Deitando Raízes #38

Capítulo sétimo
O  progresso cultural na Colônia
Nosso século gosta de ser chamado de o Século da Ilustração e mesmo o Brasil considera-se um país com nível de formação. Mas não basta situar-se no século dezenove para participar do grade progresso. É indispensável para tanto o esforço de cada indivíduo em particular. Vale o mesmo para as colônias. Somente por meio do esforço individual será possível iluminar as cabeças dos moradores da mata virgem. Pergunta-se. Foi feito neste sentido todo o necessário para que se apropriarem de todos os conhecimentos de que o nosso tempo se orgulha? Para esta pergunta infelizmente somos obrigados a dar uma resposta negativa. O sol do século dezenove ilumina também o nosso  país, mas os raios da hodierna ciência não penetraram fundo na escuridão.  Dos colonos em geral e de modo especial dos de Bom Jardim, podemos afirmar sem receio, o nível cultural não é o que deveria ser. São poucos os que superam um nível modesto. Só uma  parcela dos adultos preservou destreza no ler, escrever e calcular aprendido na escola. A maioria nem alcançou um nível mais elevado nestes fundamentos da formação, devido a uma freqüência escolar muito curta e irregular. Dos católicos de Bom Jardim ninguém freqüenta uma escola mais adiantada. Até o momento não saiu nenhum sacerdote deste meio, nem seminarista nem professor público. No máximo alguns freqüentaram por algum tempo o Colégio de São Leopoldo ou a Escola Complementar de Dois Irmãos. Olhando em volta identificamos muito poucos que dominam o português ou alimentam pretensão por maior conhecimento.
Seria uma injustiça se não aceitássemos os motivos alegados para explicar essa situação negativa. A colônia é jovem como de resto a vida cultural em todo o país. Cabe em primeiro lugar  cuidar do progresso da vida material, antes de se permitir pensar numa formação superior. Objetamos. Mas já faz um bom tempo que a luta pela vida não é mais tão árdua. Por acaso não há muitos colonos que já conquistaram riqueza? O luxo com roupas, chapéus, selas para senhoras, arreios de prata, botas finas de cano longo e, sobretudo, as altas somas gastas no jogo, mostram que há dinheiro circulando e não raro muito dinheiro. Porque é gasto com coisas materiais? A resposta é: a juventude não alimenta desejos por uma formação mais aprimorada. Prefere nos dias úteis e nos domingos distrair-se com a caça e as diversões. Respondemos. Para que servem os pais se não é para orientar os filhos e chamar-lhes a atenção para os bens maiores da cultura? Será que os nossos descendentes estão condenados a formar um povo inculto?
Pais responsáveis (152) com certeza não o desejarão seriamente. Uma outra desculpa. Não sobra tempo para coisas desse gênero. Durante a semana é preciso trabalhar e no domingo é preciso recuperar-s de alguma maneira do cansaço. Não negamos para ninguém, nem aos velhos, nem aos jovens alguma  diversão. Acontece que o aprender também pode ser uma forma de lazer, depois do esforço físico durante a semana.
O que impede que nos domingos se dediquem algumas horas à formação? Com certeza há muitas oportunidades para ampliar os conhecimentos, oportunidades que não faltam em Bom Jardim. Não são poucos os que pensam que a formação é de todo inútil. Continuemos a viver como os avós e bisavós e tudo está em ordem. Isto não passa de um julgamento precipitado. Os antepassados dos colonos atuais trouxeram uma boa formação escolar e a transmitiram aos filhos. Mas com o tempo esses conhecimentos  herdados, foram enfraquecendo, como mostra a experiência. Quem ousaria afirmar que a geração de hoje possui o mesmo nível de conhecimentos dos imigrantes? Assim é de todo falsa a afirmação de que hoje se procede da mesma maneira como os antigos. Encontramo-nos, sem dúvida, numa situação de inferioridade. E nos perguntamos: como será o futuro. De mais a mais, os colonos de hoje têm motivos muito mais sérios para se interessar por uma boa formação do que nos tempos passados. Ela é indispensável para o exercício da cidadania. Numa república compete ao povo governar-se a si mesmo. Perguntamos: Como é possível que uma pessoa inculta participe do governo? Nem sequer será um bom eleitor, muito menos um escrivão, juiz distrital e, em deputado em Porto Alegre ou, quem sabe, no Rio de Janeiro, nem pensar. Faltam-nos homens para discursar em  concentrações populares ou em reuniões de associações, em ocasiões como eleições municipais ou em outro nível. Acontece que um homem que sabe apresentar-se em público, vem a ser um fenômeno entre nós.
Porque razões é tão diferente em outros países? Porque lá se tem a formação e os conhecimentos em alta conta e se fazem  esforços para promover a formação própria ou, pelo menos dos filhos, entre os quais há belos talentos. Aliás a formação é necessária para a atividade econômica, para agricultura, para a indústria e o comércio. O agricultor sem formação nem de longe tira o proveito da sua terra, quanto aquele um pouco mais culto. Não tem visão do futuro e movimenta-se numa eterna rotina que, apesar de todo o empenho da força física, termina reduzindo à esterilidade a sua terra como ficou evidente quando foram escritos os artigos sobre a questão das florestas na região colonial. Como é que um profissional se aperfeiçoa quando não lê e não se informa sobre os grandes progressos, que acontecem em outros lugares? Um comerciante que não entende de leis e não conhece regulamentos, não pode deixar de operar no prejuízo. Além disto a formação é da maior importância para a vida da Igreja. Somente aquele que continuar se instruindo estará em condições de não perder a cabeça e de ter uma resposta para muitas acusações e objeções, com que os descrentes atacam hoje a Igreja. Pois, quem defenderá a Igreja nos nossos dias? O Estado se retirou e não tardará em combatê-la  aberta ou veladamente. Restará o povo católico a quem caberá assumir a defesa do cristianismo. Significa uma missão nobre e gloriosa, tarefa a ser cumprida pelos leigos de hoje. E, sem formação, estarão eles em condições de duradouras para assumi-la? Com muita dificuldade, sem dúvida, de acordo com a opinião dos que têm consciência dessa realidade. Finalmente a formação constitui-se numa condição  indispensável para a vida em sociedade do nosso tempo. (153) Quem quer ser visto como uma pessoa sem formação, quem quer passar por ridículo perante seus concidadãos, quem quer ser passado para trás ? Só mesmo um louco.
Mas muitos dos que concordam com  as nossas considerações, perguntarão: Como continuaremos a nossa formação, já que não dispomos de nenhum recurso aqui na mata virgem? Quero apontar apenas três  meios disponíveis para os moradores de Bom  Jardim. Temos em primeiro lugar a Escola Complementar. Foi criada há poucos anos pelo vosso zeloso  vigário Pe. Pedro Gasper e já colheu belos frutos. Porque não são mais os pais que mandam os filhos para esta escola nos domingos à tarde?
Um segundo caminho de acessos fácil à formação, também fruto do esforço do vosso pároco, são as associações  para rapazes e homens. As freqüentes apresentações de peças de teatro são prova da sua contribuição para com elevação e a difusão da  cultura. Porque a filiação a essas associações não é mais numerosa, contribuindo para infundir-lhes mais dinamismo e entusiasmo.. Os sacerdotes estão dispostos a dedicar-se com entusiasmo e investir com as habilidades de que dispõem.
Os jornais e livros constituem finalmente o terceiro meio. O que neles se lê deve ser verdadeiro e decente. O que um católico encontrará de útil, por ex.,  nos jornais liberais que circulam por aqui? Neles a doutrina da Igreja, a própria doutrina cristã é, propositadamente distorcida, zomba-se dos costumes católicos e as ordens religiosas são desprezadas e perseguidas. Porque um filho da Igreja ficaria indiferente a tamanhas calúnias contra a fé, mais ainda, contribuir com o seu dinheiro. Seria o cúmulo da falta de juízo e grosseira ingenuidade. Se quiserem informações úteis, assinem o "Deutsches Volksblatt", o veículo do seu partido e irmãos de fé. Ocupa a dianteira por muitas milhas todos os jornais  em língua alemã, não só pelo número de assinantes quanto, sobretudo, como porta-voz da informação e do verdadeiro progresso.
Se alguém quiser oferecer à família toda algo de atraente e instrutivo, assine "Stadt Gottes" ou "Zeitschrift für die Christliche Familie". Encontgrará neles  tudo o que há de novo na Igreja, no Estado, na Arte, na Ciência, na Indústria e Comércio. Os números de cada ano encadernados são uma fonte de laser e ensinamento. Os volumes anuais podem ser entregues aos filhos como peças de herança, fazendo com que nas famílias que se fundam  se disponha de uma fonte sadia de formação. Por motivo de consciência um pai de família não pode permitir que jornais e livros  maus entrem na sua casa. Com eles entra na família não somente a incredulidade e a imoralidade como fica comprometida também a felicidade temporal dos pais e dos filhos. Não poucos ingênuos bem intencionados acreditam que estas matérias não lhes causam danos, porque são capazes de distinguir o verdadeiro do falso. Essa opinião não passa de um enorme equívoco. Como a chuva que, por dias, cai sobre o chão não deixa de amolecê-lo, um mau jornal não deixa de levar às piores conseqüências.
Imperceptivelmente (154) mas sem parar os erro e os falsos princípios permeiam a alma, minam a solidez dos princípios e dominam o homem todo com a sua maneira de ver e sentir sem Deus. A água caindo ininterruptamente destrói a pedra dura. (água mole e  pedra dura tanto dá até que fura). Da mesma forma a falta de fé  rói e destrói as convicções mais sólidas. Acontece que, às vezes, as conseqüências deploráveis de tais leituras que surpreendem com tristeza  toda a família, manifestam-se apenas mais tarde. Um católico muito fervoroso observou por ocasião de um suicídio: É o resultado das longas más leituras.
Mais cedo ou mais tarde manifestam-se os serros infiltrados no espírito e então, na maioria dos casos, já é tarde. Se alguém lê apenas bons livros, tem o espírito instruído, enobrecido o coração e, em dias difíceis, e a verdade lhe dar-lhe-á segurança. 
Para a colônia faz falta uma verdadeira Ilustração. Não queremos nada com a falsa. Da sua semente nascerá sem tardar a desgraça e a miséria.
Pode-se concluir de que, com o progresso da "inteligentia" as coisas não se encontram no nível em que deveriam estar. Ainda mais lamentável é o fato de que a média do povo católico sofre em parte ainda do velho obscurantismo, que custa ser superado. Santo Tomás de Aquino o chama de sobras do paganismo e uma reflexão serena nos leva a dar-lhe razão. Falamos do que se costuma chamar de superstição, praticada inadvertidamente por muitos católicos e por isso não imputável, por terem crescido neste meio.
Esse lamentável atraso alastra-se em três direções. De um lado  é a curiosidade em saber o que o futuro reserva escondido no seu seio misterioso, algo alegre ou algo triste, uma curiosidade muito natural, mas que facilmente leva a descaminhos. É sabido que pessoas de formação aprimorada entregam-se a essa loucura, de modo especial nos dias de hoje, que tanto se orgulham com a sua "luz".  É fato conhecido também que os adeptos ilustrados da superstição procuram, não raro, revelações impossíveis pagando preços altos para os adivinhos e cartomantes. É verdade que na colônia não se chegou ao ponto das grandes cidades. Apesar disto temos informações de que esse tipo de erva daninha viceja em alguns lugares na sombra escura da mata virgem. Consta, por ex., que uma certa mulher lê o futuro numa velha peneira. A bruxa, como a chamaríamos, serve-se de uma tesoura. Não nos arriscamos a julgar se pretende livrar as pessoas, cortando os defeitos e as aberrações que se encontram no caminho das pessoas.
O certo é que, com revelações do tipo quantos filhos uma mãe ainda pode esperar, ou qual a cor da barba do futuro marido, não poucas vezes confunde e atemoriza  o espírito infantil das pessoas, ou, como já ocorreu, arruínam a paz doméstica e provocam a discórdia na família. Façamos a pergunta tranqüila e sensata: Como é que uma mulher velha chega a se apropriar de tais  conhecimentos, não revelados às pessoas mais instruídas? Diante mão não é aceitável que Deus e os anjos transmitam este tipo de mensagens aos vaticinadores. (125) De forma alguma o misterioso futuro pode ser conhecido pela posição do sol, pelas linhas das mãos, pelo estridular do grilo, ou pelas configurações estranhas formadas pelo chumbo derretido despejado na água. Não resta outra coisa à pessoa que reflete do que atribuir ao inimigo maligno, fatos que nem a natureza  nem a Revelação  à luz da razão explicam, quando constatados e não forem meras ilusões. Por isso a consulta aos adivinhos era castigada com a morte No Antigo Testamento, não porque o espírito maligno não está em condições de prever com certeza o futuro, mas porque o simples pedido direto ou indireto dirigido ao inferno, constitui-se num crime digno da morte. A razão está no fato de que, por esse procedimento, o anjo decaído é igualado a Deus.
De maior significado é, digamos abertamente, uma outra superstição pagã. Falamos dos rituais (Brauchen) sobre cuja condenação poucos tem clareza. Como os leitores  devem saber há em algumas picadas certas pessoas, homens e mulheres, que simulam ter mais conhecimentos do que os demais. São os curandeiros e médicos que sem terem estudado, algumas vezes realizam curas de males, como se afirma, em que médicos experimentados falharam.  Quando se trata de recolocar no lugar um braço e um pé destroncado, recorre-se confiante a um milagreiro de identidade duvidosa. O sujeito apenas assopra sobre o membro machucado, faz alguns gestos cabalísticos, aperta aqui e acolá, murmura algumas palavras incompreensíveis, quem sabe até piedosas e a perna se alinha e o tendão vai para o lugar, a junta se move, o unheiro morre, a erisipela perde a cor. Em poucas palavras a doença some como que por encanto.
Mas não é só o homem como também os animais se livram com facilidade de males graves. As larvas somem das feridas, a ferida fecha e cicatriza e em lugar da magreza forma-se uma pele lustrosa e carne gorda. O milagre aconteceu. Não negamos que tais curas acontecem   e até concedemos que são freqüentes. Por isso ouve-se seguido a observação: "contudo ajuda" e um segundo acrescenta com ar piedoso: "Com certeza ajudou," e um terceiro grita alegremente: "E ajudará sempre."
O que dizer a isto? Que o recurso de fato ajuda ou vai ajudar, ainda não é prova que seja permitido. Sobre isto decide naturalmente o fato de o recurso estar em sintonia com os ensinamentos da fé católica. Pergunta-se então: Afinal os meios de cura de que falamos podem ser considerados permitidos? Permitidos em princípio são aqueles que a natureza e suas potencialidades nos põe à disposição. Por isso a ninguém é proibido recorrer aos conselhos de um médico experimentado e valer-se dos medicamentos prescritos.
Porque então os médicos não se valem dos mesmos recursos  dos feiticeiros? Faltam-lhe, por acaso, os conhecimentos sobre os potenciais da natureza das diversas ervas, sais, infusões, ou do corpo humano? Afinal para que servem os médicos e porque estudam tanto, se um indivíduo  ignorante entende  mais do que qualquer um deles? Porque não recorrer ao estranho "hocus pocus", [1] que se aprende com facilidade? A resposta talvez seja: (156) porque se trata de um talento individual, um dom da natureza único, inato e por isso não se aprende.
Mas, pergunto, donde sabes  que se trata de fato de um meio natural e que não haja outra explicação? Basta observar o cerimonial e as perguntas ridículas por meio das quais se pretende realizar as curas ou, de fato, se realizam. Por acaso essas cerimônias não apontam claramente para uma ajuda de outra natureza, de que o curandeiro é dotado? Um curandeiro desses diz, por ex., "Frederico tem o pé destroncado, Jesus foi pelos judeus pendurado. Como o estar suspenso não prejudicou a Jesus, o destroncamento não te prejudica." Como é que essas palavras e a invocação dos nomes mais sublimes são capazes de curar por si? Se não têm esse poder qualquer um está em condições de curar um pé destroncado, o que não é o fato. A prova está no fato de se recorrer apenas a determinadas pessoas.
Além disso cada pessoas sensata deveria formular a seguinte pergunta: afinal  o que confere a essas palavras, simples palavras tamanho poder? qual a resposta para essa pergunta? Por acaso quer dizer que Deus relaciona o efeito com a fórmula? Nesse caso estará obrigado a provar como e quando e, além disto, mostrar por que via chegou ao seu conhecimento. É evidente que a resposta lhe causará embaraço e o obrigará a confessar publicamente a sua ignorância. Concede com isto que pratica algo para o qual lhe falta a base suficiente. Portanto, pratica algo que lhe é estranho e não o consegue explicar, nem por causas naturais, nem pela intervenção de Deus. Novamente não há outra saída a não ser concordar que a ajuda tem sua origem em algo que não pode aceitar. Mas, posto que a cura venha do espírito maligno, o que em casos em que os recursos naturais não são suficientes, deve ser admitido, porque nós homens  atormentados não sentimos alívio, mesmo se buscamos a solução no inferno? A simples pergunta  demonstra em que estado de espírito as pessoas se encontram. Olhemos para o Salvador no deserto.
A terceira tentação pela qual foi prometido ao Salvador o reino  da terra com a glória do mundo, terminou também com a repulsa do tentador: "Retira-te, satanás."
E como ficamos nós se insistimos: (157) "contudo ajudou". Suponhamos que as pedras se tivessem transformado em roscas e cucas para o Kerb ou o Salvador descesse num para-quedas  diante das pessoas estupefatas no templo. Teria por acaso triunfado? Com certeza não. Estaria derrotado e teria sucumbido à tentação.
E como palavra final: Adorarás somente a Deus e servirás apenas a Ele e não ao demônio, nem na mínima coisa, nem nas situações mais prementes. Essa deve ser a posição do verdadeiro católico. Devo servir a Deus mesmo que não tenha  pão para comer ou tenha que submeter-me a outros sofrimentos. Como é vedado aceitar o alimento corporal das mãos do demônio, assim está proibido aceitar da sua mão o remédio, nem para a saúde do filho, nem da mulher.
De outra parte os assim chamados milagreiros mostram claramente em nome de que poder e de quem agem. O próprio mistério com que envolvem o seu cerimonial, a negação descarada de suas práticas suspeitas perante o sacerdote, não recomenda as pessoas que se valem de tais práticas. A tudo isso soma-se a teimosia, o orgulho e, não em último lugar, a ganância imunda, fazendo aparecer a inconfundível pata do diabo.
Portanto as curas e as libertações de males que de fato acontecem, de forma alguma são sinais de que os cerimoniais sejam permitidos. Mesmo que as feridas do corpo sarem,  não significa ainda algo de positivo para um cristão. Pelo contrário. Exatamente por meio desses benefícios aparentes, a pessoa enreda-se cada vez mais nas malhas do inimigo maligno e estimulado a confiar nas falsas soluções também em outras situações. De acordo com a nosso opinião não é cristão quem não é capaz de suportar a mínima adversidade e  procurar socorro junto ao inimigo maior de Deus, para se livrar dos seus males terrenos. Com que desdém o inimigo maligno não deve rir quando, com o menor dos motivos, é chamado em socorro pelos que se julgam bons cristãos, esquecendo-se de  Deus e da confiança Nele.
Uma terceira aberração supersticiosa consiste em munir-se de escudos espirituais cartas celestes e similares.
Apresentamos como exemplo um deles para, por meio dele, mostrar como são são recrimináveis tais procedimentos.
Será que é para rir ou chorar? (158) Rir sobre o disparate de um suposto cristão, ou chorar sobre a teimosia de um católico que resiste a qualquer tentativa de conversão? Que força poderia ter um escudo espiritual destes e de quem viria?  Não se espere nada de Deus a quem se invoca como testemunha de forças mentirosas e enganosas. Onde é que Deus prometeu que vinculou tais o quais benefícios e graças com um sinal externo? E, contudo não é raro, como ouvi dizer, que se depositam maiores esperanças numa carta mentirosa, do que nas promessas explícitas do Salvador. Quem sabe trata-se de credulidade e não de superstição insensata? Obviamente os portadores de um escudo espiritual não estão tão seguros de si, como querem aparentar, como se conclui de um episódio acontecido durante a revolução.
No momento em que o exibicionista  seria posto à prova, que nenhuma bala o acertaria, não quis evidentemente submeter-se a um teste que contudo poderia falhar. Será que com isso ele mesmo não concordou que sua confiança não era tão grande quanto alardeava? Ele mesmo terminou reconhecendo dessa forma que o escudo espiritual  não passava de um engano e de uma fraude.
E que posição diferente adota a Igreja Católica  face a estes abusos! Apóia o costume de portar medalhas ou escapulários e fortalece os fiéis na confiança desses objetos sagrados. Acontece que as promessas não se relacionam simplesmente com a possa desses símbolos bentos, mas dependem em primeiro lugar do comportamento pessoal do respectivo portador. A eficácia não depende do objeto em si, mas da oração e da bênção da Igreja. Além disto as promessas  que os acompanham estão em sintonia com  os sadios ensinamentos da Igreja e bom senso das pessoas. Por isso as promessas estão sempre condicionadas e subentendidas à idéia de que o bem material só então pode ser esperado se resultar para o bem da alma. A Igreja nunca emitiu, como não podia emitir uma carta que permitisse pecar livremente. Mesmo as pessoas levianas  que tomam o cuidado, antes de começar a dançar, tiram o escapulário, para se entregar ao vício, não percebem que ele não é um empecilho para as ações ilícitas.
Os escudos espirituais garantem proteção contra todos os atos pecaminosos pois, suas promessas valem sem qualquer condição e em qualquer situação. Não há pessoa adulta que não enxergue a que ponto essa situação contradiz a fé e o são juízo.
Recomendamos as considerações que seguem a todos aqueles que estão entregues a esse tipo de superstição. Conversem com as pessoas  que sofrem desse mal nefasto e tentem desviá-las de semelhante aberração. Seria de grande utilidade que fossem passadas informações confiáveis de acontecimentos deste gênero, ao sacerdote, para que ele, oferecendo-se  a oportunidade, se empenhar para que os últimos resquícios dessa abjeta  superstição, desapareçam do meio do povo cristão. Se alguém tiver dúvidas a respeito do seu futuro, lembre-se que Deus como pai vela pelos homens e carrega o nosso destino em suas mãos.
Se forem acometidos por sofrimentos e enfermidades (160) recorram a todos os meios naturais para livrar-se delas. Na hipótese de os meios naturais não ajudarem, invoquem os sobrenaturais: a oração que conduz os predestinados pelo caminho da cruz até a glorificação. No caso de sentir vontade de munir-se de um escudo forte, carregue sobre o peito um escapulário ou uma imagem do Sagrado Coração. Estes objetos bentos garantem de modo especial a proteção divina.




[1] Jestos e trejeitos cabalísticos que acompanavam os rituais para impressionar os que procuravam o serviço.

Deitando Raízes #37

Capítulo sexto
A vida do povo
Não é raro acontecer que, quando se transplanta uma árvore para outro local, ela começa a definhar e a sobrevivência corre risco. Com os povos acontece muitas vezes como com à árvore transplantada. Enfraquecem e perdem as suas boas qualidades e, no fim, sucumbem de vez. Com não menos freqüência  acontece que uma planta  transferida para uma outra região na terra, lucra em vigor e beleza. O mesmo fenômeno foi observado por vezes com povos que emigraram. E qual foi a sorte dos emigrados alemães para o Rio Grande do Sul ? A transferência de um lugar para outro foi benéfica ou prejudicial ? A resposta não  é tão simples, mas deve ser considerada positiva, se tomarmos como base a convicção dos alemães aqui radicados.
Para começar perguntemos o que aconteceu com o caráter  germânico ? Todos sabemos que seus traços essenciais, a pele clara do corpo, os olhos azuis e os cabelos louros permaneceram como uma bela herança nos descendentes dos alemães. Mas o clima mais quente exerceu uma influência positiva sobre eles, pelo menos num aspecto. O físico ficou mais esbelto, os traços do rosto mais delicados, as mãos e os pés menores e mais graciosos. Sob este aspecto aconteceu uma aproximação com os povos latinos. Acontece que dificilmente se poderá negar que, se o físico dos descendentes lucrou com um perfil mais agradável, perdeu  outro tanto em resistência e robustez. O poderoso esqueleto do agricultor com sua peculiar falta de desenvoltura, cedeu lugar a uma estrutura mais  flexível, embora a cepa dos gigantes não esteja toda extinta. E com isto o que aconteceu com o vetusto caráter alemão ? Aprimorou-se ou transformou-se ? Homens de idade lamentam que os mais jovens não são mais tão respeitosos, tão resolutos e tão honestos. como foram seus ancestrais. (144) Admitamos que, neste particular, a terra e o clima tenham prejudicado o caráter alemão, mas não passaria de uma injustiça generalizar além da medida esta perda. O coração e a alma dos moradores da colônia continuam sendo alemães, também no estrangeiro.
Se os alemães pretendem reclamar alguma importância  para si para o futuro deverão, como fizeram até agora, preservar  as sua identidade e evitar o caldeamento com os nativos. A miscigenação significaria a absorção do elemento alemão, o que não seria bom nem para o Brasil. Com esse procedimento não representam, de forma alguma, um perigo para o povo brasileiro, que de qualquer forma não existe bem definido como tal e, sob o aspecto numérico, não está em condições de assimilar os imigrantes alemães. O Brasil é grande demais e a população nativa muito fraca para esperar tal coisa com chance de êxito, das  populações  imigradas dos alemãs, italianas, polonesas, russas e outras. Para o futuro a república do Brasil transformar-se-á numa réplica da Suíça (evidentemente numa escala muito maior). Nela viverão pacificamente, lado a lado, alemães, franceses, italianos, romanos. Na Suíça basta a unidade do país, o governo central, a história, a língua oficial e os interesses comuns, para garantir solidez e respeito ao Estado. Porque não seria possível o mesmo no Brasil ?
Vamos verificar  se os autênticos hábitos e costumes foram fielmente preservados na nova pátria. O que aconteceu por ex., com o espírito de poupança dos antigos que ganhavam com dificuldade os seus parcos vinténs e os empregavam bem ? Lamentavelmente somos obrigados a concordar com o testemunho uníssono dos avós, merecedores de toda a credibilidade, que não poucas desvirtudes já entraram na mata virgem. Observemos o jovens por ocasião dos assim chamados Kerb e bailes. Na velha pátria não se conheciam argolas nos salões e pendurados neles barrilzinhos com o caro vinho do Reno. Não se oferecia cerveja inglesa ou bebidas às dúzias no meio de um clima de exibição. A alegria era mais disciplinada e não degenerava tão facilmente em excessos decapitando   garrafas de vinho do Reno ou entrando a cavalo no salão. Não raro, como noticia o "Deutsches Volksblatt", o salão se assemelha a um estábulo imundo cheirado a cerveja e a alegria inofensiva degenera em  selvageria animal. Na antiga pátria não se costumava invadir  o recinto dos encontros com a faca desembainhada ou pistola carregada, para transformá-lo num palco de brigas e assassinatos. As festas terminavam com a sensação de satisfação e bem estar, não como agora, com pavor, arrependimento e desespero. Para sermos justos não queremos silenciar que, as nossas condições legais peculiares, tem a culpa principal no avanço frenético da barbárie. Pois, o que pode resultar de bem para o povo quando nem sequer se registra o "corpo de delito" no local da dança onde alguém foi morto. Mais ainda. Nem as testemunhas principais são ouvidas, nem o júri é capaz de causar algum susto, porque qualquer criminoso pode contar com  a possibilidade de uma fuga para o Campo ou a Serra. Nesse contexto geram-se as condições como as que temos no presente. Entende-se assim a observação de não poucos colonos: "Meu Deus. O que seria de nós se não pudéssemos contar com os padres! “Mesmo o mais míope  reconhece que se deve unicamente à religião de o mal não ter assumido proporções maiores e características mais nefastas.
Nos velhos e bons tempos as coisas se passavam bem diferentes na venda de Paul Kasper onde, conforme a tradição, foi instalado o primeiro local para dançar. No recinto com assoalho de tábuas, fechado com lona e coberto com galhos de pinheiro, as coisas aconteciam com maior decência e as chuvas torrenciais que inundavam o local à noite, encarregavam-se para que as diversões não se prolongassem além da conta. Na época a chuva não precisava a sujeira e quem sabe  o sangue, uma limpeza que hoje em muitos lugares, nem uma chuva de três dias resolveria.
Passemos das diversões para o trabalho. Está claro de que a energia para o trabalho da terceira geração de hoje, não  se situa mais no nível dos pais e avós. Com isso não se quer afirmar que se extinguiu na colônia a vontade e o amor ao trabalho. Ociosos são ainda uma raridade e merecem desprezo generalizado. Até se pode afirmar que muitos trabalham demais, ou iludidos por um objetivo equivocado, ou se empenham além de suas forças. Esperam que a bênção do trabalho preserve o caráter alemão dos muitos descaminhos a que o ócio costuma levar os homens e influa como um banho refrigerador sobre a moral do homem  e sobre toda a família humana. Consideremos, por exemplo o esforço extenuante  que a colheita do feijão exige de jovens e velhos        e como o colono, além disto, é obrigado a carregar o ano todo o fardo do trabalho. Aqui nem o inverno propicia descanso para o colono. Durante o dia as plantações de milho tomam-lhe o tempo. É preciso cortar os pés de milho  e dobrar as espigas. É preciso carregar na carroça os numerosos montes de espigas e levá-los até o paiol. Na entrada da noite o gado quer se  tratado e a janta frugal ser tomada. Segue-se mais uma ocupação que, embora não exija grande esforço, requer muito tempo. Todos os membros da família, pais, filhos junto com os vizinhos, reúnem-se no paiol baixo, fracamente iluminado por uma lanterna, como é hábito nas salas de fiar da Alemanha. Aqui, porém, não se escuta o ruído das rocas, mas o farfalhar da palha das espigas, que uma vez livres do seu invólucro, são jogadas num monte. Durante esse trabalho cabe principalmente aos mais idosos contar as vivências do passado, com ênfase especial para  imigração e a fundação das colônias. O povo mais jovem, especialmente as crianças escutam com atenção. Foi dessa forma que se perpetuaram nas novas gerações as máximas e os princípios dos bons e  velhos tempos. Verdadeiros recintos de tecelagem também não são raros nas colônias, com a diferença de que se limitam a uma única família.
Nessas horas noturnas acontece também que os rapazes freqüentam as  casas dos conhecidos à procura de parceiras para o casamento. É mau sinal para o pretendente se uma moça vai dormir com uma saudação seca logo depois da chegada do rapaz. Se permanece, mesmo em silêncio, é sinal que há esperança. Às vezes o rapaz em busca de uma noiva emprega-se com o pai dela, para submeter-se à importante prova nas sua proximidade. Em princípio não há nada contra este procedimento, visto que o patriarca Jacó agiu da mesma forma. Mas segundo o ponto de vista cristão pode ser tomado como inconveniente quanto à convivência contínua sob o mesmo teto depois do noivado.  Em vista da  moralidade pública ou, pelo menos, em nome da honorabilidade pública, deveria ser observada a estrita separação exigida pela Igreja (146), entre o noivado e o casamento. Gastos exagerados com o casamento merecem restrições, tomando em consideração a convivência popular sadia. Acontece que esse é um fato raro e ultimamente tem diminuído muito. Um belo costume é a visita aos doentes pelos parentes e conhecidos. Mas também neste particular deveria ser observado uma medida razoável. Qual é o alívio que pode ter o enfermo quando no domingo de tarde  os visitantes lotam o quarto? Priva, ao pé da letra, o enfermo do ar puro e o grande atropelo dos visitantes o leva ao esgotamento. Não seria mais conveniente que as visitas fossem poucas e de pouca duração? Neste caso servem de quebra de monotonia e uma distração em vez de uma tortura. Merece plena aprovação e nenhuma restrição a disposição de chamar o padre para atender o vizinho, mesmo correndo riscos. Igualmente edificante  e comovente é atitude piedosa de muitos fiéis quando se ajoelham durante a administração dos sacramentos aos enfermos. Todos se ajoelham, rezam, e procuram fazer tudo que está  a seu alcance para se mostrarem prestimosos. Em muitas famílias encontramos uma mesinha com toalha branca, para nela depositar o santo sacramento, um crucifixo, duas velas  e um recipiente com água benta, como o pede o costume católico. Um costume igualmente belo é o velar os defuntos. É evidente que deve acontecer em sintonia com a fé e a sã razão. É edificante quando se reza o terço junto ao falecido e na entrada e na saída se asperge o corpo com água benta. Não é que as gotas de água  tenham qualquer poder, mas a bênção e a prece da Igreja, relacionadas com elas. A aspersão, conforme a concepção católica, cai como um orvalho refrescante sobre as almas necessitadas do purgatório. Feio é o costume revoltante de profanar o recinto onde se encontra o defunto, tomando cachaça no quarto vizinho. "Vocês praticam um belo velório," disse certa vez uma moradora de Bom Princípio, referindo-se a um falecimento na 48, "fazendo-o acompanhar com bebedeira e jogo de cartas."
Há ainda o costume que os parentes e conhecidos de longe e  de perto serem convidados para os enterros. Logo depois de o enfermo fechar os olhos, a notícia voa para a casa dos vizinhos. Sem perda de tempo os cavalos são encilhados e as diversas picadas onde mora parentes e conhecidos da família, são percorridas. Esses não demoram para se porem em movimento. Forma-se um cortejo digno de admiração. Em muitos casos o enterro assume características de grandiosidade, quando se observa o cortejo, subindo ou descendo a encosta de um morro. Na frente  sobre uma carroça, puxada por uma parelha de bois pretos que caminham pausadamente, repousa o caixão preto.  Ao lado caminha um menino carregando  uma cruz e não aro uma coroa. Atrás seguem numa longa fila a cavalo, os enlutados, homens, mulheres e crianças. Quando se trata de uma boa família cristã escutam-se apenas orações. Não esquecerei nunca o que ouvi do velho Johann Brill da Picada Holanda. No momento em que o caixão do seu filho que se afogara no rio, foi alçado na carroça, puxou  com voz grave forte o rosário. Sem dúvida uma atitude de autêntica catolicidade e solidez de caráter. O infeliz pai encontrou assim consolo para a dura perda. Certamente um motivo melhor do que aquele a que recorreu o viúvo de outra confissão, consolando-se com a morte da  mulher pois, ainda te restavam as colônias e a casa  bem instalada.
Por ocasião da morte percebe-se bem o valor da religião! Um pouco antes de morrer foi feito, ao acima mencionado Johann Brill, a sugestão que fizesse alguma coisa em favor da Associação do Menino Jesus. Logo depois do falecimento apresentaram-se seus familiares com o pedido de que o vigário adquirisse uma estátua do Menino Jesus, custasse o que custasse. Foi assim que a igreja da Picada da Holanda foi enriquecida com uma bela estátua (147) do Divino Menino, no valor de 50 mil réis.
Ao se tratar de uma família menos piedosa ouvem-se poucas orações durante o cortejo fúnebre. Acompanham o defunto com espírito embotado. Prostrados com a perda, mas com uma ausência de atitude cristã e a desesperança dos animais que puxam o carro fúnebre. Graças a Deus, entre a maioria dos católicos a oração acompanha os restos mortais dos entes amados até a última morada.
Já no tempo do velho Tobias praticava-se o louvável costume de preparar uma refeição no dia do sepultamento. Presume-se que o motivo consistia em motivar os presentes a rezar pelo falecido e reforçar os laços de amizade para com ele. Uma motivação semelhante encontra-se na assim chamada colação (pequena refeição) fúnebre. De outra forma não haveria uma explicação razoável, muito menos cristã pelo fato. O dia do enterro significa um dia de trabalho duro para as mulheres da casa do falecido e suas vizinhas. As montanhas de cuca e os rios de café servem os presentes que por vezes chegam a dezenas. As mesas são ocupadas alternadamente na casa, até que todos tenham sido atendidos, o que só acontece depois de algumas horas.
Aprovação igual na participação do enterro, merece  o costume de os filhos  do pai ou mãe falecido, se demorem por algum tempo na sepultura para rezar. Falecendo uma criança antes do uso da razão, crianças, principalmente meninas assumem a preparação do corpo e o sepultamento num clima  um pouco menos triste, conforme os ensinamentos da Igreja. A Igreja permite que o caixão dos inocentes seja ornamentado com flores e, durante toda a cerimônia, predomine um tom positivo como se tratasse de um acontecimento festivo. E com razão. Mais um anjo é recebido  na multidão de espíritos celestes, cuja sorte com a idade seria uma incógnita. Com adultos a religião não quer saber de flores. Como pecadores os adultos devem ser apresentados perante o altar. Mesmo o caixão deve ter um sinal da pecaminosidade e uma prece por perdão e misericórdia. A sepultura deve ser ornamentada porque é o lugar do descanso  dos nossos entes queridos, acompanhada pela esperança da ressurreição, voltada para o sul como uma flor que não murcha.
Passemos agora  para uma avaliação dos costumes  na vida da colônia. É um sinal animador que na colônia não se ouve falar em crimes propriamente ditos. Só raramente se noticia alguma coisa que envolve atos contra a propriedade como  o  roubo. Excluem-se deste julgamento favorável os larápios  que na paróquia de São Salvador deram vazão aos seus desmandos. O máximo que pode acontecer é que o mandamento que protege a propriedade alheia seja violado em coisas pequenas pelas crianças. As acusações contra os adultos referiam-se, na maioria dos casos, à negligência na manutenção das cercas. Conta-se que uma exceção menos louvável  em relação à honestidade reinante na colônia, teria sido protagonizada pelos Mecklenburguenses na propriedade de Simonis, perto da igreja protestante. Eram ladrões profissionais de igreja. Seu campo de ação eram as igrejas nas redondezas e tinham seu lugar de refúgio no mato do Dietrich, no caminho de São Leopoldo. Na casa de um dos suspeitos, (148) morto na revolução, o novo proprietário encontrou um papel no sótão debaixo do telhado no qual se assinalava que, debaixo de um galho de timbaúva, direção leste encontravam-se os tesouros roubados. Afirma-se que o novo inquilino descobriu uma quantidade não esperada, inclusive cálices de ouro. Conta-se também que no bosque havia uma oficina para fabricar moedas falsas.
Mais freqüentes acontecem na colônia os delitos  contra a integridade física e a própria vida. Na maioria dos casos não são premeditados e muitas vezes acontecem em diversões. Os desentendimentos surgem normalmente por ocasião 0do Kerb, de bailes e resolvidos com tijolos e estribos. Desta maneira a diversão pública não raro termina em crânios e membros quebrados. A desagradável mania de recorrer a processos diminuiu bastante e os desentendimentos resumem-se mais em ameaças, gritarias e intrigas. Na maioria dos casos as brigas são resolvidas  por acertos,  nos quais ambas as partes arcam com as despesas e o único que leva vantagem é o intermediador.
Um outro vício que tenta insinuar-se silenciosamente na colônia é a bebida. Premidos pela necessidade e levados pela preocupação pelo  bem estar da colônia, reservamos algumas palavras a seu respeito. Não somos daqueles que proíbem  pura e simplesmente as bebidas alcoólicas, mas defendem a moderação que precisa ser praticada.
 O trabalho pesado na roça justifica um trago à noite, mas o consumo no decorrer do dia, durante o trabalho, é um grande mal. Qualquer um sabe que a cachaça com o calor provoca a preguiça e torna a pessoa lerda. Nessa situação não ajuda mas torna-se um estorvo no trabalho e por isso precisa ser evitado. Acresce que aqui faltam de todo os motivos que desculpam o amigo da cachaça, isto é, a alimentação insuficiente e o frio rigoroso. O colono daqui não precisa preocupar-se nem com um nem com outro. Além disso num país de clima quente, a tendência de consumir a bebida proibida, em vez de diminuir, acentua-se. É de todo rejeitável, mesmo que não leve a uma bebedeira total, mas um estado de torpor. O homem que se entrega  a este vício perde toda a dignidade humana, vira alvo de zombaria dos concidadãos que, atrás das costas, riem da sua fraqueza. Uma bruma, por assim dizer, tolda o seu juízo e gradualmente perde a capacidade do julgamento correto de si mesmo e das demais coisas. Sua vontade perde o vigor e a energia moral e, como uma corrente de ferro o vício nefasto o imobiliza. Não por nada pergunta Sagrada Escritura: "Quem sofre?; o pai de quem sofre?; quem briga?; quem cai nos valos?; quem se fere sem motivo?; quem tem os olhos obscurecidos.?" A inegável verdade nos dá a resposta: "Não serão aqueles que se demoram junto ao vinho e se entregam esvaziando copos?" Se vale para o vinho, tanto mais vale para a cachaça, pois, não sem razão um poeta mais recente a estigmatizou como a bebida do demônio. O próprio dramaturgo Sheakespeare escreveu: "Oh espírito invisível da aguardente, se não tens nome pelo que és, quero chamar-te diabo!" Por essa razão  a Sagrada Escritura acrescenta na página citada: "Não olhes para o vinho com a sua cor de ouro e brilhando no cálice; ele desce com suavidade, mas no fim pica como uma (149)  cobra e libera veneno como um basilisco. Teus olhos voltar-se-ão para mulheres estranhas e teu coração falará coisas erradas. Serás como aquele que dorme em pleno oceano e dirás como o piloto semi  adormecido que perdeu o rumo. Bateram-me e não senti dores e arrastaram-me e não o percebi. Quando acordarei e encontrarei de novo vinho? (Prov. 23.29).
Onde encontro vinho (cachaça)? Esta é a preocupação íntima e o desejo maior do vencido pela bebida. Como já aconteceu chega ao ponto de engolir frascos de remédio com tintura, ou outras substâncias fortes, mesmo de aparência tão repugnante como a lavagem ou produtos de limpeza para metais.  "Onde posso encontrar cachaça? esta é a única pergunta que interessa ao beberrão. E onde a encontra ele a agarra, mesmo que esteja escondida no bebedouro dos porcos. Este esconderijo foi certa vez utilizado por uma viciada, para esconder a garrafa de cachaça para que o marido não descobrisse seu vício imundo. Até que ponto é desagradável o comportamento de uma mulher entregue a este vício, mostra um fato contado por pessoas de idade. Mal as galinhas tinham posto dois ovos, levava-os sem perder tempo até a venda para transformá-los em cachaça. O fato de as próprias crianças  se entregarem a este vício detestável e indigno, mesmo que não cheguem ao grau máximo, transparece  na pronta resposta de uma menina na aula de catecismo. À pergunta porque o pai do céu era melhor do que o pai terreno, respondeu: "Porque o papai lá em casa toma cachaça demais." Que dizer da falta de juízo dos pais quando não perdem ocasião para permitir  aos pequenos que bebam também, embora estejam alertados pelos médicos de que estas bebidas causam um grande dano às crianças. Não é de se admirar quando no Kerb cinco fedelhos se aproximaram do balcão da venda mandando: "Serve uma cachaça!" É nisso que termina fatalmente quando o exemplo e a falta de juízo dos pais não previnem o mal. Perguntamos: que proveito pode tirar a vida da colônia de tais hábitos? É muito triste quando homens, aliás trabalhadores e cristãos de uma comunidade, pagam regularmente tributo ao demônio da cachaça. A degradação vê-se estampada no rosto. Apresenta um vermelho fora do natural combinado com inchaço. Sua expressão torna-se banal e o olhar abobado. Encarecemos que estas pessoas levem  a sério as palavras da Sagrada Escritura acima mencionadas e não joguem ao vento os desejos e os pedidos dos verdadeiros amigos. 
Numa região em que os católicos e protestantes vivem misturados, é óbvio que deva reinar uma verdadeira tolerância entre as duas confissões. Se houvesse preferência para uma imigração confessional esta deveria ser dada evidentemente aos católicos. Esta foi a intenção original de D. João VI quando, em 1818, decidiu trazer imigrantes da Suíça e Alemanha. Mais tarde esta condição foi abandonada e foram aceitos os cristãos de diversas confissões. Já naquela ocasião fizeram-se ouvir do lados dos protestantes o desejo justificado que, conforme os acertos originais, lhes era garantir a prática livre da religião no plano legal e a validação dos sacramentos presididos por seus pastores. Como se sabe o governo concorda com as exigências, mesmo que não reconheça uma posição de igualdade com a Igreja Católica oficial. As outras confissões continuaram lutando pela igualdade e, na verdade,  conseguiram de fato a remoção gradual de todas medidas contrárias a eles, como por ex., de terem torres nas suas casas de oração ou procissões públicas acompanhadas com o toque de sinos. Com muita razão os casamentos mistos levam, na maioria dos casos, à indiferença religiosa. Nós católicos avaliamos esta questão no nosso ponto de vista, os protestantes do ponto de vista deles.