Deitando Raízes #27

c. A Decoração da Igreja.
As primeiras notícias sobre a decoração da igreja e a aquisição de material para o culto divino, estão registradas no "Livro da Igreja" de 1861.
Eu abaixo assinado sacerdote, aqui desde março de 1859 como coadjutor, para atuar na pastoral nas picadas de Bom Jardim, Quarenta e Oito e Café, declaro que no ano de 1860 mandei vir de Colônia no Reno para a capela de São Pedro em Bom Jardim, que carecia de todas as alfaias da igreja, um ostensório, um cibório, um turíbulo e correspondente naveta de latão e que estes objetos com hóstias me foram enviados. As despesas entre comissões e os demais custos com frete marítimo e alfândega somaram ao todo 200$000. Mandei pagar este montante através do Sr. Quintiliano Raupp, meu procurador em Porto Alegre, ao sr. comerciante Sesiano, que providenciara por estes objetos desde a Alemanha. A comunidade a que se destinavam os objetos comprados, pagou  a soma acima, de maneira que o sr. Sesiano não tem mais nada a reclamar da comunidade. Em vista do pagamento declaro os objetos acima mencionados como propriedade da referida capela e da comunidade católica a ela pertencente. Hoje, quarta feira de cinzas, 13 de fevereiro de 1861, presto contas perante o conselho da igreja, formado por Johann Finger, fabriqueiro, Friedrich Feyh, Johannes Dilli, Anton Anschau e Johann Fröhlich. Como prova da  verdade para sempre consignei no livro da igreja, com as minhas mãos esta  declaração e a assinei com o meu punho.
João Meinulpho Traube
Coadjutor da Freguesia de São Leopoldo
A lista das doações para a igreja começa com a reunião da diretoria em 27 de dezembro de 1869, na presença de todos os membros da diretoria. Primeiramente foram recebidas diversas doações feitas  à igreja e expressos os agradecimentos aos doadores.
As doações foram:
1. Quatro lanternas (111) para acompanhar o Santíssimo sacramento na procissão. Doação do censor Johann Schneider.
2. Uma bela casula de seda vermelha para dias festivos. Presente do censor Friedrich Arendt.
3. Uma lamparina, presente do mesmo.
4. Uma alba, uma sobrepelis, uma toalha para o altar, doada por Catharina Kalsing.
5. Um missal doado por Anschau.
Na mesma ocasião foi decidida  a aquisição de um baú de folha para guardar os paramentos da igreja e encomendar em Munique uma estátua São Pedro com 1, 40 de altura.
                                                                                     Data como acima                                                                                   O vigário Pe. Franz Schleipen
O altar de Nossa Senhor foi erguido em 1870. Na ocasião as coisas se deram de maneira um tanto estranha. O mestre marceneiro foi o Pe.. Schleipen, auxiliado por alguns colonos. O resultado teria sido melhor se Jacob Dilli não estivesse na guerra do Paraguai. Fez-se o possível com serras, plainas e  pregos. A madeira era bonita e de boa qualidade, mas sem ser chamfrada e colada, apenas pregada. Entende-se que os custos em dinheiro vivo, não contando o trabalho voluntário, ficaram em apenas 25$000. O Pe. Steinhart benzeu o altar   e o Pe. Schleipen fez o sermão no qual incorreu num fatal lapso de linguagem. Em espírito estava preocupado com a acusação falsa dos protestantes que afirmam que os católicos  adoram Maria trocando "venerar" por "adorar." O fato deu-se assim. Depois de mostrar o quanto o próprio Deus honrava Maria, continuou: E, apesar de Deus ter feito tanto por sua mãe, existem ainda pessoas que afirmam que não se pode “adorar” Maria. Grande estrago o equívoco involuntário não terá causado, porque os católicos o corrigem inconscientemente.
Em setembro do mesmo ano chegou a estátua de São Pedro. Custou 200 mil réis. Não foi, porém,  aquela de 140 centímetros que havia sido encomendada por decisão da comunidade. Neste meio tempo chegou-se à conclusão acertada de que seria muito melhor mandar vir uma maior. Esta é a que se encontra ainda hoje no altar. A menor veio antes mas ficou mais tempo em Porto Alegre e, finalmente, foi vendida para uma capela da Feliz do mesmo nome. O altar construído pelo mestre Carl Arnold, já não servia para a estátua que era maior de que uma pessoa. De qualquer forma não era uma obra prima e, com a sua pintura verde e sua forama redonda e ondulada, não era adequado. Por isso foi totalmente  modificado. A partir de cima em semicírculo foi rebaixada e adaptada para servir de base para a estátua que, entre leques e ramalhetes, emprestou  um aspecto bem pitoresco. No dia primeiro de outubro São Pedro contemplou pela primeira vez os seus fiéis bonjardineneses. O terceiro altar foi adquirido para São José, doado inteiramente por Johann Schneider. São da mesma época os anjos do tabernáculo e o pequena Menino Jesus. Na ocasião o Sr. Bispo D. Sebastião enviou para Bom Jardim duas caixas de valiosos  utensílios para a igreja. Entre eles havia muitos paramentos além de uma capa branca  usada ainda hoje. Acompanhava também um cálice alto, um bonito cibório, um missal e uma quantidade de luminárias. Foi um importante enriquecimento para o  patrimônio da igreja. Mais tarde acresceu um cálice para dias festivos que custou 70 mil réis. O púlpito de Bom Jardim data também dos anos de 1870. Antes dele usava-se para esta finalidade um estrado mais parecido com uma caixa de farinha do que com um púlpito. (112) Jacob Dilli não participou da sua confecção porque ainda se encontrava na guerra. Somente a conca açustica que acresceu mais tarde, foi obra sua. Em 1873 foi a vez de cuidar do exterior da igreja com uma pintura, mas não foi saiu como poderia ter sido se  dispusesse de mais dinheiro. O acréscimo de uma sacristia ocorrido antes, só foi possível porque a comunidade recebeu um reforço da assembléia provincial, por intermédio do vigário. Antes da doação do bispo o vigário confeccionara com as próprias mãos uma casula muito elogiada que o senhor João Mayer Junior ofereceria aos fregueses de hoje acostumados a coisa melhor. Apesar disto prestou bons serviços.
A maior transformação da igreja aconteceu em 1889. Toda a construção foi atacada. A torre de madeira em mau estado, que para alguns se parecia com um velho pombal, para outros um gorro de dormir na cabeça de um venerando ancião, foi posta abaixo. A nave central sofreu um alongamento e, como a comunidade em peso meteu a mão na massa, não foi milagre que encompridasse por três janelas. Já que grandes e pequenos, de longe e de perto, carregavam pedras, foi possível partir para a construção de uma elegante torres. Com a ajuda de  Deus e sem um acidente maior, a última pedra foi colocada na festa da Páscoa de 1890. Como todos que visitaram Bom Jardim, a igreja paroquial, como se diz, pode apresentar-se. Quando se olha da direção de São José para Bom Jardim, ela se ergue  na encosta entre casas isoladas parecendo  um pastor rodeado pelo rebanho. Descendo pelo caminho passando pelo Anschau, parece reinar no alto como uma rainha. No mesmo ano e nos seguintes, o interior foi contemplado com uma decoração ainda mais vistosa. Especialmente no último ano a comunidade  católica fez excepcionalmente muito pela  decoração, como provam as seguintes iniciativas. Por ocasião do alongamento  da nave, foram colocadas duas portas, permitindo uma ventilação melhor. Na mesma ocasião a igreja  recebeu quatro belos vitrais, artisticamente acabados pelo senhor Wollmann. Um representa a Mãe Dolorosa e foi doado pelo mais velho bonjardinense Adam Noschang, em agradecimento pela restabelecimento da sua saúde.  Agradecendo a missão pregada em 1886, a comunidade doou o segundo que reproduz uma cena da última ceia. O terceiro, no lado dos homens, apresenta São Luiz num belo  acabamento, enquanto no  lado das mulheres, a representação  de Santa Ana com a pequena Maria, enche os olhos.  No decorrer do ano de 1892 foram renovadas finalmente todas as janelas, pelo mesmo mestre, com simplicidade mas bom gosto, em parte com vidro colorido. O assoalho foi inteiramente renovado com lajes de Bom Jardim. Para que o coro preservasse suas características, a firma Ferreira de Porto Alegre  revestiu-o finalmente com placas de cimento colorido. Com isto estava providenciado para os olhos e estava na hora  de pensar também nos ouvidos. Com essas finalidade foi adquirido um harmônio por 700 mil réis. Agradou tanto que as comunidades vizinhas logo imitaram o exemplo de Bom Jardim. Mas o maior ornamento da igreja foram, sem dúvida, os três magníficos sinos que foram inaugurados por ocasião da Páscoa de 1896. Antes de nos ocuparmos com essa solenidade, queremos observar o que foi feito com os dois sinos velhos de 1857. O maior foi dado de presente para o Bohnenthal porque seus moradores colaboraram generosa e assiduamente  com os bomjardinenses na restauração da igreja. O outro foi para o Schneidersthal  que, apesar da distância maior contribuiu na medida do possível com a igreja.
A bênção dos sinos aconteceu na Páscoa de 1896 e foi acompanhada por uma grade participação dos paroquianos e com a maior solenidade. Depois do ritual prescrito os sinos foram incensados com incenso e murta, lavados com água benta, untados com óleo de crisma, cerimônia pela qual foram consagrados como mensageiros do cristianismo. Não faltaram os padrinhos do batismo que conquistaram esta honra, pelo leilão de uma contribuição correspondente ao tamanho   do sino. O maior foi batizado com  o nome de Pedro, sendo o padrinho Peter Kuhn, o segundo com o nome de Maria e o terceiro com o de José.
Depois de alçados e suspensos na nova moradia, deixaram ouvir, pela primeira vez, o seu poderoso e harmônico badalar. Nesta ocasião o professor Schütz, mais uma vez e pela última, fez ouvir com entusiasmo o seu canto de cisne. Como o campanário ainda não fora fechada com tábuas dentro da igreja, o som vibrante dos sinos desceu até dentro da igreja. Já não se escutou o harmônio e o coral da igreja, submergidos no mar revolto do badalar dos sinos. Apenas um cantor conseguiu manter-se acima das ondas. Foi o professor Schütz que, em meio à tempestade de sons, avançou até a mesa da comunhão e firme sobre o chão sólido, salvou a honra dos cantores de Bom Jardim. Com a presença do bispo D. Cláudio Ponce de Leão, que na ocasião abençoou  e coroou  com uma bela coroa de prata a  estátua de Nossa senhora, doada pelas mulheres de toda a paróquia. A senhora Seidel doou na ocasião um bonito lustre que contribuiu com o clima de solenidade dos cultos à noite e nas grandes festas.
Para o Natal foi adquirido na Alemanha um gracioso presépio no valor de 120 mil réis. O valor foi coberto por doação de Gross e Klein na bandeja das coletas. O presépio obteve o aplauso de toda a comunidade de modo especial das crianças. Com que ar de admiração contemplavam a sugestiva cena e como brilhavam admirados os olhos ao escutarem do interior da gruta as melodias das duas velhas e simpáticas canções alemãs: Noite Feliz e Deus Eterno a Vós Louvor, emitidos pela caixinha de música, com se fossem vozes de anjos. A igreja foi toda caiada por ocasião da construção da torre, emprestando-lhe um clima de asseio. As suas redondezas foram embelezadas com pedras tumulares bem acabadas, principalmente aquelas trabalhadas pelo senhor Petri do Bohnenthal. Destacavam-se  a cruz do cemitério, uma lembrança de gratidão ao Rev, Pe. Andreas Eultgen, assim como o túmulo do professor Schütz e do fabriqueiro Johann Finger. 

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