Reflexões sugeridas pela Encíclica Laudato si - 25 -

Num dos seus famosos contos, intitulado “Drei Jahre auf dem Mars  -  Três anos em Marte”, escrito por volta de 1958, o Pe. Rambo, faz uma análise crítica sutil ao valor exagerado atribuído às conquistas da moderna tecnologia. O cenário vem a ser o planeta Marte. As histórias de discos voadores, viajantes cósmicos  procedentes de Marte, o primeiro voo espacial do astronauta russo Gagarin, povoavam o imaginário  até das pessoas mais comuns. Valendo-se desse imaginário o Pe. Rambo montou o cenário para apresentar sua antevisão ao que seria um mundo inteiramente entregue ao comando da tecnologia e a total artificialidade dela  resultante. Resumindo a história. Um disco voador buscou o Pe. Rambo numa das suas coletas de plantas nas redondezas de Cambará. Levou-o até Marte para lecionar Biologia e Filosofia Natural na universidade central do planeta. Toda a população concentrava-se numa gigantesca metrópole.  Nela tudo era artificial e sintético, desde os materiais de construção, passando pelos alimentos, lazer, transportes, enfim, tudo. O povo passava os dias na mais absoluta artificialidade. Tinha perdido a noção dos valores mais elementares como: sociabilidade, solidariedade, compromisso mútuo, sem falar dos valores superiores: éticos, morais, religiosos. O humano no homem, a “Menschlichkeit” fora arquivado nos museus da história. Enfim, a barbárie digital ditava as regras.

Os laboratórios que aperfeiçoavam, sofisticavam e acirravam cada vez mais essa civilização que se distanciava a passos largos dos conhecimentos que tinham relação com o humano no homem  e com o espírito e o espiritual, concentravam-se na universidade central de Marte. Nela agitava-se um atividade frenética para desenvolver tecnologias novas e assim dar conta das demandas cada vez mais exigentes. Mas uma preocupação angustiava as pessoas comuns e os responsáveis pela metrópole. A aposta irrestrita na tecnologia, prescindindo de um lastro mínimo de conhecimentos gerais, estava levando a civilização de Marte a um beco sem saída. Uma interrogação incômoda e sem resposta no âmago da ciência e da tecnologia começava a atormentar as mentes. E, se esgotadas todas as potencialidades da ciência e da tecnologia, para onde apelar? A conclusão foi  que a saída para o impasse deveria ser procurada nos “ultrapassados” conhecimentos gerais, na filosofia, nas humanidades e nas artes. Só assim seria possível colocar tudo nos seus devidos lugares. Havia urgência em devolver o devido valor às ciências do espírito na hierarquia do saber e do agir. Como em Marte já não havia sábios em condições de ministrar esses conteúdos, foram buscar um no distante e estranho planeta terra.

Esse conto soa como uma antevisão profética dos riscos numa aposta que pela tecnologia o homem é capaz de resolver tudo. Palpites e propostas de solução não faltam. Entre elas há-as que não passam do improvável, outras estagnam no nível da ficção científica. Destacamos algumas.

Uma corrente de cientistas e ecologistas propõe o congelamento de óvulos fecundados do maior número possível de espécies. Paralela a ela corre uma outra proposta que vê na guarda dos códigos genéticos para no momento oportuno produzir organismos vivos e com eles  repovoar a terra. Essas soluções defrontam-se de saída com um obstáculo insuperável. É tecnicamente impossível coletar e congelar óvulos fecundados de um número mínimo suficiente  para reconstruir uma cadeia alimentar e recriar, por assim dizer, um ecossistema ou ecossistemas minimamente calibrados. A mesma conclusão vale para a sugestão de reunir um estoque mínimo de genomas e a partir dele montar em laboratório matrizes para repovoar a terra. As duas propostas esbarram num outro  empecilho, também incontornável pelas  soluções que  apresentam. De que forma pretendem repovoar os solos com as milhões de espécies de micro-organismos que formam a plataforma  sobre a qual as macro-espécies prosperam? Wilson responde às duas soluções.

Ainda que a biodiversidade ameaçada na Terra, em toda a sua imensidão, pudesse ser reanimada e reproduzir-se em populações à espera de um retorno àquilo que, no século XXII será considerado a “Natureza”, a reconstrução, por essa forma, de populações independentes e viáveis está fora do nosso alcance. Os biólogos não tem menor ideia de como construir um ecossistema autônomo complexo a partir do zero. Quando por fim compreenderem, é possível que descubram que as condições do planeta, já totalmente humanizado tornam impossível tal reconstrução. (Wilson, 2.008, p. 107).

Sobra ainda uma outra sugestão, dentre todas a mais inverossímil. Deixemos correr livre a invasão e a agressão à ”nossa casa”, enquanto a humanidade despreocupada caminha para uma terra cada vez mais devastada. Há-os que apostam numa saída, via vida artificial em laboratório. Sonham com um mundo povoado por robôs no lugar de espécies vivas. Seria tempo perdido fantasiar com a possibilidade de uma façanha dessas e pesar os prós e os contras. Wilson fustiga essa alternativa, como sendo “uma profanação, corrupção e abominação”. (Wilson, 2.008, p. 107)

Deixando de lado as soluções mais ou menos absurdas que acabamos de mencionar, chegou o momento de responder a duas perguntas. Ainda há tempo e condições de salvar a vida na terra?; Qual o caminho a seguir?. A resposta para a primeira é sim! É indiscutível que as agressões à natureza chegaram a um nível preocupante. Não poucas espécies já foram extintas e por isso irremediavelmente perdidas. Outras tantas estão seriamente ameaçadas. A grande maioria dos ecossistemas foi degradado ao ponto de sua recuperação não passar de uma incógnita. “A humanidade está estrangulada num gargalo”. (Wilson, 2.008, p. 108). É urgente passar por esse gargalo. Não há como estacionar neste nível, muito menos voltar para trás. É  preciso fazer algo e sem perder tempo. Soluções tópicas não resolvem o problema. São necessárias políticas e ações globais para que a passagem pelo gargalo seja a mais rápida e menos traumática possível. Os métodos e meios estão disponíveis e já foram e estão sendo testados em pequenos e grandes projetos pelo mundo afora. São ainda tímidos e insuficientes para salvar espécies em extinção ou recuperar ecossistemas inteiros. Aperfeiçoados e postos à serviço de ações globais são capazes de levar a médio prazo – 20, 30 ou 40 anos – a resultados surpreendentes. Remeto como exemplo à recuperação do Parque Nacional das Ilhas do arquipélago do porto de Boston” e a reposição natural das florestas nos vales médios e superiores dos rios que formam a bacia do Guaíba.

De outra parte e de alguma forma já foi firmado o compromisso entre os governos de países desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos para enfrentar o grande desafio. Em 1992 aconteceu no Rio de Janeiro a primeira grande “Convenção da Biodiversidade”, a “ECO 92”. O documento final contendo as conclusões foi assinado por 188 países. Lamentavelmente os Estados Unidos negaram a assinatura, assim como Andorra, Brunei, Somália, Iraque, Timor Leste e Vaticano. Numa outra reunião em Johannesburgo foi  elaborado documento no qual os signatários assumiram o compromisso de diminuir a perda da biodiversidade. A ONU, porém, sem a participação dos Estados Unidos, modificou sua Constituição com a finalidade de possibilitar a proteção ao meio ambiente. A “Cúpula do Clima” reunida em Paris em dezembro de 2.015 teve a mesma finalidade, dessa vez com a chancela dos Estados Unidos. (mais cf. Wilson, 2.008, p. 107ss).


Os próximos 50 anos serão decisivos na salvação ou perda da maior parte da biodiversidade. Como se percebe, não há tempo a perder. Os conhecimentos de que hoje dispomos sobre a biogeografia da vida deixam claro que esse “Armagedom  pode ser rapidamente  vencido ou perdido”. (Wilson, 2.008, p. 109). Essa afirmação tem como base os conhecimentos de que hoje dispomos sobre as características e a distribuição da biodiversidade nos espaços geográficos. As evidências mostram que a distribuição da biodiversidade não é homogênea dos diversos espaços geográficos. É mais rica nuns e mais pobre em outros. Os ecossistemas que abrigam uma biodiversidade muito alta e uma complexidade mais acentuada são denominados de “hot spots” –“pontos  quentes”. Esses “pontos quentes” guardam as biodiversidades na sua forma original. Não resta dúvida de que a maioria, senão todos, sofreram alguma invasão por parte do homem. Espécies foram extintas e outras tantas danificadas. Apesar disso, preservam ainda a sua natureza essencial de ecossistemas, embora empobrecidos, para servirem de pontos de irradiação, ampliação e multiplicação desses “pontos”. Eles representam, sem dúvida, a melhor referência para formular políticas e desenvolver ações e estratégias para “salvar a vida na terra”.

Reflexões sugeridas pela Encíclica Laudato si - 24 -

Depois desse panorama que traça em linhas gerais do que está acontecendo com os mares e oceanos, o Papa chama a atenção para a depredação dos recifes de coral, provavelmente os ecossistemas mais ricos em biodiversidade, atingiu um nível preocupante. Podem ser comparados a grandes florestas tropicais em termos de diversidade biológica. Os peixes, moluscos, crustáceos, algas esponjas, além de outras formas de vida, podem somar o fantástico número de um milhão de espécies. O alerta do Papa relativo à agressão aos recifes de coral é reforçado por nosso já muitas vezes citado biólogo, especialista e ecossistemas, Edward Wilson. Chama os recifes de “florestas do mar”. Além do efeito do aquecimento global, enumera entre os maiores responsáveis pela degradação os poluentes, rejeitos, dejetos que transformam as águas costeiras, “esse maravilhoso mundo marinho em cemitérios subaquáticos  despojados de vida e de cor” (Laudato si, 41). Wilson cita como exemplo dessa devastação dos recifes em torno da Jamaica e outras ilhas do Caribe. A abertura de canais, a extração do calcário, o uso de dinamite como método de pesca, o lixo e outros, fez desaparecer em grande parte os recifes. A grande  barreira de corais da Austrália diminuiu em 50% entre 1960 e 2000. Note-se ainda que o total dos recifes do mundo inteiro já encolheram 15%, ou estão em situação irrecuperável.

Nem o alto  mar escapa ao avanço da agressão. O aquecimento global, a contaminação pelos dejetos, resíduos, produtos químicos, plásticos, óleo, e muitos outros, atingem o plâncton,  base da cadeia alimentar e o conjunto da biodiversidade marinha. Nesse contexto ainda, sobressai a ação direta do homem quando pesca e caça os peixes e mamíferos situados no topo da cadeia. Conforme cálculos estima-se que a população de atum e bacalhau  encolheu assustadoramente entre 1950 e 2.000. (cf. Wilson, 2008, p. 90ss).

Ao quarto capítulo de menos de 10 páginas  do seu livro, Wilson deu o sugestivo título: “Porque se importar?”. Com os amplos e sólidos conhecimentos que adquiriu durante dezenas de anos, examinando os mais diversos ecossistemas, resumiu num capítulo as conclusões mais importantes. Para ele, “o primeiro princípio da ecologia” fundamenta-se no fato, de que o Homo sapiens é uma espécie confinada a um nicho extremamente pequeno” (Wilson, 2008, p. 35). A humanidade como espécie taxonômica é prisioneira, para a vida e a morte, desse invólucro frágil, mas de altíssima complexidade, de fina calibragem e alta resolução, chamada biosfera, que envolve o nosso planeta. Foi nesse manto protetor que o Homo sapiens surgiu como um dos rebentos da evolução. Evoluiu em meio a esse cenário e a partir dele chegou ao estágio em que nos encontramos hoje. Merece reflexão o fato de que o corpo humano é prisioneiro da biosfera enquanto seu espírito não sofre nenhuma limitação, nem espacial nem temporal. Numa fração de segundo voa até os confins do universo e na mesma velocidade viaja para o centro da terra ou as estruturas sub-microscópicas dos átomos. Com a mesma desenvoltura recua no templo até deparar-se com o momento em que o Big Bang deu partida para a formação do universo. O espírito que não é limitado por barreiras temporais e espaciais, é prisioneiro, melhor talvez, associado ao corpo físico limitado no tempo e no espaço. Frente  a essa constatação abre-se um fascinante cenário de reflexões sobre questões de difícil resposta como, se o espírito é capaz de viver sem estar associado ao corpo. Mas esse assunto fica para uma discussão em outro nível. Não é aqui o lugar.

O que nos ocupa aqui são as implicações que resultam do confinamento do homem como  espécie taxonômica na biosfera, esse invólucro de poucos quilômetros de espessura que envolve o nosso planeta. Nele surgiu a vida em condições ambientais limitadas e muito estreitas. O número dos elementos  químicos passa um pouco dos 100. A água cobre dois terços da superfície e é a condição sem a qual a vida é impensável. Tanto assim que Heráclito reduziu a natureza como um todo à água. A solução dos sais minerais na água, a maior ou menor salinidade dos mares e oceanos  decidiu e continua decidindo sobre a origem e desenvolvimento da vida. A temperatura, a pressão atmosférica, a acidez e alcalinidade, completam os ecossistemas aquáticos.

Os componentes dos ecossistemas aquáticos formam um gigantesco sistema finamente calibrado dentro de limites também estreitos, nos quais a vida é possível. Em termos, assim como os mares e oceanos os muitos ecossistemas encontráveis em terra firme, são da mesma natureza. Não são simples aglomerados de elementos reunidos fortuitamente. São sistemas com vida própria à maneira de organismos vivos. A humanidade inserida num ecossistema como qualquer outra espécie viva, deve  a ele sua existência, sua subsistência e sobrevivência. Por essa razão é preciso  zelar pela “nossa casa”. Para tanto pressupõe-se um conhecimento profundo e minucioso do que é um ecossistema. Na Encíclica o Papa conclui com a recomendação.

É preciso investir muito mais na pesquisa para entender  melhor o comportamento dos ecossistemas e analisar adequadamente as diferentes variáveis de impacto de qualquer modificação importante do meio ambiente. Visto que todas as criaturas estão interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o valor de cada uma, e todos nós, seres criados precisamos uns dos outros. Cada território detém uma parte de responsabilidade no cuidado dessa família, pelo que se deve fazer um inventário cuidadoso das espécies que alberga afim de desenvolver programas e estratégias de proteção, cuidando com particular solicitude das espécies em vias de extinção. (Laudato si, 42)

É surpreendente como a recomendação do Papa como autoridade máxima de uma das religiões de maior peso no cenário mundial e Wilson, um  dos maiores conhecedores dos ecossistemas que se auto define como  “humanista secular”, concordam até nos detalhes quando se trata de salvar “a nossa casa” como diz o Papa, ou “salvar a vida na Terra”, conforme o humanista secular. É gratificante constatar  que finalmente, após uma disputa secular estéril e irracional,  a Ciência, a Filosofia, a Teologia e a Fé, se encontram num terreno comum: a “salvação da “nossa casa”, ou se preferirmos, “salvar a vida na Terra”. Wilson o “humanista secular” conclui o capítulo quarto do livro “A Criação”.

Um dos imensos desafios da moderna disciplina da Biologia é classificar as vantagens e desvantagens da Natureza viva, a fim de definir melhor a estrutura interna da biosfera. Há esperança de que, com o tempo, os pesquisadores aprendam de que forma os ecossistemas são montados, como se sustentam, mais precisamente como podem ser desestabilizados. A Terra é um laboratório no qual a Natureza (ou Deus se o senhor preferir) colocou diante de nós os resultados de incontáveis experiências. Ela fala conosco, vamos, então, ouvi-la. (Wilson, 2008, p. 46)

Para o capítulo 10 da sua obra Wilson escolheu o título também muito revelador: “Fim do Jogo”. As reflexões que nos levaram ao ponto em que estamos, deixam claro algumas  conclusões. Entrem outras merecem destaque. Desde que teve início a “primeira traição à natureza” por volta dos 15.000 anos atrás, quando a agricultura e a domesticação de animais deram início à ”Revolução dos Alimentos”, o homem tornou-se o maior e o mais agressivo invasor dos ecossistemas naturais. A situação chegou a um ponto extremo. É difícil imaginar algum lugar no interior dos continentes ou nas ilhas mais remotas dos oceanos, sem encontrar vestígios da presença ou, no mínimo, da passagem do homem. É certo que a passagem ou a permanência temporária não costumam resultar em invasões que põe em perigo um ecossistema como um todo. O que faz pensar é a destruição sistemática das grandes florestas, a substituição das savanas, dos campos naturais, cerrados e outros ecossistemas pela agropecuária. A isso vem somar-se os grandes aglomerados humanos com seus descartes e demais agente poluidores. O tamanho da área ocupada por esses aglomerados somada à total artificialidade chegam a formar bolsões de microclima, verdadeiros intrusos  na paisagem natural. A esse cenário pouco animador vem somar-se a destruição ou a mutilação profunda de uma extensão preocupante dos ecossistemas costeiros que abrigam uma rica fauna e flora terrestre e de transição e da plataforma continental. A previsão de Edward Wilson não é nada animadora.

Agora que o ser humano deixou a sua marca implacável a sexta extinção em massa teve início. Até o final desse século, estes surto de perdas permanentes deve atingir, se não for controlado, um nível comparável ao do final da Era Mesozoica. Entramos então em uma era que tanto os poetas  como os cientistas talvez prefiram chamar de Eremozoica, ou Idade da Solidão. Teremos feito tudo isso sozinhos, e conscientes do que estava acontecendo. A vontade e Deus não é desculpa. (Wilson, 2008, p. 106)

Analisando um pouco mais de perto  o alerta do nosso cientista, algumas observações parecem pertinentes. A menção à Era Mesozoica, lembra a extinção dos dinossauros com consequência de uma hecatombe global provocado pelo impacto de um meteoro de grandes proporções. As alterações principalmente climáticas e na estrutura da atmosfera levaram à extinção, além dos dinossauros, milhares  senão milhões de espécies de animais vegetais, répteis, anfíbios, insetos e outros. Esse cataclismo ocorreu no final do Cretáceo, último dos três períodos em que a Era Mesozoica  é dividida: Triássico, Jurássico Cretáceo. A quem a história geológica é minimamente familiar, sabe que o Jurássico destaca-se pelo extraordinário desenvolvimento dos répteis alcançando tamanhos descomunais. Nos oceanos reinavam os ictiossauros, nos ares os arqueopterix e na terra dezenas de espécies de gigantes e menores, com destaque para os Diplodocos, Tiranossauros e outros mais, carnívoros e herbívoros. O Cretáceo é o período geológico em que a topografia dos continentes  sofreu em grandes linhas a moldagem definitiva. Elevaram-se as mais importantes cadeias de montanhas: os Andes, A Sierra Nevada, os Alpes do Alasca, os Pirineus, os Alpes da Suiça, os Balcãs, o Himalaia, os Alpes da Austrália além de muitas outras menores. Com a diminuição dos efeitos catastróficos com o impacto do meteoro gigante, as formas de vida que sobreviveram à hecatombe evoluíram  para as que hoje nos são familiares. Lentamente, durante 60 milhões de anos, foram-se consolidando os ecossistemas em que a espécie humana apareceu e consolidou a sua presença. De acordo com as estimativas dos cientistas a reparação dos danos causados por uma destruição do tamanho daquela de 60 milhões de anos passados, são necessários 10 milhões de anos. Esse é o tempo de que dispõem os mecanismos  da evolução  para reorganizar e consolidar novos ecossistemas. Não serão réplicas daqueles exatamente idênticas dos que foram destruídos ou tão profundamente danificados que perderam a sua identidade original. A evolução recomeçou, por assim dizer, a reconstrução de novos ecossistemas a partir  das espécies de animais e vegetais que sobreviveram dispersos pela terra devastada. Acomodou-os aos novos cenários geográficos, nos oceanos, nas costas marítimas, nos campos naturais, nas estepes, nas savanas, nas tundras, ao longo dos rios, nos planaltos, nas montanhas, nos desertos, tudo redesenhado depois dos cataclismos do final do Cretáceo. 10 milhões de anos foram necessários para completar essa mega façanha. Aqui aplica-se o velho ditado imortalizado pela sabedoria popular: Gottes Mühlen mahlen langsam aber sehr fein” – “Os moinhos de Deus moem devagar mas produzem farinha muito fina”.

Há 15.000 ou 20.000 anos a paisagem esculpida durante  10 milhões de anos começou a ser invadida pelas plantações dos agricultores no Egito, Mesopotâmia e Oriente Remoto. “A primeira traição à Natureza” ou “a Revolução dos alimentos”, dependendo da perspectiva que se olha, deflagrou a ofensiva contra a natureza. Perplexos e assustados assistimos no que deu. A presença do homem não poupou nenhum dos grandes ecossistemas que cobrem os continentes até as ilhas mais distantes nos confins dos oceanos. A agressão aos ecossistemas avançou a tal ponto que o equilíbrio e a vida de não poucos está por um fio. A velocidade da degradação avança num ritmo que se auto impulsiona numa aceleração geométrica. Se o processo não for drasticamente desacelerado, dentro de um século, pelas previsões dos cientistas, a humanidade terá alcançado as margens do Rubicão que, uma vez transposto não permite mais retorno. Ou valendo-nos da conhecida metáfora: “Os navios foram queimados”, o retorno fora de cogitação. Ou ainda. No final do século o cenário que resta para a humanidade é de uma “Idade da Solidão preparada pelo próprio homem, consciente do que estava acontecendo”. (Wilson, 2008, p. 106).

Acontece que ainda há tempo. Felizmente salvaram-se espécies vivas suficientes nos ecossistemas degradados, que uma volta é possível, sob a condição de se adotarem medidas que, a médio e longo prazo restaurem, em parte pelos menos, uma parte do que foi danificado. Wilson definiu assim o dilema.

Os cinco primeiros surtos de destruição necessitaram, em média, de 10 milhões de anos para serem reparados pela evolução natural. Um novo estágio de 10 milhões de anos de decadência é inaceitável. A humanidade tem que tomar uma decisão  e agora mesmo  -  conservar o legado natural da Terra, ou deixar que as futuras gerações se adaptem a um mundo biologicamente empobrecido. Não há como fugir dessa escolha. (Wilsnon, 2.008, p, 106)


Um aspecto nessa afirmação científica merece destaque. Ele lembra que a natureza leva cerca de 10 milhões de anos para restaurar seus ecossistemas depois de cada ciclo de devastação generalizada. Essa realidade, melhor, a lentidão em que acontecem as transformações e adaptações próprias dos instrumentos de que a natureza dispõe, cria uma enorme dificuldade para convencer os humanos a se interessarem por propostas e se comprometerem com ações que pela própria natureza dão resultados a médio e longo prazo. Numa civilização em que o aqui e agora são os parâmetros para preocupações e ações, fica complicado motivar para assumir compromisso com o longo prazo que lida com parâmetros de milhões de anos. Nessa mentalidade em que não cabe nem o passado próximo, o futuro próximo não conta e o imediatismo, o aqui e agora, o hoje, dão as cartas. Que argumentos são capazes de convencer um empresário, um político, um governante ou as pessoas comuns do povo, a tratar a natureza como um bem comum a ser preservado para a seguinte geração, nem falando das gerações dos séculos futuros? A experiência mostra que as iniciativas e as ações são projetadas para valerem e darem resultados no máximo em algumas décadas. Em outras palavras. Tomando em consideração essa percepção do tempo que tem como referência séculos, milênios e muito mais, somam-se as ambições pessoais, as motivações econômicas e comerciais, a ideologias do politicamente correto no momento, fica evidente o tamanho do desafio que enfrenta a batalha pela vida do planeta. A gravidade da situação criada pelo nível de agressão ao meio ambiente  a que se chegou, a “nossa casa”, a “nossa pátria”, a “nossa querência, não tolera “um novo estágio de 10 milhões de anos de reconstrução.

Reflexões sugeridas pela Encíclica Laudato si - 23 -

Continuando em suas reflexões o Papa alerta para uma outra dimensão na invasão dos ecossistemas pelo homem. além de as políticas e as ações se destinarem à preservação de determinadas espécies. Há pouco chamamos a atenção para o risco que representa a agressão aos solos como ecossistemas. A tudo isso vêm somar-se as grandes obras de engenharia necessárias para fazer andar a nossa civilização. Escolhemos alguns exemplos mais emblemáticos. Num país como o nosso, a China, Rússia, Estados Unidos, Canadá e outros, os grandes rios são um recurso natural de valor inestimável. Além das muitas riquezas oferecidas pelos ecossistemas formados em suas bacias naturais, a energia disponível no  seu potencial hidráulico é de inegável serventia. Na medida que aumenta o clamor pela substituição da queima de combustíveis fósseis e uso da energia nuclear, cresce o interesse por fontes de energia renovável e limpa. Em países donos de rios de grande porte o recurso ao potencial hidroelétrico não passa de uma alternativa óbvia. Os investimentos para a implantação de uma hidroelétrica e transmissão para os centros de consumo a centenas e até milhares de quilômetros de distância, costumam ser muito altos. Mas os investimentos básicos  e o custo da posterior manutenção e linhas de transmissão compensam amplamente o custo e benefício. Em termos ecológicos e danos aos ecossistemas  exigem precauções. A construção das barragens, gigantescas obras de engenharia são, pela sua própria natureza, profundamente invasoras  e agressivas. Os reservatórios acumulam bilhões de metros cúbicos de água. Monstruosos lagos, quase mares artificiais, afogam parte importante do ecossistema nas proximidades das margens do rio e seus afluentes. No Brasil, esses gigantes, como  Belo Monte, Tucurui e outras mais estão sendo implantadas em plena floresta amazônica. Terminam com a flora e a fauna, na medida em que o nível dos seus reservatórios sobe. As condições exigidas para a licença ambiental, nunca chegam a impedir a construção dessas obras pois fazem parte da política energética oficial e o programa para implementá-lo. Ela termina falando mais alto do que os ecossistemas por sua urgência no fornecimento de energia para o progresso e o desenvolvimento. Nessas obras de infraestrutura são louváveis os esforços no salvamento dos animais da floresta e sua transferência  para fora do alcance do nível das represas. O que não tem como salvar é a floresta com sua microfauna e microflora. Há casos em que monumentos da natureza, inclusive com forte apelo histórico são sacrificados. No fundo do lago de Itaipu estão sepultadas as Sete Quedas, referência paisagística e histórica daquela região. Aquele local foi palco de um dos episódios mais escabrosos da conquista do território nacional  pelos bandeirantes, um verdadeiro genocídio praticado contra os índios do Guaíra. Em nome do progresso o monumento natural, as Sete Quedas,  com seu significado histórico, foi condenado ao esquecimento no fundo do lago. Não se pode ignorar que na atual conjuntura energética essas obras são um mal necessário. De qualquer forma são brechas e feridas abertas na paisagem natural.

As  estradas estão entre as causas que interferem significativamente nos ecossistemas e como tal afetam a biodiversidade. Pela própria natureza menos espetaculares do que as hidroelétricas gigantes, as estradas estendem seus tentáculos até o recesso dos vales mais retirados. Escalam montanhas e ramificam-se sobre os planaltos. Estradas largas, de preferência duplas são vitais para fazer funcionar o transporte de mercadorias e pessoas. Bem planejadas e adequadamente construídas e conservadas, vem a ser indispensáveis para o nosso modelo de civilização. Seu traçado consegue de alguma forma encaixar-se no ambiente de maneira que a agressão física e estética é parcialmente preservada. Por isso creio que se possa afirmar que as estradas agridem o meio ambiente com seus ecossistemas de forma aceitável. Não se pode, entretanto, ignorar os poluentes liberados pela combustão dos motores além do ruído e da trepidação pelo trânsito de veículos de carga. Parece que esse último seja o mais perturbador para os ecossistemas que acompanham as margens da estrada. Aves, mamíferos, répteis, batráquios apreciam um ambiente em que ruídos, sons, cantos, gritos, o farfalhar do vento nas folhas, as chuva, as cachoeiras fazem parte do próprio habitat. O ronco do motor de uma carreta faz-se ouvir a centenas de metros longe da estrada. Os gases alteram a qualidade da atmosfera, espantam animais e aves e afastam os insetos, prejudicando a polinização. Somando o que de negativo e positivo  há no caso das estradas, e tirando os noves fora, parece que sobra um bom saldo para o lado do benefício.

O reflorestamento em grandes áreas com uma só espécie, vem a ser outro  ponto de interrogação complicado para responder. Para começo de conversa, não formam ecossistemas de acordo com o conceito que nos vem orientando. Se os considerássemos como tais não passariam de caricaturas. Um reflorestamento de pinus não passa muito de um deserto verde. Alguns roedores e um número irrisório de aves frequentam esse ambiente. A camada de agulhas que forma um tapete no chão, não permite o desenvolvimento de uma vegetação secundária digna desse nome. Uma floresta de eucaliptos sofre de limitações semelhantes. O reflorestamento com acácia negra também permite só uma vegetação secundária limitada. Leva, entretanto, a vantagem sobre o pinus por fixar nitrogênio no solo  e assim favorecer o ecossistema subterrâneo formado pelos micro organismos. O reflorestamento com eucaliptos apresenta os mesmos inconvenientes dos dois anteriores. Leva uma certa vantagem por permitir o desenvolvimento de uma respeitável vegetação secundária. As folhas descartadas somadas às da vegetação secundária decompõem-se formando uma camada protetora do chão que, processada pelos micro organismos, minhocas e insetos acumula uma camada de húmus e com isso não esgota o solo. Resumindo. As três modalidades de reflorestamento e outras mais possíveis, na condição de monoculturas, não passam de ecossistemas pobres, se é que se pode falar nesses termos. Acontece, porém, que na conjuntura ambiental do momento são um mal necessário. O pinus e o eucalipto são fontes cada vez mais indispensáveis de madeira para atender a demanda do mercado. Evitam assim que se acelere o avanço sobre as madeiras nobres das florestas nativas, depauperando cada vez mais seus ecossistemas. A acácia negra e o eucalipto suprem com lenha as demandas das olarias, cerâmicas e fornos de carvão vegetal, aquecimento de aviários e de modo especial da celulose. Neste sentido, pensando os prós e os contras, o custo benefício por assim se dizer empata. Mantendo em limites convenientes esses ecossistemas artificias paupérrimos em biodiversidade, evitam de alguma forma o avanço da agressão aos ecossistemas naturais que, bem ou mal, ainda são respeitáveis com sua biodiversidade preservada. Sobre essa questão, o Papa alerta.

Habitualmente também não se faz objeto de adequada análise a substituição da flora silvestre por áreas florestais, com árvores, que geralmente são monoculturas. É que pode afetar gravemente uma biodiversidade que não é albergada pelas novas espécies que se implantam. Também as zonas úmidas que são transformadas em terras agrícolas, perdem a enorme biodiversidade que abrigavam. É preocupante nalgumas áreas costeiras, o desaparecimento dos ecossistemas constituídos pelos manguezais. (Laudato si, 39)

Falando em substituição de ecossistemas naturais por ecossistemas humanizados, além do reflorestamento convém lembrar outras modalidades de humanização. O aproveitamento das planícies fluviais para fins agrícolas é a primeira. Historicamente falando a agricultura teve o seu ponto de irradiação a partir de núcleos de agricultores próximos a rios. O Nilo no Egito, o Eufrates e o Tigre na Mesopotâmia, os grandes rios da China, são os mais conhecidos. Foi nas várzeas desses rios que o homem cometeu conforme Edward Wilson “a primeira traição à natureza” ou, segundo Darcy Ribeiro, desencadeou a “Revolução dos Alimentos”. Dependendo da perspectiva que se escolhe, ambos tem a sua razão. Mas já nos ocupamos desse assunto mais acima. Foi nesses ecossistemas  nas várzeas dos rios e seus afluentes que teve início a substituição dos ecossistemas naturais por humanizados. Em outras palavras e, dando razão a Edward Wilson, começou a invasão, agressão e depauperamento  do ambiente natural. E, dando razão a Darcy Ribeiro abriram-se perspectivas ilimitadas para alimentar a humanidade e  assim multiplicar-se e expandir-se, dominar a terra e ter acesso aos seus recursos. Foi também nesse  meio ambiente que as aldeias dos agricultores evoluíram para centros urbanos e, em termos da época, em metrópoles como Ur e Uruc na Mesopotâmia e a capital das dinastias do Egito. O aproveitamento das planícies fluviais, com seus solos de alta fertilidade, renovada pelas cheias periódicas dos rios, permitiu que a agricultura prosperasse e se expandisse em  todas as direções no Oriente Médio, no Egito, em volta do Mediterrâneo e no Oriente Remoto. Da  riqueza em biodiversidade original pouco se salvou.

Na mesma proporção em que os agricultores foram reduzindo o número de espécies cultivadas, o número e a diversidade original foi diminuindo. O auge desse processo pode ser observado hoje nos campos até perder de vista de monoculturas de soja, milho, trigo e outras. Torna-se cada vez mais urgente encontrar formas de minimizar o impacto negativo sobre a biodiversidade. Frente a tudo isso é de importância sem igual a preservação da biodiversidade em alguns ecossistemas ainda pouco invadidos. Um dos maiores e mais ricos vem a ser o  Pantanal. Pela área que cobre e pela biodiversidade que abriga, dificilmente existe outro igual formado por um complexo fluvial. Sua importância ultrapassa em muito suas fronteiras geográficas. Funciona como reserva de umidade vital para o centro sul do Brasil, norte da Argentina e Uruguai. Influi na circulação dos ventos. Abriga uma fauna e flora sem igual. Mexer no Pantanal com ações que alteram sua estrutura, do tipo drenagens, diques, barragens, além de repercutir desastrosamente sobre sua biodiversidade, far-se-á sentir a  milhares de  quilômetros de distância.

Em segundo lugar, são os ecossistemas marinhos. Pela sua natureza sempre atraíram o homem, de um lado pela fartura de alimentos e do outro como vias naturais de circulação. A partir deles partia-se terra adentro. Com o aperfeiçoamento das tecnologias de navegação as baías e enseadas recebiam e abrigavam os navegantes e suas embarcações. Nelas consolidaram-se  polos de comércio que, por sua vez, exigiram uma infraestrutura adequada e, consequentemente uma população fixa em permanente crescimento. Na esteira da navegação marítima, regional e local, centenas de cidades portuárias foram consolidadas pelo mundo afora. Todo o tipo de rejeitos agressivos e invasivos procedentes das cidades e  descartados pelos navios transformaram as áreas portuárias em cemitérios da biodiversidade. Um dos exemplos mais gritantes de degradação e consequente extermínio da fauna e flora costeira é a baía da Guanabara. Em escala maior ou menor as cidades portuárias espalhadas pelo cinco continentes, tiveram seus ecossistemas seriamente comprometidos. Edward Wilson estudou a fundo essa questão no parque nacional das ilhas do Porto de Boston. Para ele essas áreas são classificadas como micro áreas naturais. O Porto de Boston é exemplar tanto para avaliar a que extremos leva a poluição nesses ambientes, quanto a sua capacidade de recuperação. O cientista descreveu o nível a que tinha chegado o porto com suas 34 ilhas, no começo da década de 1990.

Tal porto é intenso e continuamente utilizado desde meados do século XVII, e quase todo esse tempo serviu  como um vasto esgoto municipal. Em 1985 suas águas foram classificadas como as mais poluídas entre todos os portos dos Estados Unidos. Suas 34 ilhotas cheias de sujeira sempre foram consideradas de pouco valor para Boston, a maior cidade da Nova Inglaterra, apesar de as mais  próximas ficarem apenas a uma hora de distância por barco a remo, Na década de 1990, a situação mudou quando as águas servidas da área metropolitana de Boston passaram a ser purificadas por um novo sistema de filtragem. O potencial das Harbor Islands como área recreacional ficou óbvio, o que aumentou sua importância para a ciência e a educação. (Wilson, 2008, p, 28)

A seguir o nosso especialista em ecossistemas mostrou como um ambiente desses deteriorado e maltratado durante 300 anos pelo descaso do seu uso, em menos de 20 recuperou sua identidade com um ecossistema. Bastou vontade política da parte das autoridades do município, seguidas de ações eficientes.

Nos 300 anos de contínua invasão e agressão às águas do porto pagaram um preço muito alto. A micro e nano fauna e flora foi seriamente afetada. Espécies de moluscos foram extintas; a fauna marinha de grande porte migrou para ambientes mais favoráveis; as aves marinhas evitavam a baía degradada e abandonaram as ilhas e migraram e, provavelmente, algumas se perderam. O notável nessa história é a rapidez com que 300 anos de descaso, a baía recuperou, em 20 anos a maior parte da sua biodiversidade original.

Segundo Wilson o estudo dessas micro áreas é de extrema utilidade. Fazem o papel de laboratórios e de escolas ao ar livre para observar como funciona a natureza e entender como reage às agressões de todo o tipo e como se recupera com rapidez. O cenário desolador do porto de Boston e suas 34 ilhas na década de 1980, menos de 30 anos passados, é um exemplo de recuperação. Na avaliação do cientista, o arquipélago transformado em parque atrai  turistas de várias procedências, constitui-se hoje num autêntico paraíso. A água do porto é prova da resistência da vida na natureza e seu potencial de recuperação. Os moluscos voltaram a provar o leito da baía. Os peixes grandes como o robalo e anchova aproximam-se do cais. Até baleias jubarte já foram vistas na área mais externa. (cf. Wilson, 2008, p. 29ss)

Entre os ecossistemas costeiros ameaçados a Encíclica chama a atenção para a destruição dos manguezais, verdadeiros santuários da vida. A biodiversidade desses ecossistemas é de particular interesse. Constituem, por assim dizer, um laboratório natural onde é possível observar espécies terrestres, marítimas e de transição.

Depois das  faixas costeiras voltamos a nossa atenção para os mares e oceanos propriamente ditos. Esses gigantescos ecossistemas com seus ecossistemas regionais, encontram-se também em risco iminente.

Os oceanos contêm não só a maior parte da água do planeta, mas também a maior parte da vasta variedade dos seres vivos, muitos deles ainda desconhecidos por nós e ameaçados por diversas causas. Além disso, a vida nos rios, lagos, mares e oceanos, que nutre grande parte da população mundial, é afetada pela extração descontrolada dos recursos ictícios, que provoca drástica  diminuição de algumas espécies. E no entanto continuam a desenvolver-se modalidades seletivas de pesca que descartam grande parte das espécies apanhadas. Particularmente ameaçados estão os organismos marinhos que não temos em consideração, como certas formas de plantas na cadeia alimentar marinha e de que dependem, em última instância espécies que se usam para a alimentação. (Laudadto si, 40)