Deitando Raízes #30

Como na época e até 1859, (117) Bom Jardim não dispunha de um sacerdote permanente, o Pe. Augustin  de Dois Irmãos ou o Pe. Johann Sedlac de São José, faziam visitas periódicas. Hospedavam-se na casa do professor Schütz. Os anos sucediam-se. Novas crianças procuravam a escola, as antigas a deixavam, enquanto o professor Schütz permanecia fiel no seu posto. Para Bom Jardim foi um orgulho que ele exerceu a função até a sua morte.
É fácil estimar o número de alunos que passaram pelas mãos do professor Schütz em 50 anos. Na média freqüentavam sua escola de 60 a 70 crianças ou até mais. Não é difícil de avaliar os méritos desta obra. Provam-no muitas picadas vizinhas nas quais os professores são trocados constantemente. Como se pode realiza neste caso algo de consistente! 
Enquanto o número de alunos era grande a escola funcionava o dia todo, de manhã e de tarde. Somente quando chegou o Pe. Schleipen em 1869, a escola estava aberta só de manhã. O catecismo era ministrado só na igreja paroquial.
Seria interessante inserir aqui a lista dos alunos dos alunos do professor Schütz nos últimos anos e como se dispersaram por toda a região colonial. Podem ser encontrados como pais e mães de família noo vale do Caí, no rio Uruguai, em Ijuí. O fato de eles educarem bem os filhos, é consequência da boa educação que receberam do professor Schütz na juventude. Na hipótese de a crônica ser publicada em forma de livro, não faltarão listas de alunos.
É perfeitamente compreensível que a abençoada atividade do venerável mestre não passasse  sem hostilizações. Seus anos de trabalho não foram sempre de sol. Vieram acompanhados também de nuvens e tempestades. A primeira tormenta que se abateu sobre ele, teve origem nos tristes desmandos no tempo do capelão Traube. O professor Schùtz,  com seu reto espírito eclesial, não foi capaz de apoiar um homem cuja vida não correspondia aos deveres e à condição de sacerdote e, ao mesmo tempo, entrou em contradição irremediável com seus superiores  eclesiásticos. A animosidade para com o professor foi o melhor atestado  a  favor deste.
Por ocasião da epidemia da varíola levantou-se uma onde de  hostilidades contra o professor Schütz. Só pessoas maldosas foram capazes  de atribuir-lhe a responsabilidade por aquela desgraça. Sua própria filha que freqüentava a aula da professora brasileira, foi a primeira a contrair o mal, sem que se desse conta que se tratava de uma doença grave e das suas conseqüências. Já em recuperação outras crianças a visitaram e levaram cana de açúcar. Doze crianças foram contagiadas. Depois disto a escola foi fechada, evidentemente muito tarde. Permaneceu fechada de três a quatro meses. Neste meio tempo o professor acompanhou muitas vezes o padre nas suas visitas aos doentes. Não lhe permitiam entrar nas casas embora nunca tivesse contraído varíola, obviamente uma grande provação para ele. É  evidente que, por pura ignorância, se fez muita coisa contra o professor, mas no final seus adversários procuraram reconciliar-se com ele. Em meio a todos esses infortúnios o velho professor conservou a serenidade e a independência. Quando os antigos contestadores  o perguntavam se receberia de volta seus filhos, respondia soberano: "Retirem seus filhos ou devolvei-os, para mim é indiferente, façam como bem entenderem." Sua manifestação durante a última doença foi de uma grande singeleza: "Enquanto puder continuo, só paro quando não puder mais."
É interessante ouvir (118) também alguma coisa  sobre o método do benemérito professor. Conforme ele mesmo afirmava, ele era exato e severo. Com razão, porque a tranqüilidade e a ordem são pressupostos indispensáveis para ensinar e educar. Quando percebia que alguém tinha talento mas lhe faltava a atenção, o professor Schütz não conhecia consideração. Era-lhe indiferente que o aluno quisesse ou não. Ele tinha que. Qualquer pessoa sensata concorda com ele.
Significa um louvor não pequeno o fato de que praticamente ninguém tinha queixa contra ele. Os pais estavam convencidos de que ele era seu digno representante, que se empenhava pelo melhor para seus filhos. Para as crianças rebeldes costumava dizer: "Se teu pai não quer que sejas castigado, que ele próprio te ensine." Via de regra a rebeldia terminava por aí mesmo.
O professor Schütz empenhava-se de modo especial pelo canto. Já falamos mais acima sobre o tirocínio aprofundado a que se submetera nesta matéria com o professor Gross em Tholey. Sobretudo demonstrava amor e gosto por esta nobre arte e, como sabemos, a natureza não fora madrasta com ele neste particular. Desde 1849 a sua voz era a coluna mestra e poderosa do coral da igreja.
Quem não se lembra com alegria  das missas solenes, nas quais ele cantava como que brincando, com voz firme e poderosa, o Introito, o Ofertório e a  Comunhão, um feito de que só um conhecedor é capaz.
Mas deixemos falar também outras opiniões  sobre a atividade do professor. O juízo é unânime e muito favorável. Entretanto, não nos pretendemos alongar  com estes testemunhos honrosos, porque já foi o dito bastante por ocasião do jubileu do professor Schütz. Pretendemos fazê-lo exaustivamente por ocasião da publicação da Crônica em forma de livro.
Semelhante ao professor Schütz foram os méritos do professor Peter Marschall da Holanda. Evidentemente não tem tantos anos de serviço prestado a oferecer. Apesar disto a sua atividade merece todo o reconhecimento. Além disto é preciso creditar-lhe  o fato de ter recusado o bom posto oferecido pelo senhor Krüger, dando preferência ao magistério numa picada. Alegramo-nos ainda de que, após anos de discórdia na comunidade, em sinal de desagravo foi reconduzido perante toda a comunidade,  ao posto que lhe era devido.
Além disso funciona ainda uma escola no Schneidersthal, que foi durante um bom tempo, regida pelo professor Christoph Führ. O professor Wilhelm Jung preside a escola  no Bohnenthal.
É um velho e justificável costume dos cronistas  emitir, paralelamente à descrição de uma época, juízos sobre ela no que se refere a assuntos do momento e, ao mesmo tempo, chamar a atenção do público sobre eles. Faremos aqui uso desta função, para submeter as escolas das colônias situadas naquela época. Assim como há consenso sobre a urgência da questão florestal e a expansão dos assentamentos de alemães, assim a escola se reveste de uma abrangência, cujo significado somente alguns percebem na sua plenitude.
Perguntando às pessoas se estão preocupadas com o progresso da colônia, respondem a uma voz: "É óbvio, todos nós queremos o progresso." Mas quando se continua perguntando: "O que fazem pela escola?"  Ouve-se apenas a resposta: "Que os outros se preocupem, nós já não temos mais filhos na escola." Com isto dão a entender que a escola não é da responsabilidade de todos, ao menos na opinião das pessoas. Trata-se de uma convicção que vem a ser um equívoco, que com o tempo se vingará amargamente.
Perguntamos então, (119) como se lida com a escola na colônia? A resposta é: Pensando bem há pouco ou nenhum interesse pela questão. Confia-se tudo ao acaso. Que no passado  tivesse havido alguns bons professores como Schütz, Adams e alguns outros, deve-se mais à Providência Divina do que ao povo do local. O mesmo parece ser verdadeiro nos dias de hoje. Quase não se pode falar em intenção, trabalho, empenho e espírito de sacrifício dos colonos. Receberam o que o acaso, melhor diríamos, a disposição de Deus lhes ofereceu.
Para qualquer um dotado de clarividência é óbvio que não pode continuar assim. A questão escolar precisa ser assumida com determinação nas colônias. Temos aqui no país a inestimável  vantagem da liberdade de ensino no sentido mais amplo  e os católicos da Alemanha têm motivo de nos invejar. Será que vamos desperdiçar  tamanha vantagem? Significaria mais do que uma negligência digna de castigo. Não passaria de uma traição para com as obrigações  do país, para com a nova pátria e até para com a nossa fé. Em nossos dias a escola desempenha de modo especial um papel de suma importância, mais do que nos tempos passados. Faz o papel de ponto de passagem entre a minoridade e a juventude autônoma. Não só lhe cabe a tarefa de livrar a criança da ignorância por meio de conhecimentos úteis, como também formar  a sua vontade, acostumando-a a praticar o bem, para que o rapaz se torne um homem íntegro e a menina uma mulher útil. Como intermediadora entre a casa paterna e a vida pública, cabe-lhe reforçar as influências salutares recebidas do pai e da mãe, consolidá-las e continuar a exercitá-las. Ao mesmo tempo ensina a criança destreza na leitura, na escrita, no cálculo, indispensáveis para o dia a dia. A escola, por fim, no papel de intermediária entre a educação religiosa em casa e a maior autonomia na comunidade da paroquial, deve oferecer um ensino religioso de profundidade. Conclui-se daí, sem mais, que o professor que se confunde com a escola,  seja um homem bem reparado na sua profissão, e serva de exemplo como um cristão fiel e piedoso. Somente quando esses três requisitos estiverem presentes na pessoa de um professor, ele está em condições de exercer sua nobre missão inteira e corretamente e atrair abundante bênção, como prova a experiência. 

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