Archive for agosto 2016

Deitando Raízes #42

Cortejo de noivas nos anos quarenta

É a velha história que já se repetiu milhares de vezes, mas sempre é nova e sempre  prazeirosa: falamos do amor entre dois corações. O leitor não espere que lhe descrevamos com cores vivas a viagem da noiva de profundos olhos azuis, os cabelos louros e  sedosos, os lábios vermelhos e juvenis, as faces radiantes, o porte gracioso da filha da colônia de  20 anos. Não falaremos de todos esses predicados corporais pelo simples fato de nenhum deles estar presente. Mesmo assim formavam um par muito feliz e levariam uma vida matrimonial abençoada. O noivo era um rapaz de 28 anos, alto e forte como uma árvore. Até aquela altura interessara-se pouco pelo amor e não pensara ainda seriamente em casar. Sentia, antes de mais nada, gosto pelo ofício duro do trabalho no mato, o constante perambular por aí à esmo, de vez em quando uma  escaramuça em que sujeitos briguentos o envolviam e, por fim, o duro serviço nas fileiras dos Imperiais ou nas dos Farrapos, de acordo com a ocasião. Não se tratava de um rapaz tristonho. Pelo contrário era alegre e bem disposto. Porque não se pôs mais cedo a procurar uma companheira? Conforme ele mesmo (180) contou o motivo foi o seguinte: "Aquela que eu queria não consegui e aquela que estava disponível não me agradava. O nosso herói foi Johann Adam. Como se pode concluir era imigrante e  parecia que o casamento não fazia parte das suas intenções. Sua hora contudo viria. "Adam," alertavam-no repetidas vezes, as mulheres da vizinhança, " O que fazes sozinho na tua cabana. Não passas de um eremita." Mas Adão não lhes dava ouvidos. Deixava que entrassem num ouvido e saíssem pelo outro e continuou vivendo a vida de solteirão.
Contudo em certa ocasião asa palavras bem intencionadas da velha Kristen, vizinha na Picada 48, impressionaram o jovem Adam mais do que deixava  transparecer. Ela lhe disse: "Gosto de ti e te daria a minha Cathrin se fosse mais velha, mas eu conheço uma que serve para ti. Ela é como tu gostarias que fosse. Não é vaidosa, não é preguiçosa, não é uma qualquer, não é fofoqueira e além de tudo religiosa. Mas é pobre como uma rata de igreja e não tem mais nem pai nem mãe. Também não é bonita, além disto é baixinha, mas confiável como um anjo."
No começo dos anos quarenta Johann Adam cultivava ainda conceitos antigos e não como os rapazes que procuram casar por causa do dinheiro e da beleza e perguntam pouco pelas virtudes e a religiosidade. Ele respondeu: "Se  é como dizes ela me agrada. Tenho duas colônias de terra. É o bastante para nós dois, mesmo que ela não possua nada. Antes de conhecer a noiva  decidira-se levá-la para casa. Informou-se depois sobre o nome, a localidade onde morava a escolhida e fez os planos como lhe faria sua proposta. Neste meio tempo entremos na casa da noiva em Dois Irmãos, a fim de conhecer melhor a moça e aguardar pelo pretendente.
A escolhida de Johann Adam era uma simples empregada doméstica que, segundo ele próprio informou, servia a uma patroa severa. Era obrigada a levantar-se antes do clarear do dia, mesmo que chovesse, geasse ou fizesse o maior frio. Enquanto os demais ficavam deitados tomava conta da casa e, quando a família sentava à mesa, era obrigada a ir para a roça inclusive no mais rigoroso inverno, descalça e sem roupa quente, andando pelo caminho coberto de lama.
Essa  a noiva. Certamente não uma raridade em beleza. Nem mesmo de todo desenvolvida, porque nos anos da adolescência for privada dos cuidados devidos. Num acidente uma das pálpebras fora de tal modo lesionada que era preciso puxá-la para cima para se enxergar o globo ocular. Mas, apesar de todos os defeitos corporais, a moça era um modelo no cuidado com a casa e, antes de mais nada, em tudo que dizia respeito à ordem, assiduidade e sacrifício.
Ainda não tivera conhecimento das intenções de Johann Adam que, no mesmo dia do encontro havido com a senhora Kirsten, procurou informar-se a respeito da moça. Foi num domingo. A senhora Kirsten foi a cavalo a Dois Irmãos com o marido Heinrich, para cuidar dos assuntos relativosao casamento. Johann Adam encontrava-se ainda na Picada Café. Apareceu então seu pai a cavalo. Ele também se empenhava que o filho finalmente casasse. "Bom dia Adam" falou o pai ainda montado. "Bom dia pai," respondeu o Adam. "Então para onde vais?" "Não muito longe? Então apeia e entra." o pai mal acabara de entrar, perguntei, assim relatou o Adam, pelo que queria. Em vez de uma resposta , disse sem mais nem menos: "Encilha  teu cavalo e vai em busca de uma noiva." "Não é necessário", respondi. Ele devolveu. "Claro que é necessário. Chegou  hora de casar." "Já são dois que foram em meu lugar em busca de uma noiva." "O que?" gritou  o velho. "Em teu lugar e para onde?" "Para Dois Irmãos." "Está bem," disse. "Nesse caso apressa-te, encilha o cavalo e vamos atrás deles." "Obedeci e sem perder tempo e bem dispostos trotamos para Dois Irmãos. Quando chegamos na casa onde ela servia tudo estava encaminhado e as pessoas surpreendidas com a nossa aproximação exclamaram: "Sim senhor, a coisas andam rápido. Vejam só o noivo já chegou."
Um dos  presentes foi Peter Meyrer,  um homem da retidão que hoje são raros. Adam contou que falou imediatamente a seu favor. A Christine que agradara ao Adam antes mesmo de vê-la por causa dos muitos louvores encantou-o tanto mais ao encontrá-la. A decisão estava tomada. Além disso, contou Adam, Meyrer me fez uma provocação. "Adam, aceita a moça. Com ela não só terás uma boa mulher e merecerás ainda um lugar no céu. Eu, omo seu vizinho, sei o quanto é boa e o quanto sofreu. Há muito tempo a teria buscado como empregada, mas não a liberaram. O que ele me contou ainda sobre o que a moça passou, sensibilizou-me de tal maneira enquanto escrevo, que minhas mãos ficam trêmulas, incapazes de registrá-lo no papel e meu coração chora de pena ao lembrá-lo. Veio então  a pergunto importante: "Adam, queres receber a Christine como tua mulher e tratá-la bem?" Seguiu-se um vigoroso sim. Formulou-se então a pergunta reposta: "Christine, queres o Adam como o teu marido?"  seguido de uma resposta tímida mas decidida, da gata borralheira. Os parentes falaram: "Então, repitam, que estais decididos a amar-vos até a sepultura, dai-vos a mão direita e declarai mais uma vez em voz alta o sim e sede fiéis ao que vos prometeste mutuamente. Amém," Todos os presentes nos desejaram muitas felicidades e bênçãos e nós noivos nos demos um beijo.  Meu pai entrou e deu um beijo na face da nora com as palavras: "Agora és minha filha. "Este foi  o meu noivado que aconteceu tão rápido quanto feliz. Eu a vira só três dias antes e agora já era minha noiva amada. (182) O fato ocorreu na terça feira 13 de agosto e oito dias mais tarde realizou-se o enlace em São Leopoldo.


É compreensível que o casamento fosse despretensioso. Eu não pagara ainda a totalidade dos 250 mil réis para o meu substituto na Companhia Alemã. Minha noiva não tinha dinheiro e nada além de alguns vestidos de chita em mau estado. Fui até um conhecido e pedi  emprestado um vestido branco que paguei mais tarde. Não dei dinheiro para minha mulher, mas em troca entreguei-me todo a ela. Nem aliança não tinha pois, na época não se conhecia tal coisa e, mais tarde, observei não  poucas vezes pancadarias onde havia uma aliança. Nesta situação a aliança não significa nada. Quem foi o culpado? Segundo minha avaliação faltou o elo do amor que prende os corações. O amor não bate, suporta tudo.


A preciosa  aliança do amor manteve de fato unidos a vida inteira os dois corações.  Nada turvou a aliança matrimonial, da qual brotaram quatro filhos. Inúmeras provações visitaram o casal, mas a harmonia manteve-se firme até o fim.


A senhora Christine faleceu na Colônia Boca do Monte. Nos últimos momentos falou para o marido entristecido: "Adam, tenho ainda algo a te dizer. Quando tiver morrido manda rezar uma missa por mim." Este respondeu: "Sim, assim será," e acrescentou: "Eu mesmo prometi uma." A enferma acrescentou: "Morro sossegada e cuida do Joãozinho" E assim ela morreu tranqüilamente entregue nas mãos de Deus. Johann Adam escreveu em suas anotações, das quais este "Cortejo Nupcial" só reproduziu uma parte. "Os quatro choramos, em altas vozes,  do fundo do coração, Vieram as pessoas  e disseram: "Não chorem tanto." Eu respondi: "Chorem com toda a força, vossa mãe morreu e não tereis outra." O caixão foi aprontado e a mãe deitada nele e o vizinho, Heinrich Hoffmann levou o corpo, enquanto eu e as quatro crianças permanecemos na frente a porta, mergulhados na maior tristeza. Em Santa Maria não é costume que os familiares acompanhem o corpo. A querida falecida foi acompanhada por 12 pessoas até a igreja e depositada na sepultura. E agora descansa em paz em nome de Deus. Amém.

Deitando Raízes #41

Tão pouco animadoras como foram as vivências no mar, foram também os primeiros tempos que Vincenz passou no começo da sua fixação aqui. Para começar acampou com os filhos no campo perto da casa dos pais de Han Peter Weber. Os homens embrenhavam-se no mato para abrir o lote na Picada 48, enquanto as mulheres ficavam para trás. Depois de pronta a cabana buscaram as crianças. Hannes com 18 anos teve que carregar a pequena Margaretha. Com seis anos a pequena vestia uma blusinha e uma sainha. A cada passo os espinhos levavam mais um pedacinho. O motivo pelo qual teve que ser carregada foram os bichos de pé no campo. Maltrataram de tal modo seus pés que não conseguia caminhar. (171) De acordo com o registro, um punhado deles  saiu dos pés quando chegaram na cabana e os esfregaram com banha e cachaça.  Até as unhas tinham caído dos dedos dos pés. Nem a curta distância pôde ser vencida num dia. Não poucas vezes o Hannes obrigava-se a colocar a pequena Margaretha no chão e abrir passagem com o facão, antes de continuar com ela. Mesmo a vida na cabana, na qual Jacob e Margaretha ficavam, enquanto os demais trabalhavam, tinha as suas dificuldades. As crianças estavam a sós e por isso mesmo facilmente susceptíveis ao medo. Quando apareciam jacutingas por perto, as crianças acreditavam que fossem os bugres que as perseguiam. Em certa ocasião um temporal derrubou a cabana e Margaretha quebrou a perna. Numa outra vez em que o pai se ausentou por mais tempo que de costume, o pequeno Jacob foi ao seu encontro. Pendurou o sabre na cintura, pegou a espingarda disposto a enfrentar todos os inimigos e animais selvagens.
Depois de crescida Margaretha foi trabalhar com Peter Ely no campo. Encaminhava-se bem cedo de manhã para o campo com um feixe de pasto debaixo do braço e um balde na mão para ordenhar as vacas. Não poucas vezes o vestido ficou duro de tanta geada. Mais vezes ainda obrigava-se  a lutar com as vacas que não mostravam vontade para deixar-se ordenhar. Ora a pisavam, ora a jogavam longe, ora lhe davam coices nas pernas, trabalhos e padecimentos aos quais mais tarde atribuiria a saúde fraca. Durante a guerra dos Farrapos foi por mais tempo empregada do velho Datsch. Foi um bom lugar costumava dizer mais tarde. O velho Vincenz ocupou-se nos últimos anos da vida  trançando balaios, comprados por toda a picada. Bem acima dos 80 anos freqüentava com regularidade a igreja. Aconteceu que se perdeu por completo no caminho e não se achou mais. Era muito fiel no cumprimento dos deveres. Carregava sempre o livro de reza do qual falamos acima e no qual fizera cuidadosas anotações do próprio punho. São ao todo 160 páginas. Na primeira encontra-se o velho canto católico: "Admirável e bela", mais tarde melhorado e editado pelo Card. Geissel. O livro de reza compõe-se de seis jardins: oração da manhã e da noite: orações da missa,vésperas, orações de contrição e confissão: orações da comunhão, etc. O começo de todos os capítulos leva uma decoração feita com traços vermelhos e pretos, além de figuras. O texto todo está emoldurado com linhas pretas. Não deixa dúvida que confeccionou o livro de reza com o maior dos esforços. Em compensação foi-lhe de grande consolação na mata virgem, refugiando-se nos diversos jardins e neles conversando com o Pai do Céu e alegrando a alma em meio às belas flores.
Ao lado do jardim por meio do qual sua alma se comunicava com Deus, erguera cinco castelos. Neles, como diz o texto poeticamente, é possível a gente se enclausurar. O primeiro castelo: Onipotente e eterno Deus, eu pobre homem pecador eu entrego e confia, agora e para sempre minha pobre alma pecadora, sob a proteção da Tua misericórdia sem fim. Amém. Uma outra oração igualmente piedosa era esta: Oh, Senhor Deus imortal eu, pobre e miserável criatura humana, recomendo e guardo, agora e para sempre, minha pobre alma pecadora, no Teu bendito coração e nas profundezas das tuas cinco chagas.
O livro encadernado em couro testemunha com suas folhas amareladas, um belo exemplo da piedade e espírito verdadeiramente  católico de seu autor. Segurando entre os dedos essas folhas tem-se a prova de uma maior força espiritual e  nobreza de ânimo, do que nos jornais sem cor, nos quais se alardeia  a Ilustração, ou simplesmente meios de lazer (172).
Permitimo-nos também um bom conselho. Recomendamos vivamente  que, a exemplo do nosso Vincenz, todos os pais de família católicos registrem os principais acontecimentos da vida da família num livro de reza ou na Santa Legenda. Serve para que o homem e o cristão sensato não se habitue a viver o dia a dia como os animais irracionais, que nada sabem, nem do passado, nem do futuro. Merece imitação também o que o velho Vincenz fez no que se refere às suas entradas e saídas. Anotou com exatidão quando vendeu as árvores, especificando o número e o valor em Thalersl. No final do ano somou os resultados e assim teve uma avaliação objetiva dos seus negócios. É de desejar que os colonos daqui procedam da mesma forma. Poupariam muitos dissabores e o que é mais importante, muitos prejuízos. Um homem que nem sequer está ao par da quantidade de feijão e milho  que vendeu, nem o preço que lhe foi pago, o homem que não anota o quanto comprou em tecidos, café, etc., não terá condições de progredir. Já aconteceu que alguma viúva se viu surpreendida pelo vendeiro, pelo sapateiro, pelo açougueiro, com dívidas de até um conto de que não tinha o menor conhecimento. Por isso aconselha-se ordem em tudo, principalmente nas compras.
Depois desta digressão retornemos ao velho Vincenz Pohren. Muita coisa poderia ser contada ainda sobre seus últimos anos de vida. Queremos mencionar apenas a sua grande vontade trabalhar. Não estando mais em condições de ele próprio por mãos à obra, acompanhava os netos na roça para observar como trabalhavam. Jacob Pohren conta como o avô o observou muitas vezes ao capinar. Quando deixava para trás um pequeno tufo, achando que o avô não o reparava, ele chamava logo a atenção dizendo:" Aí ficou alguma coisa." Às vezes carregava consigo um pequena sineta, para a eventualidade de um enxame de abelhas baixar, chamar rapidamente os netos em auxílio. Acontecendo que na impaciência escapasse ao pequeno Jacob um praga, o avô o chamava à ordem com as palavras: "Jacob a blasfêmia não traz bênção." Quando se aproximou o fim os seus quiseram ficar de vigília junto a ele. Não o permitiu e lhes disse que daria um sinal quando estivesse na hora. O sinal foi deveras estranho. Iria disparar a espingarda colocada ao lado da cama. E a disparou. Quando entraram e ajoelharam em volta da cama, ele segurava uma vara na mão e com ela bateu sobre o cobertor: Este é o primeiro prego." Referia-se ao prego do caixão. Bateu de novo dizendo: "Este é o segundo." E quando ergueu a terceira vez a mão, reclinou-se sobre o travesseiro e morreu.
Não se conclua, entretanto, que toda a preparação para a morte se tenha resumido no que acabamos de narrar. Não. Nosso Vincenz recebera a tempo todos os sacramentos da Santa Igreja e, pela sua vida cristã autêntica, preparado para a viagem para a eternidade. Relatamos este episódio incomum para mostrar o seu caráter forte e original.
Friedrich Fröhlich foi outro que levou uma existência muito movimentada, especialmente durante a Guerra dos Farrapos. Nasceu em 1815 em Burnbach-Biehl perto de Saarlouis e participou da emigração como menino de 9 anos. Um toque romântico acompanhou o fato. 19 homens alugaram uma grande carroça e, cheios de disposição, enfrentaram em 1828 a viagem terrestre de 120 horas. O responsável pelo transporte era um sujeito estranho. Antes de atrelar os cavalos de manhã, exigia que seus cinco Thalers fossem colocados sobre a mesa. (173) Viajava-se na média 10 horas por dia. Em Hannover terminaram as estradas com calçamento firme e começou a mal afamada areia da  planície alemã, que se prolonga até Bremen, dificultando em parte a viagem.
Quando finalmente entraram na famosa cidade portuária, sentiram um grande alívio. A parte trabalhosa da viagem estava superada e foram tomados de um grande desejo para começar a travessia do mar aberto. Acontece que as coisas não se deram com tanta rapidez assim. Os viajantes foram retidos por 13 semanas em Bremen. As famílias foram acomodadas em residências particulares. Pediram emprestados utensílios de cozinha e outras utilidades indispensáveis para o uso doméstico e, dessa forma, levar uma vida independente. Se até aqui eles próprios tiveram que arcar com as despesas, daqui em diante viveram às custas da nova pátria do além oceano. O cônsul Kaltmann pagava quatro vinténs por pessoa por dia, o que dava para viver com folga, porque tudo era muito barato. Já que tudo o que tinham a fazer resumia-se numa paciente espera, freqüentavam todos os dias a igreja, para pedir a proteção de Deus para a longa e desconhecida viagem. Finalmente chegou o dia da partida. O navio chamava-se Olbertz, um magnífico barco com três tombadilhos. No de cima viajavam os emigrantes, no do meio estavam armazenadas as provisões e no debaixo a água potável e a carne. Mal saíram do  porto  enfrentaram uma tempestade no canal, com as conseqüências de sempre. Engraçado era observar o nosso Friedrich e seu vizinho, um camponês rude, roer um grosso naco de toucinho e ser interrompido no meio do seu nobre trabalho, pelo misterioso mal do mar, terminando sem mais nem menos com os esforços anteriores.
A comida constando basicamente de carne seca, era boa. Água potável havia o bastante. Foram embarcadas 1.200 medidas, sobrando 40 ao chegar ao Rio de Janeiro. Excetuando um pequeno incidente a ordem a bordo foi excelente. À certa altura o capitão entendeu em impor medidas severas. Mandou posicionar  canhões, o que não impressionou muito. Os emigrantes riram para valer do capitão pelas atitudes ameaçadoras, e as bocas de fogo foram de imediato colocadas de lado. O nosso Fritz com seus três irmãos, recrutado como soldado estava isento do pagamento da viagem de 72 Thl. Além disto recebia cinco vinténs a título de soldo e a comida livre. Suas obrigações militares não foram muito significativas. Montou apenas algumas vezes guarda. Finalmente, após  14 longas semanas, o navio atracou no Rio. Tudo correra bem no Olbertz e no navio seguinte os emigrantes  lembrariam com saudade do velho Olbertz.
Enquanto os colonos propriamente ditos eram alojados em grandes prédios, os soldados foram acomodados numa caserna perto do Pão de Açúcar, onde permaneceram por sete semanas. Durante este período aconteceu o ato de bravura de um soldado alemão. Como um sujeito ágil escalou certo dia o rochedo. Quando o major soube do fato, encarregou o soldado de levar a bandeira brasileira até o topo, ordem que o arrojado camarada cumpriu com êxito. Na volta o major, no íntimo satisfeito com a ousadia,  em vez de louvá-lo avisou que se aventurasse mais uma vez a fazer o perigoso caminho, mandaria aplicar-lhe quatrocentas na retaguarda. A viagem da capital até o Rio Grande do Sul levou cinco dias, menos bem sucedidos do que os passados no mar. (174) Deitaram Âncoras em frente ao porto de Rio Grande, mas uma tempestade levou-os de volta ao mar. Duas semanas erraram pelo mar, sem saber exatamente onde estavam. Avistaram então um navio a quem pediram socorro e do qual souberam que este partira de Rio Grande há apenas três horas. Navegaram para lá  e às 11 horas avistaram a cidade na sua frente. O prático do porto fez sinal para não entrarmos, mas o capitão numa investida decidiu passar.
De repente fez-se sentir um solavanco e o capitão comandou: “A plenas velas.” Mas o piloto a bordo transmitiu outra ordem: “Todas as velas fora.” O vento era forte e favorável e fez com que o navio passasse pelo banco de areia. Todas as mulheres gritaram de satisfação. No cais marinheiros franceses e ingleses estavam de prontidão para, em caso de necessidade socorrer o navio, mas não foi  preciso. No mesmo dia a viagem seguiu para Porto Alegre, onde desembarcamos sem problemas depois de mais dois dias de viagem.  Os imigrantes demoraram-se aí por mais dois dias. Seguiram depois pelo Rio dos Sinos até Sapucaia. Percorreram  a pé a distância até São Leopoldo, onde chegaram em abril de 1829.
São Leopoldo já não se parecia com o que era alguns anos antes. No lugar de um estreita trilha passando pelas moitas de bambu, havia agora uma vila com nove ou dez casas. Não tinham paredes de pedra e eram, antes de mais nada, varandas, o que já representava alguma coisa. Um delas pertencia aos Koch e na outra morava o padre Antônio, muito simpático aos alemães. Daqui os imigrantes seguiram calmamente em busca da mata virgem.
A família Fröhlich morou primeiro com o velho Berg no Portão, onde outras quatro famílias encontraram acolhida. Depois de algum tempo neste local construíram uma cabana junto a Petzinger, onde plantaram milho e feijão. Durante este período receberam ainda subsídios, mas só por um ano e não por dois como tinha sido prometido, uma pataca para os adultos e meia para as crianças com menos de 12 anos. Logo de saída fora-lhes destinada a colônia de número 1 da Picada 48. Mas foi preciso primeiro derrubar o mato e construir instalações de maneira que a família se viu obrigada a ficar um ano e quatro meses com H. Müller, padrasto de Ph. Brenner.  Enquanto o pai e os filhos Mathias, Johann e Georg trabalhavam no mato, coube ao nosso Fritz cuidar da arrecadação das provisões. No momento em que os pioneiros da mata virgem sentiram  necessidade de carne abatiam a tiro, sem mais nem menos, um boi selvagem, enquanto um cupinzeiro abandonado servia de forno para cinco ou seis assados. Os trabalhadores no mato voltavam a cada duas semanas pra casa, para descansar um pouco junto às famílias.
Nesse período a família Fröhlich formou, por assim dizer, um conceito sobre a vida e a movimentação da estância imperial. Jorge Strich, avô da família do mesmo nome que morava na Entrada, era o capataz imperial. Os colonos compravam dele o gado de que precisavam, normalmente por um preço muito barato. Aqui familiarizam-se com os rodeios. Aos gritos os peões reuniam todo o gado, duas vezes por semana no lugar do rodeio,  enquanto os cães localizam as reses dispersas pelo mato. Uma vez reunidos os animais, ninguém mais os dispersava, porque nesta ocasião costumavam receber o sal de que precisavam.  Animal por animal era examinado e, se necessário, marcado, ou então “mercurado”, isto é, os animais feridos por picadas de moscas ou com bicheiras, eram untados com pomada de mercúrio. Tratava-se de um espetáculo todo peculiar e, por isso mesmo, prendia a atenção daquele que o presenciava pela primeira vez. Para começar o animal selvagem era dominado por meio do laço duplo. Este estava preso na barrigueira do cavalo. O cavalo demonstrava orgulho em colaborar. Uma vez  laçado o animal, os cavalos corriam em direções opostas, de maneira que o animal ficava imobilizado como numa torquês pelos laços retesados. Se era para castrar  era derrubado no chão, feita a operação a ferida era costurada, o animal solto que corria furioso e urrando pelo descampado. Quando era o caso de passar pomada no animal, era manietado da maneira mais cômoda e feita a operação era solto, uma operação que em geral acontecia sem muito alvoroço. Se era para ser abatido (e este destino caberia mais cedo ou mais tarde à maioria), o laço era preso nos chifres, excelentes ganchos feitos pela própria natureza, e levado por um cavalo até o local do abate. Para não oferecer resistência desnecessária, cortavam-se os tendões das patas traseiras do boi e, mugindo de dor como se pressentisse  o seu triste destino, era arrastado até o matadouro. No caso de a fazenda trabalhar com uma charqueada, um corredor em funil levava até o matadouro. O curral ainda hoje é identificado pelo capim alto que aí cresce.
Acompanhemos agora os irmãos Fröhlich do campo até a colônia de número 1. Uma assim chamada ponte de macaco, um simples tronco deitado sobre o curso da água, permitia  passagem do Feitoria. Ao instalar aí o seu lar os Fröhlich tiveram que se prevenir contra os bugres e os negros fugitivos, que tinham destruído quatro cabanas perto do local da futura casa de Tatsch. Os negros foram capturados e confiados a Franz Papin, encarregado de transportá-los até São Leopoldo.
O improvisado soldado da polícia permitira-se infelizmente na ocasião um trago além da medida. Os negros valeram-se da circunstância em proveito próprio. Desarmaram o vigia e, quando este se defendeu, aplicaram-lhe um par de  robustas bofetadas. O bom Papin achou isso demais e com toda a força chamou por socorro e os colonos não tardaram em acudir. Os negros ofereceram uma feroz resistência com a carabina do policial. Um dos atacantes acabou morto com um tiro. P. Lehreiner  levou uma carga de chumbo no peito. Depois os negros fugiram. Após esse episódio a família Fröhlich  pôde fixar-se tranqüilamente. Jacob Kunzler, patriarca da conhecida família, era o vizinho no número 2. O circunstâncias peculiares o número 3 parou nas mãos de um certo Robinson. Nicolaus von Myhlen trocou sua colônia por uma moça. Mas não se pense em comércio humano. O episódio se deu de forma semelhante como sucedeu com o patriarca Jacó, que serviu sete anos  a Laban, para merecer a amável Raquel, mas no final foi obrigado a aceitar Sara de olhos encovados. Dissemos de maneira semelhante, porque as coisas se deram de fato de outra forma. Nicolaus von Myhlen queria à força uma mulher, como não havia nenhuma além das filhas dos colonos, o velho veterano soldado ofereceu sua colônia em troca da mão da filha de Robinson. Certamente não foi um mau negócio. Os Fröhlich construíram  primeiro sua moradia perto do arroio. Foi uma opção sensata pois, tinham a água para cozinhar e beber por perto, como Arndt, Christen, Franz e Jacob Dillenburg, os outros vizinhos. Mais tarde transferiram a casa mais para o alto, onde era saudável e mais fresco. Mas não precipitemos os acontecimentos e fiquemos no primeiro palco, onde os Fröhlich moraram desde 1830 e se dedicaram com empenho às suas ocupações. (176) Eclodiu então a Guerra dos Farrapos. Nos primeiros meses, por assim dizer, não se notou nada nas colônias. Os alemães queriam tranqüilidade e somente quando se notaram perturbações, foi posto um vigia no número 1, no Lehmberg, perto do velho Bauermann. Até este foi recolhido quando tudo permaneceu calmo na colônia. Mas não demorou muito e apareceu na mata virgem Carlos Sales e o Menino Diabo. Roubaram tudo, levaram o gado e várias mulheres, entre elas a de Mombach. Obviamente as pessoas pegaram então em armas. Os Farrapos avançaram até  Walachai e pilharam a casa de Mombach o qual de então em diante tornou-se seu inimigo irreconciliável. Neste meio tempo o povo da Picada 48 vivia sem ser molestado, chegando a ele apenas boatos confusos.
Certa noite Frtiz Fröhlich, que estava alojado num paiol, disse para os irmãos: "Tenho um pressentimento. Os Farrapos estão vindo." "Também tu virás." Disseram para aclamá-lo ou talvez para rir dele. Na verdade tudo estivera calmo até aquele momento. O velho pai Fröhlich estava de cama doente. "Precisas ir conosco", insistiram. "Encilha o cavalo." Não restou nada ao velho senhor do que fazer a vontade dos revolucionários. Levantou-se e aprontou o cavalo, mas foi afastando o cavalo da porta e, no momento em que o farrapo Finger Hannes aprontava um palheiro e o acendeu, saltou na sela e saiu a galope. Atravessou o rio e a toda a pressa foi até a Walachei encontrar-se com Mombach. Com essa notícia todos os irmãos seguiram o pai. Alguns dias mais tarde também a mãe foi até o Mombach, que reunia os imperiais em sua volta. As duas facções estavam de prontidão. Os Caramurus mandaram uma intimação aos cidadãos de Dois Irmãos; "Quem não está conosco, está contra nós." Mas antes que a maior parte tivesse tempo para decidir-se, apareceu no dia seguinte o Menino Diabo com  seus homens.
Cônscio do seu poder mandou uma intimação para Mombach e seus seguidores para que se apresentassem até às oito horas do dia seguinte, caso contrário os atacaria. Mombach mandou de imediato a contra intimação, que os Farrapos se apresentassem às sete horas. E, de fato, Mombach e seus homens encontraram-se no local às sete horas e a batalha começou. Menino Diabo foi expulso de Dois Irmãos e perseguido até Novo Hamburgo.
Apesar de tudo o chefe farrapo alardeava que, até à noite armaria o acampamento no local donde saíra de manhã. Neste meio tempo Fritz Fröhlich voltou a Dois Irmãos. Encontrou Manoel Bento, outro comandante dos imperiais, perto de Sperb, no morro Lambert.
Fritz Fröhlich conto a Manoel Bento como Mombach enxotara os Farrapos até Novo Hamburgo. Manoel Bento foi imediatamente ao encontros dos companheiros de luta. Encontrou-se com eles na Schwabenschneis, pois, estava no caminho de volta. Estava bem disposto e quando Peter Schreiner disse: "Quero buscar uma pipa de cachaça na casa de Jäger em Novo Hamburgo, seus companheiros fizeram a proposta um tanto estranha. Voltaram a Novo Hamburgo e com disposição renovada, cantaram a conhecida canção do soldado: "Um vida livre nós levamos." Ao chegarem no Buraco do Kressner toparam inesperadamente com os Farrapos. Manoel Bento gritou: "Menino Diabo está lá." Aconteceu então uma grande escaramuça. Dos Caramurus caíram Schreiner e Berlitz. O Menino Diabo levou quatro balas na perna e apesar disto gritou: "Avança patriota. Avança cavalaria." (177) Mas os Farrapos fugiram em direção ao campo.
Menino Diabo ferido caiu do cavalo e foi capturado pelos Caramurus. Retiraram-se devagar com o prisioneiro. Mallman  carregou o famigerado farrapo nas costas, a fim de conservá-lo vivo para enfrentar um terrível julgamento. Quando, porém, viu o amigo Schreiner no chão, jogou com um gesto de desprezo o Menino Diabo para o lado e, com cuidado carregou  o ferido Schreiner, mas este morreu ainda naquela noite. Um alemão carregou o Menino Diabo na sua frente  no cavalo, enquanto dizia que o sujeito deveria voltar ao lugar donde viera. Johann Fröhlich, irmão de Fritz, vigiava-o caminhando ao lado. De tempos em tempos aplicava-lhe uma coronhada  no flanco, repetindo constantemente a pergunta: "Porque mataste o Morschel?"
Chegados em Dois Irmãos levaram o prisioneiro para a casa do velho Strehl, sogro de Acher. A mulher de bom coração mandou que  deitassem o ferido numa cama. Mas quando Mombach e Kronbauer souberam, amarraram um laço no Menino Diabo, arrastaram-no por debaixo das laranjeiras até  o local do suplício. Juca da Silva que caíra nas mãos do Menino Diabo e por ele fora terrivelmente torturado com pontaços de sabre, satisfez a vingança no indefeso. Conta-se que agarrou o bigode e o arrancou com os pelos e a pele. Outros contam que o capitão Manoel Francisco, aplicou-lhe golpes de facão. O prisioneiro ao se defender com as mãos, retalhou os dedos. Muitos outros contribuíram com o espetáculo de terror. Mombach que já não agüentava ver os tormentos, desferiu-lhe o golpe de misericórdia, golpeando-o de cima ara baixo com uma faca no pescoço, cortando-lhe a carótida. Ainda esperneando foi jogado na cova. Com isto a terrível sentença estava executada. Três dias mais tarde apresentou-se um farrapo alemão de nome Wersch  e, como se conta, desenterrou o cadáver, levou-o e contou duzentos pontaços  no corpo. Mais tarde, quando o capitão Francisco tornou a passar, e o tal do Wersch tomado de medo, gritou para o oficial imperial que, o que fizera era do conhecimento de todos: "Sou também caramuru como vocês." Tentou pular a cerca para encontrar-se com o capitão Francisco. Enquanto subia ouviu-se um disparo e Wersch caiu morto. "É a recompensa por ter contado  os golpes" e afastou-s friamente. Depois da morte do Menino Diabo os Caramurus ocuparam um ponto na Schwabenschneis. Mas ameaçados de todos os lados, retiraram-se para um lugar mais seguro no Morro Reuter. De momento não lhes  interessava o confronto com os Farrapos, porque se sentiam fracos. Combinaram que só em caso de necessidade arriscariam entrar em combate. A senha combinada para começar a luta seriam dois tiros um seguido do outro. De fato três dias depois da morte do Menino Diabo apareceram os Farrapos. Entraram em Dois Irmãos com 300 homens e já estavam acampados, sem que os Caramurus o soubessem. Aconteceu então que foram disparados por coincidência  dois tiros. Dois imperiais haviam decidido verificar como estavam suas casas, quando um bicho atravessou o caminho e os dois dispararam. Com este sinal de alarme os Caramurus irromperam do mato e, sem o esperar, tropeçaram nos Farrapos também assustados. Diante da superioridade numérica Bento Manoel procurou proteção no mato e evitou o combate. "Pois", dizia ele, "não temos um único homem sobrando." Um francês de nome Cade, que se encontrava no meio dos imperiais, irritou-se com o sopro do corneteiro inimigo. Falou num alemão maltratado: "Se a corneta não silencia carrego a carabina e mato o corneteiro." De fato disparou  e ao que parece  matou o corneteiro, pois, a corneta silenciou. Os Farrapos passaram pelo Morro Reuter e foram até a Walachei (178) onde roubaram 80 cavalos gordos e se retiraram. Os Caramurus não lamentaram muito o prejuízo, pelo que disse Bento Manoel: "É preferível perder todos os cavalos a perder um único homem."
Durante algum tempo reinou calma. Foi então que Peter Renner correu até a Picada 48, com a notícia: os Farrapos voltaram. Sem perder tempo Fritz Fröhlich entrou  dentro de casa, pegou duas pistolas que estavam sobre a mesa, correu para o mato, 40 braças afastado da casa. De lá observou como os Farrapos cercaram a casa. "Onde estão os rapazes?" perguntaram os invasores. "Não sei onde estão," gritou a mãe. Neste meio tempo Friedrich pôs-se a caminho de Dois Irmãos. A notícia do novo ataque dos Farrapos espalhou-se como o vento e os imperiais reuniram-se de novo. Decididos foram ao encontro do inimigo e, durante a noite passaram por um valo, utilizando uma lanterna para iluminar o caminho. Na chegada os imperiais mataram um farrapo, mas logo se retiraram. Os Farrapos avançaram então sobre Dois Irmãos. Carregavam bandeiras brancas e levavam como prisioneiro o imperial Kalsinger. Primeiro Kalsinger ficou preso na cadeia perto do Passo. Depois foi forçado a acompanhar não poucas incursões. Em certa ocasião forçaram-no a atravessar o rio com água no pescoço, tocando clarineta. Mais tarde foi encontrado morto no campo. Foi reconhecido pelas botas de salto alto que costumava calçar. Mas voltemos aos Farrapos em Dois Irmãos, que não experimentaram surpresas agradáveis. "Como sairemos daqui?" ouviam-se os vencedores falando, ao perceberem que estavam cercados. Retiraram-se nas caladas da noite, deixando para trás cavalos, arreios, etc. Os arreios foram devolvidos três dias depois pela intermediação do inspetor Pfeistricker da Picada 48. Conclui-se daí que os confrontos tinham perdido muito de seu ímpeto e estava em andamento uma volta à convivência pacífica. Seguiu-se um intervalo de tranqüilidade quando, certa noite, sem aviso os Farrapos apareceram. Cercaram a casa dos Fröhlich e tiraram o nosso Fritz e seu irmão Peter da cama quente. Precariamente vestidos  com camisa e calça, os irmãos foram levados a Dois Irmãos. Fritz teve só os cotovelos amarrados nas costas, ficando com as mãos livres, enquanto o Peter teve tambem as mãos amarradas. O fato  de Fritz ter as mãos livres permitiu que Peter não demorasse em ficar livre. Depois de marcharem meia hora Fritz livrara Peter das amarras e, num momento oportuno, num salto, Peter entrou no mato.  Embora caísse por cima de um tronco de árvore e uma bala fosse endereçada a ele, conseguiu safar-se com êxito. Faltava libertar Fritz. Isto ele mesmo teve que providenciar e o fez honesta e astutamente como o demonstra o relato. Peter acabara de sumir quando  um farrapo gritou: "Corre atrás dele e assim estamos livres  de ti." Mas Fritz esperto demais  respondeu: "Não o faço," sabendo que lhe mandariam uma bala. Quando mais tarde destacaram um alemão para vigiá-lo começou  a negociar com ele a libertação: "Deixa-me livre e te dou 18 mil réis." Obviamente o Fritz não carregava este dinheiro no bolso, porque os Farrapos se reservavam o privilégio de eles próprios carregar o dinheiro dos adversários. Chegando em Dois Irmãos na casa de Litjahn (agora Märkel), Fròhlich pediu-lhe 12 mil réis emprestado. Como este só tinha seis o bom guarda declarou-se satisfeito com esta soma. Fritz estava pois, livre. Correu até um dos seus amigos que lhe emprestou uma farda e uma espingarda. Duas horas mais tarde nosso herói perfilava-se de novo entre os imperiais e se fez útil como espião. Mais tarde devolveu corretamente  os seis mil réis. Nunca teria acreditado, como dizia, que sua vida e sua liberdade não valessem mais  do que seis miseráveis mil reis.

Apenas uma vez ainda Fröhlich se viu obrigado a fazer o papel de soldado. Marcharam do Portão, passando pelo Carioca e Sapucaia, onde receberam armas, seguindo até Santo Antônio da Patrulha. Lá aproximaram-se dos Farrapos e podiam te-los ao ponto aprisionado caso tivessem tido interesse. Mas na época  os acontecimentos desenrolaram-se como  no tempo dos Maragatos. Fazia-se muito barulho. Marchava-se constantemente de um lugar para o outro, atacava-se com precipitação, ao ponto de, em certa ocasião terem que abandonar o churrasco quase pronto. Não alcançaram o inimigo muito menos o venceram. O mesmo aconteceu na marcha para Santo Antônio. Permitiu-se que os Farrapos marchassem sem empecilho até a Serra e de lá se dirigissem para Rio Pardo, enquanto os colonos encaminharam-se para a Aldéia, onde passaram uma enome fome. Depois de ficarem acampados durante três semanas perto da ponte de pedra, sem feitos e sem honra e as fardas se deteriorando cada vez mais (a alguém de Campo Bom só restava uma perna da calça, o velho Datsch perdeu a paciência. "Vamos embora," foi a decisão. O brigadeiro que temia um levante exigiu a devolução dos sabres. "Se isto é tudo," disseram os homens da mata virgem, "aqui estão," e jogaram os sabres aos seus pés. Friedrich Fröhlich foi também para casa. Escondeu a carabina durante três semanas  no rio. Não quis mais ver o instrumento de morte e não quis saber mais nada de guerra. Mais tarde vendeu o trabuco enferrujado por um mil réis, mas as suas memórias não teria vendido nem por muito dinheiro. 

Deitando Raizes #40

Uma menção toda especial (166) merecem aqueles colonos que se distinguiram pela sua vida de fé e piedade. A nossa Crônica tem a obrigação de depositar sobre suas sepulturas, a coroa sempre verde do reconhecimento e da gratidão. Como é bela, por ex., a manifestação do velho Peter Dilli, ao receber os santos sacramentos. Disse com naturalidade ao padre que o assistia: "Sim, apenas depois da chegada dos jesuítas aprendemos a valorizar e a venerar de verdade a Mãe de Deus. Antes deles sabíamos pouco de Maria e pouco A amamos”. Uma breve lembrança merece também Mathias Jung, falecido em 18 de agosto de 1882 com 65 anos. No começo trabalhou como marinheiro numa embarcação que navegava de São Leopoldo até o mercado em Porto Alegre. Paralelo tocava um pequeno comércio com ovos, manteiga, galinhas, etc. Quando chegava à meia noite em São Leopoldo, não perdia tempo e punha-se a pé a caminho até o Bohnental. Mais Tarde tornou-se professor. Embora ele próprio mal soubesse escrever, contudo deu conta do recado porque era um homem comprometido e consciente de suas obrigações. Apesar de várias vezes despedido, voltava sempre de novo ao posto de professor, algumas vezes porque não havia nenhum outro disponível e outras porque gostava de prestar serviços aos compatriotas, apesar do pouco reconhecimento. Lecionou tanto no Bohnental quanto no Schneiderstal. Para este último local dirigia-se a cavalo, tanto no frio do inverno quanto no sol escaldante do verão, apesar dos seus 60 anos. Era um homem íntegro e sempre pronto para qualquer sacrifício. Dirigia-se todos os domingos a Dois Irmãos ou São Leopoldo para assistir à missa. Do seu matrimônio com Elisa Lauermann nasceram nove filhos, seis homens e três mulheres. Dois já faleceram e uma das filhas, Catarina, tornou-se a primeira religiosa de Bom Jardim como franciscana de nome Bonaventura. O velho Jung Mattes merece ser considerado como modelo de atitude filial para com a sua mãe.
Georg Gehring foi durante muito tempo um dos homens mais influentes. Natural da Suábia era ferreiro de profissão. Seu caráter como cidadão e como católico era sólido como o ferro. No começo morou com o velho Berg, seu sogro, na descida do Lehmberg, no local onde agora reside Adolf  Schallenberger. É sabido que o velho Berg era cego no fim da vida. Mas era tão bem tratado pelo genro que respondeu ao Pe. Steinhart que o perguntou como ia "Oh, somos  bem felizes. Levanto às quatro da manhã e rezo o terço. Depois deito de novo e me levanto com os outros, tomo café e fumo o meu cachimbo." Georg Gehring mostrava um espírito de católico autêntico. Venerou e amou os sacerdotes durante a vida e, em sua presença, portava-se como uma criança, apesar dos cabelos brancos. Quando certa ocasião o irmão leigo que auxiliava os padres, de nome Pius, foi chamado por uns dias a São Leopoldo, o Pe. Steinhart observou ao bom homem, que ficara sem cozinheiro. Ora. respondeu, ou posso fazer de auxiliar de cozinha. E de fato o fez, o que não foi tão fácil  já que isto o obrigava a uma cavalgada diária de uma hora. Vê-se que não lhe faltava boa vontade.
Certa ocasião naufragou a sua arte de cozinhar. Às nove horas da noite o feijão ainda não amolecera. O velho Fingerhannes correu-lhe em socorro e o prato de feijão não tardou em ficar pronto e às 10 horas encerraram o dia com um bom café. Anna Ostien, nascida Lauermann, uma vizinha, contou o seguinte: Nos últimos anos não encontrei o velho senhor senão rezando, ajoelhado no chão. "Vovô", disse-lhe ela certa vez, "reza também um pouco por mim." "Sim, Anna," respondeu. (167) "Rezo por todos no mundo."
Durante muito tempo exerceu a função de fabriqueiro e honrou o posto com sua ação enérgica.
Sempre se mostrou bom para com os parentes. Anna Ostien dizia dele que se percebia a sua alegria cada vez que os via. Já que a primeira mulher do filho Georg andava muito adoentada, não só cuidou dela  como também encarregou-se dos serviços de toda a casa. Antes de falecer foi obrigado a ficar deitado. Os dedos dos pés foram literalmente apodrecendo. Apesar disto o Pe. Eultgen, de santa memória, encontrava-o  cheio de paciência e com o terço na mão, toda a vez que o visitava. Foi um autêntico católico, não  só de nome, como também de ação, que encontrava na oração o melhor bálsamo para o sofrimento.
E entre as famílias que sofreram prejuízos especialmente grandes, encontram os Lauermann, os Ostien e os Fröhlich. Estes últimos moravam no Campo, um quarto de hora distante da atual moradia de Karl Mattje. Antes da Revolução possuíam 180 vacas matrizes. Conforme Johann de Johann Ostien, um excelente capim cobria na época o campo, tão alto que um cavaleiro sumia nele. O campo cobria-se de manchas pretas de tanto gado, gordo e lustro como que escovado. Os animais só permaneciam no pasto durante o dia. À noite eram recolhidos para dentro do curral circular onde se procedia a ordenha. A ordenha não era tarefa fácil tendo em vista que os animais selvagens tinham que ser manietados.
No começo eram presos num poste de madeira de maneira que não conseguiam mover-se, até que finalmente se rendiam ao destino. As vacas leiteiras chegavam por vezes a 40, resultando em muitos baldes de leite. Do leite fazia-se manteiga e queijo, normalmente comprado e comercializado pelo velho Bahm  de Hamburgo Velho. O velho homem da manteiga foi mais tarde fulminado  por um raio. Os preços da época: uma boa vaca de criação era vendida nas picadas por sete Thalers, doze porções de queijo e uma libra de manteiga valiam uma pataca. Raras vezes vendiam-se animais para o abate, pois, na época quase só aparecia carne de porco na mesa e, mesmo esta, raramente. Johannes Ostjen lembra-se de uma única vez do abate de um animal. Nossa alimentação consistia em feijão preto e batata inglesa e nosso café num caldo preto de cevada com farinha de mandioca, servido em pequenas cabaças. O patriarca da família Ostjen foi Johann Ostjen casado com Elisabeth Hub. Tornou-se benemérito dos colonos pelo fato de os levar de carroça de São Leopoldo até a mata virgem, o que lhe rendeu uma grave enfermidade da qual acabou falecendo. Teve quatro filhos: Elisabeth, mãe de Georg Mattje, Peter, Catharina, mulher do falecido Peter Dilli e Johann casado com Anna Lauermann. Depois da morte de Johannes Ostjen  a viuva casou-se com Johannes Fröhlich.
Desse casamento nasceram dois filhos, Georg e Friedrich. A sua cabana coberta de palha erguia-se no caminho de Novo Hamburgo a São Leopoldo, Portão Dois Irmãos e Bom Jardim. O caminho leva a São Leopoldo e desemboca na atual estrada onde, numa casa vermelha, mora um certo Gerber. Na direção de Bom Jardim passava-se pela casa de Joãosinho Lourenço. Numa certa tarde passaram por aí os Farrapos a caminho da ocupação de São Leopoldo. Levavam um lote de gado, numa carreta uma canoa para atravessar o rio dos Sinos, faixas amarelas nos chapéus e mal vestidos. Uma boa parte deles tinha trapos amarrados na cintura. Também as mulheres montavam em cavalos e empunhavam lanças, (168) que terminavam em três pontas, as laterais com ganchos e a do meio reta, certamente uma arma temível num entrevero à mão.
Os Farrapos  vinham com a esperança de levar São Leopoldo de roldão. Levaram uma tremenda decepção. À meia noite passaram de novo por nós, dispersos deixando tudo para trás. Teriam até preferido entregar as crianças. Quando apareciam em grande número comportavam-se com decência. Os oficiais cuidavam para que seus homens não molestassem os colonos. Em contrapartida oferecíamos água e um oficial chegou a enxotar a golpes de sabre um retardatário. Os Caramurus tinham o mesmo comportamento.
Costumávamos ter medo de pequenos bandos que se comportavam mais como salteadores do que como soldados. Na verdade os Farrapos nos molestavam mais do que os imperiais pois, nas proximidades encontrava-se o "Beco dos Farrapos", onde praticamente todos eram aliados dos Farrapos: Einsfeld, Neupinger, Frank, Stein, Bach, Wermann, Eberling. Um vigia ficava sempre de plantão numa elevação perto de Bom Jardim, visitada ora pelos Farrapos, ora pelos Caramurus. Das nossas moradias pudemos observar às vezes as escaramuças que aconteciam entre as facções inimigas. De todas as nossas posses sobrou apenas uma vaca e mesmo esta nos foi finalmente tirada. Certa vez a mãe e as crianças fomos obrigados a fugir. O pai refugiou-se  na Picada 48, na casa dd Franz Meng. Johann Ostjen dirigia-se seguido até lá para levar notícias da família. Fazia-o ora a pé, ora a cavalo que era deixado num esconderijo. Certa ocasião viveu uma história estranha. Corria voz que, no caminho perto do vale fundo entre Simonis e Lenk, andava um fantasma. Era noite. Ao aproximar-se do vale profundo escutou um rosnar. "Vamos, tordilho," falou. Chamou o cachorro branco e avançou em direção ao fantasma. Viu então que o rosnar não vinha de um fantasma, mas de  um velho bonjardinense bêbado. Desde então o herói da ocasião não sentiu mais medo de fantasmas.
Acontecimentos igualmente pesados abateram-se sobre a família Lauermann. Desde 1827 suas benfeitorias encontravam-se no lote19, primeiro perto do caminho, depois perto do arroio e, finalmente no alto onde se encontram hoje. As instalações eram bem do estilo das casas dos colonos alemães. Sala, quartos e celeiro debaixo do mesmo telhado, ligados entre si por uma passagem central. Os Lauermann sofriam, de vez em quando, incursões da parte dos imperiais de Dois Irmãos. Merece menção especial a façanha de Mombach, chefe dos Caramurus, que derrubou com o sabre toda a louça da prateleira, deixando por muito tempo as marcas visíveis. Numa outra ocasião dirigiu a fúria contra os cobertores de pena, cuja fronhas lhe agradaram. Pendurou-as num prego, abriu-as e espalhou as penas. Para inutilizá-los jogou-os num barril de nata utilizado para bater manteiga. O velho Lauermann era alfaiate natural de Waderer na Lorena, anexada à Prússia em 1815. Servira durante sete anos nas tropas de Napoleão contra os ingleses e, em 1826, emigrou para o Brasil. Durante três meses ficou acampado no campo, perto da moradia do velho Bug. Em 1828 casou pela segunda vez, sua mulher e filhos faleceram em Pelotas - quando com outros viúvos veio mais um contingente de  imigrantes acompanhados com moças casadoiras, a bordo do navio Olbers. Aos domingos buscava no Portão, onde morava Luiz Bedemacher,  laranjas por oito vinténs o saco, em companhia dos demais colonos e os negros libertos Xavier e Marisma . O pessoal de Dois Irmãos e Bom Jardim encontravam-se nas cancelas do Portão. (169) Já naqueles primeiros tempos todos se empenhavam em plantar laranjeiras e sonhavam com uma que produzisse frutas do tamanho de um barril de farinha, como costumava dizer Johannes Ostjen. Naquele tempo Bom Jardim assistia às vezes a um espetáculo divertido. Por ocasião em que os colonos de São José do Hortêncio buscava subsídios em São Leopoldo, passavam por Bom Jardim na ida com cara séria e na volta alegres, não só, como se dizia, pela dinheiro embolsado. De maneira alguma se pensava em algo errado. Os Lauermann perderam tudo na Revolução. As plantações foram devastadas e dentro de casa encontravam-se apenas alguns porongos e uma faca do comprimento de um dedo. Das roupas sobraram no fim só aquelas que vestiam. Anna Lauermann contava o seguinte do aperto em viviam: Carne não conhecíamos e quando ia para a escola levava um pedaço de pão seco.
"Papai",  disse ela certo dia. "Serei obrigada a comer sempre pão seco?" O pai respondeu: "Mergulha-o no rio e não estará mais seco." Mathias, o irmão de Anna casou em 1844 com Rosina Mossmannn. Levou o primeiro filho para batizá-lo em São Leopoldo quando já cotava com oito meses. O vigário estava doente e impedido de batizar. Lauermann voltou depois de quatro semanas e a criança foi batizada. O vigário disse: "Voltem mais tarde para que eu registre a criança, agora não tenho tempo." Mas o Lauermann deixou estar como estava. Desta vez ele não tinha tempo. No ano de 1845 houve uma grande seca e as pessoas vinham em grande número até a cruz da missão para pedir chuva. O mencionado Lauermann trabalhava também como marinheiro no barco de Tiefenthäler e, como outros, fazia a pé o longo caminho até São Leopoldo. Ganhava duas patacas por dia, incluída a viagem de casa até  "Passo."
Enquanto escrevíamos a crônica ficamos não poucas vezes em dúvida, se não era um exagero incorporar no livro o retrato individual das numerosas famílias. Mas uma avaliação isenta confirmou-nos no propósito de não nos deveríamos desviar do caminho começado. As nossas razões foram as seguintes. Todos gostam de ouvir as histórias de vida de outros. Ao encontrarmos numa viagem uma pessoa totalmente desconhecida, depois de estabelecer alguma familiaridade, a primeira coisa que acontece é a narração das peripécias de ambos os lados. De outra parte seria uma lástima se os pioneiros da colonização alemã no país caíssem em total desconhecimento. Por fim o leitor perceberá em cada pessoa  individualmente a maravilhosa condução da Providência Divina. Desta maneira sentir-se-á estimulado a confiar nela em situações adversas.
Continuemos pois, com decisão a série dos retratos de vida. É compreensível que reservemos uma atenção e um tratamento especial para as famílias que se distinguiram pela sua vida cristã.
Peripécias na vida da família Pohren.
No livrinho de reza de Vincentius Pohren que ele escreveu com as próprias mãos e deu o título "Livrinho de Mirtes", encontramos como anexos, os principais  acontecimentos da sua vida. Consta aí: "No ano de 1806, na idade de 32 anos, oito dias depois do dia de São Vicente (portanto em janeiro), casou-se com Catarina Klein, que na ocasião contava com apenas 16 anos. Deste casamento nasceram 10 filhos até 1826, quatro meninos e seis meninas. Johannes viu a luz do mundo  no dia de Santa Bárbara de 1810, às sete horas da tarde, Margaretha a mãe dos irmãos Dilli em 16 de maio, às 11 horas da noite.
Vincentius, o patriarca da família Pohren no Brasil gozava de uma boa situação na Alemanha, como se pode deduzir até as minúcias do seu livro de registro de despesas, levado com assiduidade. Produzia mudas de árvores e era dono de dois grandes pomares, ocupados com macieiras e pereiras, que ele enxertava e vendia. Na página 25 do mencionado livrinho, encontramos o seguinte registro: no primeiro pomar cresciam 88 macieiras enxertadas, 273 pereiras enxertadas, 335 árvores silvestres, sem contar as menores. Para o segundo pomar os registros indicam: 308 macieiras, todas enxertadas, 745 pés silvestres e 98 pereiras. Na página  três estão os registros das mudas vendidas. Para o ano de são 15; 1820 são 37, 1821 são 36 e 1822 são 126, etc. Os últimos renderam 45 Thalers. Os registro continuam nesta linha até 1827. Na primeira página consta que Pohren comprou uma casa por 240 Thalers. No mesmo ano construiu um celeiro, pagando 26 ao pedreiro e ao carpinteiro 14 Thalers.
O motivo da emigração para o pai de sete filhos homens foi a prestação do serviço militar na Prússia. Encontramo-no assim em 1828 empenhado em vender a propriedade. Na página 75 anotou: As contas das entradas coma venda dos meus bens: 15% de 1190 Thalers foram deduzidos porque o pagamento foi à vista, importando em 180 Th., sobrando 1010 Th. Acresceram 375 da casa, 95 da pastagem, elevando a soma total a 1480 Th. Deduzidas as dívidas sobraram 1080 Th. Com este dinheiro começou a viagem. Na página 76 estão assinalados os custos da viagem. A viagem oceânica importou em 72 Th. por pessoa. Os seis passageiros custaram 432 Th. A viagem pelo Mosela e o Reno custou 15 Th. e a carga 2, 5 Th. O transporte terrestre de Wesel até Bremen importou em 20 Th., elevando do total das despesas para 477 Th.
Para começar estavam reservadas duas provações para o nosso Vincenz. Passou 18 semanas no mar com a família. Neste meio tempo perdeu a mulher e três dos seus filhos. A mulher contraiu escorbuto provavelmente por causa da alimentação sem variação. Acresceu a grande escassez de água potável distribuída na coberta superior do navio. Quando a enferma se arrastou até em cima para beber, uma menina bebia de uma vasilha. Ela deveria receber também a sua porção quando o nosso Pohren a viu desfalecer. Não conseguiu mais beber e sem sentidos  foi levada para baixo e naquele dia ficou sem água. Dos filhos do Vincentius só vive mais um e mora em São Sebastião do Caí.