Assistência às parturientes.
Além da epedimia da varíola e dos seguidos surtos de tifo, uma outra questão relacionada com a saúde foi motivo de permanente preocupação. Vinha à tona quando da aproximação da data do nascimento de crianças na colônia. Falamos da assistência às paurientes. Complicações direta ou indiretamente relacionados com o parto contaram entre as principais causas de óbitos de mulheres jovens.
Na sua tese de doutorado publicada na Alemanha com o título “Deutsche Auswanderinnen in Brasilien”, Giesela B. Lermen, começa a sua avaliação sobre a presença da mulher na imigração alemã, com a seguinte constatação: “A mortalidade materna em consequência do parto, é um dos capítulos mais obscuros da história da colônia”.
Não resta dúvida que nos encontramos frente a uma tema, de lado comum em todas as comunidades coloniais e, do outro, um dos menos comentados. De qualquer forma não é difícil formar-se uma ideia da exxtensção e profundidade do problema. Basta tornar conscientes as circunstâncias reinantes no meio colonial durante todo o século XIX e os primeiros anos do século XX, no que se refere à assistência às parturientes. Começa por ai que não havia nem médicos nem hospitais a quem recorrer. No que se relacionava com recursos em casos de doenças e os problemas surgidos por ocasião de muitos partos, os colonos esetavam entregues à própria sorte. Com isso a mortalidade de mulheres jovens chegou a níveis preocupantes. A autora refere um levantamento feito pelo “Deutsches Volksblatt” em 1908 sobre a expectativa de vida na colônia. Serviram como base os registros de óbitos da paróquia de São José do Hortêncio entre 1868 e 1908. Os números falam por si mesmos. Dos falecidos entre os 30 e 50 anos de idade, constavam 21 homens e 51 mulheres. O jornal fez o dado acompanhado da observação: “Certamente uma prova cabal da importância da questão das parteiras para a colônia e a urgência para encontrar uma solução para esse problema”.
Os alarmantes ados sobre a mortalidade em função da deficiente assistência às parturientes, reclamava por ações e iniciativas eficientes de duradouras. O Drd. Gabriel Schlatter que conhecia muito bem a sitação da assistência médica na colônia, manifestou-se da seguinte forma sobre o problema, na sétima Assembleia Geral da Associação dos Agricultores do Rio Grande do Sul, realizada em Estrela em 1907:
Posso assegurar-lhes que aqui na colônia alemã no Rio Grande do sul, centenas de colonas morrrem em consequência da assistência defeituosa durante o parato ou elas adoecem pouco temo depois, muitas delas morrem e muitas que, em aso favorável, melhoram parcialmente, continuam a vida toda com aquela sequela. Pois mal passa uma semana, na qual um ou outro dos nossos jornais alemães não traz a participação de luto de que uma mulher e mãe faleceu no apogeu da vida, em consequência de um parto. (citado por G.B. Lermen, 2006, p. 236)
Da fala do Dr. Schlatter resultou um acalorado debate do qual participaram os padres Amstad e Gasper e o pastor Gans. Concluíram que a situação era tão grave que exigia uma ação séria e urgente permanente e a longo prazo.Na proposta estava implícito o propósito de, de alguma maneira treinar aprteiras para socorrer as parturientes nas comunidades coloniais. Na, entretanto, quela assesmbleia geral não foi proposta nenhuma resolução cdoncreta nesse sentido. A adoção de uma solução aconteceu no ano seguinte na Assembleia Geral em Santa Cruz do Sul. Por decisão da garnde maioria foi aprovada a criação e uma instituição de treinamento de parteiras fora de Porto Alegre. A decisão apoiou-se na lógica e que a quase totalidade das candidatas procedia do interior colonial e sua atividade seria desenvolvida naqule meio. A escolha do local recaiu sobre a cidade de Estrela pelo fato de o Dr. Schlatter já manter um curso de treinamento junto ao seu consultório convencional. Bastava ampliá-lo.equipá-lo melhor e franquá-lo a candidatas procedentes de toda a região colonial. Infelizmente o curso de treinamente de aprteiras foi foi uma das primeiras iniciativas da Asssociação Riograndense de Agricultores, vítima quando essa Associação foi transformada em Sindicato no ano seguinte. Por decisão unilateral do Sindidcato de Santa Cruz do Sul, o curso foi transferido para Porto Alegre com a alegação dos benefícios que poderia auferir com a proximidade da Faculdade de Medicina. A decisão implicou na mudança da própria natureza do curso e teve como consequência o afastamento do Ddr. Schlatter e frustrada a intenção de formar especificamente para o meio colônia profissionais procedenes daquele contexto e conhecedoras das características humanos do seu campo de trabalho. Giesla Lermen comentou a situação em foco:
Apesar da situação assustadora pintada pelo Dr. Schlatter e amaprada nas estatísticas, sobre o estado das coisas relativo ao atendimento às parturientes durante o século XIX na colônia, a presença de parteiras e sua atuação provam igualmente que exercerama profissão com prontidão e eficiência e cônscias da sua responsabilidade, gozando do reconhecimento da população da colônia. A memória delas foi perpetuada em anúncios fúnebres escsritos por maridos, filhos, noras e genros, assim como em manifestações de gratidão por parte de maridos pelos atendimentos dado às esposas (Lermen, G., 2006, p. 236).
A presença dessas parteiras, sua impotância para a colônia e sua dedicação à causa, foram objeto de referência, de manifestações de reconhecimento e gratidão, resgistrados em almanaques, jornais, periódicos e nas reuniões, associações e congressos. Os nomes de figuras emblemáticas de parteiras no final do século XIX e começos do XX já foram mencionados mais acima ao falamos da Mulher na Germanidade no capítulo sobre a “Gênese da Geramindade
Convém não esquecer que, apesar da dedicação das parteiras, a falta generalizada de médicos, deixava uma grave lacuna na assistência às paturientes. Em situações mais graves como complicações devido a infecções, necessidade de cesariana e outras, a ausência de édicos cobrava preços muito altos, em não poucaos casos a própria vida da mulher e ou da criança.
Põe-se a essa altura a pergunta: E quem foram essas mulheres parteiras, qual o seu perfil humano e profissional. Para começar a quases totalidade eram mulheres comuns, casadas com colonos, mães de famílias numerosas, donas de casa, agricultoras nos intervalos em que não se encontravam em missão de atendimento a alguma parturiente. Apropriavam-se dos conhecimentos e das práticas junto a uma profissional experimentada. Mais raros erm os casos em que as aspirantes à profissão passavam por um estágio em algum hospital em Porto Alegre. Em todo o caso todas as parteiras daquela geração dedicavam à profissão como uma autêntica missão, alimentada na solidariedade para com as mães, suas famílias e do compromisso das novas gerações. Por isso mesmo, gozavam do respeito e da simpatia geral. Em contrapartida respindiam com uma discrição à toda prova e um respeito profundo para com as pacientes. Eram personalidades conhecidas e respeitadas como era o padre, o professor. Costumavam ser apelidadas de “Tia-Cegonha – Storchentante”.
Por fom permito-me prestar uma homenagem especial às diaconisas, as “Schwester” e
as irmãs de caridadae que, por dezenas de anos fizeram com que os hospitais, sanatórios e instituições do gênero, fossem de fato ambientes onde os enfermos e familiares, encotrassem um atendimento digno. Elas, religosoas de ambas as confissões, marcaram sua presença, entre 1900 e 1950, e mais tarde ainda, em dezenas de hospitais, grandes e pequenos, espalhados pelo sul do Brasil. No Moinhos de Vento, nos hospitais de Montenegro, Sinimbu, Panambi, Não me Toque, Taquara e outros atuaram as “Schwester”, as diaconisas. Na Santa Casa de Misericórdia, No Benificência Portuguesa, No Mãe de Deus, no Centenário em São Leopoldo, no Regina em Novo Hamburgo, no Sagrada Família em São Sebastião do Caí, no Pompeia em Caxias do sil e dezenas de outros hospitais menores, marcaram presença as irmãs de caridade de diversas congregações católicas. Ouso afirmar que o nível desses hospitais foi conquistado pela competência, o comprometimento, a dedicação e, porque não deixa-lo claro, pelo amor ao próximo que alimentava essas religiosas de ambas as confissões. O Moinhos de Vento, o Regina, o Mãe de Deus e tantos outros, não teriam a fama de que hoje gozam, se não tivessem nascido, crescido e se sconsolidade nas mãos dessas religiosas de ambas as confissões. Acima da competência profissional e administrativa zelavam por um comportamento ético rigoroso e o respeito aos pacientes regia o quotidiano dos hospitais e marcava limites para médicos e demais profissionais da saúde.
“O arrumador de ossos – o Knochenflicker”
Outra figura emblemática que circulava pelo meio colônia, ainda até meados do século XX, era o “Knochenflicker – o arrumador de ossos”.
O trabalho pesado na roça, o derrubar mato, o andar a cavalo e outras tarefas do quotidiano, vinham acompanhadas do risco permanente de fraturas nos braços ou nas pernas. Recorrer a um traumologista, se é que o havia, estava fora de cogitação. O problema costumava ser resolvido por práticos em recolocar ossos fraturados no lugar e imobilizar o braço ou a perna com talas para evitar que o osso se desloasse ou soldasse mal. Um homem ou, comenos frequência uma mulher, costumava socorrer os acidentados de uma ou mais comunidades vizinhas. Davam conta do trabalho com presteza e acustos perfeitamente suportáveis pelos colonos. Não poucas vezes contentavam-se com alguma remuneração em dinheiro, algum gênero alimentício ou até um simples “obrigado”. Colocavam os ossos no lugar valendo-se apenas do tato, imobilizavam o membro com sarrafos, tabuinhas, ou a base seca da folha da taquara, com tamanha habilidade que não se percesbia sequelas posteriores. Costumavam valer-se da cachaça com mestruço para amortecer a dor. Um representante típico de “arrumador de osso” foi o “tio” Anton Hoff, um solteirão que atendia a região de Bom Princípio e Tupandi. Tinha o hábito de tomar uns bons tragos durante a manipulação e feito o trabalho costumava pernoitar na casa do acidentado. Seu trabalho costumava ser tão perfeito que dificilmente ficava uma sequela e não se percebia que o braço ou a perna fora farturada. Assim como ele profissionais práticos circulavam em todas as regiões de colonização alemã, italiana, polonesa e outras. Em escala mais modesta faziam parte do cenário da época ao lado das parteiras.
A situação começou modificar-se lentamente, e para melhor, com o desesnvolvimento urbano, a partir da segunda metade do século XIX. Médicos diplomados foram abrindo cada vaez mais consultórios em Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, Santa Maria e outras cidade, oferecendo um atendimento qualificado nas Santas Casas e nos hospitais que foram surgindo. Médicos igualmente diplomados instalaram consultórios até em localidades mais remotas, arredando para o lado charalatães, os assim chamados “médicos práticos”, farmacêuticos e até contínuos de farmácia, fazendo-se de médicos.
Ao mesmo tempo multiplicaram-se as famácias, laboratórios de manipulação e nos jornais e almanaques multiplicaram-se os anúncios oferecendo medicamentos para atender às necessidades mais comuns do dia a dia. Mas essa questão mereceria um capítulo à parte.