Reflexões Avulsas - Abertura da feira do livro de São Leopoldo em 2013

O aniversário dos 72 anos da biblioteca municipal de São leopoldo e o lançamento  oficial da 28ª feira do livro de São Leopoldo, oferece uma bela ocasião para refletir sobre três questões que nos tocam muito de perto. A primeiro refere-se a São Leopoldo como núcleo de irradiação do prtotótipo de um modelo de organização humana e de desenvolvimento econômico, até então inexistente no Brasil e berço de promoção da educação e cultura; a segunda questão convida a refletir sobre o significado de uma bibioteca e uma feira do livro; a terceira, refeltir sobre a feira do livro como instrumento de perpetuação da cultura.

1. - São Leopoldo polo irradiador de um novo modelo de organização espacial, social, econômica e cultural

-        São Leopoldo como polo irradiador do Catolicismo Restaurado
-        São Leopoldo como polo irradiador da Igreja Luterana de Confissão Evangélica
-        São Leopoldo berço de importantes jornais como o “Deutsches Volksblatt” e “Die Post”
-        São Leopoldo dona da primeira usinna hidroelétrica do Estado
-        São Leopoldo sede da Rotermund, a maior editora de livros didáticos da América Latina na época.
-        São Leopoldo berço do ensino médio do sul do Brasil.
-        São Leopoldo sede de importantes bibliotecas e acervos documentais

Por essas e outras razões, São Leopoldo ocupa um lugar todo especial na gênese histórica dos municípios do Rio Grande do Sul, motivo de justo orgulho e, ao mesmo tempo também de compromisso com a preservação  dessa magnífica memória histórica e a sua perpetuação pela presente geração e as futuras.

2. Bibliotecas e Feira do Livro.

Bibliotecas e Feiras do Livro são dois conceitos complementares. Sugerem, por isso mesmo, a necessidade de refletirmos por uns instantes sobre o personagem central deses dois conceitos: O Livro. O livro entendido no seu significado de registro histórico de informações sobre a presença do homem neste planeta, com todas as suas conquistas e preocupações materiais, humanas, artísticas e espirituais.

Uma inscrição em latim numa importante universidade alemã, senão me engano, Erfurt, soa mais ou menos assim: “Aqui os mortos vivem, aqui os mudos falam”.  Vale para qualquer biblioteca, por mais modesta que seja e, por extensão vale para uma feira do livro. Mas vale, de modo especial, para aquelas que guardam a memória e a história  do homem, registrada, desde os tempos mais antigos. Em princípio não importa se essa memória foi guardada em caracteres cuneiformes encravados nas placas de cerâmica cozida dos antigos Caldeus, se escrita em hieroglifos egípcios sobre papiros ou peles de cabra, se manuscritos pelos monges da Idade Média, se impressos em papel depois que Gutenberg inventou a imprensa, se guardada na forma eletrônica mais moderna e atualizada. Independentemente da forma física como chegaram até os nossos dias, as preocupações existenciais do homem nas diversas épocas da história, suas percepções perante o desconhecido ou inusitado, suas reflexões a respeito dos mistérios e incógnitas da vida, da natureza, do universo e de Deus, suas manifestações literárias, estéticas e artísticas, a maneira de lidar com o quotidiano,  têm em comum, o que faz com que seus autores, mesmo mortos, continuem vivos através de suas obras e estas,  embora mudas, falem do passado, apresentado na forma, na dinâmica e na percepção das coisas, prórpia de cada época e de cada autor.

Fiquemos com o que costumamos chamar de livro, personagem   central de uma biblioteca e de uma feira do livro, como sugere o próprio conceito. Numa ponta o poeta canta as maravilhas e as belezas da natureza, fazendo vibrar as cordas mais sensíveis da alma humana. Na outra ponta engenheiros e técnicos de todos os feitios e especialidades, munidos com seus modelos matemáticos e suas ferramentas metodológicas, desenham e formulam  os inventos e os projetos, que abrem semprer novos caminhos e novas modalidades,  impulsionando o progresso em busca da sastisfação das necessidades materiais, tonando menos sofrida a vida do quotidiano. Entre os  dois extremos, a poesia como experssão suprema da arte e a tecnologia como motor do progresso material,  situam-se as demais obras e autores que cobrem o interminável e complexo espectro das demandas da natureza humana e das suas potencialidades em expressá-las. A litertura reigiosa, a litratura filosófica, a literatura histórica, a literatura científica,  a literatura de fixão, a literatura pedagógica, a literatura infantil, a literatura específica das letras e artes, enfim, tudo que, de alguma forma, nos toca, está presente numa biblioteca e numa feira do livro e merece o nosso respeito e reverência. Merece-o porque fala de alguma das muitas facetas do humano no homem, assim como ele foi percebida numa época e em cicunstâncias determinadas, por um personagem, um autor, um escritor, na sua forma única, ideosincrática, de ver e julgar as coisas.

Com isso conclue-se de que uma discussão  de qual é o setor mais importante de uma biblioteca ou de uma feira do livro, resulta numa pura e simples perda de tempo. Para começo de conversa, cada obra, cada artigo publicado, cada página impressa, cada reflexão solitária registrada, tem valor em si. Por isso mesmo merece respeito todo aquele que decide colocar no papel, para quem quiser tomar conhecimento, seus interesses,  suas preocupações, suas esperanças, seus sofrimentos, suas frustrações, seus sonhos, seu gozo literário e artístico, suas crenças, suas utopias. Todos à sua maneira credenciam-se a integrar um dia a galeria dos personagens que, mesmo mortos, continuam vivos e, através das suas obras, embora mudas, continuem falando durante milênios. Para tanto não é preciso escrever obras de muitos volumes, nem obras que vasculham as raizes da natureza humana, especulam sobre a origem do universo, perguntam pela origem do homem e seu destino ou discutem o lugar ou o não lugar de Deus na Natureza.  Basta uma página, um verso, uma linha quem sabe, talvez uma sentença, para que seu autor se torne um imortal e sua obra, embora muda, continue falando. A Ilíada e a Odisséia fizeram com que Homero ainda hoje esteja tão vivo como há três mil anos atrás, seus milhares de hexâmetros continuam falando dos herois e das guerras duma época que se perde nas brumas do tempo. Da mesma forma milhares de provérbios de autores conhecidos ou não, como ecos sempre repetidos, relembram princípios e valores consolidados por séculos pelos diversos povos. Funcionam, por assim dizer como a voz da consciência para chamar a atenção aos desvios cometidos no comportamento esperado das pessoas no seu dia a dia. Por isso mesmo, funcionam como um instrumento peagógico de alta eficiência. Quem não se lemmbra ter ouvido da pai, da mãe, do professor, do vizinho ou de qualquer outra pessoa: o ócio é mãe de todos os vicios; uma mula esfrega-se na outra, os semelhantes costumam encontrar-se; a mentira tem pernas curtas, o  melhor dos homens, quando corrompido, transforma-se no pior dos corruptos; a ocasião faz o ladrão; não distribua o peixe de graça, ensina a pescar.... e por ai vai. Sistemas filsóficos inteiros desevolveram-se  partir de uma simples reflexão anotada num papel, como o “penso, logo existo, de Descartes.

Com isso não se  pretende afirmar que a nível de repercussão prática, todas as obras escritas pelo homem tenham mesmo alcance. Neste sentido as epopéias de Homero ou Virgílio, a República de Platão, as “Confissões de Santo Agostinho”, a “Suma Thologica de Tomás de Aquino, A Encilopédia Francesa, o Kapital de Carl Marx, A Origem as Espécies de Darwin, os Lusíadas de Camões, o Don Quixote de Cervantes, as Odes de Horácio, o Príncipe de Maquiavel, o Werther de Goethe, etc., etc. e, não esquecendo evidentemente a Bíblia e o Alcorão, certamente não podem ser comparadas com os primeiros passos de um escritor principiante ou dos primeiros ensaios de aluno do ensino médio.

Por isso mesmo, para quem tem a suficente sensibilidade e interesse para perceber a importância dos valores perenes da humanidade, as bibliotecas assemelham-se a templos. Sugerem e esperam uma atitude de veneração para quem as frequenta. Caminhar sem compromisso, por entre as estantes de uma biblioteca e admirar os livros disciplinadamente enfileiradas nas bandejas, vem a transformar-se num prazer difícl de definir. Concentrar-se e, na medida em que se identificam autores e obras, convencer-se de que, embora mortos há décadas, há séculos ou até milênios, continuam falando numa linguagem muda inteligível para uma pessoa minimamente preparada. E quando se dispõe de tempo para abrir a esmo obras nos diversos setores de uma biblioteca, as surpresas podem ser muitas. Topamos com autores que foram decisivos  no despertar para o gosto pela leitura, pelo saber e pelo conhecimento. Podem ser experiências únicas. Vivi um desses momento quando organizei a biblioteca histórica dos jesuitas guardada na Unisinos. Encontrei lá um exemplar do primeiro livro que li há 74 quatro anos atrás. Foi uma sensação única poder folhear novamente aquelas páginas impressas  em letra gótica miuda, de um autor islandes descrevendo a infância em companahia do irmão, naquela ilha gelada do Ártico. Foi amor à primeira vista pelos livro, pelas  bibiotecas, pelos acervos documentais e, obviamente pelas feiras de livros de todos os tamanhos, destinadas, de um lado para os novos autores apresentarem o resultado dos seus talentos e, do outro, estimular a leitura como alimento espiritual entre adultos, mas de modo especial para despertar o maior número possível de  leitores entre as crianças e os jovens.


E assim chegamos  a Feira do Livro. Como já afirmamos mais acima, biblioteca e feira de livro são conceitos mutuamente complementares. Se as bibliotecas são os santuários onde os livros de todos os tamanhos, formatos, conteúdos e épocas são guardados e postos à disposição dos leitores e pesquisadores, as Feiras de Livro podem ser consideradas as janelas, as vitrines, para chamar a atenção do grande públlico e estimuá-lo para a importância da lelitura. De outra parte a Feira da Livro oferece o cenário ideal para os novo talentos apresentarem ao público suas produções, sentirem a satisfação impar de escrever dedicatórias em suas obras recém lançadas. E, por fim, no caso específico de São Leopoldo, servir de ocasião para divulgar a sua importante história de fomento à cultura, entendida no sentido mais lato e estimular  os escritores já em plena produção, despertar novas vocações para escrever e apoiar os produtores e divulgadores da ccultura. E em último lugar chamar a atenção  às entidades particulares e públicas diretamente comprometidas com o progresso e o   bem estar material, humano e espiritual, tem o  aliado mais poderoso numa comunidade que lê e assim eleva e  aprimora cada vez mais o seu nível  cultural.

This entry was posted on quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.