Florescimento das colônias depois da tempestade
(1845-1846) e
A guerra contra Rosas (1850-1852)
Entende-se por si
que, durante a guerra civil, a imigração fosse de todo interrompida. Inclusive
o Brasil como um todo era mal visto. Mas quando a paz voltou ao país e a
situação das colônias melhorou, a vontade de viver voltou a crescer e
renovou-se o prazer pelo trabalho. As
cartas endereçadas aos parentes e conhecidos na pátria, pintavam com cores
vivas a situação econômica. Muitos pais de família alemães aos quais a sorte já
não sorria na terra natal, começaram a sentir vontade de tentá-la no Brasil. De
1846 em diante pôs-se em movimento uma corrente significativa de imigrantes
vindos do Reno, da região do Mosela, do Palatinado e de Hessendarmstadt, para o
Rio Grande do Sul. Só naquele ano chegaram, via Porto Alegre 1515 pessoas, a
maioria delas assentados na nova picada da Feliz. No ano seguinte a imigração
sofreu uma forte redução. Nos anos seguintes o fenômeno se repetiu. Apesar de
tudo os imigrantes somavam 11.000 em 1853.
Em 1852 o Presidente
da Província adotou medidas em relação ao crescimento das colônias agrupadas em de São Leopoldo. Propôs à Assembléia
Legislativa que os imigrantes que vinham chegando, não fossem mais assentados nas colônias
antigas, como acontecia até então, mas em áreas afastadas entre si. Um temor
equivocado motivou estas medidas, isto é, que surgisse um estado alemão dentro
do estado brasileiro. Motivada por este tipo de preocupação, foi formada em
1840 a Colônia de Santa Cruz, financiada
pelo governo provincial. Seguindo a mesma orientação um empreendimento privado
fundou em 1851 um novo assentamento, chamado de Mundo Novo, nas margens do rio
Santa Maria. Quando em 1854 desembarcou novamente um contingente numeroso de
imigrantes alemães, com toda a probabilidade não teriam sido mandados para São Leopoldo, se o então Presidente
da Província, senador João Luiz Vieira C. de Sinimbu, não tivesse providenciado
por uma boa acomodação. Este excelente funcionário, excepcionalmente bem
intencionado para com os alemães, determinou que aqueles colonos que foram
assentados após a promulgação da lei de 1855, recebessem terras gratuitamente.
Foram-lhes destinados os lotes coloniais não ocupados pelos antigos donos e
retornados como propriedade do estado. Entre outras encontravam-se nesta situação parte das
terras da Feliz, da linha Herval, do Travessão do Herval e de Padre Eterno.
Entre os recém-vindos de 1846 e que
foram encaminhados para Bom Jardim,
Bohnenthal e Picada Café, encontramos Mathias Schütz, que mais abaixo merecerá
um relato mais extenso. Além deles constam ainda as famílias Hans, Reichert,
Marx, Sommer, Brass, Benjen, Seibel e Führ. Fixaram-se na picada, ora em grupos
de cinco a seis, ora em menor número. Embora a maioria dos colonos tivesse que
recomeçar de novo depois das guerras revolucionárias, a situação era muito mais
favorável do que na chegado dos primeiros em 1828. Enquanto que antigamente não
sabiam nem como plantar, isto lhes era agora perfeitamente claro. Jacob Jung
contou-nos como sua gente recebeu o conselho de um vizinho de que derrubasse as
árvores e as jogasse no rio, para se livrar delas, assim como ele o fazia.
Provavelmente não conheciam o método sumário de queimar o mato para abrir
espaço para a plantação. (27) Receavam, com certeza de que se provocaria um
incêndio generalizado, o que só agravaria a situação. Naquela época
derrubava-se uma árvore depois da outra com infinita paciência, responsável por
um progresso muito lento. Foi preciso aprender com a experiência como plantar o
milho. Os colonos antigos já dominavam esta experiência e a compartilhavam sem inveja com os novos
que chegavam. A população multiplicara-se fortemente com chegada de novos
imigrantes e os nascidos aqui, de matrimônios aqui celebrados. Como
conseqüência as pessoas se dispersavam e ocupavam áreas sempre maiores.
As espécies cultivadas restringia-se à batata
inglesa. lonho, feijão, milho. acrescidos da mandioca e da cana de açúcar.
No começo havia poucas possibilidades de comercialização, mas elas foram
crescendo de ano para ano. Já no tempo dos Farrapos as pequenas vendas de
Lerner e Eckert encarregavam-se do comércio. Logo que terminou a revolução
somaram-se a elas mais duas, as vendas de Reser e Kerber. Karl Holler, um
protestante, e Heinrich Müller eram os únicos a terem carroças de duas rodas.
Faziam com elas o transporte até o "Passo" em São Leopoldo.
Interessantes são as informações dos antigos sobre preços e a comparação e os
publicados hoje no "Deutsches Volksblatt". O saco de feijão valia
cinco patacas, o milho dois mil réis, uma dúzia de ovos de dois a três vinténs,
um galo cinco vinténs, uma galinha poedeira 18 vinténs, a arroba de toucinho
dois mil réis. Ninguém se interessava por banha e óleo. Produzia-se o
suficiente para cobrir a demanda doméstica (iluminação e comida).
No "Passo"
havia dois lanchões que pertenciam a um certo Everts e um certo Roth, que se encarregavam do transporte de tudo até
Porto Alegre. Só mais tarde o
serralheiro Diehl construiu um pequeno navio a vapor, assumindo a maior fatia
do transporte. Enquanto já se dispunha de caminhos transitáveis, nas picadas
mais afastadas as condições eram precárias. Cada um era obrigado a levar o
animal de carga pelas trilhas do mato. O colono carregava ele mesmo, o feijão e
o milho nas costas, até a venda horas distante. Era este o caso do nosso Jacob
Jung que, mais tarde, comprou um a égua por cinco mil réis e transferiu a carga
para ela.
Só havia dois
moinhos para trigo e centeio, mas fora da região do mato. Um deles de
propriedade do velho Wilke, ficava no campo e um outro pertencente a um certo
Hannes Schmitt, na Floresta Imperial. Mais tarde foi construído um perto de
Simonis, na pequena ponte, ainda hoje em atividade e pertencente a Fr. Lenk.
Só mais tarde
apareceram moinhos para farinha de mandioca depois de dominadas as técnicas do aproveitamento da
mandioca. Um certo Reser construiu a primeira atafona. Foram, por assim dizer,
as primeiras iniciativas industriais da época. A elas somava-se um pequeno número de ferrarias, tecelagens de
linho, sapateiros, alfaiates. Os preços eram tão baixos quanto a durabilidade
dos produtos.
Antes do período da
Revolução circulava pouco dinheiro nas colônias e não havia papel.
Encontravam-se "Thalers de prata" com valor equivalente a 48 vinténs,
valor que dobrou depois da guerra, devido ao novo mil réis brasileiro que valia
a metade do antigo português. Paralelamente circulava muito dinheiro norte
americano (dólar) (28) e as ainda mais cobiçadas libras fortes que valiam
16$000, portanto, 32 mil réis brasileiros. Já que os colonos dispunham no começo
de pouco dinheiro, com tanto mais parcimônia lidavam com ele. Normalmente
adquiriam utilidades e assim melhoravam a situação. Nem nas festas gastavam o
dinheiro na quantidade que hoje se tornou um mau hábito. Acontece também que
não havia bailes nem cerveja importada. Só de vez em quando organizava-se uma
reunião dançante no estabelecimento de Knierin no campo. A juventude que sentia
as pernas inquietas, contentava-se, na maioria dos casos, em reunir-se numa
casa particular, para acalmar por algumas horas a necessidade de uma
movimentação mais vigorosa.
Apesar da falta de
dinheiro e diversões públicas a vida do
povo não era menos feliz. Contribuía para isto de modo especial, a grande união
que reinava entre todos os católicos. Não havia diferença entre católicos e
protestantes, pois na época não havia pessoas mal intencionadas como mais
tarde, de modo especial o pastor Rotermund, criando um clima de hostilidade,
levando a mil equívocos e mal entendidos. Todos conviviam pacificamente como se
fossem irmãos e, oferecendo-se a ocasião, teriam repartido fraternalmente o
pão. Com isto não se quer afirmar que entre os católicos não tivesse
acontecido uma diminuição da vida
religiosa, como conseqüência inevitável
do isolamento e da ausência de sacerdotes. A situação dos católicos não pode
ser comparada a dos protestantes, já que estes não reconhecem o sacerdócio e,
por isso, não o precisam para a sua vida religiosa. No cumprimento de suas
obrigações religiosas os católicos dependem muito mais da ajuda do sacerdócio e
sentem a sua falta muito mais do que o protestante do seu pregador. Por isso os
católicos empenharam-se com determinação para conseguir sacerdotes alemães,
principalmente a partir do momento em que a situação melhorou. Os batizados e
matrimônios não causavam maior problema porque, de alguma maneira, dispensavam
o conhecimento do português. Mesmo nestes casos esperava-se normalmente uma boa
ocasião, especialmente durante a Revolução. Logo depois de encerrada esta, numa
única tarde, o vigário de Sant´Ana, casou 13 pares de noivos, na capela de São
José do Hortêncio, entre eles Jacob Jung. Não chegou ao conhecimento do autor
destas linhas se o número treze teve a ver com a felicidade matrimonial.