Identidade Étnica – Comunidade Nacional – III - Pe. Balduino Rambo

A análise dos conceitos de identidade étnica numa questão de compreensão numa questão e comunidade nacional não são se resume numa questão de compreensão, mas numa questão que diz respeito à totalidade do ser humano pois, o homem como um todo tem as suas raízes plantadas tanto na identidade étnica  como na comunidade nacional. A adesão à identidade étnica e à comunidade nacional não é apenas um assunto da vontade, mas diz respeito ao homem como um todo, porque tanto a identidade étnica como a comunidade nacional, merecem todo amor de uma pessoa.

Desta forma a pergunta pelo sentido da identidade étnica e a pergunta pelo sentido da comunidade nacional é uma pergunta pela plenitude, uma pergunta pelo amor. Em primeiro lugar é uma pergunta  pelo significado da plenitude pois, o destino dos cidadãos  deste mundo navega neste caudal ao encontro do seu objetivo. É também uma pergunta que envolve o amor, pois tudo o que no homem é bom, verdadeiro, belo e heróico desenvolve-se ao longo desse caudal pleno de veracidade e de fecundidade.

O mor constitui-se num conceito de fundamental importância quando perguntamos pela natureza da nossa identidade étnica e da nossa comunidade nacional. A ele cabe transmitir vida e calor na busca pelo significado da identidade étnica e da comunidade nacional.

O amor é um componente de grande peso no momento em que nos lançamos à tarefa de  indagar pela natureza da nossa identidade étnica e da nossa comunidade nacional. Como energia única cabe-lhe a tarefa de acalentar a nossa busca, porque a identidade étnica e a comunidade nacional significam, antes de mais nada, a vida e evolução. Ainda mais. É preciso que o amor faça o papel de “Leitmotiv”, porque a identidade étnica pode ser definida como uma comunidade de berço e a nacionalidade como uma comunidade de objetivos, e nada é capaz de unir mais os homens entre si do que um berço comum e objetivos comuns.

I. Vamos à resposta da primeira pergunta:  O que se entende por identidade étnica? O que se entende por comunidade nacional? As duas significam a mesma coisa?

É da própria natureza do presente ensaio, que só é possível enunciar o mais essencial. Por isso na primeira parte limitar-nos-emos  a uma explicação genérica dos dois conceitos, relacionando-os brevemente com as nossas circunstâncias teuto-brasileiras.


O que se entende por identidade étnica?

O conceito de identidade étnica compreende em si dos elementos: a maneira de ser e a língua.

a) Expliquemos o que se entende por maneira de ser. Sob o ponto de vista meramente científico, nós teuto-brasileiros somos de outra cepa do que os nossos concidadãos de origem lusa ou outra. Essa realidade é visível a cinqüenta passos de distancia e não há poder no mundo que apague essa diferença. Emergimos de um miscigenação de raças  nórdicas, alpinas e fálicas, somadas a uma fraca incidência de sangue mediterrâneo. Esta é a base biológica da nossa identidade étnica.

Sobre esta realidade biológica  estrutura-se a essência , a alma da nossa identidade étnica. Em nossos dias  a ciência logrou penetrar profundamente nas oficinas da vida. A cada dia descobre mais relações entre o corpo e a alma. Em nossa corrente circulatória navegam os minúsculos portadores das nossas peculiaridades raciais. Estimulam para a ação todas as energias dos membros do nosso corpo, põem em vibração as ondas da nossa alma e fazem com que cada etnia manifeste a sua maneira própria de pensar. Pessoas do mesmo sangue costumam vivenciar estímulos do espírito e do coração semelhantes. Imprimem na sua alegria e na sua tristeza as mesmas características e vestem com roupagem parecida o seu mor e a sua vida. Os portadores das nossas características raciais que circulam sem descanso em nosso sangue, codeterminam  até a concepção que temos de Deus e da bondade, da grandeza que comove o coração do homem e de toda a beleza que o empolga. A identidade étnica é como uma família ampliada: como os filhos dos mesmos pais se assemelham assim também se parecem os parentes de sangue do mesmo grupo humano. O resultado vivo desta realidade chamamos identidade étnica.

Resumindo é licito dizer: a identidade étnica tem as suas raízes nas diferenças raciais do gênero humano. Esta afirmação não tem nada a ver com o valor exagerado que se atribui ao elemento raça ou com o endeusamento da raça. Trata-se simplesmente de uma constatação e do reconhecimento de um fato objetivo.

b) A expressão mais evidente do sangue comum e do espírito, d alma comum, do modo de pesar comum, é a língua.  A identidade étnica dispõe obviamente de outras modalidades de ser e de outras formas de fazer visível a sua cultura: musica, pintura, escultura, festas, trajes, usos e costumes. A língua, entretanto constitui-se no sinal  identificador mais essencial da identidade étnica. Torna possíveis  as demais  manifestações e até certo ponto as inclui. Para o nosso teuto-brasileirismo em especial, a língua representa o elemento mais decisivo. Justifica-se por isso que aqui façamos uma reflexão só  sobre a língua.

A língua humana  é, sem dúvida, muito mais do que um veículo técnico de comunicação. Ela desabrochou do sangue e da natureza de um povo. Por isso reluzem sobre suas folhas as reminiscências do orvalho dos tempos primigênios e do seu cálice emana ainda hoje algo do perfume do mistério da alma humana.

A língua materna é uma flor milagrosa plantada por Deus na beira da estrada de todos os povos, para que nela se alegrem. Aquele que a pisoteia e sob qualquer  pretexto a rouba , danifica a sua alma e se intromete criminosamente no santuário da alma humana.

Foi nesta língua que as pessoas que nos deram a doce dádiva da vida, juraram fidelidade até a morte no altar do matrimônio. Sem dúvida deve ser uma língua sagrada que foi capaz de tornar visível um dom de tão alto valor! É a língua  na qual nossos lábios  de criança aprenderam a balbuciar Mãe, palavra de sentido inesgotável. Sem dúvida  deve ser uma língua plena de amor, já que a primeira palavra que aprendemos foi de amor. Foi nesta língua que demos vazão ao nosso entusiasmo juvenil e, na sua sobriedade formulamos as decisões da nossa idade de homens adultos. Deve ser uma língua de grande riqueza já que é capaz de transmitir tanta coisa boa!

Há algo de singular, de impressionante que nas horas mais solenes da vida o homem recorre instintivamente à sua língua materna. Foi na sua língua materna, na frente do carrasco, que a mãe dos Macabeus admoestou para a fidelidade à lei, ao seu último e mais amado dos filhos. Foi assim que agiu São Francisco Xavier enquanto lutava com a morte na praia de Sião. Esqueceu o espanhol, o latim e todas as línguas da Índia  e balbuciou suas derradeiras orações na língua materna de suas montanhas bascas. Nem o salvador foi exceção. Suspenso na cruz na mais amarga angustia mortal, pronunciou as palavras  jamais externadas pó um ser humano, envoltas na angustia do derradeiro abandono, não na língua  do Império Mundial de Roma, ao qual pertencia politicamente, não na língua do mundo cultural grego em que estava inserido, nem mesmo na sagrada língua dos eu povo usada nas Sagradas Escrituras. O Salvador buscou as palavras  que redimiram o mundo na sua amada língua materna aprendida na oficina de Nazaré.

A língua materna simboliza a mesma maneira de pensar e a mesma maneira de sentir. Sob  este aspecto  ela representa um dos tesouros mais sagrado dos povos. Por essa razão a Igreja Católica sempre insistiu que às crianças fossem ensinadas as primeiras noções das verdades sagradas, de Deus e da eternidade, na língua da sua mãe.

A língua comum constitui-se no veículo mais completo da compreensão mútua, não somente por causa dos mesmos sons e das mesmas palavras, mas antes de mais nada pó causa das mesmas percepções que elas transmitem. A língua materna comum permite a formação da comunidade de  destino comum. Por ela somos capazes de superar com maior facilidade a enorme solidão da nossa existência e trilhar com   mais segurança a difícil, a longa, a íngreme e a escura trilha da nossa vida. Ninguém se basta a si mesmo. Pelo contrário. Quanto mais importante é o homem tanto mais sente a solidão e a impotência e com tanto maior ânsia procura os homens que Deus lhe concede como companheiros de viagem, para que a vida a dois, a três ou a muitos se torne menos solitária.

De tudo isto resulta um grande dívida para com aqueles que falam a língua materna, a língua que nos alimenta espiritualmente, que contribui para que possuamos os bens mais preciosos que o homem pode ter, o conhecimento do espírito e as riquezas do coração.

No momento, portanto, que alguém  prestigia a sua língua materna  por ser o símbolo e a expressão da sua identidade étnica, ele dá prova da mais bela das lealdades humanas. A língua humana assemelha-se ao primeiro chilrear do filhote do pássaro no ninho, antes mesmo de adquirir a capacidade de voar e começar a navegar pelos oceanos dos ares como um caçador livre e um musico de Deus. Foi por esse motivo que os homens autênticos e leais empenharam tudo em favor do tesouro sagrado da língua. O povo da Irlanda nos oferece um exemplo vivo dessa afirmação. Depois de séculos de campanhas de extermínio os ingleses lograram acabar com a língua irlandesa, excetuando algumas relíquias. Logo que conquistou a sua autonomia, este povo que sofrera mais do que qualquer outro por causa da sua fé e por causa da sua identidade étnica, enviou os melhores dos seus filhos em busca das longínquas áreas de turfa e das montanhas, para reaprender a língua materna com os carvoeiros e os lenhadores.

A identidade étnica é, portanto, na sua essência uma comunidade de berço e a fidelidade a ela significa fidelidade ao berço. A identidade étnica significa a autenticidade ancorada no sangue e na língua. A identidade étnica é a verdade fundamentada na imagem de Deus visível no homem. A identidade étnica é a inocência infantil enraizada na mãe-terra das nossas energias. A identidade étnica compara-se a um “sim” vencedor para com tudo o que é belo e verdadeiro com que Deus nos brindou no berço e que nos acompanha na jornada da nossa vida.

Identidade étnica significa também um “sim” sem reticências a tudo o que é bom, verdadeiro e belo que  os homens de outras origens receberam de Deus como herança. Aquele que não é capaz de respeitar a identidade étnica e a língua dos estranhos pois, cada língua e cada identidade étnica é a manifestação do pensamento eterno de Deus.

A fonte última do ser emana de Deus e Deus ama a diversidade de suas criaturas. Nem mesmo duas pessoas foram moldadas segundo o mesmo figurino, nem duas peças, nem duas peças executadas de acordo com a mesma melodia. Cada uma das criaturas humanas  é, individualmente, uma obra de arte, revestida de uma preciosidade sem réplica. Cada uma das partituras de Deus oferece uma música de solenidade sem igual. Cada identidade étnica encarna uma das realizações do pensamento eterno. Cada raça concretiza, consciente ou inconscientemente, um dos seus planos eternos.

É aqui que o mistério da identidade étnica tem o seu começo. É preciso que tomados de silencioso respeito, nos prostremos diante da nossa identidade étnica e a dos outros. É preciso declarar um “sim” cheio de gratidão infantil, pleno de alegria, frente à dádiva de Deus que é a nossa identidade étnica. É nosso dever também considerar a identidade étnica dos outros como um santuário, apesar de estar fechado para nós.

O que é comunidade nacional?

Define-se como sendo a comunidade do caminho comum, a comunidade comprometida com a mesma obra.

2) Nas mais diversas circunstâncias em que os grupos humanos se encontram e se comprometem entre si, origina-se a comunidade de jornada. Essa relação é de bem outra natureza do que aquela motivada pelo sangue e, em muitos casos, não menos sólida. Constata-se esse fato em muitas amizades de humanos de procedências diferentes, alimentadas no sofrimento  suportado e nas alegrias degustadas em comum. O mesmo se observa  no casamento entre pessoas de raças diferentes, sólido como a morte, sorrindo, chorando e peregrinando pelas estradas da vida.

Enquanto na primeira parte  nos ocupamos longamente com os elementos que constituem especificamente o conceito de identidade étnica, no presente passamos a analisar o ambiente concreto em que vivemos. É um fato indiscutível que a nossa identidade étnica teuto-brasileira está comprometida, para o que der e vier, com a jornada comum do povo brasileiro. Um comprometimento para a vida e a morte como acontece nas comunidades de jornada comum de tantos outros Estados.Como por ex., a Bélgica, a Suíça ou velho Império Austríaco, cujo esfacelamento foi um mal. Há cem anos partilhamos de todos os perigos e de todos os sucessos pelos quais a Providência Divina conduz a nossa pátria, o Brasil.

Os nossos antepassados entenderam de imediato a situação e engajaram, sem perder tempo, na caminhada comum com os nossos concidadãos de outra identidade étnica. O fechamento sobre nós mesmos para seguir obstinadamente a nossa trilha, não passaria de uma miopia absurda, em meio à grande comunidade nacional. Significaria um beco sem saída porque não tomaria em conta  realidade dos fatos.

A caminhada comum com a totalidade do povo brasileiro deve apontar, necessariamente, a direção a seguir no futuro. Cabe-nos marchar com ambos os pés nessa estrada comum, unidos e alegres, como os portadores dos destinos da nossa pátria comum, depositados nas mão de Deus.

b) Comunidade nacional significa, em segundo lugar,  o comprometimento com a construção da obra comum.

Não faz sentido perder muitas palavras sobre a missão do teuto-brasileiro no contexto da nossa pátria. Basta a consciência que temos uma missão  e que estamos determinados a cumpri-la da melhor forma possível.

Temos motivo para olharmos com discreto orgulho para os cem anos em que, em parceria com nossos concidadãos de outra origem étnica, construímos a obra comum. Perguntamos agora o que conseguimos realizar? Isto nos poderá sinalizar para o que nos cabe fazer no futuro. Os nossos antepassados foram os primeiros que ousaram enfrentar a mata virgem, com inquebrantável força de vontade,  herdada dos homens de étnica alemã, lançando assim as bases da florescente agricultura no sul do Brasil. Os nossos antepassados foram os primeiros que, com a vontade empreendedora do alemão, instalaram as primeiras indústrias, puseram em marcha os primeiros veículos de auto abastecimento do País. Nossos pais e irmãos foram os primeiros a desbravar as vastas regiões do Hinterland, subindo até o Paraná, franqueando o acesso até as fronteiras do País.

Não foram, porém, os bens materiais que, numa proporção significativa, resultaram da fiel colaboração na obra comum entre os nossos parceiros de origem étnica e os demais brasileiros. Uma significativa parcela da educação, a começar pela escola elementar até as escolas de nível superior, encontra-se nas mãos  dos filhos da nossa etnia. Eles labutam, ombro a ombro, com os cidadãos de outra procedência étnica, na edificação do progresso cultural do nosso País.

O maior orgulho da parcela católica  do nosso povo é o fato de que a renovação religiosa no Sul do Brasil ter dado os primeiros passos a partir das comunidades alemãs localizadas na mata. Aos curas de almas que seguiram os imigrantes e aos filhos dos desbravadores  alemães  que se decidiam pelo sacerdócio, coube dar vida nova à fé do Império que nascia. Desde então seu numero, somado aos provenientes de outras etnias, cresceu sem interrupção, transformando o Sul do Brasil numa das porções mais abençoadas  em vocações da América do Sul.

Honra aos nossos antepassados que empenharam as suas energias em favor dos seus concidadãos, na tarefa de construir essa grande comunidade nacional! É exatamente neste particular  que se manifesta que a autenticidade étnica  e a nobreza da comunidade nacional não são antagônicas, mas estimulam e se dão vida mutuamente. Quando os nossos antepassados aportaram aqui, seus concidadãos  brasileiros generosamente lhes ofereceram os espaços cobertos de mata, para que os aproveitassem sem restrições, alem da ampla liberdade de se desenvolver em meio à mais plena autonomia. E nossos antepassados tomaram posse desse espaço, semearam nele a sementeira da cultura própria trazida da velha pátria. E vejam só! Os frutos que no começo pareciam destinados apenas para os próprios imigrantes, beneficiam hoje toda a comunidade nacional. A verdadeira comunidade nacional é assim. É amor verdadeiro sem retórica.

Como conclusão é lícito arriscar um olhar para o futuro da obra comum empenhada em construir a nossa pátria. De uma maneira geral o Sul do Brasil irá evoluir obviamente para um pólo de irradiação da vida cultural. O Sul do Brasil, a terra do futuro como nenhuma outra na América Latina, formada por uma mescla singular de homens pertencentes a diversas identidades étnicas. Situa-se entre as duas maiores metrópoles do continente, banhado no leste pelo oceano. Possui todos os requisitos para desenvolver a agricultura, a criação de gado e a mineração. Aos nossos descendentes, alimentados pelo espírito étnico que herdaram, caberá a responsabilidade de continuar a tarefa de construir a obra comum da pátria brasileira.

II. Chegou o momento de responder a segunda pergunta:

Existe uma identidade étnica alemã?
Existe uma comunidade nacional alemã?
Existem os correspondentes brasileiros?

Sem dúvida existe uma identidade alemã expressa na maneira de ser e na língua alemã. Sem dúvida existe uma identidade étnica brasileira expressa na maneira de ser e na língua brasileira. Sem dúvida existe uma comunidade nacional alemã que consiste  no caminho e na obra do povo alemão. Sem dúvida existe uma comunidade nacional brasileira que consiste  no caminho e na obra dos cidadãos brasileiros.

Aqui se faz necessário acrescentar os seguintes comentários.

1. A nossa identidade étnica aqui no Brasil não pode ser simplesmente equiparada à identidade étnica na Alemanha. Os cem anos de evolução no Brasil não deixaram de marcar  nossa a identidade étnica. A paisagem, a história, os concidadãos de outras étnicas, imprimindo características peculiares ao teuto-brasileiro. Entre a imigração dos nossos antepassados e a identidade étnica alemã de hoje, passaram-se cem anos de cultura marcada pela máquina e pela indústria pesada, cem anos plenos de terremotos políticos e grandes saltos na mudança de rumo nos acontecimentos europeus. Enquanto os nossos colonos teuto-brasileiros mal e mal foram tocados por tudo isso, processaram-se poderosas reviravoltas nas entranhas da Europa. Certamente não alteraram a essência da identidade étnica e, contudo, induziram diferenças. A nossa identidade étnica, a quem nos declaramos fieis, não é uma identidade étnica alemã internacional difusa, nem aquela da Alemanha do final do ano de 1936. Trata-se, pelo contrario, de um teuto-brasileirismo bem caracterizado, sólido e singular. De forma alguma, porém, queremos com isso assumir uma postura hostil em relação à identidade étnica alemã na Alemanha pois, estamos plenamente conscientes que necessitamos do seu apoio para preservarmos a nossa.

2. Para os descendentes  de alemães nascidos no Brasil existe obviamente apenas uma comunidade nacional e esta é a brasileira, como afirmamos mais acima.

III. Pergunta: É possível que alguém que pertence à identidade étnica alemã e respectivamente à comunidade nacional alemã, pode inserir-se da mesma forma às correspondentes brasileiras?

1. É possível que alguém pertencente à identidade étnica alemã, faça parte da comunidade nacional brasileira?. Não há dúvida que sim pois, identidade étnica e comunidade nacional são realidades diferentes. Podem coexistir e enriquecer-se mutuamente.

2. É possível que alguém possa inserir-se simultaneamente na identidade étnica alemã e na comunidade étnica brasileira? De forma alguma se entendermos os conceitos no seu sentido rigoroso pois, identidade étnica significa na sua essência fidelidade ao berço. E fidelidade ao berço entra em questão somente uma, para alguém de origem alemã e de fala alemã, assim como existe só um berço para os de origem e fala brasileira. Em numerosos casos, porém, não  é tão simples. Ocorre, por ex., em casos de miscigenação biológica e bilingüismo desde a primeira infância.

3. É possível que alguém pertença da mesma maneira à comunidade nacional alemã e à brasileira? De forma alguma pois, o caminho e a obra brasileira é diversa do caminho e da obra alemã.

4. É desejável que a nossa identidade étnica se extinga, para que a comunidade de jornada e de objetivos e a comunidade de sangue e de língua coincidam? De forma alguma pois, com o nivelamento de todas as diferenças a pátria fica privada de um conjunto de forças que, há cem anos, contribuíram  para seu progresso.

5. Qual a posição do teuto-brasileiro em relação ao Estado alemão? Pretendemos responder com brevidade e sem preconceitos. A Alemanha é a terra natal de nossos antepassados, a terra natal da nossa cultura. Por isso é natural e legítimo que, dentre todos os países, lhe dediquemos, ao lado do Brasil, o nosso amor. Como crianças e como jovens acompanhamos de coração acelerado as lutas heróicas dos alemães e as grandes façanhas das armas alemãs. Sentimos o íntimo dilacerado no momento em que a nossa pátria declarou guerra à pátria dos nossos antepassados. Sentimo-nos atingidos pela inominável  ignomínia por que passou a Alemanha derrotada. Assistimos com júbilo a Alemanha reconquistando  passo a passo a sua posição no mundo e ocupando novamente o lugar que lhe cabe como um grande povo. Aprovamos alegremente tudo que a Alemanha de hoje mostra de bom e de grande. Reconhecemos com gratidão o sentido da posição  histórico-mundial que tomou contra a investida do anticristo do bolchevismo.

Declaramos a nossa repulsa inequívoca a apenas três questões de natureza política da Alemanha de hoje. O primeiro não pronunciamos  como pessoas: dissemos um não  ao atentado por pare do Estado à liberdade da pessoa humana. O segundo não pronunciamos  como cristãos e como católicos: um não ao paganismo alemão. O terceiro não pronunciamos como teuto-brasileiros: um não a qualquer tipo de composição do  teuto-brasileirismo com a política partidária da Alemanha.

Ao finalizar essas considerações não queremos ignorar que pouco se alcança com discussões eruditas. O problema que envolve a questão da identidade étnica e a questão da comunidade nacional, não se resolve na escrevaninha mas na arena da vida. Tenho prazer em caminhar entre as fileiras de túmulos dos cemitérios das colônias velhas. Enfileiram-se, ombro a ombro, como imagens talhadas em pedra dos incansáveis soldados do trabalho que sob elas descansam.

Foram eles que resolveram da melhor forma a questão da identidade étnica e da comunidade nacional, porque foi uma solução viva: fiel ao modo de ser dos antepassados, heróicos no serviço em favor da comunidade nacional, fieis e heróicos até a morte. Nós, seus descendentes, podemos dar-nos como felizes se, apos o nosso esforço intelectual de procurarentender a questão, entendermos aquilo que eles realizaram espontaneamente e com a maior naturalidade.

Sim, eu acredito que a nossa análise erudita dos conceitos  pode até ser um sinal patológico. Perdemos a segurança e a naturalidade relativos à a identidade étnica e à comunidade nacional. Creio também que é inútil procurarmos a solução em livros. É preciso procurar a fonte na origem mesma da identidade étnica e de toda e qualquer  comunidade de jornada e de objetivos, e a fonte encontra-se junto aos nossos colonos.

This entry was posted on domingo, 15 de março de 2015. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.