Deitando Raízes #24

Nos primeiros anos a cabana do velho Noschang, pai do assim chamado Moses, serviu para realizar os cultos divinos e, mais tarde, o a do casal  Isaías Noll, sogro de Johann Finger. Na época da capela estavam em vigor os seguintes estipêndios a pago ao pároco  que era anualmente buscado em São Leopoldo. Recebia pela visita 10 mil réis, uma soma considerável em vista do alto valor do dinheiro na época.  O casamento custava um mil réis, o batismo meio mil réis. Havia culto todos os domingos. Não faltava uma criança sequer. Roberti, embora protestante, puxava as orações. Sua mulher, uma fervorosa católica,  instruíu-o na religião católica. Tinha facilidade  para compreendê-la pois tinha sido estudante. No seu leito de morte quis tornar-se católico e pediu que se buscasse um padre em Porto Alegre um padre em quem tinha confiança especial. Como este foi impedido de viajar a Bom Jardim a conversão não se realizou, porque o enfermo faleceu pouco depois. O seguinte episódio caracteriza bem  a sua disposição religiosa. Quando em certa ocasião sua mulher alertou  que, como puxador das orações ente os católicos, deveria fazer o sinal da cruz ele não duvidou e seguir a recomendação. 
Na mesma capela na casa do Noll aconteceu o seguinte fato hilariante. Johann Bauermann, então censor, um homem que de quando em vez gostava de tomar um trago ou outro, passou a bandeja das esmolas. Quando, em certa ocasião, um freqüentador da igreja depositou um vintém, alguém que passava observou à meia voz. "Muito bem, caprichem nas esmolas do Bauermann." O coletor achou isto demais. Agarrou  com as mãos musculosas o indiscreto pelo pescoço e apertou a tal ponto que perdeu para sempre a vontade de perturbar o censor no seu ofício. Depois desta digressão voltemos para a nossa primeira capela.
A capela tinha sido construída nas terras que hoje pertencem ao senhor Peter Cassel, entre as antigas terras dos Bohnenberger e a casa de Schütz, onde reside hoje Valentin Dullius. Evidentemente não havia como falar em grande pompa nem em relação à casa nem em relação ao culto divino. Tudo era pobre como na estrebaria de Belém. Na falta de um sacerdote realizava-se um culto leigo. Um dos membros mais velhos da comunidade puxava o terço, as ladainhas e as orações da missa e, nos intervalos, cantavam-se as velhas  e belas melodias aprendidas na terra natal. A velha senhora Isaías Noll costumava contar com satisfação, e mandara  confeccionar uma linda bandeira para a igreja. Compreende-se que combinou com as circunstâncias. Constava de alguns panos coloridos com uma cruz costurada no meio. O povo fazia o possível naquelas circunstâncias e, quem sabe,  rezava com mais  fervor e confiança do que nos dias de felicidade e bem estar que se seguiram.
Na medida, porém, em que as condições  do povoadores melhoraram veio a louvável preocupação de fazer alguma coisa  em favor de uma celebração mais digna do culto divino.
A decisão para construir uma pequena capela exclusiva para o culto, foi tomada em 1835. O velho Spindler, carpinteiro de profissão, foi escolhido como mestre de obra. Aceitou a tarefa como uma grande honra. A capela era toda de madeira como  podem ser encontradas (97) ainda hoje em algumas picadas, um pouco maiores do que uma casa normal de colono. Erguia-se à direita  da entrada da atual igreja, no lugar onde sobressaem ao chão do cemitério alguns blocos de pedreira e no local onde hoje descansa  o veterano professor Schütz e se ergue a cruz no cemitério em homenagem ao Pe. Eultgen. Nosso informante Johann Finger lembra-se  muito bem de um episódio relacionado com o transporte da viga mestra. Depois de desbastada a enorme árvore, foi transportada sobre uma carreta de duas rodas até a capela.
O caminho descia por uma ladeira de rocha escorregadia. Na descida a enorme trave com a carroça acelerou de tal maneira que os homens robustos que a conduziram não conseguiram dominá-la. Disparou rocha abaixo arrastando consigo os  rapazes que tentavam segurá-la, jogando-os para a direita e para a esquerda pelas moitas. Esse pequeno contratempo, essa cômica  surpresa provocou alegres risadas. O fujão foi agarrado com renovado ímpeto e levado até o local da construção. Nessa capela, ou melhor na frente dela, aconteceu a grande missão pregada pelos jesuítas espanhóis, uma extraordinária contribuição para a renovação da vida religiosa.
Na mesma ocasião mostrou-se de maneira inequívoca a ação da Divina Providência. Os missionários haviam sido expulsos da Argentina pelo tirânico ditador Rosas. Vieram para o Rio Grande do Sul onde foram recebidos com a autêntica hospitalidade amiga dos brasileiros. Em Porto Alegre foram informados da presença e da penúria espiritual dos católicos alemães. Sem demora decidiram  correr em seu auxílio. Em nada importou que não dominassem a língua alemã, porque para um católico um sacerdote de língua estrangeira sempre pode ser de grande valia. Felizmente já havia  entre os alemães alguns que dominavam bastante bem o português, não havendo necessidade de intérpretes estranho. O velho Georg Gerling e Johannes Finger saíram-se muito bem  nessa unção. [1]  Sendo a capela muito pequena para a multidão que afluiu, os missionários  pregaram num espanhol misturado com muitas palavras em português, [2] na frente da apela no cemitério. Encontrei um dos valentes missionários 40 anos mais tarde como um venerando ancião em Monteidéo. Dele obtive as primeiras informações sobre os alemães daqui. O que acontecia com os sermões valia para as confissões. Um pequeno número de palavras tinham que bastar. Era preciso recorrer a um truque todo peculiar, ao impor a penitência aos penitentes. Pelos dedos sinalizava-se quantos Pai Nossos rezar, cânticos e orações ou a parte de uma ladainha. Aquela missão dos jesuítas espanhóis teve ainda um outro resultado salutar além da renovação religiosa. Só naquela ocasião tomou-se conhecimento da parte da igreja, tanto do número quanto do abandono dos alemães no Brasil. Os padres espanhóis comunicaram o fato ao Geral da Ordem em Roma. Este, por sua vez, encarregou a Província da Áustria com o envio de alguns missionários para o Rio Grande do Sul. Os alemãs encontraram no Pe. Peter Bekx, então procurador da Província da Áustria e, mais tarde, geral, um aliado importante, especialmente por ter mandado livros úteis tanto para os padres quanto para o povo a eles confiado. Não adiantemos, porém, os assuntos e fiquemos fiéis à ordem cronológica.
Com o constante crescimento numérico da população, não tardou para a  primeira capela ficar pequena. Em 1847 foi construída uma maior. O local coincidiu em parte com o da atual igreja paroquial, mas um pouco menor e localizada um tanto mais para esquerda. Desta vez foram utilizadas pedras para a construção, garantindo maior solidez e mais comodidade. O mestre de obras foi um certo Freitag, (98) lembrado ainda por muitos dos moradores mais antigos. Se, com raras exceções, nas capelas  antigas era realizado o culto divino leigo, logo depois da sua conclusão, a nova teve a sorte de receber um sacerdote  alemão para rezar a missa e pregar em alemão no  dia 15 de agosto de 1849. Que felicidade para Bom Jardim aquela festa da Assunção. Somente agora experimentava-se de alguma forma o júbilo e o espírito festivo da velha pátria no Reno e no Mosela. Mas nem de longe a felicidade estava completa. Faltava a assistência religiosa regular por parte de sacerdotes alemães. Na maioria dos casos celebrava-se ainda o culto divino leigo, a cargo dos professores Allgayer e Schütz, que fizeram dele um compromisso de honra. De tempos em tempos uma missa era rezada, ou pelo pároco de São Leopoldo ou pelo sacerdote português Pe. Ignácio de Sant´Ana do Rio dos sinos. Johannes Finger ajudava a missa vestido com seu casaco de casamento que lhe descia até os pés. Entretanto a maior alegria tomava conta do povo quando o Pe. Lipinski de Dois Irmãos ou o Pe. Johann de São José, visitavam nossa picada.  Nesses dois lugares já havia paróquias regulares e é compreensível que Bom Jardim acalentasse o grande desejo de contar com um sacerdote residente, um desejo que se realizaria em poucos anos. Nesse meio tempo  o crescimento da população e a melhoria das condições econômicas, impuseram a ampliação da casa de Deus. Por isso iniciou-se em 1857 a construção da igreja atual, assim como se apresentava na década de 1890. Os muros pouco sólidos de Freitag e Günther foram sumariamente demolidos e a nova construção conduzida por Jorge Schuck, auxiliado por outros homens experientes. Em novembro de 1859 começou um novo período para Bom Jardim, com a vinda do Pe. Bonifácio Klüber a São Leopoldo. Em vez de levar os estipêndios para a sede da paróquia, deixou-os  generosamente para a comunidade em formação. Com o ano de 1860 Bom Jardim deu mais um passo para  a frente, com chegada de um capelão próprio residente na picada. Este, um sacerdote nascido em Paderborn e mais tarde exercendo suas atividades em Trier, viera há pouco tempo para Santa Cruz onde trabalhou entre os alemães. Permaneceu durante quatro anos em Bom Jardim, até 1864, quando foi substituído e se afastou.
Entre 1864 e 1868 Bom Jardim ficou entregue a si. Mesmo que o pároco de Dois Irmãos fizesse, de vez em quando uma visita, para batizar, presidir matrimônios e realizar outras funções canônicas, a situação da comunidade era deplorável, devido à desunião reinante. A mudança para melhor veio em 1869 com a nomeação do Pe. Schleipen como auxiliar e a elevação de Bom Jardim à condição de paróquia autônoma pouco tempo depois.

Essa conquista não foi somente importante no sentido eclesiástico como veio acompanhado por outras conseqüências  significativas, como já foi mostrado de alguma forma na primeira parte.




[1] Trata-se dos senhores que, como rapazes, trabalharam durante dez meses numa estância em São Gabariel e na ocasião aprenderam o português
[2] Hoje diríamos “portunhol”

Deitando Raízes #23

A evolução interna
Introdução
Não poucos dos amigos leitores terão pensado que a Crônica estivesse concluída e devem ter feito especulações sobre o termo "Parte I, a Evolução externa." Deve ter-lhes parecido que não havia mais nada a ser relatado. Mero engano, pois segue agora a história da evolução interna  de Bom Jardim e arredores. A primeira parte serviu, por assim dizer, como moldura fartamente ornamentada, na qual queremos inserir o quadro multicolorido  do retrato da evolução da vida interna da colônia.
O fato de termos na primeira parte um esboço da história do Brasil, não só se justifica na Crônica, quanto foi indispensável, considerando o círculo de leitores e nos imaginamos também que tenha sido muito útil. Qualquer um que conhece o nosso povo sabe que o conhecimento da História Brasileira e sua seqüência cronológica, é o ponto fraco dos colonos. Quantas vezes aconteceu que, ao perguntarmos as datas a narradores de histórias, aliás bem ao par das coisas, tivemos como resposta um menear de cabeça ou a observação de que deve ter sido em tal ou tal ocasião. Não deve, portanto, surpreender que queiramos contribuir para sanar este mal.
Cada um entende que se tratou de sentido figurativo, quando chamamos a primeira parte  de moldura. Incluímos muitos relatos e considerações. Mas, comparando com a segunda  não é menos variado e menos rico em conteúdo. A evolução interna, objeto da segunda parte, contém o mais importante. Quando se conhece uma pessoa apenas por fora, assim como é retratada por uma fotografia e, além disto, ainda se sabe qual a posição que ocupou, isto não basta nem de longe, para avaliá-la pelos seus valores reais. É indispensável penetrar no seu interior, conhecer claramente seus pensamentos, seus planos, suas aspirações, suas intenções, pois são eles que conferem às ações externas o seu verdadeiro sentido e função. E, para que conheçamos de saída o caminho que iremos percorrer, e quais os espetáculos a que assistiremos, queremos apresentar em resumo as conteúdos  individuais de que se compõe a segunda parte. É nossa intenção traçar um quadro claro e completo da vida e do andamento das primeiras sete décadas  da colônia. Este panorama irá desdobrar-se pouco a pouco diante dos nossos olhos. Deixemos que os diferentes traços se revelem, como as luzes e sombras se distribuem e, como finalmente, emergem as figuras com vida. Em primeiro lugar, acompanhemos a história de como das velhas capelas surgiu a igreja de hoje e quais as mãos que se empenharam na sua construção. Na igreja e no seu interior é preciso chamar a atenção aos acabamentos, inclusive as veneráveis figuras que presidiram os cultos.  Em segundo lugar vamos acompanhar a evolução da escola paroquial desde os seus primeiros começos e com ela os veneráveis professores responsáveis pela formação da juventude. No terceiro capítulo teremos uma comparação mais aprofundada da administração, como ela aconteceu e como ela se aperfeiçoou. O capítulo quarto ocupa-se com as profissões a começar do início até o seu estado atual. No capítulo quinto, tomando como referência a grandiosa construção da ponte no Buraco do Diabo, examinaremos  as vias de comunicação, a construção e denominação das mesmas, assim como o comércio e a circulação. Desta maneira será possível estabelecer comparações mais precisas entre a realidade de então e a de agora, no que diz respeito a preços e gêneros alimentícios, a diárias, etc. O capítulo sexto nos familiarizará com a vida do povo na colônia. Observaremos suas características no que se refere aos costumes, usos, virtudes, defeitos, nas situações alegres e tristes. No capítulo sétimo faremos uma avaliação  das eleições quanto à sua natureza e aberrações, o que aliás poderá ser muito útil para o futuro. Os progressos no plano espiritual, o valor ou a negligência em relação a uma formação de nível mais elevado, será a preocupação do capítulo oitavo. O capítulo  nono  reunirá uma coleção abrangente de histórias de vida, capazes de  oferecer aspectos interessantes desta história. No décimo capítulo vamos observar em detalhe as belezas da paisagem de Bom Jardim e arredores e apreciar Bom Jardim também pelo lado geológico e da história natural. O último capítulo, enfim, servirá de homenagem aos primitivos habitantes da região, os motivos pelos quais foram desapareceram e os vestígios de armas e recipientes, com os quais os colonizadores entraram em freqüente contato.
Esta enumeração já permite concluir que a segunda parte contém os aspectos mais importantes dessa Crônica. Passemos sem mais para o capítulo primeiro.
Capítulo primeiro
A. Capela e Igreja
É evidente que desde os primeiros começos dos assentamentos na nossa colônia pensou-se em providenciar por uma casa de Deus. Tratava-se de católicos bem instruídos e fervorosos, que deixaram a velha pátria acostumados a freqüência  regular do culto divino e a recepção dos santos sacramentos. Devem ter sentido uma falta dolorosa ao não encontrarem na mata virgem, nem sacerdotes nem igreja. Foi-lhes especialmente amargo nos primeiros tempos. Quantas vezes o domingo foi para eles um dia de tristeza e aflição, porque não tinham nada daquilo tudo que o cristão considera mais santo e mais  desejável, isto é,  a santa missa, a missa solene e o sermão. Especialmente aflitiva era a situação nos dias das grandes festas. A velha senhora, de Johann Franz, costumava expressar com dor  essa falta: "Hoje celebramos um feriado tão lindo e nem sequer uma santa missa nos é dado assistir."
Os mais jovens contam como a família do velho Taglieber, reuniu-se no Natal, relembrando com nostalgia as belas celebrações  de Natal da Europa. Não poucas vezes as mulheres devem ter chorado, o coração sangrando e as crianças se juntavam de forma comovente aos lamentos dos pais. Na época nem suspeitavam  de que a Providência lhes reservara um papel importante, isto é, restaurar o prestígio da fé católica e da vida eclesiástica no Brasil, com sua igreja decaída, privilégio reservado aos novos povoadores. E, para sentirem com mais intensidade o valor da religião em suas vidas, tiveram que passar necessariamente por este duro aprendizado e, graças a Deus, aprenderam para valer a lição e deram um brilhante exemplo (96) para seus conterrâneos brasileiros.
Conforme o ditado: as boas coisas exigem tempo, apenas depois de muitas idas e vindas, chegaram a uma casa de Deus digna, como a que hoje domina altaneira em Bom Jardim. 

Deitando Raízes #22

Considerações finais
Passado, presente e futuro.
Quando um cristão crente faz uma retrospectiva  da sua vida, vem-lhe espontaneamente aos lábios as palavras do salmista: "Bendizei ao Senhor porque Ele é bondoso e eterna é sua misericórdia." se isto é verdadeiro onde se trata de uma única vida humana, tanto mais evidente se torna quando está em jogo uma comunidade ou até um povo inteiro. No momento em que a comunidade paroquial de Bom Jardim lança um olhar sobe o passado, têm-se a nítida  impressão que a benevolência de Deus a conduziu durante estes 70 anos. Para muitos imigrantes as coisas não andaram bem no Brasil, como mostraremos (87) em detalhes mais adiante. Começou com a primeira colônia de suíços em Nova Friburgo no ano de 1818-1819. Durante três a quatro anos viveu uma existência  miserável. A mesma sorte tiveram os outros assentamentos com alemães e suíços até 1820, nas províncias do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Legitimaram o desesperado juízo emitido por von Eschwege, sobre a então colônia chinesa: "Teve o fim que terão todas as colônias no  Brasil ainda imaturo." Que tristeza para os primeiros moradores de Bom Jardim, se tivessem recebido terras totalmente imprestáveis e tivessem sido obrigados a se dispersar pelo país ou até sucumbir, o que não foi uma raridade.  Em vez deste malogro fora reservado a  Bom Jardim, um destino feliz. Os imigrantes viram o trabalho coroado de êxito  e podem olhar confiantes para o futuro. A situação melhorou de ano para ano e chegou ao ponto em que os parentes na terra natal só os podem invejar. Por isso cabe  render gratidão pública e sincera a Deus, por ter sido tão bom para com eles. Não deveriam deixar de lembrar aos filhos  os tempos passados e vividos em situação difícil na Europa. Que diferença entre a vida precária no Hunsrück e na região do Mosela e a abundância de que gozam na sua magnífica picada! Lá a propriedade da maioria não passava de um palmo de largura de terra e aqui são donos de uma gleba senhorial. Lá faltava-lhes tudo, roupas, alimentos, enquanto aqui dispõem de fartura e até se permitem luxo no vestir. Lá a sua condição não passava em muito  a do jornaleiro ou mensageiro, enquanto aqui se tornaram homens  livres e independentes. Devem gratidão também à nova pátria, que se mostrou tão generosa, embora lhes seja permitido reclamar para si o mérito que a presente situação feliz, se deve principalmente a eles próprios. Seus vizinhos brasileiros - ao menos os que se dedicam à agricultura - empobrecem e regridem, enquanto eles melhoram sem parar o seu bem estar e progridem constantemente. Agradecem a Deus e devem à sua diligência, à sua energia e à sua persistência, a boa condição em que vivem.
Os povoamentos alemães nos rios do Sinos, Caí e Taquari, usufruem todos da mesma sorte de Bom Jardim. Todos têm os maiores  motivos  para agradecerem à providência divina. Observados numa visão de conjunto do alto de um morro, por ex., do Fritzenberg, ou dum morro da Feliz, ou da torre da igreja de Estrela ou Santa Cruz, de imediato nos vem à mente a Terra Prometida e o povo de Israel. Acontece que aqueles assentamentos formam também um povo, pois, ocupam a mesma região e une-os o duplo vínculo da língua alemã e os hábitos alemães. Nem pensam numa unidade política. Sentem-se bem como estão agora. Com raras exceções  todos querem formar um povo de Deus, na medida em que se mantém  unidos na fé em Deus e na divindade de Jesus Cristo. Rodeia-os o paganismo, naturalmente o  moderno, não menos nocivo e infame do que os velhos ídolos de pedra, bronze e madeira. Mantêm-se fiéis ao velho Deus que os conduziu da antiga terra da servidão e lhes deu uma terra onde, pela sua fertilidade flui “leite e mel”. As virtudes cristãs, a laboriosidade fizeram com que todos  os inimigos fossem vencidos. As  comunidades florescem materialmente e, como diz Isaías, o povo inteiro vive no esplendor da paz, na tenda da confiança e no seio do conforto. Como diz poeticamente a Sagrada Escritura, cada colono vive feliz à sombra da sua figueira e da sua videira. Na maioria dos casos não se trata apenas de uma representação poética, mas de uma realidade palpável. Ainda outras belas imagens da (88) Sagrada Escritura podem, com propriedade ser aplicadas ao pé da letra, aos alemães da parte norte da região colonial: "Quão belas são as tuas tendas, ó Jacó, tuas moradas, ó Israel! Como vales cobertos de florestas, como jardins irrigados perto dos rios, como cabanas que o Senhor erigiu, com os cedros junto à água!" A razão mais profunda dessa bênção já está assinalada no Livro Sagrado: "Não há ídolo em Jacó, não se vêm figuras de  deuses em Israel, seu Deus está com ele, com ele se encontra o clarim da vitória do seu rei."
Na verdade basta olhar para a nossa colônia alemã. Em toda parte erguem-se  igrejas e capelas nas picadas - tronos de Deus em meio ao povo. As igrejas são como os cetros erguidos  de Deus, protegendo seu povo. Nas grandes festas observam-se os piedosos freqüentadores da igreja, peregrinando aos templos de Deus e, durante o ano todo os sinos elevam suas vozes de manhã e à noite. A colônia deve o seu sucesso, em primeiro lugar, à religião. Sem a religião um povo necessariamente estagna, como fica evidente nas redondezas imediatas, pois somente pela influência da fé, mantém-se sadias as virtudes civis e morais.
Como a colônia seria tristonha sem domingo, sem as festas e a prática da religião. Não tardaria em transformar-se num belo campo de trabalho do Estado, com trabalhos forçados, dando a impressão desoladora de uma cidade sem torres e sem o badalar de sinos. Ao um cenário destes faltaria  todo o impulso e todo o estímulo da beleza  e da verdadeira alegria.                                                            
A religião é a melhor garantia para o futuro da colônia. Enquanto a cepa alemã no Brasil permanecer fiel à fé, ela estará bem. Com o dar-se bem  de forma alguma entendemos a acumulação de riquezas que nem de longe dão satisfação a todos. Conta-se que certa vez um milionário observou um  trabalhador degustar com tanto apetite um assado de carne de rês, que teria exclamado: "Daria um milhão se a comida me apetecesse como para aquele trabalhador." Portanto só o dinheiro não resolve. Também a felicidade do agricultor não cresce no mesmo ritmo da fortuna. O velho sábio  Bias [1] deixa claro nas suas palavras, como a riqueza em si não aguça o juízo de um colono ignorante: "O rico ignorante é uma ovelha com lã de ouro." Da mesma forma o aumento da fortuna por si só não tem o crescimento da felicidade como conseqüência. Satisfação, sobriedade, trabalho e amor à ordem e, antes de mais nada honestidade, são importantes para a prosperidade do colono. Onde faltam estas virtudes, a riqueza contribui pouco e não durará muito. De outra parte quando essas virtudes rurais todas forem cultivadas, na maioria dos casos, o sucesso costuma acontecer. Qualquer um reconhece que estas virtudes fazem mais facilmente parte do quotidiano de um homem cristão do que de um não cristão. Do ponto de vista cristão, o único habilitado a julgar o mundo e atrair a verdadeira felicidade social deve, em última análise, subordinar toda a sua atividade aos planos de Deus. Somente quando o colono  for aquilo que  ele deve ser,  de acordo com a sua vocação, será de fato feliz, isto é, levará um vida honrada, sossegada e satisfeita. Do contrário, porém, sua situação honrada como cidadão, de forma alguma estará  assegurada e sofrerá o desprezo e a humilhação de todos os demais níveis profissionais. Com acerto Alban Stoz define sem enfeites o colono sem religião: "De todos os animais o colono é o animal mais decaído, uma frase cuja veracidade não é difícil de comprovar."
Felizmente o colono alemão é por natureza religioso. O  eterno e o invisível o impressionam e ele não se sente à  vontade quando os sinais externos da religião estão ausentes numa casa. (89 Quando confia  a filha a um rapaz como esposa, investiga antes o pretendente no que se relaciona com a religião, para não correr o risco de expor a filha a um evidente risco. Nunca agradecerá demais a Deus por esta sua índole. Um feliz instinto preserva-o de alianças com os sem Deus e da adoção de seu modo de vida. Quanto mais pesa sobre a vida do operário de fábrica a vida sem religião, por estar rodeado pelas distrações da cidade, que lhe impedem uma reflexão tranqüila, o mesmo não vale para o colono. Para ele uma existência  sem religião deve ser  negra e muito desoladora.  Por isso o colono agarra-se à religião em vista do seu próprio interesse. No momento em que surgirem algumas dúvidas a respeito, observe  os pequenos agricultores brasileiros, que residem na sua vizinhança, onde a religião deixou  de ocupar um lugar na vida. Pergunta-se, ganharam alguma coisa negligenciando a religião? Qualquer  colono alemão tem a resposta. Será que deseja o mesmo destino para os filhos e netos? Caso contrário  trate de ter em alta  consideração a religião e  sua prática. Ela oferece ao colono o que para ele é da maior importância: um corpo  sem vícios e por isso mesmo sadio e o que é mais valioso, uma alma forte, espírito de sacrifício, fortaleza e sobriedade.
A gratidão como tal deveria servir sempre aos colonos como motivo para permanecerem fiéis a Deus e a religião. Nem de longe correu tudo bem para os imigrantes no Brasil. Isto ficou muito claro logo na primeira  leva  para a acima mencionada  fundação da colônia de Nova Friburgo. Por esse motivo vamos demorarmos  com a sorte daquele assentamento para que, com a comparação desta colônia, se sintam ainda mais estimulados a agradecer a Deus.
A ocasião para chamar imigrantes estrangeiros para o Brasil foi a vinda da Família Real Portuguesa, fugindo de Napoleão. Pretendia-se com isso povoar convenientemente as gigantescas áreas do país. A totalidade da população de então, incluindo as tribos selvagens do Hinterland, não deveria ultrapassar em muito os quatro milhões, dispersos  pelo rico território. O governo português tomou então a si a tarefa de aumentar a população, no mais breve tempo possível. Mas donde se esperaria que viesse? O luso-brasileiro nativo representava um pequeno número e, na melhor das hipóteses, só depois de muitos séculos, evoluiria para um povo forte e numeroso. O  aporte de imigrantes de Portugal oferecia poucas perspectivas, visto o país ter sofrido um forte despovoamento. A população negra escrava era pouco significativa para se poder esperar dela alguma coisa neste sentido. Os índios no interior do país, na época da descoberta numerosos como a areia do mar, desde então, tinham diminuído em número em toda a parte. Suas reduções, sob a condução dos missionários jesuítas, estavam decaídas e, por isso, nada se podia esperar delas. Até pelo contrário. Seu número decrescia e estavam ameaçados de completa extinção diante do avanço da civilização. Não havia pois, como esperar dos elementos disponíveis que transformassem o Brasil num estado poderoso. As atenções do governo voltaram-se logicamente  para os países estrangeiros. Já naquela época a Europa estava fortemente sobre-povoada e em  condições de  ceder, sem prejuízo, um excedente significativo por ano.  Para lá pois que se foi em busca de imigrantes. Dentre todos os países a Alemanha e a Suíça ofereciam as melhores perspectivas. Os governantes do Brasil não pretendiam simplesmente elevar o número de habitantes. Interessava-os de modo especial conquistar uma população culta e de bons costumes para o Brasil, disponível, como em parte nenhuma, entre as nações germânicas. Esta sábia política foi praticada por quase um século, carreando incomparáveis vantagens para o Brasil.
Em 1818 o Rei D. João VI fechou um acordo com o agente suíço Gachet com a finalidade de chamar imigrantes. As condições foram sobremaneira vantajosas para os imigrantes, o que ficou claro pelo que o rei prometeu e daquilo que cabia aos imigrantes realizar. O rei prometeu custear as despesas para 100 famílias de colonos, sob a condição de que fossem católicos romanos. De acordo com o número de pessoas cada família receberia, de graça, um determinada área de terra e o gado correspondente (bois, cavalos ou mulas, ovelhas, vacas, cabras e porcos). Também as sementes indispensáveis seriam fornecidas, para que, imediatamente depois da chegada, tivessem condições de cultivar os mais diversos produtos, como cereais, feijão, batata, arroz, milho e outros. Durante os primeiros dez anos os imigrantes não pagariam impostos a nenhum título. Além disto receberiam uma compensação em dinheiro nos primeiros dois anos, sendo cada suíço contemplado com 160 réis ao dia, durante o primeiro ano e a metade no segundo. A colônia pioneira deveria ter como centro uma vila e duas aldeias e se denominaria Nova Friburgo. Uma capela equipada com todo o necessário, deveria ser construída às custas do reino local. Finalmente, logo na chegada ao país, os imigrantes seriam reconhecidos como cidadãos de pleno direito e gozando de todos os privilégios do súditos portugueses.
Foram estas as promessas realmente reais de D. João VI. Como contrapartida estabeleceu algumas exigências mais do que justificadas. A primeira determinava que entre os imigrantes comuns houvesse os profissionais usuais como carpinteiros, sapateiros, alfaiates, etc. Pretendia-se com isto que a vila a ser formada  fosse de proveito para o país. Em segundo lugar deveriam os imigrantes formar uma comunidade e, em  vista dela, trazer dois ou três sacerdotes, um médico e um farmacêutico. Durante os primeiros 20 anos os novos cidadãos só poderiam dispor sobre a metade dos bens móveis e imóveis. Aquelas pessoas que viajassem às custas do estado não  poderiam ser impedidas de retornar à pátria, caso o desejassem. No que diz respeito a obrigações militares, a nova colônia é obrigada a formar uma guarda de autodefesa, ao ultrapassar o número de 150 homens em idade de servir nas armas, entre os 18 e 40 anos, com a tarefa de cuidar da ordem e tranqüilidade na colônia. Além disso caberia a ela destacar um entre cada 20 homens, em idade de serviço militar, para as tropas armadas portuguesas de modo especial o corpo suíço.
Os pontos principais desse acordo deixam claro de que os suíços poderiam aceitá-lo  prontamente, até com satisfação. As condições foram talvez até mais favoráveis  do que aquelas sob as quais muitos alemães vieram ao Rio Grande do Sul. Acontece que Nova Friburgo não chegaria ao bem estar que o Rio Grande do Sul oferecia com tanta abundância.
Ainda no mesmo ano de 1819 o governo nomeou um inspetor para a futura colônia. Foi-lhe dado o encargo da compra das terras necessárias e a concretização dos preparativos determinados pelo acordo. Uma área de terras foi adquirida ao norte do Rio de Janeiro, (91) 24 léguas da capital, limitada no leste e oeste por terras da coroa. Na média três léguas de frente e três léguas de fundo. Cada lote individual media 300 braças de frente e 750 de fundo, uma área, portanto, de 225.000 braças quadradas (cerca de 425 "Morgen" prussianos). Enquanto da parte dos portugueses as medições avançavam num clima de negligência, os colonos suíços já se encontravam em viagem. Embarcados em oito navios, somavam mais famílias do que o acordado. Por sua própria conta o agente reunira o maior número possível de famílias. Quanto mais famílias tanto maior o prêmio a ele devido.
A viagem marítima foi menos funesta para os colonos por causa das tempestades do que pelas doenças. Num único navio morreram 110 imigrantes. De uma estrada do Rio de Janeiro até o Morro Queimado, em moldes europeus, nem falar. E os colonos foram obrigados a percorrer essa estrada no período das chuvas e sem animais de carga. Compreende-se que novas doenças se manifestassem. Muitos caíam prostrados pelo esforço excessivo, contraindo malária pelo ar e  pela água. Finalmente as casas para a recepção foram alcançadas. Esperava-se encontrar nelas um refúgio confortável. Mas que terrível decepção depois de tantas fadigas. Não havia lugar suficiente nem para o número de imigrantes reduzido pelas mortes. Nas cabanas amontoavam-se tantos quantos cabiam, enquanto os demais eram obrigados a acampar ao relento, ocasionando mais numerosos casos de doenças e mortes. E, somente depois da chegada começaram a ser feitas as medição dos lotes coloniais, levados a efeito até com a luta com bandos de índios que vagavam pelas redondezas. depois de três meses de uma penosa espera chegou, finalmente, o dia do sorteio dos lotes. O feliz dia caiu em 23 de abril de 1820, dia afortunado que incidiu como um benfazejo raio de sol sobre o ânimo sombrio dos colonos, infundindo-lhes nova vontade de viver. Triunfante cada pai de família levou o número para os seus. Sentia-se como se tivesse ganho a sorte grande na loteria. Cheio de entusiasmo pintava para si mesmo todas as maravilhas da sua nova  posse, que ainda não contemplara com os olhos. Logo no dia seguinte trataram de examinar a terra que lhes fora presenteada e começar o trabalho que os recompensaria. A decepção era grande quando alguém se deparava com rochas nuas em vez de chão fértil e em vez de uma floresta rica, pântanos sem fundo. Apesar de tudo lançaram-se com destemor ao trabalho duro. Alguns que alertaram o inspetor Miranda sobre a impossibilidade de cultivar a terra a eles destinada, receberam um novo lote em outro lugar. Porém, mal foram semeadas as primeiras culturas, para as quais só puderam contar com uma parca ajuda, ficou claro que a terra na sua totalidade não valia nada. Em vez de áreas planas  ou inclinações suaves, havia uma enorme seqüência de morros intercalados por gargantas estreitas e íngremes. Da metade para o alto os morros eram formados por rochas estéreis. Nos vales íngremes a umidade era demasiada e a luz pouca. A semeadura, ou apodrecia ou torrava sobre a rocha e parecia que apenas as ervas daninhas e samambaias se davam bem sobre as terras que haviam sido destinadas aos colonos. A tudo isto acrescia o que no Brasil faz a maior diferença para o sucesso de uma colônia ao lado da boa qualidade da terra, isto é, um mercado para os produtos nas proximidades. Entende-se assim que os dois  primeiros anos da colonização no Brasil, foram dois anos de fome, no sentido mais elementar do termo.  Os subsídios e oito vinténs por dia por pessoa, no primeiro ano e quatro no segundo, mal davam para um nível de vida precário. Pensar no futuro só com temor.
É evidente que a (92) responsabilidade principal por esta situação desastrosa coube ao governo. Jamais poderia ter trazido famílias honradas para o país sem antes providenciar por uma área adequada; sem antes ter feito as devidas medições; sem ter previsto um mercado acessível por estradas transitáveis. Por isso foi o único responsável pela total ruína do novo assentamento, da qual falaremos rapidamente.
Diante da má situação do momento e da desoladora perspectiva  para o futuro, a maioria das famílias suíças abandonou a colônia recém fundada. Os artesãos partiram para as cidades menores nas redondezas do Rio de Janeiro. Muitos rapazes solteiros ofereceram-se para o alistamento na legião estrangeira e a maioria dos agricultores dirigiu-se para a localidade do Canta Galo, onde optaram por dedicar-se ao cultivo do café. Para trás ficaram apenas os teimosos  determinados a arrancar a fortuna do chão com o seu trabalho, o que mais tarde provou ser um esforço inútil. Permaneceram as pessoas de mais idade, renitentes a uma nova mudança de residência  e aqueles impedidos de mudar-se por causa de circunstâncias familiares. O próprio governo reconheceu que estas colonização fora um erro e ele próprio incorrera num solene fiasco, ao encaminhar os primeiros imigrantes vindos da Alemanha para a colônia suíça, em grande parte abandonada. Se esta decisão tivesse sido cumprida, teria resultado uma edição dobrada da história dos sofrimentos dos suíços. Entretanto uma boa estrela protegia a sorte dos alemães que foram encaminhados para o Rio Grande do Sul. Estes têm todos os motivos para, de tempos em tempos, olhar para a sina dos irmãos suíços  e agradecer a Deus que não lhes fosse reservado o destino deles. Os suíços em questão gozavam de um bem estar  muito maior na sua terra natal, do que a imensa maioria dos imigrantes alemães procedentes do Hunsrück ou do Palatinado Bávaro. E quão diferentes foram os destinos posteriores! Já durante a viagem de navio contraíram doenças contagiosas, enquanto os alemães tiveram, na sua maioria, uma boa travessia. Os suíços só tiveram decepções na nova terra, enquanto os alemães contavam com apoio e, na sua grande maioria, chegaram a um existência confortável, depois de alguns anos de esforços e privações. A colônia suíça de Nova Friburgo desfez-se em pouco tempo, enquanto os assentamentos de alemães deitavam raízes vigorosas, desenvolveram-se, consolidaram-se e terminaram num grande florescimento. Não há dúvida de que também para os alemães foram reservadas privações. A Guerra dos Farrapos fez tremer a colônia como uma tormenta furiosa. Passou felizmente por ela como um navio por uma tempestade no oceano. Na maioria os colonos dispunha de uma significativa reserva de espírito religioso. Era este o lastro que os salvaguardou do naufrágio, isto é, que o povo não decaísse  de todo. Mesmo durante os horrores da guerra civil brilhavam as estrelas das velhas virtudes alemãs da honestidade, respeitando em meio à guerra, a propriedade, a humanidade, evitando ações violentas a não ser em casos extremos, assim como a consciência da justiça e da ordem. Só  muito poucos demonstravam  prazer pelo selvagem ofício da guerra e estes não eram, na sua grande maioria, os caracteres mais honrados. A grande maioria que partiu forçada para a luta, voltava na primeira oportunidade para a picada. Somente  trabalhando sentiam-se no seu elemento.
Depois do tempo dos Farrapos apenas constrangimentos menores perturbavam as colônias. Um número quase imperceptível foi envolvido na campanha contra Rosas e mais tarde contra o  Paraguai. Na velha pátria, a Alemanha, as coisas passaram-se diferentes no ano de 1870. As famílias sofreram danos muito maiores e, além disto, arcavam com pesados impostos e o serviço militar, problemas que na prática não nos afetavam no meio da mata virgem. E  que diferença fizeram a varíola e a guerra dos Maragatos? Considerando o pouco que perdemos  e o muito que poderíamos ter perdido, não nos resta outra coisa senão agradecer a Deus, por ter conduzido a colônia com tamanha benignidade e ter abençoado com tanta abundância. E com este agradecimento fechamos a primeira parte da nossa Crônica.



[1] Um dos sete sábios da Grécia. Viveu no século quinto antes de Cristo.
Costumava dizer: Carrego comigo tudo o que tenho.