A
fixação de imigrantes da Europa Central
e do Norte nos sul do Brasil, a partir de 1824, marcou a entrada da agricultura
familiar diversificada em pequenas propriedades. Serviria de alternativa à
monocultura da cana, do café, do algodão e da criação de gado, em grandes
propriedades. A implantação do projeto, foi confiado, primeiro, a imigrantes
alemães e, mais tarde, a italianos do norte da Itália, poloneses,
teuto-russos e outros, vindos do centro e do norte da Europa. O novo modelo de
economia agrária, irradiou-se do foco
inicial, São Leopoldo, RS, para toda a região sul. De alguma forma, suas
ramificações podem ser observadas em todas as regiões da União. A paisagem
humana e a atividade produtiva de regiões inteiras do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná, ostentam o perfil característico desse modelo de
agricultura.
As
comunidades de agricultores foram-se multiplicando e expandindo
geograficamente, durante todo o século XIX. No começo do século XX, os vales
médios e superiores dos rios da bacia do Guaíba, estavam povoados. A partir de
1870, imigrantes poloneses e a partir de 1873 italianos e, em número menor de
outras procedências, fundaram as colônias de Forqueta, Caxias, Farroupilha,
Garibaldi, Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Prata, São Marcos, Nova Araçá,
Nova Bassano, Guaporé e dezenas de outras. A colonização da Serra, Missões e
Alto Uruguai começavam a desencadear-se. Como se pode ver nas entrelinhas do
processo de expansão, o modelo de agricultura familiar em andamento deitara
raízes e se consolidava. Mas uma série de problemas inerentes à própria
natureza do modelo tornaram-se cada vez mais evidentes. Os primeiros sinais de
degradação dos solos se fizeram visíveis, impunha-se diversificar as culturas e
fazia-se urgente o aprimoramento genético
das raças de suínos e bovinos. Tudo isso fazia urgente também um projeto global
para a educação, um programa de assistência social centrado na saúde e
segurança jurídica do agricultor. No que dizia respeito à economia, urgia por à
disposição dos agricultores instituições de poupança e empréstimo, incentivar
as diversas formas de cooperativas e providenciar novas fronteiras de
colonização, para desafogar o excesso populacional da região colonial mais
antiga. A tudo isso, veio somar-se a diminuição dos mercados do feijão, banha
de porco e farinha de mandioca de São Paulo e Rio de Janeiro, levando as
colônias a uma crise que preocupava.
Tantos
e tais desafios, evidentemente, não comportavam soluções tópicas. Era preciso
enfrentar o quadro com remédios de natureza coletiva, comprometendo
solidariamente as colônias como um todo.
O caminho a seguir foi buscado nos Congressos dos católicos da Alemanha,
Suiça e Áustria – os “Katholikentage”, com a finalidade de identificar e
avaliar questões de interesse comum, propor soluções com as respectivas
estratégias. A edição experimental de um desses “congressos dos católicos” no
Rio Grande do Sul, ocorreu em Bom Jardim (Ivoti), em 1897. A iniciativa partiu
dos padres jesuítas Eugen Steinhart e Peter Gasper. O resultado foi tão
animador que um segundo desses “congressos” foi marcado para março de 1898 em
Harmonia, então distrito de Montenegro. O tema central do encontro foi a escola
e a educação. A criação da “Associação dos Professores e Educadores Católicos
do Rio Grande do Sul”, foi o resultado concreto mais importante do evento. Até
aquele momento as escolas, a duração do período escolar, o currículo, a
proposta pedagógica e a atuação e situação dos professores, não se orientavam
por uma proposta e regras de funcionamento comuns. Cada comunidade, cada escola
e cada professor, ditava as regras independentemente. A Associação então criada,
recebeu a incumbência de apresentar uma proposta de conteúdo e duração do
currículo para toda a rede escolar, estabelecer orientações básicas comuns para
a sua execução e definir o status do professor como mestre-escola e como
referência comunitária. Os resultados deveriam ser apresentados no “Congresso
Católico” de 1900.
No
“Congresso Católico” de 1899, realizado em Santa Catarina da Feliz, entrou em
cena o Pe. Theodor Amstad, que se tornaria o grande incentivador e alma do
associativismo, nas três décadas
seguintes. Num memorável discurso pronunciado na ocasião, falou dos problemas
que afligiam e ameaçavam o progresso das colônias, insistiu numa tomada de
posição coletiva e solidária para enfrentá-los e propôs a fundação de uma
Associação de Agricultores, interconfessional e inter-étnica. A proposta de
estatutos foi aprovada e a criação efetiva da “Associação Rio-Grandense de
Agricultores” aconteceu no Congresso Católico de 1900 em São José do Hortêncio.
A
partir desta data os “Congressos Católicos” iriam coincidir com as assembleias
gerais da Associação Rio-Grandense de Agricultores e, mais tarde, com as assembleias gerais da Sociedade União
Popular. Em 1939, este magnífico Projeto Social, foi mais uma vítima da Campanha de Nacionalização.
Na postagem que segue, resumiremos o que foi a
Associação Rio-Grandense de Agricultores e suas principais realizações.
Pe. Theodor Amstad, SJ