Deitando Raízes #45

Os primeiros habitantes de Bom Jardim
É fácil de  entender o que se petende com essa designação. Falamos dos assim chamados selvagens, os índios, chamados também de bugres. Mas o que a Crônica  tem o que relatar a respeito dos primitivos habitantes da colônia? "Não muito, com certeza" opinou um honrado morador da Picada Berghan. Até certo ponto somos obrigados a lhe dar razão, pois, não temos a pretensão de escrever uma história das tribos selvlagens que antigamente  viviam por aqui. Para tanto não nos faltam apenas os nomes dos índios individualmente, quanto mais ainda, as informações e os registros escritos sobre eles. Desta última fonte de qualquer forma não há nada a esperar, porque os bugres não tinham escrita, na medida em que nos ocupamos com os selvagens que vagavam pela região pouco antes do povoamento.
Não passaria, porém, de um total equívoco se aceitássemos o ponto de vista que nada sabemos sobre os primitivos habitantes presentes aqui antigamente.
São principalmente três as fontes que nos fornecem informações sobre aqueles tempos. A História do Brasil é a primeira fonte, que deve ser vista como a continuação da portuguesa. De acordo com os dados de ambas viviam no Rio Grande do Sul, os assim chamados Tapes ou Guaranis meridionais. Foram em grande parte reunidos nesta região em missões dos velhos jesuítas, entre a Lagoa dos Patos, o Uruguai e o o Paraná. Contudo essas missões mais antigas, muitas apenas começadas, foram todas destruídas pelos portugueses e os caçadores de escravos nativos. Sobreviveram apenas grupos  esparsos, percorrendo em hordas isoladas espalhadas pelas florestas do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Foi com esses índios que, no começo da imigração, os pioneiros da mata virgem entraram esporadicamente em contato. Nas proximidades da Lagoa Mirim vagavam as tribos dos Minuanos. A Grande lagoa que tem ligação com o mar era o território dos Patos e tem deles o nome. A cultura dos intrusos, isto é, dos exterminadores vindos de São Paulo, fez com  que fragmentos deste povo de pescadores e outros, se refugiassem mais para o oeste e noroeste. Em parte foram assentados, mas em parte e, na sua maioria empurrados cada vez mais e, finalmente, exterminados, não antes de assaltos esporádicos aos colonos, fatos que ainda hoje sucedem no Paraná e em Santa Catarina.
Os entendidos não se acertam (194) sobre os nomes dos bugres. O mais acertado parece considerá-los  como mestiços de Tupis com Goianases, brancos, mulatos e negros. Tomando em consideração que, depois da expulsão dos jesuítas das reduções  e da supressão da Ordem que seguiu, em meados do século  passado, as tribos indígenas, semi civilizadas foram jogadas de volta para a barbárie. dificilmente se incorrerá em erro, incluindo seus sobreviventes nas hordas conhecidas como bugres. Basta isso sobre nomes e diferenças tribais. E o que informa a história sobre as condições em que viviam os Tupis meridionais ou Guaranis? Para começar falavam uma língua tupi ou guarani, uma língua talvez tão antiga quanto o Sânscrito ou o Hebraico. Alguns pesquisadores vêm parentesco com o Húngaro, o Turco e até do Egípcio antigo. No tempo do descobrimento do Brasil e, no primeiro século depois, não se encontravam entre eles caçadores exclusivos ou hordas nômades, isto é, tribos que viviam só da caça ou pesca e sem domicílio fixo. Todos eram sedentários pelo menos por alguns anos, comumente quatro e cultivavam  terra.
Sendo assim podem ser considerados como os verdadeiros precursores dos colonos. Cultivavam roças de mandioca, milho, feijão e tubérculos. Plantavam bananeiras e utilizavam o algodão arbustivo. Nem a indústria era-lhes de todo desconhecida. Preparavam a farinha de mandioca e os conquistadores e os povoadores europeus aprenderam deles a utilização da raiz de mandioca separando o  veneno. Normalmente várias famílias residiam juntas no mesmo local.
Nos livros de história lê-se muita coisa sobre os usos dos e costumes dos índios do Rio Grande do Sul, sobre utensílios domésticos, instrumentos, armas como flechas e arcos, instrumentos de música, recipientes de barro, urnas funerárias. Mas para não nos prolongarmos demais é preciso renunciar a relatos mais abrangentes. Além disso as descrições mencionadas referem-se menos aos bugres do tempo dos assentamentos aqui, do que aos índios do tempo do descobrimento do Brasil. Sobre os últimos a segunda fonte nos oferece melhores informações.
Para nos valermos dela não há necessidade de comprar livros e lê-los. Basta andar de olhos abertos e nos recordarmos do que aconteceu.  Quem é o colono que já não encontrou cacos de vasos de barro no mato, na roça ou debaixo da terra, ou até panelas bem conservadas. Por elas está em condições  de obter abundantes informações sobre os antigos habitantes de Bom Jardim. Donde vêm esses vasos e cacos? Certamente não foram moldados e queimados na Alemanha, mesmo que não haja como negar que algum espertalhão se tenha divertido confeccionado uma panelinha de bugre para, com ela, passar a perna em algum esperto perito em antigüidades. Os cacos procedem, com certeza, dos habitantes primitivos. Que isso nos abre o caminho para o conhecimento da pré história é evidente. Pois, para que utilizavam tais recipientes ? Para cozinhar, é óbvio, para preparar bebidas e para outras finalidades da vida doméstica. Permitem-nos um olhar para o seu quotidiano. Os recipientes menores serviam para cozinhar feijão ou milho e preparar bebidas alcoólicas. Num Kerb imaginário na  mata virgem dificilmente as coisas se passavam com tanta selvajaria quanto as coisas se passavam em 1896. Os recipientes maiores, com capacidade para até 30 baldes, dos quais o Pe. Eultgen remeteu um para o museu de São Leopoldo, eram chamados Iguaçaba e serviam como urnas funerárias. (195) As pernas eram amarradas contra o corpo e o cadáver sentado sobre um fundo chato e a tampa colocada por cima da cabeça.  Desta maneira o lado afilado ficava para cima. E foi nesta posição que foram encontrados com freqüência no mato. O estranho é que aqui não foram até agora encontrados restos de ossos. A explicação está no fato de que nas sepulturas normais a massa de músculos se desfaz e, nestas urnas porosas, também os ossos decompõem-se e evaporam. Outros objetos de arte são as pontas de flechas de silex e outros tipos de pedra. Semelhante explicação fornecem-nos os machados de guerra, os tacapes, encontrados também em grande número. Uma forma singular é aquela das argolas de pedra, munidas com uma aresta afiada. Alguns as consideram como como machados, outros como pesos em redes de pesca. Seja como for, de qualquer maneira revelam algo de novo a respeito dos usos e costumes dos índios.
Mais acima já mencionamos que os antigos habitantes da nossa região entraram e contato esporádico com os europeus. Desta forma explica-se a origem de utensílios de ferro, como foices para roçar e pontas de lança. Chegaram às mãos dos selvagens ou por roubo, ou por troca, valendo-se das peças de ferro conforme suas necessidades. Conclui-se daí que, paralelo à nobre estirpe  dos oleiros, os ferreiros estavam representados  entre eles. Muita coisa deve  ter entrado por herança de suas posses, na medida em que muitos índios originários das Missões destruídas, voltaram a viver nos ermos e carregaram consigo muitos objetos. Conhecida é a discussão de Karl von Koseritz a respeito de uma esfera de vidro colorido. Declarou-a, sem mais nem menos, como produto do comércio dos Fenícios. Mas sua afirmação encontrou uma contestação bem fundamentada. Perguntamos. Porque recorrer aos Fenícios tão distantes, quando  estações missionárias encontravam-se muito mais próximos a nós no tempo e no espaço? Mesmo se encontrássemos uma âncora de navio no mato, não teríamos necessidade de recorrer à frota de comércio dos Fenícios, porque há explicações muito mais simples. Porque a âncora não poderia ser de algum navio europeu naufragado na costa  e levado para o interior pelos selvagens. Aqui é também o lugar para falar sobre alguns achados lendários. No fundo de uma caverna em Bom Jardim, pretende-se ter encontrado uma inscrição numa língua desconhecida. Um exame mais detalhado mostrou tratar-se apenas de rachaduras e riscos que, de maneira alguma permitiam concluir por um autor inteligente. Afirma-se também que no mato na direção da Picada Café foi localizada uma estrada calçada e mais de 100 metros. O que há de verdadeiro não foi possível averiguar até o momento. Solicitamos ao leitor que, por acaso, souber algo de mais seguro sobre a questão, que nos dê acesso à informação.

A terceira fonte que fornece dados sobre os habitantes originais daqui, são os relatos dos primeiros colonos. Informam que na colônia de Schenckel e Ostjen, podiam-se observar até há poucos anos passados, os vestígios de uma roça de índios. Seria a confirmação da interpretação de que os índios, que vagavam por esta região, não eram apenas caçadores nômades, mas em parte agricultores. Já mencionamos na primeira parte encontros eventuais com os habitantes selvagens da terra, na vida de Jacob Jung da Picada Café. Entre nós os ataques foram muito mais raros do que, por ex., na Feliz. Contudo ocorreram alguns. Não poucos (196) chegaram a observar lugares onde os índios fizeram fogo, prova de que eles andavam nas redondezas. Na Picada 48 os bugres foram vistos algumas vezes, observando os colonos sem atacá-los.
O episódio engraçado que narramos no capítulo anterior, envolvendo Papim, Isaías Noll e o ferreiro Sparrenberg, ilustra bem o grande medo que os primeiros povoadores alemães tinham dos ataques por parte dos índios. Um outro fato engraçado aconteceu na Picada 48. Um colono brigara com a mulher e lhe aplicara um violento murro. Quando a mulher gritou de dor, como é hábito no belo sexo, escutaram-se inesperadamente palmas e  gritos de solidariedade, partindo do outro lado da encosta. Os brigões olharam para cima e deparam-se com os vultos nus dos bugres que, evidentemente se divertiam muito com a desavença.
Considerações finais
Chegando ao final da Crônica, queremos mostrar resumidamente, os motivos que nos levaram a empreender este trabalho e quais os pressupostos que orientaram a sua concretização.
Em primeiro lugar redigimos a Crônica por causa dos que nos são próximos. De qualquer forma é justo não deixar cair no esquecimento o começo da colonização alemã e, guardar a memória  dos homens que participaram  da fundação dela. É isto que nos propusemos com a presente história, na medida das nossas possibilidades. Saldamos assim uma dívida de justiça para com nossos conterrâneos, conforme o poeta: "A História do mundo é o tribunal do mundo." Uma afirmação que é confirmada tanto pela  História dos povos quanto pela História de um povo. O bem que os homens do passados praticaram, ainda brilha na noite escura, enquanto o mal e o desprezível que fizeram, lhes rende vergonha e desprezo. Desta forma constrói-se um modelo de vida e um exemplo de comportamento para os vivos, descrevendo as circunstâncias em que viveram os antepassados e os seus feitos que são o mais poderoso de todos os ensinamentos éticos. Finalmente disponibilizamos um material rico e confiável para uma futura História dos alemães no Rio grande do Sul. Contribuímos também reunindo as pedras de construção de uma possível grande obra para o futuro.
A Crônica foi escrita também em nome de Deus. A maior glória de Deus não foi o único objetivo. Mas o livro como um todo deve constituir-se de alguma forma numa apologia e numa justificativa da ação de Deus e um chamamento para para a confiança filial nos benignos desígnios do Onipotente.
Uma apologia e uma justificativa também no sentido de como os planos de Deus querem, sem dúvida alguma, o verdadeiro bem estar e a verdadeira grandeza do homem. Assim o prova a sorte dos nossos compatriotas na nova Pátria. Prova também que para seus escolhidos e aplaina o caminho da felicidade, num canto perdido do mundo, conforme a máxima: "Per crucem ad lucem - pela cruz à luz." Mais. A experiência dos últimos 70 anos alerta para termos confiança  no velho Deus, que agiu (197) com grande generosidade sobre os antepassados da geração atual. Porque, mesmo as provações pelas quais passaram os antigos e as hostilidades que tiveram que enfrentar, foram uma brilhante prova que não há sabedoria, não há política, não há esperteza nem poder, que tenha alguma chance  no combate contra Deus. Essas verdades que podem ser constatadas no dia a dia de cada indivíduo, impõe-se com mais convencimento, quando se acompanha a evolução de um povo como um todo e sobre ele se reflete num espaço de tempo maior.
Uma terceira razão porque escrevemos a Crônica, foi em atenção aos nossos irmãos alemães no além oceano. Como se sabe nos últimos tempos  foram interpostos grandes obstáculos para a imigração para os Estados Unidos. Temos convicção de que esses procedimentos de força, não redundarão em prejuízo para a Alemanha. Acontece que a América do Norte dispõe de momento de uma população suficiente. Um fluxo mais forte de elementos alemães para lá, em vez de vantagem para os emigrados, significaria uma não pequena desvantagem. A força de trabalho se diversificaria além da medida, acirrando a concorrência além dos limites. O próprio  imigrante pouco ou nada lucraria, porque pelo excesso de população, sem tardar manifestar-se-iam condições semelhantes àquelas que os forçaram a emigrar. No momento, portanto, que a América do Norte fecha as portas, o Sul abre as suas para a corrente imigratória que pressiona sem parar. Esse fato deve ser visto como uma grande sorte, pois, é conhecido  que nos estados do Sul do Brasil, as condições são muito mais favoráveis para o sucesso dos imigrantes, do que os Estados Unidos em parte superpovoados.
É verdade que na Alemanha dominava, até há pouco tempo, tanto entre o povo Quanto no governo, principalmente da Prússia, o preconceito contra a imigração para o Brasil. Mas desde então, impôs-se outra maneira de ver as coisas. Pelo final de agosto de 1896 o embaixador alemão no Rio de Janeiro, numa viagem ao Rio Grande do Sul, veio para observar pessoalmente  as condições sociais dos seus conterrâneos alemães. As impressões favoráveis que levou de lá, mais dia menos dias impressionarão positivamente o governo alemão em relação à imigração alemã para o Brasil. Estamos convencidos de que os relatórios do senhor Krauel farão com que os ventos nas altas esferas mudem de direção e comece a soprar uma brisa favorável para o Rio Grande do Sul. Esperamos que os adversários da imigração para este país reconheçam o seu erro e, tomando  conhecimento da situação social dos alemães aqui radicados, mudem para defensores da imigração.
Em primeiro lugar a imigração é um grande benefício para o próprio imigrante. A população alemã sente-se apertada nos limites do Império e se dispõe a liberar o excedente dos seus cidadãos  que na própria terra já não encontram condições para conquistar um futuro livre de preocupações. Os altos escalões do governo entregaram-se por anos a uma política colonial e agora dão-se conta da superpopulação do país e se mostram interessados em aliviá-la. Comparando agora o Camerum e a África Oriental e fazendo a pergunta, onde emigrantes alemães conquistam mais cedo a felicidade, a resposta positiva decide indiscutivelmente para o Sul do Brasil.
Em lugar do clima mortífero (198) da África, temos aqui uma zona moderada. Em vez de desertos estéreis, matas virgens sem fim, que permitem a sua transformação em terras aráveis. Enquanto na África o colonizador enfrenta epidemias e doenças, seca e solos estéreis, encontra no Rio Grande do Sul uma terra na qual, com um esforço  relativamente pequeno, encontra condições  para conquistar algo compensador. É óbvio que não deve esperar uma terra da "cucanha." Mas se estiver disposto a enfrentar o trabalho na agricultura, seus esforços encontrarão chão fértil. Qualquer conhecedor das nossas circunstâncias confirma que estes dados estão corretos, o pode ser deduzido também do comportamento do governo imperial. Porque então não chamar a atenção dos círculos interessados pela imigração, para o Rio Grande do Sul? Por acaso não se irá ao encontro de milhares de famílias sem propriedade? Muitos moradores da Eifel, do Hunsrück e da região do Mosela, vieram para cá nos últimos 60 anos e, quase sem exceção, alcançaram um nível de bem estar compensador. Porque não possibilitar, na medida do possível,  sorte igual às regiões superlotadas do país, incluindo o auxílio de viagem da parte do estado?
O Brasil oferece uma segunda vantagem aos imigrantes alemães. Os dois ou tês estados do sul da República (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) progrediram muito, quase de forma inacreditável, em conseqüência da imigração alemã. Em todas as regiões encontram-se comunidades florescentes. Inclusive uma dúzia de pequenas  cidades, desenvolveram-se naquelas áreas nos últimos anos e nelas a indústria e o comércio experimentou um vigoroso incremento. Pode-se afirmar, sem exagero, que essas regiões e localidades, podem ser chamadas de oásis do Sul do Brasil. Por essa razão os governos desses estados, abstraindo  de algumas  investidas chauvenistas, a posição é favorável e de satisfação em relação à imigração alemã. Oferecem com liberalidade extensas e férteis  áreas de terras aos imigrantes e lhes proporcionam  facilidades de todos os tipos. Ultimamente notou-se uma pequena alteração neste sentido, em razão da falta de dinheiro, fazendo com que a liberalidade sofresse uma leve retração. Mas de qualquer maneira, antes como depois, é assinalado para cada família de agricultores, mesmo se composta apenas pelo homem e a mulher, um considerável complexo de terras, comparável em extensão e fertilidade a uma boa propriedade de terra na Alemanha. Um colônia mede 100 braças  de frente e 1.000 de fundos, o que vem a somar 400.000 metros quadrados, medindo a braça 2,20 metros. Sem dúvida uma bela área de terra e um belo presente, pelo qual uma família pode aventurar-se  a travessar o oceano.
Até a Alemanha que libera os colonizadores e, eventualmente os apóia, deveria ter o maior interesse pois, tira uma série de vantagens do povoamento por alemães  dos nossos estados do sul. Queremos chamar a atenção para essas vantagens. A primeira delas consiste no estímulo à emigração das comunidades do interior superpovoadas e fazê-las experimentar uma arejamento e nova dinâmica. A assistência aos pobres é desonerada e presta-se um gade serviço à atividade agrícola do país, na medida em que se oferecem condições de desenvolvê-la  e escala maior. Uma segunda conseqüência consiste na diminuição da introdução aqui do socialismo. A uma multidão de elementos insatisfeitos, que se desgastam  inutilmente na luta pela existência, oferece-se uma nova perspectiva de vida, podendo assim empenhar suas energias num esforço frutífero. Será que esse aspecto é pouco determinante para um homem de estado, ou os esforços neste sentido são inúteis? Como terceira conseqüência temos a criação e o contínuo incremento de um mercado interno para a colocação dos produtos industriais alemães. Todos concordam que o mercado mundial está abarrotado e há falta de compradores. Neste caso a visão do estadista consiste em providenciar as condições (199) favoráveis ara que o Brasil importe em escala maior a produção industrial da velha pátria. Isto já aconteceu agora em larga escala mas, entende-se por si mesmo que, quanto mais alemães vierem e, quanto mais progredirem ano por ano, as condições de importação serão melhoradas. Esta questão merece tanto mais atenção, porque é de se esperar uma diminuição da imigração italiana, devido aos conflitos na Itália. É conhecido o enorme impulso que esta tomou nos últimos anos.
Só nos últimos  oito anos entraram 412.000 italianos no estado de São Paulo, representando desta forma quase um terço de toda a população de lá. Na capital do mesmo nome vivem de 70 a 80 mil italianos, quase a metade de todos os habitantes. Lá a maioria são artesãos e operários e, em menor número, agricultores. Mesmo assim levam as coisas a um ponto tal que se todos os italianos que lá se encontrassem e encerrassem de vez suas atividades, toda a vida social ficaria paralisada. Evidentemente aqui no Rio Grande do Sul os fatos transcorreram de modo diferente do que nos dois outros estados agrícolas. Sendo assim que venham de preferência emigrantes do contexto agrário. Com isso não quer-se afirmar que não venham artesãos e outros profissionais, mesmo que seja em menor número, para aqui encontrar o progresso. E que grande vantagem para a Alemanha verificar que, nos estados do sul, milhões dos seus  filhos encontram a melhor das acomodações. Como pôde constatar o embaixador alemão na sua recente viagem, os alemães  daqui permanecem alemães decididos, apesar da sua postura  de lealdade em relação à pátria de adoção. Cultivam com determinação e justificado orgulho o bem querer para com a velha pátria, a língua materna, a disciplina e os hábitos alemães.
Com o incentivo à imigração alemã para o Brasil também a nossa Igreja Católica tem muito a ganhar.
Naturalmente deveria haver interesse em trazer imigrantes alemães  católicos ou, no mínimo, cuidar-se para fundar assentamentos separados por confissão. Tal  exigência não tem nada de estranho quado se considera o conteúdo de uma circular emitida pelo presidente do Conselho de Inspeção da Companhia de Colonização Hanseática, em maio do ano que passou:
Hamburgo, 15 de maio de 1897
Senhor
Representante da Assembléia de Representantes
P.P. Cahemsky
Secretário da Associação São Rafael
Limburg a. d. Lahn

Mui Honrado Senhor


Depois que Va. Excia., senhor conde von und zu Hoensbroech e o advogado dr. Parsch, tiveram a bondade de concordar com os conselheiros da nossa Associação, confirmo com este que vosso desejo no que diz respeito a assentamentos separados para protestantes e católicos, deve ser tomado em consideração que, obviamente é da intenção da Companhia, que na medida em que um número suficiente estiver assentado no local, tanto protestantes quanto católicos, implantar  a estrutura paroquial e fundar escolas, na medida em que se contar com o número requerido de crianças  (40 - 100) por confissão, apoiar as escolas, tomando-se em consideração, de igual forma, ambas as confissões cristãs. Da mesma forma dispomo-nos com prazer a tomar em consideração, na medida do possível, o engajamento de funcionários de ambas as confissões, vindos da Europa.


Respeitosamente

ass. dr. Scharlach

Presidente do Conselho de Inspeção

Da Companhia Hanseática de Colonização Ltda.


Essa proposta é do maior significado principalmente para os casais jovens. Não se vêm obrigados, como agora é freqüente, fixar-se na terra dos pais ou sogros, mas encaminhar-se para regiões novas em companhia de gente da sua idade. Para eles não há de se temer tanto a penúria espiritual, como foi com seus pais e avós, no começo da colonização. No Seminário de Porto Alegre, cerca de 30 rapazes de origem alemã, preparam-se para a vocação espiritual. No Seminário Menor de Pareci, perto de São Sebastião, encontra-se a nova geração de seminaristas. Conclui-se que o número de sacerdotes cresça a cada ano e assim permita um maior cuidado  para com os novos povoadores. Nesse particular a multiplicação dos católicos no Rio Grande do Sul vem a significar uma vantagem para a Santa Igreja. Não cresce apenas numericamente como também em membros bem instruídos e bem atendidos. Espera-se com isso que o incremento da vida clerical entre os alemães não deixará de repercutir sobre os nossos correligionários brasileiros e, certamente, dependerá dele em primeiro lugar o progresso do Brasil

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