Archive for agosto 2014

Os jesuítas e a imigração alemã – O projeto social #3

Assim como a Associação Rio-Grandense de Agricultores fora fundada por ocasião de um Congresso dos Católicos, em 1899, assim também a Sociedade União Popular resultou de uma proposta no nono Congresso, em 1912,  em Venâncio Aires. O tema central do Congresso contemplava a situação cultural, educacional, religiosa e econômica das comunidades teuto-brasileiras católicas. Chegara-se ao ponto em se tornara inadiável a realização de um diagnóstico realista da situação, identificar os principais problemas, partir para um ambicioso projeto de promoção humana de médio e longo prazo, apostar em soluções e escolher os meios e as estratégias de ação apropriadas. No evento destacaram-se duas lideranças que alertaram os congressistas sobre a magnitude da problemática colonial. O Pe. Theodor Amstad representou os religiosos e o Sr. Hugo Metzler, como diretor do jornal Deutsches Volksblatt, os leigos.
Em seu discurso sobre “Os interesses culturais dos alemães católicos do Rio Grande do Sul”, mostrou aos presentes o quanto o nível cultural dos católicos se encontrava em desvantagem em relação aos protestantes. Em vez de uma melhoria presenciava uma piora na situação. Esse fato deixava os alemães em evidente desvantagem no comércio, na indústria, no acesso às profissões liberais e funções públicas, à hierarquia militar, na competição para concorrer a representação política, etc., etc. A maioria das associações recreativas e culturais encontravam-se em mãos de protestantes assim como a maioria dos seus associados. Responsabilizou por este panorama o baixo nível cultural dos alemães católicos. Urgia, pois reverter esse quadro, atacando o mal pela raiz.
Concluído o discurso de Hugo Metzler, o Pe. Amstad ocupou a tribuna. Reforçou as palavras do orador que o precedeu, insistiu na urgência de um esforço comum para enfrentar os grandes desafios com que os teuto católicos se defrontavam. Propôs  como solução a fundação de uma Sociedade União Popular – um Volksverein, aos moldes das associações similares que estavam rendendo bons resultados na Alemanha, Suíça e Áustria. E, para não ficar em palavras e boas intenções, apresentou à assembleia um esboço de estatuto, a partir do qual, explicou aos presentes a natureza, os objetivos, a abrangência e as estratégias da  organização. No documento apresentado, previam-se como objetivos gerais: promover o bem-estar material e espiritual dos católicos de descendência alemã no Rio Grande do Sul. O alemão seria a língua oficial da associação. Qualquer católico, tendo completado 18 anos podia filiar-se como sócio. Como áreas de prioritárias atuação, estavam previstas: 1. Por em prática as resoluções das assembleias gerais dos católicos; 2. preocupar-se com novas colonizações para católicos; 3. Desenvolver iniciativas católicas de beneficência e assistência, concretizadas na medida em que a necessidade o aconselhar; 4. um constante e geral incentivo às escolas paroquiais católicas; 5. Difusão da boa imprensa e da boa leitura, assim como a edição e distribuição gratuita aos associados de uma publicação periódica; 6. A formação do povo  mediante palestras e conversações; 7. A intermediação de empregos e informações; 8. A assistência jurídica aos associados.
Como se pode concluir, a Sociedade União Popular foi uma iniciativa eminentemente confessional e étnica. Comparando a Sociedade União Popular com a Associação Rio-Grandense de Agricultores que a precedeu e a inspirou, fica uma sensação de um tal ou qual desapontamento. Depois da experiência interconfessional e inter-étnica da segunda, entre 1899 e 1910, voltou-se a uma organização declaradamente confessional católica e étnica alemã. O mesmo vale para o novo projeto dos protestantes com a fundação da Liga União Colonial. Tanto no projeto católico, quanto no protestante, percebe-se a preocupação das respectivas Igrejas com suas instituições, doutrina e disciplina. Já os italianos, todos católicos, fundaram seus Comitatti, com objetivos mais pragmáticos de desenvolvimento econômico e social de suas comunidades.
Uma das maiores, senão a maior das preocupações da Sociedade União Popular, encontrava-se na pressão por novos espaços para serem colonizados. As altas taxas de natalidade, somada a uma mortalidade infantil relativamente baixa  para a época, mais o afluxo de novos imigrantes, agravado pelo pequeno tamanho dos lotes coloniais, tornaram-se fatores de permanente pressão populacional. Buscar novas áreas para desafogar a tensão transformou-se numa das prioridades desde o começo do século XX. A Associação Rio-Grandense de Agricultores patrocinara a colonização de Serro Azul, hoje Cerro Largo e Santo Cristo, a partir de 1902. Na década de 1920 já não havia áreas suficientemente extensas no Rio Grande do Sul, para atender à demanda crescente de novas terras. A Sociedade União Popular optou então (a partir de 1926),  para um projeto de colonização no extremo oeste de Santa Catarina, conhecido historicamente como Porto Novo. Hoje compreende os municípios de Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis. Um projeto similar deveria ser implantado no oeste do Paraná na década de 1950. Por empecilhos diversos não foi implementado. (detalhes na bibliografia indicada).
Desde os primeiros Congressos Católicos, no final do século XIX a preocupação pelo meio ambiente foi um tema recorrente, no período da Associação Rio-Grandense de Agricultores e depois na Sociedade União Popular. É um tema que será tratado numa outra postagem desta série.
No esboço dos estatutos  da Sociedade União Popular, entre as áreas de atuação prioritárias, “desenvolver  iniciativas católicas de beneficência e assistência”. Além de uma preocupação mais genérica pela saúde, higiene e alimentação, destacavam-se, na época, quatro pontos críticos que reclamavam uma atenção mais específica:  hospitais, asilos, orfanatos e sanatórios. No começo do século XX, o acesso a serviços médicos e hospitalares por parte das comunidades coloniais, era muito problemático. Em situações mais graves o recurso – praticamente o único – era Santa Casa de Misericórdia em Porto Alegre. Para chegar até  lá os meios de locomoção resumiam-se em cavalos, carroças, macas improvisadas  e o transporte fluvial até a capital. Com o correr do tempo foram surgindo hospitais e casas de saúde em comunidades maiores e centros urbanos emergentes. Hospitais foram construídos em Montenegro, Feliz, Estrela, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Bom Princípio, etc. No mesmo ritmo fixaram-se médicos junto a essas casas de saúde. Foi neste contexto que a Sociedade União Popular decidiu construir um hospital de referência regional, junto ao asilo para idosos já existente desde 1917, em São Sebastião do Caí.
Depois da Primeira Grande Guerra, começaram a multiplicar-se casos de lepra na região de Santa Cruz, Venâncio Aires, Monte Alverne e Arredores. Sabendo da omissão do Estado em relação ao problema,  a Sociedade União Popular chamou a si o enfrentamento da questão.  Uma comissão liderada pelo Pe. Johannes Rick, cuidou dos trâmites legais e práticos. Depois de  encontros com o Presidente do Estado, Borges de Medeiros e autoridades públicas da saúde, o Pe. Rick assessorado pelo médico Dr. Primio Beck escolheu Itapuã como lugar para instalar uma colônia para acolher os leprosos e junto a ela o Amparo Santa Cruz, um orfanato para acolher as crianças pequenas de mães internadas. Todo o empreendimento foi bancado pela Central das Caixas Rurais da Sociedade União Popular, já que o Estado não disponibilizou um centavo.
A pesquisadora Gisela B. Lermen, em sua tese de doutorado sobre a mulher na imigração alemã, deixou registrado: ”A mortalidade materna em consequência do parto, é um dos capítulos mais obscuros da história da colônia”. Os alarmantes dados sobre a mortalidade materna em consequência da precária assistência às parturientes, reclamava medidas urgentes. O dr. Gabriel Schlatter, médico em Estrela e profundo conhecedor da situação da mulher na colônia, levou o problema para o Congresso dos Católicos. O resultado foi a criação, em Estrela, de uma escola para treinar moças da colônia como parteiras. Parteiras treinadas naquela escola ou formadas em outras, circulavam pela colônia como personalidades indispensáveis e respeitadas por todos. Eram conhecidas pelo nome carinhoso de “tia” ou “tia cegonha”, (“Storchentante”).
A escola e a educação mereceu uma atenção toda especial da parte da Sociedade União Popular, por meio da atuação da Associação dos Professores e Educadores Católicos do Rio Grande do Sul, fundada em 1898. Não se celebrava um Congresso sem que o tema escola e educação ocupasse um espaço considerável para avaliar a situação do setor. O feito mais vistoso neste sentido foi a fundação da “Escola Normal” para a formação de professores das escolas comunitárias, conhecido como “Lehrer Seminar”, em 1923. E, para concluir este resumo, não pode ser omitido o fato de a Sociedade União Popular ter resolvido reunir numa central as caixas rurais, ou cooperativas de poupança e empréstimo, dispersas pelas localidades mais diversas, independentes e carecendo de uma orientação central. Esta decisão municiou a Sociedade com os recursos indispensáveis para financiar projetos de colonização, como Porto Novo, hospitais e asilos, como São Sebastião do Caí e a colônia de leprosos de Itapuã.

Os personagens mais significativos da Sociedade União Popular

Pe. Theodor Amstad    Pe. Johannes Rick  -  Pe. Max v. Lassberg     Sr. Hugo Metzler






Os jesuítas e a imigração alemã - O Projeto Social #2

A Associação Rio-Grandense de a Agricultores

O terceiro Congresso dos Católicos foi realizado em São José do Hortêncio em 1900. Este Congresso foi o marco decisivo para o futuro da vida associativa. Conforme consta nos anais, a tônica dos debates concentrou suas atenções em dois temas complementares. De um lado estava claro de que a doutrina social cristã oferecia a saída para enfrentar os desafios gerados pela situação histórica do começo do século XX. Do outro lado estava claro também para as lideranças coloniais de que o bem-estar material, quando corretamente entendido, vem a ser o pressuposto para o bem-estar espiritual. O pavilhão do Congresso estava completamente lotado para acompanhar os debates que contemplaram principalmente dois temas de vital importância para o desenvolvimento da colônia: Novas fronteiras de colonização e o crédito para os colonos.
Mas o aspecto mais marcante da Associação Rio-Grandense de Agricultores foi a sua concepção inter-étnica e interconfessional. Embora a ideia tivesse sido  proposta pelo padre jesuíta Theodor Amstad e as lideranças católicas, já na relação dos fundadores em torno da metade eram protestantes. Os italianos filiaram-se e participaram com entusiasmo nos projetos patrocinados pela Associação, tanto assim que a “Santa Clara” é uma das cooperativas de primeira geração, fundada enquanto  ela se encontrava em plena atividade. Nas assembleias gerais, padres católicos e pastores protestantes, envolviam-se nos debates, lado a lado, com as respectivas lideranças, deixando as querelas doutrinárias de lado, para solucionar os problemas comuns de maior importância.
Quanto ao primeiro, tornara-se inadiável partir para novas fronteiras de colonização, a fim de desafogar  o excesso populacional acumulado na região colonial. Com a não existência de áreas suficientemente grandes nas regiões coloniais antiga e média, para acomodar os excedentes, deveriam ser assentados em fronteiras de grandes dimensões, ainda disponíveis nas Missões, Serra e Alto Uruguai. Antes de definir a área dois pressupostos para essas novas colonizações foram estabelecidos: insistir na formação de comunidades étnica e confessionalmente identificadas e de tamanho suficiente para abrigar uma infraestrutura comunal mínima, como igreja, escola, cemitério, casa de comércio, artesanatos etc.
Depois de uma análise cuidadosa das alternativas de locais de colonização, a opção foi pelas terras oferecidas pela Companhia de Estradas de Ferro Noroeste – Nordwest Bahn - proprietária das terras de Serro Azul (Cerro Largo) e Santo Cristo. O projeto foi implantado a partir de 1902.
Quanto ao segundo, o Pe. Steinhart, que presidia as sessões, pôs na mesa de discussões a questão da poupança e empréstimo. Depois de avaliar diversas modalidades a opção foi pelo sistema Raiffeisen, amplamente utilizado na Alemanha e Argentina. A primeira cooperativa de crédito foi criada em 1902 em Nova Petrópolis. A ela sucederam-se  nas décadas seguintes, dezenas e outras, tornando-se em grande parte, o suporte financeiro para empreendimentos de colonização, de asilos, hospitais, sanatórios e outros mais. Às cooperativas de crédito sucederam-se as cooperativas de produção, consumo e comercialização. No âmbito da produção rural deu-se ênfase ao uso racional dos solos, com as primeiras  propostas concretas de preservação e reflorestamento, diversificação das culturas, melhoria genética das raças de bovinos e suínos, o estímulo à implantação de pequenas indústrias. Ainda no contexto da Associação Rio-Grandense Agricultores foram propostas medidas para o amparo social dos colonos como assistência médica, assistência jurídica, assistência aos idosos, amparo às viúvas e órfãos. O fomento a todas as formas de expressão cultural também não foi esquecido, além da promoção de feiras com exposições dos produtos coloniais, dos artesanatos e das pequenas indústrias.
Como se pode concluir, a Associação Rio-Grandense de Agricultores foi um amplo programa de desenvolvimento social, econômico, cultural e religioso de perfil incomum para aquela época, isto é, interconfessional e inter-étnico. Infelizmente sua duração efetiva foi efêmera, curta demais para  por em andamento e concluir os muitos projetos setoriais, importantes, muitos indispensáveis, para o sucesso da colonização nos estados do sul do Brasil. Uma decisão polêmica tomada na assembleia geral em Taquara, em 1909, transformou a Associação em sindicato, o que na realidade, despojou-a de suas características originais.
Para o pleno funcionamento da Associação com suas características de inter-etnicidade e inter-confessionalidade, havia dificuldades não pequenas, consideradas as peculiaridades da época. A língua oficial da Associação era o alemão e, nas assembleias gerais os assuntos constantes na ordem do dia, eram debatidos neste idioma. Desta forma, a participação dos delegados ítalo-brasileiros e luso-brasileiros ficava seriamente prejudicada. Apesar disto, houve uma adesão significativa às propostas, via indireta. Neste particular o empenho do Pe. Amstad mostrou-se decisivo entre os ítalo-brasileiros. Nas suas cavalgadas pastorais, costumava visitar regularmente comunidades como Santa Lúcia do Piai, São José do Sertório, Nossa Senhora do Pedancino, São Roque, São José de Nova Italiana, São Paulo da Linha Furna e mais uma dúzia de comunidades nas cabeceiras do rio Caí, sob a jurisdição da paróquia de São Sebastião do Caí, Nova Petrópolis e Feliz. Ao lado do atendimento pastoral propriamente dito, soube interessar-se também pelos problemas de natureza econômica e social dos imigrantes italianos. Entre eles encontrou chão propício para as suas propostas de organização associativa. Em não poucos casos, como ele mesmo relatou, a receptividade para as suas ideias e propostas, foi maior do que entre os teuto-brasileiros.
O engajamento dos luso-brasileiros, encontrou dificuldades ainda maiores. Evidentemente a língua foi um obstáculo quase intransponível. A este somou-se o fato de os luso-brasileiros e os açorianos, lidavam com grandes estâncias de criação de gado. A natureza dos problemas de produção e as características sociais, nada tinham em comum com a dos alemães e italianos.
Num segundo momento, a Associação Rio-Grandense de Agricultores tinha em vista  engajar em seus projeto de desenvolvimento econômico e promoção social, o grande comércio da capital, as instituições financeiras, as estações experimentais públicas e privadas. Esta intenção ficou clara com a realização da 5ª assembleia geral em Porto Alegre, em março de 1905. Infelizmente os resultados práticos foram insignificantes, para não dizer nulos.
O convívio e a colaboração entre protestantes e católicos manteve-se num patamar altamente produtivo. Em termos numéricos proporcionais, os protestantes e católicos somavam cada qual em torno dos 50%. Sentados à mesa dos debates, lado a lado, padres católicos e pastores protestantes, com suas lideranças, integrando delegações e coordenando os debates, procuravam, com toda a honestidade e espírito desarmado, identificar os problemas comuns e encontrar soluções de consenso. As querelas de natureza doutrinária e disciplinar que ficassem do lado de fora.
Considerando bem, a Associação Rio-Grandense de Agricultores adiantara-se em 60 anos ao Concílio Vaticano II. Falar em Ecumenismo, mais ainda, propor um projeto de desenvolvimento e promoção humana, em colaboração com outras confissões, em especial com protestantes, afigurava-se para católicos mais ortodoxos como também a autoridades da Igreja e representantes do clero, como uma temeridade, na fase do auge da implantação da Restauração Católica. O lema de ação que orientava o andamento da Associação, resumia-se no seguinte: “Colaborar em tudo o que é comum, deixando de lado as diferenças”.

Com a transformação em sindicato, e a consequente descaracterização da Associação, as  lideranças históricas fundadoras como o Pe. Amstad, Hugo Metzler, pastores protestantes e lideranças italianas, retiraram-se. Mais tarde, no Congresso dos Católicos em 1912, em Venâncio Aires, fundaram a Sociedade União Popular. Na mesma época os protestantes fundaram a Liga das Uniões Coloniais e os italianos os Comitatti. Dedicaremos à Sociedade União Popular – o Volksverein – a postagem que segue.

Figuras chave da Associação Rio-Grandense de Agricultores

Pe. Theodor Amstad                                                                      Sr. Hugo Metzler     


Os Jesuítas e a Imigração alemã – o Projeto Social

A fixação  de imigrantes da Europa Central e do Norte nos sul do Brasil, a partir de 1824, marcou a entrada da agricultura familiar diversificada em pequenas propriedades. Serviria de alternativa à monocultura da cana, do café, do algodão e da criação de gado, em grandes propriedades. A implantação do projeto, foi confiado, primeiro, a imigrantes alemães e,  mais tarde, a italianos do norte da Itália, poloneses, teuto-russos e outros, vindos do centro e do norte da Europa. O novo modelo de economia agrária, irradiou-se  do foco inicial, São Leopoldo, RS, para toda a região sul. De alguma forma, suas ramificações podem ser observadas em todas as regiões da União. A paisagem humana e a atividade produtiva de regiões inteiras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ostentam o perfil característico desse modelo de agricultura.
As comunidades de agricultores foram-se multiplicando e expandindo geograficamente, durante todo o século XIX. No começo do século XX, os vales médios e superiores dos rios da bacia do Guaíba, estavam povoados. A partir de 1870, imigrantes poloneses e a partir de 1873 italianos e, em número menor de outras procedências, fundaram as colônias de Forqueta, Caxias, Farroupilha, Garibaldi, Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Prata, São Marcos, Nova Araçá, Nova Bassano, Guaporé e dezenas de outras. A colonização da Serra, Missões e Alto Uruguai começavam a desencadear-se. Como se pode ver nas entrelinhas do processo de expansão, o modelo de agricultura familiar em andamento deitara raízes e se consolidava. Mas uma série de problemas inerentes à própria natureza do modelo tornaram-se cada vez mais evidentes. Os primeiros sinais de degradação dos solos se fizeram visíveis, impunha-se diversificar as culturas e fazia-se urgente o aprimoramento  genético das raças de suínos e bovinos. Tudo isso fazia urgente também um projeto global para a educação, um programa de assistência social centrado na saúde e segurança jurídica do agricultor. No que dizia respeito à economia, urgia por à disposição dos agricultores instituições de poupança e empréstimo, incentivar as diversas formas de cooperativas e providenciar novas fronteiras de colonização, para desafogar o excesso populacional da região colonial mais antiga. A tudo isso, veio somar-se a diminuição dos mercados do feijão, banha de porco e farinha de mandioca de São Paulo e Rio de Janeiro, levando as colônias a uma crise que preocupava.
Tantos e tais desafios, evidentemente, não comportavam soluções tópicas. Era preciso enfrentar o quadro com remédios de natureza coletiva, comprometendo solidariamente as colônias como um todo.  O caminho a seguir foi buscado nos Congressos dos católicos da Alemanha, Suiça e Áustria – os “Katholikentage”, com a finalidade de identificar e avaliar questões de interesse comum, propor soluções com as respectivas estratégias. A edição experimental de um desses “congressos dos católicos” no Rio Grande do Sul, ocorreu em Bom Jardim (Ivoti), em 1897. A iniciativa partiu dos padres jesuítas Eugen Steinhart e Peter Gasper. O resultado foi tão animador que um segundo desses “congressos” foi marcado para março de 1898 em Harmonia, então distrito de Montenegro. O tema central do encontro foi a escola e a educação. A criação da “Associação dos Professores e Educadores Católicos do Rio Grande do Sul”, foi o resultado concreto mais importante do evento. Até aquele momento as escolas, a duração do período escolar, o currículo, a proposta pedagógica e a atuação e situação dos professores, não se orientavam por uma proposta e regras de funcionamento comuns. Cada comunidade, cada escola e cada professor, ditava as regras independentemente. A Associação então criada, recebeu a incumbência de apresentar uma proposta de conteúdo e duração do currículo para toda a rede escolar, estabelecer orientações básicas comuns para a sua execução e definir o status do professor como mestre-escola e como referência comunitária. Os resultados deveriam ser apresentados no “Congresso Católico” de 1900.
No “Congresso Católico” de 1899, realizado em Santa Catarina da Feliz, entrou em cena o Pe. Theodor Amstad, que se tornaria o grande incentivador e alma do associativismo,  nas três décadas seguintes. Num memorável discurso pronunciado na ocasião, falou dos problemas que afligiam e ameaçavam o progresso das colônias, insistiu numa tomada de posição coletiva e solidária para enfrentá-los e propôs a fundação de uma Associação de Agricultores, interconfessional e inter-étnica. A proposta de estatutos foi aprovada e a criação efetiva da “Associação Rio-Grandense de Agricultores” aconteceu no Congresso Católico de 1900 em São José do Hortêncio.
A partir desta data os “Congressos Católicos” iriam coincidir com as assembleias gerais da Associação Rio-Grandense de Agricultores e, mais tarde, com as  assembleias gerais da Sociedade União Popular. Em 1939, este magnífico Projeto Social, foi mais uma vítima  da Campanha de Nacionalização.
Na  postagem que segue, resumiremos o que foi a Associação Rio-Grandense de Agricultores e suas principais realizações.




Pe. Theodor Amstad, SJ