Reflexões Avulsas - Distinção – Imigração Alemã

Exmos. Senhores

Fui, por assim dizer, atropelado,  pelo telefonema do então Presidente da Federação das Círculos Culturais Alemães do Brasil, Dr. Jorge Klobig, de saudosa memória, comunicando-me que  havia sido escolhido para receber a Distinção Imigração Alemã, edição 2013, por indicação do Instituto Histórico de São Leopoldo, presidido pela profa. Eloísa Capovilla Luz Ramos, pelo Núcleo de Estudos Teuto-Brasleiros, coordenado pelo  prof. Marcos Witt, pelo Curso de Graduação em História da Unisinos, coordenado pelo prof. Jairo Rogge, pelo Programa de Pós-Grduação em História da Unisinos, coordenado pelo prof. Paulo Staudt Moreira, Pela Associação dos Pesquisadores das Comunidades Teuto-Brasileiras do Litoral Norte, presidida pela profa. Nilza Huyer, pela Associação dos Pesquisadores das Comunidades Teuto-Brasileiras do Brasil, coordenada pela profa. Rosane Neumann. Nunca me passou pela cabeça que pudesse ser contemplado com essa distinção. Não posso deixar de registrar o meu reconhecimento às três entidades organizadoras deste evento: A Federação dos Círculos de Cultura Alemã no Brasil, o 25 de Julho e a Comissão Organizadora das comemorações dos 190 anos da Imigração Alemã no Brasil.  Um sincero agradecimento a todos que de alguma forma foram responsáveis, direta ou indiretamente, por ela. Entre estes últimos não posso omitir as duas colaboradoras que durante 23  anos foram as fiéis e leais pesenças no esforço de salvaguardar a memória e a história dos nossos maiores. Refiro-me à Isabel Cristina Arendt e Janaina Silva. Destaco também o apoio irrestrito do Pe. Aloísio Bohnen, durante o período em que foi Reitor da Unisinos e depois como Diretor da Blblioteca e do Memorial Jesuíta. E, por último, quero destacar o significado difícil de avaliar, mas fundamental, pelo apoio ao meu envovlvimento com a rotina diária da pesquisa e os compromissos com os constantes eventos culturais e envolvimentos acadêmicos e de pesquisa na área da Imigração. À minha esposa Inez e à minha filha Ingrid, ao meu gênro Ernani e ao meu neto Victor, um reconhecimento todo especial.

Não posso deixar de reconhecer que a Distinção com que os senhores me honram, faz um bem danado ao ego e como diria o poeta Rodrigues Brito, lembrou-me que em qualquer idade persiste o elemento juventude que nos lembra que ainda temos condições de continuar construindo algo de novo e de útil, ou como diria o poeta alemão, faz-nos continuar procurando a “flor azul”. Constitui-se também  num poderoso estímulo, para continuar em pé e contribuir para que a História da Saga da Imigração Alemã no Brasil e o que signifocu para o País, seja corretametne avaliada e reconhecida.

Senhoras e Senhores. Como podem perceber não sou franco-atirador, um curioso interssado na história da Imigração alemã. Sou um dos muitos que batalham no contexto da Academia, organizações regionais e nacionais, de associados a centros de promoção da cultura alemã e de comissões organizadoras. Estamos todos interessados e existenciamente comprometidos, de um lado com a preservação da memória e da história da Imigração Alemã e, principalmente, preservando-a, e procurando entender a sua natureza, a sua dinâmica e o seu significado na construção da Nacionalidade Brasileira. É óbio que que numa noite festiva não cabem reflexões amplas e profundas sobre um tema tão vasto e tão complexo.

A Imigração Alemã, como qualquer outra vertente emigratória, imigratória ou simplesmente migratória, oferece um número e uma variedade sem conta de formas e aspectos dignos de serem considerados e analisados. A comemoração do centésimo nonagésimo aniversário da imigração alemã no Brasil, a ocorrer no ano que vem, não pode deixar de surgerir uma reflexão sobre o itenerário que marcou a inserção gradativa na comunidade nacional brasileira desses imigrantes e dos seus descendentes, ora na nona e décima geração. Há sessenta anos o Pe.  Balduino Rambo, um dos fundadores da FECAB, resumiu essa história valendo-se da metáfora, que a resume em toda sua extensão e profundidade: “O carvallho alemão deitou raízes na terra das palmeiras”. Os conceitos “migração, migrante, imigrante, emigrante” implicam num universo todo que afetam o ser humano no mais profundo e mais sagrado da sua existência. Três aspectos dessa realidade merecem atenção. Em primeiro lugar, o migrante da história, não falo dos aventureiros, viajantes, caçadores de tesouros, mas daqueles que migram por necessidade e por isso deixam para trás um chão, uma história e uma comunidade humana. Os  antigos romanos, na sua lendária sabedoria, deixaram entre seus muitos provérbios, este sobre o “migrar”: “Ubi bene ibi patria”- mal traduzido diz: “A pátria dos homens encotra-se lá onde se sentem bem, onde são felizes, onde seus anseios e demandas  materiais e espirituais são atendidas e satisfeitas. Ninguém deixa para trás a pátria, a terra natal, parentes, amigos, conhecidos, enfim uma história e uma paisagem, senão tangido pela necessidade. Os motivos imediatos que desencadearam as grandes correntes migraórias da História e continuam motivando as de hoje, seja de um continente para o outro, ou as internas de um país ou região para a outra, podem ser de natureza econômica, social, política, étnica ou outras. Todas exprimem, entretanto, um fato comum: o migrante vai em busca de algo melhor, real ou imaginário

Em segundo lugar, o migrar implica necessariamente em duas dimensões, o que vale de modo especial para as grandes correntes migratórias que partiram da Europa, para as Américas, à Austrália, o sul da África, etc.,  a partir do século XVIII e que se prolongaram até meados do século XX. De um lado o migrante que partia da Alemanha, da Itália, da Inglaterra, da Polônia e dos outros  pontos da Europa, deixava para trás  uma história e uma tradição, construída durante milênios e solidamente enraizada na “pátria” que ficava para trás para sempre. Em contrapartida via-se forçado a inserir-se num outro ambiente geográfico, num outro contexto social, numa outra tradição cultural. Em outras palavras. O desenraizamento compulsório de um lado levava inevitavelmente a  um enraizamento, também compulsório do outro, acompanhado dos mais diversos desafios e traumas imagináveis, com caracteristicas peculiares para cada caso. 

Em terceiro ugar, os nossos antepassados enontraram uma floresta pluvial, subtropical quase impenetrável, composta por uma vegetação desconhecida para um europeu, povoada por animais, aves e insetos também desconhecidos. Somou-se a isso a adaptação à inversão das estações do ano, a ausência de invernos rigorosos e verões longos e quentes. Neste contexto estabeleceram-se os primeiros contatos com os luso-brasileiros e os próprios nativos. Aprenderam deles a cortar com foice a vegetação baixa para depois derrubar as árvores maiores com machado. Aprenderam dos índios a prática da coivara, queimando a vegetação depois de seca. Aprenderam a cultivar mandioca, milho, batata doce, cana de açúcar, abóboras, morangas e melancias. O “rebento do carvalho” começava a deitar raízes na terra das palmeiras. A “nova terra natal, a nova Heimat, a nova querência” tomava formas e contornos. Emoldurada pela paisagem da “terra das palmeiras”, a dedicação ao trabalho, à família, à comunidade solidária, à religiosidade, à cultura e prática das diverasas modalidades de lazer, característicos do “carvalho” da nossa metáfora, foram moldando uma nova paisagem humana, nos vales médios e superiores do rio dos Sinos do Caí, do Taquari, do Pardo e  Jacuí. A partir de 1880 tomaram conta de consideráveis áreas da Serrra, Missões e Alto Uruguai, para, já no século XX, avançar pelo centro oeste de Santa Catarina, adentrar o centro oeste do Paraná e, sempre mais para o norte: Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre, Rondônia e mais além até Santa Helena na fronteira com a Venezuela, além de bolsões  no Amapá Maranhão e Baia. 


E no andar dessa história, que se aproxima dos 190 anos, o Rebento do Caravalho deitou raízes profundas e definitivas na Terra das Palmeiras. Cultivando com fervor e entusiasmo crescente a memória dos antepassados, os imigrantes alemães participaram ativamente do dessenvolvimento da nova pátria. A memória e a fidelidade aos  velhos valores espírituais, humanos e materiais, trazidos do outro lado do oceano, temperados pelo clima e a geografia da nova eimatHeimatHeimat e redesenhados pela realidade humana da nova Querência, fizeram deles  cidadãos brasileiros plenos e conscientes. A maioria deles já náo fala mais o dialeto das terrasde origem das rregiões do Reno da Baviera, de Hannover, da Pomerânica, da Silésia, da Áustria, da Suiça e de outros territórios. Encontramos seus representantes, de igual para igual com os brassileiros de outras procedências étnicas, ocupar posições em todos escalões da vida pública e em todas as atividades da iniciativa pivada. Em não poucos casos somente o sobrenome, muitas vezes bem ou mal grafado, denota ainda sua procedência remota. Parafraseando Thomas Mann, diríamos: Muitas das características por natureza transitórias ficaram ao longo da estrada durante esses 190 anos, mas é exatamente nessa transitoriedade que se traçou a linha mestra da nossa história como herdeiros dos imigrantes alemães, que há exatos 189 anos desembarcaram em Porto Alegre.

Reflexões Avulsas - Abertura da feira do livro de São Leopoldo em 2013

O aniversário dos 72 anos da biblioteca municipal de São leopoldo e o lançamento  oficial da 28ª feira do livro de São Leopoldo, oferece uma bela ocasião para refletir sobre três questões que nos tocam muito de perto. A primeiro refere-se a São Leopoldo como núcleo de irradiação do prtotótipo de um modelo de organização humana e de desenvolvimento econômico, até então inexistente no Brasil e berço de promoção da educação e cultura; a segunda questão convida a refletir sobre o significado de uma bibioteca e uma feira do livro; a terceira, refeltir sobre a feira do livro como instrumento de perpetuação da cultura.

1. - São Leopoldo polo irradiador de um novo modelo de organização espacial, social, econômica e cultural

-        São Leopoldo como polo irradiador do Catolicismo Restaurado
-        São Leopoldo como polo irradiador da Igreja Luterana de Confissão Evangélica
-        São Leopoldo berço de importantes jornais como o “Deutsches Volksblatt” e “Die Post”
-        São Leopoldo dona da primeira usinna hidroelétrica do Estado
-        São Leopoldo sede da Rotermund, a maior editora de livros didáticos da América Latina na época.
-        São Leopoldo berço do ensino médio do sul do Brasil.
-        São Leopoldo sede de importantes bibliotecas e acervos documentais

Por essas e outras razões, São Leopoldo ocupa um lugar todo especial na gênese histórica dos municípios do Rio Grande do Sul, motivo de justo orgulho e, ao mesmo tempo também de compromisso com a preservação  dessa magnífica memória histórica e a sua perpetuação pela presente geração e as futuras.

2. Bibliotecas e Feira do Livro.

Bibliotecas e Feiras do Livro são dois conceitos complementares. Sugerem, por isso mesmo, a necessidade de refletirmos por uns instantes sobre o personagem central deses dois conceitos: O Livro. O livro entendido no seu significado de registro histórico de informações sobre a presença do homem neste planeta, com todas as suas conquistas e preocupações materiais, humanas, artísticas e espirituais.

Uma inscrição em latim numa importante universidade alemã, senão me engano, Erfurt, soa mais ou menos assim: “Aqui os mortos vivem, aqui os mudos falam”.  Vale para qualquer biblioteca, por mais modesta que seja e, por extensão vale para uma feira do livro. Mas vale, de modo especial, para aquelas que guardam a memória e a história  do homem, registrada, desde os tempos mais antigos. Em princípio não importa se essa memória foi guardada em caracteres cuneiformes encravados nas placas de cerâmica cozida dos antigos Caldeus, se escrita em hieroglifos egípcios sobre papiros ou peles de cabra, se manuscritos pelos monges da Idade Média, se impressos em papel depois que Gutenberg inventou a imprensa, se guardada na forma eletrônica mais moderna e atualizada. Independentemente da forma física como chegaram até os nossos dias, as preocupações existenciais do homem nas diversas épocas da história, suas percepções perante o desconhecido ou inusitado, suas reflexões a respeito dos mistérios e incógnitas da vida, da natureza, do universo e de Deus, suas manifestações literárias, estéticas e artísticas, a maneira de lidar com o quotidiano,  têm em comum, o que faz com que seus autores, mesmo mortos, continuem vivos através de suas obras e estas,  embora mudas, falem do passado, apresentado na forma, na dinâmica e na percepção das coisas, prórpia de cada época e de cada autor.

Fiquemos com o que costumamos chamar de livro, personagem   central de uma biblioteca e de uma feira do livro, como sugere o próprio conceito. Numa ponta o poeta canta as maravilhas e as belezas da natureza, fazendo vibrar as cordas mais sensíveis da alma humana. Na outra ponta engenheiros e técnicos de todos os feitios e especialidades, munidos com seus modelos matemáticos e suas ferramentas metodológicas, desenham e formulam  os inventos e os projetos, que abrem semprer novos caminhos e novas modalidades,  impulsionando o progresso em busca da sastisfação das necessidades materiais, tonando menos sofrida a vida do quotidiano. Entre os  dois extremos, a poesia como experssão suprema da arte e a tecnologia como motor do progresso material,  situam-se as demais obras e autores que cobrem o interminável e complexo espectro das demandas da natureza humana e das suas potencialidades em expressá-las. A litertura reigiosa, a litratura filosófica, a literatura histórica, a literatura científica,  a literatura de fixão, a literatura pedagógica, a literatura infantil, a literatura específica das letras e artes, enfim, tudo que, de alguma forma, nos toca, está presente numa biblioteca e numa feira do livro e merece o nosso respeito e reverência. Merece-o porque fala de alguma das muitas facetas do humano no homem, assim como ele foi percebida numa época e em cicunstâncias determinadas, por um personagem, um autor, um escritor, na sua forma única, ideosincrática, de ver e julgar as coisas.

Com isso conclue-se de que uma discussão  de qual é o setor mais importante de uma biblioteca ou de uma feira do livro, resulta numa pura e simples perda de tempo. Para começo de conversa, cada obra, cada artigo publicado, cada página impressa, cada reflexão solitária registrada, tem valor em si. Por isso mesmo merece respeito todo aquele que decide colocar no papel, para quem quiser tomar conhecimento, seus interesses,  suas preocupações, suas esperanças, seus sofrimentos, suas frustrações, seus sonhos, seu gozo literário e artístico, suas crenças, suas utopias. Todos à sua maneira credenciam-se a integrar um dia a galeria dos personagens que, mesmo mortos, continuam vivos e, através das suas obras, embora mudas, continuem falando durante milênios. Para tanto não é preciso escrever obras de muitos volumes, nem obras que vasculham as raizes da natureza humana, especulam sobre a origem do universo, perguntam pela origem do homem e seu destino ou discutem o lugar ou o não lugar de Deus na Natureza.  Basta uma página, um verso, uma linha quem sabe, talvez uma sentença, para que seu autor se torne um imortal e sua obra, embora muda, continue falando. A Ilíada e a Odisséia fizeram com que Homero ainda hoje esteja tão vivo como há três mil anos atrás, seus milhares de hexâmetros continuam falando dos herois e das guerras duma época que se perde nas brumas do tempo. Da mesma forma milhares de provérbios de autores conhecidos ou não, como ecos sempre repetidos, relembram princípios e valores consolidados por séculos pelos diversos povos. Funcionam, por assim dizer como a voz da consciência para chamar a atenção aos desvios cometidos no comportamento esperado das pessoas no seu dia a dia. Por isso mesmo, funcionam como um instrumento peagógico de alta eficiência. Quem não se lemmbra ter ouvido da pai, da mãe, do professor, do vizinho ou de qualquer outra pessoa: o ócio é mãe de todos os vicios; uma mula esfrega-se na outra, os semelhantes costumam encontrar-se; a mentira tem pernas curtas, o  melhor dos homens, quando corrompido, transforma-se no pior dos corruptos; a ocasião faz o ladrão; não distribua o peixe de graça, ensina a pescar.... e por ai vai. Sistemas filsóficos inteiros desevolveram-se  partir de uma simples reflexão anotada num papel, como o “penso, logo existo, de Descartes.

Com isso não se  pretende afirmar que a nível de repercussão prática, todas as obras escritas pelo homem tenham mesmo alcance. Neste sentido as epopéias de Homero ou Virgílio, a República de Platão, as “Confissões de Santo Agostinho”, a “Suma Thologica de Tomás de Aquino, A Encilopédia Francesa, o Kapital de Carl Marx, A Origem as Espécies de Darwin, os Lusíadas de Camões, o Don Quixote de Cervantes, as Odes de Horácio, o Príncipe de Maquiavel, o Werther de Goethe, etc., etc. e, não esquecendo evidentemente a Bíblia e o Alcorão, certamente não podem ser comparadas com os primeiros passos de um escritor principiante ou dos primeiros ensaios de aluno do ensino médio.

Por isso mesmo, para quem tem a suficente sensibilidade e interesse para perceber a importância dos valores perenes da humanidade, as bibliotecas assemelham-se a templos. Sugerem e esperam uma atitude de veneração para quem as frequenta. Caminhar sem compromisso, por entre as estantes de uma biblioteca e admirar os livros disciplinadamente enfileiradas nas bandejas, vem a transformar-se num prazer difícl de definir. Concentrar-se e, na medida em que se identificam autores e obras, convencer-se de que, embora mortos há décadas, há séculos ou até milênios, continuam falando numa linguagem muda inteligível para uma pessoa minimamente preparada. E quando se dispõe de tempo para abrir a esmo obras nos diversos setores de uma biblioteca, as surpresas podem ser muitas. Topamos com autores que foram decisivos  no despertar para o gosto pela leitura, pelo saber e pelo conhecimento. Podem ser experiências únicas. Vivi um desses momento quando organizei a biblioteca histórica dos jesuitas guardada na Unisinos. Encontrei lá um exemplar do primeiro livro que li há 74 quatro anos atrás. Foi uma sensação única poder folhear novamente aquelas páginas impressas  em letra gótica miuda, de um autor islandes descrevendo a infância em companahia do irmão, naquela ilha gelada do Ártico. Foi amor à primeira vista pelos livro, pelas  bibiotecas, pelos acervos documentais e, obviamente pelas feiras de livros de todos os tamanhos, destinadas, de um lado para os novos autores apresentarem o resultado dos seus talentos e, do outro, estimular a leitura como alimento espiritual entre adultos, mas de modo especial para despertar o maior número possível de  leitores entre as crianças e os jovens.


E assim chegamos  a Feira do Livro. Como já afirmamos mais acima, biblioteca e feira de livro são conceitos mutuamente complementares. Se as bibliotecas são os santuários onde os livros de todos os tamanhos, formatos, conteúdos e épocas são guardados e postos à disposição dos leitores e pesquisadores, as Feiras de Livro podem ser consideradas as janelas, as vitrines, para chamar a atenção do grande públlico e estimuá-lo para a importância da lelitura. De outra parte a Feira da Livro oferece o cenário ideal para os novo talentos apresentarem ao público suas produções, sentirem a satisfação impar de escrever dedicatórias em suas obras recém lançadas. E, por fim, no caso específico de São Leopoldo, servir de ocasião para divulgar a sua importante história de fomento à cultura, entendida no sentido mais lato e estimular  os escritores já em plena produção, despertar novas vocações para escrever e apoiar os produtores e divulgadores da ccultura. E em último lugar chamar a atenção  às entidades particulares e públicas diretamente comprometidas com o progresso e o   bem estar material, humano e espiritual, tem o  aliado mais poderoso numa comunidade que lê e assim eleva e  aprimora cada vez mais o seu nível  cultural.

Reflexões Avulsas - Aniversário da biblioteca municipal de São Leopoldo - 2013

A abertura da Feira do Livro de São Leopoldo, oferece ao público da cidade, da região e além dela, mais uma demonstração de apreço à sua memória histórica. Neste sentido o atual município e, por extensão, os demais que se originaram do seu território original, ocupam um lugar todo especial entre os demais municípios do Rio Grande do Sul.

A Feitoria Imperial do Linho Cânhamo foi o cenário e o foco de irradiação, logo após a Independência do Brasil, de um projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana, até então desconhecido no País. À economia da monocultura do algodão, da cana e do café e a criação de gado, praticadas em imensos latifúndios e estâncias, veio acrescentar-se a pequena propriedade rural. Com menos de 100 hectares, operada pelo trabalho livre das famílias, produzia alimentos a partir da policultura. Uma classe média rural sadia e produtora foi-se formando e preenchendo o fosso existente entre o poder político e a riqueza do latifundiário e a situação deshumana da escravaria. Não é nem o lugar nem o momento, de entrarmos mais a fundo  no significado desse novo modelo civilizatório  e seus potenciais em termo desenvolvimento econômico e promoção humana.

Por ocasião da bertura da 28ª Feira do Livro, quero apontar alguns dos elementos que, a partir dessa nova realidade, fizeram de São Leopoldo um polo de irradiação único.

Os imigrantes que se fixaram aqui, a partir de 1824, procedentes da Europa Central e do Norte, eram pessoas livres, instruídas, religiosas e, sobretudo decididas a construir a futura querência para os filhos e filhos dos filhos. Não pouparam esforços para não perderem os valores mais preciosos da sua tradição quase duas vezes milenar: a cultura, a fé, o trabalho, a família e  a comunidade. Recorreram aos meios que eles sabiam serem os mais eficases para não fracassarem em meio às dificuldades, onde era preciso construir tudo a partir do nada. As comunidades organizaram-se em torno de suas escolas, capelas, oficinas, casas de comércio e locais para a prática da cultura e do lazer. Católicos e protestantes, cada qual à sua maneira, organizaram seus cultos aos domingos. Os protestantes contaram com pastores desde o começo, os católicos somente a partir de 1849. As duas Igrejas começaram tomar forma definitiva durante a segunda metade do século XIX. Os católicos com a multiplicação de paróquias e formação do clero nativo; os protestantes com a vinda de pastores ordenados e implantação do Sínodo Riograndense.

No plano educacional São Leopoldo veio a sediar as primeiras instituições de ensino médio no sul do Brasil, com a fundação do Ginásio Nossa Senhora da Imaculada Conceição dos jesuítas em 1869 e em 1872, o Colégio São José das irmãs franciscanas. As duas instituições polarizaram a formação do ensino médio da juventude masculina e feminina da cidade, de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e até de Santa Catarina e Paraná, durante 30 anos. O Conceição encerrou suas atividades no ensino médio em 1910. Mas, já em 1913 seus prédios receberam os seminaristas menores do ensino médio e os maiores da Faculdade de Filosofia e Teologia, como primeiras instituições de ensino superior na área humanística do sul do Brasil. Até 1956, formaram-se nessas faculdades gerações de sacerdotes diocesanos e religiosos, mais de uma dezena de bispos e arcebispos e um cardeal arcebispo do Rio de Janeiro. Em  1958 os vetustos prédios do centro de São Leopoldo, acolheram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e, em seguida, a Faculdade de Ciências Econômicas, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Arquitetura.  Em 1969, elas deram origem a Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Já no século XX os protestantes implantaram no Morro do Espelho o Colégio Sinodal, hoje uma das instituições de ensino médio mais bem avaliadas do País e a Escola Superior de Teologia, detentora do conceito máximo concedido pela CAPES a programas de pós-graduaçãp.

Mas não páram aqui os méritos culturais de São Leopoldo. Ao abrigo dos dois polos de alta cultura: o Conceição – Seminário Central – Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Sinodal e Escola Superior de Teologia, formaram-se bibliotecas com centenas de milhares de volumes, além de importantes acervos documentais. Nelas notabilizaram-se dezenas de mestres apreciados e influentes, escritores, cientistas e pisquisadores, alguns de renome internacional. Elevando mais uns pontos a importância histórica de São Leopoldo, aqui nasceram dois dos jornais mais influentes que circularam no Esado e fora dele, até a década de 1930: “Deutsches Volksblatt” dos católicos editado desde 1872 nos fundos do jardim do Conceição e o protestante “Die Post”. E como se tudo isso não bastasse a Casa Editora Rotermund foi na época a maior editora de livros didáticos da América Latina.

São Leopoldo tornou-se também referência com seu movimentado porto fluvial, com a estação da estrada de ferro e a faixa de cimento ligando a cidade à capital do Estado, com a primeira usina hidroelétrica de maior porte, como polo industrial, comercial e de serviços, em franca expansão e sede de guraniçoes miltiares estratégicas, três até meados da década de 1960. Essa dinâmica, apesar dos altos e baixos, encontra-se novamente em ebulição com seus centros e parques tecnológicos e distrituos industriais de alto nível, a Universidade do Vale do Rio dos e Escola Superior de Teologia, para referir apenas o ensino sumperior

Mas é no estímulo à cultura em geral, à pesquisa histórica, à inovação tecnológica, ao desenvolviemtno de projetos de natureza ambiental e de sutentabilidade, na produção literária e artística, que São Leopoldo dá novamente provas consistentes e vibrantes, de um epicentro promissor. Nele as atividades culturais, literárias, científicas e artísticas, encontam seus entusiastas, reunidos nos mesmos propósitos, tanto no Instituto Histórico de São Leopoldo, quanto no Museu Histórico, no Museu do Trem, no Centro Literário, no Centro de Cultura, nas entidades de classe, nos clubes sociais, nas escolas, nos colégios e, de maneira especial, nas  instituições de alta pesquisa e produção literária: A Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Instituto Anchietano de Pesquisas e na Escola Superior de Teologia. E, em meio a tudo isso é preciso destacar o compromisso e o apoio irrestrito do Governo do Município, na pessoa do seu prefeito, Dr. Aníbal Moair da Silva, através da Secretaria de Educação e Cultura, na pessoa do Viceprefeito Daniel Daudt, que acumula a responsabilidade por essa Secretaria .

Senhoras e senhores. É neste cenário histórico e neste clima efervescência cultural que a atual geração dá demonstração de copromisso redobrado em favor da cultura, expressa na literatura, na arte e na  pesquisa de alto nível em praticamente todos os segmentos do conhecimento, temos a honra de abrir a 28ª Feira do Livro de São Leopoldo, Ramiro Frota Barcelos. Por uma feliz escolha da Comissão Organizadora da Feira, o evento acontece no local que já foi palco de intensa movimentação: A velha estação  da Viação Férrea do Rio Gande do Sul. Aqui desembarcaram ou transitaram autoridades políticas, militares, comerciantes, caixeiros viajantes, padres, pastores, religiosos e religiosas e pessoas comuns de todas as idades e condições sociais, em busca dos seus objetivos no Centro, no Oeste, no Noroeste  e no Norte do Estado ou em trânsito para Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Quantas histórias poderia contar esta velha estação importada da Inglaterra, os trilhos da famosa metalúrgica Krupp da Alemanha, o vetusto telégrafo, os vagões, tudo transformado em museu. Num museu que não apenas guarda a arquitetura, os objetos, os documentos  e os equipamentos operarcionais da ferrovia, mas um espaço permanente de programações culurais de todos os feitios e níveis. Por isso a opção para sediar a 28ª Feira do Livro não poderia ter sido mais opotuna e significativa.


A partir desta noite até o dia 8 de dezembro o personagem central, a razão de ser de as pessoas  circularem por este lugar, é sua majestade o livro. Enquanto o moderno trem metropolitano, estaciona, por assim dizer, acima das nossas cabeças na estação, que oferece tudo que a moderniade do começo do terceiro milênio exige, nós nos reunimos no espaço que, há quase 150 anos, foi um marco um momento hsitórico cujo significado é  de difícil avaliação. Contrastando com  as locomotivas de última geração, dormentes de concreto e aço, bitola larga, escadas rolantes, lojas  e instalações para atender as necessidades de hoje, a velha estação, parecendo uma casa de boneca, a Maria Fumaça, o velho telégrafo, as pessoas com seus trajes de moda da época, os personagens que marcaram uma época que se perde nas brumas do tempo, homenageamos sua majestade o livro. Deve-se  a ele que, apesar dos altos e baixos, não ocorressem lacunas significactivas nessa história que se aproxima dos 200 anos. São  Leopoldo continua sendo  um polo de efercescência cultural, e a Feira do Livro o momento privilegiado para estimular e renovar o gosto pela leitura e, de modo especial para despertar nas crianças o gosto pelos livros. De outra parte a Feira do Livro oferce o cenário ideal para  os novos talentos apresentarem  ao público as suas produções e os autores  sentirem a satisfação ímpar  de escrever dedicatórias em suas obras. E, por fim, no caso de São Leopoldo, divulgalr sua iimportante  história de produção e fomento à cultura, entendida no sentido mais lato do termo e estimular os escritoroes e plena produção a não desanimarem na sua jornada, despertar novas vocações para escrever e apoiar os produtores de divullgadores da cultura. Em último lugar, chamar a atenção às lideranças públicas e privadas, comprometidas com o progresso e o bem material, humano e espiritual, de que o aliado mais poderoso com quem podem contar sempre, é uma comunidade na qual se escreve e se lê cada vez mais.