Deitando Raízes #16

Capítulo nono
Bom Jardim torna-se paróquia
Do tempo da Guerra do Paraguai há um outro episódio que precisa ser recuperado e que assumiu um significado de ampla repercussão: a ereção da picada em paróquia em 1867.
Em primeiro lugar é preciso tomar consciência do que significou  esta mudança. No que diz respeito à situação eclesiástica, Bom Jardim foi separado da paróquia de São Leopoldo e elevado à condição de distrito autônomo. Equivaleu mais ou menos à declaração da maioridade da picada. Pois de conformidade com o direito canônico o pároco é o representante do bispo em todas as funções pastorais. Daí fica claro que a comunidade paroquial católica, contrariamente à comunidade protestante ou civil, não forma uma corporação que ordena seus interesses independentemente das autoridades eclesiásticas. Como o bispo administra a diocese assim o pároco administra a paróquia, sem depender da concordância dos membros da comunidade, no exercício das suas funções.
É verdade que ao lado do pároco atuam o fabriqueiro  e os censores. Não se pode esquecer, entretanto, que o direito dos censores não lhes cabe por princípio, previsto na constituição da Igreja, mas, antes de mais nada, concedido às comunidades pelas autoridades eclesiásticas. O governo da Igreja é pela própria natureza, da competência dos religiosos. Os leigos, sejam eles quem forem, (59) participam apenas na medida em que parece proveitoso aos pastores de almas. Por esta razão é o pároco que preside todas as comissões que se ocupam com assuntos relacionados com a Igreja. Sem a sua concordância nada de importante pode acontecer, se é que se pretende  salvaguardar o caráter católico de tais corporações. Em assuntos católicos a decisão em todas as comunidades de igreja, atinentes a questões católicas, dependem unicamente do pároco local e, por isso mesmos cabe a ele toda a responsabilidade. Conclui-se daí que nem o coral está autorizado a tomar uma posição independente, caso não queira afastar-se do chão católico, pois, conforme o Direito Canônico, o canto é apenas uma parte do culto divino. Assim cabe ao sacerdote como presidente  disciplinar o canto.
Como representante do bispo encontram-se sob a vigilância  do pároco os fundos da escola e dos pobres, quando os houver. Fazem parte do ofício do pároco não só os batizados e a comunhão pascal, como também os proclamos, [1] os matrimônios, a unção dos enfermos e os funerais. Em conseqüência desta investidura todos que se encontram dentro dos limites da paróquia, dependem do pároco e um simples sacerdote só  pode exercer estas funções com a autorização do pároco. Muito menos um matrimônio tem validade sem a presença do pároco local. Ministrar e supervisionar  a instrução religiosa na escola assim como zelar por ela na escola sob o ponto de vista religioso, constitui-se em mais um direito da Igreja. Quando então o pároco assume a escola, não o faz por motivos pessoais e clericais, mas como uma questão de obrigação em conformidade com o espírito católico. A presença do pároco na comunidade é importante também sob o ponto de vista social. Encarrega-se dos livros de registro dos batizados, matrimônios e óbitos e, não raro, os registros da confirmação. Com a elevação a paróquia, Bom Jardim foi beneficiado com todas essas vantagens. Por força da legislação do Estado, acresceram outras funções como a de juiz de paz,  de inspetor, atribuições pelas quais garantia-se também o progresso material da comunidade paroquial.
Queremos, além disto, responder às seguintes perguntas interessantes e importantes. Porque a Igreja criou as paróquias como centros de referência da vida religiosa? Não seria preferível instalar o maior número possível de capelas e rezar nelas alternada e regularmente missas? De forma alguma. A Igreja procede com sabedoria e critério e nas suas organizações pauta as ações de acordo com perspectivas amplas. Aonde terminaríamos se existissem apenas pequenas capelas? Por acaso seria possível celebrar  o culto divino católico com a devida pompa e grandiosidade? O ano litúrgico deve proporcionar ao povo todas as verdades da nossa santa religião e mostrar como uma representação viva aos fiéis, os mistérios da vida de Cristo, que se celebram ao longo do ano. Como se celebraria dignamente  o Natal, a Páscoa, o Pentecostes e, principalmente, realizar devidamente uma procissão de Corpus Christi? Todas essas celebrações pressupõem recintos espaçosos, paramentos caros e uma grande  participação do povo. Além disto é exatamente neste dia em que toda a comunidade paroquial deveria sentir-se como uma única família e, para tanto, é preciso que se reúna num único lugar. Este é também o pressuposto para que possam acontecer com brilhantismo até as solenidades profanas. Esta é também a razão porque as autoridades eclesiásticas não vêm com bons olhos que nas festas maiores do ano, ocorram programações religiosas nas igrejas filiais (igrejas e capelas). Nas festas de família os filhos e filhas reúnem-se na casa paterna. Com a mesma razão os membros das comunidades das capelas deveriam encontrar-se na igreja paroquial, único lugar onde os dias festivos são celebrados com o brilho que lhes é devido. Querer fazer valer a própria vontade contra determinações claras e objetivas  da Igreja, significa miopia e estreiteza e conseqüentemente teimosia anti-católica.  Igualmente não católica é a atitude, observada cá e lá,  de recusar-se a assumir as obrigações comuns para com a igreja paroquial à qual se pertence e fazer apenas sacrifícios pela capela própria. Esse tipo de capelas merece ser abandonado de todo pelos sacerdotes, pelo fato de não quererem assumir as suas obrigações mais óbvias. Deveriam levar em conta o que muitos parecem ignorar, que nem sequer é permitido construir uma capela sem a autorização do bispo. Com isto, porém, o pároco não é automaticamente obrigado a rezar missa no local. O máximo que pode acontecer é que os fiéis gozem de vantagens nas ocasiões em que o pároco oferece a  oportunidade de uma visita. A freqüência dessas visitas epende, é claro, da sua disponibilidade e do acerto feito com a comunidade. Na hipótese, por ex., de estar sozinho, só raras vezes e apenas em dias de semana, terá condições de deslocar-se até uma capela e raras vezes a visita poderá acontecer num domingo.  Se puder contar com um auxiliar, dificilmente permitirá que este se desloque até a picada, nas festas maiores do ano, pelo fato de precisar dele para a celebração da missa festiva. Com certeza é mais importante que esta seja celebrada com muita solenidade, do que em vários lugares de forma discreta e abreviada. Qualquer um entende que as cerimônias eclesiásticas, quando se pretende que impressionem,  terão de ser conduzidas  de acordo com as prescrições  da Igreja.
É do interesse saber também quais foram as personalidades às quais se deve o benefício da elevação de Bom Jardim a paróquia. Ninguém pode negar que foi um grande bem, também no sentido profano, para quem de alguma forma tem familiaridade com as circunstâncias daqui. Onde quer que seja o comércio e a movimentação do povo concentra-se na vizinhança da igreja católica e a localidade mais insignificante entra, de imediato, num ritmo de progresso material, logo que é elevada à condição de paróquia e passa a contar com um sacerdote residente. É por esse motivo que observamos comerciantes não católicos, tomados de uma  grande vontade de contar com um sacerdote católico  na vizinhança. Essas pessoas sabem muito bem que com sua presença está colocada a precondição para o florescimento material. Vem-nos às memória o exemplo de Dois Irmãos com a sua "Judengasse"- ("Beco dos Judeus"), o desenvolvimento de São Sebastião e, neste momento Pareci. A igreja paroquial e o pároco polarizam como um ímã a população em torno de si. Mais ainda. A maioria das localidades mais importantes do estado, devem a sua origem ao mesmo modelo. Logo depois de instalar-se uma capela, agrupavam-se em sua volta os comerciantes e, pouco a pouco, com a afluência  contínua de moradores, formaram-se as pequenas e promissoras cidades de hoje. No interior da Europa não foi diferente. Artesãos e camponeses concentravam-se em volta dos mosteiros, porque estes normalmente  encarregavam-se  da cura de almas e buscavam os professores para as suas escolas. Depois dessa digressão voltemos a Bom Jardim.
Conforme a legislação da época em vigor, exigia-se para a instalação de uma paróquia o empenho conjunto do poder espiritual e temporal, para conferir um determinado lugar esta  distinção. A Assembléia Provincial de comum acordo com o bispo, decidiu que Bom Jardim fosse elevado à condição de paróquia. O mérito que levaram as autoridades a aprovarem a proposta coube a vários homens que se interessaram de forma extraordinária pela causa. Nomeamos em primeiro lugar o coronel Hildebrand simpático à causa da colonização alemã e nela empenhado. Já nos referimos a ele anteriormente. (61) Também merece destaque o há pouco falecido Johann Finger, ao qual devemos em grande parte as informações.  A serviço desta missão viajou 29 vezes a São Leopoldo para encontrar-se com o coronel Hildebrand, então juiz da circunscrição e sete vezes a Porto Alegre, para tratar o assunto com o Presidente de Província. Entre outros tomaram a si a causa o engenheiro Mabilde e o vigário de Dois  Irmãos, chegando-se por fim a um bom termo.
Outros fatores devem ter contribuído para que Bom Jardim fosse  distinguido com esse honroso privilégio. Já que no Brasil cabe ao dinheiro não pouca importância, estamos inclinados a arriscar o palpite de que dois  vendeiros ricos, ambos de confissão evangélica, ter-se-iam empenhado com entusiasmo pela causa. Na vida os motivos de natureza puramente espiritual, misturam-se, não raro, com razões temporais. Com isto não queremos criticar ninguém, mas ressaltar a importância do acontecimento em todas as suas dimensões.
No que se refere à extensão da paróquia, cobriu até recentemente,  a mesma área do tempo em que foi criada. Somente Algumas alterações menos importantes foram introduzidas mais tarde, como se pode verificar dos excertos dos registros que seguem.
Com  ao concordância do Exmo Sr. Bispo foi publicada em oito de maio de 1875  a lei de nr. 998, pela qual a antiga divisão sofreu  uma alteração. É o seguinte teor: O bacharel José Antônio de Azevedo Castro, Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, faz saber que a Assembléia Legislativa Provincial decidiu o seguinte, o que eu, Presidente, confirmo: Art. 1. Fica alterada a lei de nr. 635 de 1867 na parte que fixa os limites da paróquia de Bom Jardim. Parágrafo único. A citada paróquia de Bom Jardim terá os seguintes limites: para o sudoeste uma linha que começa no marco divisório da última colônia da Linha Capivara e termina no marco nr. 1 da colônia   de Costa da Serra, Para o sul estende-se uma linha a partir do último ponto nomeado, em direção leste até a colônia de nr. 19; para o sudeste localiza-se a Capela da Piedade (Hamburgo); para o leste uma linha que vai do Travessão da Piedade e Dois Irmãos para o norte até a linha divisória de Nova Petrópolis, da Linha Nova  e das 14 Colônias até a Barra, confluência do Feitoria com o Cadeia e, desse ponto, até uma linha que termina no marco limítrofe da última colônia da Picada Capivary. Desta maneira  a paróquia de Bom Jardim compreende  dentro de seus limites  todos os territórios que levam o nome de Capivary, Costa da Serra, Bom Jardim, Quarenta e Oito e Café.
Art. 2. São incorporados na paróquia de São José do Hortêncio os territórios de Linha Nova e 14 Colônias.
Art. 3. Revogam-se todas as disposições em contrário.
Assim, no que se refere aos limites da paróquia decretados em 1867, como foi assinalado acima, foram mantidos em linhas gerais, desde o começo até hoje. De direito também Holanda pertencia a Bom Jardim, mas permaneceu por algum tempo ainda sob a jurisdição de São José do Hortêncio. Decisivo nesta questão foi o desejo dos moradores da Picada Café e o fato de Bom Jardim contar com um único sacerdote, enquanto que em São José residiam mais sacerdotes. Não demorou, porém, para ficar claro que sem Holanda, Bom Jardim não dispunha de renda suficiente e, além disso, não tinha trabalho suficiente para um pároco. O bispo já estava disposto a retirar o sacerdote da pequena paróquia, quando em 1875 se firmou um acordo, com a anuência do bispo diocesano, (62) entre o pároco de São José e o de Bom Jardim, pelo qual Holanda era atendida a partir de Bom Jardim, como acontece até hoje.
A ereção canônica da paróquia aconteceu  no ano de 1869 pelo Revmo. S. Bispo D.  Sebastião Dias de Laranjeira. Com essa finalidade dirigiu-se a Bom Jardim, em companhia de alguns dignitários eclesiásticos e participou da missa solene comemorativa do ato. O primeiro vigário foi  Pe. Franz Schleipen, que anteriormente havia exercido a função de capelão no local. Desde a sua chegada o povo o recebeu como "seu vigário" e foi-lhe preparada uma recepção em grande estilo. Evidentemente todos estavam convencidos  de que, com a elevação a paróquia e com um sacerdote residente, Bom Jardim ganhara muito em prestígio e importância. Por essa razão o acontecimento foi de satisfação e  alegria generalizada. O cortejo festivo foi organizado a partir da casa do sr. Emmerich. Tomaram parte nele não só os católicos, como também moradores protestantes da paróquia, destacando-se entre eles os srs. Herzer e Reser.
Inicialmente havia sido programado que o coral e a banda de música se apresentassem juntos, para dar um efeito maior. Mais tarde, por insistência do professor Schütz, foi decidido que o coral e a banda se apresentassem em separado. Foi melhor assim, pois as celebrações puderam ser melhor coordenadas. Uma criança declamou uma bonita poesia de boas vindas. Agradou a tal ponto que o Pe. Schleipen pediu para guardá-la como recordação. Mais tarde foi impressa para que outros a guardassem como lembrança do acontecimento tão importante para Bom Jardim.
Em junho de 1871 completavam-se 25 anos que Pio IX ascendera ao trono de São Pedro. Desde São Pedro, o primeiro papa, nunca acontecera  que o governo de um papa fosse tão longo. "Non videbis annos Petri - Não viverás os anos de Pedro - clamou conforme o costume um funcionário, para o papa por ocasião da coroação. Esse teria respondido sorrindo: "non est dogma- não é dogma". Mesmo que não fosse um dogma tratava-se, contudo, de um fato histórico de grande satisfação e único, que  nessa ocasião faz recordar, aos católicos do mundo inteiro primeiro papa, São Pedro, fortalecendo a fé na santa Cátedra. Depois de em Dois Irmãos  ter-se festejado  com brilho a festa do papa, manifestou-se também em Bom Jardim  o desejo de promover uma comemoração igualmente brilhante. Bom Jardim tinha um motivo adicional para tanto, pois São Pedro era o patrono da comunidade paroquial. Inscrições foram providenciadas, grinaldas e  tecidos confeccionados, a igreja ornamentada e a festa celebrada com toda a pompa. Foi um acontecimento ainda mais memorável do que a festa da vitória da Alemanha! Foi também uma festa de vitória no sentido mais profundo, uma festa da vitória dos dezoito séculos do Reino que se estende sobre o mundo e que chamamos de Igreja Católica, festa de vitória sobre os inimigos que combatem o papado sem cessar, com muito ódio e ímpeto. Quando o pároco conclamou a comunidade um tanto fria, para uma comunhão em homenagem ao papa, apesar do frio de junho, participou tanta gente que parecia dia da comunhão pascal na comunidade. Frente ao grande entusiasmo dos fiéis o vigário um tanto desencorajado pela situação religiosa foi tomado da certeza: "de que o  que está fundamentado sobre a indestrutível rocha de Pedro não se pode dar por perdido." O êxito do evento justificou de fato a expectativa do  pároco. A vida em torno da igreja entrou num novo ritmo. A seguinte anedota caracteriza a situação de então: Um pouco antes um membro menos fervoroso da comunidade foi ter com o vigário com o Deutsche Zeitung de von Koseritz na mão. Nele liam-se as brilhantes palavras: "Dez milhões de católicos irão separar-se do papa pois milhares de sacerdotes apóiam Döllinger. Aquele cidadão acreditava que a situação que a situação na Alemanha era, de fato, tão séria e provavelmente tinha esperança de que aquele prognóstico se concretizasse. Aconteceu exatamente o contrário. Os católicos das 14 Colônias mantiveram-se fiéis ao papa e à Igreja tradicional e os novos profetas só a muito custo conseguiram arregimentar para a igreja do estado alguns milhares de católicos separatistas. Os poucos sacerdotes apóstatas, ou morreram de uma morte miserável ou se arrependeram e voltaram ao seio da Mãe Igreja.
O recenseamento do ano seguinte registrou para Bom Jardim 850 católicos que, somados aos de Holanda resultaram num total de 1.200. O número de protestantes foi um pouco maior.
De acordo com estes números Bom Jardim era uma paróquia relativamente pequena. Este fato por si só, porém, não chegava a ser uma desvantagem, porque por essa mesma razão oferecia maior facilidade para ser  administrada. E, de fato, em questão (64) de pouco tempo as coisas tomaram o rumo certo. Este fato por si só significou um resultado notável para o qual contribuiu o grande zelo dos sacerdotes e a boa vontade do povo. Para instalar uma paróquia necessita-se não menos tempo do que uma arvorezinha para transformar-se numa grande árvore.
As comunidades são como árvores, porque os organismos religiosos são vivos e não estáticos. A partir de começos modestos evoluem aos poucos, levando anos para consolidar-se como manda a sua natureza. Bom Jardim não foi uma exceção. Os moradores católicos das picadas como a Quarenta e Oito, Bohnenthal, Schneidersthal e Holanda, organizaram-se em comunidades de capelas. Formavam as quatro raízes-mestras sobre as quais se consolidou o tronco da paróquia. Assim como  a árvore se constitui numa unidade em si, deve acontecer também com uma paróquia. É preciso que nela reine unidade e entendimento aliados à harmonia e ao empenho constante. Se cada raiz se empenhasse apenas  pelos próprios interesses, nunca se desenvolveria  uma árvore harmoniosamente  acabada. Portanto, as picadas individualmente devem contribuir, à maneira das diferentes raízes, para o grande objetivo, caso se pretenda que a árvore ostente grandeza, beleza, vigor e fecundidade. Pergunta-se: não é, na verdade, algo de grande, quando vários milhares de almas em colaboração harmônica, garantem o suporte para o fomento e a continuidade da vida religiosa de um amplo território? Não é algo belo quando o culto divino é celebrado no brilho que lhe é devido por uma comunidade paroquial? Todos os galhos e ramos unem-se entre si num só corpo e numa bela ordem e o magnífico todo fundamenta-se na solidez da mesma fé, amor comum e comprometimento consciente. Uma paróquia transforma-se também numa entidade maravilhosa e sólida, como o demonstram, de modo especial, tempos de perigo e de penúria. E, finalmente, no que diz respeito à fecundidade, cada um se convence de que acontece um bem enorme numa comunidade, o que provavelmente não aconteceria fora dela. São principalmente três as grandes obras que só tem condições de terem êxito a partir da sede paroquial. A formação religiosa por meio de um culto divino regular nos domingos e dias santificados; a escola  que só então tem condições de ser levada ao nível desejado, tanto no que se refere ao aspecto administrativo como religioso, quando o pároco e o professor atuam em harmonia e entusiasmo; e, finalmente, as associações, tão necessárias nos dias de hoje, que dificilmente poderão dispensar a colaboração do pároco, se pretendem estar a serviço do verdadeiro bem estar da comunidade.




[1] Os nomes dos noivos costumavam ser comunicados do púlpito durante três domingos antes de efeturar-se o matrimônio, para que se alguém tivesse uma objeçao grave de impedimento, tivesse tempo de o fazer chegar à instância competente.

Deitando Raízes #15

Capítulo oitavo
A Campanha contra o Paraguai
O arresto do vapor brasileiro Marques de Olinda por parte do governo do Paraguai, terminou em  guerra entre os dois países. Pela História são conhecidos os enormes esforços que o ambicioso ditador Carlos Solano Lopes fez, para colocar em campo um numeroso exército. Não obstante a aliança de três países: Uruguai, Argentina e o gigantesco Brasil para atacar o pequeno inimigo, a guerra prolongou-se por cinco anos. Custou um incrível número de vidas humanas - calcula-se que teriam sido muito mais do que 100.000 - para, finalmente, conquistar-se a vitória. Lopes mantinha sua frota de guerra na melhor das condições e, além disto, construíra um bom número de fortalezas inexpugnáveis. E, além do mais, era muito difícil aproximar-se do inimigo. As características do país ofereciam as melhores condições imagináveis para uma guerra defensiva, protegido pelos descampados, pelos rios e os inúmeros pântanos, como que formando um cinturão de fortalezas. Se Solano não tivesse sido morto num assalto em primeiro de março de 1870, a Guerra provavelmente ter-se-ia prolongado  e causado ainda mais miséria ao Brasil. Devido a importância desta campanha para o Brasil, queremos descrevê-la um pouco em seus detalhes.
O motivo da guerra foi o fato de o ditador do Paraguai se ter imiscuído indevidamente na guerra do Brasil com Uruguai. Sem declaração de guerra Lopes invadiu com suas tropas, simultaneamente, o território brasileiro e o argentino. O resultado foi a celebração em maio de 1865, de uma tríplice aliança entre o Brasil, a Argentina e a República Oriental, governada pelo general Flores. Primeiro os paraguaios foram expulsos do território brasileiro, das cidades de São Borja, Itaqui e Uruguaiana, menos de uma faixa do Mato Grosso. Depois, durante o ano de 1866 o cenário da guerra foi transferido para o Paraguai, com a travessia do Uruguai e o Paraná no Passo da Pátria. No começo o comando supremo das forças de combate aliadas coube ao general Mitre, presidente da Argentina. Mais tarde o comando passou para as mãos do fervoroso Duque de Caxias e por fim nas do Conde D´Eu. Sua condução incansável levou ao fim da guerra. Os contingentes brasileiros foram comandados pelos generais Osório e Polidoro.
No ano de 1865 travou-se a gloriosa batalha do Riachuelo, cuja memória é festejada anualmente pelo Brasil no dia 11 de junho. Praticamente todo o ano de 1867 transcorreu sem maiores feitos de armas, porque a cólera paralisou todas as operações. Somente em 19 de fevereiro de 1868, os brasileiros lograram forçar a passagem por Humaitá, uma fortaleza no rio Paraná e, finalmente, tomar este bastião chave, no avanço sobre a capital. No ano seguinte as tropas brasileiras entraram de fato em Assunción. No dia primeiro de março de 1870 o ditador do Paraguai tombava sob os golpes de lança das tropas do general  Câmara, o futuro visconde de Pelotas. É curioso registrar que neste episódio colaboraram três personalidades, que mais tarde se posicionariam como adversários: o então general Visconde de Pelotas, o tenente-general Joca Tavares e o  Major Floriano Peixoto.
As conseqüências para o Brasil resumiram-se numa enorme perda de homens, tão necessários ao país e a ruína total das finanças. Acontece que nos quatro primeiros anos a dívida estatal aumentou em 60 a 100 por cento e foi preciso criar sempre mais impostos novos, a fim de levar a guerra adiante. Com o desfecho feliz da guerra o Brasil lucrou muito pouco em reconhecimento e prestígio externo.
O professor de Göttingen Wappäus expressou-se da seguinte forma sobre a guerra, no seu livro: "Manual de Geografia e Estatística do Império do Brasil": "O livre trânsito nos rios  foi apenas um pretexto para uma verdadeira guerra de conquista. Desde então a experiência mostrou que a famosa e patriótica Tríplice Aliança de primeiro de maio de 1865, baseava-se em pressupostos falsos, supondo-se que os motivos e intenções constantes nos documentos, tivessem sido de fato sinceros.  Após uma luta  de fato heróica  de quatro anos, até agora sem precedente na América, o Paraguai sucumbiu a enorme superioridade em tropas e, de modo especial, em material bélico, que o Brasil estava em condições de adquirir, enquanto o Paraguai totalmente isolado, só podia contar com o que o país podia oferecer. No mínimo a metade da população masculina do Paraguai foi sacrificada." No interior do Brasil evidentemente não se tinha nenhuma noção de semelhante estado de coisas, no momento em que a belicosa juventude das colônias alemãs, foi conclamada a se engajar numa guerra nacional. A imprensa e as autoridades falavam  da guerra como uma questão de honra e defesa da honra nacional. Por isso não nos admiremos, de que em parte os alemães das cidades jogarem-se com entusiasmo na guerra, como o demonstra a história da bateria alemã. Na maioria das colônias, é verdade, a coisa foi recebida com bastante frieza e foi preciso lançar mão da pressão e outros meios discutíveis. Comissões de recrutamento passavam pelas colônias para localizar jovens alemães. Foi-lhes dito que seriam destinados à defesa e somente voluntários cruzariam as fronteiras do País. Mas, como costuma acontecer em tais situações, as autoridades subalternas não costumam observar a palavra ao pé da letra.
Não poucos  imaginavam-se que se repetiria o que acontecera na luta contra Rosas. As tropas auxiliares alemãs só avançaram até Caçapava de onde foram mandados para casa incólumes, depois de executarem por algumas semanas os serviços do acampamento e comerem não poucos churrascos. Desta vez a guerra não foi brincadeira mas algo muito sério, tanto assim que dos mobilizados, no máximo a metade voltou para casa.
Bom Jardim contribuiu com um contingente para a campanha. Da Picada Café entre outros tomou parte da guerra Johann Sebastiani de 18 anos, que perdeu a vida longe da terra natal. A mesma sorte tiveram os filhos de Johann Stein e Jacob Jung, ambos de nome Johann. Schneidersthal e Bohnenthal registraram  perdas iguais. O número de mortos e mobilizados de Bom Jardim foi maior, no mínimo oito homens. Na sangrenta batalha de Curupaiti Morreu Mattes Dilli, cujo irmão Hannes sucumbiu mais tarde de cólera. Entre os que se salvaram e voltaram para casa conta-se Jacob Dilli, que chegou a sargento. Mais tarde ele, em companhia de Heinrich Schneider, cantou a guerra do Paraguai em versos bem humorados e, a seu tempo publicados no "Deutsches Volksblatt". Creio que prestaremos um bom serviço para os nossos leitores, publicando em anexo toda essa produção poética em estilo humorístico e, assim, salvá-la do esquecimento. Da boca do informante ficamos sabendo de outras vivências, para as quais reservamos um espaço modesto. A partir desses breves quadros será possível avaliar melhor essas variadas experiências, do que por longas descrições. O primeiro quadro mostra o vapor de uma companhia, servindo de hospital militar, ancorado no rio. Era uma embarcação enorme que abrigava algumas centenas de brasileiros feridos ou doentes. Aconteceu que, certo dia, não se sabe como, irrompeu fogo no navio. Espalhou-se com tamanha rapidez que, em questão de minutos, as chamas envolveram toda a embarcação. No momento encontravam-se no convés apenas o comandante e um único marinheiro. Mal tiveram tempo para salvar-se pulando na água. Não deu tempo para levar nada dos seus pertences. O capitão segurava uma bengalinha na mão, único objeto que levou nadando até a margem. Das pessoas sob o convés ninguém conseguiu fugir. Deve ter sido um espetáculo assustador, levado ao máximo pelos gemidos e gritos que se elevavam do navio. Todo o mundo reuniu-se na margem e botes foram descidos de outros navios para correr em socorro dos infelizes. Mas todos os esforços foram inúteis e os gritos de desespero dos ameaçados pelo fogo e, em parte, já atingidos, avolumaram-se como uma avalanche. Como qualquer possibilidade  de salvamento estava excluída e, para abrevia o sofrimento dos infelizes, dois disparos de canhão de 12 libras destroçaram o navio. Só quando o navio se fez em pedaços e afundou, silenciaram os pavorosos gritos.
Numa outra ocasião um hospital de campanha, melhor um hospital de acampamento paraguaio, ofereceu aos brasileiros que  entraram nele no seu avanço, um espetáculo não menos desolador. Deve ter-se assemelhado a um verdadeiro inferno. Deitados no chão estavam os paraguaios, os vivos ao lado dos mortos e cadáveres em decomposição, a maioria nua e mutilada. Especialmente chocante e digno de compaixão era o espetáculo dos muitos soldados, mal saídos da idade de meninos, que tão cedo encontraram o desfecho (54) de suas vidas cheias de esperança.
Um outro espetáculo vem de um campo de batalha. Em volta de um forte, os cadáveres expostos durante dias, enchiam as sepulturas. E no pântano apareciam nas mais diversas posições os corpos dos mortos e feridos. A muito alemão valente sangrou o coração de tristeza, experimentando desta maneira pela primeira vez os horrores da  guerra, fazendo com que de vez perdesse a vontade de participar dela.
Mas olhemos para cenas menos assustadoras. Nosso sargento recebera ordens de fazer chegar canhões e munição na outra margem, com o auxílio de dois escaléres. as tropas receberam ordem para atravessar o rio a vau, bastante raso naquele local. Tiveram que se despir, amarrar roupas e arma numa trouxa, colocá-la  sobre a cabeça e, pela diagonal, levá-las até a outra margem, num travessia de 45 minutos. Para a tropa não foi muito difícil, mas os senhores oficiais não sentiam prazer algum. Quando o sargento apareceu com suas duas canoas, pareceu-lhes o socorro em carne e osso para tirá-los do aperto. Falaram-lhe que lhes cedesse as canoas por algum tempo. Deram ordens, ameaçaram e, por fim, imploraram. Mas o valente sargento ficou irredutível. Argumentou que tinha ordens determinantes de fazer chegar imediatamente  canhões e munições dos quais se tinha urgente necessidade na outra margem e acrescentou que não tinha nenhuma vontade de se fazer culpado de desobediência. Assim não restou outra saída para os oficiais do que seguir o exemplo dos seus camaradas e se submeter ao desagradável banho.
É notório o tamanho do trabalho que não poucos fortes paraguaios exigiam dos brasileiros, devido às suas extensas proteções externas que davam muito trabalho. Mesmo os generais mais valentes viam-se numa situação a tal ponto desesperadora que, ao cabo de muita luta, foram forçados a ordenar a retirada das tropas de assalto. Chegou finalmente um balão fixo procedente da América do Norte. Foi alçado e assim, finalmente, foi possível ter-se do alto uma visão clara sobre as linhas de defesa e, de acordo com ela, organizar o ataque. Graças a este reconhecimento aéreo, o seguinte assalto foi bem sucedido. Foi, ao que se presume, a primeira vez que se utilizou na América do Sul um balão para fins militares. Com que sensação supersticiosa os paraguaios terão olhado para o gavião gigante lá no alto, fora do alcance das suas balas, metendo-se com tamanho atrevimento nas suas cartas.
Dois episódios de caráter hilariante fecham as vivências do nosso sargento. O primeiro refere-se a um almoço festivo no acampamento, havido em homenagem a alguma autoridade maior ou em comemoração a algum acontecimento importante. O informante não se lembra do motivo verdadeiro. Mas recorda-se bem de que ele não participou do almoço como convidado, mas como servente e como chefe de serviços. Com ares de importante o comandante do batalhão passou-lhe as instruções  necessárias para os preparativos. acabavam de chegar novos suprimentos para o exército, não só o indispensável  pão e farinha, mas também guloseimas, que aliás costumavam aparecer somente na mesa dos distintos. Latas de conservas, guloseimas doces, vinho e até champagne em abundância. O sargento, homem de confiança do comandante, desempenhou tão bem a sua função, que este o teve em ainda maior consideração do que antes. Ao encontrá-lo certa vez quando ele próprio limpava a sua roupa, o comandante o interpelou: "O que é isto sargento, por acaso o senhor não dispõe de homens para executar este serviço?" Ao responder que os homens já tinham muito que fazer, o chefe retrucou: "O que, se algum dos soldados se negar a fazer o trabalho para o senhor, manda-o comigo, eu o farei escovar para que não se esqueça para o resto da vida." É óbvio que o sargento continuou lavando a roupa como o fizera até então. Não estava disposto a sobrecarregar ainda mais os camaradas, mas dar-lhes um exemplo de fraternidade. (55) O motivo por termos mencionado este fato, foi para mostrar o bom conceito que o sargento gozava junto ao comandante, um bom conceito que conquistara rapidamente com o empenho em servir, com sua aplicação e com a sua maneira de ser.
De todos os acontecimentos no acampamento nenhum deixou uma recordação mais alegre em Jacob Dilli, do que a festa da vitória depois da morte de Lopes. "Festa da vitória" não é propriamente  o termo. Foi, antes de mais nada, uma retreta, um concerto improvisado, no qual participaram todos os músicos, na medida em que foi possível reuni-los na pressa. Logo que  se espalhou a notícia que o ditador havia tombado, o quartel general providenciou a requisição de todos os músicos, especialmente trombeteiros e tamboreiros, para anunciar o acontecimento ao acampamento inteiro. E que alegre soprar  nas trombetas e bater de tambores! Centenas deles se esforçaram para, por meio dos instrumentos, dar vazão da maneira mais vibrante, a  sua alegria e sentimentos de vencedores. Apenas no momento em que acabou a primeira onda de embriagues, de empolgação e de júbilo, seguiram as usuais salvas de canhão que, com o seu trovejar deveriam anunciar o fim da guerra. Ainda é digno de nota  descrição do retorno da terra inimiga, a recepção festiva das tropas na cidade de Rio Grande, contado pelo nosso informante do tempo da campanha.
O contingente riograndense voltou à sua Província, via Montividéo. Na cidade portuário de Rio Grande fora preparada uma recepção festiva. Na chegada ao porto foram recebidos no trapiche por moças vestidas de branco, enfeitadas com fitas azuis e vermelhas acompanhadas de  música. Os batalhões vitoriosos, porém, maltrapilhos, marcharam pelas ruas, por debaixo de arcos de triunfo, até o centro da cidade, onde se perfilaram numa grande praça. Em todo o trajeto o povo os ovacionava, jogando flores, um bombardeio que agradou aos soldados mais do que a chuva de balas no Paraguai.
Depois de descansarem um pouco e, depois de bem servidos com queijo, pão e vinho, pelos alemães de Rio Grande, o Pe. Lopes, especialmente vindo de Porto Alegre, rezou uma missa campal em ação de graças, como era usual na época. À tarde houve procissão solene, da qual participou toda a população, também as tropas recém-chegadas. Como alusão às fortalezas conquistadas no Paraguai, fora construída numa praça uma réplica com traves e tábuas. Seguiram-se a tarde inteira jogos, cantos  e manifestações de júbilo. À noite as tropas foram levadas aos quartéis e aí aconteceu um banquete festivo em regra. Comeu-se o que e o quanto apeteceu e bebeu-se de tudo o que vinha à boca. Na falta de copos recorreu-se a garrafas com a parte cima cortada ou quebrada. No dia  seguinte houve uma complementação com salvas de canhão e foguetes. Seguiu-se a ordem de embarcar para Porto Alegre. Os nobres guerreiros e vencedores pensaram: Se tivemos um tratamento tão distinto em Rio Grande, o que não nos espera em Porto Alegre. O povo se acotovelará em nossa volta e nos  cobrirá com balaios de flores, latas de goiaba em calda, cigarros e mil outras coisas boas. Acontece que as esperanças exageradas dos que voltavam para casa, foram uma ilusão. Quem desejar saber mais detalhes  de como as coisas se passaram sóbrias em Porto Alegre, leia as poesias sobre a guerra do Paraguai  de Jacob Dilli nos anexos. 
Muito interessante  (56) é também a história que Nicolau Rech nos conta do seu irmão Johann. Os recrutadores andavam em busca de rapazes da Picada 48 e, sem serem percebidos, aproximaram-se  do moinho de Jorge Reinheimer, onde supunham estarem escondidos os 13 rapazes. Enganaram-se feio. Encontravam-se aí de fato 11 rapazes  (oito filhos de Reinheimer e três do Reichert), ocupados com o ensacamento de farinha, isto é, carregando a farinha pronta até o sótão. Estavam no momento no sótão e apenas dois em baixo no moinho, onde trabalhavam também três moças. Ouviu-se então: "Os recrutadores estão chegando!" Os de cima mantiveram-se em absoluto silêncio. Os dois rapazes em baixo se mandaram. Um desceu pela roda da água. E as valentes moças não ficaram de braços cruzados. Quando os recrutadores entraram cada uma agarrou a arma mais à mão. Uma pegou a grande concha com a qual se tira a farinha da torradeira. Desencadeou-se então  uma batalha na qual os recrutadores foram forçados à retirada, saltando pela janela e  Loureiro, o chefe, terminou dentro da torradeira. Plantado na porta da casa, o velho Reinheimer montava guarda, armado com um rabo-de-tatu, revoltado com a invasão noturna da sua propriedade.
Estava disposto a fazer uso dos direitos de dono da casa e separar a cabeça do tronco ao primeiro que ousasse entrar. "Entrem se quiserem", gritou em tom de deboche. Eles, porém, não fizeram uso do convite.
No dia seguinte Loureiro mandou que Reinheimer se apresentasse  e o povo já achava que ele seria enforcado. Mas o cônsul prussiano Ter Brüggen  chamou a coisa a si. Durante a intermediação soube que os recrutadores agiam durante a noite. Tratava-se de uma violação da lei e Reinheimer foi posto em liberdade embora ninguém pudesse evitar a surra que levou na ocasião. Da casa de Reinheimer os recrutadores foram até a casa de Nicolau Rech. Cercaram a casa. De fato encontraram nela  Johann Rech de 17 anos e Friedrich Rauber. De susto os rapazes perderam a cabeça, mas tanto mais coragem demonstraram as moças. Rapidamente decidiram pelos rapazes e os ajudaram a saltar pela janela. Mas o Hannes e companheiros foram agarrados perto da cerca. Neste meio tempo Nicolaus Rech, sem saber de nada, esperava na sua janela da casa por Ely Peter e Mathes e Math. Marx, que vinham do Vigia. O relógio bateu oito horas da noite e Nicolaus  pôs-se em pé e disse: "Deve ter acontecido alguma coisa porque ainda não chegaram." (Ely Peter, na condição de inspetor, estava a procura de um preto de nome Mariano.) "Se tivesse um cavalo iria ao encontro deles." Não acabara de falar quando apareceu uma das suas irmãs e gritou: "Niclolaus, Nicolaus, pegaram o Hannes." Nicolaus precipitou-se porta afora em direção à casa dos pais. E o que viu? O Hannes manietado diante da porta e viu também como o Loureiro deu um soco no peito da sua mãe, derrubando-a na lama. O Nicolaus foi tomado de uma raiva incontrolável. Havia um monte de lenha na beira do caminho. Precipitou-se até ele e tentou agarrar uma vara. Não o conseguiu. Os recrutadores ao o perceberem  pularam nos cavalos e seguiram pela estrada parra Bom Jardim. O Hannes que levaram com eles berrava como um terneiro quando apartado da vaca. A mãe chorando seguiu os 40 homens  que, sem dar-lhe atenção pararam no Bauermann. Nicolaus atalhou pelo potreiro para ver a direção que os recrutadores tomariam. Depois de tomar café  saíram para continuar o recrutamento. Antes disto já haviam passado ao largo da casa de Adams, embora lá se encontrassem dois rapazes. Deixaram o Hannes na casa do Bauermann. O Nicolaus não os seguiu mas ruminava um único pensamento: Informar-se onde se encontrava o seu Hannes e libertá-lo, mesmo que lhe custasse a vida. Entrou na sala da frente que estava vazia. Na segunda sala encontrou o seu Hannes sentado numa cama de campanha e, num lado, um brasileiro e um alemão no outro. Sentou-se perto do Hannes. Em atenção às súplicas da mãe e os gritos dele próprio - as mãos estava pretas como graxa de sapato - as amarras foram afrouxadas um pouco. (57) Cochichou-lhe ao ouvido: "Hannes quando te pisar nos do pé, trata de correr!" Durante algum tempo todos se mantiveram quietos. O alemão, um bem conhecido, saiu deixando a porta aberta. Depois de mais ou menos um minuto o Nicolaus pisou nos dedos do pé do Hannes como combinado. Este se pôs rapidamente em pé e, veloz como um veado e silencioso como uma sombra, deslizou porta afora. Sentado aí o brasileiro parecia não perceber nada. Mas o Nicolaus estava preparado. No momento em que o brasileiro se mexesse, fecharia a porta com o pé, agarraria a tranca de madeira e o tornaria  inofensivo. Este não se mexeu. Passados mais dois minutos o Nicolaus também saiu. Topou com o Hannes, duro como um cepo e firme como um muro. "Hannes", interpelou-o, "o que fazes parado aí ?" Deu um empurrão no Hannes e 15 braças mais adiante cortou as amarras, um magnífico "maneado", que ainda hoje lhe dá pena, valendo de seis a sete mil réis. Entraram no mato, subiram até em cima do morro e o Hannes ficou lá. O Nicolaus buscou algumas roupas em casa, além de roupa de cama e deixou-se ficar na casa do  irmão. Na primeira vez que voltou para casa, pensou: "Se alguém vier para me buscar, este pode considerar-se um homem morto!" O fato é que guardava muitas armas em casa para os treinos. Mas ninguém atravessou-lhe o caminho. Na manhã seguinte apareceu o Loureiro para pegá-lo e, depois dele, vários capangas, que de tempos em tempos andavam à procura do Hannes. As outras pessoas alertaram o Nicolaus dizendo-lhe que o Loureiro tinha a intenção de   mandá-lo para um navio de guerra. Estas ameaças causaram pouco medo ao nosso Nicolaus. Estava livre e contratara um substituto por 1.800 mil réis. Além disto estava firmemente decidido a defender a própria pele. "Quem forçar a entrada na minha casa, morre", era o seu lema. Mas sua mãe e a mulher não paravam de se lamentar e insistiam que se escondesse por três semanas no mato. Mais tarde, passando pela Linha Nova, foi até o Vigia, onde moravam um irmão e um cunhado. Sustentaram a ele a ao Hannes  enquanto eram fugitivos. Neste meio tempo o pai de Nicolaus Rech viajou para Porto Alegre, onde, por 600 mil réis, apresentou um substituto para o Hannes. O próprio inspetor encarregado de olhar duas vezes ao dia pelos fugitivos, lhes deu o conselho: "Enfie-se num bom esconderijo, para que não o vejamos quando nos aproximamos."
Foi certamente um conselho bem intencionado da parte do nosso funcionário, mas Nicolaus Rech não tinha plena confiança nele. Preferiu gastar mais algumas onças de ouro, para garantir-se em todas as eventualidades, o que finalmente resolveu a situação.
Os depoimentos acima demonstram que o entusiasmo pela Guerra do Paraguai em geral não era dos maiores nas colônias alemãs. O que menos agradava era a maneira como os obrigados e os não obrigados ao serviço militar eram recrutados. Os colonos conformavam-se quando não conseguiam esquivar-se. E não faltaram também aqueles que se apresentaram como voluntários.
São de Pedro Fritsch das 48 Colônias os seguintes detalhes. Participara como voluntário e servira durante cinco anos na cavalaria. Participou de 23 ataques em companhia de outros  companheiros de armas, como o tenente Riess, o velho tabelião de São Leopoldo e Franz Herzog de Porto Alegre. Um destacamento saiu do Pesqueiro no Rio dos Sinos, via Capela de Sant´Ana, até Porto Alegre. Viajaram de navio a Rio Grande, Montevidéu e de lá até Salto. Depois subiram a cavalo até o Rio Paraná, onde participaram na travessia do Passo da Pátria, sob o comando do general Borio. Encontrou Jacob Dilli em Povinho, Sto Tomé, na província de Corrientes. Em sua companhia regressaram felizmente  Jacob Mombach, Alfons Petry, Frederico Rodrigues Ferreira. Outros de seus companheiros ficaram, entre eles Peter e Mathias Marmit. Da sua parte não soubemos detalhes da guerra. De alguma importância é apenas aquilo que nos contou sobre o tratamento dado aos prisioneiros paraguaios. É notório que os paraguaios  não raro maltratavam os prisioneiros brasileiros, os mutilavam e, não poucas vezes, os matavam.  Tal coisa não podia acontecer entre nós. Logo que um inimigo depunha as armas, não lhe podia acontecer mais nada. Se alguém tivesse ferido ou simplesmente  batido num indefeso, seu destino era a frente e uma bala a recompensa.
Digno de nota é o que conta a respeito da cachaça como remédio contra a cólera. Com ela a doença não se manifestava e quem tivesse cachaça à mão não morria. Outros veteranos afirmam por sua vez, que a casca de laranja era um bom remédio contra a epidemia. Nós da nossa parte damos preferência a cachaça. Fritsch partiu do Paraguai com seu contingente no dia 18 de março e chegou em Porto Alegre no dia 24  de setembro.
A participação dos alemães nas guerras do Brasil contra Rosas e Lopes, estabeleceu um novo vínculo entre as duas nacionalidades. É permitido acrescentar que por meio delas subiu o conceito dos imigrantes perante os nativos. Da mesma forma  o conhecimento da língua pelos que regressavam, conquistou   seu espaço na região da mata virgem, mesmo que ela nem sempre fosse falada sem erros e de forma impecável. Uma outra conseqüência foi a aproximação com usos e costumes dos filhos da terra, fato que parece não merecer louvor nem aceitação, visto que as guerras não representavam um modelo a ser seguido pelos colonos.