A Educação Ambiental
Apesar
de toda a capacidade de destruição de que o homem é capaz com as tecnologias de
que dispõe hoje, subsistem ecossistemas que, apesar de já terem sido
percorridos pelo homem não deixaram de conservar a natureza de “áreas naturais
intactas”. Quando se toma como base para definir essas áreas o critério
especificado pela “Conservação Internacional”, uma área com esse perfil deve
cobrir no mínimo 10.000 quilômetros quadrados e 70% da cobertura vegetal
original. Nesse critério cabem as grandes florestas tropicais da América do
Sul, da bacia do Congo e em parte da Nova Guiné. Somam-se às florestas
tropicais o cinturão de florestas subárticas, a taiga composta basicamente de
coníferas que cobrem ainda grandes extensões do norte dos Estados Unidos,
Canadá e Alasca, Finlândia, Suécia e Noruega, centro norte da Rússia e Sibéria.
No critério da “Conservação Internacional” cabem também os grandes desertos com
suas peculiaridades, as regiões polares, o alto-mar além do leito profundos dos
oceanos. O mesmo já não se pode afirmar da foz e delta dos rios, das baías, de
modo especial se utilizadas como portos e destino dos dejetos de centros
urbanos. A essas áreas naturais de 10.000 ou mais quilômetros quadrados
somam-se centenas de áreas menores na forma de parques naturais e reservas. A
lei que criou essas áreas protegidas nos Estados Unidos determina que que
sirvam “para o uso e desfrute do povo americano, de tal maneia que sejam
deixados em bom estado para o futuro uso e desfrute”. No Brasil dispomos
também um respeitável número de parques nacionais e reservas de proteção à
natureza. O Parque Nacional do Iguassú, o Parque Nacional dos Aparados da
Serra, o Parque Nacional do Itatiaia, a reserva do Guarita, só para citar
alguns. Não é aqui o lugar para desenhar um mapa mais preciso dos parques e
reservas de proteção ambienta. Interessa, isso sim, o significado e a
importância da sua multiplicação num momento da história em que a agressão a
consequente deterioração do meio ambiente avança, em muitas partes do mundo,
sem o controle necessário.
Os
parques e reservas de proteção à natureza, porém, só então tem condições de
cumprir a sua missão como instrumentos de preservação, quando de fato forem
cenários em que o homem é visitante. Não se fixa neles mas mantem uma relação de mero visitante
para apreciar o que “a mãe terra não degradada pelo homem” oferece
para o apreço dos sentidos, para alimentar as emoções intuir o belo na
sua forma original. Além disso os parques e as reservas desempenham um papel
pedagógico excepcional. São escolas ao ar livre onde as crianças, jovens e
adultos, caminhando sem compromisso com a ordem disciplinar e ou a burocrática,
entram diretamente em contato com o mundo que num passado não tão remoto, foi o
cenário em que a grande maioria dos povos passava a vida. Uma caminhada
solitária ou em boa companhia pela tranquilidade de um parque, vendo, ouvindo,
apalpando, farejando, sentindo, intuindo, mesmo as pessoas que passam a maior
parte da vida na artificialidade das metrópole e megalópoles sentem-se em casa.
A relação existencial que as vincula à natureza original não violada pela civilização, pode ter sido
perdida no quotidiano em meio à muralhas de concreto, em escritórios ascéticos,
respirando poluição e o odor do asfalto, mas não esquecida. Num parque, numa reserva ou numa simples
caminhada num parque urbano essa relação atávica se faz sentir. Por essa razão
é tão importante que às crianças se proporcione
contato seguido e livre com a “mãe terra”, que foi o cenário e a
escola de vida dos seus coleguinhas do Paleolítico, do
Neolítico, em toda história e ainda hoje nos lugares privilegiados onde o sol
ainda nasce entre árvores e se percebe o odor da terra molhada depois de uma
chuva. A esse respeito Edward Wllson ensina.
A ascensão à Natureza começa na infância, portanto o
ideal é que a ciência da biologia seja introduzida logo nos primeiros anos de
vida. Toda a criança é um naturalista e explorador principiante. Caçar,
coletar, explorar novos territórios, buscar tesouros, examinar a geografia,
descobrir novos mundos - tudo isso
está presente em seu cerne ais íntimo, talvez rudimentarmente, mas
procurando se expressar. Desde tempos imemoriais as crianças foram criadas em estreito contato com o ambiente natural. A
sobrevivência da tribo dependia de um conhecimento íntimo, tátil dos animais e
plantas silvestres. (Wilsnon, 2006, p. 158).
Wilson
deixou uma série de sugestões para que o aprendizado em contato direto com
a natureza produza os melhores
resultados, seja o mais rico possível. Já que a mente da criança, o interesse
pelo mundo natural que a cerca, se manifesta desde muito cedo, a educação
ambiental deve começar igualmente em cedo pois, a criança está pronta para
mergulhar existencialmente basta abrir-lhe as portas e mostrar-lhe o caminho.
Sem forçar, apenas orientando o professor ou o guia apontem os lugares onde há
surpresas a descobrir. É preciso que a criança individualmente ou em pequenos
grupos explore o ambiente, entre em contato íntimo com as descobertas que vai
fazendo por sua própria conta. Havendo oportunidade um binóculo, uma lupa, uma
bússola tornam a aventura ainda mais emocionante e educativa. Os resultados serão
surpreendentemente abundantes e duradouros.
Com
adaptações à idade a educação para a natureza deveria continuar num crescendo
harmônico pela adolescência afora a fora, o que não significa que todos optem
por um futuro de naturalista. O tipo de aprendizado, porém, pelo que passaram
será útil em qualquer profissão pois, identificar as coisas, classificá-las,
ordená-las, colocá-las no seu devido lugar, são procedimentos úteis em qualquer
profissão e atividade. Engenheiros, médicos, advogados, historiadores, e outros
mais, valendo-se do treinamento e da
disciplina assimilados nos incursões na natureza, levarão vantagem sobre
aqueles que nunca pisaram num parque, numa reserva, ou simplesmente conviveram
com a natureza em qualquer outra circunstância. E, se não tiver servido para
outra coisa são inspiradoras para que profissionais de todo tipo de
especialidade direcionem as suas horas de lazer para objetos da natureza,
observando pássaros, animais silvestres, árvores, explorando cavernas,
escalando montanhas, ou simplesmente caminhando pelo campo deliciando-se com o ar
puro, observando as flores silvestres, bebendo água dos arroios de montanha,
meditando na penumbra da floresta, ou admirando os monumentos naturais. Wilsnon
conclui o capítulo sobre a educação para a natureza.
Da liberdade de explorar vem a alegria de
aprender. Do conhecimento adquirido pela
iniciativa pessoal advém o desejo de obter mais conhecimentos. E ao dominar
esse novo e belo mundo que está à espera
de cada criança, surge a autoconfiança. Cultivar um naturalista é como cultivar
um músico ou um atleta: excelência para os talentosos, prazer por toda a vida
para os mais, benefício para toda a humanidade. (A criação, 2006, p. 166)
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