Deitando Raízes #23

A evolução interna
Introdução
Não poucos dos amigos leitores terão pensado que a Crônica estivesse concluída e devem ter feito especulações sobre o termo "Parte I, a Evolução externa." Deve ter-lhes parecido que não havia mais nada a ser relatado. Mero engano, pois segue agora a história da evolução interna  de Bom Jardim e arredores. A primeira parte serviu, por assim dizer, como moldura fartamente ornamentada, na qual queremos inserir o quadro multicolorido  do retrato da evolução da vida interna da colônia.
O fato de termos na primeira parte um esboço da história do Brasil, não só se justifica na Crônica, quanto foi indispensável, considerando o círculo de leitores e nos imaginamos também que tenha sido muito útil. Qualquer um que conhece o nosso povo sabe que o conhecimento da História Brasileira e sua seqüência cronológica, é o ponto fraco dos colonos. Quantas vezes aconteceu que, ao perguntarmos as datas a narradores de histórias, aliás bem ao par das coisas, tivemos como resposta um menear de cabeça ou a observação de que deve ter sido em tal ou tal ocasião. Não deve, portanto, surpreender que queiramos contribuir para sanar este mal.
Cada um entende que se tratou de sentido figurativo, quando chamamos a primeira parte  de moldura. Incluímos muitos relatos e considerações. Mas, comparando com a segunda  não é menos variado e menos rico em conteúdo. A evolução interna, objeto da segunda parte, contém o mais importante. Quando se conhece uma pessoa apenas por fora, assim como é retratada por uma fotografia e, além disto, ainda se sabe qual a posição que ocupou, isto não basta nem de longe, para avaliá-la pelos seus valores reais. É indispensável penetrar no seu interior, conhecer claramente seus pensamentos, seus planos, suas aspirações, suas intenções, pois são eles que conferem às ações externas o seu verdadeiro sentido e função. E, para que conheçamos de saída o caminho que iremos percorrer, e quais os espetáculos a que assistiremos, queremos apresentar em resumo as conteúdos  individuais de que se compõe a segunda parte. É nossa intenção traçar um quadro claro e completo da vida e do andamento das primeiras sete décadas  da colônia. Este panorama irá desdobrar-se pouco a pouco diante dos nossos olhos. Deixemos que os diferentes traços se revelem, como as luzes e sombras se distribuem e, como finalmente, emergem as figuras com vida. Em primeiro lugar, acompanhemos a história de como das velhas capelas surgiu a igreja de hoje e quais as mãos que se empenharam na sua construção. Na igreja e no seu interior é preciso chamar a atenção aos acabamentos, inclusive as veneráveis figuras que presidiram os cultos.  Em segundo lugar vamos acompanhar a evolução da escola paroquial desde os seus primeiros começos e com ela os veneráveis professores responsáveis pela formação da juventude. No terceiro capítulo teremos uma comparação mais aprofundada da administração, como ela aconteceu e como ela se aperfeiçoou. O capítulo quarto ocupa-se com as profissões a começar do início até o seu estado atual. No capítulo quinto, tomando como referência a grandiosa construção da ponte no Buraco do Diabo, examinaremos  as vias de comunicação, a construção e denominação das mesmas, assim como o comércio e a circulação. Desta maneira será possível estabelecer comparações mais precisas entre a realidade de então e a de agora, no que diz respeito a preços e gêneros alimentícios, a diárias, etc. O capítulo sexto nos familiarizará com a vida do povo na colônia. Observaremos suas características no que se refere aos costumes, usos, virtudes, defeitos, nas situações alegres e tristes. No capítulo sétimo faremos uma avaliação  das eleições quanto à sua natureza e aberrações, o que aliás poderá ser muito útil para o futuro. Os progressos no plano espiritual, o valor ou a negligência em relação a uma formação de nível mais elevado, será a preocupação do capítulo oitavo. O capítulo  nono  reunirá uma coleção abrangente de histórias de vida, capazes de  oferecer aspectos interessantes desta história. No décimo capítulo vamos observar em detalhe as belezas da paisagem de Bom Jardim e arredores e apreciar Bom Jardim também pelo lado geológico e da história natural. O último capítulo, enfim, servirá de homenagem aos primitivos habitantes da região, os motivos pelos quais foram desapareceram e os vestígios de armas e recipientes, com os quais os colonizadores entraram em freqüente contato.
Esta enumeração já permite concluir que a segunda parte contém os aspectos mais importantes dessa Crônica. Passemos sem mais para o capítulo primeiro.
Capítulo primeiro
A. Capela e Igreja
É evidente que desde os primeiros começos dos assentamentos na nossa colônia pensou-se em providenciar por uma casa de Deus. Tratava-se de católicos bem instruídos e fervorosos, que deixaram a velha pátria acostumados a freqüência  regular do culto divino e a recepção dos santos sacramentos. Devem ter sentido uma falta dolorosa ao não encontrarem na mata virgem, nem sacerdotes nem igreja. Foi-lhes especialmente amargo nos primeiros tempos. Quantas vezes o domingo foi para eles um dia de tristeza e aflição, porque não tinham nada daquilo tudo que o cristão considera mais santo e mais  desejável, isto é,  a santa missa, a missa solene e o sermão. Especialmente aflitiva era a situação nos dias das grandes festas. A velha senhora, de Johann Franz, costumava expressar com dor  essa falta: "Hoje celebramos um feriado tão lindo e nem sequer uma santa missa nos é dado assistir."
Os mais jovens contam como a família do velho Taglieber, reuniu-se no Natal, relembrando com nostalgia as belas celebrações  de Natal da Europa. Não poucas vezes as mulheres devem ter chorado, o coração sangrando e as crianças se juntavam de forma comovente aos lamentos dos pais. Na época nem suspeitavam  de que a Providência lhes reservara um papel importante, isto é, restaurar o prestígio da fé católica e da vida eclesiástica no Brasil, com sua igreja decaída, privilégio reservado aos novos povoadores. E, para sentirem com mais intensidade o valor da religião em suas vidas, tiveram que passar necessariamente por este duro aprendizado e, graças a Deus, aprenderam para valer a lição e deram um brilhante exemplo (96) para seus conterrâneos brasileiros.
Conforme o ditado: as boas coisas exigem tempo, apenas depois de muitas idas e vindas, chegaram a uma casa de Deus digna, como a que hoje domina altaneira em Bom Jardim. 

Deitando Raízes #22

Considerações finais
Passado, presente e futuro.
Quando um cristão crente faz uma retrospectiva  da sua vida, vem-lhe espontaneamente aos lábios as palavras do salmista: "Bendizei ao Senhor porque Ele é bondoso e eterna é sua misericórdia." se isto é verdadeiro onde se trata de uma única vida humana, tanto mais evidente se torna quando está em jogo uma comunidade ou até um povo inteiro. No momento em que a comunidade paroquial de Bom Jardim lança um olhar sobe o passado, têm-se a nítida  impressão que a benevolência de Deus a conduziu durante estes 70 anos. Para muitos imigrantes as coisas não andaram bem no Brasil, como mostraremos (87) em detalhes mais adiante. Começou com a primeira colônia de suíços em Nova Friburgo no ano de 1818-1819. Durante três a quatro anos viveu uma existência  miserável. A mesma sorte tiveram os outros assentamentos com alemães e suíços até 1820, nas províncias do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Legitimaram o desesperado juízo emitido por von Eschwege, sobre a então colônia chinesa: "Teve o fim que terão todas as colônias no  Brasil ainda imaturo." Que tristeza para os primeiros moradores de Bom Jardim, se tivessem recebido terras totalmente imprestáveis e tivessem sido obrigados a se dispersar pelo país ou até sucumbir, o que não foi uma raridade.  Em vez deste malogro fora reservado a  Bom Jardim, um destino feliz. Os imigrantes viram o trabalho coroado de êxito  e podem olhar confiantes para o futuro. A situação melhorou de ano para ano e chegou ao ponto em que os parentes na terra natal só os podem invejar. Por isso cabe  render gratidão pública e sincera a Deus, por ter sido tão bom para com eles. Não deveriam deixar de lembrar aos filhos  os tempos passados e vividos em situação difícil na Europa. Que diferença entre a vida precária no Hunsrück e na região do Mosela e a abundância de que gozam na sua magnífica picada! Lá a propriedade da maioria não passava de um palmo de largura de terra e aqui são donos de uma gleba senhorial. Lá faltava-lhes tudo, roupas, alimentos, enquanto aqui dispõem de fartura e até se permitem luxo no vestir. Lá a sua condição não passava em muito  a do jornaleiro ou mensageiro, enquanto aqui se tornaram homens  livres e independentes. Devem gratidão também à nova pátria, que se mostrou tão generosa, embora lhes seja permitido reclamar para si o mérito que a presente situação feliz, se deve principalmente a eles próprios. Seus vizinhos brasileiros - ao menos os que se dedicam à agricultura - empobrecem e regridem, enquanto eles melhoram sem parar o seu bem estar e progridem constantemente. Agradecem a Deus e devem à sua diligência, à sua energia e à sua persistência, a boa condição em que vivem.
Os povoamentos alemães nos rios do Sinos, Caí e Taquari, usufruem todos da mesma sorte de Bom Jardim. Todos têm os maiores  motivos  para agradecerem à providência divina. Observados numa visão de conjunto do alto de um morro, por ex., do Fritzenberg, ou dum morro da Feliz, ou da torre da igreja de Estrela ou Santa Cruz, de imediato nos vem à mente a Terra Prometida e o povo de Israel. Acontece que aqueles assentamentos formam também um povo, pois, ocupam a mesma região e une-os o duplo vínculo da língua alemã e os hábitos alemães. Nem pensam numa unidade política. Sentem-se bem como estão agora. Com raras exceções  todos querem formar um povo de Deus, na medida em que se mantém  unidos na fé em Deus e na divindade de Jesus Cristo. Rodeia-os o paganismo, naturalmente o  moderno, não menos nocivo e infame do que os velhos ídolos de pedra, bronze e madeira. Mantêm-se fiéis ao velho Deus que os conduziu da antiga terra da servidão e lhes deu uma terra onde, pela sua fertilidade flui “leite e mel”. As virtudes cristãs, a laboriosidade fizeram com que todos  os inimigos fossem vencidos. As  comunidades florescem materialmente e, como diz Isaías, o povo inteiro vive no esplendor da paz, na tenda da confiança e no seio do conforto. Como diz poeticamente a Sagrada Escritura, cada colono vive feliz à sombra da sua figueira e da sua videira. Na maioria dos casos não se trata apenas de uma representação poética, mas de uma realidade palpável. Ainda outras belas imagens da (88) Sagrada Escritura podem, com propriedade ser aplicadas ao pé da letra, aos alemães da parte norte da região colonial: "Quão belas são as tuas tendas, ó Jacó, tuas moradas, ó Israel! Como vales cobertos de florestas, como jardins irrigados perto dos rios, como cabanas que o Senhor erigiu, com os cedros junto à água!" A razão mais profunda dessa bênção já está assinalada no Livro Sagrado: "Não há ídolo em Jacó, não se vêm figuras de  deuses em Israel, seu Deus está com ele, com ele se encontra o clarim da vitória do seu rei."
Na verdade basta olhar para a nossa colônia alemã. Em toda parte erguem-se  igrejas e capelas nas picadas - tronos de Deus em meio ao povo. As igrejas são como os cetros erguidos  de Deus, protegendo seu povo. Nas grandes festas observam-se os piedosos freqüentadores da igreja, peregrinando aos templos de Deus e, durante o ano todo os sinos elevam suas vozes de manhã e à noite. A colônia deve o seu sucesso, em primeiro lugar, à religião. Sem a religião um povo necessariamente estagna, como fica evidente nas redondezas imediatas, pois somente pela influência da fé, mantém-se sadias as virtudes civis e morais.
Como a colônia seria tristonha sem domingo, sem as festas e a prática da religião. Não tardaria em transformar-se num belo campo de trabalho do Estado, com trabalhos forçados, dando a impressão desoladora de uma cidade sem torres e sem o badalar de sinos. Ao um cenário destes faltaria  todo o impulso e todo o estímulo da beleza  e da verdadeira alegria.                                                            
A religião é a melhor garantia para o futuro da colônia. Enquanto a cepa alemã no Brasil permanecer fiel à fé, ela estará bem. Com o dar-se bem  de forma alguma entendemos a acumulação de riquezas que nem de longe dão satisfação a todos. Conta-se que certa vez um milionário observou um  trabalhador degustar com tanto apetite um assado de carne de rês, que teria exclamado: "Daria um milhão se a comida me apetecesse como para aquele trabalhador." Portanto só o dinheiro não resolve. Também a felicidade do agricultor não cresce no mesmo ritmo da fortuna. O velho sábio  Bias [1] deixa claro nas suas palavras, como a riqueza em si não aguça o juízo de um colono ignorante: "O rico ignorante é uma ovelha com lã de ouro." Da mesma forma o aumento da fortuna por si só não tem o crescimento da felicidade como conseqüência. Satisfação, sobriedade, trabalho e amor à ordem e, antes de mais nada honestidade, são importantes para a prosperidade do colono. Onde faltam estas virtudes, a riqueza contribui pouco e não durará muito. De outra parte quando essas virtudes rurais todas forem cultivadas, na maioria dos casos, o sucesso costuma acontecer. Qualquer um reconhece que estas virtudes fazem mais facilmente parte do quotidiano de um homem cristão do que de um não cristão. Do ponto de vista cristão, o único habilitado a julgar o mundo e atrair a verdadeira felicidade social deve, em última análise, subordinar toda a sua atividade aos planos de Deus. Somente quando o colono  for aquilo que  ele deve ser,  de acordo com a sua vocação, será de fato feliz, isto é, levará um vida honrada, sossegada e satisfeita. Do contrário, porém, sua situação honrada como cidadão, de forma alguma estará  assegurada e sofrerá o desprezo e a humilhação de todos os demais níveis profissionais. Com acerto Alban Stoz define sem enfeites o colono sem religião: "De todos os animais o colono é o animal mais decaído, uma frase cuja veracidade não é difícil de comprovar."
Felizmente o colono alemão é por natureza religioso. O  eterno e o invisível o impressionam e ele não se sente à  vontade quando os sinais externos da religião estão ausentes numa casa. (89 Quando confia  a filha a um rapaz como esposa, investiga antes o pretendente no que se relaciona com a religião, para não correr o risco de expor a filha a um evidente risco. Nunca agradecerá demais a Deus por esta sua índole. Um feliz instinto preserva-o de alianças com os sem Deus e da adoção de seu modo de vida. Quanto mais pesa sobre a vida do operário de fábrica a vida sem religião, por estar rodeado pelas distrações da cidade, que lhe impedem uma reflexão tranqüila, o mesmo não vale para o colono. Para ele uma existência  sem religião deve ser  negra e muito desoladora.  Por isso o colono agarra-se à religião em vista do seu próprio interesse. No momento em que surgirem algumas dúvidas a respeito, observe  os pequenos agricultores brasileiros, que residem na sua vizinhança, onde a religião deixou  de ocupar um lugar na vida. Pergunta-se, ganharam alguma coisa negligenciando a religião? Qualquer  colono alemão tem a resposta. Será que deseja o mesmo destino para os filhos e netos? Caso contrário  trate de ter em alta  consideração a religião e  sua prática. Ela oferece ao colono o que para ele é da maior importância: um corpo  sem vícios e por isso mesmo sadio e o que é mais valioso, uma alma forte, espírito de sacrifício, fortaleza e sobriedade.
A gratidão como tal deveria servir sempre aos colonos como motivo para permanecerem fiéis a Deus e a religião. Nem de longe correu tudo bem para os imigrantes no Brasil. Isto ficou muito claro logo na primeira  leva  para a acima mencionada  fundação da colônia de Nova Friburgo. Por esse motivo vamos demorarmos  com a sorte daquele assentamento para que, com a comparação desta colônia, se sintam ainda mais estimulados a agradecer a Deus.
A ocasião para chamar imigrantes estrangeiros para o Brasil foi a vinda da Família Real Portuguesa, fugindo de Napoleão. Pretendia-se com isso povoar convenientemente as gigantescas áreas do país. A totalidade da população de então, incluindo as tribos selvagens do Hinterland, não deveria ultrapassar em muito os quatro milhões, dispersos  pelo rico território. O governo português tomou então a si a tarefa de aumentar a população, no mais breve tempo possível. Mas donde se esperaria que viesse? O luso-brasileiro nativo representava um pequeno número e, na melhor das hipóteses, só depois de muitos séculos, evoluiria para um povo forte e numeroso. O  aporte de imigrantes de Portugal oferecia poucas perspectivas, visto o país ter sofrido um forte despovoamento. A população negra escrava era pouco significativa para se poder esperar dela alguma coisa neste sentido. Os índios no interior do país, na época da descoberta numerosos como a areia do mar, desde então, tinham diminuído em número em toda a parte. Suas reduções, sob a condução dos missionários jesuítas, estavam decaídas e, por isso, nada se podia esperar delas. Até pelo contrário. Seu número decrescia e estavam ameaçados de completa extinção diante do avanço da civilização. Não havia pois, como esperar dos elementos disponíveis que transformassem o Brasil num estado poderoso. As atenções do governo voltaram-se logicamente  para os países estrangeiros. Já naquela época a Europa estava fortemente sobre-povoada e em  condições de  ceder, sem prejuízo, um excedente significativo por ano.  Para lá pois que se foi em busca de imigrantes. Dentre todos os países a Alemanha e a Suíça ofereciam as melhores perspectivas. Os governantes do Brasil não pretendiam simplesmente elevar o número de habitantes. Interessava-os de modo especial conquistar uma população culta e de bons costumes para o Brasil, disponível, como em parte nenhuma, entre as nações germânicas. Esta sábia política foi praticada por quase um século, carreando incomparáveis vantagens para o Brasil.
Em 1818 o Rei D. João VI fechou um acordo com o agente suíço Gachet com a finalidade de chamar imigrantes. As condições foram sobremaneira vantajosas para os imigrantes, o que ficou claro pelo que o rei prometeu e daquilo que cabia aos imigrantes realizar. O rei prometeu custear as despesas para 100 famílias de colonos, sob a condição de que fossem católicos romanos. De acordo com o número de pessoas cada família receberia, de graça, um determinada área de terra e o gado correspondente (bois, cavalos ou mulas, ovelhas, vacas, cabras e porcos). Também as sementes indispensáveis seriam fornecidas, para que, imediatamente depois da chegada, tivessem condições de cultivar os mais diversos produtos, como cereais, feijão, batata, arroz, milho e outros. Durante os primeiros dez anos os imigrantes não pagariam impostos a nenhum título. Além disto receberiam uma compensação em dinheiro nos primeiros dois anos, sendo cada suíço contemplado com 160 réis ao dia, durante o primeiro ano e a metade no segundo. A colônia pioneira deveria ter como centro uma vila e duas aldeias e se denominaria Nova Friburgo. Uma capela equipada com todo o necessário, deveria ser construída às custas do reino local. Finalmente, logo na chegada ao país, os imigrantes seriam reconhecidos como cidadãos de pleno direito e gozando de todos os privilégios do súditos portugueses.
Foram estas as promessas realmente reais de D. João VI. Como contrapartida estabeleceu algumas exigências mais do que justificadas. A primeira determinava que entre os imigrantes comuns houvesse os profissionais usuais como carpinteiros, sapateiros, alfaiates, etc. Pretendia-se com isto que a vila a ser formada  fosse de proveito para o país. Em segundo lugar deveriam os imigrantes formar uma comunidade e, em  vista dela, trazer dois ou três sacerdotes, um médico e um farmacêutico. Durante os primeiros 20 anos os novos cidadãos só poderiam dispor sobre a metade dos bens móveis e imóveis. Aquelas pessoas que viajassem às custas do estado não  poderiam ser impedidas de retornar à pátria, caso o desejassem. No que diz respeito a obrigações militares, a nova colônia é obrigada a formar uma guarda de autodefesa, ao ultrapassar o número de 150 homens em idade de servir nas armas, entre os 18 e 40 anos, com a tarefa de cuidar da ordem e tranqüilidade na colônia. Além disso caberia a ela destacar um entre cada 20 homens, em idade de serviço militar, para as tropas armadas portuguesas de modo especial o corpo suíço.
Os pontos principais desse acordo deixam claro de que os suíços poderiam aceitá-lo  prontamente, até com satisfação. As condições foram talvez até mais favoráveis  do que aquelas sob as quais muitos alemães vieram ao Rio Grande do Sul. Acontece que Nova Friburgo não chegaria ao bem estar que o Rio Grande do Sul oferecia com tanta abundância.
Ainda no mesmo ano de 1819 o governo nomeou um inspetor para a futura colônia. Foi-lhe dado o encargo da compra das terras necessárias e a concretização dos preparativos determinados pelo acordo. Uma área de terras foi adquirida ao norte do Rio de Janeiro, (91) 24 léguas da capital, limitada no leste e oeste por terras da coroa. Na média três léguas de frente e três léguas de fundo. Cada lote individual media 300 braças de frente e 750 de fundo, uma área, portanto, de 225.000 braças quadradas (cerca de 425 "Morgen" prussianos). Enquanto da parte dos portugueses as medições avançavam num clima de negligência, os colonos suíços já se encontravam em viagem. Embarcados em oito navios, somavam mais famílias do que o acordado. Por sua própria conta o agente reunira o maior número possível de famílias. Quanto mais famílias tanto maior o prêmio a ele devido.
A viagem marítima foi menos funesta para os colonos por causa das tempestades do que pelas doenças. Num único navio morreram 110 imigrantes. De uma estrada do Rio de Janeiro até o Morro Queimado, em moldes europeus, nem falar. E os colonos foram obrigados a percorrer essa estrada no período das chuvas e sem animais de carga. Compreende-se que novas doenças se manifestassem. Muitos caíam prostrados pelo esforço excessivo, contraindo malária pelo ar e  pela água. Finalmente as casas para a recepção foram alcançadas. Esperava-se encontrar nelas um refúgio confortável. Mas que terrível decepção depois de tantas fadigas. Não havia lugar suficiente nem para o número de imigrantes reduzido pelas mortes. Nas cabanas amontoavam-se tantos quantos cabiam, enquanto os demais eram obrigados a acampar ao relento, ocasionando mais numerosos casos de doenças e mortes. E, somente depois da chegada começaram a ser feitas as medição dos lotes coloniais, levados a efeito até com a luta com bandos de índios que vagavam pelas redondezas. depois de três meses de uma penosa espera chegou, finalmente, o dia do sorteio dos lotes. O feliz dia caiu em 23 de abril de 1820, dia afortunado que incidiu como um benfazejo raio de sol sobre o ânimo sombrio dos colonos, infundindo-lhes nova vontade de viver. Triunfante cada pai de família levou o número para os seus. Sentia-se como se tivesse ganho a sorte grande na loteria. Cheio de entusiasmo pintava para si mesmo todas as maravilhas da sua nova  posse, que ainda não contemplara com os olhos. Logo no dia seguinte trataram de examinar a terra que lhes fora presenteada e começar o trabalho que os recompensaria. A decepção era grande quando alguém se deparava com rochas nuas em vez de chão fértil e em vez de uma floresta rica, pântanos sem fundo. Apesar de tudo lançaram-se com destemor ao trabalho duro. Alguns que alertaram o inspetor Miranda sobre a impossibilidade de cultivar a terra a eles destinada, receberam um novo lote em outro lugar. Porém, mal foram semeadas as primeiras culturas, para as quais só puderam contar com uma parca ajuda, ficou claro que a terra na sua totalidade não valia nada. Em vez de áreas planas  ou inclinações suaves, havia uma enorme seqüência de morros intercalados por gargantas estreitas e íngremes. Da metade para o alto os morros eram formados por rochas estéreis. Nos vales íngremes a umidade era demasiada e a luz pouca. A semeadura, ou apodrecia ou torrava sobre a rocha e parecia que apenas as ervas daninhas e samambaias se davam bem sobre as terras que haviam sido destinadas aos colonos. A tudo isto acrescia o que no Brasil faz a maior diferença para o sucesso de uma colônia ao lado da boa qualidade da terra, isto é, um mercado para os produtos nas proximidades. Entende-se assim que os dois  primeiros anos da colonização no Brasil, foram dois anos de fome, no sentido mais elementar do termo.  Os subsídios e oito vinténs por dia por pessoa, no primeiro ano e quatro no segundo, mal davam para um nível de vida precário. Pensar no futuro só com temor.
É evidente que a (92) responsabilidade principal por esta situação desastrosa coube ao governo. Jamais poderia ter trazido famílias honradas para o país sem antes providenciar por uma área adequada; sem antes ter feito as devidas medições; sem ter previsto um mercado acessível por estradas transitáveis. Por isso foi o único responsável pela total ruína do novo assentamento, da qual falaremos rapidamente.
Diante da má situação do momento e da desoladora perspectiva  para o futuro, a maioria das famílias suíças abandonou a colônia recém fundada. Os artesãos partiram para as cidades menores nas redondezas do Rio de Janeiro. Muitos rapazes solteiros ofereceram-se para o alistamento na legião estrangeira e a maioria dos agricultores dirigiu-se para a localidade do Canta Galo, onde optaram por dedicar-se ao cultivo do café. Para trás ficaram apenas os teimosos  determinados a arrancar a fortuna do chão com o seu trabalho, o que mais tarde provou ser um esforço inútil. Permaneceram as pessoas de mais idade, renitentes a uma nova mudança de residência  e aqueles impedidos de mudar-se por causa de circunstâncias familiares. O próprio governo reconheceu que estas colonização fora um erro e ele próprio incorrera num solene fiasco, ao encaminhar os primeiros imigrantes vindos da Alemanha para a colônia suíça, em grande parte abandonada. Se esta decisão tivesse sido cumprida, teria resultado uma edição dobrada da história dos sofrimentos dos suíços. Entretanto uma boa estrela protegia a sorte dos alemães que foram encaminhados para o Rio Grande do Sul. Estes têm todos os motivos para, de tempos em tempos, olhar para a sina dos irmãos suíços  e agradecer a Deus que não lhes fosse reservado o destino deles. Os suíços em questão gozavam de um bem estar  muito maior na sua terra natal, do que a imensa maioria dos imigrantes alemães procedentes do Hunsrück ou do Palatinado Bávaro. E quão diferentes foram os destinos posteriores! Já durante a viagem de navio contraíram doenças contagiosas, enquanto os alemães tiveram, na sua maioria, uma boa travessia. Os suíços só tiveram decepções na nova terra, enquanto os alemães contavam com apoio e, na sua grande maioria, chegaram a um existência confortável, depois de alguns anos de esforços e privações. A colônia suíça de Nova Friburgo desfez-se em pouco tempo, enquanto os assentamentos de alemães deitavam raízes vigorosas, desenvolveram-se, consolidaram-se e terminaram num grande florescimento. Não há dúvida de que também para os alemães foram reservadas privações. A Guerra dos Farrapos fez tremer a colônia como uma tormenta furiosa. Passou felizmente por ela como um navio por uma tempestade no oceano. Na maioria os colonos dispunha de uma significativa reserva de espírito religioso. Era este o lastro que os salvaguardou do naufrágio, isto é, que o povo não decaísse  de todo. Mesmo durante os horrores da guerra civil brilhavam as estrelas das velhas virtudes alemãs da honestidade, respeitando em meio à guerra, a propriedade, a humanidade, evitando ações violentas a não ser em casos extremos, assim como a consciência da justiça e da ordem. Só  muito poucos demonstravam  prazer pelo selvagem ofício da guerra e estes não eram, na sua grande maioria, os caracteres mais honrados. A grande maioria que partiu forçada para a luta, voltava na primeira oportunidade para a picada. Somente  trabalhando sentiam-se no seu elemento.
Depois do tempo dos Farrapos apenas constrangimentos menores perturbavam as colônias. Um número quase imperceptível foi envolvido na campanha contra Rosas e mais tarde contra o  Paraguai. Na velha pátria, a Alemanha, as coisas passaram-se diferentes no ano de 1870. As famílias sofreram danos muito maiores e, além disto, arcavam com pesados impostos e o serviço militar, problemas que na prática não nos afetavam no meio da mata virgem. E  que diferença fizeram a varíola e a guerra dos Maragatos? Considerando o pouco que perdemos  e o muito que poderíamos ter perdido, não nos resta outra coisa senão agradecer a Deus, por ter conduzido a colônia com tamanha benignidade e ter abençoado com tanta abundância. E com este agradecimento fechamos a primeira parte da nossa Crônica.



[1] Um dos sete sábios da Grécia. Viveu no século quinto antes de Cristo.
Costumava dizer: Carrego comigo tudo o que tenho.

Deitando Raízes #21

Os tempos mais recentes
A condição de colônia encerrou-se  para Bom Jardim no ano de 1846, quando São Leopoldo foi elevado à categoria de município. Com esta mudança recebeu uma administração  própria integrada por cidadãos locais. O direito de participar das eleições foi uma conseqüência deste novo avanço. Essa prerrogativa mostrou-se contudo muito discutível. Deu início à movimentação partidária provocando alvoroço na picada sossegada. No tempo do Império o embate fervia entre os liberais e conservadores.
Com poucas e honrosas exceções os últimos eram tão bons e tão ruins quanto os primeiros. De qualquer forma as eleições  tinham pouco significado para a população da colônia. Quem tirava proveito delas eram os bem falantes brasileiros e raramente, ou nunca, os laboriosos alemães. Dificilmente um alemão era distinguido com um posto rentável, enquanto eram-lhes  concedidos com generosidade postos honoríficos sem remuneração e títulos altissonantes de oficiais da guarda nacional. Encarregavam-se, em última análise, das tarefas do "mouro" como diz o ditado. O êxito dos alemães deve-se  quase que exclusivamente ao seu esforço e não às benevolências dos partidos no governo. Esta situação pouco se alterou com a implantação da República e, por isso, os católicos das colônias fizeram muito bem em organizar um partido próprio: o Partido do Centro. Mas como demonstraram em 1896 as eleições municipais em Lajeado, Estrela, São Leopoldo  Montenegro, numericamente os centristas são fracos demais para conquistar uma influência  decisiva nos municípios. Na hipótese de se preservar a unidade chegar-se-á com o tempo a melhores resultados. De modo especial é preciso orientar as suas tomadas de posição em sintonia com as peculiaridades do momento, de acordo com a tática ensinada pelo grande líder do centro Windthorst. Apoiou o governo em todas as questões  que visavam o bem do Estado. Não recusava alinhar-se com os liberais quando se tratava de batalhar por um lugar de destaque, de acordo com os verdadeiros interesses do povo, na medida em que estes adversários por princípio  do Centro, da sua parte se dispunham a empenhar-se pelos interesses legítimos do Centro.
Permitimo-nos observar  aqui que menos do que uma fraca representação numérica do Partido do Centro, a falta de uma sólida organização e uma disciplina rígida, foi a responsável pelo fato de que o êxito das últimas eleições ficasse aquém das expectativas. Na verdade o Partido do Centro ganhou numericamente as eleições em São João do Montenegro, mas foram escamoteadas em favor do partido no poder por manipulações já conhecidas.  O que falta ao Partido do Centro é disciplina tanto nos filiados quanto nos dirigentes.
Como já foi assinalado mais acima, a implantação da República não trouxe nenhuma alteração mais visível na vida e na maneira de ser  da colônia. Tudo ficou como antes. Os  antigos chefes dos liberais e conservadores perceberam que as coisas andavam tão bem sob o novo  regime quanto sob o imperial. Engajaram-se num dos novos  partidos como aconselhavam seus interesses e pontos de vista. Pode-se afirmar, quem sabe, que a participação nas eleições e na vida pública decresceu em vez de aumentar. As freqüentes mudanças  no governo, como no caso Deodoro (3 de novembro de 1991) e mais tarde  Júlio de Castilhos (23 de novembro de 1891) e, finalmente,  Barros Cassal, de forma alguma atuaram positivamente sobre os colonos. Durante a Revolução  Federalista os ânimos em Bom Jardim eram  pouco favoráveis ao governo do momento. Mas os selvagens ataques dos maragatos a Nova Petrópolis, resultaram numa mudança rápida de posição. Como os alemães, de acordo com seu caráter e tradição são conservadores, não é de se admirar que não demorasse para que todos batalhassem  do lado do governo no poder, em vez de servir de séqüito aos agitadores. Por tradição o alemão não faz grandes exigências ao governo e se mostra satisfeito quando a opressão não é excessivamente grande. Se ao colono é permitido dedicar-se ao trabalho sem ser perturbado, ele tem o que procura. Julga-se um homem de grande sorte quando as estradas estão em condições suportáveis e os impostos não demasiado pesados. Sua índole pacífica faz com que não alimente grande simpatia com os embates partidários. Sua perspicácia natural o faz saber que as vantagens provenientes de uma vitória eleitoral, não lhe trazem vantagens imediatas.
Este espírito pacífico e leal dos moradores de Bom Jardim, além de suas reivindicações modestas, tiveram a sua digna expressão, por ocasião da visita do Presidente. Na segunda semana do mês de março de 1897, Júlio de Castilhos empreendeu a viagem, há tempo planejada, por uma parte da colônia. Desembarcou em São Leopoldo às oito horas e pernoitou no hotel Koch. Na manhã do dia nove reservou um bom tempo para uma visita aos dois colégios para, em seguida, seguir de trem até a residência do sr. Tenente Coronel Jacob Kroeff. À tarde dirigiu-se a cavalo até Dois Irmãos. tomou um refresco na casa de Carlos Hennemann para, em seguida, assistir as costumeiras festividades de boas vindas.
Na quarta feira, 10 de março, visitou Bom Jardim. Apeou na residência do sr. Peter Cassel pelas nove horas da manhã. As duas sociedades "Eintracht" e "União São Pedro" encontraram-se no local para a saudação  em companhia do restante da população. Sobre o acontecimento lê-se no Deutsches Volksblatt: “Logo que o Presidente entrou no salão, o sr. Vigário tomou a palavra  para saudar a autoridade maior do Estado”. (DV, 30.4.1897).
Não reproduzimos a íntegra do discurso pronunciado pelo sr. Vigário, nem a resposta do sr. Presidente, pois o leitor os encontrou há pouco no Deutsches Volksblatt e ainda deve estar lembrado. Uma crônica em forma de livro naturalmente os reproduzirá na sua  íntegra. Tanto mais que na ocasião vieram à tona todas as questões que interessam Bom Jardim  e a colônia em geral: a livre prática da religião católica, a conservação das estradas na colônia e a questão florestal. No que diz respeito à última  questão a Sociedade União São Pedro encarregou  seu presidente Jäger e seu vice presidente Peter Meyrer, a propor a Júlio de Castilhos a promulgação de uma lei visando a proteção à mata. O sr. Presidente interessou-se claramente pelo assunto e observou que, pela experiência  pessoal, era preciso prevenir este mal e  tinha como meta a publicação de uma lei  relativa à problemática florestal ainda para aquele ano.
Com certeza o sr. Presidente só levou boas impressões  para o palácio do governo e, com sua notória energia e dinamismo, irá por mãos à obra e cumprir as promessas feitas. Por menor e mais curta que tenha sido a viagem, foi contudo o mais que suficiente para que, por observação pessoal, o Presidente formasse uma opinião clara dos resultados da  imigração sobre o progresso do nosso Estado. Em Dois Irmãos, Bom Jardim, Holanda e Picada Café, teve ocasião de observar, a que ponto evoluiu a agricultura entre nós. Em Caxias, pelo contrário, o progresso da indústria mostrou-lhe uma realidade promissora. É possível que o panorama de Caxias pelo seu brilho tenha impressionado mais o Presidente, do que a visão das picadas coloniais. Mas ele é suficientemente estadista para não fazer comparações entre os resultados das duas realidades situadas tão diferentes. Caxias será por ele elevada à categoria de comarca, o que não passa de um direito para uma cidade tão populosa. Conforme promessa sua promulgará, com certeza, uma lei sobre o reflorestamento, a fim de disciplinar a questão florestal em benefício da agricultura. E, acrescentamos, para resolver em definitivo os problemas de todo o estado do Rio Grande do Sul. Agricultura e indústria tem o direito de serem estimulados  pelo governo estadual, pois representam os esteios principais de todos os negócios do Estado. E, quando se pergunta o que é de maior importância para o bem do povo, a indústria ou a agricultura, qualquer pessoa lúcida, decidirá pela última. A agricultura é o fundamental pelo simples fato de os frutos do campo serem indispensáveis para a alimentação. Somente uma vez garantida a vida entra em questão a indústria propriamente dita. Neste sentido ela é de importância menor.  De outra parte a indústria é obrigada a se alinhar com a agricultura, isto é, colocar-se em sintonia com ela. Na velha Europa, de modo especial na Alemanha, a indústria colocou de lado a agricultura o resultou numa situação desconfortável da sociedade, bem conhecida por todos nós. Por essa razão o governo deveria, antes de mais nada, estar atento para as necessidades da agricultura. Para que o Rio Grande do Sul conquiste o mais rapidamente possível a sua independência econômica e, ao lado da criação de gado, se dedique a desenvolver uma vigorosa agricultura, é muito mais importante do que a instalação e o privilegiamento unilateral de estabelecimentos industriais, embora estes últimos não devam ser negligenciados.
Conclui-se dessas considerações que os colonos façam tudo e a qualquer preço, para conseguir do governo vantagens para a agricultura, como estradas, uma lei florestal e outras mais. De mais a mais deveriam lembrar-se da máxima: Não deveriam procurar vantagens para si e suas famílias, infelizmente coisa comum entre pessoas alérgicas ao trabalho. Estas recorrem a todos os meios disponíveis para conseguir um “carguinho” que lhes facilite a vida às custas do Estado. Abstraindo de que os alemães não gozam  tão facilmente deste "privilégio" e nem deveriam procurá-lo, mas  esforçar-se por construir, mediante empenho próprio, uma existência digna e segura. O fato é que os colonos alcançarão com maior rapidez este objetivo. Obviamente fica em pé que nas colônias não podem faltar profissionais com alfaiates, ferreiros, moleiros, sapateiros, etc. Essas profissões ocupam  contudo uma porcentagem muito pequena da população. Pela própria natureza o peso das atividades nas colônias fica com a agricultura. Por essa razão é necessário que seja preservada, aperfeiçoada e multiplicada. E, considerando bem, existe uma atividade mais rentável do que a do colono, de modo especial no Brasil? Mesmo que o  colono não disponha de outros bens além da sua terra, cultivando-a com diligência, é dono de um capital que rende de 20 a 50 por cento e não raro ainda mais, em frutos do campo. E, por fim, perguna-se não se trata  também da profissão mais saudável? Não há dúvida de que a vida na liberdade da natureza de Deus é de longe preferível às cidades e fábricas abafadas. Sem dúvida é preciso suportar o calor, mas o colono tem a certeza para que serve o trabalho e preserva a saúde, como o atestam a sua aparência e a experiência. Às vezes a vida na cidade oferece maiores ganhos e mais diversões, mas as pessoas atentas sabem que na cidade, a maior bênção de uma vida conforme a natureza e a vida de família, não poucas vezes naufragam e a situação aparentemente brilhante não passa de um engano. Pergunta-se, qual o estado de vida mais condizente com o cristianismo  do que o do homem do campo? É um homem livre, não é dependente dos seus concidadãos como o operário e o artesão. E, neste sentido, como é que se passam as coisas com os operários das fábricas? De manhã o apito da máquina a vapor os convoca para uma rotina mortífera para o espírito! Sem dúvida o agricultor encontra-se numa situação muito melhor. Pode-se permitir um dia de descanso o que não acontece com o  operário, se não quiser perder o emprego. E que vocação está mais de acordo com uma autêntica vida cristã, do que a do homem do campo? Abstraindo do fato de estar  a salvo de muitos riscos de natureza moral, seu olhar e seu coração são por assim dizer, orientados para as coisas do alto. Seu bem estar depende, a par do seu empenho, também da bênção de Deus, merecida durante o tempo todo, por meio da oração e da vida cristã. Por esta razão o colono  leva uma vida muito mais feliz e satisfeita do que o operário da cidade e muito mais tranqüila e muito mais resignada do que aquele. No que se refere à educação dos filhos e à estabilidade da família, a sorte lhe é muito mais favorável. Há ainda a mencionar a influência que a população do campo exerce  sobre os negócios do Estado. Traz mais bênçãos do que os operários da indústria. Entre os agricultores não há desemprego, falta ao trabalho, pobreza extrema, como acontece com tanta freqüência entre os operários. A população rural ama a ordem, o sossego e a lealdade e, por isso, representa a base sólida do Estado. Para o Brasil em particular a ampliação da agricultura, significa uma questão de sobrevivência nacional e, por esta razão, um governo inteligente não promove esforços demais quando garante e desenvolve, mesmo que, em caso de emergência, exija seu próprio sacrifício.