A abertura da Feira do Livro de
São Leopoldo, oferece ao público da cidade, da região e além dela, mais uma
demonstração de apreço à sua memória histórica. Neste sentido o atual município
e, por extensão, os demais que se originaram do seu território original, ocupam
um lugar todo especial entre os demais municípios do Rio Grande do Sul.
A Feitoria Imperial do Linho
Cânhamo foi o cenário e o foco de irradiação, logo após a Independência do
Brasil, de um projeto de desenvolvimento econômico e promoção humana, até então
desconhecido no País. À economia da monocultura do algodão, da cana e do café e
a criação de gado, praticadas em imensos latifúndios e estâncias, veio
acrescentar-se a pequena propriedade rural. Com menos de 100 hectares, operada
pelo trabalho livre das famílias, produzia alimentos a partir da policultura.
Uma classe média rural sadia e produtora foi-se formando e preenchendo o fosso
existente entre o poder político e a riqueza do latifundiário e a situação
deshumana da escravaria. Não é nem o lugar nem o momento, de entrarmos mais a
fundo no significado desse novo modelo
civilizatório e seus potenciais em termo
desenvolvimento econômico e promoção humana.
Por ocasião da bertura da 28ª
Feira do Livro, quero apontar alguns dos elementos que, a partir dessa nova
realidade, fizeram de São Leopoldo um polo de irradiação único.
Os imigrantes que se fixaram
aqui, a partir de 1824, procedentes da Europa Central e do Norte, eram pessoas
livres, instruídas, religiosas e, sobretudo decididas a construir a futura
querência para os filhos e filhos dos filhos. Não pouparam esforços para não
perderem os valores mais preciosos da sua tradição quase duas vezes milenar: a
cultura, a fé, o trabalho, a família e a
comunidade. Recorreram aos meios que eles sabiam serem os mais eficases para
não fracassarem em meio às dificuldades, onde era preciso construir tudo a
partir do nada. As comunidades organizaram-se em torno de suas escolas,
capelas, oficinas, casas de comércio e locais para a prática da cultura e do
lazer. Católicos e protestantes, cada qual à sua maneira, organizaram seus
cultos aos domingos. Os protestantes contaram com pastores desde o começo, os
católicos somente a partir de 1849. As duas Igrejas começaram tomar forma
definitiva durante a segunda metade do século XIX. Os católicos com a
multiplicação de paróquias e formação do clero nativo; os protestantes com a
vinda de pastores ordenados e implantação do Sínodo Riograndense.
No plano educacional São Leopoldo
veio a sediar as primeiras instituições de ensino médio no sul do Brasil, com a
fundação do Ginásio Nossa Senhora da Imaculada Conceição dos jesuítas em 1869 e
em 1872, o Colégio São José das irmãs franciscanas. As duas instituições
polarizaram a formação do ensino médio da juventude masculina e feminina da
cidade, de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e até de Santa Catarina e Paraná,
durante 30 anos. O Conceição encerrou suas atividades no ensino médio em 1910.
Mas, já em 1913 seus prédios receberam os seminaristas menores do ensino médio
e os maiores da Faculdade de Filosofia e Teologia, como primeiras instituições
de ensino superior na área humanística do sul do Brasil. Até 1956, formaram-se
nessas faculdades gerações de sacerdotes diocesanos e religiosos, mais de uma
dezena de bispos e arcebispos e um cardeal arcebispo do Rio de Janeiro. Em 1958 os vetustos prédios do centro de São
Leopoldo, acolheram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e, em seguida,
a Faculdade de Ciências Econômicas, a Faculdade de Direito e a Faculdade de
Arquitetura. Em 1969, elas deram origem
a Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Já no século XX os protestantes
implantaram no Morro do Espelho o Colégio Sinodal, hoje uma das instituições de
ensino médio mais bem avaliadas do País e a Escola Superior de Teologia,
detentora do conceito máximo concedido pela CAPES a programas de pós-graduaçãp.
Mas não páram aqui os méritos
culturais de São Leopoldo. Ao abrigo dos dois polos de alta cultura: o
Conceição – Seminário Central – Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Sinodal
e Escola Superior de Teologia, formaram-se bibliotecas com centenas de milhares
de volumes, além de importantes acervos documentais. Nelas notabilizaram-se
dezenas de mestres apreciados e influentes, escritores, cientistas e
pisquisadores, alguns de renome internacional. Elevando mais uns pontos a importância
histórica de São Leopoldo, aqui nasceram dois dos jornais mais influentes que
circularam no Esado e fora dele, até a década de 1930: “Deutsches Volksblatt”
dos católicos editado desde 1872 nos fundos do jardim do Conceição e o
protestante “Die Post”. E como se tudo isso não bastasse a Casa Editora
Rotermund foi na época a maior editora de livros didáticos da América Latina.
São Leopoldo tornou-se também
referência com seu movimentado porto fluvial, com a estação da estrada de ferro
e a faixa de cimento ligando a cidade à capital do Estado, com a primeira usina
hidroelétrica de maior porte, como polo industrial, comercial e de serviços, em
franca expansão e sede de guraniçoes miltiares estratégicas, três até meados da
década de 1960. Essa dinâmica, apesar dos altos e baixos, encontra-se novamente
em ebulição com seus centros e parques tecnológicos e distrituos industriais de
alto nível, a Universidade do Vale do Rio dos e Escola Superior de Teologia,
para referir apenas o ensino sumperior
Mas é no estímulo à cultura em
geral, à pesquisa histórica, à inovação tecnológica, ao desenvolviemtno de
projetos de natureza ambiental e de sutentabilidade, na produção literária e
artística, que São Leopoldo dá novamente provas consistentes e vibrantes, de um
epicentro promissor. Nele as atividades culturais, literárias, científicas e
artísticas, encontam seus entusiastas, reunidos nos mesmos propósitos, tanto no
Instituto Histórico de São Leopoldo, quanto no Museu Histórico, no Museu do
Trem, no Centro Literário, no Centro de Cultura, nas entidades de classe, nos
clubes sociais, nas escolas, nos colégios e, de maneira especial, nas instituições de alta pesquisa e produção
literária: A Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Instituto Anchietano de
Pesquisas e na Escola Superior de Teologia. E, em meio a tudo isso é preciso
destacar o compromisso e o apoio irrestrito do Governo do Município, na pessoa
do seu prefeito, Dr. Aníbal Moair da Silva, através da Secretaria de Educação e
Cultura, na pessoa do Viceprefeito Daniel Daudt, que acumula a responsabilidade
por essa Secretaria .
Senhoras e senhores. É neste
cenário histórico e neste clima efervescência cultural que a atual geração dá
demonstração de copromisso redobrado em favor da cultura, expressa na
literatura, na arte e na pesquisa de alto
nível em praticamente todos os segmentos do conhecimento, temos a honra de
abrir a 28ª Feira do Livro de São Leopoldo, Ramiro Frota Barcelos. Por uma
feliz escolha da Comissão Organizadora da Feira, o evento acontece no local que
já foi palco de intensa movimentação: A velha estação da Viação Férrea do Rio Gande do Sul. Aqui
desembarcaram ou transitaram autoridades políticas, militares, comerciantes,
caixeiros viajantes, padres, pastores, religiosos e religiosas e pessoas comuns
de todas as idades e condições sociais, em busca dos seus objetivos no Centro,
no Oeste, no Noroeste e no Norte do
Estado ou em trânsito para Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Quantas
histórias poderia contar esta velha estação importada da Inglaterra, os trilhos
da famosa metalúrgica Krupp da Alemanha, o vetusto telégrafo, os vagões, tudo
transformado em museu. Num museu que não apenas guarda a arquitetura, os
objetos, os documentos e os equipamentos
operarcionais da ferrovia, mas um espaço permanente de programações culurais de
todos os feitios e níveis. Por isso a opção para sediar a 28ª Feira do Livro
não poderia ter sido mais opotuna e significativa.
A partir desta noite até o dia 8
de dezembro o personagem central, a razão de ser de as pessoas circularem por este lugar, é sua majestade o
livro. Enquanto o moderno trem metropolitano, estaciona, por assim dizer, acima
das nossas cabeças na estação, que oferece tudo que a moderniade do começo do
terceiro milênio exige, nós nos reunimos no espaço que, há quase 150 anos, foi
um marco um momento hsitórico cujo significado é de difícil avaliação. Contrastando com as locomotivas de última geração, dormentes
de concreto e aço, bitola larga, escadas rolantes, lojas e instalações para atender as necessidades de
hoje, a velha estação, parecendo uma casa de boneca, a Maria Fumaça, o velho
telégrafo, as pessoas com seus trajes de moda da época, os personagens que
marcaram uma época que se perde nas brumas do tempo, homenageamos sua majestade
o livro. Deve-se a ele que, apesar dos altos
e baixos, não ocorressem lacunas significactivas nessa história que se aproxima
dos 200 anos. São Leopoldo continua
sendo um polo de efercescência cultural,
e a Feira do Livro o momento privilegiado para estimular e renovar o gosto pela
leitura e, de modo especial para despertar nas crianças o gosto pelos livros.
De outra parte a Feira do Livro oferce o cenário ideal para os novos talentos apresentarem ao público as suas produções e os autores sentirem a satisfação ímpar de escrever dedicatórias em suas obras. E,
por fim, no caso de São Leopoldo, divulgalr sua iimportante história de produção e fomento à cultura,
entendida no sentido mais lato do termo e estimular os escritoroes e plena
produção a não desanimarem na sua jornada, despertar novas vocações para
escrever e apoiar os produtores de divullgadores da cultura. Em último lugar,
chamar a atenção às lideranças públicas e privadas, comprometidas com o
progresso e o bem material, humano e espiritual, de que o aliado mais poderoso
com quem podem contar sempre, é uma comunidade na qual se escreve e se lê cada
vez mais.