A natureza como síntese #1

Apresentação
                        A Natureza existe e subsiste sem o Homem, mas, o Homem não existe nem subsiste sem a Natureza
Em dezembro de 2015 realizaou-se em Paris a Conferência Internacional do Clima. Reunidos estavam os chefes dos governos das grandes potencias, dos emergentes além de representações de países do terceiro mundo. O show foi comandado pelas estrelas dos primeiros. Nesse cenário não podiam deixar  de se fazer ouvir as vozes das organizações que pululam pelo mundo a fora, com o propósito sincero ou nem tanto de salvar o que sobrou da natureza, “a casa” da humanidade, o lar no qual surgiu a espécie humana,  se abriga e se sustenta. Desde o momento em que  o primeiro dos seus representantes começou a respirar o ar das suas florestas e savanas, servir-se de suas dádivas. essa casa foi seriamente maltratada com o andar dos séculos e milênios. O estrago causado é de tal ordem que, com razão, preocupa grandes e pequenos, pobres e ricos, poderosos e humildes, governantes e o povo em geral. Afinal essa “casa” abriga a todos e a todos sustenta. Sua degradação termina atingindo  indistintamente a todos. Primeiro e o mais cruelmente os menos favorecidos, mas é uma questão de tempo para que cobre seu preço também aos poderosos e aos magnatas. A prova está aí. A cúpula do poder político somada à cúpula do poder econômico, encontraram-se em Paris para ouvir o grito de socorro dessa “nossa mãe e pátria”, como a chamou o Pe. Balduino Rambo, maltratada até o irracional pelo homem “racional”.
Diante da gravidade  da situação e da obrigação de uma modesta contribuição para colaborar com esforço universal pelo bem estar da “nossa casa”, na definição do Papa Francisco” na sua Encíclica “Laudato Se”, ofereço aos frequentadores do meu Blog, 57 reflexões, nas quais pretendo que a Natureza é uma gigantesca unidade, finamente calibrada e de alta resolução. Interferir nessa Unidade ou Sistema, mesmo em seus mínimos detalhes, termina afetando o Todo, proporcionalmente à extensão e profundidade da agressão.  Seguem duas postagens por semana: nas segundas e quartas feiras
 Chegou-se ao limite e se tornou urgente uma tomada de posição, definir políticas globais e partir para ações concretas sérias, isentas e desinteressadas. O momento é de tomar decisões para valer e firmar compromissos objetivos e sérios para enfrentar o problema. O debate não pode  estagnar e esgotar-se no nível de uma cortina de fumaça de belas e sonoras intenções; não se soluciona com critérios econômicos; não se avança na solução dos  problemas ambientais com iniciativas turbinadas  por toda a sorte de ideologias e ou interesses não confessados ou não confessáveis. Não há mais tempo a perder pois, a questão ambiental é urgente e complexa demais.
No texto abaixo não se pretende refletir ou analisar políticas públicas, políticas de natureza geoeconômica, considerações de natureza ecológica, ou propostas concretas de ação. Deixamos esse lado da questão para os respectivos especialistas, peritos, ativistas e outros mais,.
O que de fato nos interessa é um pressuposto que deveria conferir uma bases sólida para essa preocupação que, se não for tomado em consideração, mais, se não for colocado como fundamento, qualquer  esforço carece de solidez. É preciso responder a pergunta aparentemente singela e óbvia: “O que é a Natureza, qual a sua essência?” Será que ela se resume num conjunto aleatório e fortuito de elementos químicos, estruturas minerais, variáveis climáticas, a micro e nano fauna, as plantas e animais superiores e no meio de tudo isso o homem?. Quem sabe é uma máquina finamente calibrada, funcionando à maneira de um robô? ou a natureza tem algo de tudo isso mas sua essência ultrapassa o nível da mecânica para situar-se  num patamar mais acima e mais além?.
O avanço e o resultado das pesquisas científicas levou um número crescente de especialistas a conceber a natureza como o resultado de uma engenhosa síntese. O aprofundamento dos estudos de química, física, biologia, paleontologia, genética, fisiologia, botânica, zoologia, ecossistemas, astrofísica, os organismos vivos e os sistemas, está a convencer um número sempre maior cientistas e dos melhores, a conceber a natureza como uma harmoniosa síntese. Essa síntese não  se resume na soma dos elementos que a compõem, senão pela complementaridade funcional.
 A compreensão da natureza posta nessa perspectiva, uma conclusão entre muitas assume um significado todo especial.  O esforço das Ciências Naturais centra-se na compreensão do “como” a natureza foi e está estruturada. Falando em síntese, essa é apenas uma face dessa questão tão complexa. Falta explicar e responder a outra que pergunta pelo “donde”, o “para que” e o “para onde”. Qualquer esforço em busca de uma síntese, terminará em frustração, no caso de se ignorar, pior, desqualificar ou até negar uma dessas duas dimensões da síntese. Para responder ao “como”, as Ciências Naturais dispõem de métodos, ferramentas e competência. Quanto à reposta pelo “onde”, o “para que”, e o para “onde”, os métodos, as ferramentas e a competência são das Ciências do Espírito, das Ciências Humanas, inclusive das Letras e Artes. Sendo assim a construção de uma síntese da natureza digna desse nome, só então terá chances de sucesso, quando em seu edifício contribuírem proporcionalmente todas as áreas do conhecimento. É indispensável que as Ciências todas, as naturais, as espirituais e todas as demais, se encontrem e se comprometam e, num esforço  interdisciplinar honesto e isento,  realizar a tarefa. Para tanto pressupõe-se uma linguagem que ambos os lado entendem e a partir de questionamentos que em princípio interessam a todos, como: “como começou tudo?”; “ o destino final?”; “uma teleologia comanda ou não  os processos?”; enfim, “a razão ou não razão de ser da natureza como “a casa”, “a querência, “a mãe e pátria da humanidade?”.
Nas reflexões que seguem, depois de um capítulo introdutório que se ocupa com a inserção existencial do homem na natureza, dedicamos o restante do texto à compreensão da natureza de sete cientistas mundialmente respeitados nas respectivas especialidades. Três deles, Erich Wassmann estudioso das colônias de formigas e térmites e sua relação simbiótica com fungos, Teilhard  de Chardin paleontólogo, paleoantropólogo e filósofo, Balduino Rambo botânico e ambientalista, foram jesuítas. Sua compreensão da natureza evidentemente leva as marcas dessa filiação. Hans Driesch foi biólogo e filósofo e como o também biólogo Ludwig von Bertalanffy  cientista secular. Francis Collins e Theodosius Dobzhansky, contam entre os mais respeitados geneticistas, o primeiro em genética médica e o segundo como um dos sistematizadores  da genética como ciência. Não os limita nenhum compromisso confessional. O último é Edward Wilson entomólogo dos mais respeitados e autoridade maior em ecossistemas naturais e humanizados. Auto define-se como “humanista secular”.

Os cientistas citados partiram de uma base de formação bastante diversificada e dedicaram-se a objetos e áreas de investigação distintos. Às conclusões  que os levaram aos  resultados de seus projetos, porém, apontam para a mesma direção. A natureza é uma síntese de alta complexidade. As funções dos elementos que entram na sua composição são complementares em vista do todo. Formam um intrincado sistema, melhor uma síntese, na qual não se subtrai ou se degrada nenhum componente, por insignificante que possa parecer, sem de alguma forma danificar o todo, a totalidade. Sendo assim, no fundo no fundo, a questão ambiental reveste-se de um significado e de uma importância que extrapola as fronteiras do político, do econômico, do cultural, do técnico, inclusive do científico. Vai assumindo as características de uma questão de ética natural. A lógica é simples e retilínea. Se o homem, pelos menos quanto ao organismo biológico, é mais um rebento da evolução da natureza, se passa a sua existência nela vivendo dos seus recursos, a natureza é um bem comum. Como tal qualquer pessoa, independente da sua condição social, tem o direito de usufruir dos recursos necessários a uma existência digna e, consequentemente o direito de viver num ambiente natural sadio e favorável à sua saúde material e espiritual. Sendo assim a motivação radical de qualquer ação ou intervenção não pode ignorar esse direito natural e, consequentemente, ignorar o princípio ético nele implícito.

Deitando Raízes #45

Os primeiros habitantes de Bom Jardim
É fácil de  entender o que se petende com essa designação. Falamos dos assim chamados selvagens, os índios, chamados também de bugres. Mas o que a Crônica  tem o que relatar a respeito dos primitivos habitantes da colônia? "Não muito, com certeza" opinou um honrado morador da Picada Berghan. Até certo ponto somos obrigados a lhe dar razão, pois, não temos a pretensão de escrever uma história das tribos selvlagens que antigamente  viviam por aqui. Para tanto não nos faltam apenas os nomes dos índios individualmente, quanto mais ainda, as informações e os registros escritos sobre eles. Desta última fonte de qualquer forma não há nada a esperar, porque os bugres não tinham escrita, na medida em que nos ocupamos com os selvagens que vagavam pela região pouco antes do povoamento.
Não passaria, porém, de um total equívoco se aceitássemos o ponto de vista que nada sabemos sobre os primitivos habitantes presentes aqui antigamente.
São principalmente três as fontes que nos fornecem informações sobre aqueles tempos. A História do Brasil é a primeira fonte, que deve ser vista como a continuação da portuguesa. De acordo com os dados de ambas viviam no Rio Grande do Sul, os assim chamados Tapes ou Guaranis meridionais. Foram em grande parte reunidos nesta região em missões dos velhos jesuítas, entre a Lagoa dos Patos, o Uruguai e o o Paraná. Contudo essas missões mais antigas, muitas apenas começadas, foram todas destruídas pelos portugueses e os caçadores de escravos nativos. Sobreviveram apenas grupos  esparsos, percorrendo em hordas isoladas espalhadas pelas florestas do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Foi com esses índios que, no começo da imigração, os pioneiros da mata virgem entraram esporadicamente em contato. Nas proximidades da Lagoa Mirim vagavam as tribos dos Minuanos. A Grande lagoa que tem ligação com o mar era o território dos Patos e tem deles o nome. A cultura dos intrusos, isto é, dos exterminadores vindos de São Paulo, fez com  que fragmentos deste povo de pescadores e outros, se refugiassem mais para o oeste e noroeste. Em parte foram assentados, mas em parte e, na sua maioria empurrados cada vez mais e, finalmente, exterminados, não antes de assaltos esporádicos aos colonos, fatos que ainda hoje sucedem no Paraná e em Santa Catarina.
Os entendidos não se acertam (194) sobre os nomes dos bugres. O mais acertado parece considerá-los  como mestiços de Tupis com Goianases, brancos, mulatos e negros. Tomando em consideração que, depois da expulsão dos jesuítas das reduções  e da supressão da Ordem que seguiu, em meados do século  passado, as tribos indígenas, semi civilizadas foram jogadas de volta para a barbárie. dificilmente se incorrerá em erro, incluindo seus sobreviventes nas hordas conhecidas como bugres. Basta isso sobre nomes e diferenças tribais. E o que informa a história sobre as condições em que viviam os Tupis meridionais ou Guaranis? Para começar falavam uma língua tupi ou guarani, uma língua talvez tão antiga quanto o Sânscrito ou o Hebraico. Alguns pesquisadores vêm parentesco com o Húngaro, o Turco e até do Egípcio antigo. No tempo do descobrimento do Brasil e, no primeiro século depois, não se encontravam entre eles caçadores exclusivos ou hordas nômades, isto é, tribos que viviam só da caça ou pesca e sem domicílio fixo. Todos eram sedentários pelo menos por alguns anos, comumente quatro e cultivavam  terra.
Sendo assim podem ser considerados como os verdadeiros precursores dos colonos. Cultivavam roças de mandioca, milho, feijão e tubérculos. Plantavam bananeiras e utilizavam o algodão arbustivo. Nem a indústria era-lhes de todo desconhecida. Preparavam a farinha de mandioca e os conquistadores e os povoadores europeus aprenderam deles a utilização da raiz de mandioca separando o  veneno. Normalmente várias famílias residiam juntas no mesmo local.
Nos livros de história lê-se muita coisa sobre os usos dos e costumes dos índios do Rio Grande do Sul, sobre utensílios domésticos, instrumentos, armas como flechas e arcos, instrumentos de música, recipientes de barro, urnas funerárias. Mas para não nos prolongarmos demais é preciso renunciar a relatos mais abrangentes. Além disso as descrições mencionadas referem-se menos aos bugres do tempo dos assentamentos aqui, do que aos índios do tempo do descobrimento do Brasil. Sobre os últimos a segunda fonte nos oferece melhores informações.
Para nos valermos dela não há necessidade de comprar livros e lê-los. Basta andar de olhos abertos e nos recordarmos do que aconteceu.  Quem é o colono que já não encontrou cacos de vasos de barro no mato, na roça ou debaixo da terra, ou até panelas bem conservadas. Por elas está em condições  de obter abundantes informações sobre os antigos habitantes de Bom Jardim. Donde vêm esses vasos e cacos? Certamente não foram moldados e queimados na Alemanha, mesmo que não haja como negar que algum espertalhão se tenha divertido confeccionado uma panelinha de bugre para, com ela, passar a perna em algum esperto perito em antigüidades. Os cacos procedem, com certeza, dos habitantes primitivos. Que isso nos abre o caminho para o conhecimento da pré história é evidente. Pois, para que utilizavam tais recipientes ? Para cozinhar, é óbvio, para preparar bebidas e para outras finalidades da vida doméstica. Permitem-nos um olhar para o seu quotidiano. Os recipientes menores serviam para cozinhar feijão ou milho e preparar bebidas alcoólicas. Num Kerb imaginário na  mata virgem dificilmente as coisas se passavam com tanta selvajaria quanto as coisas se passavam em 1896. Os recipientes maiores, com capacidade para até 30 baldes, dos quais o Pe. Eultgen remeteu um para o museu de São Leopoldo, eram chamados Iguaçaba e serviam como urnas funerárias. (195) As pernas eram amarradas contra o corpo e o cadáver sentado sobre um fundo chato e a tampa colocada por cima da cabeça.  Desta maneira o lado afilado ficava para cima. E foi nesta posição que foram encontrados com freqüência no mato. O estranho é que aqui não foram até agora encontrados restos de ossos. A explicação está no fato de que nas sepulturas normais a massa de músculos se desfaz e, nestas urnas porosas, também os ossos decompõem-se e evaporam. Outros objetos de arte são as pontas de flechas de silex e outros tipos de pedra. Semelhante explicação fornecem-nos os machados de guerra, os tacapes, encontrados também em grande número. Uma forma singular é aquela das argolas de pedra, munidas com uma aresta afiada. Alguns as consideram como como machados, outros como pesos em redes de pesca. Seja como for, de qualquer maneira revelam algo de novo a respeito dos usos e costumes dos índios.
Mais acima já mencionamos que os antigos habitantes da nossa região entraram e contato esporádico com os europeus. Desta forma explica-se a origem de utensílios de ferro, como foices para roçar e pontas de lança. Chegaram às mãos dos selvagens ou por roubo, ou por troca, valendo-se das peças de ferro conforme suas necessidades. Conclui-se daí que, paralelo à nobre estirpe  dos oleiros, os ferreiros estavam representados  entre eles. Muita coisa deve  ter entrado por herança de suas posses, na medida em que muitos índios originários das Missões destruídas, voltaram a viver nos ermos e carregaram consigo muitos objetos. Conhecida é a discussão de Karl von Koseritz a respeito de uma esfera de vidro colorido. Declarou-a, sem mais nem menos, como produto do comércio dos Fenícios. Mas sua afirmação encontrou uma contestação bem fundamentada. Perguntamos. Porque recorrer aos Fenícios tão distantes, quando  estações missionárias encontravam-se muito mais próximos a nós no tempo e no espaço? Mesmo se encontrássemos uma âncora de navio no mato, não teríamos necessidade de recorrer à frota de comércio dos Fenícios, porque há explicações muito mais simples. Porque a âncora não poderia ser de algum navio europeu naufragado na costa  e levado para o interior pelos selvagens. Aqui é também o lugar para falar sobre alguns achados lendários. No fundo de uma caverna em Bom Jardim, pretende-se ter encontrado uma inscrição numa língua desconhecida. Um exame mais detalhado mostrou tratar-se apenas de rachaduras e riscos que, de maneira alguma permitiam concluir por um autor inteligente. Afirma-se também que no mato na direção da Picada Café foi localizada uma estrada calçada e mais de 100 metros. O que há de verdadeiro não foi possível averiguar até o momento. Solicitamos ao leitor que, por acaso, souber algo de mais seguro sobre a questão, que nos dê acesso à informação.

A terceira fonte que fornece dados sobre os habitantes originais daqui, são os relatos dos primeiros colonos. Informam que na colônia de Schenckel e Ostjen, podiam-se observar até há poucos anos passados, os vestígios de uma roça de índios. Seria a confirmação da interpretação de que os índios, que vagavam por esta região, não eram apenas caçadores nômades, mas em parte agricultores. Já mencionamos na primeira parte encontros eventuais com os habitantes selvagens da terra, na vida de Jacob Jung da Picada Café. Entre nós os ataques foram muito mais raros do que, por ex., na Feliz. Contudo ocorreram alguns. Não poucos (196) chegaram a observar lugares onde os índios fizeram fogo, prova de que eles andavam nas redondezas. Na Picada 48 os bugres foram vistos algumas vezes, observando os colonos sem atacá-los.
O episódio engraçado que narramos no capítulo anterior, envolvendo Papim, Isaías Noll e o ferreiro Sparrenberg, ilustra bem o grande medo que os primeiros povoadores alemães tinham dos ataques por parte dos índios. Um outro fato engraçado aconteceu na Picada 48. Um colono brigara com a mulher e lhe aplicara um violento murro. Quando a mulher gritou de dor, como é hábito no belo sexo, escutaram-se inesperadamente palmas e  gritos de solidariedade, partindo do outro lado da encosta. Os brigões olharam para cima e deparam-se com os vultos nus dos bugres que, evidentemente se divertiam muito com a desavença.
Considerações finais
Chegando ao final da Crônica, queremos mostrar resumidamente, os motivos que nos levaram a empreender este trabalho e quais os pressupostos que orientaram a sua concretização.
Em primeiro lugar redigimos a Crônica por causa dos que nos são próximos. De qualquer forma é justo não deixar cair no esquecimento o começo da colonização alemã e, guardar a memória  dos homens que participaram  da fundação dela. É isto que nos propusemos com a presente história, na medida das nossas possibilidades. Saldamos assim uma dívida de justiça para com nossos conterrâneos, conforme o poeta: "A História do mundo é o tribunal do mundo." Uma afirmação que é confirmada tanto pela  História dos povos quanto pela História de um povo. O bem que os homens do passados praticaram, ainda brilha na noite escura, enquanto o mal e o desprezível que fizeram, lhes rende vergonha e desprezo. Desta forma constrói-se um modelo de vida e um exemplo de comportamento para os vivos, descrevendo as circunstâncias em que viveram os antepassados e os seus feitos que são o mais poderoso de todos os ensinamentos éticos. Finalmente disponibilizamos um material rico e confiável para uma futura História dos alemães no Rio grande do Sul. Contribuímos também reunindo as pedras de construção de uma possível grande obra para o futuro.
A Crônica foi escrita também em nome de Deus. A maior glória de Deus não foi o único objetivo. Mas o livro como um todo deve constituir-se de alguma forma numa apologia e numa justificativa da ação de Deus e um chamamento para para a confiança filial nos benignos desígnios do Onipotente.
Uma apologia e uma justificativa também no sentido de como os planos de Deus querem, sem dúvida alguma, o verdadeiro bem estar e a verdadeira grandeza do homem. Assim o prova a sorte dos nossos compatriotas na nova Pátria. Prova também que para seus escolhidos e aplaina o caminho da felicidade, num canto perdido do mundo, conforme a máxima: "Per crucem ad lucem - pela cruz à luz." Mais. A experiência dos últimos 70 anos alerta para termos confiança  no velho Deus, que agiu (197) com grande generosidade sobre os antepassados da geração atual. Porque, mesmo as provações pelas quais passaram os antigos e as hostilidades que tiveram que enfrentar, foram uma brilhante prova que não há sabedoria, não há política, não há esperteza nem poder, que tenha alguma chance  no combate contra Deus. Essas verdades que podem ser constatadas no dia a dia de cada indivíduo, impõe-se com mais convencimento, quando se acompanha a evolução de um povo como um todo e sobre ele se reflete num espaço de tempo maior.
Uma terceira razão porque escrevemos a Crônica, foi em atenção aos nossos irmãos alemães no além oceano. Como se sabe nos últimos tempos  foram interpostos grandes obstáculos para a imigração para os Estados Unidos. Temos convicção de que esses procedimentos de força, não redundarão em prejuízo para a Alemanha. Acontece que a América do Norte dispõe de momento de uma população suficiente. Um fluxo mais forte de elementos alemães para lá, em vez de vantagem para os emigrados, significaria uma não pequena desvantagem. A força de trabalho se diversificaria além da medida, acirrando a concorrência além dos limites. O próprio  imigrante pouco ou nada lucraria, porque pelo excesso de população, sem tardar manifestar-se-iam condições semelhantes àquelas que os forçaram a emigrar. No momento, portanto, que a América do Norte fecha as portas, o Sul abre as suas para a corrente imigratória que pressiona sem parar. Esse fato deve ser visto como uma grande sorte, pois, é conhecido  que nos estados do Sul do Brasil, as condições são muito mais favoráveis para o sucesso dos imigrantes, do que os Estados Unidos em parte superpovoados.
É verdade que na Alemanha dominava, até há pouco tempo, tanto entre o povo Quanto no governo, principalmente da Prússia, o preconceito contra a imigração para o Brasil. Mas desde então, impôs-se outra maneira de ver as coisas. Pelo final de agosto de 1896 o embaixador alemão no Rio de Janeiro, numa viagem ao Rio Grande do Sul, veio para observar pessoalmente  as condições sociais dos seus conterrâneos alemães. As impressões favoráveis que levou de lá, mais dia menos dias impressionarão positivamente o governo alemão em relação à imigração alemã para o Brasil. Estamos convencidos de que os relatórios do senhor Krauel farão com que os ventos nas altas esferas mudem de direção e comece a soprar uma brisa favorável para o Rio Grande do Sul. Esperamos que os adversários da imigração para este país reconheçam o seu erro e, tomando  conhecimento da situação social dos alemães aqui radicados, mudem para defensores da imigração.
Em primeiro lugar a imigração é um grande benefício para o próprio imigrante. A população alemã sente-se apertada nos limites do Império e se dispõe a liberar o excedente dos seus cidadãos  que na própria terra já não encontram condições para conquistar um futuro livre de preocupações. Os altos escalões do governo entregaram-se por anos a uma política colonial e agora dão-se conta da superpopulação do país e se mostram interessados em aliviá-la. Comparando agora o Camerum e a África Oriental e fazendo a pergunta, onde emigrantes alemães conquistam mais cedo a felicidade, a resposta positiva decide indiscutivelmente para o Sul do Brasil.
Em lugar do clima mortífero (198) da África, temos aqui uma zona moderada. Em vez de desertos estéreis, matas virgens sem fim, que permitem a sua transformação em terras aráveis. Enquanto na África o colonizador enfrenta epidemias e doenças, seca e solos estéreis, encontra no Rio Grande do Sul uma terra na qual, com um esforço  relativamente pequeno, encontra condições  para conquistar algo compensador. É óbvio que não deve esperar uma terra da "cucanha." Mas se estiver disposto a enfrentar o trabalho na agricultura, seus esforços encontrarão chão fértil. Qualquer conhecedor das nossas circunstâncias confirma que estes dados estão corretos, o pode ser deduzido também do comportamento do governo imperial. Porque então não chamar a atenção dos círculos interessados pela imigração, para o Rio Grande do Sul? Por acaso não se irá ao encontro de milhares de famílias sem propriedade? Muitos moradores da Eifel, do Hunsrück e da região do Mosela, vieram para cá nos últimos 60 anos e, quase sem exceção, alcançaram um nível de bem estar compensador. Porque não possibilitar, na medida do possível,  sorte igual às regiões superlotadas do país, incluindo o auxílio de viagem da parte do estado?
O Brasil oferece uma segunda vantagem aos imigrantes alemães. Os dois ou tês estados do sul da República (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) progrediram muito, quase de forma inacreditável, em conseqüência da imigração alemã. Em todas as regiões encontram-se comunidades florescentes. Inclusive uma dúzia de pequenas  cidades, desenvolveram-se naquelas áreas nos últimos anos e nelas a indústria e o comércio experimentou um vigoroso incremento. Pode-se afirmar, sem exagero, que essas regiões e localidades, podem ser chamadas de oásis do Sul do Brasil. Por essa razão os governos desses estados, abstraindo  de algumas  investidas chauvenistas, a posição é favorável e de satisfação em relação à imigração alemã. Oferecem com liberalidade extensas e férteis  áreas de terras aos imigrantes e lhes proporcionam  facilidades de todos os tipos. Ultimamente notou-se uma pequena alteração neste sentido, em razão da falta de dinheiro, fazendo com que a liberalidade sofresse uma leve retração. Mas de qualquer maneira, antes como depois, é assinalado para cada família de agricultores, mesmo se composta apenas pelo homem e a mulher, um considerável complexo de terras, comparável em extensão e fertilidade a uma boa propriedade de terra na Alemanha. Um colônia mede 100 braças  de frente e 1.000 de fundos, o que vem a somar 400.000 metros quadrados, medindo a braça 2,20 metros. Sem dúvida uma bela área de terra e um belo presente, pelo qual uma família pode aventurar-se  a travessar o oceano.
Até a Alemanha que libera os colonizadores e, eventualmente os apóia, deveria ter o maior interesse pois, tira uma série de vantagens do povoamento por alemães  dos nossos estados do sul. Queremos chamar a atenção para essas vantagens. A primeira delas consiste no estímulo à emigração das comunidades do interior superpovoadas e fazê-las experimentar uma arejamento e nova dinâmica. A assistência aos pobres é desonerada e presta-se um gade serviço à atividade agrícola do país, na medida em que se oferecem condições de desenvolvê-la  e escala maior. Uma segunda conseqüência consiste na diminuição da introdução aqui do socialismo. A uma multidão de elementos insatisfeitos, que se desgastam  inutilmente na luta pela existência, oferece-se uma nova perspectiva de vida, podendo assim empenhar suas energias num esforço frutífero. Será que esse aspecto é pouco determinante para um homem de estado, ou os esforços neste sentido são inúteis? Como terceira conseqüência temos a criação e o contínuo incremento de um mercado interno para a colocação dos produtos industriais alemães. Todos concordam que o mercado mundial está abarrotado e há falta de compradores. Neste caso a visão do estadista consiste em providenciar as condições (199) favoráveis ara que o Brasil importe em escala maior a produção industrial da velha pátria. Isto já aconteceu agora em larga escala mas, entende-se por si mesmo que, quanto mais alemães vierem e, quanto mais progredirem ano por ano, as condições de importação serão melhoradas. Esta questão merece tanto mais atenção, porque é de se esperar uma diminuição da imigração italiana, devido aos conflitos na Itália. É conhecido o enorme impulso que esta tomou nos últimos anos.
Só nos últimos  oito anos entraram 412.000 italianos no estado de São Paulo, representando desta forma quase um terço de toda a população de lá. Na capital do mesmo nome vivem de 70 a 80 mil italianos, quase a metade de todos os habitantes. Lá a maioria são artesãos e operários e, em menor número, agricultores. Mesmo assim levam as coisas a um ponto tal que se todos os italianos que lá se encontrassem e encerrassem de vez suas atividades, toda a vida social ficaria paralisada. Evidentemente aqui no Rio Grande do Sul os fatos transcorreram de modo diferente do que nos dois outros estados agrícolas. Sendo assim que venham de preferência emigrantes do contexto agrário. Com isso não quer-se afirmar que não venham artesãos e outros profissionais, mesmo que seja em menor número, para aqui encontrar o progresso. E que grande vantagem para a Alemanha verificar que, nos estados do sul, milhões dos seus  filhos encontram a melhor das acomodações. Como pôde constatar o embaixador alemão na sua recente viagem, os alemães  daqui permanecem alemães decididos, apesar da sua postura  de lealdade em relação à pátria de adoção. Cultivam com determinação e justificado orgulho o bem querer para com a velha pátria, a língua materna, a disciplina e os hábitos alemães.
Com o incentivo à imigração alemã para o Brasil também a nossa Igreja Católica tem muito a ganhar.
Naturalmente deveria haver interesse em trazer imigrantes alemães  católicos ou, no mínimo, cuidar-se para fundar assentamentos separados por confissão. Tal  exigência não tem nada de estranho quado se considera o conteúdo de uma circular emitida pelo presidente do Conselho de Inspeção da Companhia de Colonização Hanseática, em maio do ano que passou:
Hamburgo, 15 de maio de 1897
Senhor
Representante da Assembléia de Representantes
P.P. Cahemsky
Secretário da Associação São Rafael
Limburg a. d. Lahn

Mui Honrado Senhor


Depois que Va. Excia., senhor conde von und zu Hoensbroech e o advogado dr. Parsch, tiveram a bondade de concordar com os conselheiros da nossa Associação, confirmo com este que vosso desejo no que diz respeito a assentamentos separados para protestantes e católicos, deve ser tomado em consideração que, obviamente é da intenção da Companhia, que na medida em que um número suficiente estiver assentado no local, tanto protestantes quanto católicos, implantar  a estrutura paroquial e fundar escolas, na medida em que se contar com o número requerido de crianças  (40 - 100) por confissão, apoiar as escolas, tomando-se em consideração, de igual forma, ambas as confissões cristãs. Da mesma forma dispomo-nos com prazer a tomar em consideração, na medida do possível, o engajamento de funcionários de ambas as confissões, vindos da Europa.


Respeitosamente

ass. dr. Scharlach

Presidente do Conselho de Inspeção

Da Companhia Hanseática de Colonização Ltda.


Essa proposta é do maior significado principalmente para os casais jovens. Não se vêm obrigados, como agora é freqüente, fixar-se na terra dos pais ou sogros, mas encaminhar-se para regiões novas em companhia de gente da sua idade. Para eles não há de se temer tanto a penúria espiritual, como foi com seus pais e avós, no começo da colonização. No Seminário de Porto Alegre, cerca de 30 rapazes de origem alemã, preparam-se para a vocação espiritual. No Seminário Menor de Pareci, perto de São Sebastião, encontra-se a nova geração de seminaristas. Conclui-se que o número de sacerdotes cresça a cada ano e assim permita um maior cuidado  para com os novos povoadores. Nesse particular a multiplicação dos católicos no Rio Grande do Sul vem a significar uma vantagem para a Santa Igreja. Não cresce apenas numericamente como também em membros bem instruídos e bem atendidos. Espera-se com isso que o incremento da vida clerical entre os alemães não deixará de repercutir sobre os nossos correligionários brasileiros e, certamente, dependerá dele em primeiro lugar o progresso do Brasil

Deitando Raízes #44

Capítulo décimo
Retrato topográfico de Bom Jardim
As divisas, os números, os nomes locais
Não temos a pretensão de elaborar um mapa topográfico da nossas paróquia. De mais a mais uma iniciativa nesse sentido seria de todo em todo supérflua porque, como não poucos leitores sabem, está sendo desenhado um mapa topográfico parcial de São Leopoldo. Essa carta foi confeccionada com base nos trabalhos oficiais e nas minuciosas  medições de Ernesto Müzell e publicado pelo engenheiro Ad. Jahn. Na hipótese de a Crônica sair em forma de livro, será publicado um pequeno mapa como anexo, destacando a nossa paróquia numa escala aumentada.
De momento basta a descrição das partes mais expressivas da representação de Müzell. Futuramente, quem abe, será possível moldar um mapa em relevo da nossa comarca. Nele não são reproduzidas as perspectivas de profundidade, mas assinalado com precisão até que ponto já avançou o desmatamento da nossa região. Por agora permitimo-nos apenas dar uma rápida passada de olhos pelo mapa topográfico e oferecer ao leitor uma percepção a mais fiel possível da região.
O mapa de Müzell e Jahn orienta-se pelos quadrantes celestes e estabelece São Leopoldo como referência. Quase em linha reta para o norte, um pouco para o leste, situa-se Hamburgo Velho e, na mesma distância da linha perpendicular, partindo de São Leopoldo, localiza-se o Rincão das Ilhas. Sobre ambos estende-se, em ângulo reto em relação à base, a faixa da Costa da Serra. Nela alinham-se as colônias do sul para o norte. Traçando-se uma linha reta do sopé do morro Lehm, tem-se a base da Picada Bom Jardim. O pé do daquele morro  representa mais ou menos o centro da linha de referência.
A picada em si conta com 26 colônias (188) pela esquerda e 28 pela direita. Nem todos os lotes coloniais tem o mesmo tamanho, tato na largura quanto no comprimento. Mas todos são pequenos quadriláteros que se orientam do oeste para o leste. No meio passa a estrada quase em linha reta, a partir do morro Lehm até a ponta do Feitoria. Na colônia 15 da direita ergue-se a igreja protestante e na 13 à esquerda a igreja católica.
Partindo do morro Lehm, aproximadamente na primeira quarta parte, passa o divisor de águas. Os arroios do primeiro quarto orientam-se para o sul e desembocam no arroio Portão ou Mainzerbach e de lá no rio dos Sinos. Os cursos de água das três outras quartas partes, dirigem-se para o vale do Feitoria, em parte formando pântanos, em parte desembocando diretamente no rio.
 No outro lado do Feitoria estende-se em toda a sua largura a Picada Bom Jardim propriamente dita e a maior parte da Picada 48. São 31 colônias que têm no Feitoria a sua linha de referência e se orientam do sul para o norte. As demais 17 colônias situam-se mais para o oeste mas, da mesma forma, orientam-se de norte para o sul e têm o Feitoria  também como como linha de referência.


Partido da ponte do Buraco do Diabo o caminho segue entre os números 16 e 17 até a Picada Holanda.


O prolongamento das linhas limítrofes de Bom Jardim para o leste  e o oeste, chegam até as fronteiras da comprida Picada Café. Na medida do possível a estrada corre entre os lotes coloniais, 63 do lado esquerdo e 72 do lado direito. Como já se mencionou essas colônias orientam-se de leste a oeste. A Picada Café divide-se em três partes:  Bohnental, Schneiderstal e Holanda. Bohnental vai até o número 8, Schneiderstal até o 45 e Holanda até o número 77. De lá O Jeanettental representa a ponte para Dois Irmãos.


Para complementar os dados que registramos, vamos seguir, número por número, cada colônia da Picada Bom Jardim, indicando nas mãos de quem se encontraram desde o começo. Lamentavelmente não foi possível fazer o levantamento sem deixar dúvidas. Afinal já se passaram 70 anos desde a fundação. Soma-se a isso que nos primeiros tempos as propriedades passavam com rapidez de mão em mão. E, pro fim, não dispomos de livros básicos de registros. Além disto quase todas as testemunhas confiáveis já não se encontram mais entre nós. Os dados que apresentamos baseiam-se nas anotações do velho Fingerhannes e de Johann Adam Noschang. No essencial os dois concordam, como aliás não se esperaria coisa diferente. Divergem apenas nos detalhes. Agradecemos com antecipação se um ou outro leitor nos puder fornecer informações ou colaborar com correções.


No lado direito do caminho para o viajante que vem de São Leopoldo, alinhavam-se 28 colônias. No número 1 morava Ernst Robert originário de Hannover, sob todos os aspecto um homem decente. Não mentia, não enganava e não zombava. Mais tarde a colônia passou para as mãos de Ritter.


No número 2 morava Jacob Blauth, (189) o patriarca de numerosa descendência do mesmo nome. Jacob e Nicolaus eram seus filhos. O último mora ainda hoje na serraria. O pai que viajou para o Brasil na companhia de Peter Noschang, é lembrado como um homem bom e tranqüilo.


A colônia de número 3 fora dada a um Schorn ou Schahn. Seu genro, um Rohr, mora em Cruz Alta. Uma outra filha casou-se com Peter Frey. Uma parte da colônia foi adquirida por Jacob Blauth.


Na colônia de número 4 vivia Johann Philipp Lenk, um colono decidido e rude, originário do Palatinado. Alguém que lhe pisava nos pés levava um sopapo, testemunha um contemporâneo. Foi ele quem emprestou cinco mil réis à família Noschang, possibilitando-lhe a viagem para cá. Johann tinha dois filhos Fritz e Hannphilipp.


A colônia de número 5 pertencia a um certo Hilbert, um soldado desmobilizado do imperador D. Pdrro I, casado com uma filha de Konrado Schäfer.


A colônia de número 6 era propriedade do Schäfer que acabamos de nomear. Pelo que se sabe seus descendentes moram no Mundo Novo.


A colônia de número 7 era propriedade de Appel, um homem  trabalhador.


A colônia de número 8 pertencia a Muskoph, um bávaro muito trabalhador. Na sua terra mora de momento o carpinteiro Johannes Koch.


Na colônia de número 9 fixou-se  Peter Renner, sobre o qual não temos outras informações. Johannes Finger, o Fingerhannes ao referir ao número 9 fala num tal Simonis que fez em pedaços a espingarda do pai. Não obtivemos nenhuma informação sobre ele.


Na colônia de número 10 trabalhava Husten que não ficou muito tempo. Vendeu a propriedade e mudou-se para outro lugar.


A colônia de número 11 coube a um certo Eberts, que se mudou para o Mundo Novo.


A colônia de número 12, passou, conforme  relato confiável, das mãos de um certo  "carpinteiro" Wenz, para a família Mossmann.


A colônia de número 13 foi entregue a um Wolfarth que vendeu a metade da propriedade para Johannes Göttems. A ele sucedeu  Scriba.


Abraham Cassel foi o dono da colônia de número 14. Dizem que foi um homem rápido e rude e, ao mesmo tempo, de bom coração. Seus filhos foram Abraham e Peter, este nascido no Brasil. Nosso informante sobre os primeiros tempos acrescentou a observação: Não sabia que contávamos com colonos maus e inúteis.


Na colônia de número 15 moravam um Klein e um Fuchs.


Na colônia de número 16 encontramos Colland, um inglês. Parece tratar-se do Colland que integrava a Companhia Alemã e, por causa das muitas dívidas quis matar-se.


Johann Kochenburger recebeu a colônia de (90) número 17. Sucedeu-o  Fuchs, um viuvo pai de um rapaz. De Kochenburger conta-se que bateu na mulher no Rio de Janeiro que tão apavorada caiu morta. Sua filha Lene casou-s com Carl Wilke.


A Nathanael  Weber, um dos melhores colonos coube a colônia de número 18. Ele e os Blauth eram as pessoas mais importantes. Jacob Weber na Capivara é seu filho.


Weirich comprou a colônia de número 19. Georg Gehring recebeu a metade dela e Jacob Dilly a quarta parte.


Johann Lauermann, um homem decente, era proprietário da colônia de número 20.


No número 21 morava, pelo que consta, Peter Frik. Adquirira a colônia por uma garrafa de cachaça. Mais tarde fixou-se nela um tal Clos e, por fim, um Fröhlich.


A colônia de número 21 pertencia a Peter Anton Noschang, natural do Palatinado, pai de Johann Adam, conhecido em muito lugares pelo nome sem graça de Moisés. Peter Anton era um homem esquentado, pelo menos dentro da sua casa. Castigava os filhos com o primeiro cabo de vassoura  ou qualquer outro meio à mão. Com seus vizinhos, ao contrário, vivia em paz. Vendeu parte das suas propriedades  para Werner, Allgayer, Kochenburger, Schenkel e Dilly.


A colônia de número 23 pertencia a Jacob Schenkel do qual consta ter sido um bom sujeito.


Na colônia de número 24  vivia o solteirão Müller, um soldado solitário, com um apelido nada simpático. Sucederam-no Lerner e Röse.


A colônia de número 25 pertenceu a um certo Back, sucedido por Bokorni.


Käfer e Reis ocupavam a colônia de número 26.


A colônia de número 27, no Buraco do Diabo, foi começada por um Schneider e Lahn e a de número 28 por um certo Rehbruch.


No lado esquerdo os números sucederam-se como segue.


O velho viuvo Jung, um homem fino e decidido, sogro de Lautert, ocupava a colônia de número 1. O Lautert de Taquari pode ser seu neto.


O primeiro dono da colônia de número 2 foi Heinrich Röse. O segundo dono foi Berg e mais tarde Schallenberg.


Heinrich Hein recebeu a colônia de número 3. Mais tarde construiu uma capela na Soledade. Sucederam-no Peter Fries, que morava  na colônia 21 do lado direito.


Na colônia 4 sucederam-se Freitag e Hilbert.


Na colônia 5 residia Nicolaus Dietrich, um alfaiate que pertencia à parentela de  von Mühlen. Sua moradia fica distante do caminho.


A colônia de número 6 (191) pertencia a Hubert Röse, avô de Wilhelm.


Datsch, marceneiro e sogro de Jacob Spindler, recebeu a colônia de número 7. A bebida rendeu-lhe um apelido. Não tinha nada a ver com a famíla Datsch da Picada  48.


A colônia de número 8 pertenceu a Philipp Schneider, a de número 9 a um certo Lorenz, há muito falecido.


A colônia de número 10 coube à viúva Sturm, cujo marido faleceu na viagem. Casou com Notzki e, mais tarde, com Michael Kern.


Theobald Diewel, um homem moreno e alfaiate de profissão,  recebeu a colônia de número 11. Casou-se mais tarde com uma Speckdietrich e é o pai de Susanna Finger.


A colônia de número 12 pertenceu ao pai do nosso Fingerharnnes. Dele sabemos apenas que tivera muitos filhos.


Joseph Wahl, um construtor de moinhs, recebeu a colônia de número 13. Construiu um moinho em companhia com Roberti, assumido mais tarde por Joca (?) da Silva.


Scheid foi contemplado com a colônia de número 14 em companhia dos filhos Peter, Jacob, Conrad, Nicolaus e a filha que casou com um Piermann, antigo soldado  do imperador D. Pedo I. Pohren mora de momento no local.


A colônia de número 15 passou, numa data não conhecida, das mãos do curtidor Bitts para as mão de Johann Dilly. Dele se afirma que gostava de ler.


Lavalt, um homem reto que não se descuidava das próprias vantagens, foi contemplado com a colônia de número 16. Não era dado a muita cerimônia e sua conversa era curta: sim e não. Dava especial atenção à pontualidade. Se alguém lhe pedia dinheiro emprestado, a devolução tinha que acontecer no dia marcado. "O senhor deveria ter-se prevenido, dizia e marcava um segundo prazo, que não poderia ser alterado. Caso não fosse cumprido, estava tudo terminado. Casou-se com a viúva Glossmann, que tinha vários filhos do primeiro casamento: Farrapengreth, mulher de Peter Kasper, Hans Adam e Hannikel Glossmann, também chamado Lavalt, morto por Morschel. O próprio Lavalt tinha dois filhos: Gertrud, mulher de Johann Herzer e Christian. Deste último ninguém sabe onde foi parar. Lavalt tinha outros filhos de um segundo casamento.


Na colônia de número 17 morava Sparrenberg, um homem bom.


Na colônia  de número 18 morava Löb, representante da polícia  no acampamento dos imigrantes na Feitoria.


Na colônia de número 19 morava Jakob Eckert, um homem trabalhador e religioso.


Christian Killian, homem trabalhador era o dono da colônia de número 20.


Conrad  Biehler, (192) homem decidido e esquentado, mas justo e confiável, ocupava a colônia de número 21. Não era fácil convencê-lo. Quem discutia com ele tinha que cuidar-se para não levar algumas pancadas pois o Conrad era forte e rápido.


Paul Kasper era o dono da colônia 22. Seu filho casou-se com a "Farrappengreth."


Isaías Noll morava na colônia de número 23. Era um homem quieto e trabalhador. Não fez mal a ninguém. Na sua cabana realizava-se o culto e cantavas-se com vigor. Primeiro o culto era realizado na cabana de Jacob Eckert. Entre as vozes mais salientes estava a de Adam Noschang. Ao culto divino leigo seguiam conversas que não degeneravam em fofocas. Entre as mulheres cantoras distinguiam-se as  da família Unfried.


Na colônia de número 24 morava o Tottelmüller. O nome vinha do fato de ele gaguejar.


A colônia de número 26 pertencia ao velho soldado Schmolling, um alfaiate que vendeu a terra para Daniel Schneider e mais tarde alistou-se na Companhia Alemã.


A colônia de número 27 coube a Peter Frey, sogro de Sauters, no caminho do Morro do Diabo.


Um a um as diversas localidades, elevações, morros ou estradas, foram recebendo nomes. O morro que fazia a divisa entre da Picada Bom Jardim, chamava-se Lehmberg. O trecho superior da estrada até o número 8, era conhecido como "Steinweg."


De lá até o número 10 era a "Blanke Strasse" desembocando na "Jacobstrasse", que levava este nome porque neste trecho moravam vários  "Jacob": Jacob Schenkel, com o filho do mesmo nome; Jacob Eckert; Jacob Paul Kasper. A "Jacobstrasse" segue até o Buraco do Diabo. Este último nome foi dado ao local por Peer Adam Noschang, por causa das encostas íngremes. Ninguém, descia sem agarrar-se  aos vimes silvestres. "Bohnenthal" remonta à família Bohnenberger. Abraham, o pariarca da mesma, tinha vários filhos: Fritz, Abraham, Nicolaus e Peter. Embora mantivesses essa colônia como sede do clã, abriram várias outras que depois venderam, uma por 12 mil réis, uma outra por 10. Que o fizessem sem serem incomodados, explica-se pelas circunstâncias da época, quando o conceito de propriedade não era levado tão a sério pois, havia terras em abundância e pouca gente.


Schneidersthal deve o nome à família Schneider que recebera três colônias no local. Os herdeiros foram três irmãos: Peter, Hannes e Daniel.


A mulher de Peter Schneider era filha de Jacob Kehl, falecido há tempo. Johannes ainda vivia mas sem herdeiros. Daniel também está vivo e alegra-se com um grande número de filhos e netos.


As elevações normalmente não recebiam nomes, com a exceção do "Affenberg, na divisa de Dois Irmãos com Holanda, por causa dos muitos "quadrimãos" que se recolheram para o topo, depois de derrubado o mato e, lá do alto, realizavam seus concertos.


O "Königsberg", (193) na entrada de Dois Irmãos, foi assim denominado por causa do colono König. Antes chamava-se  "Hatzberg" por causa do colono Hatz.


O antigo nome da colônia foi "Berghanerschneiss. Perguntamos  quem foi Berghan? Antes de responder com segurança queremos acrescentar alguma coisa. O mecklenburguense Berghan morava aperto de Diefenthäler (Simonis). Seus filhos eram Wilhelm, Heinrich e Philipp. Este último casou com uma Allgayer, Heinrich com uma filha de Peter Fries, Wilhelm foi para o interior e nunca mais voltou.