Identidade Étnica – Comunidade Nacional - VII Fr. W. Richter

Sem falar dos tempos mais antigos, quando tudo que se relacionava com o social e o estrutural do Estado, emanava do povo, nunca como antes no concerto dos povos e nas respectivas nações, o terceiro elemento, o povo conquistou tamanha influência sobre os acontecimentos políticos e sociais. Por mais que se tenha abusado da grandiosa idéia  da auto-determinação  dos povos para fins de dominação política, a idéia está aí mais cedo ou mais tarde dará seus resultados. Para que o cidadão se possa apropriar de clareza e de bases sólidas em relação à estrutura jurídica do Estado, é preciso fixar o significado do sentido de certos termos, que se encontram hoje na boca de todos: Comunidade Nacional e Identidade Étnica.

Menciono intencionalmente a comunidade nacional em primeiro lugar, porque, no decurso  a gênese histórica das nações, acontecia como passo inicial, a reunião de indivíduos isolados numa comunidade social. O fato de essa união implicar em quase toda a parte em homens da mesma origem ou raça, nada mais foi do que o resultado  espontâneo da própria formação das raças e grupos de parentesco.

No primeiro momento essa comunidade nacional tornou-se  tão robusta, que foi capaz de manter-se  como uma estrutura autônoma. Mais tarde evoluiu no seio do convívio dessa comunidade étnica (Volksgemeinschaft) uma identidade étnica forte e autêntica, como expressão de todas as características raciais, lingüísticas e espirituais dessa comunidade de destino comum.

O spiritual mostrou-se sempre mais forte do que o meramente material, apesar de todas as afirmações em contrario e apesar de todas as más experiências. Desta maneira a identidade étnica no seu significado espiritual, muitas vezes cresceu para alem das fronteiras da comunidade nacional Permaneceu como precioso patrimônio para os companheiros que por espírito de aventura, na condição de comerciantes ou por carestia de terra, migraram para outras terras. Comunidades nacionais estranhas são capazes de influenciar culturalmente, como nos é dado observar entre os helenos e os romanos. Os dois conceitos definem-se claramente. Comunidade nacional como um conceito de pessoas unidas por um pacto político-social. Na maioria dos casos uniram-se  por pertencerem à mesma raça, falarem a mesma língua, às vezes também por circunstâncias econômicas ou políticas. A identidade étnica, por sua vez, define-se pela expressão cultural de uma determinada cultura. Como tudo que é cultural, a identidade étnica não se deixa sustar por fronteiras artificiais. Radica essencialmente no indivíduo e na família.

Os indivíduos isolados, portanto, e os grupos racialmente  aparentados, separados do corpo étnico, já não pertencem à sua mas à nova comunidade nacional, no seio da qual desenvolvem suas atividades. Isto não significa que também abriram mão da sua identidade étnica. É contrario à realidade quando hoje, por ex., se tenta impedir o acesso à comunidade nacional alemã, por parte de círculos teuto-brasileiros ou mesmo por imigrantes radicados no País. Uma associação para promover a gemanidade no exterior tem o efeito de uma bênção no seu espaço de influência. Uma associação para promover  a comunidade nacional no estrangeiro, seria um instrumento inaceitável.

Um fato todo particular facilita a distinção entre esses conceitos tão controvertidos. A consciência do pertencimento a uma comunidade nacional pode brotar de um chão, no qual alguém se percebe inserido como na sua terra natal, independentemente da identidade étnica herdada. O fato torna-se ainda mais evidente quando essa pátria foi atribuída pelo direito de nascimento, com é o caso dos teuto-brasileiros. O vinculo com o espaço vital dado constitui-se num fato tão poderoso como o pertencimento a uma determinada identidade étnica.

Constatamos todos os dias nos filhos dos recém imigrados quão poderoso é, ao lado do sangue, o chão como formador das características. Numerosos testemunhos da literatura alemã contemporânea nos chamam com muita insistência a atenção, para mostrar como o chão em que nascemos, é capaz de influir na alma. E é do Brasil o chão em que nascem os teuto-brasileiros.

A pergunta se comunidade nacional e identidade étnica podem significar o mesmo, embora espacialmente separados, depende da dinâmica interna, do valor ideal da identidade étnica e a preocupação do todo pelas partes territorialmente separadas. Também aqui no Brasil encontramos exemplos correspondentes. A mãe-pátria Portugal desenvolveu no seio da sua identidade, no lusitanismo, potencialidades ideais, que ultrapassaram em muito as fronteiras do pequeno reino e se alastraram até os continentes mais longínquos. No Brasil, principalmente, edificaram um poderoso reino colonial que como tal, no início, no que diz respeito à camada dominante, com certeza, pertencia à comunidade nacional lusitana. Sem demora, porém, a super poderosa influência do entorno, fez despertar a consciência de uma comunidade nacional brasileira. A conquista da independência política rompeu finalmente os laços com a comunidade nacional lusa. Permaneceram contudo as relações no plano dos valores superiores da identidade étnica lusitana. Hoje nenhum português se atreveria a rotular como traidor da identidade a um luso-brasileiro, pelo fato de já não participar das vicissitudes políticas de Portugal. Pelo contrario. Ninguém negaria ao luso-brasileiro a admiração pelo fato de, apesar de sua inferioridade numérica, conseguir manter como modelo a identidade do gigantesco reino.

De outro lado depende também das potencialidades internas e das condições no plano político, até que ponto uma identidade étnica é capaz de influenciar uma comunidade nacional  racialmente heterogênea. As razões que fizeram com que o lusitanismo lograsse impor a soberania sobre os indígenas autóctones e sobre os escravos negros importados foram, de um lado, a ausência de uma unidade política e uma cultura incipiente e estagnada e, do outro, a falta de cultura e a condição de submissão dos escravos. O imigrante europeu não lusitano, entretanto, que veio por decisão livre e espontânea , ou até convidado pelo governo era, na maioria dos casos, portador de uma identidade étnica, no mínimo do mesmo nível, embora de outra configuração. Por mais que desejasse inserir-se na comunidade étnica brasileira, não dependia da sua vontade deixar para trás, sem mais nem menos, a identidade étnica herdada e substituí-la por outra, cujos componentes de qualidade duvidosa, não significariam uma troca de igual qualidade.

Todas essas minorias étnicas inseriram-se na comunidade nacional brasileira e dedicam-lhe seus préstimos. Jamais alguma delas negou ao Estado o que é do Estado. Mesmo em tempos de guerra permaneceram fieis à comunidade nacional, apesar de manter-se fiéis `sua identidade étnica e, por isso, não  poucas vezes foram alvos das mais graves suspeitas. De outra parte observamos no exemplo da Áustria até que ponto uma parte da nação é capaz de preservar a identidade étnica, prestando-lhe relevantes serviços, embora separada da comunidade nacional dos demais membros da raça. Também a Suíça confirma que identidade étnica e comunidade nacional são dois conceitos inteiramente diversos que, entretanto, não necessariamente entram em conflito.

Infelizmente, tanto o imigrante aqui radicado, como o teuto-brasileiro aqui nascido, sentem-se acuados de dois sentidos: sofrem a acusação de ainda não estarem inseridos na comunidade nacional, porque mantém a adesão à identidade étnica alemã.Confunde-se uma comunidade étnica, ainda longe de ser configurada, com comunidade nacional. De outra parte sofre a acusação de traição para com a comunidade nacional alemã, que lhe é necessariamente estranha por causa da sua fidelidade  para com o Brasil sua terra natal. É normal na vida que os filhos da mesma mãe construam a  própria casa inteiramente separada. Ao a construírem  rejeitarão evidentemente qualquer tentativa de comprometimento.

Quando então se coloca  questão se é possível alguém  com identidade étnica alemã e inserido na comunidade nacional alemã poder pertencer, ao mesmo tempo e da mesma maneira, às  correspondentes brasileiras, a resposta não pode ser a mesma. É possível que alguém que mora no Brasil faça parte da identidade étnica alemã e da comunidade nacional alemã, no caso em que a permanência for passageira ou motivada pelo serviço prestado ao Estado natal. Neste caso evidentemente não se pode dizer que o respectivo faça pare de uma correspondente brasileira. Pode-se ainda imaginar o caso de alguém  de nível cultural mais apurado, tanto aqui no País como na Alemanha, situado igualmente próximo da identidade étnica lusitana e alemã, apresentar o mínimo que o nativismo lusitano exige de imigrante. Não faria nenhum sentido, porém, afirmar que alguém possa pertencer tanto à comunidade nacional alemã como a brasileira, pelo fato de este conceito estar intimamente relacionado com a atividade política do Estado e com seus objetivos político sociais.

A maioria dos teuto-brasileiros que vivem no seio da comunidade nacional brasileira cabe, como conseqüência, continuar a cultivar e representar  a identidade étnica alemã, adaptada às circunstâncias locais.

O teuto-brasileiro encontra-se inserido  na comunidade nacional brasileira pelo princípio do “ius soli”. Este princípio garante-lhe o direito à pátria onde nasceu, onde como criança experimentou as primeiras vivencias  e onde o ambiente como um todo, lhe serviu de fator de educação. Também segundo as leis lógicas, cada ser vivo vem a ser mais ou menos produto do meio. A adaptação a esse meio  se processará com tanto maior facilidade, quanto maiores facilidades biológicas e culturais for capaz de oferecer. O Brasil sempre romântico e liberal, pondo com liberalidade o seu chão à disposição, ofereceu um local de permanência ideal para o elemento germânico amante da liberdade, um pouco aventureiro, porém, ansioso por um pedaço de chão se.

Gostaria de acentuar a palavra “livre escolha”, principalmente para aqueles imigrantes, que por quaisquer razões , na maioria dos casos relacionadas com o próprio caráter,  adaptação se prolonga ou simplesmente não acontece. Por isso dão vazão à desilusão fazendo observações mordazes contra o Brasil pois, são incapazes de compreender e conhecer a própria situação. A essas pessoas resta darmos a calorosa sugestão de retornar para a terra dos seus sonhos. Ninguém o levará a mal. Pelo contrario servirá, até certo ponto, como motivo de estima. Quem, entretanto, migrar para cá livremente – e ninguém jamais foi forçado para tanto como os escravos negros – e quem pretender permanecer aqui, obriga-se a si mesmo, perante os filhos da nova terra, a deitar raízes definitivas, isto é, incorporar-se à comunidade nacional.

Apesar disso é de sua obrigação honrar a herança  racial e cultural de sua identidade étnica, a ele confiada pelo Criador, cuidar da sua preservação, em memória dos antepassados, para o seu próprio ensinamento e pela honra da Pátria. Do ponto de vista cultural e tomando em consideração o que foi dito acima,  na verdade não é mais preciso insistir, embora o luso-brasileiro não queira aceitar que  a preservação da respectiva identidade étnica venha também venha em proveito da pátria  brasileira. O Estado necessita de cidadãos completos, homens de caráter, enraizados em sua identidade étnica claramente definida e consolidada.

O teuto-brasileiro estará em condições de se dedicar inteiramente à preservação da sua identidade étnica,  somente depois de cumprir de todo seus deveres para com a comunidade nacional brasileira. Aliás estas foi sempre a sua maneira de proceder quando se oferecia uma ocasião como, por ex., no aprendizado da língua do País. A demonstração inequívoca de estar cumprindo a sua obrigação  perante os outros membros da comunidade nacional brasileira, só então é possível  quando estiver em condições  de exercer seus direito políticos e seus direitos de cidadania. Para o teuto-brasileirismo ainda hoje deveria ser considerado como a primeira de todas as prioridades, organizar um círculo  de lideranças autóctones. Os pressupostos foram em parte cumpridos. A fome pela formação impele o teuto-brasileiro para as escolas mais adiantadas, inclusive escolas superiores. Desta forma lhe é permitido aspirar à carreira acadêmica e, ao mesmo tempo, despertar o interesse pelos problemas de política interna, conquistas feitas sob duras penas e sob ameaças de opressão étnica. Uma grande porcentagem  desses vanguardeiros infelizmente transfere-se para a brasilidade, sendo perdidos para os interesses da germanidade. Abre-se aqui um grande espaço  para dar um acompanhamento à juventude. É preciso oferecer a ela muito mais do que agora, a fim de  não perdê-la e evitar que suas cabeças sejam confundidas  com idéias estranhas à realidade.

Não á necessidade que o teuto-brasileiro se feche a qualquer novidade vinda de for, como inflelizmente tem acontecido em tempos de maior agitação.  Servirão de estímulos valiosos e de enriquecimento para o imigrante alemão sinceramente empenhado em procurar uma pátria. Esta sua abertura de espírito, porém, não deve ser mal interpretada, como se as orientações políticas vindas do estrangeiro fossem necessárias, no momento em que perseguem objetivos políticos  estrangeiros (por mais desagradável que possa soar  o vocábulo estrangeiro).


Se por caso os arautos da grande comunidade nacional alemã em nossa terra-mãe querem realmente ajudar-nos a preservara a nossa identidade étnica, eles precisam entender uma coisa. O teuto-brasileiro é, antes de mais nada, um brasileiro sob o aspecto da comunidade nacional. O litoral coberto de palmeias, o amplo pampa,  misteriosa mata virgem e os costumes brasileiros, fazem seu coração bater mais forte. A floresta de pinheiros alemães, o inverno alemão, a vida nas casernas de Potsdam e outras coisas mais, lhe são interessantes, mas não passam de conceitos tão exóticos como são como são por ex., para os alemães as orquídeas e os animais fantásticos do alem oceano. O teuto-brasileiro pisa o chão da realidade e alimenta suas energias, do sangue e da terra, da mesma maneira como o exige  nova Alemanha.

This entry was posted on quarta-feira, 25 de março de 2015. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.