Capítulo terceiro.
Um pedaço de Alemanha no Brasil
As condições sociais na colônia
O período logo após a fundação
No capítulo anterior
examinamos a casa do colono com o seu entorno. E para fazermos um quadro
objetivo e completo, é preciso avaliar a
picada como um todo e a região colonial no seu conjunto. Os limites são
demarcados pelos brasileiros entre os quais os colonizadores alemães se fixaram
como uma etnia, fiel aos seus hábitos, à sua cosmovisão e à sua língua.
Além da colônia não
havia povoação maior fora de Porto Alegre. As poucas casas junto às capelas de
Sant`Ana, Viamão e Aldéia dos Anjos, [1] não merecem o nome
de cidadezinha. Na maioria dos casos os brasileiros moravam dispersos, os ricos
nas suas enormes estâncias, os mais pobres em algum canto perdido do mato ou do
campo, onde cultivavam uma pequena propriedade rodeada de capoeiras e macegas.
Os habitantes da terra distinguiam-se pelo
caráter nobre e generoso, especialmente no tempo em que o contato
acompanhado pela desconfiança ainda não
os havia corrompido. Os brasileiros receberam os adventícios com certa
demonstração de amizade e, na medida do possível, prestimosos na melhoria das
condições. O alemão espantava-se quando,
ao admirar o cavalo de um brasileiro, escutava as palavras: "o cavalo é
seu". E não se tratava de palavras vazias. Na atitude mais cavalheiresca
possível, o brasileiro não teria mais aceito de volta o presente. Só mais tarde
a generosidade dos filhos da terra sofreu um certo esfriamento. O alemão não
imitou o seu modo de proceder e limitava-se a aceitar os presentes. Se esta
atitude faz parte de uma peculiaridade dos germanos antes do seu contato com os
romanos, não é assunto a ser decidido aqui. Basta a menção desta
característica. Na época praticava-se ainda entre os brasileiros a repugnante
escravatura, abolida apenas no dia 13 de maio de 1888. Brasileiros em melhor
situação eram donos de um número maior ou menor de escravos. A eles cabia a
obrigação de todas as tarefas na casa e no campo, enquanto o senhorio se
entregava ao ócio.
Conhecemos de outros
países as condições vergonhosas causadas
pela escravidão. Queremos apenas chamar
a atenção que o alemão aplicado, acostumado
ao trabalho duro, numa livre competição, só pôde levar a melhor sobre o
brasileiro indolente e arredio ao trabalho.
Enquanto a média dos
alemães conquistou a riqueza e o bem estar, muitos brasileiros regrediram sem
parar. Em vez de fazerem suas terras produtivas e viver da renda, lançaram mão
do seu capital de raiz, venderam colônia após colônia, chegando ao ponto de a
família decaída mal e mal vencer a pobreza com o que sobrou. Os alemães, pelo
contrário, lançavam-se ao trabalho com denodo e perseverança e, em questão de
poucas décadas, transformaram a região colonial num centro produtivo, rodeado
pelos campos exclusivamente de criação
de gado dos brasileiros. Acontece que os brasileiros e os orientais
dedicavam-se de preferência à criação de animais. Não obstante homens de
visão que, somente se encontram no meio
de um povo formado por agricultores livres e autônomos, conquistaria o
reconhecimento e a riqueza para as fronteiras do sul do Brasil, como de fato
aconteceu. Levado por esta razão o imperador D. Pedro I tomou a decisão de trazer
agricultores diligentes. Sabia muito bem que a escravatura não se manteria por
muito tempo. Por isso empenhou-se (10) na preparação do terreno para o trabalho
livre. Esta preocupação fez nascer em 1824 a Colônia de São Leopoldo, batizada
assim em homenagem à sua esposa D. Leopoldina, uma princesa austríaca. Os
soldados foram arregimentados para a guerra contra os rebeldes da então
Província Cisplatina, hoje Estado Oriental, sob a condição de que, após quatro
anos de serviço, serem indenizados com terras. Entre esses primeiros colonos
encontravam-se imigrantes, já mencionados mais acima, vindos de Mecklenburg,
Birnfeld e Hessen, As belas promessas segundo as quais os agentes ofereciam
lotes de 160.000 braças quadradas, passagem gratuita entre o local de embarque
e o destino e muitas outras vantagens, acenavam com perspectivas promissoras aos agricultores do Reno e do Mosela. Em 1828, um determinado número de
alemães e irlandeses, que se tinham sublevado no Rio, foram embarcados para a
Província do Sul para aí serem assentados. Somente os alemães lograram um certo
progresso.
No ano de 1830 a
imigração chegou a ser interrompida em conseqüência de uma lei, inspirada num nativismo tacanho, isto é, num
favorecimento unilateral dos brasileiros. Durante a assim chamada Guerra dos
Farrapos as colônias foram entregues à própria sorte. Somente em 1846 a corrente imigratória recomeçou a fluir
para o Brasil. Santa Catarina, Espírito Santo, assistiram à formação de
colônias alemãs em seus territórios. Em toda a parte os pioneiros demonstraram
serem laboriosos. A maior parte dos imigrantes daquele ano foi assentada na
nova picada da Feliz, na margem direita do rio Caí. Entretanto, o ano seguinte,
1847, trouxe apenas a metade dos imigrantes. Nos anos posteriores foi diminuindo
cada vez mais o número ao ponto de, entre 1848 e 1855, chegarem apenas 305
novos imigrantes. Como se pode concluir do que se disse acima, o governo
central chamou a si a tarefa de oferecer aos alemães condições muito
favoráveis. Mas a boa disposição da dinastia imperial nem sempre era cumprida
plenamente devido a ciumeiras e mesquinharias. Muitas vezes os lotes lhes eram
designados sem medirem a área exata de
160.000 braças. Acrescia que os lotes
nem sempre pertenciam ao governo - terras devolutas - mas propriedade privada.
O governo se via em apuros quando se tratava de expedir os títulos de
propriedade que os colonos reclamavam. Prometia tudo sem nunca fornecer os
títulos, resultando em intermináveis contendas e provocando uma insatisfação generalizada. Finalmente foi nomeada uma comissão
encarregada das medições e aprontar os respectivos títulos de propriedade.
Ficaria demasiado longo se entrássemos em detalhes desta confusão. Basta
registrar que dos 1.500 lotes coloniais, 1.400 foram regularizados. Essas
medidas devolveram grande tranqüilidade para a colônia que, durante décadas
vira ameaçada a propriedade das terras legitimamente conquistadas.
No que se refere ao
relacionamento dos colonos alemães com
seus concidadãos brasileiros, pode-se afirmar que a maioria da população
mostrava-se favorável aos alemães. Na
verdade eles mereciam plena confiança e benevolência, justificada pelos anos
que se seguiram. É verdade que os alemães se agarravam aos seus costumes, às suas convicções
religiosas e, de modo especial, à sua língua materna, sem contudo, em
circunstância alguma, emitir sinais de suspeita sobre a condição de cidadãos da
nova pátria.
Prova da
autenticidade da sua cidadania foi o comportamento adotado no período da
Revolução e, mais tarde, por ocasião da guerra contra o Paraguai. Em nenhuma
dessas ocasiões mostraram menos espírito
de sacrifício e coragem do que seus concidadãos brasileiros. Outro testemunho
neste sentido foi a vida regrada e o amor à ordem dos moradores da colônia, fazendo
com que ocorressem relativamente poucas transgressões da lei, provando serem
bons cidadãos. O boato de que havia um estado dentro do estado, que havia risco
de separação, não passava de uma fantasia hostil e irresponsável. Podemos
afirmar com razão que o Rio Grande do Sul deve à imigração alemã o seu
florescimento atual.
Observemos as
pessoas que vieram da Europa para cá. Eram quase sem exceção pobres, pequenos
agricultores, diaristas e mineiros. Entre eles não raro encontravam-se
existências mal sucedidas, algumas até com "o chão queimando debaixo dos
pés", [2] desejosos de
começar uma vida nova em terras distantes. Para esses elementos o abandono da
terra natal significava um benefício e o Brasil, na verdade, uma terra
prometida. Exigia, entretanto, duros combates com gigantes para
transformar-se na Canaã do tempo dos
Israelitas. No Brasil os gigantes eram: a natureza selvagem, a mata virgem, a
falta de estradas, a distância dos mercados para a colocação dos produtos. Num
combate que durou anos esses gigantes foram vencidos. A escravidão
do Egito, neste caso eram as minas de carvão, os salários de fome no Hunsrück.
Na nova pátria encontraram condições bem diferentes. Pelo menos tinham com que
enfrentar a fome e não havia preocupações pelo amanhã e o futuro dos filhos.
Podiam movimentar-se
livremente no campo e na floresta que Deus fazia crescer para todos sem o risco
de, a cada passo, ter que enfrentar a vigilância do gendarme [3] ou a espingarda do
caçador, a serviço do senhor. Por vezes confiantes demais e provocadores,
julgavam-se fora do alcance da lei e
acima da decência. Infelizmente portavam-se com esta auto-valorização perante
aquelas autoridades das quais não tinham a temer castigos materiais. Mostravam,
porém, uma enorme submissão perante as autoridades policiais menos graduadas.
Fique claro que se tratava de excrescências que, comparadas com o muito de bom
que havia, não pesavam muito na balança. A situação dos colonos melhorava de
dia para dia emprestando à colônia um aspecto de bem estar. A partir de então
toda a Província entrou num ritmo de prosperidade, tanto no que se refere ao
comércio, à economia, à autonomia política e o progresso. A administração das
colônias era muito simples. O Diretor da Colônia decidia tudo, sendo como, por
ex., José Thomas de Lima e mais tarde o Coronel Dr. Daniel Hildebrand, homens
íntegros e bem intencionados com os colonos. Além disto, durante os primeiros
dez anos, os colonos estavam isentos de todos os tributos além do serviço
militar, estando em condições de cuidar com sossego do seu progresso material.
As condições de saúde na nova terra eram também bastante boas, numa temperatura
média em torno dos 17º, conhecidamente a mais apropriada para o organismo.
Somavam-s a isto os preços muito baixos. Na média pagavam-se sete a oito mil
réis por um cavalo. Em muitos casos meia colônia valia apenas cinco a seis mil
réis e até chegava a ser torrada em troca de uma garrafa de cachaça. Os
trabalhadores que hoje ganham dois mil réis ao dia, na primeira década tinham que
contentar-se com oito vinténs e, mesmo assim, para os robustos trabalhadores no
mato. Eram obrigados a trabalhar honestamente para ganhar o dinheiro, fato que
hoje, como se sabe, já não é mais (12) levado tão a sério. Em contrapartida
podiam fazer cinco refeições frugais mas fartas ao dia. De manhã lhes eras
servido café feito de milho torrado sem açúcar e pouco leite, de vez em quando
acompanhado por um ovo. Ao meio dia o
cardápio assemelhava-se bastante ao dos
primeiros anos. A diferença estava na maior freqüência de charque, de carne de
cavalo e sebo no lugar da banha, fornecido pelas charqueadas, naturalmente nem
sempre fresco e de odor agradável. De mais a mais a situação melhorou de ano
para ano e não poucos alemães adquiriram um escravo por 100 mil réis. Como
serviçal fazendo parte da herança recebia normalmente bom tratamento. A
educação, porém, deixava muito a desejar, ou porque o clima favorecia a moleza
ou porque os brasileiros contaminavam os alemães. Em poucas palavras, a
juventude já não era mais educada naquele sistema sólido e, entre pais e
filhos, estabeleceu-se uma relação estranha. Estes eram tratados antes como
iguais e menos como subordinados, assumindo em família, uma postura de
autonomia. Não raro o filho tinha seu próprio cavalo ou cultivava uma
determinada área da roça por conta própria, o que, com certeza, não contribuía
para fomentar o respeito dos filhos para com os pais. Com o incremento do bem
estar insinuou-se também, pouco a pouco na vida pública, a tendência de
usufruir a vida e entregar-se às diversões. Se as diversões se limitassem à
caça não haveria muito a objetar. Acontece que há muito animal selvagem que, se
não forem exterminados, precisam ao menos ser reduzidos em número em favor das
plantações. De modo especial os porcos selvagens causavam grandes prejuízos às
lavouras e, eram exatamente eles, o principal alvo dos caçadores. Na roça do
velho Bihler foram abatidos de uma só vez sete exemplares, apesar das armas
ruins então disponíveis. Usava-se uma espingarda de dois canos, dos quais
funcionava um só. Tanto nas colônias quanto no País todo havia veados em
abundância. Aconteceu, segundo o relato confiável de um homem, que em São Gabriel todo o morro estava tomado
por pequenos veados e ele próprio galopou atrás de dois filhotes até, de tão
cansados, deixaram-se pegar com as mãos. As aves ofereciam fartura semelhante
ao caçador. Galos selvagens cujas penas eram muito apreciadas, podiam ser
vistos até 20 juntos numa árvore. Pode-se dizer que estavam a ponto de
arrebentar de tão gordos e mesmo com um tiro não levantavam vôo. Nas planícies
reinava a ema, caçada no interior de São Gabriel. Certa feita Johann Finger
encontrou num único ninho 25 ovos. Como se tratava de uma raridade fez das
ceroulas e da camisa dois sacos e, cantarolando de satisfação, levou seu
tesouro para casa, obviamente a cavalo.
Conheciam-se os
mesmos macacos de hoje, principalmente o vermelho grande e o pequeno mico.
Naquela época havia um número maior deles, assim como de cães selvagens, quatis, tatus e outros mais. Com a presença
dos muitos caçadores domingueiros, estes animais retiraram-se para lugares mais
afastados no mato, onde ainda hoje podem ser encontrados.
Os tempos melhores
levaram a abertura de número maior de vendas que ofereciam a preços baixos
cachaça e vinho português, tendo como conseqüência a entrada de vícios na
colônia. Muito poucos se preocupavam em aproveitar este bem-estar crescente,
para melhorar a formação, um equívoco que perdurou até os dias de hoje. Nos
domingos era preciso divertir-se a qualquer custo. Mesmo que na época não
houvesse como formar uma banda de música completa, as pessoas costumavam
reunir-se em volta de algum artista, que sabia tocar com certa maestria as
velhas melodias na sua gaita de fole. Daqueles dias ficou na memória o velho
Heck Hannickel, um valente tocador de clarinete, o qual, como comprovam
testemunhas oculares, tinha quase a altura do Spielmann. Os músicos iam tocando
de uma picada para a outra e em toda a parte eram hóspedes bem vindos. Oxalá
tivesse permanecido ao nível da música simples
e da alegria inofensiva. Mas as conseqüências normais da paixão pela diversão instalaram-se
também aqui. O espírito religioso e a freqüência à missa entrou em decadência. A preocupação pela
escola passou para um segundo plano. Perdeu-se o interesse pelo progresso
espiritual e os excessos, (13) as animosidades e coisas piores tomaram o lugar dos velhos costumes frugais. O espírito de moderação
cedeu lugar ao desperdício, a sobriedade à tendência de consumir bebidas
alcoólicas e a germanidade que florescia
com vigor, correu o risco de perder-se e embrutecer-se na maioria das pessoas. Esta mudança rápida
tornou-se prejudicial para pessoas que saíram de circunstâncias difíceis e, de
uma hora para a outra, transferidas para a fartura. A sorte faz do cavalo um
arrogante e as mulas que vão bem demais vão dançar na neve. [4] Foi quando, de uma
hora para a outra, uma terrível tempestade varreu o Rio Grande do Sul,
mergulhando também a colônia num período
de grandes sofrimentos, do qual saiu mais tarde purificada e rejuvenescida.
Falamos da Guerra dos Farrapos, assunto para o capítulo que segue. Antes,
porém, de discorrer sobre ela, descrevendo suas idas e vindas, queremos chamar
a atenção dos nossos leitores para a ação da Divina Providência, como ela
interveio magnificamente na história da imigração e colonização.
Da mesma forma como
antigamente o povo de Israel, oprimido
pelo Egito, foi libertado pelo Deus dos seus antepassados e recebeu uma nova
herança, assim aconteceu também, não sem
um desígnio especial, que grupos indigentes foram tirados de solo europeu e
assentados em um novo continente. Os homens de estado quebravam inutilmente a
cabeça, para resolver a difícil situação de uma população que crescera além da
medida. As medidas por eles adotadas pareciam-se com as de uma criança
comparadas, com os planos da Providência.
Donde surgiu repentinamente o impulso, a nostalgia e o ímpeto de migrar,
que se apoderou com súbita força, de significativas camadas de um povo e o
forçou a partir em busca de uma terra longínqua? Obviamente Daquele que, de uma
extremidade da terra à outra, ordena tudo e governa as criaturas com energia e suavidade. Os míopes encontram nas
circunstâncias externas, como pobreza, falta de trabalho, dominação militar, a
única e bastante explicação. Para aqueles que enxergam mais longe, revelam-se
desígnios superiores e destinos relacionados com a história do mundo. Durante
muito tempo foi rejeitada a solução dos males oriundos da escravatura pelo aporte
de trabalhadores livres. O Brasil que, em questão de meio século, transformou-se em República, teve que ser preparado para a
mudança de forma de governo. Por essa razão
foi preciso providenciar pela consolidação e unidade, por meio de um
povoamento estável, exatamente nos estados limítrofes do sul. Mas o que confere
à imigração alemã um valor ético incalculável, é a sólida vida religiosa que o
alemão trouxe consigo e com a ajuda de Deus conserva até o momento.
Um século antes da
proclamação da República, aconteceram movimentos revolucionários em várias
províncias, visando conquistar a independência e fundar repúblicas. Assim
ocorreu em Pernambuco de 1817 a 1824. Na época, porém, estes levantes foram
dominados sem maiores esforços. No Rio Grande do Sul a revolução irrompeu em
Porto Alegre em 1935. Por esta razão o 20 de setembro ainda hoje é comemorado
como feriado nacional e a bandeira dos velhos Farrapos é, de momento, o pendão
do estado do Rio Grande do Sul. O cabeça do levante foi o coronel imperial
Bento Gonçalves. Muitos aderiram a ele e
o presidente imperial Braga viu-se obrigado a retirar-se primeiro para
Rio Grande e depois para o Rio de Janeiro. Sem tardar os insurretos exigiram um
governo próprio tendo Marciano Ribeiro como presidente e Bento Gonçalves como
comandante das armas. Somente as cidades de Rio Grande e São José do Norte
permaneceram em poder do Império. Do Rio
de Janeiro foi então nomeado um novo presidente na pessoa de um certo Araújo
Ribeiro. Sua habilidade conseguiu espalhar o desentendimento entre os
revoltosos. Conquistou para a causa da legalidade o competente oficial Bento
Manoel e de um golpe a situação estava mudada. No dia 17 de junho de 1836 a
cidade voltou à submissão e recebeu o título honorífico de "a valorosa e
fiel cidade de Porto Alegre." O capitão do mar Greenfal assegurou o
domínio sobre a Lagoa dos Patos e, em questão de pouco tempo, os imperiais
conquistaram a dupla vitória em Itapuã e
na Ilha do Fanfa. Os revolucionários
apoderaram-se da cidade de Pelotas e instalaram uma república na cidade
de Piratini e Bento Gonçalves, que caíra prisioneiro numa batalha anterior,
proclamado seu presidente. Mas pouco a pouco a causa perdeu o apoio até o
infeliz embate final em Candiota. Desta
forma a guerra civil estaria encerada no
começo de 1837 se o regente Diogo Feijó não tivesse feito uma escolha infeliz.
O presidente nomeado não agradou a Bento Manoel e, como conseqüência passou
para o lado dos sublevados. Os imperiais perderam as escaramuças do Rio Pardo e
Caçapava e, apesar de todos os esforços, não conseguiram mais o controle da
Província. Um novo presidente nomeado foi aprisionado e seu sucessor, marechal
Elisário de Miranda, derrotado no Caí. Mais tarde os revolucionários, sob o
comando de Davi Canabarro, empreenderam uma expedição a Santa Catarina, onde se
apoderaram da cidade de Laguna em 1839, mas foram forçados a abandoná-la depois
de poucos meses. De volta ao Rio Grande do Sul sofreram várias derrotas, como a
de Taquari e no malogrado assalto a São José do Norte. Neste meio tempo chegou
a Porto Alegre o general Andreas, como Presidente e comandante das tropas e
manteve com êxito os inimigos em xeque. Uma mudança decisiva, entretanto,
deu-se apenas em 1842, quando o famoso barão de Caxias, vencedor da revolução em
São Paulo e Minas Gerais, assumiu a administração e pacificação do Rio Grande
do Sul. No final de 1842 destroçou facções do exército em diversos lugares
(Poncho Verde,, Camaquã, Cangussu) nos quais se celebrizou o conhecido barão do Jacuí e Bento Manoel passou de novo para os
imperiais. Daqui para frente a guerra prolongou-se apenas na aparência. As
forças rebeldes estavam esgotadas e prontamente aceitaram em 1º de março de
1845, a oferta de uma anistia magnânima.
[1] Cidade de Gravataí de hoje.
[2] Expressão usada para dizer que alguém tinha cometido algum delito e
a plícia estava em sua perseguição
[3] No contexto refere-se ao guarda florestal.
[4] O excesso de confiança faz com que as pessoas se arrisquem além das
suas capacidades, como as mulas que vão dançar na neve onde fatalmente levarão
tombos.