c. A Decoração da Igreja.
As primeiras
notícias sobre a decoração da igreja e a aquisição de material para o culto
divino, estão registradas no "Livro da Igreja" de 1861.
Eu abaixo assinado
sacerdote, aqui desde março de 1859 como coadjutor, para atuar na pastoral nas
picadas de Bom Jardim, Quarenta e Oito e Café, declaro que no ano de 1860
mandei vir de Colônia no Reno para a capela de São Pedro em Bom Jardim, que
carecia de todas as alfaias da igreja, um ostensório, um cibório, um turíbulo e
correspondente naveta de latão e que estes objetos com hóstias me foram
enviados. As despesas entre comissões e os demais custos com frete marítimo e
alfândega somaram ao todo 200$000. Mandei pagar este montante através do Sr.
Quintiliano Raupp, meu procurador em Porto Alegre, ao sr. comerciante Sesiano,
que providenciara por estes objetos desde a Alemanha. A comunidade a que se
destinavam os objetos comprados, pagou a
soma acima, de maneira que o sr. Sesiano não tem mais nada a reclamar da
comunidade. Em vista do pagamento declaro os objetos acima mencionados como
propriedade da referida capela e da comunidade católica a ela pertencente.
Hoje, quarta feira de cinzas, 13 de fevereiro de 1861, presto contas perante o
conselho da igreja, formado por Johann Finger, fabriqueiro, Friedrich Feyh,
Johannes Dilli, Anton Anschau e Johann Fröhlich. Como prova da verdade para sempre consignei no livro da
igreja, com as minhas mãos esta
declaração e a assinei com o meu punho.
João Meinulpho
Traube
Coadjutor da
Freguesia de São Leopoldo
A lista das doações
para a igreja começa com a reunião da diretoria em 27 de dezembro de 1869, na
presença de todos os membros da diretoria. Primeiramente foram recebidas
diversas doações feitas à igreja e
expressos os agradecimentos aos doadores.
As doações foram:
1. Quatro lanternas
(111) para acompanhar o Santíssimo sacramento na procissão. Doação do censor
Johann Schneider.
2. Uma bela casula
de seda vermelha para dias festivos. Presente do censor Friedrich Arendt.
3. Uma lamparina,
presente do mesmo.
4. Uma alba, uma
sobrepelis, uma toalha para o altar, doada por Catharina Kalsing.
5. Um missal doado
por Anschau.
Na mesma ocasião foi
decidida a aquisição de um baú de folha
para guardar os paramentos da igreja e encomendar em Munique uma estátua São
Pedro com 1, 40 de altura.
Data
como acima O
vigário Pe. Franz Schleipen
O altar de Nossa
Senhor foi erguido em 1870. Na ocasião as coisas se deram de maneira um tanto
estranha. O mestre marceneiro foi o Pe.. Schleipen, auxiliado por alguns
colonos. O resultado teria sido melhor se Jacob Dilli não estivesse na guerra
do Paraguai. Fez-se o possível com serras, plainas e pregos. A madeira era bonita e de boa
qualidade, mas sem ser chamfrada e colada, apenas pregada. Entende-se que os
custos em dinheiro vivo, não contando o trabalho voluntário, ficaram em apenas
25$000. O Pe. Steinhart benzeu o altar
e o Pe. Schleipen fez o sermão no qual incorreu num fatal lapso de
linguagem. Em espírito estava preocupado com a acusação falsa dos protestantes
que afirmam que os católicos adoram
Maria trocando "venerar" por "adorar." O fato deu-se assim.
Depois de mostrar o quanto o próprio Deus honrava Maria, continuou: E, apesar
de Deus ter feito tanto por sua mãe, existem ainda pessoas que afirmam que não
se pode “adorar” Maria. Grande estrago o equívoco involuntário não terá
causado, porque os católicos o corrigem inconscientemente.
Em setembro do mesmo
ano chegou a estátua de São Pedro. Custou 200 mil réis. Não foi, porém, aquela de 140 centímetros que havia sido
encomendada por decisão da comunidade. Neste meio tempo chegou-se à conclusão
acertada de que seria muito melhor mandar vir uma maior. Esta é a que se
encontra ainda hoje no altar. A menor veio antes mas ficou mais tempo em Porto
Alegre e, finalmente, foi vendida para uma capela da Feliz do mesmo nome. O
altar construído pelo mestre Carl Arnold, já não servia para a estátua que era
maior de que uma pessoa. De qualquer forma não era uma obra prima e, com a sua
pintura verde e sua forama redonda e ondulada, não era adequado. Por isso foi
totalmente modificado. A partir de cima
em semicírculo foi rebaixada e adaptada para servir de base para a estátua que,
entre leques e ramalhetes, emprestou um
aspecto bem pitoresco. No dia primeiro de outubro São Pedro contemplou pela
primeira vez os seus fiéis bonjardineneses. O terceiro altar foi adquirido para
São José, doado inteiramente por Johann Schneider. São da mesma época os anjos
do tabernáculo e o pequena Menino Jesus. Na ocasião o Sr. Bispo D. Sebastião
enviou para Bom Jardim duas caixas de valiosos
utensílios para a igreja. Entre eles havia muitos paramentos além de uma
capa branca usada ainda hoje.
Acompanhava também um cálice alto, um bonito cibório, um missal e uma quantidade
de luminárias. Foi um importante enriquecimento para o patrimônio da igreja. Mais tarde acresceu um
cálice para dias festivos que custou 70 mil réis. O púlpito de Bom Jardim data
também dos anos de 1870. Antes dele usava-se para esta finalidade um estrado
mais parecido com uma caixa de farinha do que com um púlpito. (112) Jacob Dilli
não participou da sua confecção porque ainda se encontrava na guerra. Somente a
conca açustica que acresceu mais tarde, foi obra sua. Em 1873 foi a vez de
cuidar do exterior da igreja com uma pintura, mas não foi saiu como poderia ter
sido se dispusesse de mais dinheiro. O
acréscimo de uma sacristia ocorrido antes, só foi possível porque a comunidade
recebeu um reforço da assembléia provincial, por intermédio do vigário. Antes
da doação do bispo o vigário confeccionara com as próprias mãos uma casula
muito elogiada que o senhor João Mayer Junior ofereceria aos fregueses de hoje
acostumados a coisa melhor. Apesar disto prestou bons serviços.
A maior
transformação da igreja aconteceu em 1889. Toda a construção foi atacada. A
torre de madeira em mau estado, que para alguns se parecia com um velho pombal,
para outros um gorro de dormir na cabeça de um venerando ancião, foi posta
abaixo. A nave central sofreu um alongamento e, como a comunidade em peso meteu
a mão na massa, não foi milagre que encompridasse por três janelas. Já que
grandes e pequenos, de longe e de perto, carregavam pedras, foi possível partir
para a construção de uma elegante torres. Com a ajuda de Deus e sem um acidente maior, a última pedra
foi colocada na festa da Páscoa de 1890. Como todos que visitaram Bom Jardim, a
igreja paroquial, como se diz, pode apresentar-se. Quando se olha da direção de
São José para Bom Jardim, ela se ergue
na encosta entre casas isoladas parecendo um pastor rodeado pelo rebanho. Descendo pelo
caminho passando pelo Anschau, parece reinar no alto como uma rainha. No mesmo
ano e nos seguintes, o interior foi contemplado com uma decoração ainda mais
vistosa. Especialmente no último ano a comunidade católica fez excepcionalmente muito pela decoração, como provam as seguintes
iniciativas. Por ocasião do alongamento
da nave, foram colocadas duas portas, permitindo uma ventilação melhor.
Na mesma ocasião a igreja recebeu quatro
belos vitrais, artisticamente acabados pelo senhor Wollmann. Um representa a Mãe
Dolorosa e foi doado pelo mais velho bonjardinense Adam Noschang, em
agradecimento pela restabelecimento da sua saúde. Agradecendo a missão pregada em 1886, a
comunidade doou o segundo que reproduz uma cena da última ceia. O terceiro, no
lado dos homens, apresenta São Luiz num belo
acabamento, enquanto no lado das
mulheres, a representação de Santa Ana
com a pequena Maria, enche os olhos. No
decorrer do ano de 1892 foram renovadas finalmente todas as janelas, pelo mesmo
mestre, com simplicidade mas bom gosto, em parte com vidro colorido. O assoalho
foi inteiramente renovado com lajes de Bom Jardim. Para que o coro preservasse
suas características, a firma Ferreira de Porto Alegre revestiu-o finalmente com placas de cimento
colorido. Com isto estava providenciado para os olhos e estava na hora de pensar também nos ouvidos. Com essas
finalidade foi adquirido um harmônio por 700 mil réis. Agradou tanto que as
comunidades vizinhas logo imitaram o exemplo de Bom Jardim. Mas o maior
ornamento da igreja foram, sem dúvida, os três magníficos sinos que foram
inaugurados por ocasião da Páscoa de 1896. Antes de nos ocuparmos com essa
solenidade, queremos observar o que foi feito com os dois sinos velhos de 1857.
O maior foi dado de presente para o Bohnenthal porque seus moradores
colaboraram generosa e assiduamente com
os bomjardinenses na restauração da igreja. O outro foi para o
Schneidersthal que, apesar da distância
maior contribuiu na medida do possível com a igreja.
A bênção dos sinos
aconteceu na Páscoa de 1896 e foi acompanhada por uma grade participação dos
paroquianos e com a maior solenidade. Depois do ritual prescrito os sinos foram
incensados com incenso e murta, lavados com água benta, untados com óleo de
crisma, cerimônia pela qual foram consagrados como mensageiros do cristianismo.
Não faltaram os padrinhos do batismo que conquistaram esta honra, pelo leilão
de uma contribuição correspondente ao tamanho
do sino. O maior foi batizado com
o nome de Pedro, sendo o padrinho Peter Kuhn, o segundo com o nome de
Maria e o terceiro com o de José.
Depois de alçados e
suspensos na nova moradia, deixaram ouvir, pela primeira vez, o seu poderoso e
harmônico badalar. Nesta ocasião o professor Schütz, mais uma vez e pela
última, fez ouvir com entusiasmo o seu canto de cisne. Como o campanário ainda
não fora fechada com tábuas dentro da igreja, o som vibrante dos sinos desceu
até dentro da igreja. Já não se escutou o harmônio e o coral da igreja,
submergidos no mar revolto do badalar dos sinos. Apenas um cantor conseguiu
manter-se acima das ondas. Foi o professor Schütz que, em meio à tempestade de
sons, avançou até a mesa da comunhão e firme sobre o chão sólido, salvou a
honra dos cantores de Bom Jardim. Com a presença do bispo D. Cláudio Ponce de
Leão, que na ocasião abençoou e
coroou com uma bela coroa de prata
a estátua de Nossa senhora, doada pelas
mulheres de toda a paróquia. A senhora Seidel doou na ocasião um bonito lustre
que contribuiu com o clima de solenidade dos cultos à noite e nas grandes festas.