Os
resultados das pesquisas científicas que se multiplicam, ampliam o espectro de
abrangência e se aprofundam cada dia que passa, estimulam na mesma proporção
tecnologias capazes de converter em resultados práticos o que a ciência
descobre. À “Encílca Laudato si”, inspiradora das presentes reflexões
interessam os dados das pesquisas relacionadas com a natureza enquanto “casa”
da espécie humana ou, se preferirmos, “como mãe e pátria” da humanidade. Concentra-se,
portanto, nos conhecimentos que vamos obtendo acerca da “biosfera” que inclui
todas as espécies de seres vivos, desde os micro e nano organismos, passando
pelas plantas e animais e, à sua maneira, pela espécie humana. Os conhecimentos
científicos nessa área abriram o caminho para
desenvolver tecnologias destinadas a intervir artificialmente em
sistemas biológicos e organismos vivos, com
a finalidade de desenvolver instrumentos para a sua aplicação prática.
Todo esse complexo de ferramentas de uso direcionado à toda e qualquer
modalidade de manipulação de seres vivos, deu origem ao conceito de
“Biotecnologia”. Não é aqui o lugar para analisar a amplitude e profundeza
desse conceito. Nosso objetivo é
explorar e apontar o lado positivo e os riscos do mau uso dos conhecimentos da
genética e das respectivas tecnologias de manipulação. Em outras palavras, o
lado positivo de um lado e os riscos do outro que envolvem pela sua própria
natureza a “Engenharia Genética” ou o desenvolvimento das ferramentas de
manipulação e os resultados práticos a que podem levar. A Engenharia genética
manipula o genoma em duas modalidades: A Transgenia e a modificação genética
dos organismos.
A
modificação genética consiste na manipulação em
laboratório do genoma de uma
determinada espécie, incluindo a humana. Utilizada em seres humanos abre o
caminho para corrigir males que têm como causa direta ou indireta uma anomalia na configuração e/ou localização nos cromossomos dos genes responsáveis
e corrigir os defeitos e consequentemente neutralizar seus efeitos por ex., na
forma de certos tipos de câncer, atrite, mal de Parkinson, diabetes e muitos
outros a serem identificados. Não resta dúvida que nessa linha as técnicas de
modificação genética devem ser vistas
como ferramentas bem -vindas pois, irão curar ou pelo menos prevenir anomalias no desenvolvimento corporal,
doenças degenerativas ou de predisposição hereditária e não apenas retardar ou
amenizar seus efeitos. Mas, é preciso chamar a atenção para os riscos
implícitos nas técnicas de modificação. Como qualquer modalidade tecnologia
implica na dupla face de “bom” e do “mau uso”, também a engenharia genética
dispõe dos instrumentos para aperfeiçoar as condições humanas como também da
natureza como um todo. Não se pode, entretanto, esquecer ou minimizar os riscos
implícitos no mau uso dessas técnicas. E, de fato, o mapeamento do genoma
humano e de muitas outras espécies de animais e plantas, trouxe possibilidades
que preocupam. Considerando as descobertas científicas municiou os eugenistas
com perigosas tecnologias de manipulação da espécie humana. Em tese pelo menos
existe a possibilidade real de interferir no desenvolvimento de órgãos e/ou
sistemas que integram o organismo humano com sérios reflexos sobre os seu
desempenho e sobre a própria personalidade da pessoa. Imaginem-se essas
técnicas nas mãos de eugenistas empenhados em apurar características raciais
humanas como a cor, a estatura, o desenvolvimento e empenho muscular, a
resistência física e por ai vai. Põe-se a possibilidade real de num futuro,
talvez não tão distante, programar linhagens de seres humanos destinados a
servirem de soldados na composição de exércitos, de equipes de ginastas, de
trabalhadores braçais e o que mais se possa imaginar. Mais do que em qualquer
outra situação a aplicação prática de biotecnologias ao ser humano, é
imprescindível tomar em consideração o fator ético que pode ser resumido no
questionamento dos benefícios e malefícios já conhecidos e, de modo especial,
os ainda não conhecidos. Convém lembrar
novamente que as políticas, as técnicas e ações que se ocupam e interferem na
natureza em geral, têm na ética o fator limitador. Quando entra em questão a
manipulação genética no ser humano os princípios éticos assumem uma importância
e um significado todo especial. A Encíclica preocupada com esses procedimentos,
alerta.
Além disso, é preocupante
constatar que alguns movimentos ecologistas defendem a integridade do meio
ambiente e, com razão reclamam a imposição de determinados limites à pesquisa
científica, mas não aplicam estes mesmos
princípios à vida humana. Muitas vezes justifica-se que se ultrapassem
todos os limites, quando se faz experiências com embriões humanos vivos.
Esquece-se que o valor inalienável do ser humano é independente do seu grau de
desenvolvimento. Aliás, quando a técnica ignora os princípios éticos, acaba por
considerar legítima qualquer prática. Como vimos neste capítulo, a técnica
separada da ética dificilmente será capaz de autolimitar o seu poder. (Laudato
si, 136).
Mas,
paralelamente às tecnologias que permitem a modificação do genoma dos
organismos vivos, a engenharia genética desenvolveu ferramentas que
permitem transferir material genético de
uma espécie para a outra, dando origem aos assim chamados “transgênicos”. Os resultados quase que
imediatos fazem com essas técnicas estejam em franco aperfeiçoamento e
ampliando de dia para dia, o leque de abrangência de um número de espécies
sempre maior. Não se pode negar que elas são importantes, para não dizer
indispensáveis para aumentar a produtividade das espécies como soja, milho, trigo,
aveia, cevada, arroz, sorgo, algodão e outros que formam a base da
agroindústria em escala empresarial. São direta ou indiretamente responsáveis
como matérias primas para a produção de alimentos industrializados, ração para
criação de aves, suínos, bovinos, ovinos e outras espécies mais, indispensáveis
para alimentar a população mundial em constante crescimento. Ao lado das
inegáveis vantagens em termos de produtividade, não se pode passar ao largo das
dúvidas, sobre alguns aspectos como dos danos ao meio ambiente causados por
esse modelo de megaprodução, principalmente
agrícola. A cada ano que passa milhões e mais milhões de hectares de
florestas, cerrados, savanas e campos naturais, são convertidos em gigantescas
áreas ocupadas pela monocultura de algum dos produtos acima mencionados.
Milhares de espécies de animais de todos os tamanhos perdem pura e simplesmente
o seu habitat natural que lhes garantia a subsistência. Muitas espécies
conseguem sobreviver nos refúgios naturais ainda não atingidos pelo avanço da
parafernália tecnológica do agronegócio ou então em regiões onde a topografia
não permite seus uso. Outras tantas extinguem-se por lhes ter sido tirado o
mínimo do que necessitam para subsistir.
Essa
é uma das razões determinantes que as autoridades responsáveis pelo bem comum e,
os ecossistemas naturais são um bem
comum, ponham sob proteção legal
rigoroso áreas de preservação e/ou parques naturais com uma superfície mínima
para abrigar e alimentar a fauna, como também a flora nativa. O tamanho em
quilômetros quadrados pode variar muito. Mas, para se ter uma ideia do que
significa uma área mínima, temos o exemplo da onça, que requer em torno de 30
quilômetros quadrados de floresta para encontrar alimento suficiente para
sobreviver. Alguns exemplos. O parque de Yellowstone mede 8.890 quilômetros
quadrados e o de Yosemite 3.081. O
parque nacional Wrangell St. Elias do no
Alasca Alasca mede 32.375 km2 quilômetros quadrados.
O
Brasil possui 72 parques nacionais administrados pela Fundação Chico Mendes.
Todos os ecossistemas mais significativos contam pelo menos com um deles, menos o Pampa. O das Montanhas do
Tucumaque é o maior deles, cobrindo 38.600 km2 seguido pelo parque do Pico da
Neblina com com 22.526, Parque de
Juruena (Amazonas - Mato Grosso) 1952 km2, Parque Amazônia (Pará) com 10.840
km2. O parque da Tijuca é o menor em área com 39,6 km2, Ubirajara (Ceará) com
60,2 Km2, Sete cidades (Piauí) com 63,0 km2. Os
três parques mais conhecidos de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul protegem parte do que restou da mata
atlântica e os canyons voltados para o Atlântico. São eles: o Parque dos
Aparados da Serra, tendo no Taimbezinho sua maior referência, com 131 km2; o
Parque da Serra Geral, no noroeste do Rio Grande do Sul com 173 km2; o Parque
São Joaquim no sudeste de Santa Catarina com
493 km2. Como já registramos mais acima todos os ecossistemas mais
importantes do Brasil possuem, pelo menos no papel dos decretos que os criaram,
os seus parques, menos o Pampa. 24 localizam-se na Mata Atlântica, 20 na
Amazônia, 8 na Caatinga e os demais nas diferentes regiões do País.
Só
para se ter uma ideia do real significado ecológico e sua contribuição na
preserva ambiental basta destacar os
dois exemplos de maior visibilidade. Na Amazônia representam apenas 5% do total
da superfície daquela região e da Mata Atlântica a insignificância de 2%. Mas, o
problema dos parques nacionais não
consiste só no fato de cobrirem uma fração mínima dos ecossistemas brasileiros mas,
uma infraestrutura administrativa
precária, se é que existe; recursos humanos habilitados para administrar,
fiscalizar a observância dos regulamentos, guias treinados para acompanhar o
público visitante; os parques abertos à visitação pública mais procurados deveriam
servir de escolas de educação ecológica ao ar livre, informando os visitantes
sobre a história geológica, as características físico geográficas,
edafológicas, climáticas, sobre a flora
e a fauna. Os parques nacionais dos Estados Unidos contam com alojamentos
numerosos mas simples e padronizados para os visitantes passarem alguns dias ou
semanas com a família. Essa infraestrutura costuma atrair estudantes
universitários em férias que se responsabilizam pela manutenção dos
alojamentos, dos serviços de cozinha e restaurantes ganhando, ao mesmo tempo
que passam as férias em ambiente natural, um boa remuneração para custear os
estudos. Atraem também professores universitários, do ensino médio e
cientistas, que organizam palestras ao ar livre à noite, transformando, e
períodos de férias escolares, os parques em autênticas “universidades ao ar
livre”. Certamente estamos longe desse ideal nos parques brasileiros mas, não
impossível de chegar até lá.
Uma
praga que põe em perigo as boas intenções ao serem criados os parques nacionais
do Brasil consiste na constante agressão à sua integridade pela extração de
madeira e outras essências vegetais, a caça clandestina, a mineração predatória
e grilagem pura simples, seguida de desmatamentos em grande escala. Assim,
dezenas de espécies de animais ou já estão extintas ou estão na lista de
correrem ricos eminentes de também desaparecerem definitivamente, sempre mais
encurralados em seus refúgios naturais ameaçados pela ação predatória do homem.
Objetivamente falando não estamos diante de um panorama que permite otimismo a médio prazo, quando falamos em
preservação da Natureza nas mais diversas modalidades em que o conceito pode
ser entendido.