Fronteiras de colonização #6

Começos da colonização de Porto Novo
A compra dos cem primeiros lotes coloniais de 25 hectares cada um por parte da Sociedade União Popular, da Empresa  Chapecó-Peperi Limitada, constituiu-se na base objetiva  para a viabilização do  projeto. Começar com cem lotes pode parecer muito pouco ambicioso. E de fato o era, como o próprio Pe. Rick registrou nos seus apontamentos. O fato deveu-se unicamente a não disponibilidade imediata de recursos para bancar, no contrato inicial, uma área maior. Como a área disponível oferecia perspectivas reais para uma ampliação indefinida no futuro, o começo modesto significou na verdade, o embrião de um projeto que deu origem direta e indiretamente à colonização de todo extremo oeste de Santa Catarina.

E, de fato, em questão de poucos meses, foram aparecendo os recursos para a aquisição de sempre mais lotes. Em 16 de março de 1926, realizou-se em Novo Hamburgo o Congresso dos Católicos. A colonização de Porto Novo ocupou um destaque privilegiado na programação do evento. A diretoria da Sociedade União Popular  reuniu-se para dar seguimento à compra de novos 100 lotes, na medida em que a Empresa Chapecó-Peperi Ltda enfrentava problemas com recursos para continuar as demarcações. Diante dessas dificuldades, a diretoria  decidiu reunir a soma de R$ 275:000$000 (duzentos e setenta e cinco contos de reis) e pô-los à disposição da vendedora como forma de adiantamento para, desse modo, agilizar a liberação dos lotes para a aquisição dos colonos. No momento, já se podia contar com R$ 190:000$000 (cento e noventa contos) oferecidos pelas caixas rurais de Serro Azul, cem contos; Colônia Selbach, dez contos de reis; Santa Maria, cinco contos; Picada Café, vinte contos; Taquara, cinco contos; Picada Herval, vinte contos. Além das caixas rurais, a ata registrou ainda uma extensa lista de pessoas físicas que contribuíram com somas variadas, em troca  de notas promissórias.

Nas entrelinhas da reunião que tratou da arrecadação de fundos para a aquisição de terras e assim desafogar a pressão populacional que se agravava de ano para ano nas colônias mais antigas, um detalhe ficou evidente. A Sociedade União Popular, como um projeto de desenvolvimento global e de promoção humana, demonstrou nesse seu subprojeto de colonização, toda a sua potencialidade. O lema escolhido na sua fundação “omnibus omnia” – “tudo para todos” demonstrou o acerto da filosofia que animava  o projeto e as estratégias que norteavam as iniciativas. As caixas de poupança e empréstimo ao modelo Raiffeisen ou cooperativas de crédito, ou caixas rurais, fundadas em 1902, cumpriam magnificamente as suas funções. De um lado ofereciam aos colonos condições seguras para as suas pequenas poupanças. A soma de dezenas de milhares delas avolumaram, em menos de três décadas uma formidável poupança interna na região colonial. Cumpriam a importante função de financiar, em condições aceitáveis, iniciativas e necessidades coletivas ou individuais. Forneciam também os recursos para bancar projetos de colonização de grande porte como foram Serro Azul e Porto Novo. As poupanças acumuladas nas caixas rurais viabilizaram também obras de grande importância social, como o asilo para idosos em São Sebastião do Caí. As obras que justificaram a existência da Sociedade União Popular, tornaram-se possíveis por meio dessas instituições de poupança e empréstimo.

Fechados os primeiros contratos de  compra de lotes com a Empresa Chapecó-Peperi Ltda a abertura da nova fronteira de colonização estava em condições de acontecer. Na reunião da Diretoria da Sociedade União Popular, realizada em Santa Cruz, no dia 28 de janeiro de 1926, foram estipulados os preços e as condições de venda dos primeiros lotes. O documento assinado pelo presidente Jacob Becker, o secretário geral Pe. Johannes Rick e o secretario “ad hoc”, Albano Volkmer informa textualmente:

Os lotes serão vendidos por enquanto ao preço de 2:250$000 (dois contos duzentos e cinquenta mil reis) à base de 25 hectares (vinte e cinco hectares) por lote. O pagamento integral à vista dá ao comprador o direito de um abatimento de 10% (dez por cento), portanto, 2:025$000 (dois contos e vinte e cinco mil reis) por lote. Os sócios da Sociedade Volksverein terão uma bonificação extra de 25$000 (vinte e cinco mil reis) para a primeira colônia e 5$000 para as subsequentes que adquirirem para si ou os filhos maiores. Os agricultores que se estabelecerem ainda no correr deste ano na Colônia terão um abatimento especial de 400$000 (quatrocentos mil reis) que será descontado  do seu debito se não o tiverem pago, ou lhes será devolvido si o houverem feito. A Empresa Chapecó-Peperi Limitada manterá um linha de automóveis de Neu Würtemberg até a sede de Porto Feliz, custando a viagem redonda 60$000 (sessenta mil reis). Aqueles que adquirirem  terras, pagando valor por conta, verão creditada essa importância  de 60$000 (sessenta mil reis), o que importa em viagem gratuita. Todo o agricultor  que tiver escolhido lote terá de fazer uma entrada de 1:000$000 (um conto de reis) por conta do mesmo. No caso de não poder fazer desde logo, por não ser provável que todos se premunam de dinheiro para essa viagem de exploração, poderão pagar o sinal de 100$000 (cem mil reis) obrigando-se a entrar com o restante dentro de três meses. Ficou estabelecido o juro anual de sete por cento (7%) para os (ilegível) (Ata da Diretoria da SUP, 28 de janeiro de 1926)

A data oficial da fundação de Porto Novo ficou sendo 11 de abril de 1926. Para liderar o grupo de pioneiros, fora escolhido o Pe. Max von Lassberg, veterano fundador de fronteiras de colonização em Serro Azul, San Alberto e Puerto Rico, no alto Paraná, na Argentina. Naquela data, na companhia dos primeiros colonos, rezou a primeira missa à sombra do primeiro laranjal cultivado  em Porto Novo. Em suas “Reminiscências” descreveu assim o acontecimento:

Na segunda-feira de Páscoa de 1926 de manhã cedo, parti de automóvel de Serro Azul, em companhia do senhor Franzen primeiro diretor nomeado da Colônia e de seu filho. Além de nós, seguiu em três caminhões lotados uma numerosa caravana vinda de Serro Azul, Santo  Cristo e Selbach, para examinar as terras. Depois de errar algumas vezes o caminho, alcançamos Porto Feliz na quinta-feira. Na sexta-feira, embarcamos numa gasolina para descer o rio até Porto Novo. Alguns preferiram o caminho por terra. O nível do rio estava muito baixo, o que nos causou grandes dificuldades na passagem pelas corredeiras. Em não poucas delas, fomos obrigados a desembarcar e arrastar e empurrar com os braços. Dessa forma, chegamos em Porto Novo apenas no sábado. Não havia nem casa, nem cabana, nem barraca, mas um bonito pomar de laranjeiras. Nele acampamos, mais de Trinta pessoas e acendemos vários fogos. Perto da noite começamos a arrumar, entre as árvores, o altar para a missa da outra manhã. Como pano de fundo, estendemos entre as árvores uma capa de chuva limpa e fixamos nela um crucifixo. A mesa foi armada com varas e folhas e depois ornamentada. As velas foram amarradas em duas estacas fincadas no chão. Depois de cuidar das coisas de Deus, cuidamos também de nós. Para comer tínhamos o suficiente e cada qual arrumou a cama onde e como lhe agradou. Dormimos bem. O misterioso rumor do grande rio misturou-se com os nossos sonhos. A santa missa começou pelas oito horas da manhã. Os homens rodeavam o altar numa atitude solene e piedosa. Na magnífica catedral de Deus, por meio do Santo Sacrifício, imploravam a bênção para a nova colônia. Na missa alguns comungaram. Em comum cantou-se, rezou-se e ouviu-se o sermão. Até o prato de ofertas circulou. Também dessa forma,  todos deveriam demonstrar a sua participação no verdadeiro sacrifício e fora combinado que aquela santa missa seria para os fundadores da colônia presentes e o que sobrasse deveria destinar-se a missas pelo bom êxito e o progresso da colônia. O saldo foi considerável. Esta foi a primeira missa  e a da fundação da colônia e escolhemos São Pedro Canísio como seu patrono. Acontecido no domingo da pascoela, 11 de abril de 1926. (Lassberg, Max. Reminiscências, Unisinos, 2002, p. 14-125)

Um pouco mais adiante nas suas “Reminiscências” o Pe. Lassberg descreveu a primeira incursão no interior do território da colônia, em companhia dos seus pioneiros.

A viagem de volta foi muito variada. Eu mesmo percorri a cavalo o primeiro trecho até o arroio Macuco, limite leste  de nosso território católico e, apenas lá, embarquei no navio. Nesse meio tempo, o rio subira um pouco, mas não o bastante para que as corredeiras pudessem ser contornadas ou passadas sem perigo. A correnteza ficara tanto mais forte. Felizmente levamos a bordo uma corda muito comprida. A maioria dos homens atrelava-se nela e arrastavam a gasolina para frente, até as coxas dentro da água e muitas vezes até o peito, quando se caía num buraco no leito rochoso. Um grupo que se tinha separado bastante dos demais correu com isso um sério perigo. Por causa da violenta correnteza, dois homens foram tomados de vertigem e perderam a segurança. Dois outros permaneceram com eles e os seguraram, mas também não conseguiram, e a nós não foi possível socorrê-los com o barco. Somente depois de prender a lancha entre as rochas, alguns de nós se dirigiram-se  até os quatro homens segurando-os numa ponta da corda. Finalmente conseguiram safar-se da situação perigosa e alcançar a embarcação. Entretanto anoitecera e alertei o homem do barco que atracasse no primeiro local favorável. “Os homens estão cansados e encharcados. Precisamos acender um fogo para que todos se possam secar.” Não demorou para encontrarmos um lugar apropriado no barranco do rio no lado rio-grandense coberto com grandes moitas e coberto de areia limpa e seca. Antes de mais nada ajuntamos lenha e acendemos um bom fogo, enchemos as panelas com arroz, esquentamos água para o chimarrão e colocamos erva nas cuias. Depois que tudo estava mais ou menos sob controle e sentados em volta do fogo, provoquei: “Meus caros! tivemos um dia muito trabalhoso e passamos por sérios perigos. É correto e não custa nada agradecermos a Deus pela sua proteção. Por isso proponho que rezemos duas dezenas do terço glorioso e o Anjo do Senhor como oração da noite. Cada um permaneça sentado, ajoelhado ou em pé no seu lugar e os cozinheiros que cuidem do arroz e aquele que tem a cuia a esvazie.” Todos participaram com entusiasmo da oração e por fim entoamos o canto “Glória seja dada ao vencedor da morte”. Tudo isso soava tão belo  noite a dentro em meio à selva. Algo semelhante nem os papagaios nem os macacos jamais escutaram em sua mata.
Depois, deitamos para dormir. Mas já às dez horas fomos despertados por uma pancada de chuva, curta e que perturbou pouco. Pelas duas horas começou uma chuva forte e persistente. A maioria levantou-se ou ficou sentada ao redor do fogo. Eu puxei o poncho por cima da cabeça e fiquei deitado. Ao clarear o dia, aprontamo-nos para seguir viagem, e chegamos sem sobressaltos a Porto Feliz. Num dos dias seguintes pernoitamos em Fortaleza num assentamento novo de italianos onde estava em construção uma capela de tábuas. Rezei de manhã bem cedo a santa missa, ocasião em que todos os nossos camaradas de viagem fizeram uma bela comunhão entre cantos e orações coletivas. Mais tarde contou-me o vigário de Palmeira, que, de quando em vez, visitava toda a região, como os  italianos falaram com alegria e louvor  a respeito do comportamento e da piedade dos bravos colonos alemães. (Lassberg, Max. Reminiscências. Unisinos, 2002, p. 125-126)

O Pe. Rick descreveu da seguinte forma o seu primeiro contato com as terras pretendidas para a nova colonização:

Em começos de 1926, quando o término das inquietudes revolucionárias já permitia uma colonização em regra, dirigi-me de automóvel, com o Senhor Faulhaber e os ormãos Stangler a Barrril, (perto de Frederico Westpfalen9, proseguindo de lá, a cavalo, até Prto Feliz, pelo caminho novo ainda em construção.
Um dia depois, segui de barco a motor Uruguai abaixo. Penroitamos ao relento a jusante do Peperi, sendo que depois voltamos ao Meinzhusen, no Macaco, onde aportamos à noite 
Em nossa voalta era tudo floresta intacta. Experts em qustão de terras declararam ser o solo de primeira qualidade.  As matas  existentes afiguravam-se portentosas. A madeira de lei tinha sido derrubada, decerto, por balseiros argentinos. A colocação de produtos via Palmeira (das  Missões) por si só se me apresentava suficientemente promissora. Perguntei, por conseguinte, ao barqueiro, se acaso, no Uruguai a navegação rio abaixo era possível. Respondeu-me ele: Eu sempre consigo passar. (Rabuske, Arthur – Rambo, Arthur. Pe. João Rick. Unisinos, 2004, p. 123-124)

Novamente fica claro nas entrelinhas  das descrições tanto do Pe. Lassberg quanto do Pe. Rick, que o cenário da nova colonização estava posto e bem ao gosto dos filhos e netos de três a quatro gerações de colonos habituados a conviver e a lidar com a floresta virgem. E não se tratava apenas de um convívio meramente utilitário. Consolidara-se uma parceria  íntima, existencial entre os colonos e suas florestas virgens.

Os trinta pioneiros que acompanharam  o Pe. Lassberg, procediam de Serro Azul, Santo Cristo e Selbach. Considerando que as duas primeiras dessas colônias, Serro Azul e Santo Cristo, contavam com menos de trinta anos desde a sua fundação, uma boa parte deles havia participado da abertura dessas fronteiras. Foram os herdeiros autênticos da estirpe de homens e mulheres que ousaram abandonar tudo na Europa, enfrentar o oceano e tentar a vida e o futuro no Brasil. Deve-se isso a um misto de aventureirismo, de inquietude, de vontade de avançar e progredir sem parar e à mística quase messiânica de uma missão a cumprir, o clima de progresso e bem-estar que dominava na região da colonização recente.


Uma grande admiração, uma reverência atávica deve ter-se apoderado  dos exploradores, ao contemplarem aquele majestoso cenário de florestas intocadas. Bem como seus ancestrais germânicos do centro e norte da Europa, souberam encarar a mata virgem como promessa de um porvir promissor.  Nela encontrariam as matérias primas para armar os primeiros abrigos e depois, construir as primeiras moradias. A mata virgem preparara por milênios  a fertilidade dos solos, garantia de fartura para as gerações que aí viriam instalar-se. Nela, construiriam suas referências de vida o seu mundo simbólico. O palco, portanto, estava posto e mais uma etapa da colonização do sul do Brasil, tinha condições de acontecer. E, de fato, não se perdeu tempo.

Fronteiras de colonização #5

Depois de frustradas as tentativa de implantar um projeto de colonização, no Rio Grande do Sul, os dirigentes da Sociedade União Popular foram em busca de uma área em Santa Catarina. Ao longo da margem direita do rio Uruguai, no extremo oeste daquele estado, uma companhia protestante adquiria 2000 quilômetros de floresta virgem. Em 1924 ofereceu à Sociedade União Popular 500 quilômetros da porção mais ocidental, na fronteira com a Argentina. Na biografia do Pe. Rick o Pe. Rambo deixou a observação: “A compra foi acertada após longas negociações. As terras ofereciam uma vantagem rara no sul do Brasil. Não havia dúvidas sobre a legalidade dos títulos de propriedade nas mãos dos donos”. (Rabuske, Arthur, Rambo, Arthur, 2004, p. 59).
O Pe. Rick descreveu a sua primeira viagem à região nos seguintes termos:

Em inícios de 1926, quando o término das intranquilidades revolucionárias permitiu uma colonização organizada, viajei em companhia do Sr. Faulhaber (diretor da companhia de terras) e dos irmãos Stangler até Barril, e de lá, na estrada em construção até Porto Feliz (sede da colonização protestante), para, no dia seguinte, descermos o rio Uruguai num barco a motor. Pernoitamos ao relento e, ao amanhecer do dia seguinte, chegamos ao rio Macaco, onde encontramos um agrimensor alemão de nome Mayentzhüsen. Em nossa volta erguia-se a floresta virgem. Os conhecedores da região diziam que os solos eram excelentes. As árvores eram vigorosas, mas as madeiras nobres haviam sido roubadas por balseiros argentinos. (Rabuske, Arthur - Rambo Arthur. 2004, p. 59)

O ano de 1926 pode ser considerado como fundamental  e decisivo para a colonização católica do extremo oeste de Santa Catarina. Foram realizadas quatro reuniões da Diretoria da Sociedade União Popular para tratar da aquisição da área e dar início à colonização. A primeira dessas reuniões teve lugar no dia 25 de janeiro de 1926 em Santa Cruz do Sul, a segunda no dia 28 de janeiro também em Santa Cruz do Sul e a terceira, com a participação dos delegados, em Novo Hamburgo, em 16 de março e a quarta, só com a Diretoria, em 6 e 7 de junho do mesmo ano.

 As terras ofereciam  uma vantagem rara no sul do Brasil. Não havia dúvidas sobre a legalidade dos títulos de propriedade, nas mãos dos donos”. (Rabuske, Arthur – Rambo, Arthur. 2004, p.5)

Porto Novo
O ano de 1926 pode ser considerado como o começo definitivo da colonização no estremo oeste de Santa Catarina. De quatro reuniões da Diretoria da Sociedade União Popular saiu a decisão da compra da área pela qual deveria começar o projeto. Na  ata da primeira dessas reuniões realizada em Santa Cruz do Sul em 25 de janeiro de 1926, constam detalhadamente os dados sobre a aquisição dos primeiros cem lotes. O Senhor Herrmann Faulhaber diretor da Empresa Chapecó-Peperi Ltda, proprietária do complexo de terras e o Secretario Geral da Sociedade União Popular, Pe Johannes Rick, seu presidente, Senhor Jacob Becker, o Senhor Albano Volkmer, gerente geral da Central das Caixas  Rurais e outros integrantes das Caixas e delegados, acertaram os termos da aquisição dos primeiros cem lotes no valor total de cento e dez contos (110:000$000) ao custo de um conto e cem mil réis (1:100$000) o lote. Nos acertos iniciais entrou ainda o compromisso de a Companhia Chapecó-Peperi Ltda. construir uma estrada entre Porto Feliz (Mondai) e Porto Novo. A ata registra ainda as tratativas envolvendo a infra-estrutura e a expansão da área a ser colonizada. Ao molde de Serro Azul Porto Novo deveria evoluir como uma colonização étnica e confessionalmente identificada. (Maiores detalhes sobre o a história posterior e evolução do empreendimento podem ser encontrados em “Somando Forças – O projeto social dos Jesuítas no sul do Brasil – do autor do presente capítulo).

A data oficial  da fundação de Porto Novo ficou sendo 11 de abril de 1926. A liderança do primeiro grupo de pioneiros coube o Pe. Max von Lassberg, veterano fundador das fronteiras de colonização de Serro Azul, Santo Cristo, San Alberto e Puerto Rico, no alto Paraná na Argentina. Rezou a primeira missa à sombra do primeiro laranjal cultivado em Porto Novo. Ele anotou em suas “Reminscências”.

Dessa forma chegamos em Porto Novo no sábado. Não havia nem casa, nem cabana, nem barraca, mas um bonito pomar de laranjeiras. Nele acampamos, mais de trinta pessoas e acendemos vários fogos. Perto da noite começamos a arrumar entre as árvores o altar para a missa da manhã seguinte. Como pano de fundo, estendemos uma  capa limpa entre as árvores e fixamos nela um crucifixo. A mesa foi armada com varas e folhas e depois ornamentada. Amarramos as velas em duas estacas fincadas no chão. Depois de cuidar das coisas de Deus, cuidamos também de nós. Para comer tínhamos o suficiente e cada qual arrumou a cama onde como lhe agradou. Dormimos bem. O misterioso rumor do grande rio misturou-se com os nossos sonhos. A santa missa começou pelas oito horas da manhã. Os homens rodearam o altar numa atitude solene e piedosa. Na magnífica catedral de Deus, por meio do Santo Sacrifício, imploraram a bênção para a nova colônia. (Reminiscências. 2002, p. 124)

Os trinta pioneiros que acompanharam o Pe. Lassberg, procediam de Serro Azul, Santo Cristo e Selbach. Considerando que as duas primeiras colonizações, contavam com menos de trinta anos desde a sua fundação e a terceira não muito mais, uma boa parte deles havia participado  da abertura dessas fronteiras. Foram os herdeiros autênticos da estirpe de homens e mulheres que ousaram abandonar tudo na Europa, enfrentar o oceano e construir  a vida e o futuro no Brasil. Deve-se isso a um misto de espírito aventureiro, de inquietude, de vontade de progredir sem parar e à mística quase messiânica de uma missão a cumprir.

Uma grande admiração, um reverência atávica deve ter-se apoderado dos exploradores, ao contemplarem aquele majestoso cenário de florestas intocadas. Bem como seus ancestrais germânicos do centro e norte da Europa, souberam encarar a mata virgem como promessa de um porvir promissor.

No Paraná – uma nova fronteira?
No decorrer da década de 1950 foram adquiridos os últimos lotes postos à venda pela Sociedade União Popular no este de Santa Catarina. O crescimento vegetativo da população continuava no mesmo ritmo das décadas anteriores. Aos excedentes  da região colonial mais antiga, somavam-se os da Serra, Missões e Alto Uruguai e, por incrível que pareça, o fenômeno já emitia os primeiros sinais de alerta em Porto Novo, passada apenas uma geração da sua fundação.

Diante dessa realidade, e tendo em vista os empreendimentos bem sucedidos de Serro Azul, Santo Cristo e Porto Novo, os dirigentes da Sociedade União Popular focaram suas atenções sobre o oeste do Paraná, já que no oeste de Santa Catarina  não havia mais terras disponíveis com área suficiente. Grandes complexos de mata virgem aguardavam o momento de cederem lugar a terras cultivadas. A qualidade do solos e a topografia pouco acidentada eram um convite irresistível. O aproveitamento integral, inclusive com emprego de máquinas, acenava para um futuro promissor. Conforme a Ata da Reunião da Diretoria, de 26 de março de 1954, deliberou-se sobre um novo projeto de colonização. Na ocasião, reuniram-se  os membros da diretoria, o presidente, Antônio Campani, o secretario geral, Dr. Arthur Fischer, o segundo conselheiro José Wiest. Convidados haviam sido o Pe. Balduino Rambo e o secretário itinerante, Pe. Albano Berwanger e o responsável pelo departamento de colonização. O Dr. Arthur Fischer mostrou aos presentes como os últimos lotes de Porto Novo não demorariam a serem vendidos; como o número de candidatos à compra de terras crescia de dia para dia; como, por isso, urgia partir para um novo e amplo projeto de colonização. As terras na mira da diretoria situavam-se no oeste do Paraná, concentradas ao longo do rio Capanema. O Dr. Fischer comunicou que haviam sido  feitos entendimentos com a “Fundação Paranaense de Colonização e Imigração”, com sede em Curitiba. Para o começo do novo núcleo de colonização, a Sociedade União Popular pretendia adquirir 1500 lotes medindo dez alqueires cada um, no município de Foz do Iguassú. Até uma minuta de contrato de compra havia sido elaborada. As negociações, entretanto, estagnaram nesse ponto, pois, surgiram dúvidas sobre a legitimidade de posse daquelas terras, por parte da “Fundação Paranaense de Colonização e Imigração”. Outro fator que levou à desistência dessa área foi o fato de muitos lotes já terem sido escriturados em nome de terceiros.

Com essa dúvida as negociações com a empresa foram encerradas e partiu-se para outra alternativa. Veio então a oferta  da companhia “Pinho e Terra”, também com sede em Curitiba. As terras oferecidas compunham-se de 1000 lotes de dez alqueires, numa extensão de  vinte quilômetros de frente e doze de fundos, pela margem esquerda do rio Iguassú. O complexo de terra  fazia parte das possessões das “Empresas Incorporadas” conhecidas como “Chopinzinho”. Os solos eram de boa qualidade e a estrada de Pato Banco a Laranjeiras do Sul conferia à região um localização econômica favorável. Uma vistoria mais detalhada, mostrou as terras de qualidade inferior na parte alta, o afloramento  da rocha, o terreno pedregoso e, principalmente, as condições de venda exigidas por parte da “Pinho e Terra”, levaram, à desistência do negócio.

A terceira empresa  a oferecer terras no Paraná foi a “Clevlândia Industrial  e Territorial”, também na margem esquerda do rio Iguassú,  a jusante das terras da “Pinho e Terra”. Em 1954 uma comissão formada pelo Pe. Balduino Rambo, o Senhor Albino Both e o Dr. Mário Fontana, sobrevoou a área, com foco no complexo “Missões”, localizado em ambas as margens do rio Capanema.  À primeira vista constataram-se, entre os aspectos positivos, a ausência de intrusos, a  mata “branca”, sinal de bons solos, topografia suave, abundância de mananciais e fontes. Uma comissão maior formada pelos Padres Balduino Rambo e Luiz Sehnem, os Senhores Egon Berger, Bruno Lengert, Albino Both, Willi Eich, Bernardo Macke, Bruno Werlang, Bruno Eidt e Albino Franz examinou a área por terra.  No relatório a comissão foi unânime em afirmar que as terras vistoriadas, pela sua localização, acessibilidade, características edafológicas, topográficas e climáticas, satisfaziam plenamente às condições estabelecidas pela Sociedade União Popular.

A análise dos títulos de posse, entretanto, demonstrou haver sérias dúvidas sobre a lisura de uma série de negociações efetivadas, relativas à legitimidade da segurança legal da posse daqueles complexos de terras. Em resumo a conclusão levou à desistência também daquela área. O desfecho frustrado do empreendimento foi comunicado ao público da Sociedade União Popular pelo Pe. Balduino Rambo, no nr. 8. Do Skt. Paulusblatt de 1954.

Quando há dois anos e meio viajamos para o Paraná, não tínhamos a menor ideia das incríveis confusões envolvendo a posse das terras. Inclusive a área oferecida pelo governo mostrou-se insegura e envolvida em processo. São circunstâncias que talvez pouco interessam aos especuladores de terra e aos intrusos. Nós, entretanto, não nos permitimos fundar uma colônia, sem sentirmos chão firme debaixo dos pés. Além disso, a tarefa colonizadora da Sociedade União Popular não é somente uma questão de dinheiro, é também uma questão de consciência. (Skt. Paulusblatt. Nr. 8. 1954. P. 218)


Esse comunicado publicado no órgão oficial da Sociedade União Popular por seu redator soa como a decisão final, sobre o terceiro grande projeto de uma colonização étnica e confessionalmente identificada. Encerra-se assim também o atendimento a um dos objetivos estabelecidos para a Sociedade União Popular por ocasião da sua fundação, isto é, “preocupar-se com novas colonizações para católicos” com se previa no item 4, nº. 2 do esboço dos estatutos.

Fronteiras de colonização #4

Quando, em 1958, o Pe. Balduino Rambo redigiu  a biografia do Pe. Johannes Rick, resumiu o quadro histórico demográfico das colônias alemãs do sul do Brasil como segue:

A expansão das colônias alemãs que começou em 1924, foi entregue durante o século XIX mais ou menos ao acaso. Depois que as terras da Fazenda Imperial haviam sido ocupadas, os povoadores penetraram, já desde o início da década de 1850, nas terras vizinhas. Estas faziam parte das assim chamadas fazendas ou sesmarias pertencentes  aos ricos barões do gado, que estavam satisfeitos em vender a preços compensadores as terras povoadas por tigres e índios selvagens. Já em meados dos anos de 1850, a migração para o oeste, composta em parte pro novos imigrantes em parte pelos filhos dos imigrantes alemães, ocupara a beirada sul do planalto, numa extensão de 300 por 100 quilômetros.

Essa migração alimentada somente pelo impulso da expansão e razões de natureza econômica, continha um grande inconveniente: a mistura confessional das comunidades. Das antigas colônias só um número pequeno de comunidades eram inteiramente católicas, nos casos em que corretores de terras excluíram outras confissões.  Em todas as demais, católicos e protestantes conviviam  nas situações mais diversas, numa proporção média de 46% de católicos e 54% de protestantes. (Rabuske, Arthur, Rambo, Arthur Blasio. Pe. João Evangelista Rick, SJ – Cientista, colonizador, apóstolo social, professor, Edit. Unisinos, 2004, p. 56-57)

Explícitas ou nas entrelinhas das observações do Pe. Rambo identificam-se as causas e os motivos que levaram a Associação dos Agricultores e a Sociedade União Popular a eleger  a questão da colonização como uma das suas preocupações centrais. A ocupação de uma região tão vasta em poucas décadas, aponta para uma realidade demográfica já mencionada em outra parte do presente estudo. É notória a elevada taxa de natalidade entre os imigrantes naquela época. Ao mesmo tempo a alimentação relativamente farta e equilibrada, somada a hábitos e condições de higiene de bom nível, fizeram com a mortalidade infantil se situasse num nível aceitável. O resultado da soma desses fatores, levou a um permanente estado de saturação populacional nas comunidades coloniais. Conforme estatísticas da época, cada 1000 famílias geravam em torno de 200 excedentes por ano. A conclusão é óbvia. Esses excedentes obrigavam-se a procurar e construir o futuro fora dos limites das picadas e linha em que tinham nascido.

Às altas taxas de natalidade e à baixa mortalidade infantil, somou-se outro fator de peso. Até a eclosão da Primeira Guerra Mundial houve um afluxo contínuo de imigrantes novos. Um quarto fator, já mencionado agravou o quadro ainda mais. As dimensões dos lotes coloniais, assim denominadas “colônias”, entre 25 e 70 hectares, não permitiam mais do que uma ou no máximo duas subdivisões. A situação assim criada levara a questão da terra a um ponto crítico no começo do século XX. Tanto assim que o primeiro grande desafio enfrenado pela Associação dos Agricultores foi exatamente a questão da terra. Cálculos então feitos, tomando como base a realidade demográfica, demonstraram que seriam necessários 35000 quilômetros quadrados  de terras para desafogar por um prazo mais ou menos longo, a pressão gerada pela superpopulação da região colonial mais antiga e satisfazer de alguma maneira a demanda por terras virgens. A solução encontrada com a colonização de Serro Azul (Cerro Largo), Santo Cristo e, no decorrer das décadas seguintes, o restante da região das Missões, Serra e Alto Uruguai, provou que no decurso de uma geração, era preciso partir para outro empreendimento colonizador de grande porte.

Frente a esse quadro os fundadores da Sociedade União Popular, elegeram novamente a abertura de novas fronteiras de colonização como uma das grandes prioridades. No primeiro esboço dos estatutos definitivos, já constava como primeira área de atuação: “a preocupação com novas colonizações para católicos”. Na colonização de Serro Azul, Santo Cristo e arredores, encontramos o Pe. Max von Lassberg como personagem central e alma do empreendimento. Naquela iniciativa foi ele que imprimiu o ritmo e as características da sua personalidade de representante emblemático do catolicismo bávaro. Ele imortalizou seu nome como fundador de colônias até na Província argentina de Missiones. Em companhia do seu amigo e parceiro Karl Culmey, acompanhou a implantação das colônias de Serro Azul e Santo Cristo e levou centenas de colonos vindos do sul do Brasil, para dar início à colonização de Puerto Rico e San Alberto. Assim liderou o primeiro grupo de 11 pioneiros para dar início a Serro Azul, em 4 de outubro de 1904, celebrou com eles a primeira missa, conduziu também o primeiro contingente de colonos para a margem direita do rio Uruguai e, à sombra  da floresta virgem, celebrou a missa de fundação de Porto Novo, a Itapiranga de hoje, em 31 de julho de 1926.

A tarefa de implantar e consolidar o projeto colonizador posto em andamento na metade da década de 1920, foi confiada a um outro jesuíta, o Pe. Johannes Rick, nascido no Tirol austríaco. Para começar, distinguia-se de Max von Lassberg pela estatura de perto de 2 metros. Mass distanciava-se ainda mais pela sua maneira de ser, pela personalidade e o caráter.
A Max von Lassberg e Theodor Amstad, veio somar-se a personalidade avassaladora de Johannes Rick. Pouco ou nada afeito a detalhes, registros exatos e demonstrações estatísticas, impulsionava-o uma quase fúria de desbravador, que não perde tempo na limpeza e na organização do terreno conquistado. Confiava essa tarefa àqueles que o seguiriam. Ele dizia de si próprio que se tivesse nascido na Renascença, não se tria feito jesuíta mas um “condottiere” italiano. Essa definição aplica-se a ele em todas as atividades que exerceu nos 45 anos em que batalhou pelo bem-estar e a saúde material e espiritual daqueles que lhe tinham sido confiados. Foram muitas e variadas essas atividades, exigindo a envergadura de um gênio e a ousadia de um conquistador, para dar o lance certo no momento exato, sobre o tabuleiro “multicolorido da tabuleiro de xadrez”, como costumava definir a sua vida. E nesse tabuleiro de xadrez, foi preciso colocar em xeque-mate os desafios enfrentados no decorrer das pesquisas sobre fungos, nas aulas de matemática no colégio, na cátedra de moral no Seminário, nas obras assistenciais, nas negociações com o Presidente do Estado, no desencontro com as autoridades eclesiásticas e religiosas, na batalha contra os sofrimentos crônicos de natureza psíquica e, de modo especial, na implantação e consolidação da sua obra maior, a colonização de Porto Novo. (Rabuske, Arthur, Rambo Arthur. 2004, p.10)

Pois, a esse personagem  de perfil raro, foi confiada a missão de em primeiro lugar encontrar uma área de terra,  em condições de dar vazão ao excesso populacional acumulado nas áreas coloniais do Rio Grande do Sul, no começo da década de 1920. Uma primeira tentativa foi tentada em terras públicas ainda remanescentes no Estado. No joelho noroeste do rio Uruguai, na margem rio-grandense, aguardava uma área considerável coberta por uma pesada floresta virgem. Todos os esforços objetivando a sua aquisição e transformá-la numa nova fronteira de colonização, foram frustradas. Após demoradas negociações, envolvendo diretamente o Presidente do Estado, Borges de Medeiros, a ideia foi frustrada. Em suas “Memórias Especiais”, o Pe. Rick resumiu assim o resultado das negociações com o Presidente do Estado:

Numa consulta do sr. Alberto Bins, feita ao Presidente do Estado, dr. Borges de Medeiros, pronunciou-se este disposto a colocar terras devolutas à venda para católicos alemães. Por isso fixamos um requerimento de terras, situadas perto de Santa Rosa e Três Arroios. Entregou-se essa petição ao dr. Borges de Medeiros, mas ela acabou não tendo qualquer resposta. Fui eu mesmo, por vezes, ao palácio por motivo dessa situação. Desculpou-se Sua Senhoria de cada vez com o fato da falta de medições.

Na minha última visita, disse-lhe eu sucintamente que pouco se nos dava da circunstância de a medição fazer-se um ano mais cedo ou um ano mais tarde, sendo o nosso desejo o de termos uma resposta decisiva neste sentido de realmente podermos esperar a recepção das terras... E ela, ou seja, tal resposta não veio. O homem a impedir os negócios era o dr. Carlos Torres Gonçalves, inimigo dos “alemães” e pessoa hostil aos católicos. (Lembramos aqui que ele era funcionário da Secretaria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul, onde exercia o cargo de  d diretor da Diretoria de Terras e Colonização e de Viação Pluvial, diplomado em Engenharia Civil). Em vista disto vimo-nos forçados a recorrer a Santa Catarina. Tratava-se, na verdade, de uma expulsão, mesmo que tudo isso se desse por uma imposição moral.

Mais adiante em suas considerações o Pe. Rock acentuou ainda:

Também no caso dessa colonização havíamos tentado trabalhar com o Governo do Rio Grande do Sul, mas, assim procedendo, não progredimos um só palmo. Por causa de uma antipatia nativista e religiosa, perderam-se dessa forma para o Estado Gaúcho milhões em dinheiro e material humano. O mais curioso da questão reside no fato de que, dois anos mais tarde, a vasta floresta que se estende até Três Arroios, a qual não se quis ceder para compra a católicos teuto-brasileiros, simplesmente foi aproveitada por colonos italianos, sem que as terras se medissem e fossem adquiridas por meio de compra. (Rabuske, Arthur, Rambo Arthur. 2004, p.125)

Nos Anais da Assembleia Geral dos Católicos realizada em Porto Novo em 1934, lê-se nas paginas 10 e 11:


O projeto  da fundação de uma colônia, destinada a católicos teutos, ao modelo da bem sucedida iniciativa em todos os sentidos, da colônia de Serro Azul, vencidas as primeiras dificuldades, não foram novidade para a Sociedade União Popular. A ideia já amadurecera entre os anos de 1916 e 1917. Conversações estavam em andamento com o empreendimento de colonização Luce, Rosa & Cia. Negociava-se a possibilidade de a Colonizadora  colocar à disposição da Sociedade União Popular, observadas certas pré-condições, um complexo de sua vasta área de colonização, localizada a leste do atual Porto Novo. A entrada do Brasil na Guerra contra a Alemanha e as circunstâncias assim criadas, as organizações não de alemães como também  de teuto-brasileiros, foram paralisadas. Com isso a Sociedade União Popular viu-se condenada à inanição no momento crucial da negociação e um contato promissor com a Firma Luce tornou-se inviável. Com volta à normalidade, as negociações foram retomadas. A Sociedade União Popular assista com preocupação como os colonos rio-grandenses de origem alemã se deixavam aliciar pela propaganda de empreendimentos privados e, fixavam-se em assentamentos étnica e confessionalmente  mistos. O argumento decisivo que levou a Sociedade União Popular defender essa linha de ação não deve ser procurada na intolerância étnica ou confessional. O motivo foi única e somente a preocupação pelo bem-estar espiritual e corporal dos migrantes. A organização das comunidades de igreja e escola, a criação de  cooperativas, inclusive a fundação de associações recreativas, tornam-se possíveis somente numa comunidade étnica e religiosamente identificada. E, mesmo na suposição de o colono colher safras tão abundantes num contexto estranho, apostar tudo em boas colheitas termina na submersão no materialismo. Ele manifestar-se-á de maneira perniciosa nas gerações futuras. Os tesouros e valores culturais, assim como a fé estarão a perigo, principalmente em relação às futuras gerações. Essa realidade foi determinante para a a Sociedade União Popular tomar a si o empenho pela colonização. (Rhode, Maria. Anais do Congresso dos Católicos, 1934 em Porto Novo, p. 19)