Sem falar dos tempos mais antigos,
quando tudo que se relacionava com o social e o estrutural do Estado, emanava
do povo, nunca como antes no concerto dos povos e nas respectivas nações, o
terceiro elemento, o povo conquistou tamanha influência sobre os acontecimentos
políticos e sociais. Por mais que se tenha abusado da grandiosa idéia da auto-determinação dos povos para fins de dominação política, a
idéia está aí mais cedo ou mais tarde dará seus resultados. Para que o cidadão
se possa apropriar de clareza e de bases sólidas em relação à estrutura
jurídica do Estado, é preciso fixar o significado do sentido de certos termos,
que se encontram hoje na boca de todos: Comunidade Nacional e Identidade
Étnica.
Menciono intencionalmente a
comunidade nacional em primeiro lugar, porque, no decurso a gênese histórica das nações, acontecia como
passo inicial, a reunião de indivíduos isolados numa comunidade social. O fato
de essa união implicar em quase toda a parte em homens da mesma origem ou raça,
nada mais foi do que o resultado espontâneo
da própria formação das raças e grupos de parentesco.
No primeiro momento essa
comunidade nacional tornou-se tão
robusta, que foi capaz de manter-se como
uma estrutura autônoma. Mais tarde evoluiu no seio do convívio dessa comunidade
étnica (Volksgemeinschaft) uma identidade étnica forte e autêntica, como
expressão de todas as características raciais, lingüísticas e espirituais dessa
comunidade de destino comum.
O spiritual mostrou-se sempre
mais forte do que o meramente material, apesar de todas as afirmações em
contrario e apesar de todas as más experiências. Desta maneira a identidade
étnica no seu significado espiritual, muitas vezes cresceu para alem das
fronteiras da comunidade nacional Permaneceu como precioso patrimônio para os
companheiros que por espírito de aventura, na condição de comerciantes ou por
carestia de terra, migraram para outras terras. Comunidades nacionais estranhas
são capazes de influenciar culturalmente, como nos é dado observar entre os
helenos e os romanos. Os dois conceitos definem-se claramente. Comunidade
nacional como um conceito de pessoas unidas por um pacto político-social. Na
maioria dos casos uniram-se por
pertencerem à mesma raça, falarem a mesma língua, às vezes também por
circunstâncias econômicas ou políticas. A identidade étnica, por sua vez,
define-se pela expressão cultural de uma determinada cultura. Como tudo que é
cultural, a identidade étnica não se deixa sustar por fronteiras artificiais.
Radica essencialmente no indivíduo e na família.
Os indivíduos isolados, portanto,
e os grupos racialmente aparentados,
separados do corpo étnico, já não pertencem à sua mas à nova comunidade
nacional, no seio da qual desenvolvem suas atividades. Isto não significa que
também abriram mão da sua identidade étnica. É contrario à realidade quando
hoje, por ex., se tenta impedir o acesso à comunidade nacional alemã, por parte
de círculos teuto-brasileiros ou mesmo por imigrantes radicados no País. Uma
associação para promover a gemanidade no exterior tem o efeito de uma bênção no
seu espaço de influência. Uma associação para promover a comunidade nacional no estrangeiro, seria
um instrumento inaceitável.
Um fato todo particular facilita
a distinção entre esses conceitos tão controvertidos. A consciência do
pertencimento a uma comunidade nacional pode brotar de um chão, no qual alguém
se percebe inserido como na sua terra natal, independentemente da identidade
étnica herdada. O fato torna-se ainda mais evidente quando essa pátria foi
atribuída pelo direito de nascimento, com é o caso dos teuto-brasileiros. O
vinculo com o espaço vital dado constitui-se num fato tão poderoso como o
pertencimento a uma determinada identidade étnica.
Constatamos todos os dias nos
filhos dos recém imigrados quão poderoso é, ao lado do sangue, o chão como
formador das características. Numerosos testemunhos da literatura alemã
contemporânea nos chamam com muita insistência a atenção, para mostrar como o
chão em que nascemos, é capaz de influir na alma. E é do Brasil o chão em que
nascem os teuto-brasileiros.
A pergunta se comunidade nacional
e identidade étnica podem significar o mesmo, embora espacialmente separados,
depende da dinâmica interna, do valor ideal da identidade étnica e a
preocupação do todo pelas partes territorialmente separadas. Também aqui no
Brasil encontramos exemplos correspondentes. A mãe-pátria Portugal desenvolveu
no seio da sua identidade, no lusitanismo, potencialidades ideais, que
ultrapassaram em muito as fronteiras do pequeno reino e se alastraram até os
continentes mais longínquos. No Brasil, principalmente, edificaram um poderoso
reino colonial que como tal, no início, no que diz respeito à camada dominante,
com certeza, pertencia à comunidade nacional lusitana. Sem demora, porém, a
super poderosa influência do entorno, fez despertar a consciência de uma
comunidade nacional brasileira. A conquista da independência política rompeu
finalmente os laços com a comunidade nacional lusa. Permaneceram contudo as
relações no plano dos valores superiores da identidade étnica lusitana. Hoje
nenhum português se atreveria a rotular como traidor da identidade a um
luso-brasileiro, pelo fato de já não participar das vicissitudes políticas de
Portugal. Pelo contrario. Ninguém negaria ao luso-brasileiro a admiração pelo
fato de, apesar de sua inferioridade numérica, conseguir manter como modelo a
identidade do gigantesco reino.
De outro lado depende também das
potencialidades internas e das condições no plano político, até que ponto uma
identidade étnica é capaz de influenciar uma comunidade nacional racialmente heterogênea. As razões que
fizeram com que o lusitanismo lograsse impor a soberania sobre os indígenas
autóctones e sobre os escravos negros importados foram, de um lado, a ausência
de uma unidade política e uma cultura incipiente e estagnada e, do outro, a
falta de cultura e a condição de submissão dos escravos. O imigrante europeu
não lusitano, entretanto, que veio por decisão livre e espontânea , ou até
convidado pelo governo era, na maioria dos casos, portador de uma identidade
étnica, no mínimo do mesmo nível, embora de outra configuração. Por mais que
desejasse inserir-se na comunidade étnica brasileira, não dependia da sua
vontade deixar para trás, sem mais nem menos, a identidade étnica herdada e
substituí-la por outra, cujos componentes de qualidade duvidosa, não
significariam uma troca de igual qualidade.
Todas essas minorias étnicas
inseriram-se na comunidade nacional brasileira e dedicam-lhe seus préstimos.
Jamais alguma delas negou ao Estado o que é do Estado. Mesmo em tempos de
guerra permaneceram fieis à comunidade nacional, apesar de manter-se fiéis `sua
identidade étnica e, por isso, não
poucas vezes foram alvos das mais graves suspeitas. De outra parte
observamos no exemplo da Áustria até que ponto uma parte da nação é capaz de
preservar a identidade étnica, prestando-lhe relevantes serviços, embora
separada da comunidade nacional dos demais membros da raça. Também a Suíça
confirma que identidade étnica e comunidade nacional são dois conceitos
inteiramente diversos que, entretanto, não necessariamente entram em conflito.
Infelizmente, tanto o imigrante
aqui radicado, como o teuto-brasileiro aqui nascido, sentem-se acuados de dois
sentidos: sofrem a acusação de ainda não estarem inseridos na comunidade
nacional, porque mantém a adesão à identidade étnica alemã.Confunde-se uma
comunidade étnica, ainda longe de ser configurada, com comunidade nacional. De
outra parte sofre a acusação de traição para com a comunidade nacional alemã,
que lhe é necessariamente estranha por causa da sua fidelidade para com o Brasil sua terra natal. É normal
na vida que os filhos da mesma mãe construam a
própria casa inteiramente separada. Ao a construírem rejeitarão evidentemente qualquer tentativa
de comprometimento.
Quando então se coloca questão se é possível alguém com identidade étnica alemã e inserido na
comunidade nacional alemã poder pertencer, ao mesmo tempo e da mesma maneira,
às correspondentes brasileiras, a
resposta não pode ser a mesma. É possível que alguém que mora no Brasil faça
parte da identidade étnica alemã e da comunidade nacional alemã, no caso em que
a permanência for passageira ou motivada pelo serviço prestado ao Estado natal.
Neste caso evidentemente não se pode dizer que o respectivo faça pare de uma correspondente
brasileira. Pode-se ainda imaginar o caso de alguém de nível cultural mais apurado, tanto aqui no
País como na Alemanha, situado igualmente próximo da identidade étnica lusitana
e alemã, apresentar o mínimo que o nativismo lusitano exige de imigrante. Não
faria nenhum sentido, porém, afirmar que alguém possa pertencer tanto à
comunidade nacional alemã como a brasileira, pelo fato de este conceito estar
intimamente relacionado com a atividade política do Estado e com seus objetivos
político sociais.
A maioria dos teuto-brasileiros
que vivem no seio da comunidade nacional brasileira cabe, como conseqüência,
continuar a cultivar e representar a
identidade étnica alemã, adaptada às circunstâncias locais.
O teuto-brasileiro encontra-se
inserido na comunidade nacional
brasileira pelo princípio do “ius soli”. Este princípio garante-lhe o direito à
pátria onde nasceu, onde como criança experimentou as primeiras vivencias e onde o ambiente como um todo, lhe serviu de
fator de educação. Também segundo as leis lógicas, cada ser vivo vem a ser mais
ou menos produto do meio. A adaptação a esse meio se processará com tanto maior facilidade,
quanto maiores facilidades biológicas e culturais for capaz de oferecer. O
Brasil sempre romântico e liberal, pondo com liberalidade o seu chão à
disposição, ofereceu um local de permanência ideal para o elemento germânico
amante da liberdade, um pouco aventureiro, porém, ansioso por um pedaço de chão
se.
Gostaria de acentuar a palavra
“livre escolha”, principalmente para aqueles imigrantes, que por quaisquer
razões , na maioria dos casos relacionadas com o próprio caráter, adaptação se prolonga ou simplesmente não
acontece. Por isso dão vazão à desilusão fazendo observações mordazes contra o
Brasil pois, são incapazes de compreender e conhecer a própria situação. A
essas pessoas resta darmos a calorosa sugestão de retornar para a terra dos
seus sonhos. Ninguém o levará a mal. Pelo contrario servirá, até certo ponto,
como motivo de estima. Quem, entretanto, migrar para cá livremente – e ninguém
jamais foi forçado para tanto como os escravos negros – e quem pretender
permanecer aqui, obriga-se a si mesmo, perante os filhos da nova terra, a
deitar raízes definitivas, isto é, incorporar-se à comunidade nacional.
Apesar disso é de sua obrigação
honrar a herança racial e cultural de
sua identidade étnica, a ele confiada pelo Criador, cuidar da sua preservação,
em memória dos antepassados, para o seu próprio ensinamento e pela honra da
Pátria. Do ponto de vista cultural e tomando em consideração o que foi dito
acima, na verdade não é mais preciso
insistir, embora o luso-brasileiro não queira aceitar que a preservação da respectiva identidade étnica
venha também venha em proveito da pátria
brasileira. O Estado necessita de cidadãos completos, homens de caráter,
enraizados em sua identidade étnica claramente definida e consolidada.
O teuto-brasileiro estará em
condições de se dedicar inteiramente à preservação da sua identidade
étnica, somente depois de cumprir de
todo seus deveres para com a comunidade nacional brasileira. Aliás estas foi
sempre a sua maneira de proceder quando se oferecia uma ocasião como, por ex.,
no aprendizado da língua do País. A demonstração inequívoca de estar cumprindo
a sua obrigação perante os outros
membros da comunidade nacional brasileira, só então é possível quando estiver em condições de exercer seus direito políticos e seus
direitos de cidadania. Para o teuto-brasileirismo ainda hoje deveria ser
considerado como a primeira de todas as prioridades, organizar um círculo de lideranças autóctones. Os pressupostos
foram em parte cumpridos. A fome pela formação impele o teuto-brasileiro para
as escolas mais adiantadas, inclusive escolas superiores. Desta forma lhe é
permitido aspirar à carreira acadêmica e, ao mesmo tempo, despertar o interesse
pelos problemas de política interna, conquistas feitas sob duras penas e sob
ameaças de opressão étnica. Uma grande porcentagem desses vanguardeiros infelizmente
transfere-se para a brasilidade, sendo perdidos para os interesses da
germanidade. Abre-se aqui um grande espaço
para dar um acompanhamento à juventude. É preciso oferecer a ela muito
mais do que agora, a fim de não perdê-la
e evitar que suas cabeças sejam confundidas
com idéias estranhas à realidade.
Não á necessidade que o
teuto-brasileiro se feche a qualquer novidade vinda de for, como inflelizmente
tem acontecido em tempos de maior agitação.
Servirão de estímulos valiosos e de enriquecimento para o imigrante alemão
sinceramente empenhado em procurar uma pátria. Esta sua abertura de espírito,
porém, não deve ser mal interpretada, como se as orientações políticas vindas
do estrangeiro fossem necessárias, no momento em que perseguem objetivos
políticos estrangeiros (por mais
desagradável que possa soar o vocábulo
estrangeiro).
Se por caso os arautos da grande
comunidade nacional alemã em nossa terra-mãe querem realmente ajudar-nos a
preservara a nossa identidade étnica, eles precisam entender uma coisa. O
teuto-brasileiro é, antes de mais nada, um brasileiro sob o aspecto da
comunidade nacional. O litoral coberto de palmeias, o amplo pampa, misteriosa mata virgem e os costumes
brasileiros, fazem seu coração bater mais forte. A floresta de pinheiros
alemães, o inverno alemão, a vida nas casernas de Potsdam e outras coisas mais,
lhe são interessantes, mas não passam de conceitos tão exóticos como são como
são por ex., para os alemães as orquídeas e os animais fantásticos do alem
oceano. O teuto-brasileiro pisa o chão da realidade e alimenta suas energias,
do sangue e da terra, da mesma maneira como o exige nova Alemanha.