úteis, não tiveram resultados concretos significativos. Em todo o c0302
aso, ficou registrado o exemplo do Sr. Friedrich Wilhelm Rauber de Venâncio Aires. Em troca de plantações de erva mate em Erechim, recebeu 34 hectares de terras do governo. (cf. Paulusblatt, 1931, p. 1-2)
Foi principalmente por iniciativa privada que se verificaram os primeiros resultados concretos em termos de proteção de florestas e de tentativas de reflorestamento. Na primeira metade da década de 1890, foi fundada em Bom Jardim, hoje Ivoti, a primeira “Associação de Proteção à Mata” – “Waldschutzverein”. Os fundadores foram “o apóstolo da mata”, Pe. Pedro Gasper e o pai da mata “o Sr. Edmund Grohmann”, morador de Lichtental, em Ivoti. A associação promoveu uma série de “Dias da Mata”, para incentivar o plantio de florestas na colônia.
Para se ter uma ideia dos resultados obtidos pela Associação, ouçamos como os Sr. Grohmann contou suas experiência num desses “Dias da Mata”, em agosto de 1896:
Há nove anos fiz a primeira experiência com pinheiros. Os pinhões germinaram muito bem, mas em duas noites as formigas terminaram com a plantação e as mudinhas novas secaram todas. Depois organizei um viveiro perto da minha casa. No segundo ano transferi as mudas para o lugar definitivo. Também esta tentativa teve o mesmo destino. Antes mesmo de dominar as formigas, elas já haviam devorado tudo. Na terceira tentativa deixei as mudas dois anos no viveiro. Transplantei-as só no terceiro. Todas vingaram porque as agulhas já estavam tão duras que as formigas não as conseguiram cortar. A plantação alcança neste momento de 16 a 20 pés (cinco a sete metros) e se compõe de mais de 300 pinheiros. Tive êxito também com louro, cinamomo e outras variedades de madeira. Tudo disto prova que também aqui é possível plantar mato
Procurei interessar pela causa as pessoas de vários lugares. Na maioria dos casos, porém, faltou a energia suficiente. Outros se desculparam dizendo que eles próprios não tirariam proveito e que os descendentes se virassem. Não raro, confirma-se o ditado: se o colono não se vê forçado ele não mexe nem a mão nem o pé. Existem contudo honrosas exceções. Quem sabe também neste particular eu tenha conseguido que um ou outro se decida a fazer ao menos uma tentativa, plantando mato. Diz o ditado: “No menor dos espaços planta uma árvore; cuida dela; será em teu beneficio”. (Paulusblatt, 1931, p. 2).
Apesar das queixas do Sr. Grohmann, dizendo que a receptividade de suas propostas de plantio de florestas não ter tido muita aceitação por parte dos colonos, a ideia conquistou seus adeptos. O autor deste trabalho tem três exemplos de tentativas que remontam à década de 1890 e a primeira década de do século XX. A primeira foi feita por meu avô que plantou cerca de um hectar de louro e depois deixou a natureza agir livremente. Depois de 50 anos desenvolvera-se um bela floresta em miniatura. Alguns dos louros mediam mais de meio metro de diâmetro. Entre eles cresciam belos exemplares de angicos, cedros, canelas, cangeranas e outras. Mais ou menos na mesma época minha mãe recebera umas dezenas de pinhões. Plantou em torno de 100 deles ao longo das taipas do potreiro e do curral, perto de tocos de árvores nas proximidades da casa. Passados sessenta anos havia araucárias de perto de um metro de diâmetro. Um vizinho dos meus avós plantou cerca de dois hectares de araucárias e deixou a natureza agir livremente. Também neste caso passados 50 anos uma exuberante mini floresta havia-se formado com soberbas araucárias e exemplares viçosos de canelas, cedros, cangeranas, cabriúvas e outras mais.
Esses três exemplos demonstram que, apesar dos pesares, a proposta do Pe. Gasper e o exemplo do Sr. Grohmann, caíram em chão fecundo. É até compreensível que a grande maioria dos colonos não se sensibilizasse. No final do século XIX e o início do XX, as prioridades maiores eram ainda em grande parte, a comida, a roupa e a casa. Além disso o suprimento de lenha e madeira ainda estava garantida com certa folga.
Mas a semente lançada com a “Associação de Proteção da Mata” e os exemplos esparsos de tentativas de plantio de mato, foi vingando lentamente. Em 1899 foi fundada a “Associação Riograndense de Agricultores”. À sua testa vamos encontrar muitas das lideranças coloniais, leigas e religiosas, das décadas de 1880 e 1890. Desta forma o assunto floresta e reflorestameto, conservação do solo, adubação orgânica, frequentou repetidas vezes, a pauta das assembleias gerais da Associação.
Na quarta assembleia geral, realizada em Santa Cruz do Sul, em abril de 1904, uma das resoluções, a de número seis, chamou a atenção para a urgência de se dedicar ao cultivo de árvores.
“6. No que se refere à grande importância em que se reveste a cultura de árvores, em especial na região colonial antiga, a assembleia apoia um sistema de cultura de florestas adaptadas às características locais. Para tanto encarrega a diretoria central para tomar as iniciativas cabíveis junto ao governo do Estado, para que seja modificada a lei que prejudica a cultura da erva-mate, principalmente no que se refere à sua colheita”. (Bauernfreund, 1904, nr. 5, p. 33)
Na sétima assembleia geral da Associação dos Agricultores, realizada em Estrela, em abril de 1907, a questão do reflorestamento voltou ao debate e mereceu ser encarecida na resolução de número quatro. “4. É preciso dar maior atenção ao eflorestamento do que até agora se deu. Aconselha-se, para tanto, o plantio de cinamomo, de louro, de carvalho e de outras espécies de acordo com as características locais”. (Bauernfreund, 1907, nr. 6, p. 4)
Mas foi na nona assembleia geral da Associação dos Agricultores, realizada em Taquara em maio de 1909, que a questão do meio ambiente foi colocada em termos mais amplos. A conferência sobre o assunto esteve a cargo do Pe. Max von Lassberg.
O problema foi colocado, pelo religioso, numa perspectiva bem mais ampla do que a mera destruição física da cobertura florestal, ou as técnicas de florestamento e reflorestamento. A questão, segundo ele, tinha a ver com a garantia dos direitos e deveres dos indivíduos, da coletividade e do Estado. As florestas estão aí para assegurar os interesses das pessoas e para garantir a qualidade da vida da coletividade. Uma correta política florestal não pode abstrair de nenhuma das duas funções. Tendo como finalidade o tratamento da questão das florestas, salvaguardando tanto os direitos dos indivíduos como do Estado, o conferencista apresentou um esboço de como esse objetivo poderia ser alcançado.
Compete ao Estado zelar pela normalidade do clima e a higiene pública: salvaguardar a fertilidade e demais qualidades do solo e aproveitar ocasionalmente os imenso recursos oferecidos pelas florestas. Pressupõe-se para tanto a existência no Pais de uma vasta e rica cobertura floresta. Mais importante do que florestas gigantescas e ininterruptas é a existência de extensões razoáveis de matas bem distribuídas. Conforme demonstra a ciência, esse tipo de cobertura vegetal favorece sobremodo a pureza do ar, a regularidade das chuvas, o controle do granizo, a conservação do clima, o equilíbrio entre o calor e o frio, a formação de fontes e de mananciais de água, a proteção contra as enchentes e inestimável riqueza que a floresta representa quando racionalmente explorada. E, para reforçar a afirmação o Pe. Lassberg lembrou que, quanto mais crescer a população, tanto maiores ser\ao as demandas por madeira. Faz-se necessário que cresça no mesmo ritmo o interesse pelo manejo racional das reservas de florestas. Neste caso a madeira representa uma extraordinária fonte de divisas para um pais com as características do Brasil.
Continuando nas suas considerações o conferencista fez algumas observações sobre um outro aspecto dessa problemática. Os colonizadores, individualmente considerados, costumam, e isto é mais do que natural, preocupar-se em obter, o mais rápido possível, resultados concretos. Derrubam no menor espaço de tempo o mata do seu lote colonial, utilizam alguma madeira para atender às necessidades próprias. Somente em situações especiais e não muito frequentes, vendem alguma coisa. Livram-se do restante das árvores abatidas, queimando-as ou, na melhor das hipóteses, amontoando-as e entregando-as à decomposição. Essa estratégia universalmente difundida, vem acompanhada dos seus riscos. Não raro, em questão de anos, não sobra aos colonizadores, a madeira suficientes pra suprir as necessidades diárias de lenha. O dano é duplo. De um lado o colono vê-se forçado a comprar lenha e madeira de construção. Do outro lado a coletividade exaure, em pouco tempo, suas reservas. Prejudica-se o dono do lote colonial e prejudica-se a região, o Estado e o Pais.
Continuando, o conferencista atacou um questão ainda mais condenável. Falou daqueles verdadeiros vampiros que penetram nas florestas alheias ou pertencentes ao governo. Sem o menor escrúpulo e sem a menor consideração para com a sociedade, depredam as matas, pilham as madeiras nobres, movidos pela única finalidade do lucro fácil. No final das suas considerações, o Pe. Lassberg formulou a seguinte proposta florestal. Obviamente não de fácil execução.
1. Em se tratando das regiões do nosso Pais cobertas de grandes extensões de florestas virgens, não apenas se justifica, mas se torna necessário franquea-las à agricultura e entrega-las a um abate parcial.
2. A escassez de florestas e de madeira não deve ser exagerada. Se de um lado há carência de madeira, ao ponto de se dar uma importância tão grande como esta está acontecendo, a culpa, em grande parte, cabe à utilização errada das matas e às precárias vias de circulação para o escoamento, dificultando transporte da madeira de lugares afastados. Os campos do sul e do norte estão pontilhados com belos, numerosos e grandes capões. A zona colonial, mesmo aquela ocupada por várias décadas, nem de longe apresenta aquela feição desnuda, como acontece em numerosas regiões agrícolas da França, Alemanha e Itália. Consequentemente não ocorreram modificações climáticas apreciáveis, em razão do desmatamento. Em toda a parte subsistem serrarias pelas colônias antigas. De maneira geral os colonos tomam um cuidado maior para não abater as matas de uma forma tão irracional, como era comum nos primeiros tempos.
3. Triste, sem dúvida, se apresenta a situação das zonas mais elevadas, como nas colônias italianas. Foram derrubadas florestas inteiras de araucárias, para, em seguida, as terras serem abandonadas sem terem sido aproveitadas. Muitos colonos derrubaram a mata sem nenhuma medida para, em seguida, verem-se forçados a ir embora por causa da baixa fertilidade do solo. A terra foi devastada e uma verdadeira floresta não se recompõe espontaneamente.
4. Um reflorestamento sistemático das nossas florestas parece inviável, porque a mata virgem não possui sistema. Segundo a lei de 1899, calcula-se como produção media de madeira por ano, o volume de quatro a cinco metros cúbicos por hectare. De que maneira por em prática um dispositivo desses? Não vale a pena nem abrir uma trilha.
5. Para resolver o problema não basta imitar unilateralmente as leis de outros países. É claro que devemos analisar essas leis, para depois adapta-las às nossas circunstâncias. Além disso é preciso verificar se determinadas medidas legais são aplicáveis entre nós e se dispomos de pessoal técnico. Caso não estejam presentes tais pressupostos em nada adianta a melhor das intenções do governo. Um outro aspecto não pode ser ignorado. No que se refere a questão florestal, as circunstâncias dentro do País diferem muito. As imediações das cidades pedem um outro tipo de cultivo do que o interior. Diferentes tem que ser as medidas adotadas em regiões de florestas mistas ou de pinheiros, no campo ou na costa do mar. Em tudo que se relaciona com a floresta o problema mais grave é a lei que regulamenta a fiscalização. Qual, por exemplo, é a forma de impedir que um caboclo penetre na mata do Alto Uruguai. Mesmo em regiões mais próximas a fiscalização enfrenta visão e as longas tradições dos colonizadores e a preocupação de não sobrecarrega-los com novos deveres. Caso contrario só se consegue despertar mal entendidos e insatisfações. No momento então em que o governo aparece e diz ao colono que está derrubando mato: Daqui para frente não podes mais retirar madeira do mato, ou ao fazendeiro: Daqui para frente deves plantar tantos hectares de mato. Determinações deste tipo seriam simplesmente inexequíveis. Apenas nos casos em que uma derrubada chega a prejudicar os vizinhos, o poder público deve intervir, a fim de garantir os direitos da pessoa lesada. (Bauernfreund, 1909, nr. 6)
Os complexos florestais tem que ser protegidos na sua integridade, de forma que sua exploração por parte dos não proprietários seja dificultada. Em vista disso o governo não deveria conceder com tanta facilidade, como vinha fazendo até agora, as concessões de exploração da madeira para obtenção de dormentes de trilhos, taboas, erva-mate ..... Conceder, se possível, somente para aqueles que comprarem e pagarem o mato. Porque se alguém não é proprietário, pouco interesse terá em tratar o mato com cuidado. Semelhantes prescrições não se aplicam assim no mais a regiões de matas destinadas para a ocupação por colonos. Em se tratando de concessões maiores, costumam-se guardar certas medidas. Nestes casos o governo tem por norma munir-se de garantias para restringir a derrubada da mata a níveis aceitáveis. O próprio colono terá interesse pessoal em assegurar o valor do mato de sua propriedade. Além disso deveriam ser aplicadas, com todo o rigor, as leis que se destinam à expulsão dos invasores de matas alheias. Isso, entretanto, não ocorre sempre. Neste caso os direitos dos proprietários de matas situadas em locais afastados, sofrem sérias violações por parte de outra praga, representada pelos tais de intrusos que, sem titulo de posse, fixam residência em glebas e, quando são solicitados a indenizar, retiram-se e deixam o prejuízo para os outros. Esses caso acontecem também em situação ilegal. Se alguém pretende estabelecer-se neste tipo de glebas, deveria certificar-se, antes de mais, a respeito da situação legal das mesmas.
Impõe-se como remédio mais adequado para as nossas circunstâncias, a formação de matas plantadas. A floresta não cultivada é passível de resultados na medida na medida em que for derrubada. Uma floresta sistematicamente plantada fornece um retorno no mínimo quádruplo. No Estado encontram-se faixas de terras mais do que suficientes, tanto na colônia quanto no campo, apropriadas para o reflorestamento deste tipo. Na Alemanha, por exemplo, aproveitou-se a charneca de Lüneburg. As dificuldades neste caso poderiam originar-se da presença de formigas e de outros insetos, de plantas parasitas, de ocorrência de incêndios. Apesar disso o plano pode ser posto em priatica com relativa facilidade. As iniciativas devem partir dos indivíduos, dos distritos e dos municípios. Em outros países comunidades individuais conseguiram florestas tão ricas que, com os seus ,resultados, foi possível cobrir todas as despesas da comunidade e os cidadãos liberados dos impostos. O melhor caminho é aquele em que os indivíduos e as cooperativas cultivam determinadas áreas de mato. Fala-se hoje tanto em estações experimentais. Porque não pensar em implantar estações experimentais de silvicultura? Representam obviamente empreendimentos sem retorno a curto prazo, como no caso de uma lavoura. Contando-se, entretanto, com paciência e os empreendimentos forem bem conduzidos, seu retorno mais tarde será tanto maior. (Bauernfreund, 1909, nr. 6, p. 43-44).
O Pe. Max von Lassberg concluiu a sua palestra, apresentando à assembleia algumas das resoluções tomadas no Congresso Agro-Agrícola, realizado no ano anterior em Pelotas. Entre elas, duas merecem atenção.
1. Das glebas destinadas no futuro para fins de colonização, uma parte deveria ser destacada, não vendida e mantida como reserva florestal.
2. Aconselha-se introduzir uma série de árvores exóticas, como por exemplo, certas variedades de eucaliptos, plátanos, acácias, pinheiros, cinamomos.
Ao discurso seguiu-se um debato acalorado sobre o que tinha sido exposto pelo Pe. Lassberg. Foi desencadeada pelo Pe. Amstad com uma proposta concreta de reflorestamento. De acordo com suas observações era muito comum na colônia, que as casas e demais benfeitorias se localizassem numa encosta. A área imediatamente atrás e acima da moradia compreendia, via de regra a área desmatada por primeiro e, em consequência a primeira com sinais de esgotamento do solo. Seria esta a área escolhida para o reflorestamento. Um empreendimento desses teria tanto mais chances de sucesso, quanto maior fosse a colaboração entre os diversos moradores. Como empreitada individual os resultados seriam duvidosos. Pela própria natureza a iniciativa era de caráter coletivo. Na hipótese de que um projeto dessa natureza fosse levado a bom termo, os resultados não tardariam em aparecer. Formar-se-ia em questão de poucos anos um cinturão de mato, a meia encosta, da largura de 200 a 300 metros. Num futuro relativamente próximo seria possível extrair toda a lenha necessária para o consumo e madeira suficiente para cobrir a demanda local. Nesta questão o próprio Estado faria bem em intervir, pressionando os proprietários para se engajarem efetivamente. O retorno altamente compensatório estaria assegurado. Seria possível, em grandes linhas, que, em 15 anos, a lenha pagaria a mão de obra. Em 30 anos o mato começaria a render juros. Em 50 anos a faixa de 200 metros representaria um patrimônio bem maior do que os 1600 metros restantes.
Como se sabe, a nona assembleia geral da Associação dos Agricultores do Rio Grande do Sul, marcou o termino da Associação na sua forma original. Transformada em sindicato, reorientou seus objetivos. As antigas lideranças, tanto católicas como evangélicas, partiram para a formulação de novas organizações. Surgiu, desta forma, em 1912, o “Volksverein”, a Sociedade União Popular, para os católicos. É explicável que a questão ecológica passasse para um segundo plano pois, foi necessário, em primeiro lugar, dar forma, vida e viabilidade à nova organização. Essa tarefa demandou dois a três anos. Sobreveio a Primeira Guerra Mundial e a nova sociedade congelou, pela foçra das circunstâncias, as suas atividades. Terminado o conflito, os primeiros anos da década de vinte foram necessários para retomar as atividades e solidificar a Sociedade. No período de 1912 e 1924, não se encontram referências significativas, nem no Paulusblatt, o periódico da Sociedade, nem no Familienfeund Kalender, o almanaque anual, relativas a questão florestal, em particular, ou à questão ecológica como um todo.
A retomada da temática aconteceu no número 12, de 1925 do Paulusblatt. Na secção da revista intitulada “Escola da Sociedade União Popular”, foram publicados os regulamentos disciplinando a medição e venda de terras do governo no Rio Grande do Sul. O artigo reproduziu, em primeiro lugar, os dispositivos que regulamentavam as reservas florestais, em segundo lugar, discriminou os deveres dos compradores dos lotes coloniais. Em terceiro lugar fez algumas considerações sobre as condições impostas ao comprador dessas terras referentes e ao uso das mesmas. O articulista terminou apontando uma série de problemas referentes à aplicabilidade dos dispositivos legais que, na sua essência, eram muito pertinentes e não menos urgentes. ( cf. Pulusblatt, 1925, nr. 12, p. 1)
Mas foi no número 9, do ano de 1927, do mesmo Paulusblatt, em que a preocupação com o reflorestamento foi retomada. Na mesma secção “A Escola da Sociedade União Popular”, o prof. Siegrfied Kniest, secretário itinerante, ocupou-se com o tema.
Começou dizendo que, com suas andanças pelas diversas comunidades como secretário itinerante, pôde observar que em não poucas delas se faz um belo esforço em favor do reflorestamento, especialmente com variedades de eucaliptos; que em extensas regiões, a necessidade de algum tipo de reflorestamento tornara-se inadiável, já que os colonos tinham dificuldade em conseguir lenha, no caso de nada fosse feito.
Depois o professor sugeriu que se criassem associações para incentivar o plantio de árvores, como estava acontecendo nos Estados Unidos, na França, na Alemanha e em outros países. Afirmou que, apesar das queixas, se faz muito de menos em questões de reflorestamento. Apesar de tudo, porém, há inúmeros exemplos que permitem um certo otimismo. Concluiu referindo o exemplo de um colono que comprou um lote de terra completamente esgotado. O povo dizia que ninguém era capaz de alimentar-se nele. Com paciência e perseverança plantou eucaliptos, árvores frutíferas e outras essências. Não demorou e a terra improdutiva começou a dar resultados além da expectativa e o colono transformou-se referência de como recuperar, aproveitar e fazer render uma terra considerada imprestável. (cf. Paulusblatt, 1927, nr. 9, p. 2-3)
A preocupação pelas florestas nativas e, mais ainda, o despertar da consciência da necessidade de reflorestar, foi o assunto de longos artigos publicados nos números 7, 8,9,10, 11 e 12de Paulusblatt de 1931.
O primeiro artigo já foi referido quando se falou na situação da cobertura vegetal remanescente no Rio Grande do Sul e na criação da “Sociedade de Proteção da Mata” e os “Dias dedicados à Mata”, na década de 1890, inspirados pelo Pe. Pedro Gasper eo Sr. Alfred Grohmann. No nº 8 do Paulusblatt de 1931, o articulista procurou responder a duas perguntas: Porque é preciso plantar mato e a quem cabe planta-lo?
A resposta para a primeira pergunta foi pragmática. Havia urgência em garantir o suprimento de lenha e de madeira de construção. A escassez para ambas as finalidades alcançara um nível preocupante na região colonial. A curto prazo previa-se a mesma situação para as colônias ao longo dos rios Pardo e Jacuí e a médio prazo para as colônias situadas na Serra, nas Missões e no Alto Uruguai. Para dar ênfase à sua análise, o articulista reproduziu a carta de um sócio da Sociedade União Popular.
Aqui entre nós plantam-se enormes áreas com erva-mate. Mas as pessoas não se dão conta que a fabricação da erva-mate requer lenha e que o mato vai sumindo cada vez mais. Da mesma forma a maioria dos colonos tem fornos para secar o tabaco e que exige enormes quantidades de lenha.
Participei do Congresso dos Católicos em Arroio do Meio. A região agradou-me muito, principalmente no que diz respeito à qualidade dos solos. O que, porém, me entristeceu foi a quase total ausência de mato e em lugar algum foi possível observar a menor iniciativa de plantio de mato. (Paulusblatt, 1931, nr. 8, p. 2)
Depois de encarecer a urgência de plantar mato por razões pragmáticas, o articulista levou a questão a um nível de discussão mais amplo. A problemática florestal ultrapassa uma simples análise de uma situação local, para transformar-se numa questão ética. Lembrou para tanto uma afirmação feita trinta anos antes pelo “apóstolo” da mata, Alfred Grohmann.
Quem priva a sua propriedade da madeira indispensável, comete um crime contra a geração futura. Num País uma reserva suficiente de matas é de grande importância para a economia nacional. O governo do nosso Estado faria muito bem em dedicar uma atenção maior ao reflorestamento. (Paulusblatt, 1931, nr. 8, p. 2))
Em resposta à pergunta “a quem cabe a obrigação do reflorestamento”, o articulista respondeu com as seguintes considerações.
Em primeiro lugar pela sua própria natureza cabe ao Estado a responsabilidade e a tarefa de proteger as reservas florestais e, ao mesmo tempo, incentivar e orientar os florestamentos e reflorestamentos.
Em segundo lugar, já que o Estado é incapaz de faze-lo ou não se preocupa como deveria, o reflorestamento poderia ser posto em prática por meio de associações ou cooperativas, oriundas da iniciativa privada e para tal fim criadas. Colonos isolados em suas pequenas propriedades não tem condições para enfrentar o problema.
Já no nº 9 de 1931 do Paulusblatt, foi proposto um projeto completo de reflorestamento cooperativo que poderia ter sido implantado perfeitamente, por exemplo, no médio Caí. O ponto de partida poderiam ser as colônias localizadas a partir de São José do Hortêncio, em direção norte, passando pelo vale do Cai e o Cadeia, até Nova Petrópolis e Padre Eterno. As colônias mediam em média em 1931, 200 metros de largura por 2000 de comprimento. Começavam na barranca dos rios, subiam pelas encostas até o topo dos morros ou, conforme o caso, seguiam além até atingir o comprimento padrão.
A proposta consistia em reunir os proprietários em grupos e 30, 40 ou 50. Esses grupos formariam a base para as cooperativas de reflorestamento. Na prática os procedimentos seriam os seguintes:
Uma vez definido o grupo, seria convocada uma primeira reunião na qual se analisaria a questão da plantação do mato. No caso de que o grupo fosse composto por 30 proprietários interessados e dispostos a se comprometer com o projeto, uma comissão seria escolhida para determinar a faixa de terra a ser destinada para o reflorestamento. Integrariam necessariamente a comissão os dois proprietários dos lotes limítrofes da área escolhida e cujas propriedades se avaliariam as condições requeridas para um reflorestamento. Mas não é suficiente que a comissão demarque a faixa de terra a ser replantada com mato. É preciso proceder também a uma análise do solo, verificar se a rocha aflora ou se encontra em maior profundidade, se o sub solo é saibroso, se a camada de solo é profunda, pantanosa ou mais enxuta. Esses dados fornecidos pelo proprietário, servem para organizar um cadastro que fornece a base para escolher o tipo de árvores mais adequadas e, desta forma, programar o plantio com a maior probabilidade de êxito possível.
Por razões práticas, as faixas escolhidas para o reflorestamento deveriam localizar-se a mais ou menos 1400 1600 metros contados a partir do travessão inferior. Localiza-se desta forma mais ou menos no meio da colônia e na meia encosta. A preferência por essa faixa é motivada, em primeiro lugar, pela relativa proximidade das moradias, tornando o abastecimento de lenha mais cômodo. Em segundo lugar corresponde a uma faixa localizada na propriedade onde o desmatamento se deu por primeiro.
Uma vez concluídos esses trabalhos preliminares, seria convocada uma reunião na qual a comissão apresentaria os resultados e as conclusões do levantamento. Todos teriam oportunidade de externar suas opiniões, dar sugestões e propor alternativas.
Vencida mais essa etapa partir-se-ia para a fundação da cooperativa de reflorestamento. A diretoria seria escolhida e estipulada a contribuição. Essa deveria ser no mínimo de 20$000, para formar um pequeno capital capaz de arcar com as despesas correntes do empreendimento. Na mesma reunião deveria verificar-se quem dos proprietários estaria em condições e com disposição para manter um viveiro no qual os demais se abasteceriam de mudas. (cf. Paulussblatt, 1931, nr. 9, p. 1-2)
Uma vez acertada a faixa a ser reflorestada, chegou o momento de passar para etapa seguinte: a escolha das espécies e as técnicas de plantio. Esse assunto foi tratado nos números de outubro, novembro e dezembro de 1931, em Paulusbltt. No número de outubro foi apresentado um modelo concreto de reflorestamento, dando ênfase à finalidade prática de plantio, à escolha das espécies, conforme a sua finalidade, como por exemplo, lenha, tábuas, madeira de construção e os respectivos cuidados a serem tomados em conta, no manejo da mata plantada. No número seguinte, novembro de 1931, o articulista concentrou-se no controle das pragas que ameaçam as faixas de replantio de árvores, com destaque para as formigas.
No sexto seguimento, dezembro de 1931, foram enumeradas as vantagens de um plantio sistemático de mato.
- O suprimento contínuo e indefinido de lenha e madeira de construção.
- A distribuição regular e abundante das precipitações pluviométricas pois, as florestas são fatores importantes de equilíbrio neste particular. Além disso, as raízes e o sombreamento controlam a evaporação, garantem a perenidade dos mananciais subterrâneos e evitam que as fontes sequem com qualquer estiagem um pouco mais prolongada.
- As matas garantem solos de alta fertilidade constantemente reforçada com a queda das folhas e dos galhos que, ao se decomporem, renovam e avolumam a cada de húmus.
- Essa vantagem está intimamente relacionada com a anterior. A camada de húmus é indispensável para garantir a fertilidade do solo. (cf. Paulusblatt, 1931, nr. 10, p. 10, 11, 12).
Essa sequência de seis matérias publicadas na revista de formação e informação mais importante da Sociedade União Popular, demonstra uma preocupação inequívoca para com a conservação e reposição das matas. E isto há 90 anos, numa época em que as grandes áreas de matas virgens do Alto Uruguai, Centro-Oeste de Santa Catarina e oeste do Paraná, pareciam garantir opções de colonização a perder de vista. Na época assumir uma posição tão decidida em favor da preservação das matas e propor projetos sérios de reposição das delas em áreas nas quais o desmatamento já havia ultrapassado os níveis desejáveis, significou, sem dúvida, uma definição de coragem e lucidez.
Essa posição defrontava-se com três dificuldades nada desprezíveis: a primeira provinha do fato de os lotes coloniais com suas pequenas áreas não favorecerem a mentalidade preservacionista. A segunda tinha a ver com a mentalidade imediatista e individualista da maioria dos colonos. A terceira estava no fato de que há 90 anos passados os adeptos da preservação da natureza não passavam em muito de figuras meio exóticas, meio fora do contexto, meio visionarias. A situação era quase a oposta de hoje. Hoje, pertencer a uma entidade de proteção à natureza, discutir o assunto, estigmatizar os não preservacionistas como criminosos, como coveiros do planeta e dos seus habitantes humanos e não humanos, empresta uma certa aura às pessoas. Naquela época se dava o contrário. Por isso mesmo, uma atitude coletiva, como a da Sociedade União Popular, preocupando-se com a preservação das matas ainda existentes e pelo replantio das áreas devastadas, revestiu-se de um sentido muito mais profundo e de um valor incomparavelmente maior do que numa época como a nossa em que é politicamente correto e obrigatório adotá-lo.
A preocupação para com o ambiente natural, a preservação da natureza original, a recomposição da paisagem adulterada pelo homem, encontrou adeptos qualificados na década de 1930 e 1940. Seria muito longo enumera-los todos no âmbito limitado de um capítulo. Como referência, escolhi o Pe. Balduino Rambo, maior botânico que o rio Grande do Sul já conheceu, inventariante incansável da flora do Estado e sincero admirador da nossa paisagem natural. Em maio de 1942, apareceu a primeira edição da sua obra prima, intitulada “A Fisionomia do Rio Grande do Sul”. Nela o autor retratou o Estado do Rio Grande do Sul em todos os seus aspectos naturais mais significativos, tais e quais se apresentavam no final da década de 1930: a geologia, a topografia, a cobertura vegetal, campos, matas, áreas agrícolas, animais, clima, paisagens humanizadas. O último capítulo ele dedicou a considerações sobre a proteção à natureza. Sendo difícil acrescentar alguma coisa ou omitir outro tanto, é pertinente reproduzir o texto original.
O homem filho desta terra, que fornece o pão de cada dia e os símbolos da vida espiritual, sente um respeito inato perante a fisionomia desta sua mãe e pátria. Enquanto o espaço é suficiente e a densidade demográfica pequena, não se tornam muito conscientes tais sentimentos; mas no momento em que as necessidades brutais da vida forçam a interferir sempre mais na expressão natural do ambiente, desperta a dor perante a destruição de suas feições naturais, e o desejo de as conservar, senão no conjunto, ao menos em alguns lugares e nos traços mais característicos.
Assim no curso de todas as culturas humanas, mais ou cedo ou mais tarde, surgem as tendências de proteção ativa da natureza; um povo que se descuidasse deste elemento, seria falto dum requisito essencial da verdadeira cultura humana total, e indigno da terra, com que a pródiga mão do Criador o presenteou.
Sob a rubrica de proteção à natureza vai a conservação dos monumentos naturais, das espécies botânicas e zoológicas periclitantes, das paisagens típicas e originais – tudo isso enquanto as necessidades concretas da sociedade humana o permitirem. A proteção à natureza, em primeiro lugar está a serviço das ciências naturais, antropogeográficas e históricas; em segundo lugar, baseia-se sobre o princípio da ética natural, que considera imoral a destruição desnecessária ou inconsiderada dos tesouros da beleza nativa; em terceiro lugar, protegendo o que há de preciosos, restaurando o que já sucumbiu, acomodando as obras da mão humana ao estilo da terá, torna-se um aliado de valor da higiene e pedagogia sociais, e um adjutório indispensável da educação nacional. (Rambo, Balduino, 1942, p. 237-238)