Os primeiros habitantes de Bom Jardim
É fácil de entender o que se petende com essa
designação. Falamos dos assim chamados selvagens, os índios, chamados também de
bugres. Mas o que a Crônica tem o que
relatar a respeito dos primitivos habitantes da colônia? "Não muito, com
certeza" opinou um honrado morador da Picada Berghan. Até certo ponto
somos obrigados a lhe dar razão, pois, não temos a pretensão de escrever uma
história das tribos selvlagens que antigamente
viviam por aqui. Para tanto não nos faltam apenas os nomes dos índios
individualmente, quanto mais ainda, as informações e os registros escritos
sobre eles. Desta última fonte de qualquer forma não há nada a esperar, porque
os bugres não tinham escrita, na medida em que nos ocupamos com os selvagens
que vagavam pela região pouco antes do povoamento.
Não passaria, porém,
de um total equívoco se aceitássemos o ponto de vista que nada sabemos sobre os
primitivos habitantes presentes aqui antigamente.
São principalmente
três as fontes que nos fornecem informações sobre aqueles tempos. A História do
Brasil é a primeira fonte, que deve ser vista como a continuação da portuguesa.
De acordo com os dados de ambas viviam no Rio Grande do Sul, os assim chamados
Tapes ou Guaranis meridionais. Foram em grande parte reunidos nesta região em
missões dos velhos jesuítas, entre a Lagoa dos Patos, o Uruguai e o o Paraná.
Contudo essas missões mais antigas, muitas apenas começadas, foram todas
destruídas pelos portugueses e os caçadores de escravos nativos. Sobreviveram
apenas grupos esparsos, percorrendo em
hordas isoladas espalhadas pelas florestas do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa
Catarina. Foi com esses índios que, no começo da imigração, os pioneiros da
mata virgem entraram esporadicamente em contato. Nas proximidades da Lagoa
Mirim vagavam as tribos dos Minuanos. A Grande lagoa que tem ligação com o mar
era o território dos Patos e tem deles o nome. A cultura dos intrusos, isto é,
dos exterminadores vindos de São Paulo, fez com
que fragmentos deste povo de pescadores e outros, se refugiassem mais
para o oeste e noroeste. Em parte foram assentados, mas em parte e, na sua
maioria empurrados cada vez mais e, finalmente, exterminados, não antes de
assaltos esporádicos aos colonos, fatos que ainda hoje sucedem no Paraná e em
Santa Catarina.
Os entendidos não se
acertam (194) sobre os nomes dos bugres. O mais acertado parece
considerá-los como mestiços de Tupis com
Goianases, brancos, mulatos e negros. Tomando em consideração que, depois da
expulsão dos jesuítas das reduções e da
supressão da Ordem que seguiu, em meados do século passado, as tribos indígenas, semi
civilizadas foram jogadas de volta para a barbárie. dificilmente se incorrerá
em erro, incluindo seus sobreviventes nas hordas conhecidas como bugres. Basta
isso sobre nomes e diferenças tribais. E o que informa a história sobre as
condições em que viviam os Tupis meridionais ou Guaranis? Para começar falavam
uma língua tupi ou guarani, uma língua talvez tão antiga quanto o Sânscrito ou
o Hebraico. Alguns pesquisadores vêm parentesco com o Húngaro, o Turco e até do
Egípcio antigo. No tempo do descobrimento do Brasil e, no primeiro século
depois, não se encontravam entre eles caçadores exclusivos ou hordas nômades,
isto é, tribos que viviam só da caça ou pesca e sem domicílio fixo. Todos eram
sedentários pelo menos por alguns anos, comumente quatro e cultivavam terra.
Sendo assim podem
ser considerados como os verdadeiros precursores dos colonos. Cultivavam roças
de mandioca, milho, feijão e tubérculos. Plantavam bananeiras e utilizavam o
algodão arbustivo. Nem a indústria era-lhes de todo desconhecida. Preparavam a
farinha de mandioca e os conquistadores e os povoadores europeus aprenderam
deles a utilização da raiz de mandioca separando o veneno. Normalmente várias famílias residiam
juntas no mesmo local.
Nos livros de
história lê-se muita coisa sobre os usos dos e costumes dos índios do Rio
Grande do Sul, sobre utensílios domésticos, instrumentos, armas como flechas e
arcos, instrumentos de música, recipientes de barro, urnas funerárias. Mas para
não nos prolongarmos demais é preciso renunciar a relatos mais abrangentes.
Além disso as descrições mencionadas referem-se menos aos bugres do tempo dos
assentamentos aqui, do que aos índios do tempo do descobrimento do Brasil.
Sobre os últimos a segunda fonte nos oferece melhores informações.
Para nos valermos
dela não há necessidade de comprar livros e lê-los. Basta andar de olhos
abertos e nos recordarmos do que aconteceu.
Quem é o colono que já não encontrou cacos de vasos de barro no mato, na
roça ou debaixo da terra, ou até panelas bem conservadas. Por elas está em
condições de obter abundantes
informações sobre os antigos habitantes de Bom Jardim. Donde vêm esses vasos e
cacos? Certamente não foram moldados e queimados na Alemanha, mesmo que não
haja como negar que algum espertalhão se tenha divertido confeccionado uma
panelinha de bugre para, com ela, passar a perna em algum esperto perito em
antigüidades. Os cacos procedem, com certeza, dos habitantes primitivos. Que
isso nos abre o caminho para o conhecimento da pré história é evidente. Pois,
para que utilizavam tais recipientes ? Para cozinhar, é óbvio, para preparar
bebidas e para outras finalidades da vida doméstica. Permitem-nos um olhar para
o seu quotidiano. Os recipientes menores serviam para cozinhar feijão ou milho
e preparar bebidas alcoólicas. Num Kerb imaginário na mata virgem dificilmente as coisas se
passavam com tanta selvajaria quanto as coisas se passavam em 1896. Os recipientes
maiores, com capacidade para até 30 baldes, dos quais o Pe. Eultgen remeteu um
para o museu de São Leopoldo, eram chamados Iguaçaba e serviam como urnas
funerárias. (195) As pernas eram amarradas contra o corpo e o cadáver sentado
sobre um fundo chato e a tampa colocada por cima da cabeça. Desta maneira o lado afilado ficava para
cima. E foi nesta posição que foram encontrados com freqüência no mato. O
estranho é que aqui não foram até agora encontrados restos de ossos. A
explicação está no fato de que nas sepulturas normais a massa de músculos se
desfaz e, nestas urnas porosas, também os ossos decompõem-se e evaporam. Outros
objetos de arte são as pontas de flechas de silex e outros tipos de pedra.
Semelhante explicação fornecem-nos os machados de guerra, os tacapes,
encontrados também em grande número. Uma forma singular é aquela das argolas de
pedra, munidas com uma aresta afiada. Alguns as consideram como como machados,
outros como pesos em redes de pesca. Seja como for, de qualquer maneira revelam
algo de novo a respeito dos usos e costumes dos índios.
Mais acima já
mencionamos que os antigos habitantes da nossa região entraram e contato
esporádico com os europeus. Desta forma explica-se a origem de utensílios de
ferro, como foices para roçar e pontas de lança. Chegaram às mãos dos selvagens
ou por roubo, ou por troca, valendo-se das peças de ferro conforme suas
necessidades. Conclui-se daí que, paralelo à nobre estirpe dos oleiros, os ferreiros estavam representados entre eles. Muita coisa deve ter entrado por herança de suas posses, na
medida em que muitos índios originários das Missões destruídas, voltaram a
viver nos ermos e carregaram consigo muitos objetos. Conhecida é a discussão de
Karl von Koseritz a respeito de uma esfera de vidro colorido. Declarou-a, sem
mais nem menos, como produto do comércio dos Fenícios. Mas sua afirmação
encontrou uma contestação bem fundamentada. Perguntamos. Porque recorrer aos
Fenícios tão distantes, quando estações
missionárias encontravam-se muito mais próximos a nós no tempo e no espaço?
Mesmo se encontrássemos uma âncora de navio no mato, não teríamos necessidade
de recorrer à frota de comércio dos Fenícios, porque há explicações muito mais
simples. Porque a âncora não poderia ser de algum navio europeu naufragado na
costa e levado para o interior pelos
selvagens. Aqui é também o lugar para falar sobre alguns achados lendários. No
fundo de uma caverna em Bom Jardim, pretende-se ter encontrado uma inscrição
numa língua desconhecida. Um exame mais detalhado mostrou tratar-se apenas de
rachaduras e riscos que, de maneira alguma permitiam concluir por um autor
inteligente. Afirma-se também que no mato na direção da Picada Café foi
localizada uma estrada calçada e mais de 100 metros. O que há de verdadeiro não
foi possível averiguar até o momento. Solicitamos ao leitor que, por acaso,
souber algo de mais seguro sobre a questão, que nos dê acesso à informação.
A terceira fonte que
fornece dados sobre os habitantes originais daqui, são os relatos dos primeiros
colonos. Informam que na colônia de Schenckel e Ostjen, podiam-se observar até
há poucos anos passados, os vestígios de uma roça de índios. Seria a
confirmação da interpretação de que os índios, que vagavam por esta região, não
eram apenas caçadores nômades, mas em parte agricultores. Já mencionamos na
primeira parte encontros eventuais com os habitantes selvagens da terra, na
vida de Jacob Jung da Picada Café. Entre nós os ataques foram muito mais raros
do que, por ex., na Feliz. Contudo ocorreram alguns. Não poucos (196) chegaram
a observar lugares onde os índios fizeram fogo, prova de que eles andavam nas
redondezas. Na Picada 48 os bugres foram vistos algumas vezes, observando os
colonos sem atacá-los.
O episódio engraçado
que narramos no capítulo anterior, envolvendo Papim, Isaías Noll e o ferreiro
Sparrenberg, ilustra bem o grande medo que os primeiros povoadores alemães
tinham dos ataques por parte dos índios. Um outro fato engraçado aconteceu na
Picada 48. Um colono brigara com a mulher e lhe aplicara um violento murro.
Quando a mulher gritou de dor, como é hábito no belo sexo, escutaram-se
inesperadamente palmas e gritos de
solidariedade, partindo do outro lado da encosta. Os brigões olharam para cima
e deparam-se com os vultos nus dos bugres que, evidentemente se divertiam muito
com a desavença.
Considerações finais
Chegando ao final da
Crônica, queremos mostrar resumidamente, os motivos que nos levaram a
empreender este trabalho e quais os pressupostos que orientaram a sua
concretização.
Em primeiro lugar
redigimos a Crônica por causa dos que nos são próximos. De qualquer forma é
justo não deixar cair no esquecimento o começo da colonização alemã e, guardar
a memória dos homens que participaram da fundação dela. É isto que nos propusemos
com a presente história, na medida das nossas possibilidades. Saldamos assim
uma dívida de justiça para com nossos conterrâneos, conforme o poeta: "A
História do mundo é o tribunal do mundo." Uma afirmação que é confirmada
tanto pela História dos povos quanto
pela História de um povo. O bem que os homens do passados praticaram, ainda
brilha na noite escura, enquanto o mal e o desprezível que fizeram, lhes rende
vergonha e desprezo. Desta forma constrói-se um modelo de vida e um exemplo de
comportamento para os vivos, descrevendo as circunstâncias em que viveram os
antepassados e os seus feitos que são o mais poderoso de todos os ensinamentos
éticos. Finalmente disponibilizamos um material rico e confiável para uma
futura História dos alemães no Rio grande do Sul. Contribuímos também reunindo
as pedras de construção de uma possível grande obra para o futuro.
A Crônica foi
escrita também em nome de Deus. A maior glória de Deus não foi o único
objetivo. Mas o livro como um todo deve constituir-se de alguma forma numa
apologia e numa justificativa da ação de Deus e um chamamento para para a
confiança filial nos benignos desígnios do Onipotente.
Uma apologia e uma
justificativa também no sentido de como os planos de Deus querem, sem dúvida
alguma, o verdadeiro bem estar e a verdadeira grandeza do homem. Assim o prova
a sorte dos nossos compatriotas na nova Pátria. Prova também que para seus
escolhidos e aplaina o caminho da felicidade, num canto perdido do mundo,
conforme a máxima: "Per crucem ad lucem - pela cruz à luz." Mais. A
experiência dos últimos 70 anos alerta para termos confiança no velho Deus, que agiu (197) com grande
generosidade sobre os antepassados da geração atual. Porque, mesmo as provações
pelas quais passaram os antigos e as hostilidades que tiveram que enfrentar,
foram uma brilhante prova que não há sabedoria, não há política, não há
esperteza nem poder, que tenha alguma chance
no combate contra Deus. Essas verdades que podem ser constatadas no dia
a dia de cada indivíduo, impõe-se com mais convencimento, quando se acompanha a
evolução de um povo como um todo e sobre ele se reflete num espaço de tempo
maior.
Uma terceira razão
porque escrevemos a Crônica, foi em atenção aos nossos irmãos alemães no além
oceano. Como se sabe nos últimos tempos
foram interpostos grandes obstáculos para a imigração para os Estados
Unidos. Temos convicção de que esses procedimentos de força, não redundarão em
prejuízo para a Alemanha. Acontece que a América do Norte dispõe de momento de
uma população suficiente. Um fluxo mais forte de elementos alemães para lá, em
vez de vantagem para os emigrados, significaria uma não pequena desvantagem. A
força de trabalho se diversificaria além da medida, acirrando a concorrência
além dos limites. O próprio imigrante
pouco ou nada lucraria, porque pelo excesso de população, sem tardar
manifestar-se-iam condições semelhantes àquelas que os forçaram a emigrar. No
momento, portanto, que a América do Norte fecha as portas, o Sul abre as suas
para a corrente imigratória que pressiona sem parar. Esse fato deve ser visto
como uma grande sorte, pois, é conhecido
que nos estados do Sul do Brasil, as condições são muito mais favoráveis
para o sucesso dos imigrantes, do que os Estados Unidos em parte superpovoados.
É verdade que na
Alemanha dominava, até há pouco tempo, tanto entre o povo Quanto no governo,
principalmente da Prússia, o preconceito contra a imigração para o Brasil. Mas
desde então, impôs-se outra maneira de ver as coisas. Pelo final de agosto de
1896 o embaixador alemão no Rio de Janeiro, numa viagem ao Rio Grande do Sul,
veio para observar pessoalmente as
condições sociais dos seus conterrâneos alemães. As impressões favoráveis que
levou de lá, mais dia menos dias impressionarão positivamente o governo alemão
em relação à imigração alemã para o Brasil. Estamos convencidos de que os
relatórios do senhor Krauel farão com que os ventos nas altas esferas mudem de
direção e comece a soprar uma brisa favorável para o Rio Grande do Sul.
Esperamos que os adversários da imigração para este país reconheçam o seu erro
e, tomando conhecimento da situação
social dos alemães aqui radicados, mudem para defensores da imigração.
Em primeiro lugar a
imigração é um grande benefício para o próprio imigrante. A população alemã
sente-se apertada nos limites do Império e se dispõe a liberar o excedente dos
seus cidadãos que na própria terra já
não encontram condições para conquistar um futuro livre de preocupações. Os
altos escalões do governo entregaram-se por anos a uma política colonial e
agora dão-se conta da superpopulação do país e se mostram interessados em
aliviá-la. Comparando agora o Camerum e a África Oriental e fazendo a pergunta,
onde emigrantes alemães conquistam mais cedo a felicidade, a resposta positiva
decide indiscutivelmente para o Sul do Brasil.
Em lugar do clima
mortífero (198) da África, temos aqui uma zona moderada. Em vez de desertos
estéreis, matas virgens sem fim, que permitem a sua transformação em terras
aráveis. Enquanto na África o colonizador enfrenta epidemias e doenças, seca e
solos estéreis, encontra no Rio Grande do Sul uma terra na qual, com um
esforço relativamente pequeno, encontra
condições para conquistar algo
compensador. É óbvio que não deve esperar uma terra da "cucanha." Mas
se estiver disposto a enfrentar o trabalho na agricultura, seus esforços
encontrarão chão fértil. Qualquer conhecedor das nossas circunstâncias confirma
que estes dados estão corretos, o pode ser deduzido também do comportamento do
governo imperial. Porque então não chamar a atenção dos círculos interessados
pela imigração, para o Rio Grande do Sul? Por acaso não se irá ao encontro de
milhares de famílias sem propriedade? Muitos moradores da Eifel, do Hunsrück e
da região do Mosela, vieram para cá nos últimos 60 anos e, quase sem exceção,
alcançaram um nível de bem estar compensador. Porque não possibilitar, na
medida do possível, sorte igual às
regiões superlotadas do país, incluindo o auxílio de viagem da parte do estado?
O Brasil oferece uma
segunda vantagem aos imigrantes alemães. Os dois ou tês estados do sul da
República (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) progrediram muito, quase
de forma inacreditável, em conseqüência da imigração alemã. Em todas as regiões
encontram-se comunidades florescentes. Inclusive uma dúzia de pequenas cidades, desenvolveram-se naquelas áreas nos
últimos anos e nelas a indústria e o comércio experimentou um vigoroso
incremento. Pode-se afirmar, sem exagero, que essas regiões e localidades, podem
ser chamadas de oásis do Sul do Brasil. Por essa razão os governos desses
estados, abstraindo de algumas investidas chauvenistas, a posição é
favorável e de satisfação em relação à imigração alemã. Oferecem com liberalidade
extensas e férteis áreas de terras aos
imigrantes e lhes proporcionam
facilidades de todos os tipos. Ultimamente notou-se uma pequena
alteração neste sentido, em razão da falta de dinheiro, fazendo com que a
liberalidade sofresse uma leve retração. Mas de qualquer maneira, antes como
depois, é assinalado para cada família de agricultores, mesmo se composta
apenas pelo homem e a mulher, um considerável complexo de terras, comparável em
extensão e fertilidade a uma boa propriedade de terra na Alemanha. Um colônia
mede 100 braças de frente e 1.000 de
fundos, o que vem a somar 400.000 metros quadrados, medindo a braça 2,20
metros. Sem dúvida uma bela área de terra e um belo presente, pelo qual uma
família pode aventurar-se a travessar o
oceano.
Até a Alemanha que
libera os colonizadores e, eventualmente os apóia, deveria ter o maior
interesse pois, tira uma série de vantagens do povoamento por alemães dos nossos estados do sul. Queremos chamar a
atenção para essas vantagens. A primeira delas consiste no estímulo à emigração
das comunidades do interior superpovoadas e fazê-las experimentar uma
arejamento e nova dinâmica. A assistência aos pobres é desonerada e presta-se
um gade serviço à atividade agrícola do país, na medida em que se oferecem
condições de desenvolvê-la e escala
maior. Uma segunda conseqüência consiste na diminuição da introdução aqui do
socialismo. A uma multidão de elementos insatisfeitos, que se desgastam inutilmente na luta pela existência,
oferece-se uma nova perspectiva de vida, podendo assim empenhar suas energias
num esforço frutífero. Será que esse aspecto é pouco determinante para um homem
de estado, ou os esforços neste sentido são inúteis? Como terceira conseqüência
temos a criação e o contínuo incremento de um mercado interno para a colocação
dos produtos industriais alemães. Todos concordam que o mercado mundial está
abarrotado e há falta de compradores. Neste caso a visão do estadista consiste
em providenciar as condições (199) favoráveis ara que o Brasil importe em
escala maior a produção industrial da velha pátria. Isto já aconteceu agora em larga
escala mas, entende-se por si mesmo que, quanto mais alemães vierem e, quanto
mais progredirem ano por ano, as condições de importação serão melhoradas. Esta
questão merece tanto mais atenção, porque é de se esperar uma diminuição da
imigração italiana, devido aos conflitos na Itália. É conhecido o enorme
impulso que esta tomou nos últimos anos.
Só nos últimos oito anos entraram 412.000 italianos no
estado de São Paulo, representando desta forma quase um terço de toda a
população de lá. Na capital do mesmo nome vivem de 70 a 80 mil italianos, quase
a metade de todos os habitantes. Lá a maioria são artesãos e operários e, em
menor número, agricultores. Mesmo assim levam as coisas a um ponto tal que se
todos os italianos que lá se encontrassem e encerrassem de vez suas atividades,
toda a vida social ficaria paralisada. Evidentemente aqui no Rio Grande do Sul
os fatos transcorreram de modo diferente do que nos dois outros estados
agrícolas. Sendo assim que venham de preferência emigrantes do contexto agrário.
Com isso não quer-se afirmar que não venham artesãos e outros profissionais,
mesmo que seja em menor número, para aqui encontrar o progresso. E que grande
vantagem para a Alemanha verificar que, nos estados do sul, milhões dos seus filhos encontram a melhor das acomodações.
Como pôde constatar o embaixador alemão na sua recente viagem, os alemães daqui permanecem alemães decididos, apesar da
sua postura de lealdade em relação à
pátria de adoção. Cultivam com determinação e justificado orgulho o bem querer
para com a velha pátria, a língua materna, a disciplina e os hábitos alemães.
Com o incentivo à
imigração alemã para o Brasil também a nossa Igreja Católica tem muito a
ganhar.
Naturalmente deveria
haver interesse em trazer imigrantes alemães católicos ou, no mínimo, cuidar-se para fundar
assentamentos separados por confissão. Tal
exigência não tem nada de estranho quado se considera o conteúdo de uma
circular emitida pelo presidente do Conselho de Inspeção da Companhia de
Colonização Hanseática, em maio do ano que passou:
Hamburgo, 15 de maio
de 1897
Senhor
Representante da
Assembléia de Representantes
P.P. Cahemsky
Secretário da
Associação São Rafael
Limburg a. d. Lahn
Mui
Honrado Senhor
Depois
que Va. Excia., senhor conde von und zu Hoensbroech e o advogado dr. Parsch,
tiveram a bondade de concordar com os conselheiros da nossa Associação,
confirmo com este que vosso desejo no que diz respeito a assentamentos
separados para protestantes e católicos, deve ser tomado em consideração que,
obviamente é da intenção da Companhia, que na medida em que um número
suficiente estiver assentado no local, tanto protestantes quanto católicos,
implantar a estrutura paroquial e fundar
escolas, na medida em que se contar com o número requerido de crianças (40 - 100) por confissão, apoiar as escolas,
tomando-se em consideração, de igual forma, ambas as confissões cristãs. Da
mesma forma dispomo-nos com prazer a tomar em consideração, na medida do
possível, o engajamento de funcionários de ambas as confissões, vindos da
Europa.
Respeitosamente
ass.
dr. Scharlach
Presidente
do Conselho de Inspeção
Da
Companhia Hanseática de Colonização Ltda.
Essa
proposta é do maior significado principalmente para os casais jovens. Não se
vêm obrigados, como agora é freqüente, fixar-se na terra dos pais ou sogros,
mas encaminhar-se para regiões novas em companhia de gente da sua idade. Para
eles não há de se temer tanto a penúria espiritual, como foi com seus pais e
avós, no começo da colonização. No Seminário de Porto Alegre, cerca de 30
rapazes de origem alemã, preparam-se para a vocação espiritual. No Seminário
Menor de Pareci, perto de São Sebastião, encontra-se a nova geração de
seminaristas. Conclui-se que o número de sacerdotes cresça a cada ano e assim
permita um maior cuidado para com os
novos povoadores. Nesse particular a multiplicação dos católicos no Rio Grande
do Sul vem a significar uma vantagem para a Santa Igreja. Não cresce apenas
numericamente como também em membros bem instruídos e bem atendidos. Espera-se
com isso que o incremento da vida clerical entre os alemães não deixará de
repercutir sobre os nossos correligionários brasileiros e, certamente,
dependerá dele em primeiro lugar o progresso do Brasil