Deitando Raízes #31

Perguntamos, o que está sendo feito para formar tais professores ou simplesmente para atrai-los para as colônias? Não dispomos de Seminários para a formação de professores e poucos se dispõem a um sacrifício em dinheiro em favor de um bom professor. Torcemos para que o futuro Congresso dos Católicos, caso não assuma a causa, pelo menos a ponha em andamento. Uma coisa  é certa. Da solução desse problema depende em grande parte o futuro as colônias alemãs. A própria situação do professor exige uma regulamentação urgente. De outra parte é claro também que a contratação ou a demissão de professores não pode estar definitivamente nas mãos de um punhado de pais de família. Esse tipo de coisas pode ser até tolerado em algumas situações, nunca, porém, adotado como uma regra ou uma lei. É certo que os pais são os primeiros interessados, mas acima deles está a representação da comunidade, por sua vez escolhida dentre os pais de família. Acima de todos, a decisão superior deve estar nas mãos  das autoridades eclesiásticas, do pároco e do bispo diocesano. Este é o único caminho que leva a condições sadias e aceitáveis no que diz respeito à escola. Só assim teremos professores com autonomia de ação e escolas eficientes.
Depois que fizemos passar (120) diante dos nossos olhos a vida do professor Schütz, nas suas facetas mais importantes, o prédio da escola como local onde ela acontece, merece pelo menos uma rápida atenção, tanto mais que durante  quase 50 anos serviu àquela finalidade. Distingue-se em muito pouco das moradias simples dos colonos, a não ser pelo anexo  em foram de sala no seu lado direito. Tomando-se em consideração o muito tempo que já serviu para a finalidade, era de se esperar encontrar uma espécie de ruína em vez de uma casa  em boas condições. O forro um tanto caído por causa da viga curva, de fato dá a impressão de uma ruína. É evidente que essa expressão é apenas uma comparação que, como todas as demais, é um pouco capenga, mas de alguma forma corresponde à verdade. É notório que é próprio de homens tratar com certa reverência as testemunhas do passado.  Parece-nos então que nesse sentido uma velha escola não faz má figura. Examinemos, pois, com coragem o velho prédio escolar e tentemos entender o seu fascínio secreto. Em primeiro lugar destacamos a sua localização cinematográfica. O lugar como que feito para uma escola, ficava numa depressão solitária, alguns minutos afastado da estrada principal. As verdes elevações em volta, isolavam o pequeno vale do restante do mundo, de maneira que qualquer perturbação da aula era mantida longe. Não se escutava o barulho das carroças que passavam e não se enxergavam nem pedestres nem cavaleiros. Avistava-se o mato e as rochas dos morros e, de vez em quando, o vento carregava de longe o rumorejar da cascata. Em resumo. Somando tudo uma localização extraordinariamente feliz. E, para aumentar ainda mais o encanto do local, um arroio de águas cristalinas serpenteava por entre as elevações, oferecendo no verão um gole de água fresca para a juventude sedenta. A idade da construção exerce igualmente  um efeito benéfico sobre o espírito das crianças. Foi nesta escola que sentaram os pais, quem sabe os avós das crianças, para assimilar conhecimentos úteis. Além do mais o professor era o mesmo que ensinara os irmãos mais velhos e até os pais e sem ele nem sequer era possível imaginar a casa.  Como se sabe o professor Schütz manteve-se em boa forma até o último ano de sua vida. E assim sucedeu que professor e escola mostrassem sempre o mesmo rosto. Professor e escola amalgamaram-se numa única realidade e o prédio reforçava e aprofundava de alguma forma o conceito e o respeito que o professor irradiava. Ambos, por assim dizer, representavam a dupla face da mesma realidade, a escola. Ambos eram velhos conhecidos da mesma idade, cuja presença envolvia a alma das crianças num clima solene. E quantas reminiscências tinham como ponto de referência a velha escola lá no verde vale!  Para muitos as melhores recordações da melhor parte da juventude tem a ver com a escola, os companheiros há muito falecidos ou que partiram para longe,  os acontecimentos alegres ou, por vezes, dolorosos, mas todos eles no final das contas, proveitosos.
Quantas pessoas que agora moram longe de Bom Jardim e que algum dia freqüentaram a escola deste excelente mestre, não se recordam de alma comovida da escola e do professor.
O príncipe austríaco que foi fuzilado como imperador do México, expressou-se, na sua descrição do Brasil, de forma pouco favorável ao referir-se às casas de família. "A moradia brasileira ignora o conceito de um pequeno mundo voltado inteiramente para si. O clima lhe é desfavorável. Não é preciso precaver-se  contra nada de áspero e não há necessidade de criar ilusões. (121) O clima agradável e a vegetação oferecem tanto que o povo não se entrega àquela intimidade de que há necessidade em regiões onde o inverno e o verão contrastam fortemente. No Brasil a casa não representa o local que polariza o encontro do pequeno mundo da família. Cabe-lhe apenas o papel de alternadamente servir de guarda-sol ou de guarda-chuva e oferecer à noite um leito e local para se livrar da roupa sem ser perturbado. A maldição da casa dos países tropicais consiste  no fato de, condicionada pelas circunstâncias da natureza, não guardar recordações, nem ter história. Imprime no caráter das pessoas a marca da inconstância, da alternância, incompatível com o conceito de família, pois assim como seu chão é passageiro, os laços que unem a família são apenas momentâneos." Mesmo que estas observações valham, no seu sentido pleno para as regiões tropicais e os brasileiros, os alemães do Rio Grande do Sul as confirmam, ao menos na medida em que também eles perderam algo do sentido da casa, do espírito caseiro, do sedentário e de algumas coisas mais relacionadas com eles. Tanto mais a escola deveria fazer o papel de elo de união entre eles, de alguma forma como são as casas de Deus, as igrejas, já que a escola e a igreja perseguem um objetivo comum. Que essas linhas sobre a escola despertem recordações agradáveis nos antigos alunos do professor Schütz e reforcem o amor e a veneração por ele. Sobre suas últimas horas oferecemos uma poesia, composta naquela época, que reproduz com toda a autenticidade, o espírito do bom professor nos seus últimos anos de vida. 

This entry was posted on quarta-feira, 20 de julho de 2016. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.