Capítulo sexto
A vida do povo
Não é raro acontecer
que, quando se transplanta uma árvore para outro local, ela começa a definhar e
a sobrevivência corre risco. Com os povos acontece muitas vezes como com à
árvore transplantada. Enfraquecem e perdem as suas boas qualidades e, no fim, sucumbem
de vez. Com não menos freqüência
acontece que uma planta
transferida para uma outra região na terra, lucra em vigor e beleza. O
mesmo fenômeno foi observado por vezes com povos que emigraram. E qual foi a
sorte dos emigrados alemães para o Rio Grande do Sul ? A transferência de um
lugar para outro foi benéfica ou prejudicial ? A resposta não é tão simples, mas deve ser considerada
positiva, se tomarmos como base a convicção dos alemães aqui radicados.
Para começar
perguntemos o que aconteceu com o caráter
germânico ? Todos sabemos que seus traços essenciais, a pele clara do
corpo, os olhos azuis e os cabelos louros permaneceram como uma bela herança
nos descendentes dos alemães. Mas o clima mais quente exerceu uma influência
positiva sobre eles, pelo menos num aspecto. O físico ficou mais esbelto, os
traços do rosto mais delicados, as mãos e os pés menores e mais graciosos. Sob
este aspecto aconteceu uma aproximação com os povos latinos. Acontece que
dificilmente se poderá negar que, se o físico dos descendentes lucrou com um
perfil mais agradável, perdeu outro
tanto em resistência e robustez. O poderoso esqueleto do agricultor com sua
peculiar falta de desenvoltura, cedeu lugar a uma estrutura mais flexível, embora a cepa dos gigantes não
esteja toda extinta. E com isto o que aconteceu com o vetusto caráter alemão ?
Aprimorou-se ou transformou-se ? Homens de idade lamentam que os mais jovens
não são mais tão respeitosos, tão resolutos e tão honestos. como foram seus
ancestrais. (144) Admitamos que, neste particular, a terra e o clima tenham
prejudicado o caráter alemão, mas não passaria de uma injustiça generalizar
além da medida esta perda. O coração e a alma dos moradores da colônia
continuam sendo alemães, também no estrangeiro.
Se os alemães
pretendem reclamar alguma importância
para si para o futuro deverão, como fizeram até agora, preservar as sua identidade e evitar o caldeamento com
os nativos. A miscigenação significaria a absorção do elemento alemão, o que
não seria bom nem para o Brasil. Com esse procedimento não representam, de
forma alguma, um perigo para o povo brasileiro, que de qualquer forma não
existe bem definido como tal e, sob o aspecto numérico, não está em condições
de assimilar os imigrantes alemães. O Brasil é grande demais e a população
nativa muito fraca para esperar tal coisa com chance de êxito, das populações
imigradas dos alemãs, italianas, polonesas, russas e outras. Para o
futuro a república do Brasil transformar-se-á numa réplica da Suíça
(evidentemente numa escala muito maior). Nela viverão pacificamente, lado a
lado, alemães, franceses, italianos, romanos. Na Suíça basta a unidade do país,
o governo central, a história, a língua oficial e os interesses comuns, para
garantir solidez e respeito ao Estado. Porque não seria possível o mesmo no
Brasil ?
Vamos verificar se os autênticos hábitos e costumes foram
fielmente preservados na nova pátria. O que aconteceu por ex., com o espírito
de poupança dos antigos que ganhavam com dificuldade os seus parcos vinténs e
os empregavam bem ? Lamentavelmente somos obrigados a concordar com o
testemunho uníssono dos avós, merecedores de toda a credibilidade, que não
poucas desvirtudes já entraram na mata virgem. Observemos o jovens por ocasião
dos assim chamados Kerb e bailes. Na velha pátria não se conheciam argolas nos
salões e pendurados neles barrilzinhos com o caro vinho do Reno. Não se
oferecia cerveja inglesa ou bebidas às dúzias no meio de um clima de exibição.
A alegria era mais disciplinada e não degenerava tão facilmente em excessos
decapitando garrafas de vinho do Reno
ou entrando a cavalo no salão. Não raro, como noticia o "Deutsches
Volksblatt", o salão se assemelha a um estábulo imundo cheirado a cerveja
e a alegria inofensiva degenera em
selvageria animal. Na antiga pátria não se costumava invadir o recinto dos encontros com a faca
desembainhada ou pistola carregada, para transformá-lo num palco de brigas e
assassinatos. As festas terminavam com a sensação de satisfação e bem estar,
não como agora, com pavor, arrependimento e desespero. Para sermos justos não
queremos silenciar que, as nossas condições legais peculiares, tem a culpa
principal no avanço frenético da barbárie. Pois, o que pode resultar de bem
para o povo quando nem sequer se registra o "corpo de delito" no
local da dança onde alguém foi morto. Mais ainda. Nem as testemunhas principais
são ouvidas, nem o júri é capaz de causar algum susto, porque qualquer
criminoso pode contar com a
possibilidade de uma fuga para o Campo ou a Serra. Nesse contexto geram-se as
condições como as que temos no presente. Entende-se assim a observação de não
poucos colonos: "Meu Deus. O que seria de nós se não pudéssemos contar com
os padres! “Mesmo o mais míope reconhece
que se deve unicamente à religião de o mal não ter assumido proporções maiores
e características mais nefastas.
Nos velhos e bons
tempos as coisas se passavam bem diferentes na venda de Paul Kasper onde,
conforme a tradição, foi instalado o primeiro local para dançar. No recinto com
assoalho de tábuas, fechado com lona e coberto com galhos de pinheiro, as
coisas aconteciam com maior decência e as chuvas torrenciais que inundavam o
local à noite, encarregavam-se para que as diversões não se prolongassem além
da conta. Na época a chuva não precisava a sujeira e quem sabe o sangue, uma limpeza que hoje em muitos
lugares, nem uma chuva de três dias resolveria.
Passemos das
diversões para o trabalho. Está claro de que a energia para o trabalho da
terceira geração de hoje, não se situa
mais no nível dos pais e avós. Com isso não se quer afirmar que se extinguiu na
colônia a vontade e o amor ao trabalho. Ociosos são ainda uma raridade e
merecem desprezo generalizado. Até se pode afirmar que muitos trabalham demais,
ou iludidos por um objetivo equivocado, ou se empenham além de suas forças.
Esperam que a bênção do trabalho preserve o caráter alemão dos muitos
descaminhos a que o ócio costuma levar os homens e influa como um banho
refrigerador sobre a moral do homem e sobre
toda a família humana. Consideremos, por exemplo o esforço extenuante que a colheita do feijão exige de jovens e
velhos e como o colono, além disto,
é obrigado a carregar o ano todo o fardo do trabalho. Aqui nem o inverno
propicia descanso para o colono. Durante o dia as plantações de milho tomam-lhe
o tempo. É preciso cortar os pés de milho
e dobrar as espigas. É preciso carregar na carroça os numerosos montes
de espigas e levá-los até o paiol. Na entrada da noite o gado quer se tratado e a janta frugal ser tomada. Segue-se
mais uma ocupação que, embora não exija grande esforço, requer muito tempo.
Todos os membros da família, pais, filhos junto com os vizinhos, reúnem-se no
paiol baixo, fracamente iluminado por uma lanterna, como é hábito nas salas de
fiar da Alemanha. Aqui, porém, não se escuta o ruído das rocas, mas o farfalhar
da palha das espigas, que uma vez livres do seu invólucro, são jogadas num
monte. Durante esse trabalho cabe principalmente aos mais idosos contar as
vivências do passado, com ênfase especial para
imigração e a fundação das colônias. O povo mais jovem, especialmente as
crianças escutam com atenção. Foi dessa forma que se perpetuaram nas novas
gerações as máximas e os princípios dos bons e
velhos tempos. Verdadeiros recintos de tecelagem também não são raros
nas colônias, com a diferença de que se limitam a uma única família.
Nessas horas
noturnas acontece também que os rapazes freqüentam as casas dos conhecidos à procura de parceiras
para o casamento. É mau sinal para o pretendente se uma moça vai dormir com uma
saudação seca logo depois da chegada do rapaz. Se permanece, mesmo em silêncio,
é sinal que há esperança. Às vezes o rapaz em busca de uma noiva emprega-se com
o pai dela, para submeter-se à importante prova nas sua proximidade. Em
princípio não há nada contra este procedimento, visto que o patriarca Jacó agiu
da mesma forma. Mas segundo o ponto de vista cristão pode ser tomado como
inconveniente quanto à convivência contínua sob o mesmo teto depois do
noivado. Em vista da moralidade pública ou, pelo menos, em nome da
honorabilidade pública, deveria ser observada a estrita separação exigida pela
Igreja (146), entre o noivado e o casamento. Gastos exagerados com o casamento
merecem restrições, tomando em consideração a convivência popular sadia. Acontece
que esse é um fato raro e ultimamente tem diminuído muito. Um belo costume é a
visita aos doentes pelos parentes e conhecidos. Mas também neste particular
deveria ser observado uma medida razoável. Qual é o alívio que pode ter o
enfermo quando no domingo de tarde os
visitantes lotam o quarto? Priva, ao pé da letra, o enfermo do ar puro e o
grande atropelo dos visitantes o leva ao esgotamento. Não seria mais
conveniente que as visitas fossem poucas e de pouca duração? Neste caso servem
de quebra de monotonia e uma distração em vez de uma tortura. Merece plena
aprovação e nenhuma restrição a disposição de chamar o padre para atender o
vizinho, mesmo correndo riscos. Igualmente edificante e comovente é atitude piedosa de muitos fiéis
quando se ajoelham durante a administração dos sacramentos aos enfermos. Todos
se ajoelham, rezam, e procuram fazer tudo que está a seu alcance para se mostrarem prestimosos.
Em muitas famílias encontramos uma mesinha com toalha branca, para nela
depositar o santo sacramento, um crucifixo, duas velas e um recipiente com água benta, como o pede o
costume católico. Um costume igualmente belo é o velar os defuntos. É evidente
que deve acontecer em sintonia com a fé e a sã razão. É edificante quando se
reza o terço junto ao falecido e na entrada e na saída se asperge o corpo com
água benta. Não é que as gotas de água
tenham qualquer poder, mas a bênção e a prece da Igreja, relacionadas
com elas. A aspersão, conforme a concepção católica, cai como um orvalho
refrescante sobre as almas necessitadas do purgatório. Feio é o costume
revoltante de profanar o recinto onde se encontra o defunto, tomando cachaça no
quarto vizinho. "Vocês praticam um belo velório," disse certa vez uma
moradora de Bom Princípio, referindo-se a um falecimento na 48, "fazendo-o
acompanhar com bebedeira e jogo de cartas."
Há ainda o costume
que os parentes e conhecidos de longe e
de perto serem convidados para os enterros. Logo depois de o enfermo
fechar os olhos, a notícia voa para a casa dos vizinhos. Sem perda de tempo os
cavalos são encilhados e as diversas picadas onde mora parentes e conhecidos da
família, são percorridas. Esses não demoram para se porem em movimento.
Forma-se um cortejo digno de admiração. Em muitos casos o enterro assume
características de grandiosidade, quando se observa o cortejo, subindo ou
descendo a encosta de um morro. Na frente
sobre uma carroça, puxada por uma parelha de bois pretos que caminham
pausadamente, repousa o caixão preto. Ao
lado caminha um menino carregando uma
cruz e não aro uma coroa. Atrás seguem numa longa fila a cavalo, os enlutados,
homens, mulheres e crianças. Quando se trata de uma boa família cristã
escutam-se apenas orações. Não esquecerei nunca o que ouvi do velho Johann
Brill da Picada Holanda. No momento em que o caixão do seu filho que se afogara
no rio, foi alçado na carroça, puxou com
voz grave forte o rosário. Sem dúvida uma atitude de autêntica catolicidade e
solidez de caráter. O infeliz pai encontrou assim consolo para a dura perda.
Certamente um motivo melhor do que aquele a que recorreu o viúvo de outra
confissão, consolando-se com a morte da
mulher pois, ainda te restavam as colônias e a casa bem instalada.
Por ocasião da morte
percebe-se bem o valor da religião! Um pouco antes de morrer foi feito, ao
acima mencionado Johann Brill, a sugestão que fizesse alguma coisa em favor da
Associação do Menino Jesus. Logo depois do falecimento apresentaram-se seus
familiares com o pedido de que o vigário adquirisse uma estátua do Menino
Jesus, custasse o que custasse. Foi assim que a igreja da Picada da Holanda foi
enriquecida com uma bela estátua (147) do Divino Menino, no valor de 50 mil
réis.
Ao se tratar de uma
família menos piedosa ouvem-se poucas orações durante o cortejo fúnebre.
Acompanham o defunto com espírito embotado. Prostrados com a perda, mas com uma
ausência de atitude cristã e a desesperança dos animais que puxam o carro
fúnebre. Graças a Deus, entre a maioria dos católicos a oração acompanha os
restos mortais dos entes amados até a última morada.
Já no tempo do velho
Tobias praticava-se o louvável costume de preparar uma refeição no dia do
sepultamento. Presume-se que o motivo consistia em motivar os presentes a rezar
pelo falecido e reforçar os laços de amizade para com ele. Uma motivação
semelhante encontra-se na assim chamada colação (pequena refeição) fúnebre. De
outra forma não haveria uma explicação razoável, muito menos cristã pelo fato.
O dia do enterro significa um dia de trabalho duro para as mulheres da casa do
falecido e suas vizinhas. As montanhas de cuca e os rios de café servem os
presentes que por vezes chegam a dezenas. As mesas são ocupadas alternadamente
na casa, até que todos tenham sido atendidos, o que só acontece depois de
algumas horas.
Aprovação igual na
participação do enterro, merece o
costume de os filhos do pai ou mãe
falecido, se demorem por algum tempo na sepultura para rezar. Falecendo uma
criança antes do uso da razão, crianças, principalmente meninas assumem a
preparação do corpo e o sepultamento num clima
um pouco menos triste, conforme os ensinamentos da Igreja. A Igreja
permite que o caixão dos inocentes seja ornamentado com flores e, durante toda
a cerimônia, predomine um tom positivo como se tratasse de um acontecimento
festivo. E com razão. Mais um anjo é recebido
na multidão de espíritos celestes, cuja sorte com a idade seria uma
incógnita. Com adultos a religião não quer saber de flores. Como pecadores os
adultos devem ser apresentados perante o altar. Mesmo o caixão deve ter um
sinal da pecaminosidade e uma prece por perdão e misericórdia. A sepultura deve
ser ornamentada porque é o lugar do descanso
dos nossos entes queridos, acompanhada pela esperança da ressurreição,
voltada para o sul como uma flor que não murcha.
Passemos agora para uma avaliação dos costumes na vida da colônia. É um sinal animador que
na colônia não se ouve falar em crimes propriamente ditos. Só raramente se
noticia alguma coisa que envolve atos contra a propriedade como o
roubo. Excluem-se deste julgamento favorável os larápios que na paróquia de São Salvador deram vazão
aos seus desmandos. O máximo que pode acontecer é que o mandamento que protege
a propriedade alheia seja violado em coisas pequenas pelas crianças. As
acusações contra os adultos referiam-se, na maioria dos casos, à negligência na
manutenção das cercas. Conta-se que uma exceção menos louvável em relação à honestidade reinante na colônia,
teria sido protagonizada pelos Mecklenburguenses na propriedade de Simonis,
perto da igreja protestante. Eram ladrões profissionais de igreja. Seu campo de
ação eram as igrejas nas redondezas e tinham seu lugar de refúgio no mato do
Dietrich, no caminho de São Leopoldo. Na casa de um dos suspeitos, (148) morto
na revolução, o novo proprietário encontrou um papel no sótão debaixo do
telhado no qual se assinalava que, debaixo de um galho de timbaúva, direção
leste encontravam-se os tesouros roubados. Afirma-se que o novo inquilino
descobriu uma quantidade não esperada, inclusive cálices de ouro. Conta-se
também que no bosque havia uma oficina para fabricar moedas falsas.
Mais freqüentes
acontecem na colônia os delitos contra a
integridade física e a própria vida. Na maioria dos casos não são premeditados
e muitas vezes acontecem em diversões. Os desentendimentos surgem normalmente por
ocasião 0do Kerb, de bailes e resolvidos com tijolos e estribos. Desta maneira
a diversão pública não raro termina em crânios e membros quebrados. A
desagradável mania de recorrer a processos diminuiu bastante e os
desentendimentos resumem-se mais em ameaças, gritarias e intrigas. Na maioria dos
casos as brigas são resolvidas por
acertos, nos quais ambas as partes arcam
com as despesas e o único que leva vantagem é o intermediador.
Um outro vício que
tenta insinuar-se silenciosamente na colônia é a bebida. Premidos pela
necessidade e levados pela preocupação pelo
bem estar da colônia, reservamos algumas palavras a seu respeito. Não
somos daqueles que proíbem pura e
simplesmente as bebidas alcoólicas, mas defendem a moderação que precisa ser
praticada.
O trabalho pesado na roça justifica um trago à
noite, mas o consumo no decorrer do dia, durante o trabalho, é um grande mal.
Qualquer um sabe que a cachaça com o calor provoca a preguiça e torna a pessoa
lerda. Nessa situação não ajuda mas torna-se um estorvo no trabalho e por isso
precisa ser evitado. Acresce que aqui faltam de todo os motivos que desculpam o
amigo da cachaça, isto é, a alimentação insuficiente e o frio rigoroso. O
colono daqui não precisa preocupar-se nem com um nem com outro. Além disso num
país de clima quente, a tendência de consumir a bebida proibida, em vez de
diminuir, acentua-se. É de todo rejeitável, mesmo que não leve a uma bebedeira
total, mas um estado de torpor. O homem que se entrega a este vício perde toda a dignidade humana,
vira alvo de zombaria dos concidadãos que, atrás das costas, riem da sua
fraqueza. Uma bruma, por assim dizer, tolda o seu juízo e gradualmente perde a
capacidade do julgamento correto de si mesmo e das demais coisas. Sua vontade
perde o vigor e a energia moral e, como uma corrente de ferro o vício nefasto o
imobiliza. Não por nada pergunta Sagrada Escritura: "Quem sofre?; o pai de
quem sofre?; quem briga?; quem cai nos valos?; quem se fere sem motivo?; quem
tem os olhos obscurecidos.?" A inegável verdade nos dá a resposta: "Não
serão aqueles que se demoram junto ao vinho e se entregam esvaziando
copos?" Se vale para o vinho, tanto mais vale para a cachaça, pois, não
sem razão um poeta mais recente a estigmatizou como a bebida do demônio. O
próprio dramaturgo Sheakespeare escreveu: "Oh espírito invisível da
aguardente, se não tens nome pelo que és, quero chamar-te diabo!" Por essa
razão a Sagrada Escritura acrescenta na
página citada: "Não olhes para o vinho com a sua cor de ouro e brilhando
no cálice; ele desce com suavidade, mas no fim pica como uma (149) cobra e libera veneno como um basilisco. Teus
olhos voltar-se-ão para mulheres estranhas e teu coração falará coisas erradas.
Serás como aquele que dorme em pleno oceano e dirás como o piloto semi adormecido que perdeu o rumo. Bateram-me e
não senti dores e arrastaram-me e não o percebi. Quando acordarei e encontrarei
de novo vinho? (Prov. 23.29).
Onde encontro vinho
(cachaça)? Esta é a preocupação íntima e o desejo maior do vencido pela bebida.
Como já aconteceu chega ao ponto de engolir frascos de remédio com tintura, ou
outras substâncias fortes, mesmo de aparência tão repugnante como a lavagem ou
produtos de limpeza para metais.
"Onde posso encontrar cachaça? esta é a única pergunta que interessa
ao beberrão. E onde a encontra ele a agarra, mesmo que esteja escondida no
bebedouro dos porcos. Este esconderijo foi certa vez utilizado por uma viciada,
para esconder a garrafa de cachaça para que o marido não descobrisse seu vício
imundo. Até que ponto é desagradável o comportamento de uma mulher entregue a
este vício, mostra um fato contado por pessoas de idade. Mal as galinhas tinham
posto dois ovos, levava-os sem perder tempo até a venda para transformá-los em
cachaça. O fato de as próprias crianças
se entregarem a este vício detestável e indigno, mesmo que não cheguem
ao grau máximo, transparece na pronta
resposta de uma menina na aula de catecismo. À pergunta porque o pai do céu era
melhor do que o pai terreno, respondeu: "Porque o papai lá em casa toma
cachaça demais." Que dizer da falta de juízo dos pais quando não perdem
ocasião para permitir aos pequenos que
bebam também, embora estejam alertados pelos médicos de que estas bebidas
causam um grande dano às crianças. Não é de se admirar quando no Kerb cinco
fedelhos se aproximaram do balcão da venda mandando: "Serve uma
cachaça!" É nisso que termina fatalmente quando o exemplo e a falta de
juízo dos pais não previnem o mal. Perguntamos: que proveito pode tirar a vida
da colônia de tais hábitos? É muito triste quando homens, aliás trabalhadores e
cristãos de uma comunidade, pagam regularmente tributo ao demônio da cachaça. A
degradação vê-se estampada no rosto. Apresenta um vermelho fora do natural
combinado com inchaço. Sua expressão torna-se banal e o olhar abobado.
Encarecemos que estas pessoas levem a
sério as palavras da Sagrada Escritura acima mencionadas e não joguem ao vento
os desejos e os pedidos dos verdadeiros amigos.