O ensino médio nos colégios
Na
postagem anterior, constatamos que o nível de desenvolvimento dos imigrantes
alemães no final da década de 1860, reclamava instituições de ensino mais avançadas.
O Pe. Wilhelm Feldhaus, pároco de São Leopoldo, tomou a si a iniciativa de dar andamento a tratativas para criar uma
escola de ensino médio. Começou pela
busca de prédios apropriados para as
instalações da escola e a acomodação de professores e alunos. A escolha recaiu
sobre o prédio de um antigo moinho de tanino desativado, um curtume e uma casa de moradia, localizados perto da
igreja, próximos ao rio. A compra foi autorizada pelo Pe. Ponza, em visita à
Missão, mandado pelo Superior da Província Romana, sob cuja jurisdição se
encontravam os jesuítas alemães na ocasião. As escrituras de transferência de
posse foram assinadas no dia 22 de junho de 1869. O colégio foi solenemente
inaugurado no dia 12 de outubro do mesmo ano, por D. Sebastião Dias Laranjeira,
bispo da dioceses do Rio Grande do Sul, com o nome de Colégio Nossa Senhora da
Conceição de São Leopoldo e abriu as portas para os primeiros 12 alunos.
Naquela ocasião ninguém teria ousado prognosticar o importante papel que o
Conceição, como seria carinhosamente chamado por alunos, ex-alunos e a a
população em geral, desempenharia nos 40
anos que se seguiram, formando uma influente elite intelectual para o Estado e
o País, assim como a primeira geração de sacerdotes regulares e diocesanos, inclusive
o primeiro titular da Arquidiocese de Porto Alegre. No final da década de 1930,
o médico e botânico João Dutra, que fora aluno do Conceição, resumiu o conceito
que o colégio conquistara, com as palavras: “Eu doaria todos os meus bens aos
jesuítas, se fizessem funcionar novamente uma instituição de ensino como foi o
Colégio Conceição”
No
começo o Conceição fora pensado como Seminário para a formação de sacerdotes e
como Seminário para formação de professores (escola normal), para atender as
escolas das comunidades coloniais. Uma sequência de percalços, chegaram a
comprometer seriamente a consolidação da obra. Ora foi a concorrência das
escolas protestantes; ora a devastadora enchente de 1873, forçando a interrupção temporária
das atividades; ora o clima hostil ao clero, de modo especial aos jesuítas,
durante o gabinete Rio Branco; ora o episódio “Mucker”; ora o susto
motivado pela epidemia da cólera. A conveniência da continuidade da obra foi
posta em dúvida. Mas houve também estímulos e incentivos como a visita do
Presidente da Província acompanhado pelo bispo, por ocasião da pedra fundamental
da ferrovia Porto Alegre-São Leopoldo. Mas um fator determinante para a
continuação do Conceição foi a chegada de jesuítas de boa formação expulsos da
Alemanha por Bismarck, durante o Kulturkampf.
Em
1877 o Conceição deixou de ser Seminário para concentrar-se na preparação dos
alunos para os chamados “exames parcelados”, que habilitavam para o ingresso no
ensino superior. Alunos de todo Estado começaram a afluir, sempre mais do
universo luso-brasileiro urbano e filhos de estancieiros. A instituição
consolidou-se durante a década de 1880. A fama do Conceição espalhara-se no
começo de 1890, por todo o sul do País, despertando a atenção das autoridades
federais. De todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até do Paraná, afluíam
alunos, filhos de fazendeiros, comerciantes, profissionais liberais,
funcionários graduados, militares, magistrados, políticos e governantes
para, na condição de internos, apropriarem-se de uma sólida formação acadêmica
e plasmarem suas personalidades em meio a uma atmosfera de cultura e
religiosidade de alto nível, de vida espartana e disciplina prussiana.
Referindo-se ao apogeu do Conceição o Pe. Balduino Rambo escreveu em 1958: “O Ginásio Conceição em São Leopoldo, então no
apogeu da sua atuação, fora originalmente pensado como seminário para a
formação de professores para as colônias. Depois de pouco tempo abriu as portas
à juventude de língua portuguesa. Conquistou rapidamente tamanha fama, que
ainda hoje ecoa uma longínqua saga nos ouvidos dos alunos ainda vivos.
Cavalgando durante semanas, acorriam os filhos dos fazendeiros ricos por 600
quilômetros de distância, vindos de todos os recantos do Estado e até de Santa
Catarina. Em Porto Alegre e nas cidades vizinhas, era de bom tom que os rapazes
estudassem em São Leopoldo”.
Aa
esta altura faltava apenas o título máximo de reconhecimento do nível do
Conceição, com a equiparação ao Colégio D.Pedro II. Essa conquista
concretizou-se com o decreto assinado pelo Ministro, no dia 3 de fevereiro de
1890. A equiparação credenciava o Conceição a conceder o grau de bacharel aos
seus alunos. Entre seus egressos consta toda uma elite de comerciantes,
industrialistas, magistrados, médicos, dentistas, advogados, militares,
professores, políticos, administradores públicos, governantes, diplomatas,
sacerdotes e ocupantes de altos postos da hierarquia eclesiástica. Infelizmente
a Lei Rivadavia privou, em 1912, o Conceição,
de sua condição de equiparado. Este fato, somado ao deslocamento para Porto
Alegre todo o peso econômico, político e cultural, levou ao encerramento das
atividades do Conceição como educandário de nível médio.
As
atividades educacionais dos jesuítas concentraram-se então no Colégio Anchieta,
em Porto Alegre. A instituição enveredou por um caminho de formação sólida, que
fez dos egressos de suas salas de aula, com poder de competição para conquistar
as vagas oferecidas pelos cursos superiores então existentes. Além de cumprir a missão de ensinar e educar, o Anchieta
oferecia uma sólida formação da personalidade, tanto sob o aspecto humano,
quanto religioso. As décadas de 1920, 1930 e 1940, podem-se consideradas como as de maior sucesso do Anchieta, tanto
no que diz respeito ao nível de formação profana, quanto ao que se refere à
formação de um laicato católico, com destaque para uma elite de intelectuais de
grande influência
A
ilha do Desterro, hoje Florianópolis, contou com a presença dos jesuítas desde
1622. Em 1747, o rei D. João de Portugal pediu aos jesuítas a criação de um
colégio. Com a expulsão dos jesuítas dos
domínios de Portugal, em 1859, a instituição não passou da intenção. Depois da restauração
da Ordem, em 1814, não se passou muito
tempo para que o Desterro acolhesse novamente jesuítas com a finalidade de
fundar um colégio. Os jesuítas expulsos da Argentina pelo ditador Rosas
transferiram-se para a ilha em companhia
de 80 alunos. A estes foram-se somando,
aos poucos, filhos de brasileiros. Entre 1850 e 1853 morreram sete padres de
febre amarela, inviabilizando a continuação da obra. Em 1865 o governo imperial
assinou um acordo com a Província Romana da Companhia de Jesus, no qual
garantia um subsídio aos professores e aos jesuítas que se comprometessem a
abrir um ginásio. Mas durante o gabinete Rio Branco, dominado pelos maçons, os
subsídios foram suspensos e com isso inviabilizado novamente a continuidade da
obra. A instituição foi fechada em 1870.
No
começo do século XX, circunstâncias favoráveis terminaram por convencer os
jesuítas alemães, então a serviço da Missão no sul do Brasil, da oportunidade
de uma quarta tentativa de fundação de um colégio na ilha do Desterro. O
governador do estado, Vidal Ramos, estudara no Colégio Nossa Senhora da
Conceição em São Leopoldo, assim como os filhos de uma série de famílias
influentes da capital e do interior do estado de Santa Catarina. Desejavam
contar com um colégio dos jesuítas na cidade. A tudo isso veio somar-se o bom
relacionamento do Pe. Schuler com a população e o entusiasmo de monsenhor Topp,
pároco da cidade. Em 1905, numa visita à Missão, o provincial Pe. Schäfer,
convidado a visitar Florianópolis, ficou tão bem impressionado que determinou a
fundação do colégio. Como o Conceição obteve também equiparação com o D. Pedro II.
Por suas salas de aula passaram gerações de comerciantes, políticos,
funcionários públicos, profissionais liberais, magistrados, governadores do
estado, ministros e até um presidente da República interino. Como o seu
congênere o Colégio Anchieta cumpriu, e continua cumprindo até hoje a missão
que seus fundadores lhe confiaram há mais de 100 anos.
O
Colégio Gonzaga, em Pelotas, surgiu de uma escola fundada pelos jesuítas em
1895. Sua evolução foi rápida ao ponto de em 1905 contar com 300 alunos. O
crescimento acelerado deve ser
creditado à equiparação ao D. Pedro II e 1902. De menor duração do que o
Gonzaga foi o Colégios Stella Maris de Rio Grande. Bem mais tarde na década de
1950 surgiu o Colégio Medianeira em Curitiba. Continua até hoje prestando bons
serviços à educação na capital de um dos estados mais prósperos do País.
Colégio
Nossa Senhora da Conceição em São Leopoldo -
Instituição
de Ensino Médio mais antiga do sul do Brasil