Fronteiras de colonização #3

Para evitar contratempos na implantação da nova fronteira de colonização a Associação dos Agricultores tomou algumas providências. Entregou a Diretoria Central a responsabilidade a competência para da andamento e execução  à obra. Além disso foram tomadas outras iniciativas para facilitar a consolidação da obra. Obedecendo ao disposto na resolução de nº 7 da Assembleia Geral, em cada município foram credenciadas uma ou duas pessoas para orientar os candidatos à emigração para a nova colônia. Essa providência tinha as suas razões. Estava em jogo um empreendimento de grandes proporções. Os desejosos de se estabelecer na nova fronteira de colonização eram, na totalidade, filhos de agricultores, simples, confiantes e até ingênuos, dotados de uma enorme vontade de construir o futuro em terras virgens e, não poucos, movidos por um tal ou qual espírito de aventura. Compreende-se assim que se generalizara um clima  favorável para todo tipo de espertalhões aproveitarem-se da ocasião. Como sempre acontece em tais circunstâncias, apresentam-se aqueles que ofereciam terras quase de graça, outros vendiam terras inexistentes, outros ainda vendiam duas ou mais vezes a mesma colônia. Prometiam-se våantagens e facilidades impossíveis e sempre havia os desavisados que se deixavam enganar. Por isso, pessoas bem informadas sobre os detalhes da colonização e merecedoras de confiança tinham condições para diminuir em muito esses riscos.

Mais duas providências foram acrescentadas que podiam ser aplicadas também em iniciativas de colonização fora da jurisdição da Associação dos Agricultores, em colônias estaduais como de Santa Rosa, municipais como de Santo Ângelo, de companhias colonizadoras particulares ou mesmo empreendimentos de pessoas físicas, já em andamento na região da Serra e avançando para o Alto Uruguai. Insistiu-se que, em primeiro lugar, que os colonizadores formassem, quanto possível, grupos maiores de pessoas que se conheciam. Desaconselhava-se a dispersão entre colonos estranhos. Esse tipo de medida tinha como objetivo imediato facilitar o começo de uma nova vida em situações normalmente precárias. Facilitaria também a organização de novas comunidades. Houve também consenso entre os participantes da Assembleia, católicos, protestantes e italianos e que o povoamento se desse à base de comunidades confessional e etnicamente identificadas. Essa preocupação ficou expressa na resolução de nº 9 da Assembleia: “Ao se tratar de assentamentos novos, expressou-se o desejo generalizado de que fosse sugerido o critério da separação por confissão religiosa”.

Fazer da confissão religiosa um critério para orientar novos assentamentos, pior ainda por etnia, soa aos ouvidos de hoje como algo inaudito, um contrassenso, um atentado de tudo que se prega por aí como sendo politicamente correto, sobre inclusão e outras palavras de ordem. Na primeira década do século XX, porém, figurava entre os procedimentos perfeitamente normais. Embora na Associação dos Agricultores, católicos e protestantes, padres e pastores, representantes da colônia italiana e do meio luso-brasileiro, analisassem e debatessem juntos a problemática colonial e, unidos, procurassem soluções para todo o tipo de desafio, contudo sob o aspecto teológico e doutrinário assim como no cultivo das tradições de cada um permaneciam cada qual fiel à sua. O respeito mútuo pautava o relacionamento confessional e étnico. De um depoimento publicado no “Bauernfreund”, nº 5, 1903, p. 37, consta:

O que se pode prever é que  a Associação contribuirá grandemente para a preservação do relacionamento confessional pacífico entre católicos e protestantes. Pois, logo nos primeiros contatos muitos dos irmãos da outra confissão mostraram vontade e determinação de  se filiarem à Associação. E, de fato, a Associação compõe-se hoje de quase metade de protestantes, uma prova de que eles não se orientam por uma mentalidade estreita e exclusivista e, ao mesmo tempo, constitui-se numa prova de que na colônia reina um espírito de boa convivência entre os irmãos separados pela religião.

Um outro aspecto da questão mercê ser apontado. Estamos a 6 décadas do Concílio Vaticano II. Um católico casar com uma protestante ou vice-versa, acarretava numa série de inconvenientes e obrigava à sujeição de cláusulas canônicas hoje ultrapassadas. Ao católico proibia-se servir de padrinho num batizado protestante. Frequentar o culto numa igreja evangélica era interpretado como uma atitude herético, passível de excomunhão. De outra parte, não se admitia padrinho protestante em batizado católico e o cônjuge protestante num casamento misto, era obrigado a prometer educar os filhos como católicos, e não interferir nas convicções do parceiro ou parceira. Para as gerações do começo do terceiro milênio, fica difícil de entender esses preceitos canônicos. Acontece que até o concílio Vaticano II, faziam parte dos critérios que regulamentavam as relações interconfessionais entre católicos e protestantes.


Certos ou errados os critérios utilizados, discutível ou não a orientação seguida, católicos e protestantes foram capazes de deixar de lado as diferenças e as querelas de natureza doutrinaria e confessional, para naquelas circunstâncias únicas, para unidos, colocarem os fundamentos da sociedade colonial no noroeste do Rio Grande do Sul no começo do século XX. E, enquanto é possível avaliar acertaram o rumo e escolheram as estratégias corretas e empregaram os meios eficazes. O resultado está aí para comprová-lo. Nas Missões, no Alto Uruguai e na região da Serra fervilha em centenas e milhares de propriedades, uma próspera atividade agrícola em constante crescimento. Os métodos e as técnicas  acompanharam a evolução da história. Modernas rodovias substituíram as precárias trilhas de cem anos passados. Os resultados da produção avolumam-se a cada ano, agroindústria e o agronegócio estão em alta. Espalhada pela colônia ou concentrada em vilas e cidades de tamanho pequeno ou médio, vive trabalha uma população progressista e próspera.

Frentes de colonização #2

O passo seguinte foi a aquisição de uma área para começar imediatamente o assentamento dos primeiros colonos. Com essa finalidade fora convidado para a Assembleia o dr. Horst Hoffmann, procurador da Companhia Colonizadora da Estrada de Ferro Noroeste. Sua explanação sobre  as atividades colonizadoras da Companhia que representava, causou a melhor das impressões. Seu discurso objetivo não fazia transparecer segundas intenções. Finalizando, propôs que a Associação dos Agricultores escolhesse uma comissão para, às expensas da Companhia que representava, realizar in loco uma inspeção da área oferecida. Acolhida a proposta, uma comissão encabeçada pelo Pe. Max von Lassberg, viajou para Serro Azul e, tomando o relatório como base, a Associação acertou a compra do complexo de terras que hoje formam o município de Cerro Largo e arredores.

O Pe. Lassberg deixou, no livro de suas “Reminiscências” um relato, não muito longo mas detalhado do que foi aquela viagem para avaliar as possibilidades de uma colonização em grande escala das terras oferecidas pelo sr. Horst Hoffmann e pertencentes à “Ferrovia Noroeste”.

Aconteceu assim: tornou-se cada vez mais premente a necessidade de novas áreas para atender à demanda da população em crescimento. Já na assembleia geral dos católicos em Harmonia, no ano de 1898, o assunto foi seriamente discutido. Não demorou e as atenções voltaram-se para as antigas Missões no oeste, mais exatamente sobre Serro Pelado no rio Uruguai. Pedi e obtive autorização para seguir até lá, contanto que no mínimo 20 famílias se decidissem assentar-se no local. Quando fiz pública a proposta, imediatamente todos emudeceram. Sobraram um solteiro e um pai de família e este ainda mostrou dúvidas. Assim, o empreendimento não deu em nada. A providência divina colaborou, como me pude certificar mais tarde. Na época a colonização de Serro Pelado ter-se-ia defrontado com dificuldades insuperáveis e provavelmente fracassado. Foi quando apareceu na assembleia geral da Associação dos Agricultores, em fevereiro de 1901, em São José do Hortêncio, o dr. Horst Hoffmann, representante da Companhia Alemã  de Estradas de Ferro Noroeste. Propôs à Associação uma parceria na organização da colonização  na área da concessão de terras ao longo da planejada estrada de ferro. Sugeriu ainda que a Associação mandasse até lá imediatamente, às expensas da Companhia, uma comissão a fim de examinar a região do atual Serro Azul, onde o empreendimento deveria ter início, e emitir uma opinião sobre ela. Eu não estive na Assembleia. Falando honestamente: a precipitada fundação da Associação dos Agricultores não fora do meu gosto. Mais tarde engajei-me para, da minha parte, apoiar e promover o bem que a Associação seria capaz de realizar. A proposta foi aceita com alegria e foi formada uma comissão de 10 homens, católicos e protestantes. Deveria acompanhar um padre católico e um pastor protestante. Na última hora o pastor Kreuzer teve um contratempo. Como padre católico, o superior da Missão, Pe. Faeh, indicou a minha pessoa. Não me agradou e aleguei: 1º de momento não me sentia bem, estava cansado e tinha trabalhado em excesso; 2º parecia-me que para essa tarefa o Pe. Amstad era muito mais indicado. O Pe. Faeh, porém, respondeu sem qualquer rodeio: ‘O senhor viaja com eles’. Desta maneira estavam superadas as minhas objeções e dificuldades. Fiz-lhe saber então: ‘Neste caso vou levar a sério a minha tarefa e peço autorização para não ficar apenas alguns dias com a delegação, mas demorar-me por mais tempo na região para conhecer também as redondezas e verificar as condições relativas a uma expansão, as estradas e muitos outros aspectos fundamentais para começar uma para iniciar uma colônia organizada, tão importantes como  local inicial dos assentamentos’. ‘É a minha opinião sincera também’, disse o Pe. Faeh.  ‘Por isso é meu desejo que fique por mais tempo e proceda uma boa avaliação’.

Em fins de abril fomos a cavalo até Serro Azul. A permanência aí foi de uns três dias, parcialmente perturbados pela chuva. Mas  o tempo foi bem aproveitado por todos e percorremos com assiduidade as picadas em medição em todas as direções no mato e dentro das possibilidades avaliamos tudo. Antes da viagem de volta, reunimo-nos e conferimos as nossas observações, trocamos impressões, informamo-nos com a direção sobre muitos aspectos e, de posse desses dados, redigimos um parecer compreensivo, assinado por todos, incluindo tudo que foi observado. O documento deveria ter sido publicado imediatamente no “Bauernfreund”, órgão oficial da Associação dos Agricultores, com a finalidade de esclarecer a todos que aguardavam notícias. Conforme o plano acima mencionado, fiquei para trás e realizei muitas excursões, até a margem argentina do rio Uruguai. Só em fins de junho regressei a Porto Alegre e Feliz.

Para meu espanto o parecer não tinha sido publicado ainda. Na viagem de volta a Feliz enviei um escrito mais longo pra a diretoria da Associação, redigido pessoalmente por mim, baseado nas observações feitas e com a intenção de uma ulterior implementação do relatório. Não sei se o escrito chegou ao destino ou sequer foi lido; nunca mais soube nada a respeito. O nosso parecer foi publicado em julho no “Bauernfreund”. A folha publicou em alguns números posteriores matérias sobre Serro Azul de forma correta, referindo as diversas preocupações e as possíveis soluções. Da parte da Associação não aconteceu mais nada. Não sei a razão da demora.

Depois de vencermos muitas dificuldades  -  entretanto o decidido Pe. Faeh tinha falecido  -, viajei, desta vez sem credencial e sem ajuda da Associação dos Agricultores. Partimos nos últimos dias de setembro em companhia de 12 colonos. NO dia 4 de outubro de 1902 chegamos à casa do imigrante em Serro Azul. Como primeira tarefa esfiapamos palha de milho apa passar a noite. Poucos tinham levado arreios, e a bagagem chegou só mais tarde. Foi a data natalícia da hoje florescente colônia. Na manhã seguinte, na casa do imigrante, rezei a primeira missa na nova colônia.

Dos 12, três voltaram; um deles era um homem de muito valor, voltou por circunstâncias familiares; um segundo tinha a cabeça cheia de fantasias; o terceiro não encontrava cachaça suficiente para a muita sede. Os outros nove puseram mãos à obra com muito entusiasmo e confiança em Deus. Perseveraram apesar de todas as fadigas e experimentaram a bênção de Deus. Esses foram os primeiros começos de Serro Azul.

Somente um ou dois anos mais tarde aconteceu a transferência para a Associação dos Agricultores. Certo dia veio ter comigo em Dois Irmãos o representante da Companhia Ferrovia Noroeste. Informou-me que a Companhia pretendia liquidar o empreendimento, mas de qualquer forma desejava garantir a continuidade da colonização começada. Considerou isto e aquilo para chegar à proposta que lhe teria sido feita a partir da Europa, isto é, vender a colônia para a Associação dos Agricultores. Tive que rir  porque a Associação recém fundada e com poucos vinténs em caixa, fosse lançar-se a um empreendimento de tal monta. Ela não precisa de dinheiro, interveio ele. O pagamento será feito na medida em que as colônias forem vendidas. Com isso, iniciaram-se prolongadas  negociações, até que finalmente a Associação dos Agricultores assumiu de direito e legalmente a colônia; de então em diante ela se desenvolveu rápida e brilhantemente.

Eu teria tanta coisa a contar sobre estes primeiros começos de Serro Azul. Minha intenção, entretanto, é contar “reminiscências” e não fazer história. É óbvio que imediatamente se fizessem ouvir invejas e maledicências em abundância sobre o assunto, não poupando nem a minha pessoa. NO Congresso dos católicos em Dois Irmãos 3m 1903 fui provocado para dar explicações: Atribuíram-me ganhos de milhões com a colonização, que eu teria embolsado. Escutei alguma coisa de 7 milhões. Apesar disso meus bolsos estão vazios. Quais os meus ganhos? Quais os dividendos que lucrei? Pés e mãos inchados, picados por mosquitos e bichos-de-pé. Roupas rasgadas pelos espinhos e a pele arranhada até o sangue. Este é o meu lucro e a minha parte no negócio. Estou satisfeito com ele.

Depois vieram os pesados e duros dos começos em Serro Azul. Seca, más colheitas, gafanhoto, doenças e outras provações mais ameaçavam  sua existência. No final de um mês o diretor, com quem eu dividia quarto e comida na casa da imigração, constatou que as nossas despesas por pessoa e por dia importavam em 130 réis. Feijão, arroz e algum toucinho acompanhado de farinha de mandioca e café preto, de vez em quando alguma caça do mato, era tudo. Não havia pão. Todo e qualquer começo é difícil e antes de mais nada cada grande empreendedor deve estar preparado para muitas inimizades. Experimentei-o muitas vezes, também em outros assentamentos na floresta virgem, dos quais participei. Apesar de tudo, sempre estive satisfeito e fiquei velho. Em Serro Azul aconteceu o começo quase imperceptível de uma florescente colonização no oeste do Estado. Valeu a pena celebrar festivamente os 25 anos desta fundação. Devido ao mau tempo a festividade foi transferida do dia 4 para o dia 5 de outubro de 1927. Que vida e que animação! Todas as 20 escolas da paróquia de Serro Azul com seus professores fizeram-se presentes vindas a pé, a cavalo, de automóvel, em carroças de bois ou mulas. Presentes estavam em torno de 1400 crianças sem contar os adultos. Todos juntos, cantaram durante a minha missa na magnífica e grandiosa igreja, nossos belos cantos alemães. Depois, formou-se um grandioso cortejo festivo até o lugar onde antigamente ficava a casa do imigrante. Lá, exatamente no local onde havia então rezado a primeira missa, os moradores erigiram uma grande e vistosa cruz, para recordar o fundação da colônia. Ajoelhados agradecemos a Deus. Os primeiros fundadores, todos ainda vivos e que tinham assistido naquela ocasião à primeira missa, ajoelharam comigo na frente da cruz. Que diferença de então e hoje! Já não faltavam gêneros alimentícios. Para o almoço foram distribuídos entre as crianças 400 quilos de linguiça e centenas de pães, para que ninguém passasse fome e todos pudessem participar no lugar da festa de jogos divertidos, fazer apresentações artísticas e à noite voltar de alma lavada para casa.


Em março de 1928, ocorreu uma brilhante comemoração posterior com a realização do grande Congresso dos Católicos. Sobre ele os jornais de dentro e fora do País já relataram muita coisa.

Frentes de Colonização #1

No final do século XIX, setenta anos depois da chegada dos primeiros imigrantes alemães, um dos grandes problemas a desafiar a Associação Rio-grandense de Agricultores recém fundada, veio a ser a saturação  populacional da  assim chamada região colonial antiga nos vales do Sinos, Caí, Taquari, Pardo e Jacuí. Entre as diversas causas destacamos três: A pequena propriedade rural; a alta taxa de natalidade; a baixa mortalidade infantil.

Quanto à primeira, merece destaque que os lotes coloniais destinados para as primeiras levas de imigrantes, mediam 77 hectares. O tamanho foi diminuindo no correr das décadas, até 25 hectares nas últimas fronteiras de colonização no oeste de Santa Catarina e oeste do Paraná. Praticava-se a agricultura de subsistência e empregavam-se métodos primários e até rudimentares no manejo da terra. O mato era derrubado e, depois de seco, queimado e o solo arável assim conquistado usado até a exaustão. Todos os anos abatia-se mais um eito de mato. Entende-se assim que a escassez de terra fértil se tornasse em  pouco tempo uma dura realidade. A recuperação dos solos esgotados dava-se pelo repouso de alguns anos. Cá ou lá recorria-se à adubação utilizando estrume de animais ou a plantação de alguma leguminosa como adubo verde. Nessas condições subdividir a propriedade significava condenar à miséria as  famílias que dependiam delas. Esse lado da questão assumia características ainda mais preocupantes, quando se toma em conta de que o milho, o feijão, a batata e a mandioca eram as variedades mais cultivadas, exigiam solos férteis e áreas consideráveis e, além disso, não se prestavam bem para o cultivo associado.

Quanto à segunda, é fato conhecido que as famílias do começo do século XX eram numerosas e muito numerosas. Casais com 11 ou 14 filhos não eram exceções. Não aro famílias mais numerosas ainda não causavam surpresa. Ao elevado número médio de filhos somavam-se dois outros fatores que estimulavam uma rápido crescimento demográfico, gerando na média duzentos excedentes por ano por 1000 famílias. Normalmente não faltava comida na mesa do colono nem quantitativa nem qualitativamente falando. Os hábitos de higiene e os cuidados básicos com a saúde mantinha-se ne média em níveis razoáveis. Esses fatores somados resultaram numa mortalidade infantil relativamente baixa, acelerando a superpopulação. A grande maioria dos excedentes obrigava-se a procurar terra para cultivar fora da propriedade paterna. No começo do século XX  essa questão tornara-se um dos grandes desafios a ser enfrentado. O avanço convencional e sem maior planejamento sobre áreas devolutas ou em mãos de particulares, já não atendia à demanda. Era preciso encontrar uma solução a médio e longo prazo. A questão entro na pauta da assembleia geral da Associação dos Agricultores, realizada em São José do Hortêncio em 1902.

Expondo a situação aos participantes da assembleia, o Pe. Amstad partiu da realidade estatística revelada pelo elevado índice de excedentes que vinha se acumulando de ano para ano. A conclusão foi que a solução a médio e longo prazo seria possível sob a condição de se encontrarem áreas com dimensões consideráveis e em situação legal definida. Outras exigências deveriam complementar as  duas anteriores: solos férteis, topografia que permitisse a mecanização futura e facilidade de escoamento dos produtos até os mercados consumidores. Após o exame de várias áreas ainda  disponíveis ao norte dos atuais municípios de Lajeado, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Candelária e Cachoeira do Sul, chegou-se à conclusão de que, além de montanhosa, a superfície total era insuficiente.

A opção voltou-se finalmente para as grandes áreas cobertas de florestas virgens da Região das Missões e do Alto Uruguai. Além de uma superfície considerável, em torno de 36000 quilômetros quadrados, os solos eram de excelente  qualidade e a topografia pouco acidentada. O acesso aos mercados consumidores dos produtos coloniais foi o único senão. As grandes distâncias e as precárias vias de comunicação da época poderiam desencorajar os menos afoitos. Nesse particular terminou impondo-se o princípio defendido pelo Pe. Amstad. Segundo ele, na opção entre terras férteis mas com problemas de escoamento e terras de baixa fertilidade próximas aos centros de consumo, deveria prevalecer a preferência pelas terras férteis. De acordo com a sua lógica, áreas em condições de produzir grandes volumes de produtos agrícolas, inevitavelmente acelerariam a melhoria das vias de escoamento e, a médio e longo prazo, induziriam o surgimento de mercados consumidores locais e regionais. De nada servem centros consumidores próximos, se não há mercadorias para oferecer.

E foi esse o ponto de vista que prevaleceu. Imediatamente começaram as tratativas no sentido de a Associação dos Agricultores dar início à colonização naquela região. Na prática a história mostrou o acerto da decisão. Do núcleo original da colonização de Serro Azul, hoje Cerro Largo, as fronteiras de ocupação avançaram sobre as florestas de todo médio e alto Uruguai. A Associação dos Agricultores, no começo, a Sociedade União Popular, a Liga União Colonial, companhias colonizadoras particulares e empreendedores individuais, iniciativas públicas estaduais e municipais, encarregaram-se de transformar a região num vasto e rico celeiro.

A história dessa região do Rio Grande do Sul oferece uma dessas coincidências que fazem pensar. 150 anos antes encerrara-se aí uma das experiências civilizatórias mais controvertidas e mais originais da história das Américas. O tratado de limites entre Espanha e Portugal obrigava os sete povos guaranis a se transferirem para a margem direita do rio Uruguai. Uma resistência no mínimo compreensível da parte dos índios e dos missionários jesuítas não logrou a ressonância nas cortes, nem de uma nem de outra parte. A expulsão dos jesuítas dos domínios de Portugal em 1759 e, em seguida, a supressão da Ordem pelo papa Clemente XIV, levaram as reduções à desorganização, à anarquia, a conflitos internos e ao genocídio. A florescente, a original e magnífica civilização que deitara raízes promissoras no solo rio-grandense, fruto de um trabalho paciente persistente de 150 anos deu lugar  a um melancólico cenário de ruinas e abandono. O mato cobriu as terras cultivadas, invadiu as aldeias, encobriu as praças e apoderou-se dos próprios templos. A cobiça dos lagunenses apoderou-se dos imensos rebanhos que pastavam na “Vacaria do Mar”, no sul do Estado e da “Vacaria dos Pinhais” nos campos de Cima da Serra. Em algumas décadas, a natureza selvagem encobrira, como uma mortalha verde, a espetacular civilização que florescia nas reduções dos sete povos.

Quando no começo do século XX, chegaram aos mesmos locais, não os índios guaranis om seus missionários jesuítas, mas os filhos e netos dos imigrantes europeus acompanhados dos seus pastores, também jesuítas, o mistério do destino dos homens e da História, ainda pairava  sobre a paisagem. Quem tivesse um mínimo de sensibilidade poderia escutar ainda, partindo  das entranhas da floresta ao longo do rio Ijuí ou em  meio ao estrondo do salto do Pirapó, a pergunta pelo porquê  desses desfecho. A resposta foi dada por um jesuíta do século XX, filho dessa terra, descendente de imigrantes e entusiasta admirador da obra missioneira.

A beleza das ruinas antigas, inexistentes no resto do Estado, comunica a essa região um encanto imortal.li, a fé cristã e a civilização europeia, pela primeira vez, firmaram pé nas plagas abençoadas do “Tape” misterioso. alí, nesses campos marchetados  de capões, viajaram a pé a cavalo os Roque Gonzales, os Montoyas, os Romeros. Ali os selvagens, saindo do covil de suas matas, curvaram reverentes perante a cruz aquela soberba cerviz, que a espada dos conquistadores não conseguira. Ali floresceram plantações, pastaram rebanhos sem conta, ferveu uma cultura de intenso dinamismo.

A melancolia da História paira sobre esta paisagem. Tudo que é bom e belo é fadado a fenecer. A inveja entre duas nações irmãs, linhas geográficas traçadas a esmo nos gabinetes de Madri e Lisboa, instintos interesseiros, ódio à religião – um dragão de sete cabeças se arremessou sobre as reduções, baniu os missionários, fez debandar os índios, votou à ruina os templos. Os restos de São Miguel, de São Lourenço, de São João Velho, invadidos pela vegetação, por longo tempo aproveitados como pedreiras, falam uma linguagem muda, mas eloquente de acusação contra o mistério da humana iniquidade. (Rambo, Balduino. A Fisionomia do Rio Grande do Sul. 1942, p. 323)

Os critérios determinantes portanto, que levaram à escolha das terras virgens do médio e alto Uruguai, foram o tamanho da área, a fertilidade do solo, a topografia pouco acidentada e perspectiva de bons mercados a médio e longo prazo. E a evolução da colonização demonstrou o acerto da escolha.


(NB. Continua na seguinte postagem)

Imigração e meio ambiente - Parte #4

A preocupação para com o ambiente natural, a preservação da natureza original, a recomposição da paisagem adulterada pelo homem, encontrou adeptos qualificados na década de 1930 e 1940. Seria muito longo enumerá-los todos no âmbito limitado de uma palestra. Como referência, escolhi o Pe. Balduino Rambo, maior botânico que o rio Grande do Sul já conheceu, inventariante incansável da flora do Estado e sincero admirador da nossa paisagem natural. Em maio de 1942, apareceu a primeira edição da sua obra prima, intitulada “A Fisionomia do Rio Grande do Sul”. Nela o autor retratou o Estado do Rio Grande do Sul em todos os seus aspectos naturais mais significativos, tais e quais se apresentavam no final da década de 1930:  a geologia, a topografia, a cobertura vegetal, campos, matas, áreas agrícolas, animais, clima, paisagens humanizadas. O último capítulo ele dedicou a considerações sobre a proteção à natureza. Sendo difícil acrescentar alguma coisa ou omitir outro tanto, é pertinente reproduzir o texto original.

O homem filho desta terra, que fornece o pão de cada dia e os símbolos da vida espiritual, sente um respeito inato perante a fisionomia desta sua mãe e pátria. Enquanto o espaço é suficiente e a densidade  demográfica pequena, não se tornam muito conscientes tais sentimentos; mas no momento em que as necessidades brutais da vida forçam a interferir sempre mais na expressão natural do ambiente, desperta a dor perante a destruição de suas feições naturais, e o desejo de as conservar, senão no conjunto, ao menos em alguns lugares e nos traços mais característicos.

Assim no curso de todas as culturas humanas, mais cedo ou cedo ou mais tarde, surgem as tendências de proteção ativa da natureza; um povo que se descuidasse deste elemento, seria falto dum requisito essencial da verdadeira cultura humana total, e indigno  da terra, com que a pródiga mão do Criador  o presenteou.

Sob a rubrica de proteção à natureza vai a conservação dos monumentos naturais, das espécies botânicas e  zoológicas periclitantes, das paisagens típicas e originais – tudo isso enquanto as necessidades concretas da sociedade humana o permitirem. A proteção à natureza, em primeiro lugar está a serviço das ciências naturais, antropogeográficas e históricas; em segundo lugar, baseia-se sobre o princípio da ética natural, que considera imoral a destruição desnecessária  ou inconsiderada dos tesouros da beleza nativa; em terceiro lugar, protegendo o que há de precioso, restaurando o que já sucumbiu, acomodando as obras da mão humana ao estilo da terá, torna-se um aliado de valor da higiene e pedagogia sociais, e um adjutório indispensável da educação nacional. (Rambo, Balduino. A fisionomia do Rio Grande do Sul, 1942, p. 337, ss)

Na prática, a proteção à natureza abrange quatro setores. Conforme o Pe. Rambo essas propostas resumem-se.
Primeiro. Na proteção aos Monumentos Naturais, criações individuais da natureza, de importância cientifica, histórica e fisionômica, como sejam árvores destacadas pelo seu volume ou sua forma, formações geológicas locais interessantes ou instrutivas, rochedos, montanhas de caráter peculiar.
No Rio Grande do Sul, quanto às árvores cabe proteção principalmente às figueiras perto dos núcleos habitados, muitos delas de grande beleza natural outras  ligadas a recordações históricas. E, em geral todas as árvores, coqueiros, paineiras, cedros, pinheiros, colocados no meio da paisagem como elementos essenciais de beleza natural, tem direito à conservação. Mais do que árvores, os monumentos rochosos como os tabuleiros da Campanha, as margens do Ibicuí na estação do Tigre, o Botucaraí, o morro do Sapucaia, o morro das Cabras, o complexo do Itacolumi com a torre em ruínas, o promontório de Torres, para os que ocorrem no primeiro momento, são de tal maneira rio-grandenses, que a destruição dos seus aspectos, seja pelo desmatamento, seja por pedreiras, roubaria elementos insubstituíveis da nossa riqueza estética.

Segundo. Na proteção a Espécies Botânicas e Zoológicas em perigo.
No tocante às plantas, a maior parte das espécies rio-grandenses cresce em grande número de indivíduos, além disso, a catalogação ainda não progrediu suficientemente, para poder designar as espécies estritamente locais ou muito raras. Apesar disso, é certo que bom número de espécies é local, basta o caso de se encontrarem nada menos do que as poucas espécies de ericácias riograndenses no topo do Sapucaia. Outros exemplos são os vegetais típicos do sul do Estado, por exemplo a quina do campo no morro da Policia, muitos vegetais dos tabuleiros da Campanha. Plantas raras são, por exemplo, a cancrosa de folhas rômbicas, muitas espécies limitadas à borda  dos Aparados: Griselinia, Gunera, Clethra, Weinmannia, Orquídeas terrestres, Ericácias. Merece especial menção o Parque Espinilho da Barra do Quarai, composto de Nhanduvaí e Algarrobo.

Afora esta proteção a espécies  estreitamente localizadas ou raras, surge o problema geral da conservação das matas virgens. Até hoje o desmatamento esteve entregue ao acaso, sujeito ao bel-prazer dos donos do lote colonial ou da fazenda. As consequências aí estão, acentuando-se de  dia para dia mais, na devastação  da borda da Serra e do vale do Uruguai. É um erro funesto entregar todas as matas a proprietários individuais e abandoná-las  em seguida, ao machado. No interesse geral, o Estado deve reclamar para si porções  importantes da reserva florestal, e além disso, vigiar sabiamente as derrubadas necessárias para a lavoura.

Em terceiro lugar levanta-se o problema do reflorestamento natural. Existem iniciativas promissoras, nas plantações de eucalipto, de acácia, de pinheiro. Quanto ao eucalipto, por mais útil e necessário que seja seu cultivo nas regiões pobres de mato, o certo é, que essa árvore australiana nunca há de enquadrar-se, do ponto de vista fisionômico, na expressão natural da nossa terra. Quanto à acácia, embora também estrangeira, seus conjuntos, nos campos de São Leopoldo por exemplo, condizem muito melhor com a nossa vegetação nativa, apesar de destoarem pela limitação a uma espécie, caso inexistente no mato nativo. Porque não tentar reflorestar com espécies nativas? Porque não promover a renovação das matas destruídas a exemplo da mata mista secundária? Por que não recorrer a madeiras de lei nacionais, os cedros, os louros, as cabriúvas? Crescem devagar, sim, mas o nosso esforço frutificará tanto mais para as gerações do porvir.

No tocante aos animais, o Estado do Rio Grande do Sul já é desolador. Nas matas da borda das Serra colonizada, nada resta da maior parte dos mamíferos e aves de caça. Nas matas do Uruguai, não passarão dez anos, e a miséria será a mesma. A anta, a capivara, o veado galheiro, os porcos do mato, o tamanduá bandeira, já são raridades. É que as melhores leis de caça não aproveitam, se não se cuidar  da sua execução.

Praticamente no Rio Grande do Sul, a destruição da fauna de mamíferos, aves e peixes continua em escala ascendente, podendo-se prever o dia em que o tamanduá bandeira, a capivara, o bugio, a ariranha, os porcos do mato, a paca e bom número de aves galináceas lamelirostres, terão desaparecido.

Harmonização das Obras Humanas com a Paisagem Natural. Numa terra recente, como  é o Rio Grande do Sul, não se pode esperar que, fora de razões impostas pela natureza do terreno, as necessidades práticas, os gostos individuais, motivos ideais tenham influído  na estrutura da paisagem humana. A geometrização dos traçados das ruas certamente contribuiu para a beleza das cidades, não condiz com o estilo da paisagem. O estilo colonial, sempre mais substituído pelos edifícios de estilo moderno, condiz admiravelmente como ambiente da Campanha. O estilo das vivendas coloniais antigas, dos colonos germânicos, embora seja de caráter estrangeiro, adapta-se muito bem à fisionomia da paisagem colonial  da borda da Serra. Outro tanto já não se pode afirmar das casas inteiramente construídas de material, sem as linhas pitorescas das traves pintadas de vermelho ou pardo, como estava em moda no início do século vinte. Uma casa destas, principalmente quando o telhado é de zinco, é destituída de todo o valor estético. O estilo bugalow, com sua variada distribuição massas, suas tintas discretas, seus telhados de telha cor de tijolo, como se encontram em crescente número na região colonial do Taquari, enriquece agradavelmente a paisagem.

O traçado das estradas, até os últimos anos, obra do acaso, não deixa de ser um elemento de beleza, pois, seguindo geralmente pelos vales dos rios, acentua as linhas naturais da paisagem. A Estrada Federal através da borda da Serra, por suas serpentinas, seus profundos cortes, suas vistas surpreendentes, seu ambiente grandioso no vale do Caí, harmoniza perfeitamente a acidentação do relevo e a vitória da engenharia.

Ponto de grande utilização das quedas de água, combinando a utilidade pratica com a conservação da natureza. Havendo grande número de quedas de água na borda da Serra, em parte já captadas, em parte susceptíveis de captação, deverá ser o empenho dos órgãos públicos proteger-lhes  a beleza natural. A melhor solução, a nosso ver, se conseguiu na usina da Toca, onde a construção da represa, o traçado do canal, o estilo da usina discretamente encostada aos rochedos, se emolduram naturalmente no ambiente do canhão fluvial coroado de pinheiros, mesmo a queda de água não foi essencialmente afetada pela corrente desviada para as turbinas.

A sua expressão mais forte, as tendências de proteção à natureza acham-se nos Parques Naturais e Nacionais. São territórios maiores, em que a natureza primitiva se conserva totalmente intacta, aumentando os atrativos com o acréscimo discreto dos elementos consoantes, quando for conveniente. Assim todos os grandes países tem os seus parques  nacionais.

Quer-nos parecer que, fora das medidas de proteção a se dispensarem a certas  formas individuais, aos animais selvagens em geral e a espécies botânicas raras, o Rio Grande do Sul, bem mereceria um parque nacional. Na sua possível localização decidem dois fatores: o perigo da destruição incessante pela lavoura e a riqueza das formas naturais.

Quanto ao primeiro, o litoral e sua  riqueza, a Serra do Sudeste e a Campanha, enquanto nelas predomina a pecuária, não estão em perigo imediato de perderem as suas feições nativas. No litoral, visto a sua pequena fertilidade, sua falta de portos, provavelmente nunca sobreviverá tal perigo. É uma paisagem  fadada a conservar naturalmente a sua beleza primigênia. Também a Campanha, apesar de já estar ocupada por mais de 200 anos pelo homem, ainda hoje conserva o seu caráter nativo. Na Serra do Sudeste, caso a agricultura, como parece acentuar-se  nos últimos tempos, e a futura mineração, tomarem incremento, será preciso proteger certos trechos, como são o curso médio do Camaquã, ao sul de Caçapava. Na Depressão Central, não há possibilidade de parque nacional, dado o desenvolvimento demográfico sempre crescente. No planalto, as regiões puramente campestres se protegem a si mesmas. Outro tanto não se dá com o mato. Não se pode acentuar o bastante: o mato  rio-grandense está em grave perigo! E não são apenas as derrubadas da agricultura, é também a indústria madeireira que, mais tempo menos tempo, despojará as selvas uruguaias dos seus gigantes mais expressivos, e acabará por transformar os soberbos pinhais em tristes fachinais.

Ora, é justamente no planalto que a riqueza de formas insinua a criação de reservas naturais. A nosso ver, seria indispensável conservar duas regiões: Um trecho da selva virgem do Alto Uruguai e os Aparados.

No alto Uruguai conviria tomar em vista a parte, onde se acumulam todas as belezas peculiares da região, o Salto de Mucunâ e suas adjacências. Tanto do lado brasileiro como do lado argentino, a riqueza florestal se acha intacta. De comum acordo com o pais vizinho, criar-se-ia um parque com reservas de mato suficiente para oferecer refúgio à fauna das selvas rio-grandenses. Se não for feito em breve, a colonização acabará com a beleza do Mucunã, assim como já despiu o Estreito de Marcelino Ramos dos atrativos da sua moldura.

Sobre os Aparados nada precisamos acrescentar. Sua beleza grandiosa se recomenda por si  mesma. Além disto, o caso é muito mais fácil do que nos matos do Uruguai. A agricultura não apetece  aquelas terras quebradas e pouco férteis, as porções de campo incluídas facilmente achariam substituto em outra parte. A situação fronteiriça com Santa Catarina chamaria ao plano a nobre competição de ambos os Estados da União, na realização de uma empresa verdadeiramente nacional. Sobre os trechos a serem incluídos não nos queremos  estender. Em todo o caso o vale do Maquiné superior, o Taimbezinho, a Serra Branca não poderiam faltar.

Ali nos mirantes do Rio Grande do Sul, com as forças milenares da erosão a trabalhar diante dos olhos, com os temerosos  abismos dos canhões aos pés, com  o pinhal, a mata branca e o campo, tão rio-grandense, em derredor, com o oceano no horizonte, as gerações do futuro nos hão de agradecer a reverência com que conservamos as mais grandiosas paisagens da nossa terra. (Rambo, Balduino. A fisionomia do Rio Grande do Sul, 1942, p. 432-438)