Identidade Étnica – Comunidade Naional – IV Paul Stahl

Desde que a história alemã conhece a emigração de elementos  do seu povo, que se estabeleceram em países  estrangeiros como grupos mais ou menos fechados que, com o tempo evoluíram  par formar parcelas  permanentes desses povos, originaram-se problemas profundos e de difícil solução. São problemas que envolvem, de um lado, as “minorias” que vivem entre etnias estranhas e travam uma luta pesada pela preservação da sua identidade étnica e, de outra, a terra-mãe com preocupações pela perda de parcelas preciosos do seu povo. A questão nem sempre se manifesta com a mesma intensidade. São decisivos nesta questão os acontecimentos políticos e os respectivos reflexos sobre a forma como os povos se posicionam  em relação à concepção do mundo. A atualidade alemã passa por uma renovação de idéias e ideais que resultam, de um lado, na preservação da identidade étnica da germanidade no exterior e, do outro lado, no esforço sempre maior de estimular os vínculos mútuos, em meio a uma crescente atividade econômica e cultural.

Este problema não é só alemão mas europeu e já era atual antes da guerra mundial. Hoje tornou-se muito maior ainda devido ao novo traçado de fronteiras entre os estados, determinado pelas potências vencedoras. A reviravolta que sacudiu toda a Europa, resultou, como ponto de partida, num problema étnico que por muitos anos ainda irá por à prova, a habilidade e a experiência dos homens de governo, assim como o bom senso dos homens comuns e a tolerância nacional. É natural que ao desânimo e à fadiga geral como conseqüência da guerra mundial, seguisse um período de passividade política entre os povos. Este fato tornou-se  especialmente notório na Alemanha. Suas forças e energias foram em primeira linha engajados ao máximo, na tarefa de consolidar a sua existência e reconstruir o “Reich”. Nestas circunstâncias colocaram-se como óbvias questões como: germanidade no estrangeiro, identidade étnica alemã no estrangeiro, que tiveram que ceder lugar a questões mais importantes embora aparecessem aqui e acolá com redobrada insistência. Ainda não se faziam presentes os pressupostos necessários para merecerem a conveniente atenção.

A tomada do poder pelo nacional socialismo e a expansão da cosmovisão por ele propagada, fez com que o problema étnico entrasse em novo estágio. A relação da germanidade da terra-mãe (Alemanha) e a germanidade no estrangeiro, tornou-se o ponto focal  de um princípio  político desenvolvido no estrangeiro. O problema assume proporções especialmente marcantes em países com uma importante população de origem alemã, como é o caso do Brasil, de modo especial em seus estados meridionais, escolhidos como foco e cenário de uma redobrada propaganda de política étnica. Quanto mais complicado e quanto mais polêmico se apresenta um problema , com tanto mais veemência são conduzidas as discussões. Reduzem-se em última análise a duas questões em torno das quais giram as considerações: o que é identidade étnica e o que é comunidade nacional?

É inteiramente compreensível que o movimento étnico que na recente história alemã foi levado da terra-mãe pra o estrangeiro, merecesse uma resposta entusiasmada da parte dos alemães do “Reich”, de modo especial daqueles que se encontram no Brasil há pouco tempo. Faz-se notar em toa a parte o despertar do novo espírito envolvendo as relações  étnicas. Teve como conseqüência o desejo de entrar na mais íntima colaboração com a velha terra natal no terreno político, econômico e cultural. Também a germanidade que aqui deitou raízes duradouras e que para nós representa o ponto de referencia decisivo para um movimento étnico entre nós, enfrenta novos desafios. Anima-o o desejo de contribuir, o mais que pode, valendo-se da sua experiência e sua tradição, para a solução do complicado problema étnico.

A diversidade de posições da parte dos alemães do “Reich” e os radicados aqui há mais tempo e que aqui construíram a sua pátria e continuam inseridos na identidade étnica alemã, não é nada surpreendente. Pelo contrario. É muito natural que as posições em relação a este assunto se dividiram e ainda se dividem. Aqueles que se fixaram há mais tempo aqui no País e que participaram da evolução étnico-política, sabem muito bem que um problema étnico, conduzido com excesso de entusiasmo, é de difícil solução, quando imbricado nos objetivos nacionais. Para tanto requer-se, em primeiro lugar, ampla tolerância, em segundo lugar um irrestrito reconhecimento da obra de construção econômica, social e cultural, que a “germanidade nativa”, o teuto-brasileirismo, realizou no decurso de um século. Insensato é aquele julgo poder questionar essa convicção que tem a tradição como fundamento. Sábio é aquele  que é capaz de aproveitar esses dados como base para promover o novo movimento entre os povos, com o objetivo de edificar as identidades étnicas do futuro. Uma comunidade étnica fechada só é possível sobe uma base cultural e somente quando acontece um colaboração que tem como base a compreensão mutua e estrita naquilo que já se realizou no terreno das relações étnicas alemãs.

O que afinal significam os dois conceitos: identidade étnica e comunidade nacional? De qualquer forma devem servir de objeto reflexão para os teuto-brasileiros que declaram adesão à sua identidade étnica. À primeira vista os conceitos parecem homólogos. Numa análise  mais profunda, porém, são contudo diferentes.

O conceito de “identidade étnica” compreende tudo que expressa as características de um povo. Inclui, em primeiro lugar, os caracteres raciais relacionados com a carne e o sangue. Acrescem ainda a língua, os costumes, o espírito e a cultura. Sobre esta base apóia-se a consciência do pertencimento íntimo e mútuo. A identidade étnica herda-se e com ela se nasce. Trata-se, portanto, de um conceito que independe de influências externas. Não tem nada a ver com as fronteiras ou formas jurídicas dos Estados. É possível trocar a nacionalidade, o país em que se vive, sem perder o vinculo com a identidade étnica. Nem as leis de um país, nem as fronteiras geografias são capazes de modificá-la. A Europa com sua população vista como um todo e seus problemas com as minorias, oferece-nos o melhor exemplo.

Velhos estados desaparecem e novos se formam e as fronteiras são remanejadas. Parcelas inteiras de populações  com suas nacionalidades são, espontânea ou compulsoriamente  submetidas a esse processo. A identidade etnia não é afetada pois, não pode ser tirada nem imposta. O parentesco dos povos vinculado existencialmente ao sangue, à tradição  e ao espírito, são mais fortes do que as fronteiras dos países.

Esta verdade vale também para nós teuto-brasileiros com a diferença que nós (e nossos antepassados), nos fixamos aqui em definitivo, por livre e espontânea vontade. Tornamo-nos assim membros da comunidade nacional brasileira, com direitos nacionais e civis iguais. Essa mudança a nível de cidadania não tem propriamente nada a ver com a continuidade da nossa identidade étnica. Nem qualquer outro tipo de influência vinda de fora, pacífica ou ostensivamente hostil, irá modificar alguma coisa. A nossa identidade étnica alicerçada na herança do sangue e da tradição, perdurará o tempo em que nós lhe ficarmos fiéis e não a abandonarmos com a miscigenação do nosso sangue e não relegarmos os nossos costumes e o nosso caráter étnico como tal. Projetando a questão para os séculos vindouros, não dependerá de nós evitar a predominância do luso-brasileirismo e determinar a influência dos demais componentes étnicos em nosso derredor, no fazer-se e configurar-se da nossa identidade étnica. Mas na natureza impõe-se  lei do mais forte. Os povos não são exceção. Também a identidade étnica alemã não será poupada do pagamento do preço em termos étnicos, com a gênese de uma identidade étnica dentro do Estado brasileiro.

Observamos e aprendemos o sentido peculiar e profundo contido no conceito de identidade étnica no grande mosaico étnico brasileiro, composto pelas mais diversas  raças e etnias. Diariamente nos é dado observar quão profundamente o conceito de identidade étnica está ancorado no sangue e nas características étnicas. Esta realidade tornas-e ainda mais evidente em regiões do nosso País onde pequenos grupos de alemães vanguardeiros, por assim dizer, da identidade étnica, vivem em meio a luso-brasileiros e representantes de outras etnias. Sob a influência de um meio com predominância de língua portuguesa, a situação leva a língua alemã a passar para a retaguarda e, lamentavelmente, à sua total erradicação. A entrada de usos e costumes estranhos não passa de uma conseqüência natural. Mas, apesar de tudo é possível identificar entre nossos patrícios alemães  sendo absorvidos gradativamente pelo luso-brasileirismo, certas características étnicas próprias de sua descendência. É a prova de quão duradouras são as características ligadas ao sangue.

E agora  pergunta: O que se entende por comunidade nacional e, em que medida, se relaciona com a identidade étnica? À primeira vista, como já se afirmou, os dois conceitos são idênticos e querem significar a mesma coisa. Uma análise mais tranqüila, porém, ensina-nos outra coisa. Identidade étnica é um conceito que emerge da. Própria natureza do objeto. Não permite uma explicação aleatória e individual. É a expressão de um comportamento étnico, condicionado pela comunidade de sangue, a herança de características de natureza étnica e peculiaridades de caráter. Identidade étnica é, portanto, um assunto de natureza íntima, não externo, que foge até certo ponto, da decisão e da vontade individual. A comunidade étnica, ao contrario, é um conceito que permite a movimentação livre e independente.

O teuto-brasileiro enquadra-se sob o aspecto jurídico-estatal e político-nacional na comunidade brasileira. Apesar disto lhe é facultado assumir uma ou outra comunidade nacional, pro ex., a alemã. Significa, até certo ponto, um estado dentro do estado, possível como expressão livre da sua vontade. Em meio a essas assim chamadas “comunidades nacionais”, permite-se  formação daquelas que visam objetivos e peculiaridades diversas, pro ex., culturais, econômicas ou políticas, como escoadouros das suas concepções e princípios.

Uma prova flagrante do que acabamos de afirmar, encontramos, por ex., em tempos recentes nas atividades do partido nacional socialista do “Reich” no estrangeiro. Embora faça parte da grande comunidade nacional alemão, forma contudo uma comunidade própria, mais estreita, por causa da sua visão do mundo e de seus objetivos e aspirações. É natural e é óbvio que a visão político nacional e a ideologia dos partidários membros filiados  esse partido, não se harmonizam com os objetivos e as idéias da grande comunidade nacional teuto-brasileira. Os dois se encontram no terreno das relações étnicas. Os representantes  da política alemã do “Reich”, empenhados na expansão de uma atividade étnica e cultural, terão a possibilidade de realizá-la, adaptando-se e inserindo-se na grande comunidade nacional brasileira. Podemos observar também comunidades nacionais distintas por razões religiosas e confessionais. Destaquemos as mais importantes: a Igreja Católica e  a Evangélica. Embora se distingam a nível dogmático anima-os o mesmo ideal e as mesmas aspirações éticas e étnico políticas. Apesar do longo desencontro dos pontos de vista, dos conflitos e das polêmicas, a identidade étnica serve de ponto de convergência. Nela encontram-se as suas raízes e somente ela lhes confere a constante força que lhes permite resguardar a sua maneira de ser, na convivência com segmentos étnicos de outra origem.

Não é fácil de formular uma explicação que mereça a aprovação universal entre nós teuto-brasileiros. Dependerá do ponto de vista em que essas questões serão tratadas. Um teuto-brasileiro que não conhece a terra de sua origem e que não teve ocasião de conhecê-la, ao qual a Alemanha se apresenta como um país mais ou menos estranho, terá outra concepção em relação à questão étnica, do que os alemães diretamente imigrados. Esses tiveram a sua educação na Alemanha e pouco a pouco se enraizaram aqui. Como conseqüência  experimentaram uma inserção e uma adaptação relativa às circunstâncias  lingüísticas, econômicas, políticas e sociais do País. Uma divergência de opinião maior ainda se nota evidentemente entre os primeiros alemães e os recentemente imigrados. Os últimos encontram-se inteiramente sob a influência da cosmovisão  nacional socialista. Não vêm motivo porque tomar em consideração o que a germanidade  realizou até hoje no País, em termos econômicos e sociais.

A fim de formar um juízo que valorize plenamente todas as vertentes étnicas que entraram na composição da nação brasileira e para avaliar corretamente a posição que cabe ao teuto-brasileiro neste contexto, requer-se, em primeiro lugar, uma longa permanência no País. Pressupõe-se, em segundo lugar, uma disposição à isenção de julgamento, despida de uma sobrevalorização do étnico. Que não é uma tarefa fácil sabe-o por experiência qualquer imigrante. Quem for incapaz de reaprender sentir-se-á sempre um estranho entre nós. Nem uma nova cosmovisão será capaz de mudar alguma coisa.

Pela nossa avaliação não se pode falar ainda em identidade étnica brasileira que corresponda em pé de igualdade à identidade étnica alemã, igual a ela pelo conceito e pelo conteúdo e que possa se vista como uma unidade étnica coesa, determinada pelo sangue, pela tradição e pelas peculiaridades próprias. O País é jovem demais para tanto e étnica e racialmente muito heterogêneo. Quem sabe consideraríamos como protótipo da identidade étnica o segmento de origem luso-brasileira com suas diferentes mestiçagens. Constitui-se  no componente mais forte que, no processo da evolução, irá exercer a sua influência mais ou menos inexorável, sobre as outras minorias, numa dinâmica de gradativa absorção. É natural que essa incorporação se processará num ritmo muito mais lento em se tratando das minorias, nas quais, nós, os de origem alemã nos incluímos, do que com os parentes de sangue. Não há como falar, portanto, de uma identidade étnica coesa e una ligada ao sangue e à tradição,  como a definimos. Estamos a caminho da sua realização. O processo da gênese de um “melting pot”, de uma miscigenação étnica generalizada, avança lenta e inexoravelmente. Não cabe alimentar ilusões neste particular.

Não faltam ocasiões no quotidiano para observar essa dinâmica. Uma coisa é certa. No momento em que se iniciar o processos da miscigenação racial entre os teuto-brasileiros e os luso-brasileiros, foi dado o primeiro passo para o abandono da identidade étnica alemã. Supor o contrario significaria nadar contra a corrente, atitude que no andar do tempo resultaria numa catástrofe inevitável e insuportável. Quanto mais frear o acréscimo de sangue novo alimentado pelas energias vindas da velha terra natal e do seio da terra-mãe, tanto maior serão as dificuldades para manter e preservar a identidade étnica alemã. Essa  realidade se faz sentir cada dia mais na medida em que a juventude teuto-brasileira se prepara para enfrentar a batalha pela sobrevivência e futuramente representar um papel na vida econômica. Procura para tanto uma educação visível e crescente sintonizada com o espírito brasileiro. Os grupos étnicos teuto-brasileiros, por assim dizer fechados, serão expostos gradativamente a uma evolução econômica, técnica e política comum. Dificilmente poderá haver uma objeção a esse nosso ponto de vista baseado na experiência de anos. Com certeza, há tempo, essa mesma constatação já foi feita por outros grupos interessados na nossa evolução étnico política.

A situação é bem diferente em relação ao conceito brasileiro de comunidade nacional, comparado com o de identidade étnica. O primeiro não está vinculado ao sangue e às características étnicas. Constitui-se numa comunidade que não apresenta como um dado objetivo a sua fundamentação na diversidade dos grupos étnicos do nosso País. Nenhum grupo étnico, nem o teuto-brasileiro, tem o direito de viver à margem desta comunidade nacional, visto que todos sem distinção, encontraram seu espaço para viver, inseridos no todo em virtude do sem comprometimento econômico, político e social, vinculado a um destino comum. As ponderações de natureza étnica lema não mudam nada para aqueles que são naturais aqui ou pretendem sê-lo. Não lhes resta outra saída além de se adaptar e comprometer com os interesses e os da comunidade nacional brasileira. Do contrario permanecerão como  estranhos no País e jamais se sentirão em casa. É verdade que alguém pode assumir como indivíduo essa postura sem prejuízo da sua situação em relação à vinculação com o sangue e a tradição étnico cultural.

Pelo fato de no plano da identidade étnica se excluir  o dualismo, o teto-brasileirismo vincula-se, pela própria natureza,  à identidade étnica alemã que lhe serviu de berço.Como retribuição à fidelidade ela lhe oferece a força vital étnica indispensável como respaldo contra a influência do meio etnicamente diferente. Uma vez iniciado o processo de mestiçagem com elementos de sangue de outras procedências étnicas, de modo especial luso-brasileiras, no decorrer do tempo a identidade étnica será inexoravelmente defrontada com uma decisão de grande significado. Querendo ou não querendo essa decisão resultará sempre em favor do segmento mais numeroso, já que este, em qualquer situação, é e será o mais forte. O caráter étnico como um todo, a economia, a política e o desenvolvimento cultural exibirão a maracá da sua maneira peculiar de ser. Por mais que um ou outro descendente de alemães alimente o desejo de permanecer fiel à sua identidade étnica, será incapaz de, a longo prazo, resistir à influência do segmento luso-brasileiro mais forte. Também a germanidade será obrigada a pagar o seu ributo à evolução e à consolidação da nação brasileira. Nisto consiste a grandeza e ao mesmo tempo o trágico da sua tarefa histórica. A origem deste problema e, ao mesmo tempo, a sua solução encontra-se no fato de tratar-se de uma etnia sem território. Uma única vez na história do mundo o destino entregou à germanidade o grande, o sublime e ao mesmo tempo infeliz papel de, como colonizadora, colaborar  na gênese e na construção do arcabouço de um Estado, com o inevitável  sacrifício da unidade étnica e de suas características.

Da mesma forma como é possível em relação à comunidade nacional, pertencer a uma identidade étnica expressa no sangue e nas características próprias, é possível adotar também uma postura mais independente. Às vezes as circunstâncias forçam a isso. O teuto-brasileiro aqui radicado pertence, por isso mesmo, à comunidade nacional brasileira, via de regra,a  entretanto, insere-se na comunidade étnica alemã. Trata-se, até certo ponto, de uma compensação recíproca entre as condições comuns do País de um lado e a consciência étnica do outro. Este dualismo não tem absolutamente nada a ver com uma consciência  étnica individual. Para tanto temos exatamente hoje as provas mais flagrantes  nas relações  sociais, de modo especial naqueles teuto-brasileiros que ocupam uma posição proeminente  na economia, na política e na cultura. Não há dúvida que sob este aspecto inserem-se, em primeiro lugar, na comunidade nacional brasileira. Não faltam contudo evidências que simultaneamente se consideram membros da comunidade étnica alemã.


Não se poderia esperar outra coisa de pessoas de caráter e conscientes do seu valor. Dignos de pena são aqueles que julgam que, renegando a sua origem e a sua identidade étnica, em troca de vantagens pessoais, preendem ganhar o favor  e o respeito dos seus semelhantes de outras procedências. Não é possível nem conveniente assumir uma postura de parcialidade para com os outros grupos étnicos, motivado pelo pertencimento a uma comunidade de objetivos comuns (comunidade nacional – nota do tradutor). Em nosso caso trata-se de saber até que ponto a questão pode ser  resolvida por meio da colaboração e do comprometimento numa comunidade nacional, sem entrar em conflito com as convicções étnicas. Não existe uma fórmula, nem regras, nem normas para tanto. Requer-se uma grande experiência  em assuntos estrangeiros, uma longa permanência aqui no País, para encontrar o melhor caminho, que faculte a convivência com outros grupos étnicos. Somente por meio deste aprendizado estaremos em condições de adquirir a sensibilidade e a compreensão necessárias com as demais raças e etnias e de nos apropriarmos  de um entendimento correto e sadio dos dois conceitos: identidade étnica e comunidade nacional.

Identidade Étnica – Comunidade Nacional – III - Pe. Balduino Rambo

A análise dos conceitos de identidade étnica numa questão de compreensão numa questão e comunidade nacional não são se resume numa questão de compreensão, mas numa questão que diz respeito à totalidade do ser humano pois, o homem como um todo tem as suas raízes plantadas tanto na identidade étnica  como na comunidade nacional. A adesão à identidade étnica e à comunidade nacional não é apenas um assunto da vontade, mas diz respeito ao homem como um todo, porque tanto a identidade étnica como a comunidade nacional, merecem todo amor de uma pessoa.

Desta forma a pergunta pelo sentido da identidade étnica e a pergunta pelo sentido da comunidade nacional é uma pergunta pela plenitude, uma pergunta pelo amor. Em primeiro lugar é uma pergunta  pelo significado da plenitude pois, o destino dos cidadãos  deste mundo navega neste caudal ao encontro do seu objetivo. É também uma pergunta que envolve o amor, pois tudo o que no homem é bom, verdadeiro, belo e heróico desenvolve-se ao longo desse caudal pleno de veracidade e de fecundidade.

O mor constitui-se num conceito de fundamental importância quando perguntamos pela natureza da nossa identidade étnica e da nossa comunidade nacional. A ele cabe transmitir vida e calor na busca pelo significado da identidade étnica e da comunidade nacional.

O amor é um componente de grande peso no momento em que nos lançamos à tarefa de  indagar pela natureza da nossa identidade étnica e da nossa comunidade nacional. Como energia única cabe-lhe a tarefa de acalentar a nossa busca, porque a identidade étnica e a comunidade nacional significam, antes de mais nada, a vida e evolução. Ainda mais. É preciso que o amor faça o papel de “Leitmotiv”, porque a identidade étnica pode ser definida como uma comunidade de berço e a nacionalidade como uma comunidade de objetivos, e nada é capaz de unir mais os homens entre si do que um berço comum e objetivos comuns.

I. Vamos à resposta da primeira pergunta:  O que se entende por identidade étnica? O que se entende por comunidade nacional? As duas significam a mesma coisa?

É da própria natureza do presente ensaio, que só é possível enunciar o mais essencial. Por isso na primeira parte limitar-nos-emos  a uma explicação genérica dos dois conceitos, relacionando-os brevemente com as nossas circunstâncias teuto-brasileiras.


O que se entende por identidade étnica?

O conceito de identidade étnica compreende em si dos elementos: a maneira de ser e a língua.

a) Expliquemos o que se entende por maneira de ser. Sob o ponto de vista meramente científico, nós teuto-brasileiros somos de outra cepa do que os nossos concidadãos de origem lusa ou outra. Essa realidade é visível a cinqüenta passos de distancia e não há poder no mundo que apague essa diferença. Emergimos de um miscigenação de raças  nórdicas, alpinas e fálicas, somadas a uma fraca incidência de sangue mediterrâneo. Esta é a base biológica da nossa identidade étnica.

Sobre esta realidade biológica  estrutura-se a essência , a alma da nossa identidade étnica. Em nossos dias  a ciência logrou penetrar profundamente nas oficinas da vida. A cada dia descobre mais relações entre o corpo e a alma. Em nossa corrente circulatória navegam os minúsculos portadores das nossas peculiaridades raciais. Estimulam para a ação todas as energias dos membros do nosso corpo, põem em vibração as ondas da nossa alma e fazem com que cada etnia manifeste a sua maneira própria de pensar. Pessoas do mesmo sangue costumam vivenciar estímulos do espírito e do coração semelhantes. Imprimem na sua alegria e na sua tristeza as mesmas características e vestem com roupagem parecida o seu mor e a sua vida. Os portadores das nossas características raciais que circulam sem descanso em nosso sangue, codeterminam  até a concepção que temos de Deus e da bondade, da grandeza que comove o coração do homem e de toda a beleza que o empolga. A identidade étnica é como uma família ampliada: como os filhos dos mesmos pais se assemelham assim também se parecem os parentes de sangue do mesmo grupo humano. O resultado vivo desta realidade chamamos identidade étnica.

Resumindo é licito dizer: a identidade étnica tem as suas raízes nas diferenças raciais do gênero humano. Esta afirmação não tem nada a ver com o valor exagerado que se atribui ao elemento raça ou com o endeusamento da raça. Trata-se simplesmente de uma constatação e do reconhecimento de um fato objetivo.

b) A expressão mais evidente do sangue comum e do espírito, d alma comum, do modo de pesar comum, é a língua.  A identidade étnica dispõe obviamente de outras modalidades de ser e de outras formas de fazer visível a sua cultura: musica, pintura, escultura, festas, trajes, usos e costumes. A língua, entretanto constitui-se no sinal  identificador mais essencial da identidade étnica. Torna possíveis  as demais  manifestações e até certo ponto as inclui. Para o nosso teuto-brasileirismo em especial, a língua representa o elemento mais decisivo. Justifica-se por isso que aqui façamos uma reflexão só  sobre a língua.

A língua humana  é, sem dúvida, muito mais do que um veículo técnico de comunicação. Ela desabrochou do sangue e da natureza de um povo. Por isso reluzem sobre suas folhas as reminiscências do orvalho dos tempos primigênios e do seu cálice emana ainda hoje algo do perfume do mistério da alma humana.

A língua materna é uma flor milagrosa plantada por Deus na beira da estrada de todos os povos, para que nela se alegrem. Aquele que a pisoteia e sob qualquer  pretexto a rouba , danifica a sua alma e se intromete criminosamente no santuário da alma humana.

Foi nesta língua que as pessoas que nos deram a doce dádiva da vida, juraram fidelidade até a morte no altar do matrimônio. Sem dúvida deve ser uma língua sagrada que foi capaz de tornar visível um dom de tão alto valor! É a língua  na qual nossos lábios  de criança aprenderam a balbuciar Mãe, palavra de sentido inesgotável. Sem dúvida  deve ser uma língua plena de amor, já que a primeira palavra que aprendemos foi de amor. Foi nesta língua que demos vazão ao nosso entusiasmo juvenil e, na sua sobriedade formulamos as decisões da nossa idade de homens adultos. Deve ser uma língua de grande riqueza já que é capaz de transmitir tanta coisa boa!

Há algo de singular, de impressionante que nas horas mais solenes da vida o homem recorre instintivamente à sua língua materna. Foi na sua língua materna, na frente do carrasco, que a mãe dos Macabeus admoestou para a fidelidade à lei, ao seu último e mais amado dos filhos. Foi assim que agiu São Francisco Xavier enquanto lutava com a morte na praia de Sião. Esqueceu o espanhol, o latim e todas as línguas da Índia  e balbuciou suas derradeiras orações na língua materna de suas montanhas bascas. Nem o salvador foi exceção. Suspenso na cruz na mais amarga angustia mortal, pronunciou as palavras  jamais externadas pó um ser humano, envoltas na angustia do derradeiro abandono, não na língua  do Império Mundial de Roma, ao qual pertencia politicamente, não na língua do mundo cultural grego em que estava inserido, nem mesmo na sagrada língua dos eu povo usada nas Sagradas Escrituras. O Salvador buscou as palavras  que redimiram o mundo na sua amada língua materna aprendida na oficina de Nazaré.

A língua materna simboliza a mesma maneira de pensar e a mesma maneira de sentir. Sob  este aspecto  ela representa um dos tesouros mais sagrado dos povos. Por essa razão a Igreja Católica sempre insistiu que às crianças fossem ensinadas as primeiras noções das verdades sagradas, de Deus e da eternidade, na língua da sua mãe.

A língua comum constitui-se no veículo mais completo da compreensão mútua, não somente por causa dos mesmos sons e das mesmas palavras, mas antes de mais nada pó causa das mesmas percepções que elas transmitem. A língua materna comum permite a formação da comunidade de  destino comum. Por ela somos capazes de superar com maior facilidade a enorme solidão da nossa existência e trilhar com   mais segurança a difícil, a longa, a íngreme e a escura trilha da nossa vida. Ninguém se basta a si mesmo. Pelo contrário. Quanto mais importante é o homem tanto mais sente a solidão e a impotência e com tanto maior ânsia procura os homens que Deus lhe concede como companheiros de viagem, para que a vida a dois, a três ou a muitos se torne menos solitária.

De tudo isto resulta um grande dívida para com aqueles que falam a língua materna, a língua que nos alimenta espiritualmente, que contribui para que possuamos os bens mais preciosos que o homem pode ter, o conhecimento do espírito e as riquezas do coração.

No momento, portanto, que alguém  prestigia a sua língua materna  por ser o símbolo e a expressão da sua identidade étnica, ele dá prova da mais bela das lealdades humanas. A língua humana assemelha-se ao primeiro chilrear do filhote do pássaro no ninho, antes mesmo de adquirir a capacidade de voar e começar a navegar pelos oceanos dos ares como um caçador livre e um musico de Deus. Foi por esse motivo que os homens autênticos e leais empenharam tudo em favor do tesouro sagrado da língua. O povo da Irlanda nos oferece um exemplo vivo dessa afirmação. Depois de séculos de campanhas de extermínio os ingleses lograram acabar com a língua irlandesa, excetuando algumas relíquias. Logo que conquistou a sua autonomia, este povo que sofrera mais do que qualquer outro por causa da sua fé e por causa da sua identidade étnica, enviou os melhores dos seus filhos em busca das longínquas áreas de turfa e das montanhas, para reaprender a língua materna com os carvoeiros e os lenhadores.

A identidade étnica é, portanto, na sua essência uma comunidade de berço e a fidelidade a ela significa fidelidade ao berço. A identidade étnica significa a autenticidade ancorada no sangue e na língua. A identidade étnica é a verdade fundamentada na imagem de Deus visível no homem. A identidade étnica é a inocência infantil enraizada na mãe-terra das nossas energias. A identidade étnica compara-se a um “sim” vencedor para com tudo o que é belo e verdadeiro com que Deus nos brindou no berço e que nos acompanha na jornada da nossa vida.

Identidade étnica significa também um “sim” sem reticências a tudo o que é bom, verdadeiro e belo que  os homens de outras origens receberam de Deus como herança. Aquele que não é capaz de respeitar a identidade étnica e a língua dos estranhos pois, cada língua e cada identidade étnica é a manifestação do pensamento eterno de Deus.

A fonte última do ser emana de Deus e Deus ama a diversidade de suas criaturas. Nem mesmo duas pessoas foram moldadas segundo o mesmo figurino, nem duas peças, nem duas peças executadas de acordo com a mesma melodia. Cada uma das criaturas humanas  é, individualmente, uma obra de arte, revestida de uma preciosidade sem réplica. Cada uma das partituras de Deus oferece uma música de solenidade sem igual. Cada identidade étnica encarna uma das realizações do pensamento eterno. Cada raça concretiza, consciente ou inconscientemente, um dos seus planos eternos.

É aqui que o mistério da identidade étnica tem o seu começo. É preciso que tomados de silencioso respeito, nos prostremos diante da nossa identidade étnica e a dos outros. É preciso declarar um “sim” cheio de gratidão infantil, pleno de alegria, frente à dádiva de Deus que é a nossa identidade étnica. É nosso dever também considerar a identidade étnica dos outros como um santuário, apesar de estar fechado para nós.

O que é comunidade nacional?

Define-se como sendo a comunidade do caminho comum, a comunidade comprometida com a mesma obra.

2) Nas mais diversas circunstâncias em que os grupos humanos se encontram e se comprometem entre si, origina-se a comunidade de jornada. Essa relação é de bem outra natureza do que aquela motivada pelo sangue e, em muitos casos, não menos sólida. Constata-se esse fato em muitas amizades de humanos de procedências diferentes, alimentadas no sofrimento  suportado e nas alegrias degustadas em comum. O mesmo se observa  no casamento entre pessoas de raças diferentes, sólido como a morte, sorrindo, chorando e peregrinando pelas estradas da vida.

Enquanto na primeira parte  nos ocupamos longamente com os elementos que constituem especificamente o conceito de identidade étnica, no presente passamos a analisar o ambiente concreto em que vivemos. É um fato indiscutível que a nossa identidade étnica teuto-brasileira está comprometida, para o que der e vier, com a jornada comum do povo brasileiro. Um comprometimento para a vida e a morte como acontece nas comunidades de jornada comum de tantos outros Estados.Como por ex., a Bélgica, a Suíça ou velho Império Austríaco, cujo esfacelamento foi um mal. Há cem anos partilhamos de todos os perigos e de todos os sucessos pelos quais a Providência Divina conduz a nossa pátria, o Brasil.

Os nossos antepassados entenderam de imediato a situação e engajaram, sem perder tempo, na caminhada comum com os nossos concidadãos de outra identidade étnica. O fechamento sobre nós mesmos para seguir obstinadamente a nossa trilha, não passaria de uma miopia absurda, em meio à grande comunidade nacional. Significaria um beco sem saída porque não tomaria em conta  realidade dos fatos.

A caminhada comum com a totalidade do povo brasileiro deve apontar, necessariamente, a direção a seguir no futuro. Cabe-nos marchar com ambos os pés nessa estrada comum, unidos e alegres, como os portadores dos destinos da nossa pátria comum, depositados nas mão de Deus.

b) Comunidade nacional significa, em segundo lugar,  o comprometimento com a construção da obra comum.

Não faz sentido perder muitas palavras sobre a missão do teuto-brasileiro no contexto da nossa pátria. Basta a consciência que temos uma missão  e que estamos determinados a cumpri-la da melhor forma possível.

Temos motivo para olharmos com discreto orgulho para os cem anos em que, em parceria com nossos concidadãos de outra origem étnica, construímos a obra comum. Perguntamos agora o que conseguimos realizar? Isto nos poderá sinalizar para o que nos cabe fazer no futuro. Os nossos antepassados foram os primeiros que ousaram enfrentar a mata virgem, com inquebrantável força de vontade,  herdada dos homens de étnica alemã, lançando assim as bases da florescente agricultura no sul do Brasil. Os nossos antepassados foram os primeiros que, com a vontade empreendedora do alemão, instalaram as primeiras indústrias, puseram em marcha os primeiros veículos de auto abastecimento do País. Nossos pais e irmãos foram os primeiros a desbravar as vastas regiões do Hinterland, subindo até o Paraná, franqueando o acesso até as fronteiras do País.

Não foram, porém, os bens materiais que, numa proporção significativa, resultaram da fiel colaboração na obra comum entre os nossos parceiros de origem étnica e os demais brasileiros. Uma significativa parcela da educação, a começar pela escola elementar até as escolas de nível superior, encontra-se nas mãos  dos filhos da nossa etnia. Eles labutam, ombro a ombro, com os cidadãos de outra procedência étnica, na edificação do progresso cultural do nosso País.

O maior orgulho da parcela católica  do nosso povo é o fato de que a renovação religiosa no Sul do Brasil ter dado os primeiros passos a partir das comunidades alemãs localizadas na mata. Aos curas de almas que seguiram os imigrantes e aos filhos dos desbravadores  alemães  que se decidiam pelo sacerdócio, coube dar vida nova à fé do Império que nascia. Desde então seu numero, somado aos provenientes de outras etnias, cresceu sem interrupção, transformando o Sul do Brasil numa das porções mais abençoadas  em vocações da América do Sul.

Honra aos nossos antepassados que empenharam as suas energias em favor dos seus concidadãos, na tarefa de construir essa grande comunidade nacional! É exatamente neste particular  que se manifesta que a autenticidade étnica  e a nobreza da comunidade nacional não são antagônicas, mas estimulam e se dão vida mutuamente. Quando os nossos antepassados aportaram aqui, seus concidadãos  brasileiros generosamente lhes ofereceram os espaços cobertos de mata, para que os aproveitassem sem restrições, alem da ampla liberdade de se desenvolver em meio à mais plena autonomia. E nossos antepassados tomaram posse desse espaço, semearam nele a sementeira da cultura própria trazida da velha pátria. E vejam só! Os frutos que no começo pareciam destinados apenas para os próprios imigrantes, beneficiam hoje toda a comunidade nacional. A verdadeira comunidade nacional é assim. É amor verdadeiro sem retórica.

Como conclusão é lícito arriscar um olhar para o futuro da obra comum empenhada em construir a nossa pátria. De uma maneira geral o Sul do Brasil irá evoluir obviamente para um pólo de irradiação da vida cultural. O Sul do Brasil, a terra do futuro como nenhuma outra na América Latina, formada por uma mescla singular de homens pertencentes a diversas identidades étnicas. Situa-se entre as duas maiores metrópoles do continente, banhado no leste pelo oceano. Possui todos os requisitos para desenvolver a agricultura, a criação de gado e a mineração. Aos nossos descendentes, alimentados pelo espírito étnico que herdaram, caberá a responsabilidade de continuar a tarefa de construir a obra comum da pátria brasileira.

II. Chegou o momento de responder a segunda pergunta:

Existe uma identidade étnica alemã?
Existe uma comunidade nacional alemã?
Existem os correspondentes brasileiros?

Sem dúvida existe uma identidade alemã expressa na maneira de ser e na língua alemã. Sem dúvida existe uma identidade étnica brasileira expressa na maneira de ser e na língua brasileira. Sem dúvida existe uma comunidade nacional alemã que consiste  no caminho e na obra do povo alemão. Sem dúvida existe uma comunidade nacional brasileira que consiste  no caminho e na obra dos cidadãos brasileiros.

Aqui se faz necessário acrescentar os seguintes comentários.

1. A nossa identidade étnica aqui no Brasil não pode ser simplesmente equiparada à identidade étnica na Alemanha. Os cem anos de evolução no Brasil não deixaram de marcar  nossa a identidade étnica. A paisagem, a história, os concidadãos de outras étnicas, imprimindo características peculiares ao teuto-brasileiro. Entre a imigração dos nossos antepassados e a identidade étnica alemã de hoje, passaram-se cem anos de cultura marcada pela máquina e pela indústria pesada, cem anos plenos de terremotos políticos e grandes saltos na mudança de rumo nos acontecimentos europeus. Enquanto os nossos colonos teuto-brasileiros mal e mal foram tocados por tudo isso, processaram-se poderosas reviravoltas nas entranhas da Europa. Certamente não alteraram a essência da identidade étnica e, contudo, induziram diferenças. A nossa identidade étnica, a quem nos declaramos fieis, não é uma identidade étnica alemã internacional difusa, nem aquela da Alemanha do final do ano de 1936. Trata-se, pelo contrario, de um teuto-brasileirismo bem caracterizado, sólido e singular. De forma alguma, porém, queremos com isso assumir uma postura hostil em relação à identidade étnica alemã na Alemanha pois, estamos plenamente conscientes que necessitamos do seu apoio para preservarmos a nossa.

2. Para os descendentes  de alemães nascidos no Brasil existe obviamente apenas uma comunidade nacional e esta é a brasileira, como afirmamos mais acima.

III. Pergunta: É possível que alguém que pertence à identidade étnica alemã e respectivamente à comunidade nacional alemã, pode inserir-se da mesma forma às correspondentes brasileiras?

1. É possível que alguém pertencente à identidade étnica alemã, faça parte da comunidade nacional brasileira?. Não há dúvida que sim pois, identidade étnica e comunidade nacional são realidades diferentes. Podem coexistir e enriquecer-se mutuamente.

2. É possível que alguém possa inserir-se simultaneamente na identidade étnica alemã e na comunidade étnica brasileira? De forma alguma se entendermos os conceitos no seu sentido rigoroso pois, identidade étnica significa na sua essência fidelidade ao berço. E fidelidade ao berço entra em questão somente uma, para alguém de origem alemã e de fala alemã, assim como existe só um berço para os de origem e fala brasileira. Em numerosos casos, porém, não  é tão simples. Ocorre, por ex., em casos de miscigenação biológica e bilingüismo desde a primeira infância.

3. É possível que alguém pertença da mesma maneira à comunidade nacional alemã e à brasileira? De forma alguma pois, o caminho e a obra brasileira é diversa do caminho e da obra alemã.

4. É desejável que a nossa identidade étnica se extinga, para que a comunidade de jornada e de objetivos e a comunidade de sangue e de língua coincidam? De forma alguma pois, com o nivelamento de todas as diferenças a pátria fica privada de um conjunto de forças que, há cem anos, contribuíram  para seu progresso.

5. Qual a posição do teuto-brasileiro em relação ao Estado alemão? Pretendemos responder com brevidade e sem preconceitos. A Alemanha é a terra natal de nossos antepassados, a terra natal da nossa cultura. Por isso é natural e legítimo que, dentre todos os países, lhe dediquemos, ao lado do Brasil, o nosso amor. Como crianças e como jovens acompanhamos de coração acelerado as lutas heróicas dos alemães e as grandes façanhas das armas alemãs. Sentimos o íntimo dilacerado no momento em que a nossa pátria declarou guerra à pátria dos nossos antepassados. Sentimo-nos atingidos pela inominável  ignomínia por que passou a Alemanha derrotada. Assistimos com júbilo a Alemanha reconquistando  passo a passo a sua posição no mundo e ocupando novamente o lugar que lhe cabe como um grande povo. Aprovamos alegremente tudo que a Alemanha de hoje mostra de bom e de grande. Reconhecemos com gratidão o sentido da posição  histórico-mundial que tomou contra a investida do anticristo do bolchevismo.

Declaramos a nossa repulsa inequívoca a apenas três questões de natureza política da Alemanha de hoje. O primeiro não pronunciamos  como pessoas: dissemos um não  ao atentado por pare do Estado à liberdade da pessoa humana. O segundo não pronunciamos  como cristãos e como católicos: um não ao paganismo alemão. O terceiro não pronunciamos como teuto-brasileiros: um não a qualquer tipo de composição do  teuto-brasileirismo com a política partidária da Alemanha.

Ao finalizar essas considerações não queremos ignorar que pouco se alcança com discussões eruditas. O problema que envolve a questão da identidade étnica e a questão da comunidade nacional, não se resolve na escrevaninha mas na arena da vida. Tenho prazer em caminhar entre as fileiras de túmulos dos cemitérios das colônias velhas. Enfileiram-se, ombro a ombro, como imagens talhadas em pedra dos incansáveis soldados do trabalho que sob elas descansam.

Foram eles que resolveram da melhor forma a questão da identidade étnica e da comunidade nacional, porque foi uma solução viva: fiel ao modo de ser dos antepassados, heróicos no serviço em favor da comunidade nacional, fieis e heróicos até a morte. Nós, seus descendentes, podemos dar-nos como felizes se, apos o nosso esforço intelectual de procurarentender a questão, entendermos aquilo que eles realizaram espontaneamente e com a maior naturalidade.

Sim, eu acredito que a nossa análise erudita dos conceitos  pode até ser um sinal patológico. Perdemos a segurança e a naturalidade relativos à a identidade étnica e à comunidade nacional. Creio também que é inútil procurarmos a solução em livros. É preciso procurar a fonte na origem mesma da identidade étnica e de toda e qualquer  comunidade de jornada e de objetivos, e a fonte encontra-se junto aos nossos colonos.