Archive for setembro 2014

Nacionalização e ação policial no Estado Novo - Relatório I da Polícia #1

Entre os anos de 1938 e 1945, os órgãos da polícia do Rio Grande do Sul, produziram uma série de documentos, pelos quais procuraram  comprovar o avanço do nazismo entre as populações de descendência alemã no Estado. Entre estes documentos destacam-se dois relatórios elaborados pela Chefatura da  Polícia, sob o comando do major Aurélio Py, ambos publicados em 1942. Analisando esses documentos, sete décadas depois da sua publicação, fica a impressão de que seu autor estava convicto de que os imigrantes alemães e seus descendentes no sul do Brasil, sem exceção, formavam um poderoso enclave nacional-socialista nessa região. Por essa razão, as autoridades resolveram desencadear um programa agressivo de nacionalização, com o objetivo de neutralizar os agentes da propaganda do nazismo e, ao mesmo tempo, extirpar suas bases de operação. Proibiam  o uso da língua alemã, proscreveram os veículos de comunicação em língua estrangeira: jornais, almanaques, livros, livros de reza, revistas, periódicos e qualquer outro tipo de impresso. Fecharam escolas e associações, vigiaram os cultos religiosos e chegavam a desrespeitar a privacidade das famílias, par flagrar as pessoas falando alemão na intimidade da família. Para que o cumprimento dos respetivos decretos fosse cumprido à risca entrou em campo todo um aparato policial que se valia de todos os métodos e meios, até a prisão e a tortura para intimidar as pessoas.
As circunstâncias explicam, sem dúvida, os temores das autoridades e explicam também, até certo ponto os exageros cometidos pois, no ano da publicação dos Relatórios, a Segunda Guerra Mundial estava no auge. Em agosto daquele ano o Brasil declarou guerra à Alemanha. Os dois Relatórios confirmam o que muitos outros documentos registraram sobre a Campanha de Nacionalização.
Primeiro. A presença nazista no Estado era uma realidade e como tal motivo de preocupação das autoridades e sua obrigação de lidar com ela com os instrumentos legais disponíveis.
Segundo. As células nacional-socialistas localizavam-se nos centros urbanos de algum significado. Seus endereços e o nome dos dirigentes eram conhecidos pelas autoridades policiais.
Terceiro. No mínimo 80% dos assim chamados alemães das comunidades coloniais, estavam fora do alcance direto pois, não tinham acesso a jornais, muito menos ao noticiário do rádio, privilégio de meia dúzia que possuíam um “rádio galena” e fones de ouvido, de curto alcance e qualidade péssima. Somava-se a isso a pouca ou nenhuma noção do que poderia ser o nacional-socialismo. Havia outra razão que impedia os colonos e a maioria dos moradores das cidades, de aderir a ele. Sua natureza anticristã e antirreligiosa repugnava a mentalidade cristã da absoluta maioria.
A análise aprofundada do conteúdo do Relatório I, vai em anexo. Aqui oferecemos apenas os títulos dos diversos capítulos, seguidos de  conclusões formuladas a partir da análise. São 17 capítulos  que se estendem por 200 paginas. 1. O mundo sob a cruz suástica; -  2.  Aspeto geral da colonização do Rio Grande do Sul;  -  3. Primórdios da infiltração nazista;  -  4. A tática da penetração;   -   5. A organização do NSDAP No Rio Grande do Sul;  -  6. Alas do Partido Nacional-Socialista;  -  7. Combate efetuado pela polícia do Rio Grande do Sul;  -  8. O Partido Nacional-Socialista nos demais estados do País;  -  9. A “Schwarze Front” (Frente Negra);  -  10. Conclusão;  -  11. O nazismo em Santa Cruz;  -  12. O Colégio Sinodal em São Leopoldo;  -  13. O NSDAP em São Paulo;  -  14. As atividades alemãs no Rio Grande do Sul e Santa Catarina vistas pelo “Times” de Londres;  -  15. Caratas e conferências do círculo de colaboradores teuto-brasileiros;  -  16. Memoranda apresentados à Chefia de Polícia;  -  Documentos e traduções.
A leitura e a análise das partes e do conjunto do Relatório I, leva a uma série de conclusões. Entre elas  fixo-me em duas que parecem de fundamental importância para reduzi-lo à sua verdadeira dimensão como libelo acusatório.
Primeiro. Todas as evidência levam à conclusão de que o perigo nazista realmente existiu. Os agentes e as agências de propaganda eram conhecidos pelas autoridades pelo setor das relações com outros países e pela polícia e as sedes de irradiação da propaganda com os seus endereços registrados.

Segundo. Dos 27 documentos arrolados como provas no final do Relatório I, somente 4 são posteriores ao 10 de novembro de 1937, data da implantação do Estado Novo. 23, portanto, datam de um período em que não havia restrições legais para o funcionamento da propaganda de alemães ou brasileiros em favor da Alemanha no Brasil. Mais. É um fato historicamente sabido de que altas autoridades civis e militares não faziam segredo das suas simpatias para com o nacional-socialismo e demais fascismos vigentes na Europa na época. Terceiro. Merece  registro o fato de que, já em 1931, o jornal em língua alemã, “Deutsches Volksblatt” publicado em Porto Alegre, chamara a atenção para o caráter nocivo do nacional-socialismo, fato  que valeu a proibição de sua circulação na Alemanha. Mais ainda, em 1935 e 1936, o diretor do jornal que acabamos de citar, dr. Franz Metzler, promoveu um concurso de monografias com a finalidade de debater em alto nível e esclarecer uma série conceitos básicos para entender a dinâmica da inserção dos imigrantes alemães no todo da nacionalidade brasileira. Paralelamente o dr. Metzler ministro palestras e publicou matérias em seu  jornal, esclarecendo ao público o que significava ser teuto-brasileiro e que essa condição nada tinha a ver com uma adesão ao ideário nacional socialista. A defesa do seu ponto de vista rendeu-lhe confrontos diretos com os grupos nacional-socialistas de São Paulo e Santa Catarina. Essas fontes foram recolhidas e traduzidas pelo autor dessas linhas para futuras postagens neste Blog.

Educação do corpo e identidade étnica - Turnen – ginástica – esporte – exercícios físicos

A organização da comunidade típica formada pelos imigrantes alemães e seus descendentes, não dispensava os instrumentos mínimos para garantir uma formação profana e religiosa básica, preservar a identidade étnica e promover o progresso econômico e a promoção humana. Não podiam faltar a igreja, a escola, o cemitério, a casa de comércio, o salão comunitário, os diversos artesanatos. Os pressupostos mínimos para se poder falar numa comunidade foram, tanto para católicos, quando para protestantes, a igreja, a escola e o cemitério.  Temos aqui a explicação para a prática da religião fazendo parte do quotidiano das pessoas e o número de analfabetos muito baixos.
As  décadas de 1850 e 1860 podem ser consideradas como marco referencial para a consolidação da imigração alemã no sul do Brasil. No interior floresciam centenas de comunidades e na capital do Estado e nas florescentes cidades do interior, comerciantes, artesãos, profissionais liberais, professores, religiosos e outros, organizaram as comunidades urbanas. Também estas tiveram uma grande preocupação pela preservação  da identidade. Serviam-se da vida associativa como instrumento para perpetuar a sua maneira de ser alemã. Em meio a exuberante vida associativa, ao lado do canto, teatro, música, e formas de lazer diversas, multiplicaram-se as instituições destinadas aos exercícios corporais, ao “Turnen”, à ginástica, aos exercícios físicos, enfim, à educação e disciplinamento do corpo.
Foi a serviço dessa trajetória que os imigrantes e seus descendentes recorreram  à educação do corpo. De um lado havia o empenho em preservar, de alguma forma, a herança cultural. De outra patê havia também a consciência clara de que não havia como não encontrar caminhos para uma inserção cada vez mais efetiva na nacionalidade brasileira. A questão de fundo resumia-se nesta questão resumia-se em à serviço da nacionalidade em construção o potencial contido na tradição cultural dos imigrantes. Nesta questão os teuto-brasileiros costumavam agir o seguinte raciocínio: A pessoa que renega sua tradição e com ela a identidade, não passa de um mercenário, dum aventureiro, que vende seus préstimos àquele que lhe o preço mais algo. Como tal nunca será um cidadão confiável. A fidelidade e a preservação da tradição constituem-se, portanto, num pressuposto para o patriotismo. Os fatos não deixam dúvidas sobre o acerto dessa visão histórico-antropológica dos imigrantes e seus descendentes.
Na obra comemorativa do primeiro centenário da imigração alemã, enumeram-se 324 associações, mais de 300 só no Rio Grande do Sul. São sociedades, de canto, grupos de teatro, orquestras, associações de fotógrafos, associações destinadas ao lazer, associações para fins múltiplos e até clubes de fumantes. O que mais cai em vista é alta porcentagem de clubes e associações que se destinavam, de alguma maneira, a exercícios corporais. São 150 num total de 352. São diversas as modalidades de esporte: andar a cavalo, bolão, tiro ao alvo e outras. Mas sobressaem especialmente associações, clubes e sociedades de ginastas (Turnvereine e Turnklubs). Os mais importantes e o mais vistosos entre eles foi a “Federação dos Ginastas” (Turnerbund) e A Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (SOGIPA) . A obra comemorativa citada resumiu a importância dessas sociedades e clubes:
“Não é possível fazer justiça à Federação dos Ginastas no âmbito dos breves dados sobre a vida associativa alemã no Rio Grande do Sul. Seria necessário escrever uma extensa monografia, mesmo que fosse apenas par dar uma noção do que essa Associação realizou para o aprimoramento corporal e moral da juventude teuto-brasileira de Porto Alegre especialmente na condução exemplar do Presidente J. Aloys Friederichs. A atuaçãoo da Federação  de Ginastas é um hino de louvor ao idealismo alemão, à coerência e à persistência na perseguição de objetivos que se julgam os acertados. Apoiada  pelas simpatias e pelo apoio de praticamente toda a germanidade da capital, a Federação pode er considerada  a Associação profana  popular e mais profundamente ancorada em extensas camadas, comprovado pelo elevado número de associados”.
O “Turnerbund” – a “Federação dos Ginastas”, foi a referencia da educação do caráter, da maneira de ser euto-brasileiro. Neste sentido destacamos entre outras as seguintes:
Primeiro. O “ Turnen” a Educação física, o aprimoramento físico por meio de diversos exercícios, persegui um objetivo  bem mais elevado e abrangente do que um corpo sadio. Tem objetivo maior a disciplina, a coerência, a persistência na perseguição daquilo que é eticamente correto.   -   Segundo:  Friedrich Ludwig Jahn, pai da educação do corpo, definiu o que se entende por “Turnen” ou exercitar o corpo. A saúde corporal harmoniosa, “mens sana in corpore sano”, é requisito fundamental para a edificação de  uma nação. Alcança-se este objetivo por meio de um esforço sistemático, contínuo e persistente, na busca de uma educação abrangente, de uma aprendizado sólido, de um esforço ininterrupto, não se envolver com gente efeminada e não deixar-se desencaminhar por nenhuma  tentação e não entregar-se a diversões nocivas à virtude.   -   Terceiro. A educação do corpo ao  lado dos demais recursos  da educação  é colocada a serviço da formação moral como finalidade maior, por sua vez, pressuposto para solidez de uma nação.   -   Quarto. “Turnen”, gin´stica, exercícios corporais em todas as modalidades possíveis, perseguem uma compreensão holística da pessoa, isto é, a disciplina corporal, a postura ética e moral sólida e coerente, devem ser como fundamento sólido e duradouro para o Estado e a Nação.
Quando se fala em educação do corpo como pré-condição holística  e harmônica do caráter e do espírito, lembramo-nos logo da figura de Friedrich Ludwig Jahn e do seu sistema, proposto como instrumento pedagógico a serviço da nação alemã. Entretanto foram elaborados  outros sistemas ou filosofias de vida, destinados a alcançar objetivos específicos. Entre outros, destacam-se “Meu Sistema” de J. P. Müller na Europa e o “Dayly  Dozen” e Walter Camp, na América, e a proposta do jesuíta norte-americano William Lockington.
O sistema de Lockington exibe claramente a marca inaciana. Clareza nos objetivos, liberdade de escolha dos meios, enquanto lícitos, persistência e perseverança no uso dos meios, são as maracas do herói de Pamplona. É exatamente esteo espírito que perpassa o sistema. O manual que orienta a prática do sistema de Lockington começa  com a observação. “Aquele que é capaz de executar os exercícios com certa facilidade e elegância, dá prova irrefutável de que se trata de uma pessoa igualmente bem formada e sadia. Os aparelhos são dispensáveis. Requer-se vontade e um espírito equilibrado. Onde há vontade abres-e um caminho. Não é tarefa para autômatos.  Importa em primeiro lugar o objetivo depois a estética. (Lockington-Küble, 1925, p. 17-18)
Tonl Sander  em sua obra observou: “Foi nesta concepção que Jahn já condenara os exercícios programados. Eram-lhe tão pouco conhecidos como também para Guts-Muths. Aqueles que criaram  a educação do corpo na Alemanha e lhe formularam os fundamentos, basearam a sua doutrina tendo como pressuposto o cenário da natureza como primeiro e principal aparelho de ginástica. Somente  a orientação (Spiess), que sistematizou a arte de exercitar o corpo, julgava que o corpo pudesse ser educado por meio de exercícios programados. Foi nesta concepção que Jahn já condenara os exercícios programados. Aqueles que criaram  a educação do corpo na Alemanha e lhe formularam os fundamentos, basearam a sua doutrina tendo como pressuposto o cenário da natureza como primeiro e principal aparelho de ginástica. Somente a orientação posterior (Spies), sistematizou a arte  de exercitar o corpo. Julgavam que constam o corpo poderia ser educado por meio de exercícios programados livres. Como fazendo parte dos exercícios sem alma constam: abrir as pernas, rodear, flexionar, alongar, etc., alienados de todo e qualquer objetivo dotado de sentido. Não passavam de movimentações sem vida e não exercícios em função de um todo integrado. A orientação de Spiess foi a responsável pelo fato de, durante, durante um século, a ginástica, o “Turnen” em escolas e sociedades fosse sufocado por exercícios áridos, sem vida e artificiais”.
 O exercício do corpo acompanhado de sua educação significa a educação do homem como um todo, , pois corpo e alma formam  uma só realidade e um não é capaz de realizar qualquer coisa, sem a colaboração do outro. Conclui-se dai que:
Primeiro -  Os exercícios do corpo, (Turnen, ginástica, exercícios físicos ...), forma um conceito amplo que compreende todo e qualquer tipo de exercícios e movimentos que evolvem o corpo. Tanto faz se são exercícios em aparelhos, um trivial caminhar  pela natureza, uma respiração profunda, a participação num acampamento de escoteiros, de uma natação, de andar de bicicleta, e outros muitos. O importante não é o que se faz, onde acontece, que aparelhos utilizados numa academia. Tudo deve acontecer num clima de espontaneidade, não emio ao uma rotina neurotizante, na qualos exercícios em si, a estética, a competição, o número de quilômetros percorridos, a altura e a distância do salto, a resistência ou velocidade, são colocados como objetivo maior.
Segundo  -  Os autores mencionados condenam o recurso à educação do corpo  e aos respectivos exercícios, com ou sem aparelhos, com a finalidade única de adestrar o físico da pessoa, ignorando  ou até negando as implicações existenciais entre o corpo e o espírito. Para eles a linha de Spiess, responsável pela tecnificação exagerada, pela supervalorização  do desempenho muscular nos exercícios, pela programação matemática dos exercícios, pelo exibicionismo que acompanham não poucas competições, pelo sentido político emprestado a muitas delas, quando métodos e exercícios levam o corpo até os limites extremos de suas potencialidades físicas, pondo em risco a própria integridade e, pior ainda, quando se lança mão de artificialismos químicos que forçam os ossos e músculos a dar resultados que o seu potencial natural não é capaz de render. Trata-se de uma concepção diametralmente oposta aos grandes teóricos da ginástica, do “Turnen”, como Friedrich Jahn, Guts Muths, Lockington-Küble, Tonl Sander e outros.

Terceiro  -  A educação do corpo não pode estacionar no nível dos mais diversos métodos e exercícios. Eles devem obrigatoriamente servir a um ideal superior, isto é, a formação do caráter, o desenvolvimento de uma personalidade harmoniosa, a serviço da  identidade étnica, como foi proposto e praticado em muitas sociedades, associações e instituições de ensino no sul do Brasil, na  linha de Lockington.

Aloys Friederichs - Presidente da Federação dos Ginastas, atual SOGIPA.

Os jesuítas e a imigração alemã O projeto educacional - A formação do professor #5

Nos primeiros cinquenta primeiros anos da imigração alemã no sul do Brasil, o pessoal docente das escolas que se iam fundando no rastro  da multiplicação numérica das comunidades, deixava, sem dúvida, muito a desejar em termos de habilitação profissional. A estes mestres da primeira fase, entretanto, deve-se creditar, em grande parte pelo menos, a façanha de terem salvo do naufrágio cultural e religioso os imigrantes e a primeira e segunda geração aqui nascida. A grande maioria trabalhou no anonimato com dedicação ao trabalho quase sempre ingrato, o amor à vocação e o total comprometimento com a educação.
Com a multiplicação das escolas e a consolidação da colonização as exigências em relação à escola e à educação foram-se diversificando e, principalmente, pedindo um nível cada vez mais melhor. As circunstâncias já não se contentavam com a improvisação. De outra parte, a demanda, a médio prazo, não tinha como ser suprida por professores formados em escolas normais na Alemanha. Já no remoto ano de 1850 surgiu em Porto Alegre a Associação do Ensino Católico até 1878 sob a responsabilidade  dos professores Volkmer e Clemens Wallau. A intenção original que motivou o Pe. Wilhelm Feldhaus, ao fundar o Colégio Nossa Senhora da Conceição em São Leopoldo, fora uma instituição para formar sacerdotes e professores nativos:  um Seminário para formação do clero e um Seminário para a formação de professores. Tanto a Associação do Ensino Católico, quanto o Colégio Conceição, foram a semente da qual brotaria a monumental obra educadora do Sul do Brasil no final do éculo XIX e primeira metade do século XX. Entre as realizações mais vistosas e mais importantes consta a formação de professores para as escolas comunitárias que teve o seu ponto alto com Escola Normal Católica, criada em 1923. Os evangélicos já dispunham da sua desde o começo do século XX.
Criada em Estrela a Escola Normal foi posta em funcionamento, em começos de 1924, em Arroio do Meio, para ser transferida para Hamburgo Velho e fechada em 1938 em consequência da Campanha de Nacionalização. A propriedade pertencente à Sociedade União Popular foi adquirida pelo Estado que nela instalou a Escola Técnica Alberto Pasqualini.
Os estatutos então aprovados definem a finalidade da Escola: “§1. Na data de hoje, os professores catholicos da associação ‘Deutschr Katholischer Lehrerverein in Rio Grande do Sul’, inscripta no registro das associações a 24 de maio de 1909,fundam, com prévia aprovação  da Exma. Cúria Metropolitna de Porto Alegre, uma Escola Normal Catholica (KatholischeLehrerbildungs-Anstalt), destinada a formar professores catholicos, principalmente para a população de origem germânica nas zonas rurais”. Como se pode ver, a fundação12 foi decidida em Estrela em 1909, mas começou efetivamente a funcionar somente em 1924.
Na postagem anterior já foi traçado o perfil do professor comunitário. Aqui procuramos mostrar como pelo currículo praticado na Escola Normal, os candidatos a professor eram preparados para exercer a função nas respectivas comunidades. Para começar a formação previa 4 anos de duração. Resumindo num quadro temos:
Disciplina                                   C. Adiantado      C. Médio           C. Inferior          Estágio
                                                                        Horas semanais

Religião, incluindo                                   2                      4                      4          4
Bíblia e H. Da Igreja
História da pedagogia e
Metodologia                                           3                      1                      -           -
Psicologia  pedagógica                            3                      1                      -           -
Alemão                                                 4                      4                      5          5
Português                                              5                      5                      5          5
Matemática e cálculo                               3                      3                      4          5
História da Alemanha e do
Brasil                                                    2                      2                      2          2
História Natural                                      2                      2                      2          -
Geografia geral e do Brasil                       2                      2                      2          2
Desenho e Caligrafia                               1                      1                      2          2
Contabilidade                                         2                      2                      -           -
Música (canto, violino, harmônio)  2                      2                      2          2
Educação física                                      2                      2                      2          2
Submetendo o conteúdo do currículo e as respectivas disciplinas com suas cargas horárias a uma análise um pouco mais atenta, encontramos aí  em potencial o perfil do futuro professor colonial. A sua função imediata consistia em alfabetizar as crianças e ensinar os conteúdos de que necessitavam no quotidiano da vida. Neste particular, portanto, suas obrigações relacionavam-se com aquilo que normalmente se pensava constituir a função da escola, isto é,   municiar os alunos com as ferramentas mais indispensáveis para obter sucesso na vida. As disciplinas imediatamente comprometidas que esse objetivo eram a língua alemã, a língua portuguesa, a matemática e o cálculo. Na época em questão – década de 1930 -            o alemão continuava sendo a língua do ensino, a língua da comunicação normal em família, nas relações dentro e fora da comunidade. Em alemão se rezava e se cantava. Os livros disponíveis, os jornais, os almanaques, os livros de reza, eram em alemão e como tal o veículo transmissor por excelência dos valores da tradição cultural, tanto profana quanto religiosa. O Português destaca-se no currículo como a disciplina com maior carga horaria semanal. Cinco horas para cada um dos quatro níveis de formação do professor. Naquele momento histórico o aprendizado do português significava para os  colonos de origem alemã uma exigência prática, como ponte que lhes permitia a participação efetiva como cidadãos na vida nacional. Vai nesta direção a advertência do prof. Strecker dirigida à assembleia da Associação dos professores: “Mesmo que aqui no Brasil não exista uma lei que obrigue o aprendizado da língua  do País, desde cedo, é, contudo, de uma evidência tal que não se deveria perder uma palavra sequer a espeito. Aqui no Brasil se encontra a pátria de nossos filhos; aqui no Brasil irão viver, trabalhar e morrer. E sem entender a língua da terra? Como irão se defender no trato com as autoridades, em juízo, no serviço militar sem o domínio da língua do Pais. Centenas e mais centenas  de relacionamentos os põem em contato, no relacionamento diário e no comércio com pessoas que só falam o Português. Caso não queiram sucumbir na luta pela vida, eles têm que saber Português e devem saber bem o Português. Todas essas necessidades são de tal ordem que não existe uma única escola alemã que não considere o Português como uma das suas metas mais importantes”. (Lehrerzeitung, 1934, nº 7, p. 2)
O currículo de formação do professor deve ser entendido também a partir do fato de a escola comunitária ter sido uma instituição de uma classe só. O mesmo professor ensinava todas as matérias e em todos os níveis. Sua formação teórica  e treino o habilitavam para cumprir com êxito essa missão, nada fácil. Nesta perspectiva entende-se o tirocínio em todas as disciplinas o currículo da Escola Normal. Sua formação previa também as funções que lhe cabiam fora da sala de aula: de fabriqueiro, sacristão, regente do coral na igreja e em festividades profanas, substituto do padre em situações de emergência, conselheiro, árbitro em disputas entre colonos, etc., etc.
(Uma análise mais aprofundada da formação do professor pode ser encontrada na bibliografia indicada acima)



Foto da Escola Normal de Hamburgo Velho

Corpo docente de 1938