Nos primeiros anos a
cabana do velho Noschang, pai do assim chamado Moses, serviu para realizar os
cultos divinos e, mais tarde, o a do casal
Isaías Noll, sogro de Johann Finger. Na época da capela estavam em vigor
os seguintes estipêndios a pago ao pároco
que era anualmente buscado em São Leopoldo. Recebia pela visita 10 mil
réis, uma soma considerável em vista do alto valor do dinheiro na época. O casamento custava um mil réis, o batismo
meio mil réis. Havia culto todos os domingos. Não faltava uma criança sequer.
Roberti, embora protestante, puxava as orações. Sua mulher, uma fervorosa
católica, instruíu-o na religião
católica. Tinha facilidade para
compreendê-la pois tinha sido estudante. No seu leito de morte quis tornar-se
católico e pediu que se buscasse um padre em Porto Alegre um padre em quem
tinha confiança especial. Como este foi impedido de viajar a Bom Jardim a
conversão não se realizou, porque o enfermo faleceu pouco depois. O seguinte
episódio caracteriza bem a sua
disposição religiosa. Quando em certa ocasião sua mulher alertou que, como puxador das orações ente os
católicos, deveria fazer o sinal da cruz ele não duvidou e seguir a
recomendação.
Na mesma capela na
casa do Noll aconteceu o seguinte fato hilariante. Johann Bauermann, então
censor, um homem que de quando em vez gostava de tomar um trago ou outro,
passou a bandeja das esmolas. Quando, em certa ocasião, um freqüentador da
igreja depositou um vintém, alguém que passava observou à meia voz. "Muito
bem, caprichem nas esmolas do Bauermann." O coletor achou isto demais. Agarrou com as mãos musculosas o indiscreto pelo
pescoço e apertou a tal ponto que perdeu para sempre a vontade de perturbar o
censor no seu ofício. Depois desta digressão voltemos para a nossa primeira
capela.
A capela tinha sido
construída nas terras que hoje pertencem ao senhor Peter Cassel, entre as
antigas terras dos Bohnenberger e a casa de Schütz, onde reside hoje Valentin
Dullius. Evidentemente não havia como falar em grande pompa nem em relação à
casa nem em relação ao culto divino. Tudo era pobre como na estrebaria de
Belém. Na falta de um sacerdote realizava-se um culto leigo. Um dos membros
mais velhos da comunidade puxava o terço, as ladainhas e as orações da missa e,
nos intervalos, cantavam-se as velhas e
belas melodias aprendidas na terra natal. A velha senhora Isaías Noll costumava
contar com satisfação, e mandara
confeccionar uma linda bandeira para a igreja. Compreende-se que
combinou com as circunstâncias. Constava de alguns panos coloridos com uma cruz
costurada no meio. O povo fazia o possível naquelas circunstâncias e, quem
sabe, rezava com mais fervor e confiança do que nos dias de
felicidade e bem estar que se seguiram.
Na medida, porém, em
que as condições do povoadores
melhoraram veio a louvável preocupação de fazer alguma coisa em favor de uma celebração mais digna do
culto divino.
A decisão para
construir uma pequena capela exclusiva para o culto, foi tomada em 1835. O
velho Spindler, carpinteiro de profissão, foi escolhido como mestre de obra.
Aceitou a tarefa como uma grande honra. A capela era toda de madeira como podem ser encontradas (97) ainda hoje em
algumas picadas, um pouco maiores do que uma casa normal de colono. Erguia-se à
direita da entrada da atual igreja, no
lugar onde sobressaem ao chão do cemitério alguns blocos de pedreira e no local
onde hoje descansa o veterano professor
Schütz e se ergue a cruz no cemitério em homenagem ao Pe. Eultgen. Nosso
informante Johann Finger lembra-se muito
bem de um episódio relacionado com o transporte da viga mestra. Depois de desbastada
a enorme árvore, foi transportada sobre uma carreta de duas rodas até a capela.
O caminho descia por
uma ladeira de rocha escorregadia. Na descida a enorme trave com a carroça
acelerou de tal maneira que os homens robustos que a conduziram não conseguiram
dominá-la. Disparou rocha abaixo arrastando consigo os rapazes que tentavam segurá-la, jogando-os
para a direita e para a esquerda pelas moitas. Esse pequeno contratempo, essa
cômica surpresa provocou alegres
risadas. O fujão foi agarrado com renovado ímpeto e levado até o local da
construção. Nessa capela, ou melhor na frente dela, aconteceu a grande missão
pregada pelos jesuítas espanhóis, uma extraordinária contribuição para a
renovação da vida religiosa.
Na mesma ocasião
mostrou-se de maneira inequívoca a ação da Divina Providência. Os missionários
haviam sido expulsos da Argentina pelo tirânico ditador Rosas. Vieram para o
Rio Grande do Sul onde foram recebidos com a autêntica hospitalidade amiga dos
brasileiros. Em Porto Alegre foram informados da presença e da penúria
espiritual dos católicos alemães. Sem demora decidiram correr em seu auxílio. Em nada importou que
não dominassem a língua alemã, porque para um católico um sacerdote de língua
estrangeira sempre pode ser de grande valia. Felizmente já havia entre os alemães alguns que dominavam
bastante bem o português, não havendo necessidade de intérpretes estranho. O
velho Georg Gerling e Johannes Finger saíram-se muito bem nessa unção. [1] Sendo a capela muito pequena para a multidão
que afluiu, os missionários pregaram num
espanhol misturado com muitas palavras em português, [2] na
frente da apela no cemitério. Encontrei um dos valentes missionários 40 anos
mais tarde como um venerando ancião em Monteidéo. Dele obtive as primeiras
informações sobre os alemães daqui. O que acontecia com os sermões valia para
as confissões. Um pequeno número de palavras tinham que bastar. Era preciso
recorrer a um truque todo peculiar, ao impor a penitência aos penitentes. Pelos
dedos sinalizava-se quantos Pai Nossos rezar, cânticos e orações ou a parte de
uma ladainha. Aquela missão dos jesuítas espanhóis teve ainda um outro
resultado salutar além da renovação religiosa. Só naquela ocasião tomou-se
conhecimento da parte da igreja, tanto do número quanto do abandono dos alemães
no Brasil. Os padres espanhóis comunicaram o fato ao Geral da Ordem em Roma.
Este, por sua vez, encarregou a Província da Áustria com o envio de alguns
missionários para o Rio Grande do Sul. Os alemãs encontraram no Pe. Peter Bekx,
então procurador da Província da Áustria e, mais tarde, geral, um aliado
importante, especialmente por ter mandado livros úteis tanto para os padres
quanto para o povo a eles confiado. Não adiantemos, porém, os assuntos e
fiquemos fiéis à ordem cronológica.
Com o constante
crescimento numérico da população, não tardou para a primeira capela ficar pequena. Em 1847 foi
construída uma maior. O local coincidiu em parte com o da atual igreja
paroquial, mas um pouco menor e localizada um tanto mais para esquerda. Desta
vez foram utilizadas pedras para a construção, garantindo maior solidez e mais
comodidade. O mestre de obras foi um certo Freitag, (98) lembrado ainda por
muitos dos moradores mais antigos. Se, com raras exceções, nas capelas antigas era realizado o culto divino leigo,
logo depois da sua conclusão, a nova teve a sorte de receber um sacerdote alemão para rezar a missa e pregar em alemão
no dia 15 de agosto de 1849. Que
felicidade para Bom Jardim aquela festa da Assunção. Somente agora
experimentava-se de alguma forma o júbilo e o espírito festivo da velha pátria
no Reno e no Mosela. Mas nem de longe a felicidade estava completa. Faltava a
assistência religiosa regular por parte de sacerdotes alemães. Na maioria dos
casos celebrava-se ainda o culto divino leigo, a cargo dos professores Allgayer
e Schütz, que fizeram dele um compromisso de honra. De tempos em tempos uma
missa era rezada, ou pelo pároco de São Leopoldo ou pelo sacerdote português
Pe. Ignácio de Sant´Ana do Rio dos sinos. Johannes Finger ajudava a missa
vestido com seu casaco de casamento que lhe descia até os pés. Entretanto a
maior alegria tomava conta do povo quando o Pe. Lipinski de Dois Irmãos ou o
Pe. Johann de São José, visitavam nossa picada.
Nesses dois lugares já havia paróquias regulares e é compreensível que
Bom Jardim acalentasse o grande desejo de contar com um sacerdote residente, um
desejo que se realizaria em poucos anos. Nesse meio tempo o crescimento da população e a melhoria das
condições econômicas, impuseram a ampliação da casa de Deus. Por isso
iniciou-se em 1857 a construção da igreja atual, assim como se apresentava na
década de 1890. Os muros pouco sólidos de Freitag e Günther foram sumariamente
demolidos e a nova construção conduzida por Jorge Schuck, auxiliado por outros
homens experientes. Em novembro de 1859 começou um novo período para Bom
Jardim, com a vinda do Pe. Bonifácio Klüber a São Leopoldo. Em vez de levar os
estipêndios para a sede da paróquia, deixou-os
generosamente para a comunidade em formação. Com o ano de 1860 Bom
Jardim deu mais um passo para a frente,
com chegada de um capelão próprio residente na picada. Este, um sacerdote
nascido em Paderborn e mais tarde exercendo suas atividades em Trier, viera há
pouco tempo para Santa Cruz onde trabalhou entre os alemães. Permaneceu durante
quatro anos em Bom Jardim, até 1864, quando foi substituído e se afastou.