Os tempos mais recentes
A condição de
colônia encerrou-se para Bom Jardim no
ano de 1846, quando São Leopoldo foi elevado à categoria de município. Com esta
mudança recebeu uma administração
própria integrada por cidadãos locais. O direito de participar das
eleições foi uma conseqüência deste novo avanço. Essa prerrogativa mostrou-se
contudo muito discutível. Deu início à movimentação partidária provocando
alvoroço na picada sossegada. No tempo do Império o embate fervia entre os
liberais e conservadores.
Com poucas e
honrosas exceções os últimos eram tão bons e tão ruins quanto os primeiros. De
qualquer forma as eleições tinham pouco
significado para a população da colônia. Quem tirava proveito delas eram os bem
falantes brasileiros e raramente, ou nunca, os laboriosos alemães. Dificilmente
um alemão era distinguido com um posto rentável, enquanto eram-lhes concedidos com generosidade postos
honoríficos sem remuneração e títulos altissonantes de oficiais da guarda
nacional. Encarregavam-se, em última análise, das tarefas do "mouro"
como diz o ditado. O êxito dos alemães deve-se
quase que exclusivamente ao seu esforço e não às benevolências dos
partidos no governo. Esta situação pouco se alterou com a implantação da
República e, por isso, os católicos das colônias fizeram muito bem em organizar
um partido próprio: o Partido do Centro. Mas como demonstraram em 1896 as
eleições municipais em Lajeado, Estrela, São Leopoldo Montenegro, numericamente os centristas são
fracos demais para conquistar uma influência
decisiva nos municípios. Na hipótese de se preservar a unidade
chegar-se-á com o tempo a melhores resultados. De modo especial é preciso
orientar as suas tomadas de posição em sintonia com as peculiaridades do
momento, de acordo com a tática ensinada pelo grande líder do centro
Windthorst. Apoiou o governo em todas as questões que visavam o bem do Estado. Não recusava
alinhar-se com os liberais quando se tratava de batalhar por um lugar de
destaque, de acordo com os verdadeiros interesses do povo, na medida em que
estes adversários por princípio do
Centro, da sua parte se dispunham a empenhar-se pelos interesses legítimos do
Centro.
Permitimo-nos
observar aqui que menos do que uma fraca
representação numérica do Partido do Centro, a falta de uma sólida organização
e uma disciplina rígida, foi a responsável pelo fato de que o êxito das últimas
eleições ficasse aquém das expectativas. Na verdade o Partido do Centro ganhou
numericamente as eleições em São João do Montenegro, mas foram escamoteadas em
favor do partido no poder por manipulações já conhecidas. O que falta ao Partido do Centro é disciplina
tanto nos filiados quanto nos dirigentes.
Como já foi
assinalado mais acima, a implantação da República não trouxe nenhuma alteração
mais visível na vida e na maneira de ser
da colônia. Tudo ficou como antes. Os
antigos chefes dos liberais e conservadores perceberam que as coisas
andavam tão bem sob o novo regime quanto
sob o imperial. Engajaram-se num dos novos
partidos como aconselhavam seus interesses e pontos de vista. Pode-se
afirmar, quem sabe, que a participação nas eleições e na vida pública decresceu
em vez de aumentar. As freqüentes mudanças
no governo, como no caso Deodoro (3 de novembro de 1991) e mais tarde Júlio de Castilhos (23 de novembro de 1891)
e, finalmente, Barros Cassal, de forma
alguma atuaram positivamente sobre os colonos. Durante a Revolução Federalista os ânimos em Bom Jardim eram pouco favoráveis ao governo do momento. Mas
os selvagens ataques dos maragatos a Nova Petrópolis, resultaram numa mudança
rápida de posição. Como os alemães, de acordo com seu caráter e tradição são
conservadores, não é de se admirar que não demorasse para que todos
batalhassem do lado do governo no poder,
em vez de servir de séqüito aos agitadores. Por tradição o alemão não faz
grandes exigências ao governo e se mostra satisfeito quando a opressão não é
excessivamente grande. Se ao colono é permitido dedicar-se ao trabalho sem ser
perturbado, ele tem o que procura. Julga-se um homem de grande sorte quando as
estradas estão em condições suportáveis e os impostos não demasiado pesados.
Sua índole pacífica faz com que não alimente grande simpatia com os embates
partidários. Sua perspicácia natural o faz saber que as vantagens provenientes
de uma vitória eleitoral, não lhe trazem vantagens imediatas.
Este espírito
pacífico e leal dos moradores de Bom Jardim, além de suas reivindicações
modestas, tiveram a sua digna expressão, por ocasião da visita do Presidente.
Na segunda semana do mês de março de 1897, Júlio de Castilhos empreendeu a
viagem, há tempo planejada, por uma parte da colônia. Desembarcou em São
Leopoldo às oito horas e pernoitou no hotel Koch. Na manhã do dia nove reservou
um bom tempo para uma visita aos dois colégios para, em seguida, seguir de trem
até a residência do sr. Tenente Coronel Jacob Kroeff. À tarde dirigiu-se a
cavalo até Dois Irmãos. tomou um refresco na casa de Carlos Hennemann para, em
seguida, assistir as costumeiras festividades de boas vindas.
Na quarta feira, 10
de março, visitou Bom Jardim. Apeou na residência do sr. Peter Cassel pelas
nove horas da manhã. As duas sociedades "Eintracht" e "União São
Pedro" encontraram-se no local para a saudação em companhia do restante da população. Sobre
o acontecimento lê-se no Deutsches Volksblatt: “Logo que o Presidente entrou no
salão, o sr. Vigário tomou a palavra
para saudar a autoridade maior do Estado”. (DV, 30.4.1897).
Não reproduzimos a
íntegra do discurso pronunciado pelo sr. Vigário, nem a resposta do sr.
Presidente, pois o leitor os encontrou há pouco no Deutsches Volksblatt e ainda
deve estar lembrado. Uma crônica em forma de livro naturalmente os reproduzirá
na sua íntegra. Tanto mais que na
ocasião vieram à tona todas as questões que interessam Bom Jardim e a colônia em geral: a livre prática da
religião católica, a conservação das estradas na colônia e a questão florestal.
No que diz respeito à última questão a
Sociedade União São Pedro encarregou seu
presidente Jäger e seu vice presidente Peter Meyrer, a propor a Júlio de
Castilhos a promulgação de uma lei visando a proteção à mata. O sr. Presidente
interessou-se claramente pelo assunto e observou que, pela experiência pessoal, era preciso prevenir este mal e tinha como meta a publicação de uma lei relativa à problemática florestal ainda para
aquele ano.
Com certeza o sr.
Presidente só levou boas impressões para
o palácio do governo e, com sua notória energia e dinamismo, irá por mãos à
obra e cumprir as promessas feitas. Por menor e mais curta que tenha sido a
viagem, foi contudo o mais que suficiente para que, por observação pessoal, o
Presidente formasse uma opinião clara dos resultados da imigração sobre o progresso do nosso Estado.
Em Dois Irmãos, Bom Jardim, Holanda e Picada Café, teve ocasião de observar, a
que ponto evoluiu a agricultura entre nós. Em Caxias, pelo contrário, o
progresso da indústria mostrou-lhe uma realidade promissora. É possível que o
panorama de Caxias pelo seu brilho tenha impressionado mais o Presidente, do
que a visão das picadas coloniais. Mas ele é suficientemente estadista para não
fazer comparações entre os resultados das duas realidades situadas tão
diferentes. Caxias será por ele elevada à categoria de comarca, o que não passa
de um direito para uma cidade tão populosa. Conforme promessa sua promulgará,
com certeza, uma lei sobre o reflorestamento, a fim de disciplinar a questão
florestal em benefício da agricultura. E, acrescentamos, para resolver em
definitivo os problemas de todo o estado do Rio Grande do Sul. Agricultura e
indústria tem o direito de serem estimulados
pelo governo estadual, pois representam os esteios principais de todos
os negócios do Estado. E, quando se pergunta o que é de maior importância para
o bem do povo, a indústria ou a agricultura, qualquer pessoa lúcida, decidirá pela
última. A agricultura é o fundamental pelo simples fato de os frutos do campo
serem indispensáveis para a alimentação. Somente uma vez garantida a vida entra
em questão a indústria propriamente dita. Neste sentido ela é de importância
menor. De outra parte a indústria é
obrigada a se alinhar com a agricultura, isto é, colocar-se em sintonia com
ela. Na velha Europa, de modo especial na Alemanha, a indústria colocou de lado
a agricultura o resultou numa situação desconfortável da sociedade, bem conhecida
por todos nós. Por essa razão o governo deveria, antes de mais nada, estar
atento para as necessidades da agricultura. Para que o Rio Grande do Sul
conquiste o mais rapidamente possível a sua independência econômica e, ao lado
da criação de gado, se dedique a desenvolver uma vigorosa agricultura, é muito
mais importante do que a instalação e o privilegiamento unilateral de
estabelecimentos industriais, embora estes últimos não devam ser
negligenciados.