O
que se entende por identidade étnica?
Este conceito usado com tanta
freqüência aparece quase todos os dias
nos jornais. No plano das percepções qualquer um sabe do que se trata. Mas
poucos provavelmente tentaram até agora
formular em poucas palavras o seu significado.
Se não me engano o conceito de
identidade étnica apareceu a primeira vê nos escritos de Jahn. Ele deu forma e
sentido à expressão e reuniu em torno de si a juventude tomada do ideal
nacional.
Empregamos espontaneamente a
expressão “nossa identidade étnica”, ou “identidade étnica no Brasil”. Pensamos
com isso apenas superficialmente no conjunto das pessoas de sangue alemão. O
sentido da expressão “identidade étnica” é, porém, mais abrangente e mais
profundo. Diz respeito menos ao indivíduo do que às suas manifestações. As
manifestações são de natureza íntima, étnica e cultural. O conjunto delas, a
compreensão como um todo, implica no conteúdo do conceito de identidade
étnica.Os mesmos costumes, os mesmos usos, a mesma maneira de ser, a mesma
língua, as mesmas expressões culturais, etc.,
formam uma unidade étnica. A identidade
étnica não conhece fronteiras. Ela é propriedade de uma determinada
comunidade de pessoas. Não é passível de abandono, de troca, de negação, como
se troca uma casa por outra. Porque no seio da identidade étnica encontram-se
valores que foram reunidos no homem durante séculos. Identidade étnica é a
herança que os nossos antepassados nos legaram. Representa assim o fundamento
da nossa vida. Temos a consciência que a nossa energia vital, os frutos que
amadurecemos, são o resultado de incontáveis
vivencias, amealhadas pela nossa estirpe no decorrer dos tempos.
Impõe-se então o fato: “não somos
nós que vivemos mas os nossos antepassados que vivem em nós”. Conclui-se que se
nós não existimos por nós mesmos, mas através de nós se expressa aquilo que os nossos ancestrais
construíram e plasmaram, perdemos totalmente as nossas raízes, se jogarmos ao
mar essa herança. O nosso eu, visto isoladamente, não tem valor, é vazio e
pobre. É incapaz de realiza, de construir alguma coisa, sem que a identidade
étnica herdada dos antepassados atue em nós. Como ninguém pode trocar a sua
identidade étnica, tão pouco pode renunciar a ela pois, a identidade étnica é o
produto de uma evolução que recua até os idas primigênios da história do homem.
Essa evolução processou-se organicamente, naturalmente e lentamente, de geração
em geração e seu resultado provisório manifesta-se em nós. Essa evolução no seu
acontecer marcou fronteiras precisas entre os povos. Compreende-se assim que
ninguém está em condições de abrir mão, de uma hora para a outra, da sua
identidade étnica e assumir outra. Para incorporar uma identidade étnica
estranha falta-lhe o direcionamento condicionado pela natureza das coisas. A
súbita adoção de uma identidade étnica alheia tira o homem inteiro do
equilíbrio. Na verdade fica sem identidade étnica alguma. Significa abrir mão
da identidade historicamente
condicionada, para preencher o vazio com uma outra que lhe é estranha.
Entre a identidade étnica adquirida e o ser humano, falta o elo de ligação
natural, fruto da evolução natural histórica. O resto só pode ser uma
caricatura de homem.
O que se entende por Comunidade
Nacional
Comunidade nacional é uma
expressão que apenas em tempos mais recentes teve o seu uso generalizado. Mas
não é uma invenção, melhor dito, não é uma conquista do nosso tempo. A comunidade
nacional vem a ser a consciência do
pertencimento comum das pessoas a um Estado. Nem a unidade de pensamento
político é determinante. A comunidade nacional materializa-se no amor ao
próximo, no reconhecimento dos valores dos outros e na valorização da sua
concepção social, cultural ou outra, dentro do todo. Consiste assim na inserção
do indivíduo ou de certos grupos de indivíduos no todo, com a finalidade de
promover o bem estar do todo.
Dessa caracterização de
identidade étnica e comunidade nacional, deduz-se claramente que não conceitos
idênticos. É possível que em estados do tipo nacional, os dois sejam reunidos,
misturados e torçados. Nossa tarefa consiste em enfrentar e tratar do problema,
a partir de um ponto de vista próprio, como veremos a seguir.
A comunidade nacional é, em
última análise, uma comunidade de destino. A seguir tentarei expor as razões
dessa afirmação.
Identidade étnica e comunidade
nacional no Brasil
Pela nossa maneira de ver as
coisas não existe identidade étnica no Brasil pois, o Brasil está sendo povoado
por elementos étnicos heterogêneos, dos quais cada qual tem a sua identidade
própria. Contamos com identidade étnica portuguesa, alemã, italiana, polonesa e
outras, mas não brasileira. Trata-se do óbvio, porque cada qual procura
preservar a sua herdada dos seus antepassados. A par disso, porém, há algo que
é comum a todos e este novo poderíamos chamar de brasileirismo. O brasileirismo
não exige o abandono da maneira de ser herdada e inerente às pessoas, mas
somente tornar úteis os valores próprios de cada um em função do bem de todos,
isto é, o Brasil.
Nem poderia ser diferente com o
brasileirismo. Assim como a natureza não dá saltos, não há como forçar uma
evolução que se processa conforme lógica
a natureza, a enveredar numa direção e por caminhos artificiais. Neste caso nem
se poderia falar em brasileirismo mas em opressão das identidades étnicas
numericamente inferiores, pelas mais poderosas. Este fato, de forma algum,
impedirá a formação de uma identidade
étnica brasileira. Ela evoluirá do
brasileirismo, o qual se construirá na única base possível para a identidade
étnica. A evolução é lenta e se passarão séculos até que se possa falar em identidade étnica brasileira.
A evolução natural das
coisas leva nessa direção. Da mesma
forma como não se pode obrigar as pessoas a abrir mão da sua identidade étnica,
de uma geração para a outra, sem grandes danos para os valores permanentes, tão
pouco será possível sustar o processo de amálgama, estimulado pela lógica das leis
naturais. Dá na mesma se é possível ou quando é possível verificar um resultado
definitivo. Os maiores escritores brasileiros como Euclides da Cunha o
consideram discutível. Consideram-no impossível e até perigoso do ponto de
vista da miscigenação racial. As razões que alega são indiscutíveis e de
validade perene.
Basta-nos para nós o nosso
brasileirismo em cuja sombra vivemos felizes e satisfeitos no Brasil. O nosso
brasileirismo se constitui na base da identidade étnica brasileira.
Existe uma comunidade nacional
brasileira. É a conclusão lógica das considerações feitas acima. Caso nao
existisse o Brasil como um todo, dificilmente subsistiria, tendo em vista a
composição étnica heterogênea do seu
povo. Somente a comunidade do povo como um todo, evidente para todos desde o
Oiapoque até o arroio Chuí e do Cabo
Branco ao Javari, faz com que o Brasil seja o colosso que é. O comum, aquilo
que o povo possui como uma comunidade, é o brasileirismo.
Resumindo pode-se dizer.
1. Ainda não existe uma identidade
étnica brasileira.
2. Mas existe uma comunidade
nacional brasileira,
Como se comporta a identidade
étnica alemã e a comunidade nacional no contexto brasileiro e em relação à
comunidade nacional brasileira?
Em suas poesias uma poetisa
teuto-brasileira deu-nos a resposta para
a pergunta. Com sua amável permissão cito seus versos como resposta à
pergunta feita pois, linguagem poética,
como se sabe, toca o coração e é o que pretendemos. Os nossos companheiros de
estirpe que nos entendam e o melhor caminho para entender são os versos do poeta:
Existe identidade étnica no
Brasil
O cemitério está ali. Palmeiras
farfalham
O vento veloz por seus leques
passa,
Como se aqueles homens o fossem
escutar
Que há muito sob suas raízes se
decompuserem.
Percebo o elo que nos une
A nós e a terra, em que os mortos descansam
Que nos une com nossos
companheiros de estirpe,
Pela mesma palavra, o mesmo
destino, a mesma obra.
Nós filhos da terra os costumes
preservamos
Que do nosso mais profundo ser
são a essência
Tão alemães como nossos pais
Que há muito são terra da nossa
terra.
Tão alemão como outrora nossos
pais foram,
Plenos de energia alemã, orgulho
e vontade alemã,
Assim permaneça por muitos anos a
germanidade
Dos filhos dos filhos o maior
tesouro.
Eis uma confissão de fé cálida
para com a maneira de ser e os costumes dos antepassados.
Há muito os primeiros imigrantes
jazem decompostos em terra brasileira,
mas nós temos a obrigação de guardar a sua herança, se nos quisermos mostrar
dignos deles. Toda a nossa força encontra-se
na nossa identidade étnica. Se a largarmos de mão, largamos a nós mesmos
de mão.
Cabe-nos, portanto, preservar a
nossa idntidade por razões egoístas.
Continuamos a guardá-la como
legado dos nossos antepassados e finalmente pelo bem da nossa pátria.
Somos portadores da identidade
étnica alemã no Brasil. Como nos situamos então frente à comunidade nacional
alemã? Logo no início afirmamos que para nós comunidade só pode significar
comunidade de destino. Nosso destino está e estará sempre ligado ao Brasil.
Pertencemos à comunidade nacional brasileira e para ela estamos disponíveis. Quando na Alemanha se fala num
povo de cem milhões, isto vale para nós somente na medida em que se considera a
identidade étnica. No momento em que se pretende inserir-nos numa comunidade
nacional de cem milhões, só temos um definitivo não como resposta. O que temos
em comum com a nossa terra de origem é a participação e o comprometimento
naquilo que é a sua alma.
Alem disto há um componente ético
decisivo. Temos laços existenciais com a terra brasileira. É a nossa terra
natal, é o chão que nos alimenta, é o nossos cemitério.
A alma da terra natal tomou posse
do homem. A terra natal nos deu identidade, imprimiu o selo em nossas gerações.
A diferença entre a terra natal dos alemães do “Reich” e dos teuto-brasileiros,
impele-nos necessariamente ao encontro de uma outra comunidade nacional daquela
que se encontra em território alemão. A nossa terra natal amoldou a nossa alma
ao chão em que vivemos. A nossa identidade étnica alemã e a nossa terra natal
confluíram numa unidade harmoniosa. Daí destaca-se gradativamente uma linha
divisória nítida entre os alemães do
“Reich” e os teuto-brasileiros. Não é necessário, entretanto, que atue como uma
fronteira que separa. Infelizmente contrapõe-se muitas vezes à nossa vontade
étnica e política, uma cosmovisão que nega a condição de pátria, à terra em que
nascemos e na qual vivemos. É algo que não faz sentido e só se justifica no
caso d todos os homens de sangue alemão, nascidos no estrangeiro,
regressem futuramente à terra dos seus antepassados. Já que isto se tornou
impossível para as gerações que nasceram
no Brasil, alem de não quererem, realizou-se o processo de sintonia da
alma para com a terra natal.
A alma da nossa terra natal
Que anima o nosso ser e existir
Ela tem em nosso lar, junto ao
fogão
É a essência de nossos filhos
Fala-ns das profundezas
silenciosas da mata virgem
Sua voz troa no rumor das
cachoeiras
Encontra-se no perfume das
orquídeas
Ao canto dos pássaros que enche o
jardim e os arbustos.
A nossa adesão à identidade
étnica alemã não sofreu nenhum dano por causa da nova postura da alemã.
Firmamo-nos contudo em pés próprios. Deixemos a poetisa continuar:
Iremos sempre pela nossa maneira
de ser
Confessar a nossa adesão ao ser e
falar dos antepassados,
Jamais separaremos do nosso
ser e viver
Os traços essenciais da terra natal.
Pois, cada planta, cada vivente
Que cada brasileiro carrega em si
A peculiaridade que da nossa
maneira de ser
Impressa no teuto-brasileiro.
Além da maneira própria da
identidade étnica, que temos em comum com todos os alemães, exibimos a maneira
de peculiar impressa pelo torrão natal. Se não tivéssemos a nossa identidade não passaríamos de folhas
murchas, jogadas para lê e para cá pelo
vento, para, finalmente, sermos entregues à degenerescência.
Chamar de querência natal uma
terra que não conhecemos, nada mais seria do que perseguir um fantasma e nos
transformarmos em alienados e desenraizados. Exatamente da mesma forma como
todo alemão tem a sua pátria no “Reich”, nós temos a nossa. Possuí-la é
indispensável para a nossa sobrevivência. Como cidadãos livres sentimo-nos
orgulhosos de chamá-la nossa sem restrições. Acrescentemos os versos que
conseguem expressar essa realidade elementar com maior precisão do que as
minhas palavras.
Porque ao lado da nossa
peculiaridade racial
Existem as características
próprias da querência natal
Cultivamos os dois na mesma
medida,
Para que não se perca em nós.
Para na vida não perdermos as
raízes
Para não sermos homens sem pátria
Para com o chão preservarmos a
nossa relação
Sobre o qual flui o caudal da
nossa vida.
Exatamente como entre nós aliaram-se com a terra natal também a
identidade étnica portuguesa, polonesa, italiana. As manifestações da alma daí
resultantes sintonizam com as nossas.
Aquilo que nos une, o esforço em
construir pontes sobre os contrários, faz com que tenhamos o mesmo destino, a
mesma pátria, as melhores bases para construir a comunidade nacional
brasileira. A poetisa acerta de novo na mosca quando escreve:
A certeza que uma parcela da
pátria brasileira
Irriga a existência de todos os
brasileiros,
E que pela ligação com a pa´tria
Também entre nós estamos unidos.
Unidos pelo mesmo objetivo na
vida:
Promover e fortalecer a pátria!
Por cuja edificação damos o
melhor de nós
Com suas obras cada um colabora.
E onde cada um retira de sua
identidade
As energias para alcançar o
objetivo
Nós brasileiros trabalhamos para
a glória
Da amada pátria, para o teu bem,
Brasil.
Apesar de pertencentes
inteiramente à comunidade nacional brasileira, demonstramos muitas vezes, que
em horas de necessidade pensamos, na
medida das nossas possibilidades, não apenas em nós, mas também em nossos irmãos
na terra de origem. Provamos a eles que acima de todas as diferenças assumimos
os nossos deveres para com a germanidade. Levamos a sério, muito a sério, essa
obrigação. Serve de prova que não somos seres exóticos, como ultimamente
costumam caracterizar-nos, quando sustentamos conscientemente a nossa
tradicional posição teuto-brasileira e partimos em sua defesa.
Estamos inseridos na identidade
étnica alemã. Temos uma pátria que é nossa e por ela batalhamos. Fazemos parte
da comunidade nacional brasileira, porque declaramos a nossa adesão à pátria
brasileira.
Nós brasileiros de ascendência
germânica vivemos felizes sob o céu estrelado do cruzeiro do sul. Temos tudo
que alguém precisa por ser feliz neste mundo. Não percebemos falhas nem há nada
que nos possa tirar do equilíbrio, nem corporal nem espiritualmente.
Movimentaram-se adaptados `s circunstâncias e estamos harmonicamente inseridos
no todo. Não há nenhum milagre nisso, pois em nós se realizou:
Quem tem raízes no próprio chão
Este é sólido.
Quem preserva os costumes dos
antepassados
Este é autêntico.
Quem ama intensamente a sua
pátria
Este é bom
Com certeza merece elogio
Aquele que tudo isto faz.
Assim foi, assim será, como lema
em homenagem ao “nosso dia”:
Em memória dos nossos
antepassados
Para o nosso ensinamento
Para o bem da nossa Pátria.
O verso acima seja a expressão
suprema da sabedoria de vida do teuto-brasileiro e a quintessência desta
exposição.