Deitando Raízes #31

Perguntamos, o que está sendo feito para formar tais professores ou simplesmente para atrai-los para as colônias? Não dispomos de Seminários para a formação de professores e poucos se dispõem a um sacrifício em dinheiro em favor de um bom professor. Torcemos para que o futuro Congresso dos Católicos, caso não assuma a causa, pelo menos a ponha em andamento. Uma coisa  é certa. Da solução desse problema depende em grande parte o futuro as colônias alemãs. A própria situação do professor exige uma regulamentação urgente. De outra parte é claro também que a contratação ou a demissão de professores não pode estar definitivamente nas mãos de um punhado de pais de família. Esse tipo de coisas pode ser até tolerado em algumas situações, nunca, porém, adotado como uma regra ou uma lei. É certo que os pais são os primeiros interessados, mas acima deles está a representação da comunidade, por sua vez escolhida dentre os pais de família. Acima de todos, a decisão superior deve estar nas mãos  das autoridades eclesiásticas, do pároco e do bispo diocesano. Este é o único caminho que leva a condições sadias e aceitáveis no que diz respeito à escola. Só assim teremos professores com autonomia de ação e escolas eficientes.
Depois que fizemos passar (120) diante dos nossos olhos a vida do professor Schütz, nas suas facetas mais importantes, o prédio da escola como local onde ela acontece, merece pelo menos uma rápida atenção, tanto mais que durante  quase 50 anos serviu àquela finalidade. Distingue-se em muito pouco das moradias simples dos colonos, a não ser pelo anexo  em foram de sala no seu lado direito. Tomando-se em consideração o muito tempo que já serviu para a finalidade, era de se esperar encontrar uma espécie de ruína em vez de uma casa  em boas condições. O forro um tanto caído por causa da viga curva, de fato dá a impressão de uma ruína. É evidente que essa expressão é apenas uma comparação que, como todas as demais, é um pouco capenga, mas de alguma forma corresponde à verdade. É notório que é próprio de homens tratar com certa reverência as testemunhas do passado.  Parece-nos então que nesse sentido uma velha escola não faz má figura. Examinemos, pois, com coragem o velho prédio escolar e tentemos entender o seu fascínio secreto. Em primeiro lugar destacamos a sua localização cinematográfica. O lugar como que feito para uma escola, ficava numa depressão solitária, alguns minutos afastado da estrada principal. As verdes elevações em volta, isolavam o pequeno vale do restante do mundo, de maneira que qualquer perturbação da aula era mantida longe. Não se escutava o barulho das carroças que passavam e não se enxergavam nem pedestres nem cavaleiros. Avistava-se o mato e as rochas dos morros e, de vez em quando, o vento carregava de longe o rumorejar da cascata. Em resumo. Somando tudo uma localização extraordinariamente feliz. E, para aumentar ainda mais o encanto do local, um arroio de águas cristalinas serpenteava por entre as elevações, oferecendo no verão um gole de água fresca para a juventude sedenta. A idade da construção exerce igualmente  um efeito benéfico sobre o espírito das crianças. Foi nesta escola que sentaram os pais, quem sabe os avós das crianças, para assimilar conhecimentos úteis. Além do mais o professor era o mesmo que ensinara os irmãos mais velhos e até os pais e sem ele nem sequer era possível imaginar a casa.  Como se sabe o professor Schütz manteve-se em boa forma até o último ano de sua vida. E assim sucedeu que professor e escola mostrassem sempre o mesmo rosto. Professor e escola amalgamaram-se numa única realidade e o prédio reforçava e aprofundava de alguma forma o conceito e o respeito que o professor irradiava. Ambos, por assim dizer, representavam a dupla face da mesma realidade, a escola. Ambos eram velhos conhecidos da mesma idade, cuja presença envolvia a alma das crianças num clima solene. E quantas reminiscências tinham como ponto de referência a velha escola lá no verde vale!  Para muitos as melhores recordações da melhor parte da juventude tem a ver com a escola, os companheiros há muito falecidos ou que partiram para longe,  os acontecimentos alegres ou, por vezes, dolorosos, mas todos eles no final das contas, proveitosos.
Quantas pessoas que agora moram longe de Bom Jardim e que algum dia freqüentaram a escola deste excelente mestre, não se recordam de alma comovida da escola e do professor.
O príncipe austríaco que foi fuzilado como imperador do México, expressou-se, na sua descrição do Brasil, de forma pouco favorável ao referir-se às casas de família. "A moradia brasileira ignora o conceito de um pequeno mundo voltado inteiramente para si. O clima lhe é desfavorável. Não é preciso precaver-se  contra nada de áspero e não há necessidade de criar ilusões. (121) O clima agradável e a vegetação oferecem tanto que o povo não se entrega àquela intimidade de que há necessidade em regiões onde o inverno e o verão contrastam fortemente. No Brasil a casa não representa o local que polariza o encontro do pequeno mundo da família. Cabe-lhe apenas o papel de alternadamente servir de guarda-sol ou de guarda-chuva e oferecer à noite um leito e local para se livrar da roupa sem ser perturbado. A maldição da casa dos países tropicais consiste  no fato de, condicionada pelas circunstâncias da natureza, não guardar recordações, nem ter história. Imprime no caráter das pessoas a marca da inconstância, da alternância, incompatível com o conceito de família, pois assim como seu chão é passageiro, os laços que unem a família são apenas momentâneos." Mesmo que estas observações valham, no seu sentido pleno para as regiões tropicais e os brasileiros, os alemães do Rio Grande do Sul as confirmam, ao menos na medida em que também eles perderam algo do sentido da casa, do espírito caseiro, do sedentário e de algumas coisas mais relacionadas com eles. Tanto mais a escola deveria fazer o papel de elo de união entre eles, de alguma forma como são as casas de Deus, as igrejas, já que a escola e a igreja perseguem um objetivo comum. Que essas linhas sobre a escola despertem recordações agradáveis nos antigos alunos do professor Schütz e reforcem o amor e a veneração por ele. Sobre suas últimas horas oferecemos uma poesia, composta naquela época, que reproduz com toda a autenticidade, o espírito do bom professor nos seus últimos anos de vida. 

Deitando Raízes #30

Como na época e até 1859, (117) Bom Jardim não dispunha de um sacerdote permanente, o Pe. Augustin  de Dois Irmãos ou o Pe. Johann Sedlac de São José, faziam visitas periódicas. Hospedavam-se na casa do professor Schütz. Os anos sucediam-se. Novas crianças procuravam a escola, as antigas a deixavam, enquanto o professor Schütz permanecia fiel no seu posto. Para Bom Jardim foi um orgulho que ele exerceu a função até a sua morte.
É fácil estimar o número de alunos que passaram pelas mãos do professor Schütz em 50 anos. Na média freqüentavam sua escola de 60 a 70 crianças ou até mais. Não é difícil de avaliar os méritos desta obra. Provam-no muitas picadas vizinhas nas quais os professores são trocados constantemente. Como se pode realiza neste caso algo de consistente! 
Enquanto o número de alunos era grande a escola funcionava o dia todo, de manhã e de tarde. Somente quando chegou o Pe. Schleipen em 1869, a escola estava aberta só de manhã. O catecismo era ministrado só na igreja paroquial.
Seria interessante inserir aqui a lista dos alunos dos alunos do professor Schütz nos últimos anos e como se dispersaram por toda a região colonial. Podem ser encontrados como pais e mães de família noo vale do Caí, no rio Uruguai, em Ijuí. O fato de eles educarem bem os filhos, é consequência da boa educação que receberam do professor Schütz na juventude. Na hipótese de a crônica ser publicada em forma de livro, não faltarão listas de alunos.
É perfeitamente compreensível que a abençoada atividade do venerável mestre não passasse  sem hostilizações. Seus anos de trabalho não foram sempre de sol. Vieram acompanhados também de nuvens e tempestades. A primeira tormenta que se abateu sobre ele, teve origem nos tristes desmandos no tempo do capelão Traube. O professor Schùtz,  com seu reto espírito eclesial, não foi capaz de apoiar um homem cuja vida não correspondia aos deveres e à condição de sacerdote e, ao mesmo tempo, entrou em contradição irremediável com seus superiores  eclesiásticos. A animosidade para com o professor foi o melhor atestado  a  favor deste.
Por ocasião da epidemia da varíola levantou-se uma onde de  hostilidades contra o professor Schütz. Só pessoas maldosas foram capazes  de atribuir-lhe a responsabilidade por aquela desgraça. Sua própria filha que freqüentava a aula da professora brasileira, foi a primeira a contrair o mal, sem que se desse conta que se tratava de uma doença grave e das suas conseqüências. Já em recuperação outras crianças a visitaram e levaram cana de açúcar. Doze crianças foram contagiadas. Depois disto a escola foi fechada, evidentemente muito tarde. Permaneceu fechada de três a quatro meses. Neste meio tempo o professor acompanhou muitas vezes o padre nas suas visitas aos doentes. Não lhe permitiam entrar nas casas embora nunca tivesse contraído varíola, obviamente uma grande provação para ele. É  evidente que, por pura ignorância, se fez muita coisa contra o professor, mas no final seus adversários procuraram reconciliar-se com ele. Em meio a todos esses infortúnios o velho professor conservou a serenidade e a independência. Quando os antigos contestadores  o perguntavam se receberia de volta seus filhos, respondia soberano: "Retirem seus filhos ou devolvei-os, para mim é indiferente, façam como bem entenderem." Sua manifestação durante a última doença foi de uma grande singeleza: "Enquanto puder continuo, só paro quando não puder mais."
É interessante ouvir (118) também alguma coisa  sobre o método do benemérito professor. Conforme ele mesmo afirmava, ele era exato e severo. Com razão, porque a tranqüilidade e a ordem são pressupostos indispensáveis para ensinar e educar. Quando percebia que alguém tinha talento mas lhe faltava a atenção, o professor Schütz não conhecia consideração. Era-lhe indiferente que o aluno quisesse ou não. Ele tinha que. Qualquer pessoa sensata concorda com ele.
Significa um louvor não pequeno o fato de que praticamente ninguém tinha queixa contra ele. Os pais estavam convencidos de que ele era seu digno representante, que se empenhava pelo melhor para seus filhos. Para as crianças rebeldes costumava dizer: "Se teu pai não quer que sejas castigado, que ele próprio te ensine." Via de regra a rebeldia terminava por aí mesmo.
O professor Schütz empenhava-se de modo especial pelo canto. Já falamos mais acima sobre o tirocínio aprofundado a que se submetera nesta matéria com o professor Gross em Tholey. Sobretudo demonstrava amor e gosto por esta nobre arte e, como sabemos, a natureza não fora madrasta com ele neste particular. Desde 1849 a sua voz era a coluna mestra e poderosa do coral da igreja.
Quem não se lembra com alegria  das missas solenes, nas quais ele cantava como que brincando, com voz firme e poderosa, o Introito, o Ofertório e a  Comunhão, um feito de que só um conhecedor é capaz.
Mas deixemos falar também outras opiniões  sobre a atividade do professor. O juízo é unânime e muito favorável. Entretanto, não nos pretendemos alongar  com estes testemunhos honrosos, porque já foi o dito bastante por ocasião do jubileu do professor Schütz. Pretendemos fazê-lo exaustivamente por ocasião da publicação da Crônica em forma de livro.
Semelhante ao professor Schütz foram os méritos do professor Peter Marschall da Holanda. Evidentemente não tem tantos anos de serviço prestado a oferecer. Apesar disto a sua atividade merece todo o reconhecimento. Além disto é preciso creditar-lhe  o fato de ter recusado o bom posto oferecido pelo senhor Krüger, dando preferência ao magistério numa picada. Alegramo-nos ainda de que, após anos de discórdia na comunidade, em sinal de desagravo foi reconduzido perante toda a comunidade,  ao posto que lhe era devido.
Além disso funciona ainda uma escola no Schneidersthal, que foi durante um bom tempo, regida pelo professor Christoph Führ. O professor Wilhelm Jung preside a escola  no Bohnenthal.
É um velho e justificável costume dos cronistas  emitir, paralelamente à descrição de uma época, juízos sobre ela no que se refere a assuntos do momento e, ao mesmo tempo, chamar a atenção do público sobre eles. Faremos aqui uso desta função, para submeter as escolas das colônias situadas naquela época. Assim como há consenso sobre a urgência da questão florestal e a expansão dos assentamentos de alemães, assim a escola se reveste de uma abrangência, cujo significado somente alguns percebem na sua plenitude.
Perguntando às pessoas se estão preocupadas com o progresso da colônia, respondem a uma voz: "É óbvio, todos nós queremos o progresso." Mas quando se continua perguntando: "O que fazem pela escola?"  Ouve-se apenas a resposta: "Que os outros se preocupem, nós já não temos mais filhos na escola." Com isto dão a entender que a escola não é da responsabilidade de todos, ao menos na opinião das pessoas. Trata-se de uma convicção que vem a ser um equívoco, que com o tempo se vingará amargamente.
Perguntamos então, (119) como se lida com a escola na colônia? A resposta é: Pensando bem há pouco ou nenhum interesse pela questão. Confia-se tudo ao acaso. Que no passado  tivesse havido alguns bons professores como Schütz, Adams e alguns outros, deve-se mais à Providência Divina do que ao povo do local. O mesmo parece ser verdadeiro nos dias de hoje. Quase não se pode falar em intenção, trabalho, empenho e espírito de sacrifício dos colonos. Receberam o que o acaso, melhor diríamos, a disposição de Deus lhes ofereceu.
Para qualquer um dotado de clarividência é óbvio que não pode continuar assim. A questão escolar precisa ser assumida com determinação nas colônias. Temos aqui no país a inestimável  vantagem da liberdade de ensino no sentido mais amplo  e os católicos da Alemanha têm motivo de nos invejar. Será que vamos desperdiçar  tamanha vantagem? Significaria mais do que uma negligência digna de castigo. Não passaria de uma traição para com as obrigações  do país, para com a nova pátria e até para com a nossa fé. Em nossos dias a escola desempenha de modo especial um papel de suma importância, mais do que nos tempos passados. Faz o papel de ponto de passagem entre a minoridade e a juventude autônoma. Não só lhe cabe a tarefa de livrar a criança da ignorância por meio de conhecimentos úteis, como também formar  a sua vontade, acostumando-a a praticar o bem, para que o rapaz se torne um homem íntegro e a menina uma mulher útil. Como intermediadora entre a casa paterna e a vida pública, cabe-lhe reforçar as influências salutares recebidas do pai e da mãe, consolidá-las e continuar a exercitá-las. Ao mesmo tempo ensina a criança destreza na leitura, na escrita, no cálculo, indispensáveis para o dia a dia. A escola, por fim, no papel de intermediária entre a educação religiosa em casa e a maior autonomia na comunidade da paroquial, deve oferecer um ensino religioso de profundidade. Conclui-se daí, sem mais, que o professor que se confunde com a escola,  seja um homem bem reparado na sua profissão, e serva de exemplo como um cristão fiel e piedoso. Somente quando esses três requisitos estiverem presentes na pessoa de um professor, ele está em condições de exercer sua nobre missão inteira e corretamente e atrair abundante bênção, como prova a experiência. 

Deitando Raízes #29

Capítulo segundo
A Escola
Logo depois da igreja  a escola (114)   merece a atenção. Pela própria natureza ela faz parte da igreja e da sua evolução, além de que, desde sempre, ter sido criação e colaboradora da igreja. Por essa razão é confessional pela sua própria natureza, porque lhe cabe instruir as crianças na fé dos pais e educá-las conforme os princípios da religião. Em Bom Jardim a escola manteve-se, desde o começo, fiel a esta sua destinação, antes mesmo da presença meritosa do professor Schütz, infelizmente falecido antes do seu jubileu. Por isso essa Crônica, que pretende ser uma coletânea das memórias mais valiosas do passado, vê-se na obrigação de reservar um lugar de honra para a atividade desse professor cheio de méritos.
Antes de Mathias Schütz outros professores atuaram em Bom Jardim, mas o homem a quem nos referimos supera a todos tanto no empenho quanto no tempo de permanência de 50 anos.
O primeiro professor foi o pai de Johann Adam Noschang. Reuniu oito crianças numa cabana, entre elas citamos, ao lado do filho dele próprio, Peter Noll, Magdalena Noll, Dorothea Eckert e Maria Franzen. O segundo professor um certo Rosenthal, um soldado e vadio, que não demorou para afastar-se. A escola teve seu terceiro professor na pessoa de Allgayer. Ela deve muito a ele, apesar de lhe faltar preparo profissional. Ocupemo-nos, por isso, sem mais com Mathias Schütz.


O professor Schütz nasceu no dia 21 de agosto de 1821 em Thelay, comarca de Ottweiler, região de Trier. Depois de concluir a escola elementar, transferiu-se com três companheiros da mesma idade, para a casa do professor  Gross em Tholei, para receber deste uma formação sólida e a introdução na prática da vocação de professor. O professor Gross foi um hábil  professor e um cristão convicto e fiel. Na sua casa reinava ordem e trabalhava-se duro. De manhã  cedo até altas horas da noite davam-se e recebiam-se aulas. O forte do professor era o cálculo mental. Certa ocasião deu 100 tarefas para os candidatos, entre elas uma tão complicada que, no primeiro momento, o próprio mestre não conseguiu resolvê-la. Os quatro candidatos a professor levaram o problema para a cama no sótão. O problema, entretanto, não deixou descanso para o nosso Mathias Schütz. Em vez de dormir continuou trabalhando nele e, de fato, após muito esforço, encontrou a solução. Já que a questão interessava a todos, também o professor, antes mesmo da oração da manhã seguinte, fez a pergunta: Conseguiu solucionar o problema? O professor deus-e por satisfeito. Só não concordou com o método que levara Mathis Schütz  até a solução. Só depois de resolvida a questão pronunciou-se a oração da manhã. Este episódio significou uma grande alteração da ordem usual da casa, na qual nunca se permitia uma exceção. A primeira coisa depois de levantar era a oração. Antes dela não se falava uma única palavra. Os candidatos a professor aprenderam do professor Gross o que mais tarde foi de tanta importância para o professor Mathias Schütz: ensinar bem e cantar com entusiasmo. O professor Gross gozava de grande respeito perante seus superiores e colegas. Os jovens professores eram obrigados a assistir à conferência por ele presidida. O professor era um excelente músico. Tocava violino, piano e órgão. Era um prazer escutá-lo. (115) Interpretava qualquer partitura que lhe caísse nas mãos, fossem notas simples ou de coral. Que um homem destes formasse professores com domínio sobre as notas, não é nenhum milagre.
O pároco e decano Thilmany teve uma grande influência na trajetória de formação do professor Schütz. O exemplo do zeloso sacerdote que administrava conscientemente uma vasta paróquia, despertava nos candidatos o entusiasmo pela vocação de educar e ensinar. Entende-se que a atividade de um tal sacerdote deixasse uma profunda impressão na comunidade. Tholey conservou-se brilhantemente durante anos. Durante o Kulturkampf, durante anos, não contou com nenhum sacerdote, mesmo assim permaneceu piedosa e fiel como antes. Apesar das carências manteve um nível melhor do que outras comunidades, que contaram sempre com um pastor de almas.
A Viagem ao Brasil.
No começo Mathias Schütz  não pensara em emigrar. Certo dia um amigo de juventude Jacob Bard de Porto Alegre, disse-lhe: "Que achas, vamos também para o Brasil, para aí tentar a sorte?" Na ocasião a pergunta não foi séria, mas viria a tornar-se séria. Os dois não viajaram juntos mas ambos terminaram no Brasil.
Schütz e sua primeira esposa partiram de Antuérpia em 1846. O navio que os levou até o Rio de Janeiro chamava-se "Industriell", um bimastro. Foi uma viagem tranqüila, sem tempestades e sem riscos. Os perigos começaram apenas no Rio de Janeiro, onde os imigrantes, cerca de 40, todos alemães, foram obrigados a permanecer. Durante a estadia na capital nasceu a princesa Isabel. Por causa deste acontecimento reinou um grande júbilo na cidade. As casas estavam embandeiradas, troavam os tiros de canhão e os carros andavam o dia inteiro pelas ruas. Os imigrantes, por sua vez, não mostravam disposição tão festiva. Como já acontecera antes e como aconteceria mais vezes no futuro, tentou-se negociar os recém-chegados  com os plantadores de café. Não foram desembarcados mas deixados nos navios para quebrar-lhe o ânimo. Mas a intriga não deu resultado. Sem perder tempo o nosso Schütz dirigiu-se ao cônsul prussiano que, ao que parece, estava mancomunado com a trama. Schütz foi direto ao assunto: "Foi-nos dito na partida: dirijam-se tranqüilos ao cônsul. Ele os ajudará e assistirá em todas as dificuldades. E o que estamos vendo? tentam trair-nos e vender-nos!"
A reclamação deu efeito. As coisas começaram a acontecer. Saiu a ordem que as pessoas fossem  encaminhadas, às custas do governo, para o destino original no Rio Grande do Sul. Mathias Schütz lembra-se desse momento com alegria e emoção e do internúncio que visitou seguidas vezes os imigrantes abrigados no Rio de Janeiro e com eles manteve conversas de uma simpatia extrema. Admoestou-os paternalmente  que se mantivessem fiéis  a nossa fé católica e não contraíssem matrimônios na presença de um pregador protestante. Com a maior das  boas vontades ajudaria  pessoalmente a pagar a viagem.
O falecido conta como finalmente seguiram viagem, partindo do Rio de Janeiro. Nessa viagem, porém, não nos foi possível dispor as coisas de acordo com a nossa vontade, como fora na travessia do oceano. “Naquela nos reuníamos para a oração diária e a ninguém era permitido ficar no tombadilho durante a oração. Agora já não foi tão fácil repetir a prática”.
Desembarcamos em Porto Alegre no dia 21 de setembro de 1846. Por uma dessas felizes coincidências andava-se à procura de um professor em Bom Jardim. (116) Espalhara-se a notícia do desembarque de imigrantes alemães. As sondagens à procura de um professor apontaram para o professor Schütz, que ministrara aulas para as crianças durante a viagem. Um certo comerciante Kerber, que morava na  casa onde hoje reside o senhor Lamb (na ponte do Buraco do Diabo) buscou Schütz em São Leopoldo para contratá-lo como professor para seus filhos. Um carroceiro que morava perto de Herzer, foi encarregado de transportar Schütz. Mas como era costume dos carroceiros da época, parava em tudo que era lugar. Neste meio tempo anoiteceu antes de alcançar Herzer, lá no alto, perto da igreja protestante. Decidiram pernoitar aí mesmo e, foi neste local, que Schütz experimentou a primeira impressão favorável de Bom Jardim. Foi servido na mesa um assado que, com certeza, media um palmo de espessura o qual  foi atacado com coragem.
 A situação escolar em Bom Jardim era a seguinte Os evangélicos tinham como professor o velho Herzer com quem as crianças aprendiam bastante bem. Não era bem o caso do professor católico Allgayer. Não se empenhava muito pela escola, de um lado porque gostava demais da caça e, do outro, porque o salário não o satisfazia. Recebia oito vinténs por criança por mês e nem essa bagatela era pontualmente paga. O novo professor ocupou-se até o final daquele com os filhos de Kerber na sua própria casa.
Em 1847 foi destinada uma cabana para servir de escola no Buraco do Diabo, onde agora mora Peter Kuhn Filho. E que espetáculo! Não havia assoalho de tábuas, apenas chão batido. Tábuas colocadas sobre cepos firmados no chão serviam de mesas. Com 18 crianças, algumas delas ainda vivas,  começaram com alegria e satisfação as atividades. Ente elas conta-se uma Engerof, a mulher do Wüst e uma filha do velho Gehring. Em junho do mesmo ano o número de alunos subira para 40. O salário do professor teve um incremento significativo. Pagavam-se agora 24 vinténs por mês por criança.
O primeiro mês daquele ano foi marcado por um rude golpe. No dia 27 de janeiro faleceu a primeira esposa do professor, depois de lhe ter dado uma filha no dia 14.
Além da cabana mencionada outras casas  serviam de escola nos três primeiros anos. Durante um inverno o professor lecionou perto do arroio no Buraco na Quarenta e Oito. Mais tarde a escola funcionou nas dependências  do velho Lerner lá no alto, onde se usou um bela sala para essa finalidade. Em certa ocasião o Pe. Augustin Lipinski submeteu naquele local as crianças a um exame. Entre outras coisas propôs a solução de contas. Mais tarde observou: "Pareceu-me impossível  levar as crianças na mata virgem a um tal nível na realização de cálculos.
Em 1850 Mathias Schütz que casara de novo comprou uma terra para si e ministrava as aulas na sua residência. Desde então este seria o local da escola, um local belo, retirado, muito apropriado para a atividade de um professor.


Por essa época o Pe. Augsutin Lipinski empenhava-se em conquistar o professor Schütz para a sua paróquia. Trabalhou neste sentido conforme o depoimento do próprio professor Schütz, mas em vão. O povo estava sumamente satisfeito com seu jovem e dinâmico professor, apesar de não utilizar sutilezas com as pessoas. A que ponto foi a afeição ficou claro na manifestação inusitada  atribuida ao velho Kerber: "Se o padre nos tira o professor, quebramos-lhe as pernas." De mais a mais não demorou que Dois Irmãos fosse bem servido. Recebeu o velho Adams, um professor de extremo empenho, atuando aí por anos coberto de grandes bênçãos.