Deitando Raízes #30

Como na época e até 1859, (117) Bom Jardim não dispunha de um sacerdote permanente, o Pe. Augustin  de Dois Irmãos ou o Pe. Johann Sedlac de São José, faziam visitas periódicas. Hospedavam-se na casa do professor Schütz. Os anos sucediam-se. Novas crianças procuravam a escola, as antigas a deixavam, enquanto o professor Schütz permanecia fiel no seu posto. Para Bom Jardim foi um orgulho que ele exerceu a função até a sua morte.
É fácil estimar o número de alunos que passaram pelas mãos do professor Schütz em 50 anos. Na média freqüentavam sua escola de 60 a 70 crianças ou até mais. Não é difícil de avaliar os méritos desta obra. Provam-no muitas picadas vizinhas nas quais os professores são trocados constantemente. Como se pode realiza neste caso algo de consistente! 
Enquanto o número de alunos era grande a escola funcionava o dia todo, de manhã e de tarde. Somente quando chegou o Pe. Schleipen em 1869, a escola estava aberta só de manhã. O catecismo era ministrado só na igreja paroquial.
Seria interessante inserir aqui a lista dos alunos dos alunos do professor Schütz nos últimos anos e como se dispersaram por toda a região colonial. Podem ser encontrados como pais e mães de família noo vale do Caí, no rio Uruguai, em Ijuí. O fato de eles educarem bem os filhos, é consequência da boa educação que receberam do professor Schütz na juventude. Na hipótese de a crônica ser publicada em forma de livro, não faltarão listas de alunos.
É perfeitamente compreensível que a abençoada atividade do venerável mestre não passasse  sem hostilizações. Seus anos de trabalho não foram sempre de sol. Vieram acompanhados também de nuvens e tempestades. A primeira tormenta que se abateu sobre ele, teve origem nos tristes desmandos no tempo do capelão Traube. O professor Schùtz,  com seu reto espírito eclesial, não foi capaz de apoiar um homem cuja vida não correspondia aos deveres e à condição de sacerdote e, ao mesmo tempo, entrou em contradição irremediável com seus superiores  eclesiásticos. A animosidade para com o professor foi o melhor atestado  a  favor deste.
Por ocasião da epidemia da varíola levantou-se uma onde de  hostilidades contra o professor Schütz. Só pessoas maldosas foram capazes  de atribuir-lhe a responsabilidade por aquela desgraça. Sua própria filha que freqüentava a aula da professora brasileira, foi a primeira a contrair o mal, sem que se desse conta que se tratava de uma doença grave e das suas conseqüências. Já em recuperação outras crianças a visitaram e levaram cana de açúcar. Doze crianças foram contagiadas. Depois disto a escola foi fechada, evidentemente muito tarde. Permaneceu fechada de três a quatro meses. Neste meio tempo o professor acompanhou muitas vezes o padre nas suas visitas aos doentes. Não lhe permitiam entrar nas casas embora nunca tivesse contraído varíola, obviamente uma grande provação para ele. É  evidente que, por pura ignorância, se fez muita coisa contra o professor, mas no final seus adversários procuraram reconciliar-se com ele. Em meio a todos esses infortúnios o velho professor conservou a serenidade e a independência. Quando os antigos contestadores  o perguntavam se receberia de volta seus filhos, respondia soberano: "Retirem seus filhos ou devolvei-os, para mim é indiferente, façam como bem entenderem." Sua manifestação durante a última doença foi de uma grande singeleza: "Enquanto puder continuo, só paro quando não puder mais."
É interessante ouvir (118) também alguma coisa  sobre o método do benemérito professor. Conforme ele mesmo afirmava, ele era exato e severo. Com razão, porque a tranqüilidade e a ordem são pressupostos indispensáveis para ensinar e educar. Quando percebia que alguém tinha talento mas lhe faltava a atenção, o professor Schütz não conhecia consideração. Era-lhe indiferente que o aluno quisesse ou não. Ele tinha que. Qualquer pessoa sensata concorda com ele.
Significa um louvor não pequeno o fato de que praticamente ninguém tinha queixa contra ele. Os pais estavam convencidos de que ele era seu digno representante, que se empenhava pelo melhor para seus filhos. Para as crianças rebeldes costumava dizer: "Se teu pai não quer que sejas castigado, que ele próprio te ensine." Via de regra a rebeldia terminava por aí mesmo.
O professor Schütz empenhava-se de modo especial pelo canto. Já falamos mais acima sobre o tirocínio aprofundado a que se submetera nesta matéria com o professor Gross em Tholey. Sobretudo demonstrava amor e gosto por esta nobre arte e, como sabemos, a natureza não fora madrasta com ele neste particular. Desde 1849 a sua voz era a coluna mestra e poderosa do coral da igreja.
Quem não se lembra com alegria  das missas solenes, nas quais ele cantava como que brincando, com voz firme e poderosa, o Introito, o Ofertório e a  Comunhão, um feito de que só um conhecedor é capaz.
Mas deixemos falar também outras opiniões  sobre a atividade do professor. O juízo é unânime e muito favorável. Entretanto, não nos pretendemos alongar  com estes testemunhos honrosos, porque já foi o dito bastante por ocasião do jubileu do professor Schütz. Pretendemos fazê-lo exaustivamente por ocasião da publicação da Crônica em forma de livro.
Semelhante ao professor Schütz foram os méritos do professor Peter Marschall da Holanda. Evidentemente não tem tantos anos de serviço prestado a oferecer. Apesar disto a sua atividade merece todo o reconhecimento. Além disto é preciso creditar-lhe  o fato de ter recusado o bom posto oferecido pelo senhor Krüger, dando preferência ao magistério numa picada. Alegramo-nos ainda de que, após anos de discórdia na comunidade, em sinal de desagravo foi reconduzido perante toda a comunidade,  ao posto que lhe era devido.
Além disso funciona ainda uma escola no Schneidersthal, que foi durante um bom tempo, regida pelo professor Christoph Führ. O professor Wilhelm Jung preside a escola  no Bohnenthal.
É um velho e justificável costume dos cronistas  emitir, paralelamente à descrição de uma época, juízos sobre ela no que se refere a assuntos do momento e, ao mesmo tempo, chamar a atenção do público sobre eles. Faremos aqui uso desta função, para submeter as escolas das colônias situadas naquela época. Assim como há consenso sobre a urgência da questão florestal e a expansão dos assentamentos de alemães, assim a escola se reveste de uma abrangência, cujo significado somente alguns percebem na sua plenitude.
Perguntando às pessoas se estão preocupadas com o progresso da colônia, respondem a uma voz: "É óbvio, todos nós queremos o progresso." Mas quando se continua perguntando: "O que fazem pela escola?"  Ouve-se apenas a resposta: "Que os outros se preocupem, nós já não temos mais filhos na escola." Com isto dão a entender que a escola não é da responsabilidade de todos, ao menos na opinião das pessoas. Trata-se de uma convicção que vem a ser um equívoco, que com o tempo se vingará amargamente.
Perguntamos então, (119) como se lida com a escola na colônia? A resposta é: Pensando bem há pouco ou nenhum interesse pela questão. Confia-se tudo ao acaso. Que no passado  tivesse havido alguns bons professores como Schütz, Adams e alguns outros, deve-se mais à Providência Divina do que ao povo do local. O mesmo parece ser verdadeiro nos dias de hoje. Quase não se pode falar em intenção, trabalho, empenho e espírito de sacrifício dos colonos. Receberam o que o acaso, melhor diríamos, a disposição de Deus lhes ofereceu.
Para qualquer um dotado de clarividência é óbvio que não pode continuar assim. A questão escolar precisa ser assumida com determinação nas colônias. Temos aqui no país a inestimável  vantagem da liberdade de ensino no sentido mais amplo  e os católicos da Alemanha têm motivo de nos invejar. Será que vamos desperdiçar  tamanha vantagem? Significaria mais do que uma negligência digna de castigo. Não passaria de uma traição para com as obrigações  do país, para com a nova pátria e até para com a nossa fé. Em nossos dias a escola desempenha de modo especial um papel de suma importância, mais do que nos tempos passados. Faz o papel de ponto de passagem entre a minoridade e a juventude autônoma. Não só lhe cabe a tarefa de livrar a criança da ignorância por meio de conhecimentos úteis, como também formar  a sua vontade, acostumando-a a praticar o bem, para que o rapaz se torne um homem íntegro e a menina uma mulher útil. Como intermediadora entre a casa paterna e a vida pública, cabe-lhe reforçar as influências salutares recebidas do pai e da mãe, consolidá-las e continuar a exercitá-las. Ao mesmo tempo ensina a criança destreza na leitura, na escrita, no cálculo, indispensáveis para o dia a dia. A escola, por fim, no papel de intermediária entre a educação religiosa em casa e a maior autonomia na comunidade da paroquial, deve oferecer um ensino religioso de profundidade. Conclui-se daí, sem mais, que o professor que se confunde com a escola,  seja um homem bem reparado na sua profissão, e serva de exemplo como um cristão fiel e piedoso. Somente quando esses três requisitos estiverem presentes na pessoa de um professor, ele está em condições de exercer sua nobre missão inteira e corretamente e atrair abundante bênção, como prova a experiência. 

Deitando Raízes #29

Capítulo segundo
A Escola
Logo depois da igreja  a escola (114)   merece a atenção. Pela própria natureza ela faz parte da igreja e da sua evolução, além de que, desde sempre, ter sido criação e colaboradora da igreja. Por essa razão é confessional pela sua própria natureza, porque lhe cabe instruir as crianças na fé dos pais e educá-las conforme os princípios da religião. Em Bom Jardim a escola manteve-se, desde o começo, fiel a esta sua destinação, antes mesmo da presença meritosa do professor Schütz, infelizmente falecido antes do seu jubileu. Por isso essa Crônica, que pretende ser uma coletânea das memórias mais valiosas do passado, vê-se na obrigação de reservar um lugar de honra para a atividade desse professor cheio de méritos.
Antes de Mathias Schütz outros professores atuaram em Bom Jardim, mas o homem a quem nos referimos supera a todos tanto no empenho quanto no tempo de permanência de 50 anos.
O primeiro professor foi o pai de Johann Adam Noschang. Reuniu oito crianças numa cabana, entre elas citamos, ao lado do filho dele próprio, Peter Noll, Magdalena Noll, Dorothea Eckert e Maria Franzen. O segundo professor um certo Rosenthal, um soldado e vadio, que não demorou para afastar-se. A escola teve seu terceiro professor na pessoa de Allgayer. Ela deve muito a ele, apesar de lhe faltar preparo profissional. Ocupemo-nos, por isso, sem mais com Mathias Schütz.


O professor Schütz nasceu no dia 21 de agosto de 1821 em Thelay, comarca de Ottweiler, região de Trier. Depois de concluir a escola elementar, transferiu-se com três companheiros da mesma idade, para a casa do professor  Gross em Tholei, para receber deste uma formação sólida e a introdução na prática da vocação de professor. O professor Gross foi um hábil  professor e um cristão convicto e fiel. Na sua casa reinava ordem e trabalhava-se duro. De manhã  cedo até altas horas da noite davam-se e recebiam-se aulas. O forte do professor era o cálculo mental. Certa ocasião deu 100 tarefas para os candidatos, entre elas uma tão complicada que, no primeiro momento, o próprio mestre não conseguiu resolvê-la. Os quatro candidatos a professor levaram o problema para a cama no sótão. O problema, entretanto, não deixou descanso para o nosso Mathias Schütz. Em vez de dormir continuou trabalhando nele e, de fato, após muito esforço, encontrou a solução. Já que a questão interessava a todos, também o professor, antes mesmo da oração da manhã seguinte, fez a pergunta: Conseguiu solucionar o problema? O professor deus-e por satisfeito. Só não concordou com o método que levara Mathis Schütz  até a solução. Só depois de resolvida a questão pronunciou-se a oração da manhã. Este episódio significou uma grande alteração da ordem usual da casa, na qual nunca se permitia uma exceção. A primeira coisa depois de levantar era a oração. Antes dela não se falava uma única palavra. Os candidatos a professor aprenderam do professor Gross o que mais tarde foi de tanta importância para o professor Mathias Schütz: ensinar bem e cantar com entusiasmo. O professor Gross gozava de grande respeito perante seus superiores e colegas. Os jovens professores eram obrigados a assistir à conferência por ele presidida. O professor era um excelente músico. Tocava violino, piano e órgão. Era um prazer escutá-lo. (115) Interpretava qualquer partitura que lhe caísse nas mãos, fossem notas simples ou de coral. Que um homem destes formasse professores com domínio sobre as notas, não é nenhum milagre.
O pároco e decano Thilmany teve uma grande influência na trajetória de formação do professor Schütz. O exemplo do zeloso sacerdote que administrava conscientemente uma vasta paróquia, despertava nos candidatos o entusiasmo pela vocação de educar e ensinar. Entende-se que a atividade de um tal sacerdote deixasse uma profunda impressão na comunidade. Tholey conservou-se brilhantemente durante anos. Durante o Kulturkampf, durante anos, não contou com nenhum sacerdote, mesmo assim permaneceu piedosa e fiel como antes. Apesar das carências manteve um nível melhor do que outras comunidades, que contaram sempre com um pastor de almas.
A Viagem ao Brasil.
No começo Mathias Schütz  não pensara em emigrar. Certo dia um amigo de juventude Jacob Bard de Porto Alegre, disse-lhe: "Que achas, vamos também para o Brasil, para aí tentar a sorte?" Na ocasião a pergunta não foi séria, mas viria a tornar-se séria. Os dois não viajaram juntos mas ambos terminaram no Brasil.
Schütz e sua primeira esposa partiram de Antuérpia em 1846. O navio que os levou até o Rio de Janeiro chamava-se "Industriell", um bimastro. Foi uma viagem tranqüila, sem tempestades e sem riscos. Os perigos começaram apenas no Rio de Janeiro, onde os imigrantes, cerca de 40, todos alemães, foram obrigados a permanecer. Durante a estadia na capital nasceu a princesa Isabel. Por causa deste acontecimento reinou um grande júbilo na cidade. As casas estavam embandeiradas, troavam os tiros de canhão e os carros andavam o dia inteiro pelas ruas. Os imigrantes, por sua vez, não mostravam disposição tão festiva. Como já acontecera antes e como aconteceria mais vezes no futuro, tentou-se negociar os recém-chegados  com os plantadores de café. Não foram desembarcados mas deixados nos navios para quebrar-lhe o ânimo. Mas a intriga não deu resultado. Sem perder tempo o nosso Schütz dirigiu-se ao cônsul prussiano que, ao que parece, estava mancomunado com a trama. Schütz foi direto ao assunto: "Foi-nos dito na partida: dirijam-se tranqüilos ao cônsul. Ele os ajudará e assistirá em todas as dificuldades. E o que estamos vendo? tentam trair-nos e vender-nos!"
A reclamação deu efeito. As coisas começaram a acontecer. Saiu a ordem que as pessoas fossem  encaminhadas, às custas do governo, para o destino original no Rio Grande do Sul. Mathias Schütz lembra-se desse momento com alegria e emoção e do internúncio que visitou seguidas vezes os imigrantes abrigados no Rio de Janeiro e com eles manteve conversas de uma simpatia extrema. Admoestou-os paternalmente  que se mantivessem fiéis  a nossa fé católica e não contraíssem matrimônios na presença de um pregador protestante. Com a maior das  boas vontades ajudaria  pessoalmente a pagar a viagem.
O falecido conta como finalmente seguiram viagem, partindo do Rio de Janeiro. Nessa viagem, porém, não nos foi possível dispor as coisas de acordo com a nossa vontade, como fora na travessia do oceano. “Naquela nos reuníamos para a oração diária e a ninguém era permitido ficar no tombadilho durante a oração. Agora já não foi tão fácil repetir a prática”.
Desembarcamos em Porto Alegre no dia 21 de setembro de 1846. Por uma dessas felizes coincidências andava-se à procura de um professor em Bom Jardim. (116) Espalhara-se a notícia do desembarque de imigrantes alemães. As sondagens à procura de um professor apontaram para o professor Schütz, que ministrara aulas para as crianças durante a viagem. Um certo comerciante Kerber, que morava na  casa onde hoje reside o senhor Lamb (na ponte do Buraco do Diabo) buscou Schütz em São Leopoldo para contratá-lo como professor para seus filhos. Um carroceiro que morava perto de Herzer, foi encarregado de transportar Schütz. Mas como era costume dos carroceiros da época, parava em tudo que era lugar. Neste meio tempo anoiteceu antes de alcançar Herzer, lá no alto, perto da igreja protestante. Decidiram pernoitar aí mesmo e, foi neste local, que Schütz experimentou a primeira impressão favorável de Bom Jardim. Foi servido na mesa um assado que, com certeza, media um palmo de espessura o qual  foi atacado com coragem.
 A situação escolar em Bom Jardim era a seguinte Os evangélicos tinham como professor o velho Herzer com quem as crianças aprendiam bastante bem. Não era bem o caso do professor católico Allgayer. Não se empenhava muito pela escola, de um lado porque gostava demais da caça e, do outro, porque o salário não o satisfazia. Recebia oito vinténs por criança por mês e nem essa bagatela era pontualmente paga. O novo professor ocupou-se até o final daquele com os filhos de Kerber na sua própria casa.
Em 1847 foi destinada uma cabana para servir de escola no Buraco do Diabo, onde agora mora Peter Kuhn Filho. E que espetáculo! Não havia assoalho de tábuas, apenas chão batido. Tábuas colocadas sobre cepos firmados no chão serviam de mesas. Com 18 crianças, algumas delas ainda vivas,  começaram com alegria e satisfação as atividades. Ente elas conta-se uma Engerof, a mulher do Wüst e uma filha do velho Gehring. Em junho do mesmo ano o número de alunos subira para 40. O salário do professor teve um incremento significativo. Pagavam-se agora 24 vinténs por mês por criança.
O primeiro mês daquele ano foi marcado por um rude golpe. No dia 27 de janeiro faleceu a primeira esposa do professor, depois de lhe ter dado uma filha no dia 14.
Além da cabana mencionada outras casas  serviam de escola nos três primeiros anos. Durante um inverno o professor lecionou perto do arroio no Buraco na Quarenta e Oito. Mais tarde a escola funcionou nas dependências  do velho Lerner lá no alto, onde se usou um bela sala para essa finalidade. Em certa ocasião o Pe. Augustin Lipinski submeteu naquele local as crianças a um exame. Entre outras coisas propôs a solução de contas. Mais tarde observou: "Pareceu-me impossível  levar as crianças na mata virgem a um tal nível na realização de cálculos.
Em 1850 Mathias Schütz que casara de novo comprou uma terra para si e ministrava as aulas na sua residência. Desde então este seria o local da escola, um local belo, retirado, muito apropriado para a atividade de um professor.


Por essa época o Pe. Augsutin Lipinski empenhava-se em conquistar o professor Schütz para a sua paróquia. Trabalhou neste sentido conforme o depoimento do próprio professor Schütz, mas em vão. O povo estava sumamente satisfeito com seu jovem e dinâmico professor, apesar de não utilizar sutilezas com as pessoas. A que ponto foi a afeição ficou claro na manifestação inusitada  atribuida ao velho Kerber: "Se o padre nos tira o professor, quebramos-lhe as pernas." De mais a mais não demorou que Dois Irmãos fosse bem servido. Recebeu o velho Adams, um professor de extremo empenho, atuando aí por anos coberto de grandes bênçãos.

Deitando Raízes #27

c. A Decoração da Igreja.
As primeiras notícias sobre a decoração da igreja e a aquisição de material para o culto divino, estão registradas no "Livro da Igreja" de 1861.
Eu abaixo assinado sacerdote, aqui desde março de 1859 como coadjutor, para atuar na pastoral nas picadas de Bom Jardim, Quarenta e Oito e Café, declaro que no ano de 1860 mandei vir de Colônia no Reno para a capela de São Pedro em Bom Jardim, que carecia de todas as alfaias da igreja, um ostensório, um cibório, um turíbulo e correspondente naveta de latão e que estes objetos com hóstias me foram enviados. As despesas entre comissões e os demais custos com frete marítimo e alfândega somaram ao todo 200$000. Mandei pagar este montante através do Sr. Quintiliano Raupp, meu procurador em Porto Alegre, ao sr. comerciante Sesiano, que providenciara por estes objetos desde a Alemanha. A comunidade a que se destinavam os objetos comprados, pagou  a soma acima, de maneira que o sr. Sesiano não tem mais nada a reclamar da comunidade. Em vista do pagamento declaro os objetos acima mencionados como propriedade da referida capela e da comunidade católica a ela pertencente. Hoje, quarta feira de cinzas, 13 de fevereiro de 1861, presto contas perante o conselho da igreja, formado por Johann Finger, fabriqueiro, Friedrich Feyh, Johannes Dilli, Anton Anschau e Johann Fröhlich. Como prova da  verdade para sempre consignei no livro da igreja, com as minhas mãos esta  declaração e a assinei com o meu punho.
João Meinulpho Traube
Coadjutor da Freguesia de São Leopoldo
A lista das doações para a igreja começa com a reunião da diretoria em 27 de dezembro de 1869, na presença de todos os membros da diretoria. Primeiramente foram recebidas diversas doações feitas  à igreja e expressos os agradecimentos aos doadores.
As doações foram:
1. Quatro lanternas (111) para acompanhar o Santíssimo sacramento na procissão. Doação do censor Johann Schneider.
2. Uma bela casula de seda vermelha para dias festivos. Presente do censor Friedrich Arendt.
3. Uma lamparina, presente do mesmo.
4. Uma alba, uma sobrepelis, uma toalha para o altar, doada por Catharina Kalsing.
5. Um missal doado por Anschau.
Na mesma ocasião foi decidida  a aquisição de um baú de folha para guardar os paramentos da igreja e encomendar em Munique uma estátua São Pedro com 1, 40 de altura.
                                                                                     Data como acima                                                                                   O vigário Pe. Franz Schleipen
O altar de Nossa Senhor foi erguido em 1870. Na ocasião as coisas se deram de maneira um tanto estranha. O mestre marceneiro foi o Pe.. Schleipen, auxiliado por alguns colonos. O resultado teria sido melhor se Jacob Dilli não estivesse na guerra do Paraguai. Fez-se o possível com serras, plainas e  pregos. A madeira era bonita e de boa qualidade, mas sem ser chamfrada e colada, apenas pregada. Entende-se que os custos em dinheiro vivo, não contando o trabalho voluntário, ficaram em apenas 25$000. O Pe. Steinhart benzeu o altar   e o Pe. Schleipen fez o sermão no qual incorreu num fatal lapso de linguagem. Em espírito estava preocupado com a acusação falsa dos protestantes que afirmam que os católicos  adoram Maria trocando "venerar" por "adorar." O fato deu-se assim. Depois de mostrar o quanto o próprio Deus honrava Maria, continuou: E, apesar de Deus ter feito tanto por sua mãe, existem ainda pessoas que afirmam que não se pode “adorar” Maria. Grande estrago o equívoco involuntário não terá causado, porque os católicos o corrigem inconscientemente.
Em setembro do mesmo ano chegou a estátua de São Pedro. Custou 200 mil réis. Não foi, porém,  aquela de 140 centímetros que havia sido encomendada por decisão da comunidade. Neste meio tempo chegou-se à conclusão acertada de que seria muito melhor mandar vir uma maior. Esta é a que se encontra ainda hoje no altar. A menor veio antes mas ficou mais tempo em Porto Alegre e, finalmente, foi vendida para uma capela da Feliz do mesmo nome. O altar construído pelo mestre Carl Arnold, já não servia para a estátua que era maior de que uma pessoa. De qualquer forma não era uma obra prima e, com a sua pintura verde e sua forama redonda e ondulada, não era adequado. Por isso foi totalmente  modificado. A partir de cima em semicírculo foi rebaixada e adaptada para servir de base para a estátua que, entre leques e ramalhetes, emprestou  um aspecto bem pitoresco. No dia primeiro de outubro São Pedro contemplou pela primeira vez os seus fiéis bonjardineneses. O terceiro altar foi adquirido para São José, doado inteiramente por Johann Schneider. São da mesma época os anjos do tabernáculo e o pequena Menino Jesus. Na ocasião o Sr. Bispo D. Sebastião enviou para Bom Jardim duas caixas de valiosos  utensílios para a igreja. Entre eles havia muitos paramentos além de uma capa branca  usada ainda hoje. Acompanhava também um cálice alto, um bonito cibório, um missal e uma quantidade de luminárias. Foi um importante enriquecimento para o  patrimônio da igreja. Mais tarde acresceu um cálice para dias festivos que custou 70 mil réis. O púlpito de Bom Jardim data também dos anos de 1870. Antes dele usava-se para esta finalidade um estrado mais parecido com uma caixa de farinha do que com um púlpito. (112) Jacob Dilli não participou da sua confecção porque ainda se encontrava na guerra. Somente a conca açustica que acresceu mais tarde, foi obra sua. Em 1873 foi a vez de cuidar do exterior da igreja com uma pintura, mas não foi saiu como poderia ter sido se  dispusesse de mais dinheiro. O acréscimo de uma sacristia ocorrido antes, só foi possível porque a comunidade recebeu um reforço da assembléia provincial, por intermédio do vigário. Antes da doação do bispo o vigário confeccionara com as próprias mãos uma casula muito elogiada que o senhor João Mayer Junior ofereceria aos fregueses de hoje acostumados a coisa melhor. Apesar disto prestou bons serviços.
A maior transformação da igreja aconteceu em 1889. Toda a construção foi atacada. A torre de madeira em mau estado, que para alguns se parecia com um velho pombal, para outros um gorro de dormir na cabeça de um venerando ancião, foi posta abaixo. A nave central sofreu um alongamento e, como a comunidade em peso meteu a mão na massa, não foi milagre que encompridasse por três janelas. Já que grandes e pequenos, de longe e de perto, carregavam pedras, foi possível partir para a construção de uma elegante torres. Com a ajuda de  Deus e sem um acidente maior, a última pedra foi colocada na festa da Páscoa de 1890. Como todos que visitaram Bom Jardim, a igreja paroquial, como se diz, pode apresentar-se. Quando se olha da direção de São José para Bom Jardim, ela se ergue  na encosta entre casas isoladas parecendo  um pastor rodeado pelo rebanho. Descendo pelo caminho passando pelo Anschau, parece reinar no alto como uma rainha. No mesmo ano e nos seguintes, o interior foi contemplado com uma decoração ainda mais vistosa. Especialmente no último ano a comunidade  católica fez excepcionalmente muito pela  decoração, como provam as seguintes iniciativas. Por ocasião do alongamento  da nave, foram colocadas duas portas, permitindo uma ventilação melhor. Na mesma ocasião a igreja  recebeu quatro belos vitrais, artisticamente acabados pelo senhor Wollmann. Um representa a Mãe Dolorosa e foi doado pelo mais velho bonjardinense Adam Noschang, em agradecimento pela restabelecimento da sua saúde.  Agradecendo a missão pregada em 1886, a comunidade doou o segundo que reproduz uma cena da última ceia. O terceiro, no lado dos homens, apresenta São Luiz num belo  acabamento, enquanto no  lado das mulheres, a representação  de Santa Ana com a pequena Maria, enche os olhos.  No decorrer do ano de 1892 foram renovadas finalmente todas as janelas, pelo mesmo mestre, com simplicidade mas bom gosto, em parte com vidro colorido. O assoalho foi inteiramente renovado com lajes de Bom Jardim. Para que o coro preservasse suas características, a firma Ferreira de Porto Alegre  revestiu-o finalmente com placas de cimento colorido. Com isto estava providenciado para os olhos e estava na hora  de pensar também nos ouvidos. Com essas finalidade foi adquirido um harmônio por 700 mil réis. Agradou tanto que as comunidades vizinhas logo imitaram o exemplo de Bom Jardim. Mas o maior ornamento da igreja foram, sem dúvida, os três magníficos sinos que foram inaugurados por ocasião da Páscoa de 1896. Antes de nos ocuparmos com essa solenidade, queremos observar o que foi feito com os dois sinos velhos de 1857. O maior foi dado de presente para o Bohnenthal porque seus moradores colaboraram generosa e assiduamente  com os bomjardinenses na restauração da igreja. O outro foi para o Schneidersthal  que, apesar da distância maior contribuiu na medida do possível com a igreja.
A bênção dos sinos aconteceu na Páscoa de 1896 e foi acompanhada por uma grade participação dos paroquianos e com a maior solenidade. Depois do ritual prescrito os sinos foram incensados com incenso e murta, lavados com água benta, untados com óleo de crisma, cerimônia pela qual foram consagrados como mensageiros do cristianismo. Não faltaram os padrinhos do batismo que conquistaram esta honra, pelo leilão de uma contribuição correspondente ao tamanho   do sino. O maior foi batizado com  o nome de Pedro, sendo o padrinho Peter Kuhn, o segundo com o nome de Maria e o terceiro com o de José.
Depois de alçados e suspensos na nova moradia, deixaram ouvir, pela primeira vez, o seu poderoso e harmônico badalar. Nesta ocasião o professor Schütz, mais uma vez e pela última, fez ouvir com entusiasmo o seu canto de cisne. Como o campanário ainda não fora fechada com tábuas dentro da igreja, o som vibrante dos sinos desceu até dentro da igreja. Já não se escutou o harmônio e o coral da igreja, submergidos no mar revolto do badalar dos sinos. Apenas um cantor conseguiu manter-se acima das ondas. Foi o professor Schütz que, em meio à tempestade de sons, avançou até a mesa da comunhão e firme sobre o chão sólido, salvou a honra dos cantores de Bom Jardim. Com a presença do bispo D. Cláudio Ponce de Leão, que na ocasião abençoou  e coroou  com uma bela coroa de prata a  estátua de Nossa senhora, doada pelas mulheres de toda a paróquia. A senhora Seidel doou na ocasião um bonito lustre que contribuiu com o clima de solenidade dos cultos à noite e nas grandes festas.
Para o Natal foi adquirido na Alemanha um gracioso presépio no valor de 120 mil réis. O valor foi coberto por doação de Gross e Klein na bandeja das coletas. O presépio obteve o aplauso de toda a comunidade de modo especial das crianças. Com que ar de admiração contemplavam a sugestiva cena e como brilhavam admirados os olhos ao escutarem do interior da gruta as melodias das duas velhas e simpáticas canções alemãs: Noite Feliz e Deus Eterno a Vós Louvor, emitidos pela caixinha de música, com se fossem vozes de anjos. A igreja foi toda caiada por ocasião da construção da torre, emprestando-lhe um clima de asseio. As suas redondezas foram embelezadas com pedras tumulares bem acabadas, principalmente aquelas trabalhadas pelo senhor Petri do Bohnenthal. Destacavam-se  a cruz do cemitério, uma lembrança de gratidão ao Rev, Pe. Andreas Eultgen, assim como o túmulo do professor Schütz e do fabriqueiro Johann Finger.