Capítulo décimo
Retrato topográfico de Bom Jardim
As divisas, os números, os nomes locais
Não temos a
pretensão de elaborar um mapa topográfico da nossas paróquia. De mais a mais
uma iniciativa nesse sentido seria de todo em todo supérflua porque, como não
poucos leitores sabem, está sendo desenhado um mapa topográfico parcial de São
Leopoldo. Essa carta foi confeccionada com base nos trabalhos oficiais e nas
minuciosas medições de Ernesto Müzell e
publicado pelo engenheiro Ad. Jahn. Na hipótese de a Crônica sair em forma de
livro, será publicado um pequeno mapa como anexo, destacando a nossa paróquia
numa escala aumentada.
De momento basta a
descrição das partes mais expressivas da representação de Müzell. Futuramente,
quem abe, será possível moldar um mapa em relevo da nossa comarca. Nele não são
reproduzidas as perspectivas de profundidade, mas assinalado com precisão até
que ponto já avançou o desmatamento da nossa região. Por agora permitimo-nos
apenas dar uma rápida passada de olhos pelo mapa topográfico e oferecer ao
leitor uma percepção a mais fiel possível da região.
O mapa de Müzell e
Jahn orienta-se pelos quadrantes celestes e estabelece São Leopoldo como
referência. Quase em linha reta para o norte, um pouco para o leste, situa-se
Hamburgo Velho e, na mesma distância da linha perpendicular, partindo de São
Leopoldo, localiza-se o Rincão das Ilhas. Sobre ambos estende-se, em ângulo
reto em relação à base, a faixa da Costa da Serra. Nela alinham-se as colônias
do sul para o norte. Traçando-se uma linha reta do sopé do morro Lehm, tem-se a
base da Picada Bom Jardim. O pé do daquele morro representa mais ou menos o centro da linha de
referência.
A picada em si conta
com 26 colônias (188) pela esquerda e 28 pela direita. Nem todos os lotes
coloniais tem o mesmo tamanho, tato na largura quanto no comprimento. Mas todos
são pequenos quadriláteros que se orientam do oeste para o leste. No meio passa
a estrada quase em linha reta, a partir do morro Lehm até a ponta do Feitoria.
Na colônia 15 da direita ergue-se a igreja protestante e na 13 à esquerda a
igreja católica.
Partindo do morro
Lehm, aproximadamente na primeira quarta parte, passa o divisor de águas. Os
arroios do primeiro quarto orientam-se para o sul e desembocam no arroio Portão
ou Mainzerbach e de lá no rio dos Sinos. Os cursos de água das três outras
quartas partes, dirigem-se para o vale do Feitoria, em parte formando pântanos,
em parte desembocando diretamente no rio.
No outro lado do Feitoria estende-se em toda a
sua largura a Picada Bom Jardim propriamente dita e a maior parte da Picada 48.
São 31 colônias que têm no Feitoria a sua linha de referência e se orientam do
sul para o norte. As demais 17 colônias situam-se mais para o oeste mas, da
mesma forma, orientam-se de norte para o sul e têm o Feitoria também como como linha de referência.
Partido
da ponte do Buraco do Diabo o caminho segue entre os números 16 e 17 até a
Picada Holanda.
O
prolongamento das linhas limítrofes de Bom Jardim para o leste e o oeste, chegam até as fronteiras da
comprida Picada Café. Na medida do possível a estrada corre entre os lotes coloniais,
63 do lado esquerdo e 72 do lado direito. Como já se mencionou essas colônias
orientam-se de leste a oeste. A Picada Café divide-se em três partes: Bohnental, Schneiderstal e Holanda. Bohnental
vai até o número 8, Schneiderstal até o 45 e Holanda até o número 77. De lá O
Jeanettental representa a ponte para Dois Irmãos.
Para
complementar os dados que registramos, vamos seguir, número por número, cada
colônia da Picada Bom Jardim, indicando nas mãos de quem se encontraram desde o
começo. Lamentavelmente não foi possível fazer o levantamento sem deixar
dúvidas. Afinal já se passaram 70 anos desde a fundação. Soma-se a isso que nos
primeiros tempos as propriedades passavam com rapidez de mão em mão. E, pro
fim, não dispomos de livros básicos de registros. Além disto quase todas as
testemunhas confiáveis já não se encontram mais entre nós. Os dados que
apresentamos baseiam-se nas anotações do velho Fingerhannes e de Johann Adam
Noschang. No essencial os dois concordam, como aliás não se esperaria coisa diferente.
Divergem apenas nos detalhes. Agradecemos com antecipação se um ou outro leitor
nos puder fornecer informações ou colaborar com correções.
No
lado direito do caminho para o viajante que vem de São Leopoldo, alinhavam-se
28 colônias. No número 1 morava Ernst Robert originário de Hannover, sob todos
os aspecto um homem decente. Não mentia, não enganava e não zombava. Mais tarde
a colônia passou para as mãos de Ritter.
No
número 2 morava Jacob Blauth, (189) o patriarca de numerosa descendência do
mesmo nome. Jacob e Nicolaus eram seus filhos. O último mora ainda hoje na
serraria. O pai que viajou para o Brasil na companhia de Peter Noschang, é
lembrado como um homem bom e tranqüilo.
A
colônia de número 3 fora dada a um Schorn ou Schahn. Seu genro, um Rohr, mora
em Cruz Alta. Uma outra filha casou-se com Peter Frey. Uma parte da colônia foi
adquirida por Jacob Blauth.
Na
colônia de número 4 vivia Johann Philipp Lenk, um colono decidido e rude,
originário do Palatinado. Alguém que lhe pisava nos pés levava um sopapo,
testemunha um contemporâneo. Foi ele quem emprestou cinco mil réis à família
Noschang, possibilitando-lhe a viagem para cá. Johann tinha dois filhos Fritz e
Hannphilipp.
A
colônia de número 5 pertencia a um certo Hilbert, um soldado desmobilizado do
imperador D. Pdrro I, casado com uma filha de Konrado Schäfer.
A
colônia de número 6 era propriedade do Schäfer que acabamos de nomear. Pelo que
se sabe seus descendentes moram no Mundo Novo.
A
colônia de número 7 era propriedade de Appel, um homem trabalhador.
A
colônia de número 8 pertencia a Muskoph, um bávaro muito trabalhador. Na sua
terra mora de momento o carpinteiro Johannes Koch.
Na
colônia de número 9 fixou-se Peter
Renner, sobre o qual não temos outras informações. Johannes Finger, o
Fingerhannes ao referir ao número 9 fala num tal Simonis que fez em pedaços a
espingarda do pai. Não obtivemos nenhuma informação sobre ele.
Na
colônia de número 10 trabalhava Husten que não ficou muito tempo. Vendeu a
propriedade e mudou-se para outro lugar.
A
colônia de número 11 coube a um certo Eberts, que se mudou para o Mundo Novo.
A
colônia de número 12, passou, conforme
relato confiável, das mãos de um certo
"carpinteiro" Wenz, para a família Mossmann.
A
colônia de número 13 foi entregue a um Wolfarth que vendeu a metade da
propriedade para Johannes Göttems. A ele sucedeu Scriba.
Abraham
Cassel foi o dono da colônia de número 14. Dizem que foi um homem rápido e rude
e, ao mesmo tempo, de bom coração. Seus filhos foram Abraham e Peter, este
nascido no Brasil. Nosso informante sobre os primeiros tempos acrescentou a
observação: Não sabia que contávamos com colonos maus e inúteis.
Na
colônia de número 15 moravam um Klein e um Fuchs.
Na
colônia de número 16 encontramos Colland, um inglês. Parece tratar-se do
Colland que integrava a Companhia Alemã e, por causa das muitas dívidas quis
matar-se.
Johann
Kochenburger recebeu a colônia de (90) número 17. Sucedeu-o Fuchs, um viuvo pai de um rapaz. De
Kochenburger conta-se que bateu na mulher no Rio de Janeiro que tão apavorada
caiu morta. Sua filha Lene casou-s com Carl Wilke.
A
Nathanael Weber, um dos melhores colonos
coube a colônia de número 18. Ele e os Blauth eram as pessoas mais importantes.
Jacob Weber na Capivara é seu filho.
Weirich
comprou a colônia de número 19. Georg Gehring recebeu a metade dela e Jacob
Dilly a quarta parte.
Johann
Lauermann, um homem decente, era proprietário da colônia de número 20.
No
número 21 morava, pelo que consta, Peter Frik. Adquirira a colônia por uma
garrafa de cachaça. Mais tarde fixou-se nela um tal Clos e, por fim, um
Fröhlich.
A
colônia de número 21 pertencia a Peter Anton Noschang, natural do Palatinado,
pai de Johann Adam, conhecido em muito lugares pelo nome sem graça de Moisés.
Peter Anton era um homem esquentado, pelo menos dentro da sua casa. Castigava
os filhos com o primeiro cabo de vassoura
ou qualquer outro meio à mão. Com seus vizinhos, ao contrário, vivia em
paz. Vendeu parte das suas propriedades
para Werner, Allgayer, Kochenburger, Schenkel e Dilly.
A
colônia de número 23 pertencia a Jacob Schenkel do qual consta ter sido um bom
sujeito.
Na
colônia de número 24 vivia o solteirão
Müller, um soldado solitário, com um apelido nada simpático. Sucederam-no
Lerner e Röse.
A
colônia de número 25 pertenceu a um certo Back, sucedido por Bokorni.
Käfer
e Reis ocupavam a colônia de número 26.
A
colônia de número 27, no Buraco do Diabo, foi começada por um Schneider e Lahn
e a de número 28 por um certo Rehbruch.
No
lado esquerdo os números sucederam-se como segue.
O
velho viuvo Jung, um homem fino e decidido, sogro de Lautert, ocupava a colônia
de número 1. O Lautert de Taquari pode ser seu neto.
O
primeiro dono da colônia de número 2 foi Heinrich Röse. O segundo dono foi Berg
e mais tarde Schallenberg.
Heinrich
Hein recebeu a colônia de número 3. Mais tarde construiu uma capela na
Soledade. Sucederam-no Peter Fries, que morava
na colônia 21 do lado direito.
Na
colônia 4 sucederam-se Freitag e Hilbert.
Na
colônia 5 residia Nicolaus Dietrich, um alfaiate que pertencia à parentela
de von Mühlen. Sua moradia fica distante
do caminho.
A
colônia de número 6 (191) pertencia a Hubert Röse, avô de Wilhelm.
Datsch,
marceneiro e sogro de Jacob Spindler, recebeu a colônia de número 7. A bebida
rendeu-lhe um apelido. Não tinha nada a ver com a famíla Datsch da Picada 48.
A
colônia de número 8 pertenceu a Philipp Schneider, a de número 9 a um certo
Lorenz, há muito falecido.
A
colônia de número 10 coube à viúva Sturm, cujo marido faleceu na viagem. Casou
com Notzki e, mais tarde, com Michael Kern.
Theobald
Diewel, um homem moreno e alfaiate de profissão, recebeu a colônia de número 11. Casou-se mais
tarde com uma Speckdietrich e é o pai de Susanna Finger.
A
colônia de número 12 pertenceu ao pai do nosso Fingerharnnes. Dele sabemos
apenas que tivera muitos filhos.
Joseph
Wahl, um construtor de moinhs, recebeu a colônia de número 13. Construiu um
moinho em companhia com Roberti, assumido mais tarde por Joca (?) da Silva.
Scheid
foi contemplado com a colônia de número 14 em companhia dos filhos Peter,
Jacob, Conrad, Nicolaus e a filha que casou com um Piermann, antigo
soldado do imperador D. Pedo I. Pohren
mora de momento no local.
A
colônia de número 15 passou, numa data não conhecida, das mãos do curtidor
Bitts para as mão de Johann Dilly. Dele se afirma que gostava de ler.
Lavalt,
um homem reto que não se descuidava das próprias vantagens, foi contemplado com
a colônia de número 16. Não era dado a muita cerimônia e sua conversa era
curta: sim e não. Dava especial atenção à pontualidade. Se alguém lhe pedia
dinheiro emprestado, a devolução tinha que acontecer no dia marcado. "O
senhor deveria ter-se prevenido, dizia e marcava um segundo prazo, que não
poderia ser alterado. Caso não fosse cumprido, estava tudo terminado. Casou-se
com a viúva Glossmann, que tinha vários filhos do primeiro casamento:
Farrapengreth, mulher de Peter Kasper, Hans Adam e Hannikel Glossmann, também
chamado Lavalt, morto por Morschel. O próprio Lavalt tinha dois filhos:
Gertrud, mulher de Johann Herzer e Christian. Deste último ninguém sabe onde
foi parar. Lavalt tinha outros filhos de um segundo casamento.
Na
colônia de número 17 morava Sparrenberg, um homem bom.
Na
colônia de número 18 morava Löb,
representante da polícia no acampamento
dos imigrantes na Feitoria.
Na
colônia de número 19 morava Jakob Eckert, um homem trabalhador e religioso.
Christian
Killian, homem trabalhador era o dono da colônia de número 20.
Conrad Biehler, (192) homem decidido e esquentado,
mas justo e confiável, ocupava a colônia de número 21. Não era fácil
convencê-lo. Quem discutia com ele tinha que cuidar-se para não levar algumas
pancadas pois o Conrad era forte e rápido.
Paul
Kasper era o dono da colônia 22. Seu filho casou-se com a
"Farrappengreth."
Isaías
Noll morava na colônia de número 23. Era um homem quieto e trabalhador. Não fez
mal a ninguém. Na sua cabana realizava-se o culto e cantavas-se com vigor.
Primeiro o culto era realizado na cabana de Jacob Eckert. Entre as vozes mais
salientes estava a de Adam Noschang. Ao culto divino leigo seguiam conversas
que não degeneravam em fofocas. Entre as mulheres cantoras distinguiam-se
as da família Unfried.
Na
colônia de número 24 morava o Tottelmüller. O nome vinha do fato de ele
gaguejar.
A
colônia de número 26 pertencia ao velho soldado Schmolling, um alfaiate que
vendeu a terra para Daniel Schneider e mais tarde alistou-se na Companhia
Alemã.
A
colônia de número 27 coube a Peter Frey, sogro de Sauters, no caminho do Morro
do Diabo.
Um
a um as diversas localidades, elevações, morros ou estradas, foram recebendo
nomes. O morro que fazia a divisa entre da Picada Bom Jardim, chamava-se
Lehmberg. O trecho superior da estrada até o número 8, era conhecido como
"Steinweg."
De
lá até o número 10 era a "Blanke Strasse" desembocando na
"Jacobstrasse", que levava este nome porque neste trecho moravam
vários "Jacob": Jacob
Schenkel, com o filho do mesmo nome; Jacob Eckert; Jacob Paul Kasper. A
"Jacobstrasse" segue até o Buraco do Diabo. Este último nome foi dado
ao local por Peer Adam Noschang, por causa das encostas íngremes. Ninguém,
descia sem agarrar-se aos vimes
silvestres. "Bohnenthal" remonta à família Bohnenberger. Abraham, o
pariarca da mesma, tinha vários filhos: Fritz, Abraham, Nicolaus e Peter.
Embora mantivesses essa colônia como sede do clã, abriram várias outras que
depois venderam, uma por 12 mil réis, uma outra por 10. Que o fizessem sem
serem incomodados, explica-se pelas circunstâncias da época, quando o conceito
de propriedade não era levado tão a sério pois, havia terras em abundância e
pouca gente.
Schneidersthal
deve o nome à família Schneider que recebera três colônias no local. Os
herdeiros foram três irmãos: Peter, Hannes e Daniel.
A
mulher de Peter Schneider era filha de Jacob Kehl, falecido há tempo. Johannes
ainda vivia mas sem herdeiros. Daniel também está vivo e alegra-se com um
grande número de filhos e netos.
As
elevações normalmente não recebiam nomes, com a exceção do "Affenberg, na
divisa de Dois Irmãos com Holanda, por causa dos muitos "quadrimãos"
que se recolheram para o topo, depois de derrubado o mato e, lá do alto,
realizavam seus concertos.
O
"Königsberg", (193) na entrada de Dois Irmãos, foi assim denominado
por causa do colono König. Antes chamava-se
"Hatzberg" por causa do colono Hatz.
O
antigo nome da colônia foi "Berghanerschneiss. Perguntamos quem foi Berghan? Antes de responder com
segurança queremos acrescentar alguma coisa. O mecklenburguense Berghan morava
aperto de Diefenthäler (Simonis). Seus filhos eram Wilhelm, Heinrich e Philipp.
Este último casou com uma Allgayer, Heinrich com uma filha de Peter Fries,
Wilhelm foi para o interior e nunca mais voltou.