Identidade Étnica e Pátia - I Dr. Franz Metzler.

Reproduzimos hoje a primeira parte do discurso pronunciada em Santa Cruz no dia 16 de setembro, pelo nosso diretor de edição e redação, o Sr. Dr. Franz Metzler. O Sr. Dr. Metzler observa que falou livremente tendo em mãos um esquema com as palavras-chave. Com a presente publicação não se trata, portanto, de uma reprodução literal do seu discurso, mas da redação posterior aqui impressa. Algumas seqüências do tema tratado foram reproduzidas e impressas tal e qual como foram pronunciadas no discurso. Isto vale principalmente para o caso de uma eventual tradução para a língua do País, daquelas partes, que se relacionam com ameaça à nossa identidade étnica por parte do nativismo brasileiro. Tendo sempre em vista essa possibilidade, foi necessário desenvolver um pouco mais, sempre dentro das naturais limitações, certos pensamentos, que para a um público teuto-brasileiro requerem apenas uma insinuação. De resto o presente texto reproduz com auenticidade (fidelidade), o que o Sr. Dr. Metzler disse e queria ter dito no seu discurso. Isto deve ser expressamente declarado e entendido com toda a clareza, a fim de neutralizar diante mão o argumento daqueles que se agarram a palavras ditas de passagem. O Sr. Dr. Metzler esclarece que responde todo e inteiramente pelo seu discurso assim como o pronunciou e deixou por escrito. Posto isto pensamos ter prevenido as distorções que possam ter ocorrido no caminho de Santa Cruz para  Porto Alegre.

Identidade étnica e Pátria em discussão.

Muito estimados ouvintes
Senhoras e senhores

Antes de mais nada quero saudá-los e agradeço por terem atendido em tão grande número ao meu convite. Quando há um ano tive o prazer de proferir uma conferência aqui em Santa Cruz, fui obrigado a contentar-me com um público muito menor. Na ocasião o tempo me foi desfavorável, a publicidade provavelmente insuficiente e talvez não houvesse  interesse por uma conferência sobre o tema "A aplicação de uma teoria social", que me fosse permitido contar com um público maior. Entretanto se passou um ano inteiro. Neste lapso de tempo muita coisa se modificou. De qualquer forma olho hoje para um salão lotado, o que me rende uma satisfação toda especial  e me faz devedor de gratidão a todos que afluíram para ouvir a minha conferência sobre "Identidade étnica e Pátria".

Um depoimento
Antes de entrar no meu tema "Identidade étnica e Pátria", quero  apresentar-me. Meu nome, quem e  o que eu sou é do conhecimento dos senhores que atenderam ao meu chamamento. Este conhecimento superficial e aparente, porém, que posso por, talvez não seja suficiente, que a seu ver me legitimar para tratar do tema proposto. Por isso quero, antes de mais nada, deixar-lhes um depoimento.

Eu sou brasileiro. Declaro-me filho da minha pátria a quem amo com todo o calor do meu coração e com toda a força da minha personalidade. - não menos do que qualquer outro  deve amar a sua e para a quem a pátria é sagrada.
Na medida em faço a min há profissão de fé pela minha pátria, faço-a também pelo povo que comigo vive na mesma pátria e comigo lhe dedica o mesmo grande amor.
Além disso faço a minha confissão de fé em favor da identidade étnica alemã, em favor da maneira alemã de ser e agir. Procedo de uma família visceralmente alemã. Quis o destino que eu  passasse grande parte da minha vida na Alemanha. Freqüentei escolas alemãs e depois preparei-me  para a minha profissão em universidades alemãs. Durante a minha longa permanência na Alemanha, período que em parte coincidiu com os  difíceis anos da guerra, aprendi a amar o povo alemão do qual procedo e também a paisagem da Alemanha. Assim como para inumeráveis imigrantes o Brasil se tornou a segunda pátria, assim a Alemanha e em especial a bela Suábia, transformaram-se para mim numa segunda pátria, e não gostaria de ignorá-la na minha  vivência íntima. Meu amor e a minha admiração pelo povo alemão não sofreu nenhum dano durante os difíceis anos que se abateram sobre a Alemanha com o infeliz desfecho da guerra. E este amor persiste ainda hoje, embora  não consiga aplaudir tudo que acontece na atualidade alemã e de outra parte, eu próprio na condição de teuto-brasileiro,  não compreenda o novo homem alemão engendrado pelo nacional-socialismo.
Todos conhecem a afirmação: "Permanecemos fiéis à nossa identidade étnica alemã, porque através dela servimos melhor à nossa pátria o Brasil". Escutámo-la em qualquer discurso festivo ou de declaração de princípios da parte teutobrasileira. Também eu  subscrevo sem restrições que pretendemos levar ao pleno desdobramento nossas características de personalidade, mantendo-nos fiéis à identidade alemã e desta maneira sermos membros úteis da sociedade e como brasileiros integrantes positivos da comunidade nacional. Percebo, porém, na formulação concisa da frase posta em discussão, uma restrição na conclusão sobre a própria afirmação, como se não nos importássemos pelo cultivo e preservação da identidade étnica alemã, no caso de a pátria assumisse uma atitude de indiferença em relação a ela. Não aceito a validade dessa restrição. Sou muito mais de opinião que, sob determinados aspectos, a identidade étnica não necessita de uma justificativa invocando  um valor superior a ela e conseqüentemente perseguida por nós em razão dela mesma. Entendo naturalmente como uma grande sorte que a nossa fidelidade para com a identidade étnica herdada se insere sem contradição naquilo que se relaciona com a nossa pátria.

Assim eu me posiciono como brasileiro em relação à identidade germânica, um brasileiro que ama a sua pátria e se entregou inteiramente a ela, que, com ambos os pés, se posiciona firme e responsavelmente na comunidade nacional, que encontra na pátria o seu ele de união.

A Teoria da Sociedade em Quadros

Quando há um ano falei neste mesmo lugar senti a necessidade de, antes de mais nada, elaborar as bases teóricas que explicam o aparecimento do teuto-brasileirismo. Não sei se na ocasião me desincumbi a contento da tarefa. Meus amigos foram em todo caso sinceros o bastante para dizer-me com  mais ou menos enfeites que meu discurso fora demasiadamente "teórico", em outras palavras, cansativo. Eu poderia ter "previsto" este resultado, pois, constitui-se sempre uma empreitada temerária querer tratar, resumindo no espaço de uma conferência, um tema que normalmente deveria ser desenvolvido numa série de preleções. Talvez também deveria ter me lembrado que meus ouvintes  estavam mais interessados em apreciações e conclusões práticas do que em teoria. Apesar disto não foi possível decidir-me por deixar de lado a teoria, porque estou convencido que os "julgamentos mais perfeitos" de fatos temporal e espacialmente descontextualizados, só é possível com o pressuposto de uma teoria bem fundamentada e que garantem a relação lógica interna dos juízos (julgamentos) isolados. 
Da mesma forma sinto-me tentado também hoje a apresentar-lhes como iponto de partida  uma teoria da sociedade. Talvez me seja permitido fazê-lo sem entediá-los (aborrecê-los), ao oferecer a teoria ilustrada com exemplos (comparações), capazes de tornar palpável a relação do teuto-brasileirismo em sua relação  com identidade étnica e pátria.

Tomo emprestado o primeiro exemplo de um teuto-brasileiro,  que  há dois anos, fora destacado para representar no seu discurso o teutobrasileirismo, no encontro tradicional de Pentecostes da germanidade de São Paulo  na sua posição de   alinhamento sem futuro. O discurso (proferido pelo Dr. Busch de Blumenau, apresentado como teuto-brasileiro de terceira geração), colheu um ruidoso aplauso da platéia. Alguns jornais em língua alemã do País o reproduziram e em Porto Alegre houve até alguém que tinha dinheiro sobrando para mandar imprimí-lo e distribuí-lo em milhares de exemplares. Também a mim foi entregue um volante destes acompanhado da observação anônima, que eu tomasse como exemplo o iluminado teuto-brasileiro de terceira geração, Dr. Busch de Blumenau. No discurso apresentou como ponto central a metáfora que neste momento lhes apresento com a intenção de corrigi-la. Imaginemos um pomar com muitas e boas árvores frutíferas. Bem perto do limite ergue-se uma macieira, cujos ramos estendem-se para dentro do jardim do vizinho. No tempo dos frutos maduros um deles caiu no chão estranho e das sementes que foram cobertas pela terra, nasceu uma nova macieira e perfeita. Cresceu e, depois de alguns anos, ela própria produziu seus frutos.

Patético o orador paulistano perguntou então os seus ouvintes. Que frutos julgam que a nova árvore irá carregar? Maçãs ou pêras? Ele próprio se dá a resposta à pergunta banal: Obivamente maçãs!  -  para acrescentar a conclusão que nós teuto-brasileiros como descendentes dos imigrantes vindos da Alemanha, jamais poderemos ser outra coisa do que alemães e somente alemães, assim como a macieira em pomar "estranho", o rebento da grande macieira "mãe", só é capaz de produzir macãs e somente maçãs.

A figura da macieira até que não  é má, mas a pergunta a partir dela formulada por seu autor e a conclusão tirada   é tão simplória que é de se admirar dos aplausos que o orador colheu da parte do seu público, pela fulminante descoberta, que uma macieira não produz pêras.

Permitam-me que eu pergunte: A quem pertence a macieira que lançou suas raízes em terra estanha, ao ponto de este chão lhe permitir alimento, crescimento e desenvolvimento? A quem pertencem os frutos? Deixem que eu responda: árvores e frutos pertencem ao pomar  vizinho, sobre isto não resta dúvida. Se a jovem macieira significa a imigração alemã e o pomar  estranho o Brasil, a metáfora faz concluir que nós, como descendentes dos imigrantes alemães somos da mesma natureza (espécie) que o foram os nossos antepassados. O orador paulistano, porém, apontou incorretamente que nós teuto-brasileiros pertencemos total e inteiramente ao Brasil como nossa pátria. 

A forma como nos situamos dentro do povo brasileiro fica claro numa outra metáfora.
Quero comparar o povo brasileiro com um parque muito bem cuidado. Nele há trilhas, caminhos, prados e muitas árvores de tudo que espécie isoladas ou em grupos inseridas no todo.

É óbvio que o parque como um todo será tanto mais belo e tanto mais completo, quanto mais perfeita for cada árvore na sua evolução individual. Um pinheiro que se ergue esbelto contra o céu será um ornamento para o parque, não menos do que a copa de um grupo de palmeiras agitadas pelo sussurro do vento ou açoitadas pela tempestade. Plantas estropiadas, sejam elas palmeiras ou pinheiros desfiguram o belo parque.

O jardineiro cuidadoso procurará levar todas as espécies ao melhor desenvolvimento possível tendo em vista o todo. Seria um louco caso tentasse enxertar copas de palmeiras em troncos de pinheiro. Destruirá ambas em detrimento do seu parque.

Entendam por essa metáfora a maneira de ser alemã como simbolizada pelo pinheiro e a maneira de ser da maioria luso-brasileira da população pelas palmeiras, conclui-se que o parque como um todo simboliza o povo brasileiro. Este  tira o maior proveito quando não se tenta modificar artificialmente a riqueza e a diversidade de suas vertentes étnicas, mas se permite que desdobrem plenamente suas identidades. Trata-se da mesma conclusão que está expressa na frase: "Nós preservamos a identidade alemã e entendemos que assim estamos em condições de servir melhor a nossa pátria o Brasil. Se nos decidíssemos hoje de uma hora para outra a  enxertar o nosso estilo de vida alemão, a nossa maneira  de ser e de agir na maneira de ser que os nossos concidadãos herdaram de seus antepassados lusitanos e desenvolveram segundo a sua índole, aniquilaríamos a nossa natureza, sem que uma outra possa surgir, degradando-a ao nível de uma caricatura.

São metáforas, honrados ouvintes, comparações, que, como qualquer comparação são capengas. Aquele que quiser penetrar ao fundo nas implicações sociológicas, será obrigado a se haver com a teoria nada obscura mas esclarecedora da teoria sociológica da  sociedade, por nós banida da conferência  desta noite. Os quadros contudo ilustram de alguma forma a discussão sobre a identidade teuto-brasileira e sua relação para com  identidade étnica e pátria.

Nativismo e nacionalismo alemão.
O trágico em nós consiste em que muitas vezes a nossa maneira de ser não é compreendida e equivocamente interpretada oferecendo assim as armas para sermos atacados. Investidas deste gênero partem de dois lados, ou da parte da  nossa identidade étnica  ou da nossa nacionalidade. Em meio a maioria teuto-brasileira da população alguns acreditam que devem mostrar descontentamento  em relação a nós, pois intepretam nossos grupos étnicos como corpos estranhos. Não é possível concordar com um grupo que se diz personificar  a "identidade étnica alemã) (de acordo com um sentido restritivo recente do pensamento, com o qual , em última análise, nada temos a ver, porque dele não fazemos parte, por procedermos de uma identidade étnica de uma época anrterior). Queremos e devemos afirmar diante desta posição enquanto deixamos claro o que somos, e, se necessaário, assumir a defesa da nossa maneira de ser eagir.

Contra o Nativismo
Os antepassados de nossos concidadãos (Voksgenosse) luso-brasileiros tomaram posso do País 300 anos antes dos nossos antepassados. Eles já haviam conquistado a independência em relação à terra-mãe (Mutterland), na data em que, a convite do Imperdor do Brasil, empreenderam pela primeira vez a viagem para cá. Aqui encontraram um povo que de braços abertos os recebeu para, como  parceiros e pioneiros, descobrir e desenvolver o País. Desembarcaram num país em que os imigrantes anteriores já tinham dado forma e desenvolvido o modelo (paradigma) de vida pública e o portugês se consolidara como língua oficial.

Nossos antepassados inseriram-se com lealdade neste contexto objetivo e jamais lhes veio à mente mudar alguma coisa nele. Ocupando o seu posto de vanguarda avançaram na dura luta pela existência, conscientes que o que estava em causa era a conquista à mata da querência e da pátria para os seus filhos. De resto viviam e agiam à sua maneira sem serem contestados. Buscaram a força no apoio mútuo ao construírem a sociedade, pra realizando  a grande obra de povoamento alemão nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e esporadicamente em outros estados da União Brasileira. Tomados de espanto e de admiração encontramo-nos hoje frente a esta obra, a não ser  que não nos tenhamos habituado criminosamente a menosprezar o próprio passado.

Do esforço comum, da necessidade comum e dos sucessos comuns emergiu uma sociedade nativa,  (bodenständig), que exibe em larga escala as marcas de sua origem. Como uma planta brasileira, porém, apresenta também as características - oriundas de um contato mais do solto nas décadas anteriores - do contato com elementos oriundos do segmento majoritário da população e em parte de formações  locais novas.

A mais evidente as marcas que apontam para a origem é o uso da língua materna. É ela que está em primeiro lugar sob mira dos representantes brasileiros adeptos da teoria pela qual nos estigmatizam como "corpo estranho". Eles gostariam de proibir-nos imediatamente a língua alemã. É preciso conceder honestamente que ela deve ser considerada como língua estrangeira. Os "nativistas" acreditam que a língua estrangeira estranha não combina com a índole brasileira. Trata-se de um equívoco fatal, como o prova o exemplo do povo suíço.

A língua não vem a ser decisiva para a índole nacional de um segmento do povo. Os alemães e franceses suíços são igualmente integrantes da confederação. Porque então os brasileiros de fala alemã, que paralelamente e de acordo com as possibilidades a seu alcance esforçam-se  por aprender a língua do País, devam ser considerados como brasileiros menos confiáveis e de segunda categoria? Conforme teoria nossa, que serve como argumento contra o nativismo, no fato de permanecemos fiéis à nossa língua materna, aos usos e costumes de nossos antepassados, somos capazes de sermos fiéis à pátria como o somos em relação a nossa maneira de ser. Os melhores e mais nobres dos nossos conterrâneos luso-brasileiros constataram essa relação ao avaliarem a trajetória do jovem povo brasileiro. Imbuídos de um espírito patriótico bem entendido não se chocam  com o fato de cultivarmos a cultura e a tradição de nossos antepassados a fim de colocá-lo à disposição da pátria como o melhor que possuímos. Com certeza nos culpariam e nos menosprezariam no caso de trairmos a nossa índole.

Estas são para nós questões importantes  que brasileiros ilustrados e verdadeiramente grandes entendem e, sobre as quais, no passado,  não esclarecemos suficientemente os nossos compatrícios de língua portuguesa. É preciso, entretanto, deixar clara a questão em legítima defesa da nossa herança e da nossa identidade. Esse esclarecimento necessário acontece, quem sabe, no plano de uma dura batalha defensiva em favor da auto afirmação da nossa maneira de ser no contexto do todo do povo brasileiro e contra  o nativismo que na sua raiz mais profunda não passa de um anti-brasileirismo. Trata-se de uma batalha da qual não nos é possível furtar caso não nos quisermos degradar ao nível de personalidades esquizofrênicos em prejuízo nosso e da pátria.

Não nos é possível deter um processo orgânico de ajuste  que já vem ocorrendo hoje  na periferia e até seria insensato querer interferir. Mas é da nossa obrigação exigir que se respeite a natureza que rege também a formação das sociedades e que opera com períodos de longa duração. Não sabemos se depois de centenas de anos ainda haverá quem fale alemão no Brasil. Apesar da resposta negativa que a intuição nos sugere em relação a essa suposição, porém, não nos é permitido colocarmo-nos à disposição de tentativas perigosas de promover uma assimilação étnica precipitada. Queremos ser à nossa maneira o que somos e queremos também que os nossos filhos sejam como nós somos assim como nós somos como foram os nossos pais.


No caso de se desencadear uma batalha pela identidade étnica, uma batalha que se anuncia no horizonte para um futuro não distante, nas ameaçadoras leis "nacionalistas", não "nacionais" (pois nacional é somente aquilo que é útil à nação), sobre a imigração e a escola, iremos combatê-la movidos por um impulso íntimo. Estaremos, porém, somente então em em condições de combatê-la com êxito se a convicção da nossa brasilidade for capaz de enfrentar ao que der e vier. (Obviamente não se supõe aqui uma batalha com o emprego de meios de força, mas uma luta que se trava no terreno constitucional que assegura a liberdade pessoal e se vale dos meios que a nossa legislação coloca nas mãos do cidadão para evitar prejuízos à liberdade).

Identidade Étnica – Comunidade Nacional - VII Fr. W. Richter

Sem falar dos tempos mais antigos, quando tudo que se relacionava com o social e o estrutural do Estado, emanava do povo, nunca como antes no concerto dos povos e nas respectivas nações, o terceiro elemento, o povo conquistou tamanha influência sobre os acontecimentos políticos e sociais. Por mais que se tenha abusado da grandiosa idéia  da auto-determinação  dos povos para fins de dominação política, a idéia está aí mais cedo ou mais tarde dará seus resultados. Para que o cidadão se possa apropriar de clareza e de bases sólidas em relação à estrutura jurídica do Estado, é preciso fixar o significado do sentido de certos termos, que se encontram hoje na boca de todos: Comunidade Nacional e Identidade Étnica.

Menciono intencionalmente a comunidade nacional em primeiro lugar, porque, no decurso  a gênese histórica das nações, acontecia como passo inicial, a reunião de indivíduos isolados numa comunidade social. O fato de essa união implicar em quase toda a parte em homens da mesma origem ou raça, nada mais foi do que o resultado  espontâneo da própria formação das raças e grupos de parentesco.

No primeiro momento essa comunidade nacional tornou-se  tão robusta, que foi capaz de manter-se  como uma estrutura autônoma. Mais tarde evoluiu no seio do convívio dessa comunidade étnica (Volksgemeinschaft) uma identidade étnica forte e autêntica, como expressão de todas as características raciais, lingüísticas e espirituais dessa comunidade de destino comum.

O spiritual mostrou-se sempre mais forte do que o meramente material, apesar de todas as afirmações em contrario e apesar de todas as más experiências. Desta maneira a identidade étnica no seu significado espiritual, muitas vezes cresceu para alem das fronteiras da comunidade nacional Permaneceu como precioso patrimônio para os companheiros que por espírito de aventura, na condição de comerciantes ou por carestia de terra, migraram para outras terras. Comunidades nacionais estranhas são capazes de influenciar culturalmente, como nos é dado observar entre os helenos e os romanos. Os dois conceitos definem-se claramente. Comunidade nacional como um conceito de pessoas unidas por um pacto político-social. Na maioria dos casos uniram-se  por pertencerem à mesma raça, falarem a mesma língua, às vezes também por circunstâncias econômicas ou políticas. A identidade étnica, por sua vez, define-se pela expressão cultural de uma determinada cultura. Como tudo que é cultural, a identidade étnica não se deixa sustar por fronteiras artificiais. Radica essencialmente no indivíduo e na família.

Os indivíduos isolados, portanto, e os grupos racialmente  aparentados, separados do corpo étnico, já não pertencem à sua mas à nova comunidade nacional, no seio da qual desenvolvem suas atividades. Isto não significa que também abriram mão da sua identidade étnica. É contrario à realidade quando hoje, por ex., se tenta impedir o acesso à comunidade nacional alemã, por parte de círculos teuto-brasileiros ou mesmo por imigrantes radicados no País. Uma associação para promover a gemanidade no exterior tem o efeito de uma bênção no seu espaço de influência. Uma associação para promover  a comunidade nacional no estrangeiro, seria um instrumento inaceitável.

Um fato todo particular facilita a distinção entre esses conceitos tão controvertidos. A consciência do pertencimento a uma comunidade nacional pode brotar de um chão, no qual alguém se percebe inserido como na sua terra natal, independentemente da identidade étnica herdada. O fato torna-se ainda mais evidente quando essa pátria foi atribuída pelo direito de nascimento, com é o caso dos teuto-brasileiros. O vinculo com o espaço vital dado constitui-se num fato tão poderoso como o pertencimento a uma determinada identidade étnica.

Constatamos todos os dias nos filhos dos recém imigrados quão poderoso é, ao lado do sangue, o chão como formador das características. Numerosos testemunhos da literatura alemã contemporânea nos chamam com muita insistência a atenção, para mostrar como o chão em que nascemos, é capaz de influir na alma. E é do Brasil o chão em que nascem os teuto-brasileiros.

A pergunta se comunidade nacional e identidade étnica podem significar o mesmo, embora espacialmente separados, depende da dinâmica interna, do valor ideal da identidade étnica e a preocupação do todo pelas partes territorialmente separadas. Também aqui no Brasil encontramos exemplos correspondentes. A mãe-pátria Portugal desenvolveu no seio da sua identidade, no lusitanismo, potencialidades ideais, que ultrapassaram em muito as fronteiras do pequeno reino e se alastraram até os continentes mais longínquos. No Brasil, principalmente, edificaram um poderoso reino colonial que como tal, no início, no que diz respeito à camada dominante, com certeza, pertencia à comunidade nacional lusitana. Sem demora, porém, a super poderosa influência do entorno, fez despertar a consciência de uma comunidade nacional brasileira. A conquista da independência política rompeu finalmente os laços com a comunidade nacional lusa. Permaneceram contudo as relações no plano dos valores superiores da identidade étnica lusitana. Hoje nenhum português se atreveria a rotular como traidor da identidade a um luso-brasileiro, pelo fato de já não participar das vicissitudes políticas de Portugal. Pelo contrario. Ninguém negaria ao luso-brasileiro a admiração pelo fato de, apesar de sua inferioridade numérica, conseguir manter como modelo a identidade do gigantesco reino.

De outro lado depende também das potencialidades internas e das condições no plano político, até que ponto uma identidade étnica é capaz de influenciar uma comunidade nacional  racialmente heterogênea. As razões que fizeram com que o lusitanismo lograsse impor a soberania sobre os indígenas autóctones e sobre os escravos negros importados foram, de um lado, a ausência de uma unidade política e uma cultura incipiente e estagnada e, do outro, a falta de cultura e a condição de submissão dos escravos. O imigrante europeu não lusitano, entretanto, que veio por decisão livre e espontânea , ou até convidado pelo governo era, na maioria dos casos, portador de uma identidade étnica, no mínimo do mesmo nível, embora de outra configuração. Por mais que desejasse inserir-se na comunidade étnica brasileira, não dependia da sua vontade deixar para trás, sem mais nem menos, a identidade étnica herdada e substituí-la por outra, cujos componentes de qualidade duvidosa, não significariam uma troca de igual qualidade.

Todas essas minorias étnicas inseriram-se na comunidade nacional brasileira e dedicam-lhe seus préstimos. Jamais alguma delas negou ao Estado o que é do Estado. Mesmo em tempos de guerra permaneceram fieis à comunidade nacional, apesar de manter-se fiéis `sua identidade étnica e, por isso, não  poucas vezes foram alvos das mais graves suspeitas. De outra parte observamos no exemplo da Áustria até que ponto uma parte da nação é capaz de preservar a identidade étnica, prestando-lhe relevantes serviços, embora separada da comunidade nacional dos demais membros da raça. Também a Suíça confirma que identidade étnica e comunidade nacional são dois conceitos inteiramente diversos que, entretanto, não necessariamente entram em conflito.

Infelizmente, tanto o imigrante aqui radicado, como o teuto-brasileiro aqui nascido, sentem-se acuados de dois sentidos: sofrem a acusação de ainda não estarem inseridos na comunidade nacional, porque mantém a adesão à identidade étnica alemã.Confunde-se uma comunidade étnica, ainda longe de ser configurada, com comunidade nacional. De outra parte sofre a acusação de traição para com a comunidade nacional alemã, que lhe é necessariamente estranha por causa da sua fidelidade  para com o Brasil sua terra natal. É normal na vida que os filhos da mesma mãe construam a  própria casa inteiramente separada. Ao a construírem  rejeitarão evidentemente qualquer tentativa de comprometimento.

Quando então se coloca  questão se é possível alguém  com identidade étnica alemã e inserido na comunidade nacional alemã poder pertencer, ao mesmo tempo e da mesma maneira, às  correspondentes brasileiras, a resposta não pode ser a mesma. É possível que alguém que mora no Brasil faça parte da identidade étnica alemã e da comunidade nacional alemã, no caso em que a permanência for passageira ou motivada pelo serviço prestado ao Estado natal. Neste caso evidentemente não se pode dizer que o respectivo faça pare de uma correspondente brasileira. Pode-se ainda imaginar o caso de alguém  de nível cultural mais apurado, tanto aqui no País como na Alemanha, situado igualmente próximo da identidade étnica lusitana e alemã, apresentar o mínimo que o nativismo lusitano exige de imigrante. Não faria nenhum sentido, porém, afirmar que alguém possa pertencer tanto à comunidade nacional alemã como a brasileira, pelo fato de este conceito estar intimamente relacionado com a atividade política do Estado e com seus objetivos político sociais.

A maioria dos teuto-brasileiros que vivem no seio da comunidade nacional brasileira cabe, como conseqüência, continuar a cultivar e representar  a identidade étnica alemã, adaptada às circunstâncias locais.

O teuto-brasileiro encontra-se inserido  na comunidade nacional brasileira pelo princípio do “ius soli”. Este princípio garante-lhe o direito à pátria onde nasceu, onde como criança experimentou as primeiras vivencias  e onde o ambiente como um todo, lhe serviu de fator de educação. Também segundo as leis lógicas, cada ser vivo vem a ser mais ou menos produto do meio. A adaptação a esse meio  se processará com tanto maior facilidade, quanto maiores facilidades biológicas e culturais for capaz de oferecer. O Brasil sempre romântico e liberal, pondo com liberalidade o seu chão à disposição, ofereceu um local de permanência ideal para o elemento germânico amante da liberdade, um pouco aventureiro, porém, ansioso por um pedaço de chão se.

Gostaria de acentuar a palavra “livre escolha”, principalmente para aqueles imigrantes, que por quaisquer razões , na maioria dos casos relacionadas com o próprio caráter,  adaptação se prolonga ou simplesmente não acontece. Por isso dão vazão à desilusão fazendo observações mordazes contra o Brasil pois, são incapazes de compreender e conhecer a própria situação. A essas pessoas resta darmos a calorosa sugestão de retornar para a terra dos seus sonhos. Ninguém o levará a mal. Pelo contrario servirá, até certo ponto, como motivo de estima. Quem, entretanto, migrar para cá livremente – e ninguém jamais foi forçado para tanto como os escravos negros – e quem pretender permanecer aqui, obriga-se a si mesmo, perante os filhos da nova terra, a deitar raízes definitivas, isto é, incorporar-se à comunidade nacional.

Apesar disso é de sua obrigação honrar a herança  racial e cultural de sua identidade étnica, a ele confiada pelo Criador, cuidar da sua preservação, em memória dos antepassados, para o seu próprio ensinamento e pela honra da Pátria. Do ponto de vista cultural e tomando em consideração o que foi dito acima,  na verdade não é mais preciso insistir, embora o luso-brasileiro não queira aceitar que  a preservação da respectiva identidade étnica venha também venha em proveito da pátria  brasileira. O Estado necessita de cidadãos completos, homens de caráter, enraizados em sua identidade étnica claramente definida e consolidada.

O teuto-brasileiro estará em condições de se dedicar inteiramente à preservação da sua identidade étnica,  somente depois de cumprir de todo seus deveres para com a comunidade nacional brasileira. Aliás estas foi sempre a sua maneira de proceder quando se oferecia uma ocasião como, por ex., no aprendizado da língua do País. A demonstração inequívoca de estar cumprindo a sua obrigação  perante os outros membros da comunidade nacional brasileira, só então é possível  quando estiver em condições  de exercer seus direito políticos e seus direitos de cidadania. Para o teuto-brasileirismo ainda hoje deveria ser considerado como a primeira de todas as prioridades, organizar um círculo  de lideranças autóctones. Os pressupostos foram em parte cumpridos. A fome pela formação impele o teuto-brasileiro para as escolas mais adiantadas, inclusive escolas superiores. Desta forma lhe é permitido aspirar à carreira acadêmica e, ao mesmo tempo, despertar o interesse pelos problemas de política interna, conquistas feitas sob duras penas e sob ameaças de opressão étnica. Uma grande porcentagem  desses vanguardeiros infelizmente transfere-se para a brasilidade, sendo perdidos para os interesses da germanidade. Abre-se aqui um grande espaço  para dar um acompanhamento à juventude. É preciso oferecer a ela muito mais do que agora, a fim de  não perdê-la e evitar que suas cabeças sejam confundidas  com idéias estranhas à realidade.

Não á necessidade que o teuto-brasileiro se feche a qualquer novidade vinda de for, como inflelizmente tem acontecido em tempos de maior agitação.  Servirão de estímulos valiosos e de enriquecimento para o imigrante alemão sinceramente empenhado em procurar uma pátria. Esta sua abertura de espírito, porém, não deve ser mal interpretada, como se as orientações políticas vindas do estrangeiro fossem necessárias, no momento em que perseguem objetivos políticos  estrangeiros (por mais desagradável que possa soar  o vocábulo estrangeiro).


Se por caso os arautos da grande comunidade nacional alemã em nossa terra-mãe querem realmente ajudar-nos a preservara a nossa identidade étnica, eles precisam entender uma coisa. O teuto-brasileiro é, antes de mais nada, um brasileiro sob o aspecto da comunidade nacional. O litoral coberto de palmeias, o amplo pampa,  misteriosa mata virgem e os costumes brasileiros, fazem seu coração bater mais forte. A floresta de pinheiros alemães, o inverno alemão, a vida nas casernas de Potsdam e outras coisas mais, lhe são interessantes, mas não passam de conceitos tão exóticos como são como são por ex., para os alemães as orquídeas e os animais fantásticos do alem oceano. O teuto-brasileiro pisa o chão da realidade e alimenta suas energias, do sangue e da terra, da mesma maneira como o exige  nova Alemanha.

Identidade Étnica – Comunidade Nacional – VI Hans Doetzer Jr.

O que se entende por identidade étnica?

Este conceito usado com tanta freqüência aparece quase  todos os dias nos jornais. No plano das percepções qualquer um sabe do que se trata. Mas poucos provavelmente tentaram  até agora formular em poucas palavras o seu significado.

Se não me engano o conceito de identidade étnica apareceu a primeira vê nos escritos de Jahn. Ele deu forma e sentido à expressão e reuniu em torno de si a juventude tomada do ideal nacional.

Empregamos espontaneamente a expressão “nossa identidade étnica”, ou “identidade étnica no Brasil”. Pensamos com isso apenas superficialmente no conjunto das pessoas de sangue alemão. O sentido da expressão “identidade étnica” é, porém, mais abrangente e mais profundo. Diz respeito menos ao indivíduo do que às suas manifestações. As manifestações são de natureza íntima, étnica e cultural. O conjunto delas, a compreensão como um todo, implica no conteúdo do conceito de identidade étnica.Os mesmos costumes, os mesmos usos, a mesma maneira de ser, a mesma língua, as mesmas expressões culturais, etc.,  formam uma unidade étnica. A identidade  étnica não conhece fronteiras. Ela é propriedade de uma determinada comunidade de pessoas. Não é passível de abandono, de troca, de negação, como se troca uma casa por outra. Porque no seio da identidade étnica encontram-se valores que foram reunidos no homem durante séculos. Identidade étnica é a herança que os nossos antepassados nos legaram. Representa assim o fundamento da nossa vida. Temos a consciência que a nossa energia vital, os frutos que amadurecemos, são o resultado de incontáveis  vivencias, amealhadas pela nossa estirpe no decorrer dos tempos.

Impõe-se então o fato: “não somos nós que vivemos mas os nossos antepassados que vivem em nós”. Conclui-se que se nós não existimos por nós mesmos, mas através de nós  se expressa aquilo que os nossos ancestrais construíram e plasmaram, perdemos totalmente as nossas raízes, se jogarmos ao mar essa herança. O nosso eu, visto isoladamente, não tem valor, é vazio e pobre. É incapaz de realiza, de construir alguma coisa, sem que a identidade étnica herdada dos antepassados atue em nós. Como ninguém pode trocar a sua identidade étnica, tão pouco pode renunciar a ela pois, a identidade étnica é o produto de uma evolução que recua até os idas primigênios da história do homem. Essa evolução processou-se organicamente, naturalmente e lentamente, de geração em geração e seu resultado provisório manifesta-se em nós. Essa evolução no seu acontecer marcou fronteiras precisas entre os povos. Compreende-se assim que ninguém está em condições de abrir mão, de uma hora para a outra, da sua identidade étnica e assumir outra. Para incorporar uma identidade étnica estranha falta-lhe o direcionamento condicionado pela natureza das coisas. A súbita adoção de uma identidade étnica alheia tira o homem inteiro do equilíbrio. Na verdade fica sem identidade étnica alguma. Significa abrir mão da identidade historicamente  condicionada, para preencher o vazio com uma outra que lhe é estranha. Entre a identidade étnica adquirida e o ser humano, falta o elo de ligação natural, fruto da evolução natural histórica. O resto só pode ser uma caricatura de homem.

O que se entende por Comunidade Nacional

Comunidade nacional é uma expressão que apenas em tempos mais recentes teve o seu uso generalizado. Mas não é uma invenção, melhor dito, não é uma conquista do nosso tempo. A comunidade nacional vem a ser a consciência  do pertencimento comum das pessoas a um Estado. Nem a unidade de pensamento político é determinante. A comunidade nacional materializa-se no amor ao próximo, no reconhecimento dos valores dos outros e na valorização da sua concepção social, cultural ou outra, dentro do todo. Consiste assim na inserção do indivíduo ou de certos grupos de indivíduos no todo, com a finalidade de promover  o bem estar do todo.

Dessa caracterização de identidade étnica e comunidade nacional, deduz-se claramente que não conceitos idênticos. É possível que em estados do tipo nacional, os dois sejam reunidos, misturados e torçados. Nossa tarefa consiste em enfrentar e tratar do problema, a partir de um ponto de vista próprio, como veremos a seguir.

A comunidade nacional é, em última análise, uma comunidade de destino. A seguir tentarei expor as razões dessa afirmação.


Identidade étnica e comunidade nacional no Brasil

Pela nossa maneira de ver as coisas não existe identidade étnica no Brasil pois, o Brasil está sendo povoado por elementos étnicos heterogêneos, dos quais cada qual tem a sua identidade própria. Contamos com identidade étnica portuguesa, alemã, italiana, polonesa e outras, mas não brasileira. Trata-se do óbvio, porque cada qual procura preservar a sua herdada dos seus antepassados. A par disso, porém, há algo que é comum a todos e este novo poderíamos chamar de brasileirismo. O brasileirismo não exige o abandono da maneira de ser herdada e inerente às pessoas, mas somente tornar úteis os valores próprios de cada um em função do bem de todos, isto é, o Brasil.

Nem poderia ser diferente com o brasileirismo. Assim como a natureza não dá saltos, não há como forçar uma evolução que se processa conforme  lógica a natureza, a enveredar numa direção e por caminhos artificiais. Neste caso nem se poderia falar em brasileirismo mas em opressão das identidades étnicas numericamente inferiores, pelas mais poderosas. Este fato, de forma algum, impedirá  a formação de uma identidade étnica brasileira.  Ela evoluirá do brasileirismo, o qual se construirá na única base possível para a identidade étnica. A evolução é lenta e se passarão séculos até que se possa falar  em identidade étnica brasileira.

A evolução natural das coisas  leva nessa direção. Da mesma forma como não se pode obrigar as pessoas a abrir mão da sua identidade étnica, de uma geração para a outra, sem grandes danos para os valores permanentes, tão pouco será possível sustar o processo de amálgama, estimulado pela lógica das leis naturais. Dá na mesma se é possível ou quando é possível verificar um resultado definitivo. Os maiores escritores brasileiros como Euclides da Cunha o consideram discutível. Consideram-no impossível e até perigoso do ponto de vista da miscigenação racial. As razões que alega são indiscutíveis e de validade perene.

Basta-nos para nós o nosso brasileirismo em cuja sombra vivemos felizes e satisfeitos no Brasil. O nosso brasileirismo se constitui na base da identidade étnica brasileira.

Existe uma comunidade nacional brasileira. É a conclusão lógica das considerações feitas acima. Caso nao existisse o Brasil como um todo, dificilmente subsistiria, tendo em vista a composição étnica heterogênea  do seu povo. Somente a comunidade do povo como um todo, evidente para todos desde o Oiapoque até o arroio  Chuí e do Cabo Branco ao Javari, faz com que o Brasil seja o colosso que é. O comum, aquilo que o povo possui como uma comunidade, é o brasileirismo.

Resumindo pode-se dizer.

1. Ainda não existe uma identidade étnica brasileira.
2. Mas existe uma comunidade nacional brasileira,

Como se comporta a identidade étnica alemã e a comunidade nacional no contexto brasileiro e em relação à comunidade nacional brasileira?

Em suas poesias uma poetisa teuto-brasileira deu-nos a resposta para  a pergunta. Com sua amável permissão cito seus versos como resposta à pergunta feita pois,  linguagem poética, como se sabe, toca o coração e é o que pretendemos. Os nossos companheiros de estirpe que nos entendam e o melhor caminho para entender  são os versos do poeta:

Existe identidade étnica no Brasil
O cemitério está ali. Palmeiras farfalham
O vento veloz por seus leques passa,
Como se aqueles homens o fossem escutar
Que há muito sob suas raízes se decompuserem.

Percebo o elo que nos une
A nós e  a terra, em que os mortos descansam
Que nos une com nossos companheiros de estirpe,
Pela mesma palavra, o mesmo destino, a mesma obra.

Nós filhos da terra os costumes preservamos
Que do nosso mais profundo ser são a essência
Tão alemães como nossos pais
Que há muito são terra da nossa terra.

Tão alemão como outrora nossos pais foram,
Plenos de energia alemã, orgulho e vontade alemã,
Assim permaneça por muitos anos a germanidade
Dos filhos dos filhos o maior tesouro.

Eis uma confissão de fé cálida para com a maneira de ser e os costumes dos antepassados.

Há muito os primeiros imigrantes jazem decompostos em  terra brasileira, mas nós temos a obrigação de guardar a sua herança, se nos quisermos mostrar dignos deles. Toda a nossa força encontra-se  na nossa identidade étnica. Se a largarmos de mão, largamos a nós mesmos de mão.

Cabe-nos, portanto, preservar a nossa idntidade por razões egoístas.

Continuamos a guardá-la como legado dos nossos antepassados e finalmente pelo bem da nossa pátria.

Somos portadores da identidade étnica alemã no Brasil. Como nos situamos então frente à comunidade nacional alemã? Logo no início afirmamos que para nós comunidade só pode significar comunidade de destino. Nosso destino está e estará sempre ligado ao Brasil. Pertencemos à comunidade nacional brasileira e para ela estamos  disponíveis. Quando na Alemanha se fala num povo de cem milhões, isto vale para nós somente na medida em que se considera a identidade étnica. No momento em que se pretende inserir-nos numa comunidade nacional de cem milhões, só temos um definitivo não como resposta. O que temos em comum com a nossa terra de origem é a participação e o comprometimento naquilo que é a sua alma.

Alem disto há um componente ético decisivo. Temos laços existenciais com a terra brasileira. É a nossa terra natal, é o chão que nos alimenta, é o nossos cemitério.

A alma da terra natal tomou posse do homem. A terra natal nos deu identidade, imprimiu o selo em nossas gerações. A diferença entre a terra natal dos alemães do “Reich” e dos teuto-brasileiros, impele-nos necessariamente ao encontro de uma outra comunidade nacional daquela que se encontra em território alemão. A nossa terra natal amoldou a nossa alma ao chão em que vivemos. A nossa identidade étnica alemã e a nossa terra natal confluíram numa unidade harmoniosa. Daí destaca-se gradativamente uma linha divisória nítida entre  os alemães do “Reich” e os teuto-brasileiros. Não é necessário, entretanto, que atue como uma fronteira que separa. Infelizmente contrapõe-se muitas vezes à nossa vontade étnica e política, uma cosmovisão que nega a condição de pátria, à terra em que nascemos e na qual vivemos. É algo que não faz sentido e só se justifica no caso d todos os homens de sangue alemão, nascidos no estrangeiro, regressem  futuramente à terra  dos seus antepassados. Já que isto se tornou impossível para as gerações que nasceram  no Brasil, alem de não quererem, realizou-se o processo de sintonia da alma para com a terra natal.

A alma da nossa terra natal
Que anima o nosso ser e existir
Ela tem em nosso lar, junto ao fogão
É a essência de nossos filhos

Fala-ns das profundezas silenciosas da mata virgem
Sua voz troa no rumor das cachoeiras
Encontra-se no perfume das orquídeas
Ao canto dos pássaros que enche o jardim e os arbustos.

A nossa adesão à identidade étnica alemã não sofreu nenhum dano por causa da nova postura da alemã. Firmamo-nos contudo em pés próprios. Deixemos a poetisa continuar:

Iremos sempre pela nossa maneira de ser
Confessar a nossa adesão ao ser e falar dos antepassados,
Jamais separaremos do nosso ser  e viver
Os  traços essenciais da terra natal.

Pois, cada planta, cada vivente
Que cada brasileiro carrega em si
A peculiaridade que da nossa maneira de  ser
Impressa no teuto-brasileiro.

Além da maneira própria da identidade étnica, que temos em comum com todos os alemães, exibimos a maneira de peculiar impressa pelo torrão natal. Se não tivéssemos   a nossa identidade não passaríamos de folhas murchas, jogadas para lê e para cá  pelo vento, para, finalmente, sermos entregues à degenerescência.

Chamar de querência natal uma terra que não conhecemos, nada mais seria do que perseguir um fantasma e nos transformarmos em alienados e desenraizados. Exatamente da mesma forma como todo alemão tem a sua pátria no “Reich”, nós temos a nossa. Possuí-la é indispensável para a nossa sobrevivência. Como cidadãos livres sentimo-nos orgulhosos de chamá-la nossa sem restrições. Acrescentemos os versos que conseguem expressar essa realidade elementar com maior precisão do que as minhas palavras.

Porque ao lado da nossa peculiaridade racial
Existem as características próprias da querência natal
Cultivamos os dois na mesma medida,
Para que não se perca em nós.

Para na vida não perdermos as raízes
Para não sermos homens sem pátria
Para com o chão preservarmos a nossa relação
Sobre o qual flui o caudal da nossa vida.

Exatamente como entre nós  aliaram-se com a terra natal também a identidade étnica portuguesa, polonesa, italiana. As manifestações da alma daí resultantes sintonizam com as nossas.

Aquilo que nos une, o esforço em construir pontes sobre os contrários, faz com que tenhamos o mesmo destino, a mesma pátria, as melhores bases para construir a comunidade nacional brasileira. A poetisa acerta de novo na mosca quando escreve:

A certeza que uma parcela da pátria brasileira
Irriga a existência de todos os brasileiros,
E que pela ligação com a pa´tria
Também entre nós estamos unidos.

Unidos pelo mesmo objetivo na vida:
Promover e fortalecer a pátria!
Por cuja edificação damos o melhor de nós
Com suas obras cada um colabora.

E onde cada um retira de sua identidade
As energias para alcançar o objetivo
Nós brasileiros trabalhamos para a glória
Da amada pátria, para o teu bem, Brasil.

Apesar de pertencentes inteiramente à comunidade nacional brasileira, demonstramos muitas vezes, que em horas de   necessidade pensamos, na medida das nossas possibilidades, não apenas em nós, mas também em nossos irmãos na terra de origem. Provamos a eles que acima de todas as diferenças assumimos os nossos deveres para com a germanidade. Levamos a sério, muito a sério, essa obrigação. Serve de prova que não somos seres exóticos, como ultimamente costumam caracterizar-nos, quando sustentamos conscientemente a nossa tradicional posição teuto-brasileira e partimos em sua defesa.

Estamos inseridos na identidade étnica alemã. Temos uma pátria que é nossa e por ela batalhamos. Fazemos parte da comunidade nacional brasileira, porque declaramos a nossa adesão à pátria brasileira.

Nós brasileiros de ascendência germânica vivemos felizes sob o céu estrelado do cruzeiro do sul. Temos tudo que alguém precisa por ser feliz neste mundo. Não percebemos falhas nem há nada que nos possa tirar do equilíbrio, nem corporal nem espiritualmente. Movimentaram-se adaptados `s circunstâncias e estamos harmonicamente inseridos no todo. Não há nenhum milagre nisso, pois em nós se realizou:

Quem tem raízes no próprio chão
Este é sólido.
Quem preserva os costumes dos antepassados
Este é autêntico.
Quem ama intensamente a sua pátria
Este é bom
Com certeza merece elogio
Aquele que tudo isto faz.

Assim foi, assim será, como lema em homenagem ao “nosso dia”:

Em memória dos nossos antepassados
Para o nosso ensinamento
Para o bem da nossa Pátria.


O verso acima seja a expressão suprema da sabedoria de vida do teuto-brasileiro e a quintessência desta exposição.