A formação do clero
Quando
o Pe. Wilhelm Feldhaus fundou o Colégio Conceição em são Leopoldo, em 1869, a
ideia foi de uma Seminário para formação de sacerdotes e um Seminário (escola
normal) para a formação de professores comunitários. Na verdade os primeiros
sacerdotes nativos tiveram a sua formação média no Conceição, incluindo D. João
Becker, primeiro arcebispo de Porto Alegre. A reorientação da instituição para
a formação média, foi acompanhada na postagem anterior.
Os
planos para fundação de uma instituição destinada à formação do clero em Porto
Alegre, recuam a 1848. Naquele ano o Presidente da Província, Galvão, chegara a
um entendimento com o Pe. Parés para fundar um Seminário para a formação de
sacerdotes – “um preparatório de ordenandos” – como foi chamado então. O plano
não vingou. Cinco anos amis tarde, em 1853, tomou posse D. Feliciano, primeiro
bispo do Rio Grande do Sul. A enorme carência de bons sacerdotes fez com que
uma das suas preocupações maiores fosse a fundação de um Seminário. Escreveu,
neste sentido, ao geral dos jesuítas. Pedia que cedesse padres tanto para
dirigir o Seminário, quanto para implantar missões entre os índios. Mas a
guerra declarada que os maçons travavam com o clero impediu a realização do
plano.
A preocupação
pela formação do clero teve continuidade com D. Sebastião, sucessor de D.
Feliciano. Logo depois da sua posse
dirigiu-se ao Pe. Beckx, Geral dos jesuítas, pedindo que cedesse padres para
assumir o Seminário. O Pe. Geral destinou três padres, Carlos Missir, Rafael
Tuveri e Francisco Chirardini, para assumir o Seminário. Os três desembarcaram
em Porto Alegre em 1860, antes mesmo do próprio bispo. Sua chegada não foi bem
vista e por mais que o bispo os apreciasse, demorou em entregar-lhes o
Seminário, o que finalmente aconteceu em 8 de setembro de 1861. O Seminário
contava então com 14 seminaristas. As dificuldades protagonizadas pela
maçonaria, obrigaram o bispo a fechar o Seminário já no ano seguinte.
Percebendo que, naquelas circunstâncias, pouca coisa poderia ser feito, D.
Sebastião empenhou-se em pelo menos providenciar um prédio em que seu sucessor
pudesse oferecer condições para formar sacerdotes. O projeto foi concebido por
um arquiteto francês. Doações generosas vindas
do Imperador permitiram a realização da obra que deveria ao mesmo tempo
servir de palácio episcopal. Em 2 de outubro de 1865 foi lançada a pedra
fundamental. A obra foi concluída pelo arquiteto João Grünewald, o mestre João,
ao custo de 404:037$000 e por muito tempo foi a construção mais imponente da
cidade. O novo Seminário abriu as portas em 1891 e sua direção entregue aos
jesuítas alemães. Em 1899 o bispo resolveu substituir os jesuítas por carlistas,
congregação a que ele próprio pertencia.
Em
1913 o arcebispo D. João Becker decidiu transferir a formação do seu clero para São Leopoldo e chamou os jesuítas para
confiar-lhes a tarefa. O Seminário Central de São Leopoldo não demorou em
chamar a atenção das autoridades eclesiásticas do Brasil inteiro. Bispos e
superiores de congregações religiosas clericais começaram a confiar aos
jesuítas de São Leopoldo a formação filosófica, ascética e teológicas de seus
jovens candidatos ao sacerdócio. Os próprios membros da Ordem recebiam sua
formação no Seminário Central.
O
que o Colégio Conceição significou entre 1869 e 1912 para a excelência do
Ensino Médio, o Seminário Central representou, em termos, para o ensino
superior. Em questão de pouco tempo, o nível acadêmico não ficou devendo nada
às instituições congêneres na Europa. E, aqui no Rio Grande do Sul, as escolas
e faculdades públicas de Farmácia, Medicina, Engenharia, Direito, com seu
excelente nível de formação técnica e
jurídica, tinham no Seminário Central o contraponto de igual excelência na formação
humanística, filosófica e teológica. Os resultados concretos não se fizeram
esperar. Em questão de poucos anos, as novas gerações clericais ocuparam
paróquias, capelanias, instituições de ensino médio, seminários menores. Em
outras palavras, com os egressos do Seminário Central entrou em campo uma nova,
poderosa e renovada geração clerical formada por dezenas de sacerdotes, não
poucos bispos, arcebispos e até cardeais, a serviço de uma Igreja comprometida
com a ortodoxia, doutrinária, a
disciplina religiosa e prestígio na sociedade regional e nacional.
Há
um detalhe que não pode ser ignorado quando se analisa a história do Seminário
Central de São Leopoldo. Uma grande porcentagem dos seminaristas abandonou a
carreira clerical, tanto na Filosofia, quanto na Teologia. Uma boa parte deles,
senão a maioria, partiu em busca de colocação no magistério secundário, no
funcionalismo público, na política, no comércio, ou concluindo algum curso
superior, enveredando pelas diversas profissões liberais, pela magistratura ou
pela alta burocracia oficial.
Ainda
no que se refere à formação do clero, os jesuítas tiveram a seu cargo também os
assim chamados Seminários Menores, isto é, as instituições de ensino médio dos candidatos ao sacerdócio no Rio Grande do
Sul. A mais importante dessas instituições funcionou em São Leopoldo junto a
Filosofia e Teologia no Seminário Central entre 1913 e 1938, quando foi
transferido para Gravataí. Quando as dioceses de Santa Maria e Uruguaiana
fundaram seus próprios Seminários Menores, confiaram-nos aos cuidados dos jesuítas. Ao Colégio Santo Inácio em Salvador
do Sul, onde estudavam os candidatos para futuramente entrarem na Ordem, os
superiores costumavam destinar os melhores quadros de professores de ensino
médio de que dispunham.
Considerando
todos esses desdobramentos, o Seminário Central, embora sem habilitação para
conferir diplomas em nível superior, cumpriu uma função importante em nível
acadêmico. Com toda a justiça, portanto, é lícito concluir que a instituição
desempenhou o papel de precursora do
mesmo patamar das similares reconhecidas oficialmente. A implantação de uma
universidade convencional significou apenas uma passo adiante nessa lógica
histórica.
Faculdades
de Filosofia e Teologia do Seminário Central de São Leopoldo