Identidade Étnica – Comunidade Nacional – VI Hans Doetzer Jr.

O que se entende por identidade étnica?

Este conceito usado com tanta freqüência aparece quase  todos os dias nos jornais. No plano das percepções qualquer um sabe do que se trata. Mas poucos provavelmente tentaram  até agora formular em poucas palavras o seu significado.

Se não me engano o conceito de identidade étnica apareceu a primeira vê nos escritos de Jahn. Ele deu forma e sentido à expressão e reuniu em torno de si a juventude tomada do ideal nacional.

Empregamos espontaneamente a expressão “nossa identidade étnica”, ou “identidade étnica no Brasil”. Pensamos com isso apenas superficialmente no conjunto das pessoas de sangue alemão. O sentido da expressão “identidade étnica” é, porém, mais abrangente e mais profundo. Diz respeito menos ao indivíduo do que às suas manifestações. As manifestações são de natureza íntima, étnica e cultural. O conjunto delas, a compreensão como um todo, implica no conteúdo do conceito de identidade étnica.Os mesmos costumes, os mesmos usos, a mesma maneira de ser, a mesma língua, as mesmas expressões culturais, etc.,  formam uma unidade étnica. A identidade  étnica não conhece fronteiras. Ela é propriedade de uma determinada comunidade de pessoas. Não é passível de abandono, de troca, de negação, como se troca uma casa por outra. Porque no seio da identidade étnica encontram-se valores que foram reunidos no homem durante séculos. Identidade étnica é a herança que os nossos antepassados nos legaram. Representa assim o fundamento da nossa vida. Temos a consciência que a nossa energia vital, os frutos que amadurecemos, são o resultado de incontáveis  vivencias, amealhadas pela nossa estirpe no decorrer dos tempos.

Impõe-se então o fato: “não somos nós que vivemos mas os nossos antepassados que vivem em nós”. Conclui-se que se nós não existimos por nós mesmos, mas através de nós  se expressa aquilo que os nossos ancestrais construíram e plasmaram, perdemos totalmente as nossas raízes, se jogarmos ao mar essa herança. O nosso eu, visto isoladamente, não tem valor, é vazio e pobre. É incapaz de realiza, de construir alguma coisa, sem que a identidade étnica herdada dos antepassados atue em nós. Como ninguém pode trocar a sua identidade étnica, tão pouco pode renunciar a ela pois, a identidade étnica é o produto de uma evolução que recua até os idas primigênios da história do homem. Essa evolução processou-se organicamente, naturalmente e lentamente, de geração em geração e seu resultado provisório manifesta-se em nós. Essa evolução no seu acontecer marcou fronteiras precisas entre os povos. Compreende-se assim que ninguém está em condições de abrir mão, de uma hora para a outra, da sua identidade étnica e assumir outra. Para incorporar uma identidade étnica estranha falta-lhe o direcionamento condicionado pela natureza das coisas. A súbita adoção de uma identidade étnica alheia tira o homem inteiro do equilíbrio. Na verdade fica sem identidade étnica alguma. Significa abrir mão da identidade historicamente  condicionada, para preencher o vazio com uma outra que lhe é estranha. Entre a identidade étnica adquirida e o ser humano, falta o elo de ligação natural, fruto da evolução natural histórica. O resto só pode ser uma caricatura de homem.

O que se entende por Comunidade Nacional

Comunidade nacional é uma expressão que apenas em tempos mais recentes teve o seu uso generalizado. Mas não é uma invenção, melhor dito, não é uma conquista do nosso tempo. A comunidade nacional vem a ser a consciência  do pertencimento comum das pessoas a um Estado. Nem a unidade de pensamento político é determinante. A comunidade nacional materializa-se no amor ao próximo, no reconhecimento dos valores dos outros e na valorização da sua concepção social, cultural ou outra, dentro do todo. Consiste assim na inserção do indivíduo ou de certos grupos de indivíduos no todo, com a finalidade de promover  o bem estar do todo.

Dessa caracterização de identidade étnica e comunidade nacional, deduz-se claramente que não conceitos idênticos. É possível que em estados do tipo nacional, os dois sejam reunidos, misturados e torçados. Nossa tarefa consiste em enfrentar e tratar do problema, a partir de um ponto de vista próprio, como veremos a seguir.

A comunidade nacional é, em última análise, uma comunidade de destino. A seguir tentarei expor as razões dessa afirmação.


Identidade étnica e comunidade nacional no Brasil

Pela nossa maneira de ver as coisas não existe identidade étnica no Brasil pois, o Brasil está sendo povoado por elementos étnicos heterogêneos, dos quais cada qual tem a sua identidade própria. Contamos com identidade étnica portuguesa, alemã, italiana, polonesa e outras, mas não brasileira. Trata-se do óbvio, porque cada qual procura preservar a sua herdada dos seus antepassados. A par disso, porém, há algo que é comum a todos e este novo poderíamos chamar de brasileirismo. O brasileirismo não exige o abandono da maneira de ser herdada e inerente às pessoas, mas somente tornar úteis os valores próprios de cada um em função do bem de todos, isto é, o Brasil.

Nem poderia ser diferente com o brasileirismo. Assim como a natureza não dá saltos, não há como forçar uma evolução que se processa conforme  lógica a natureza, a enveredar numa direção e por caminhos artificiais. Neste caso nem se poderia falar em brasileirismo mas em opressão das identidades étnicas numericamente inferiores, pelas mais poderosas. Este fato, de forma algum, impedirá  a formação de uma identidade étnica brasileira.  Ela evoluirá do brasileirismo, o qual se construirá na única base possível para a identidade étnica. A evolução é lenta e se passarão séculos até que se possa falar  em identidade étnica brasileira.

A evolução natural das coisas  leva nessa direção. Da mesma forma como não se pode obrigar as pessoas a abrir mão da sua identidade étnica, de uma geração para a outra, sem grandes danos para os valores permanentes, tão pouco será possível sustar o processo de amálgama, estimulado pela lógica das leis naturais. Dá na mesma se é possível ou quando é possível verificar um resultado definitivo. Os maiores escritores brasileiros como Euclides da Cunha o consideram discutível. Consideram-no impossível e até perigoso do ponto de vista da miscigenação racial. As razões que alega são indiscutíveis e de validade perene.

Basta-nos para nós o nosso brasileirismo em cuja sombra vivemos felizes e satisfeitos no Brasil. O nosso brasileirismo se constitui na base da identidade étnica brasileira.

Existe uma comunidade nacional brasileira. É a conclusão lógica das considerações feitas acima. Caso nao existisse o Brasil como um todo, dificilmente subsistiria, tendo em vista a composição étnica heterogênea  do seu povo. Somente a comunidade do povo como um todo, evidente para todos desde o Oiapoque até o arroio  Chuí e do Cabo Branco ao Javari, faz com que o Brasil seja o colosso que é. O comum, aquilo que o povo possui como uma comunidade, é o brasileirismo.

Resumindo pode-se dizer.

1. Ainda não existe uma identidade étnica brasileira.
2. Mas existe uma comunidade nacional brasileira,

Como se comporta a identidade étnica alemã e a comunidade nacional no contexto brasileiro e em relação à comunidade nacional brasileira?

Em suas poesias uma poetisa teuto-brasileira deu-nos a resposta para  a pergunta. Com sua amável permissão cito seus versos como resposta à pergunta feita pois,  linguagem poética, como se sabe, toca o coração e é o que pretendemos. Os nossos companheiros de estirpe que nos entendam e o melhor caminho para entender  são os versos do poeta:

Existe identidade étnica no Brasil
O cemitério está ali. Palmeiras farfalham
O vento veloz por seus leques passa,
Como se aqueles homens o fossem escutar
Que há muito sob suas raízes se decompuserem.

Percebo o elo que nos une
A nós e  a terra, em que os mortos descansam
Que nos une com nossos companheiros de estirpe,
Pela mesma palavra, o mesmo destino, a mesma obra.

Nós filhos da terra os costumes preservamos
Que do nosso mais profundo ser são a essência
Tão alemães como nossos pais
Que há muito são terra da nossa terra.

Tão alemão como outrora nossos pais foram,
Plenos de energia alemã, orgulho e vontade alemã,
Assim permaneça por muitos anos a germanidade
Dos filhos dos filhos o maior tesouro.

Eis uma confissão de fé cálida para com a maneira de ser e os costumes dos antepassados.

Há muito os primeiros imigrantes jazem decompostos em  terra brasileira, mas nós temos a obrigação de guardar a sua herança, se nos quisermos mostrar dignos deles. Toda a nossa força encontra-se  na nossa identidade étnica. Se a largarmos de mão, largamos a nós mesmos de mão.

Cabe-nos, portanto, preservar a nossa idntidade por razões egoístas.

Continuamos a guardá-la como legado dos nossos antepassados e finalmente pelo bem da nossa pátria.

Somos portadores da identidade étnica alemã no Brasil. Como nos situamos então frente à comunidade nacional alemã? Logo no início afirmamos que para nós comunidade só pode significar comunidade de destino. Nosso destino está e estará sempre ligado ao Brasil. Pertencemos à comunidade nacional brasileira e para ela estamos  disponíveis. Quando na Alemanha se fala num povo de cem milhões, isto vale para nós somente na medida em que se considera a identidade étnica. No momento em que se pretende inserir-nos numa comunidade nacional de cem milhões, só temos um definitivo não como resposta. O que temos em comum com a nossa terra de origem é a participação e o comprometimento naquilo que é a sua alma.

Alem disto há um componente ético decisivo. Temos laços existenciais com a terra brasileira. É a nossa terra natal, é o chão que nos alimenta, é o nossos cemitério.

A alma da terra natal tomou posse do homem. A terra natal nos deu identidade, imprimiu o selo em nossas gerações. A diferença entre a terra natal dos alemães do “Reich” e dos teuto-brasileiros, impele-nos necessariamente ao encontro de uma outra comunidade nacional daquela que se encontra em território alemão. A nossa terra natal amoldou a nossa alma ao chão em que vivemos. A nossa identidade étnica alemã e a nossa terra natal confluíram numa unidade harmoniosa. Daí destaca-se gradativamente uma linha divisória nítida entre  os alemães do “Reich” e os teuto-brasileiros. Não é necessário, entretanto, que atue como uma fronteira que separa. Infelizmente contrapõe-se muitas vezes à nossa vontade étnica e política, uma cosmovisão que nega a condição de pátria, à terra em que nascemos e na qual vivemos. É algo que não faz sentido e só se justifica no caso d todos os homens de sangue alemão, nascidos no estrangeiro, regressem  futuramente à terra  dos seus antepassados. Já que isto se tornou impossível para as gerações que nasceram  no Brasil, alem de não quererem, realizou-se o processo de sintonia da alma para com a terra natal.

A alma da nossa terra natal
Que anima o nosso ser e existir
Ela tem em nosso lar, junto ao fogão
É a essência de nossos filhos

Fala-ns das profundezas silenciosas da mata virgem
Sua voz troa no rumor das cachoeiras
Encontra-se no perfume das orquídeas
Ao canto dos pássaros que enche o jardim e os arbustos.

A nossa adesão à identidade étnica alemã não sofreu nenhum dano por causa da nova postura da alemã. Firmamo-nos contudo em pés próprios. Deixemos a poetisa continuar:

Iremos sempre pela nossa maneira de ser
Confessar a nossa adesão ao ser e falar dos antepassados,
Jamais separaremos do nosso ser  e viver
Os  traços essenciais da terra natal.

Pois, cada planta, cada vivente
Que cada brasileiro carrega em si
A peculiaridade que da nossa maneira de  ser
Impressa no teuto-brasileiro.

Além da maneira própria da identidade étnica, que temos em comum com todos os alemães, exibimos a maneira de peculiar impressa pelo torrão natal. Se não tivéssemos   a nossa identidade não passaríamos de folhas murchas, jogadas para lê e para cá  pelo vento, para, finalmente, sermos entregues à degenerescência.

Chamar de querência natal uma terra que não conhecemos, nada mais seria do que perseguir um fantasma e nos transformarmos em alienados e desenraizados. Exatamente da mesma forma como todo alemão tem a sua pátria no “Reich”, nós temos a nossa. Possuí-la é indispensável para a nossa sobrevivência. Como cidadãos livres sentimo-nos orgulhosos de chamá-la nossa sem restrições. Acrescentemos os versos que conseguem expressar essa realidade elementar com maior precisão do que as minhas palavras.

Porque ao lado da nossa peculiaridade racial
Existem as características próprias da querência natal
Cultivamos os dois na mesma medida,
Para que não se perca em nós.

Para na vida não perdermos as raízes
Para não sermos homens sem pátria
Para com o chão preservarmos a nossa relação
Sobre o qual flui o caudal da nossa vida.

Exatamente como entre nós  aliaram-se com a terra natal também a identidade étnica portuguesa, polonesa, italiana. As manifestações da alma daí resultantes sintonizam com as nossas.

Aquilo que nos une, o esforço em construir pontes sobre os contrários, faz com que tenhamos o mesmo destino, a mesma pátria, as melhores bases para construir a comunidade nacional brasileira. A poetisa acerta de novo na mosca quando escreve:

A certeza que uma parcela da pátria brasileira
Irriga a existência de todos os brasileiros,
E que pela ligação com a pa´tria
Também entre nós estamos unidos.

Unidos pelo mesmo objetivo na vida:
Promover e fortalecer a pátria!
Por cuja edificação damos o melhor de nós
Com suas obras cada um colabora.

E onde cada um retira de sua identidade
As energias para alcançar o objetivo
Nós brasileiros trabalhamos para a glória
Da amada pátria, para o teu bem, Brasil.

Apesar de pertencentes inteiramente à comunidade nacional brasileira, demonstramos muitas vezes, que em horas de   necessidade pensamos, na medida das nossas possibilidades, não apenas em nós, mas também em nossos irmãos na terra de origem. Provamos a eles que acima de todas as diferenças assumimos os nossos deveres para com a germanidade. Levamos a sério, muito a sério, essa obrigação. Serve de prova que não somos seres exóticos, como ultimamente costumam caracterizar-nos, quando sustentamos conscientemente a nossa tradicional posição teuto-brasileira e partimos em sua defesa.

Estamos inseridos na identidade étnica alemã. Temos uma pátria que é nossa e por ela batalhamos. Fazemos parte da comunidade nacional brasileira, porque declaramos a nossa adesão à pátria brasileira.

Nós brasileiros de ascendência germânica vivemos felizes sob o céu estrelado do cruzeiro do sul. Temos tudo que alguém precisa por ser feliz neste mundo. Não percebemos falhas nem há nada que nos possa tirar do equilíbrio, nem corporal nem espiritualmente. Movimentaram-se adaptados `s circunstâncias e estamos harmonicamente inseridos no todo. Não há nenhum milagre nisso, pois em nós se realizou:

Quem tem raízes no próprio chão
Este é sólido.
Quem preserva os costumes dos antepassados
Este é autêntico.
Quem ama intensamente a sua pátria
Este é bom
Com certeza merece elogio
Aquele que tudo isto faz.

Assim foi, assim será, como lema em homenagem ao “nosso dia”:

Em memória dos nossos antepassados
Para o nosso ensinamento
Para o bem da nossa Pátria.


O verso acima seja a expressão suprema da sabedoria de vida do teuto-brasileiro e a quintessência desta exposição.

This entry was posted on segunda-feira, 23 de março de 2015. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.